Prévia do material em texto
WWW 2 SUMÁRIO 1 EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS ............................................................................................ 9 1.1 DEFINIÇÃO ................................................................................................................................ 9 1.2 AVALIAÇÃO DO PACIENTE NA EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA ............................................ 11 1.2.1 Anamnese ................................................................................................................................ 11 1.2.2 Fatores de Risco ...................................................................................................................... 13 1.2.3 Manejo ...................................................................................................................................... 14 1.2.4 Comportamento Suicida ......................................................................................................... 15 1.2.5 Epidemiologia .......................................................................................................................... 16 1.2.6 Aspectos Psicossociais .......................................................................................................... 16 1.2.7 Risco de Suicídio ..................................................................................................................... 17 2 EMERGÊNCIA E URGÊNCIA PSIQUIÁTRICA ........................................................................ 18 2.1 OBJETIVOS DE UM ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA ........................................................ 19 2.2 MEDIDAS PARA APROXIMAR O PACIENTE DO EXAMINADOR ........................................... 20 2.3 EMERGÊNCIAS CLÍNICAS ....................................................................................................... 21 2.4 DOR TORÁCICA ....................................................................................................................... 22 2.4.1 Causas de Dor Torácica .......................................................................................................... 23 2.4.1.1 Pericardite aguda ..................................................................................................................... 24 2.4.1.2 Tromboembolismo pulmonar ................................................................................................... 25 2.4.1.3 Pneumotórax ............................................................................................................................ 26 2.4.1.4 Dissecção aórtica ..................................................................................................................... 27 2.4.1.5 Pneumonia ............................................................................................................................... 28 2.5 TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS .......................................................................................... 29 2.6 GASTRITE, ESOFAGITE E ÚLCERA ....................................................................................... 30 2.7 DOR MUSCULAR ..................................................................................................................... 32 2.8 DOR ÓSSEA ............................................................................................................................. 33 2.9 INVESTIGAÇÃO DA DOR TORÁCICA ..................................................................................... 34 2.10 SÍNDROME DE TIETZE ............................................................................................................ 35 2.11 HERPES ZOSTER .................................................................................................................... 36 3 ÉTICA NAS EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS ....................................................................... 37 3 4 A QUESTÃO DO RISCO ........................................................................................................... 38 5 TIPOS DE INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS .......................................................................... 39 6 CONTENÇÃO MECÂNICA E ISOLAMENTO ........................................................................... 40 7 ALTA E PEDIDO ....................................................................................................................... 41 8 ANSIEDADE ............................................................................................................................. 42 9 AGITAÇÃO PSICOMOTORA ................................................................................................... 44 10 PSICOSES ................................................................................................................................ 46 11 MANIA ....................................................................................................................................... 47 12 EPILEPSIA ................................................................................................................................ 48 13 TRANSTORNO MENTAL ORGÂNICO E DELIRIUM ............................................................... 49 14 FATORES DESENCADEANTES PARA UM COMPORTAMENTO AGRESSIVO ................... 50 15 ATENDIMENTOS DE EMERGÊNCIA ....................................................................................... 52 16 ABORDAGEM INICIAL JUNTO AO PACIENTE ...................................................................... 53 17 OBSERVAÇÃO DO DOENTE MENTAL ................................................................................... 54 18 ATENÇÃO ................................................................................................................................. 57 19 MEMÓRIA ................................................................................................................................. 58 20 SENSOPERCEPÇÃO ............................................................................................................... 59 20.1 ALUCINAÇÕES ......................................................................................................................... 59 20.2 ILUSÃO ..................................................................................................................................... 60 20.3 SENSAÇÃO DE ESTRANHEZA ................................................................................................ 61 20.4 TRANSFORMAÇÃO CORPORAL ............................................................................................. 62 20.5 IMAGINAÇÃO ............................................................................................................................ 62 20.6 FABULAÇÃO ............................................................................................................................. 63 20.7 MITOMANIA .............................................................................................................................. 64 21 PENSAMENTO ......................................................................................................................... 65 22 ORIENTAÇÃO ................................................................................................................................ 66 23 INSTINTO .................................................................................................................................. 67 24 INTELIGÊNCIA ......................................................................................................................... 68 25 JULGAMENTO ......................................................................................................................... 69 26 SENSO ÉTICO .......................................................................................................................... Ossos propensos às fraturas. 36.3.2 Bulímico Perda de potássio; Lesão no aparelho digestório; Diminuição do interesse sexual; Hipertensão arterial; Irregularidade menstrual; Tentam “compensar” seus problemas ingerindo grandes quantidades de alimentos de uma só vez. No geral, são indivíduos extremamente manipuladores, com isso dificulta o trabalho multiprofissional. 95 37 TRANSTORNO DO COMER COMPULSIVO FIGURA 74 No comer compulsivo, o paciente tem “ataques” bulímicos, mas não recorre a nenhum dos recursos acima citados para emagrecer, com isso ingere quantidades alimentares enormes e a tendência é ir aumentando com o passar dos anos, até chegar à obesidade mórbida. São pessoas que “compensam” seu estado emocional na alimentação, seja por alegria ou tristeza. 96 38 TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO FIGURA 75 O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é uma doença caracterizada por pensamentos ou ideias indesejáveis, como os “rituais”, contrariamente aos seus desejos e padrões comuns. Geralmente são pessoas meticulosas, extremamente críticas, introspectivas, perfeccionistas e detalhistas. 97 39 TRANSTORNOS ANSIOSOS FIGURA 76 O Transtorno de Ansiedade (TAS) é definido como um estado emocional repetitivo ou persistente em que a ansiedade está acima do normal, ou seja, patológica, comumente conhecida com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Dentro dos Transtornos de Ansiedade (TAS), podemos destacar: Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG); Síndrome do Pânico; Transtornos dissociativos; 98 Transtornos fóbico-ansiosos. A ansiedade normal é aquela em que o indivíduo apresenta diante de um quadro de risco eminente contra sua vida ou de outrem. Fatos novos que possam ocorrer, como um projeto, uma gravidez, um provável aumento salarial, com isso a ansiedade gera uma motivação pessoal para se “preparar para aquele novo evento em sua vida”. 39.1 FATORES QUE DESENCADEIAM A ANSIEDADE FIGURA 77 Novos eventos, fatos novos (ameaça à saúde e à vida); Exposição a situações desconfortáveis; 99 Crise financeira; Separação da família e amigos; Isolamento social; Frustração de metas e expectativas; Restrição de movimentos corporais; Privação de relação amorosa. 39.2 SINTOMATOLOGIA Geralmente pacientes portadores de transtornos de ansiedade podem apresentar os seguintes sintomas: FIGURA 78 100 39.3 AGITAÇÃO MOTORA Taquicardia; Taquipneia; Alterações das funções vitais; Relaxamento dos músculos da bexiga e intestinos; Agitação motora; Autoestima rebaixada; Sudorese excessiva; Boca seca; Paciente torna-se poliqueixoso, ou seja, refere-se a várias dores físicas, principalmente musculares, fadiga, etc. Temos diferentes graus de ansiedade, pequena, moderada e grave. Iremos descrevê-las melhor: Pequena: Denominada ansiedade “pequena”, aquela fisiológica, ou seja, alerta o indivíduo acerca de novas situações, porém, o mesmo apresenta meios para alcançar o desenvolvimento e a liberdade. 101 FIGURA 79 39.4 ANSIEDADE FISIOLÓGICA Moderada: Denominada ansiedade patológica, pois impede o indivíduo de enxergar as diversas situações como realmente são. 102 FIGURA 80 39.5 ANSIEDADE PATOLÓGICA Podemos citar como exemplo alguns sintomas: O paciente apresenta dificuldades em tomar decisões; Em caso de problemas, há uma diminuição significativa da percepção; Ocorre uma redução da concentração; O paciente procura evitar problemas que envolvam tomadas de decisão. 103 39.6 TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA FIGURA 81 No transtorno de ansiedade generalizada, também conhecida como (TAG), o paciente apresenta um quadro de preocupação irreal e exagerada acerca de circunstâncias da vida, ou seja, uma preocupação excessiva com problemas que comumente não o preocupariam caso não estivesse assim. Ele ocorre de forma lenta e progressiva, necessitando muitas vezes de tratamento medicamentoso e psicoterápico. 104 40 TRANSTORNO DO PÂNICO FIGURA 82 O transtorno do pânico caracteriza-se por “ataques” de medo, ansiedade e desconforto intensos, geralmente não estão associados a uma situação consciente, como provocadora de ansiedade pelo paciente. O paciente mostra medo de ficar louco, ou de cometer uma loucura; essa sintomatologia dura de 15 a 20 minutos, em alguns casos podendo chegar à meia hora. Sintomatologia Dispneia; 105 Tontura; Sudorese; Náuseas; Calafrios; Astenia; Fadiga; Tremores Sensação de asfixia. 106 41 FOBIAS FIGURA 83 As fobias geralmente são medos patológicos desproporcionais ao estímulo, ela pode focalizar-se sobre qualquer situação ou objeto, por exemplo: agorafobia (ilustração abaixo). 107 FIGURA 84 2009. 41.1 FOBIA SIMPLES FIGURA 85 108 A fobia simples é caracterizada por um medo persistente de um objeto ou situação específica. Quando o paciente é exposto aos objetos e/ou situações abaixo citadas, imediatamente responde com sintomas de intensa ansiedade que desaparecem com a mesma rapidez, no momento em que é afastado do objeto ou situação que lhe cause medo. Portanto, esses pacientes fazem um esforço acima do normal para evitar expor-se a determinados objetos/situações. O paciente pode temer a algumas situações abaixo citadas: Corredores pequenos; Elevadores (Claustrofobia); Micróbios (Nosofobia); Sangue (Hematofobia); Animais (Zoofobia). 41.2 FOBIA SOCIAL FIGURA 86 109 A fobia social caracteriza-se por um temor persistente à exposição do paciente em qualquer situação que evolva grupos, pois o mesmo acredita que será o foco da atenção e com isso teme agir de modo que lhe cause humilhação ou embaraço. A mais comum das situações é o medo de falar em público. Os pacientes que sofrem deste tipo de fobia muitas vezes sentem- se aterrorizados ante a ideia de que sofrerão um colapso nervoso ou que ficarão mudos e automaticamente esquecerão tudo ou, ainda, que começarão a gaguejar. Devido a esse pensamento, o paciente evita qualquer situação de exposição pública. 110 42 TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS FIGURA 87 Os transtornos dissociativos geralmente estão ligados a perturbações de identidade do paciente relacionados a eventos traumáticos, problemas solúveis e intoleráveis ou relacionamentos perturbadores. 111 FIGURA 88 Geralmente estes pacientes, quando apresentam problemas ou conflitos que eles mesmos não consigam resolvê-los, psicologicamente falando são transformados em problemas físicos, não têm consciência da “produção” destes sintomas: Ataxia; Cegueira; Convulsões; Perda da sensibilidade cutânea; Afonia. 112 43 TRATAMENTO FIGURA 89 Geralmente o tratamento consiste em: Medicamentoso: Antidepressivos, ansiolíticos, associados à psicoterapia. Dentre as terapias mais utilizadas, destaca-se a Terapia Cognitiva Comportamental, em que o paciente participa ativamente do processo terapêutico. Durante a terapia são ensinados aos mesmos comportamentos mais assertivos e ao mesmo tempo são trabalhadas suas cognições. 113 44 DEPENDÊNCIA QUÍMICA FIGURA 90 Pacientes que fazem uso de substâncias psicoativas de forma abusivaé prejudicial para a saúde e também são tratados por médicos psiquiatras, pois o uso, o abuso e a dependência de drogas estão classificados dentro dos transtornos mentais e comportamentais. Antes de abordarmos a dependência química versus paciente, devemos esclarecer alguns termos. 114 44.1 DROGA É toda substância que não é produzida pelo organismo e quando consumida, produz alterações fisiológicas. FIGURA 91 44.2 DEPENDÊNCIA QUÍMICA É a condição pela qual o indivíduo não consegue sentir prazer sem o uso da substância. 115 FIGURA 92 44.3 ABUSO DE DROGAS Quando o indivíduo consome a droga de maneira descontrolada por algum período, mas depois fica sem usar e não apresenta prejuízos duradouros com o uso de drogas. FIGURA 93 116 44.4 USO DE DROGAS Quando o indivíduo consome uma determinada substância e não tem prejuízos em usar e consegue sentir prazer em outras coisas que não incluam o uso de drogas, é apenas o consumo da substância. FIGURA 94 117 45 CLASSIFICAÇÃO DO GRUPO DE DROGAS Depressoras do Sistema Nervoso Central (SNC); FIGURA 95 Estimulantes do SNC; FIGURA 96 118 46 ANFETAMINAS Perturbadoras da atividade do SNC. FIGURA97 A ajuda a esses pacientes vem da compreensão de algumas características de comportamento que são típicas do paciente que faz uso de drogas. De forma geral todos os pacientes dependentes de drogas tendem a manipular outros e a testar os limites do profissional a fim de obter privilégios ou desafiar a autoridade, portanto, tente perceber que esses são traços de comportamento dos pacientes e não é nada pessoal. É importante destacarmos que nem todos os dependentes químicos se comportam desta maneira e a intensidade desse comportamento varia de pessoa para pessoa. 119 47 TRANSTORNO MENTAL ORGÂNICO FIGURA 98 A confusão mental é um quadro de origem orgânica. Suas causas são as mais diversas, podendo decorrer de: Acidente vascular encefálico (AVE); Infecções; Neoplasias; Traumas de origens diversas. Pode ser encontrado tanto nos atendimentos clínicos, cirúrgicos e psiquiátricos, normalmente são vistos em pronto-socorro. O comportamento do paciente pode variar de pessoa para pessoa, porém todos os pacientes apresentam uma diminuição do nível de consciência que 120 afeta a capacidade do indivíduo em perceber com clareza o mundo exterior. O paciente apresenta o seguinte quadro: Desorientação em relação a si mesmo e ao ambiente externo; Pode apresentar quadro delirante; Alucinações geralmente assustadoras, tornando o paciente agitado; Quadro de agressividade devido à alucinação; Expressão facial “apavorada”; Não consegue lembrar-se de orientações recentes, porém consegue lembrar-se de fatos antigos; O paciente apresenta defenestração, uma alteração grave caracterizada por um impulso irresistível de lançar-se por espaços abertos, (janelas, portas). O quadro é entremeado com períodos de lucidez, quando o paciente pode demonstrar medo e ansiedade intensos por dificuldades de entender o que está ocorrendo com ele. Os sintomas da psicopatologia desaparecem com o tratamento clínico e psiquiátrico. 121 48 ESQUIZOFRENIA FIGURA 99 48.1 SINTOMAS A esquizofrenia é uma doença funcional do cérebro que se caracteriza essencialmente por uma fragmentação da estrutura básica dos processos de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção entre experiências internas e externas. Embora primariamente uma doença que afeta os processos cognitivos de conhecimento, os seus efeitos repercutem também no comportamento e nas emoções. Os sintomas da esquizofrenia não são os mesmos de indivíduo para indivíduo, podendo aparecer de forma insidiosa e gradual ou, pelo contrário, manifestar-se de forma explosiva e 122 instantânea. Estes podem ser divididos em duas grandes categorias: sintomas positivos e negativos. 48.1.1 Sintomas Positivos Os sintomas positivos estão presentes com maior visibilidade na fase aguda da doença e são as perturbações mentais “muito fora” do normal, como que “acrescentadas” às funções psicológicas do indivíduo. Entende-se como sintomas positivos os delírios – ideias delirantes, pensamentos irreais, “ideias individuais do doente que não são partilhadas por um grande grupo”, por exemplo, um indivíduo que acha que está sendo perseguido pela polícia secreta e pensa que é o responsável pelas guerras do mundo; as alucinações, percepções irreais – ouvir, ver, saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais frequente as alucinações audiovisuais; pensamento e discurso desorganizado, elaborar frases sem qualquer sentido ou inventar palavras; alterações do comportamento, ansiedade, impulsos, agressividade. 48.1.2 Sintomas Negativos Os sintomas negativos são o resultado da perda ou diminuição das capacidades mentais, acompanham a evolução da doença e refletem um estado deficitário em nível da motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das relações interpessoais, como a falta de vontade ou de iniciativa; isolamento social; apatia; indiferença emocional; pobreza do pensamento. Esses sinais não se manifestam todos no indivíduo esquizofrénico. Algumas pessoas veem-se mais afetadas do que outras, podendo muitas vezes ser incompatível com uma vida normal. A doença pode aparecer e desaparecer em ciclos de recidivas e remissões. Não há, contudo, sinais nem sintomas patognomônicos da doença, podendo-se de alguma forma fazer referência a um quadro prodrômico que são em grande parte sintomas negativos, como por exemplo, inversão do ciclo de sono, isolamento, perda de interesse por atividades anteriormente 123 agradáveis, apatia, descuido com a higiene pessoal, ideias bizarras, comportamentos poucos habituais, dificuldades escolares e profissionais, entre outras. Posterior a esta fase inicial surgem os sintomas positivos. Diz-se que os primeiros sinais e sintomas de esquizofrenia são insidiosos. O primeiro sintoma é de sossego/calma e afastamento, visível em um adolescente, normalmente passa despercebido como tal, pois se remete o fato para “é uma fase”. Pode inclusive ser um enfermeiro de saúde escolar ou um conselheiro a começar a notar estas mudanças. É importante dizer-se que é muito fácil interpretar incorretamente estes comportamentos, associando-os à idade. 48.2 CAUSAS Sabe-se atualmente que não existe uma única causa, mas sim várias que concorrem entre si para o seu aparecimento, sendo muitas as teorias que surgiram para explicar esta doença. 48.2.1 Teoria Genética FIGURA 100 124 A teoria genética admite que vários genes podem estar envolvidos, contribuindo juntamente com os fatores ambientais para o eclodir da doença. Sabe-se que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se houver um caso desta doença na família. No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes diretos é de 12%. É o caso do esquizofrênico matemático norte-americano John Nash, que divide com o filho, John Charles Martin, a mesma doença. Na situação em que ambos os pais se encontram atingidos pela doença, esse valor sobe para 40%. No entanto, mesmo na ausência de história familiar, a doença pode ainda ocorrer. Segundo Gottesman (1991), referenciado por Pedro Afonso (2002), sabe-se ainda que cerca de 81% dos doentes com esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar afetado. 48.2.2 TeoriaNeurobiológica As teorias neurobiológicas defendem que a esquizofrenia é essencialmente causada por alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, em especial com uma disfunção dopaminérgica, embora alterações em outros neurotransmissores estejam também envolvidas. A maioria dos neurolépticos (antipsicóticos) atua precisamente nos receptores da dopamina no cérebro, reduzindo a produção endógena deste neurotransmissor. Exatamente por isso alguns sintomas característicos da esquizofrenia podem ser desencadeados por fármacos que aumentam a atividade dopaminérgica (ex: anfetaminas). Essa teoria é parcialmente comprovada pelo fato de a maioria dos fármacos utilizados no tratamento da esquizofrenia (neurolépticos) atuar por meio do bloqueio dos receptores (D2) da dopamina. 125 48.2.3 Teoria Psicanalítica As teorias psicanalíticas (ou de relação precoce) têm como base a teoria freudiana da psicanálise e remetem para a fase oral do desenvolvimento psicológico, na qual “a ausência de gratificação verbal ou da relação inicial entre mãe e bebê conduz igualmente às personalidades “frias” ou desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das relações”. A ausência de relações interpessoais satisfatórias estaria assim na origem da esquizofrenia. 48.2.4 Teoria Familiar As teorias familiares, apesar de terem bastante interesse histórico, são as que menos fundamento científico possuem. Surgiram na década de 1950, baseadas umas no tipo de comunicação entre os vários elementos das famílias e aparecendo outras mais ligadas às estruturas familiares. Dos estudos desenvolvidos surge o conceito (mãe esquizofrenogênica), possessivas e dominadoras com seus filhos, como gerador de personalidades esquizofrênicas. Estudos posteriores vieram contudo desconfirmar esta hipótese, relacionando aquele comportamento mais com etiologias neuróticas e não com a psicose. 48.3 TIPOS DE ESQUIZOFRENIA O diagnóstico da esquizofrenia, como sucede com a maior parte das doenças do foro psiquiátrico, não se pode efetuar por meio da análise de parâmetros fisiológicos ou bioquímicos, e resulta apenas da observação clínica cuidada das manifestações da doença ao longo do tempo. Quando do diagnóstico, é importante que o médico exclua outras doenças ou condições que possam produzir sintomas psicóticos semelhantes (abuso de drogas, epilepsia, tumor cerebral, alterações metabólicas). O diagnóstico da esquizofrenia é por vezes difícil. Para além 126 do diagnóstico, é importante que o médico identifique qual é o subtipo de esquizofrenia em que o doente se encontra. Atualmente, segundo o DSM IV, existem cinco tipos: 48.3.1 Esquizofrenia Paranoide É a forma que mais facilmente é identificada com a doença, predominando os sintomas positivos. O quadro clínico é dominado por um delírio paranoide relativamente bem organizado. Os doentes com esquizofrenia paranoide são desconfiados, reservados, podendo ter comportamentos agressivos. FIGURA 101 127 48.3.2 Esquizofrenia Desorganizada Quando os sintomas afetivos e as alterações do pensamento são predominantes. As ideias delirantes, embora presentes, não são organizadas. Em alguns doentes pode ocorrer uma irritabilidade marcada, associada a comportamentos agressivos. Existe um contato muito pobre com a realidade. FIGURA 102 48.3.3 Esquizofrenia Catatônica É caracterizada pelo predomínio de sintomas motores e por alterações da atividade, que podem ir desde um estado de cansaço e acinético até à excitação. 128 FIGURA 103 48.3.4 Esquizofrenia Indiferenciada Apresenta habitualmente um desenvolvimento insidioso com um isolamento social marcado e uma diminuição no desempenho laboral e intelectual. Observa-se nesses doentes certa apatia e indiferença relativamente ao mundo exterior. 129 FIGURA 104 48.3.5 Esquizofrênia Residual Nessa forma existe um predomínio de sintomas negativos, os doentes apresentam um isolamento social marcado por um embotamento afetivo e uma pobreza em nível do conteúdo do pensamento. 130 FIGURA 105 Existe também a denominada Esquizofrenia Hebefrênica, com incidência da adolescência, com o pior dos prognósticos em relação às demais variações da doença, e com grandes probabilidades de prejuízos cognitivos e sociocomportamentais. FIGURA 106 131 Esses subtipos não são estanques, podendo um doente em determinada altura da evolução da sua doença apresentar aspectos clínicos que se identificam com um tipo de esquizofrenia, e ao fim de algum tempo poder reunir critérios de outro subtipo. Há várias abordagens terapêuticas na intervenção ao doente esquizofrênico, que na maioria dos casos tem indicação de um tratamento interdisciplinar: o acompanhamento médico-medicamentoso, a psicoterapia, a terapia ocupacional (individual ou em grupos), a intervenção familiar e a psicoeducação são os procedimentos indicados para estes doentes. Apesar de não se conhecer a sua cura, o tratamento pode ajudar muito a tratar os sintomas e a permitir que os doentes possam viver as suas vidas de forma satisfatória e produtiva. A experiência clínica indica que o melhor período para o tratamento da esquizofrenia é com o aparecimento dos primeiros sintomas. Se a sintomatologia psicótica permanecer sem tratamento por longos períodos o prognóstico do tratamento é menos favorável. Assim, é vital o reconhecimento precoce dos sinais da esquizofrenia para que se possa procurar uma ajuda rápida. 132 49 EMERGÊNCIAS ASSOCIADAS AO ÁLCOOL E A DROGAS DE ABUSO FIGURA 107 49.1 INTRODUÇÃO O entendimento das bases neurológicas da drogação continua desafiando clínicos e pesquisadores. Não é de hoje que o sistema dopaminérgico vem sendo considerado como o mais importante no que se refere ao uso abusivo de substâncias, sendo a via dopaminérgica mesocorticolímbica a mais referida. Juntamente com a dopamina, outros neurotransmissores em conjunto parecem colaborar para a atividade da via dopaminérgica com o chamado “sistema de recompensa”. Incluem-se à dopamina, por exemplo: o ácido gama-aminobutírico (GABA), o glutamato, a serotonina e os peptídeos opioides. Além de atuar sobre o sistema recompensa, o sistema dopaminérgico apresenta importante função sobre o sistema motor, além de funções refinadas de cognição e memória. Já o sistema opioide é responsável pelo componente hedônico (de prazer) do sistema de recompensa cerebral, além de estar relacionado também à dor e ao processamento emocional. 133 Quando observamos os mecanismos de ação das diferentes drogas de abuso verificamos que todas apresentam uma relação direta ou indireta com um ou mais destes neurotransmissores, como veremos a seguir. 49.2 COCAÍNA FIGURA 108 Os efeitos subjetivos e comportamentais desta substância são geralmente atribuídos à sua ação sobre o sistema dopaminérgico. Acredita-se que 50% de ocupação de transportador de dopamina seja necessário para que um indivíduo perceba os efeitos da substância e que, para a sensação de euforia, pelo menos 60% dos sítios de DAT devem estar ocupados. Nas três vias de administração – aspirada, injetada e fumada (crack) – a ocupação de DAT é superior a 60%. 134 49.3 METANFETAMINA E ECSTASY (MDMA-3,4-METILENODIOX, METANFETAMINA) FIGURA 109 As drogas classificadas como derivados anfetamínicos podem atuar no Sistema Nervoso Central (SNC) de formas distintas. Seu alvo principal são as monoaminas cerebrais: dopamina, serotonina e noradrenalina. Assim, farmacologicamente são classificadas como agonistas indiretos, pois não atuam especificamente sobrereceptores monoaminérgicos pós-sinápticos, mas indiretamente da seguinte forma: 1. Impedem a recaptação dos neurotransmissores por meio do bloqueio competitivo do transportador de dopamina e noradrenalina e, em altas doses, também de serotonina; 2. Inibem a atividade das enzimas de metabolismo (monoaminoxidase - MAOA e MAOB); 3. Estimulam a liberação do neurotransmissor independente de Ca++ (ou seja, independente da despolarização do botão sináptico). 135 49.4 MACONHA FIGURA 110 O principal componente psicoativo da maconha é o Δ9-tetrahidrocanabinol (THC). Seu mecanismo de ação ainda não foi completamente elucidado, mas acredita-se que ele atue no SNC por receptores canabinoides CB1 e CB2. As áreas cerebrais com maior densidade de receptores CB1 são o córtex frontal, núcleos da base, cerebelo e hipocampo. 136 FIGURA 111 Estudos com animais têm demonstrado que o THC e a anandamida (canabinoide endógeno mais estudado), aumentam a concentração de dopamina no estriado e no sistema mesolímbico. 49.5 NICOTINA FIGURA 112 137 A nicotina é a principal substância do cigarro responsável pelos efeitos psicoativos e pela dependência de tabaco. No entanto, há milhares de compostos químicos na fumaça do cigarro e alguns deles podem contribuir para os efeitos comportamentais e tóxicos do tabaco. Nicotina é um agonista direto em receptores colinérgicos nicotínicos, onde age acetilcolina endógena e estão amplamente distribuídos no SNC. Os receptores nicotínicos implicados na ação da Nicotina estão localizados no sistema dopaminérgico mesocorticolímbico. 49.6 ÁLCOOL FIGURA 113 Segundo o Prof. Luís Caetano da Silva, médico especialista em fígado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), são tantas as consequências desastrosas das drogas na vida de um dependente que, muitas vezes, os danos que causam aos diferentes órgãos são postos em segundo plano. Um problema em relação ao álcool é que ele custa pouco, é facilmente encontrado e legalmente obtido. Além disso, tem o poder de libertar o indivíduo das 138 suas inibições que o constrange. O jovem geralmente começa a beber na adolescência, fica mais extrovertido, mas não imagina que isso possa significar o fim de sua vida precocemente porque seu fígado será irremediavelmente destruído. Estudos mostram que embora o estresse não determine o alcoolismo, os indivíduos submetidos a situações estressantes, para as quais não encontram alternativas de solução, tornam-se mais vulneráveis a se tornarem alcoólatras pela ação relaxante e tranquilizante que o álcool proporciona, semelhante ao dos medicamentos ansiolíticos. O problema é que o álcool tem muito mais efeitos colaterais que esses medicamentos. Na verdade, o cerne da questão para esses indivíduos é o desejo de abolir suas preocupações e problemas com a embriaguez e isso os medicamentos ansiolíticos não proporcionam ou o fazem em doses que levariam ao sono. A tendência do homem quando submetido ao estresse é procurar o prazer e não a tranquilidade propriamente dita, daí o motivo pelo qual a vida sexualmente promíscua muitas vezes é acompanhada do abuso de álcool ou de outras drogas. 49.6.1 Risco de Criar Dependência Para exemplificar o Prof. Luís Caetano cita a cerveja, bebida bastante divulgada e consumida no Brasil. Vamos admitir que cada garrafa (600 ml) tenha, em média, de 4% a 5% de álcool. Logo, três garrafas e meia de cerveja perfazem 80 gramas de álcool. Se considerarmos que o teor alcoólico da pinga, do uísque e da vodca é dez vezes maior do que o da cerveja dá para imaginar o que acontece. Um copo de qualquer uma dessas bebidas corresponde a 64 gramas de álcool, portanto beirando o limite que, na maioria dos casos, leva à cirrose, que é uma doença que evolui invariavelmente para o óbito. O grande problema é que ninguém duvida de que tomar uma caipirinha ou uma cerveja, de vez em quando, é agradável. A coisa complica com a repetição em todo fim de semana que pode levar à dependência, sobretudo nos indivíduos com história familiar de alcoolismo. Também não faz diferença o tipo de bebida escolhido, pois o que conta é a quantidade de álcool ingerida diariamente ou quase todos os dias. Por outro lado, se houver predisposição genética, mesmo em quantidades menores o álcool pode provocar cirrose hepática. 139 49.6.2 Efeitos Deletérios do Álcool O uso excessivo de bebidas alcoólicas pode afetar praticamente todos os órgãos e sistemas do organismo. O aparelho gastrintestinal é particularmente atingido. Além das lesões do fígado, que levam o paciente lentamente à morte, podem ocorrer gastrites, úlceras, inflamação do esôfago e pancreatite aguda, que é um quadro clínico grave. Outros aparelhos atingidos: o cardiocirculatório (hipertensão arterial, arritmias), o sistema nervoso central (disfunções motoras), periférico (neuropatias periféricas) e sistema geniturinário (atrofia de testículos com impotência e perda da libido). Nas mulheres o álcool afeta a produção hormonal, levando à diminuição da menstruação, infertilidade e alterações das características sexuais femininas. Em mulheres grávidas sabe-se que o álcool atravessa a barreira placentária e pode provocar desde abortamentos espontâneos, natimortos, além da temida síndrome fetal do alcoolismo, constituída por um ou mais defeitos congênitos, tais como: más-formações no coração, membros, crânio e face. Também baixo peso ao nascer e grande dificuldade em aumentar de peso e estatura, além de retardo mental. A anemia é bastante comum nos alcoólatras, o que pode ser causado por desnutrição e deficiência de vitaminas e de ácido fólico. As lesões vão surgindo lentamente e, quando o indivíduo é alertado pelo médico, muitas vezes já está com cirrose hepática ou com outros problemas graves de saúde. 49.6.3 Síndrome de Dependência O Prof. Ronaldo Laranjeira, médico psiquiatra da Unidade de Atendimento a Dependentes da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP, estabelece os seguintes critérios para o diagnóstico dessa síndrome: · Intervalos mais curtos de beber: No começo a pessoa bebe com certa variabilidade. À medida que fica mais dependente, começa a beber todos os dias, e o padrão se torna estereotipado, ou seja, começa a beber todos os dias, na hora do almoço e à noite; 140 · Realce do comportamento de busca do álcool: O indivíduo tenta dar prioridade ao ato de beber ao longo do dia, mesmo em situações socialmente inaceitáveis (por exemplo, no trabalho, dirigindo veículos, quando está doente, etc.); · Aumento da tolerância (resistência) ao álcool: Aumento da dose para obter o mesmo efeito, ou seja, o organismo exige doses cada vez maiores para repetir a sensação de bem- estar; · Sensação subjetiva de necessidade de beber: Existe pressão subjetiva para beber. Este sintoma foi atribuído no passado a uma compulsão. Atualmente, considera-se como tendência psicológica a buscar alívio dos sintomas de abstinência; · Alívio ou fuga dos sintomas de abstinência pelo beber: Este sintoma fica muito claro na fase mais grave da dependência – a pessoa bebe pela manhã para sentir-se melhor. Esta particularidade, em que ela sente-se melhor com o uso de álcool, pode também estar presente na fase inicial da dependência, embora o paciente não atribua isso à dependência; · Síndrome de abstinência: Se o consumo de álcool diminuir ou for interrompido subitamente aparecem sintomas físicos e psíquicos de abstinência. Na fase inicial da dependência, os sintomas de abstinência (ansiedade, insônia e irritabilidade) são leves e intermitentes e causam pouca incapacidade, por isso o paciente pode não atribuí-los como um sinal de dependência ao álcool. Nas fases mais gravesda dependência os sintomas de abstinência são mais marcantes, tais como: tremores, sudorese, aumento da pulsação, náuseas, vômitos, insônia, agitação, ansiedade. Nesses casos mais graves podem ocorrer convulsões e as manifestações clínicas do chamado “Delirium Tremens”. Esta é uma forma mais intensa e complicada da abstinência alcoólica. É considerado um quadro psiquiátrico grave que necessita de tratamento hospitalar. Caracteriza-se por um estado de confusão mental. O paciente não consegue conversar, confunde objetos e pessoas, não sabe informar sobre datas ou local onde se encontra, não consegue prestar atenção em nada. Um traço comum no “Delírium Tremens”, mas nem sempre presente, são as alucinações táteis e visuais em que o doente “tem visões” de insetos (baratas, formigas...) ou animais asquerosos (ratos, cobras...), próximos ou junto ao seu corpo. Esse tipo de alucinação pode levá-lo a um estado de agitação violenta para tentar livrar- se dos animais que o atacam. Cabe ao profissional de saúde fazer o diagnóstico da síndrome de abstinência, o seu tratamento bem como das complicações clínicas e psiquiátricas associadas. O manejo clínico desses quadros clínicos é fundamental no tratamento da dependência do álcool e representa uma oportunidade para motivar o paciente a permanecer no tratamento. 141 · Reinstalação da síndrome após abstinência: Após período de abstinência que pode ser de dias ou meses, assim que o indivíduo volta a beber em curto espaço de tempo ele passa a ingerir no mesmo padrão de dependência anterior. 49.6.4 Fenômeno da Dependência O fenômeno da dependência obedece a dois mecanismos básicos: o reforço positivo e o reforço negativo. O positivo refere-se ao comportamento de busca do prazer, ou seja, quando algo é agradável o indivíduo busca os mesmos estímulos para obter a mesma satisfação. O reforço negativo refere-se ao comportamento de evitar o desprazer, ou seja, em uma dada circunstância, quando algo é desagradável o indivíduo procura os mesmos meios para evitá-los. A fixação de uma pessoa no comportamento de busca do álcool obedece a esses dois mecanismos. No começo a busca é pelo prazer que a bebida proporciona. Depois de um período, quando a pessoa não alcança mais o prazer obtido anteriormente, não consegue mais parar porque sempre que isso é tentado surgem os sintomas desagradáveis da abstinência e para evitá-los ela mantém o uso do álcool. Atualmente há medicamentos modernos que podem ajudar a manter a abstinência, os quais devem ser prescritos e acompanhados pelo médico. Esses medicamentos atuam sobre tais mecanismos: a Naltrexona inibe o prazer dado pelo álcool, impedindo o reforço positivo; o Acamprosato diminui o mal-estar causado pela abstinência, bloqueando o reforço negativo. 49.6.5 Fenômeno da Tolerância O grande problema do consumo do álcool é que no início seu efeito é agradável. Vimos que o organismo cria tolerância (resistência) e exige doses cada vez maiores para repetir a sensação de bem-estar. Certo grau de embriaguez é a reação normal do organismo posto em contato com o álcool, entretanto, todos conhecemos pessoas que bebem quantidades enormes e 142 aparentemente não se abalam. Essa resistência à ação do álcool é o primeiro passo para que o alcoolismo se instale e o fígado entre em processo de deterioração. O alcoólatra não pode dizer que não está tolerante ao álcool por apresentar sistematicamente certo grau de embriaguez. O critério não é a ausência ou presença de embriaguez, mas a perda relativa do efeito da bebida. A tolerância ocorre antes da dependência. Os primeiros indícios de tolerância não significam necessariamente dependência, mas é um sinal claro de que ela não está longe. A dependência é simultânea à tolerância. Em outras palavras, a dependência será tanto mais intensa quanto maior for o grau de tolerância ao álcool. Diz-se que o indivíduo tornou-se dependente do álcool quando ele não tem mais forças por si mesmo para interromper ou diminuir o uso do álcool. Neste estágio há um abandono progressivo dos interesses, atividades e prazeres pessoais, ficando a vida cada vez mais direcionada à bebida. A maior parte do tempo do indivíduo passa a ser ocupada com a busca e consumo da bebida. Ele continua bebendo apesar das evidências claras dos prejuízos físicos, psicológicos, familiares e sociais que vem sofrendo. 49.6.6 Aspectos Gerais do Alcoolismo A identificação precoce do alcoolismo geralmente é prejudicada pela negação dos pacientes quanto à sua condição de alcoólatras. Além disso, nos estágios iniciais é mais difícil fazer o diagnóstico, pois os limites entre o “uso social” e a dependência nem sempre são bem definidos. Nos casos de dúvidas quanto ao diagnóstico, devem-se sempre avaliar incidências familiares de alcoolismo porque se sabe que a carga genética predispõe ao alcoolismo. O alcoólatra de “primeira viagem” sempre tem a impressão de que pode parar quando quiser e não é raro se ouvir a expressão: “quando eu quiser, eu paro”. Essa frase geralmente encobre o alcoolismo incipiente e resistente porque ele próprio nega qualquer problema relacionado ao álcool, mesmo que as outras pessoas não acreditem. A negação do próprio alcoolismo, quando ele não é evidente ou está começando, é uma forma de defesa da autoimagem (aquilo que a pessoa pensa de si mesma), até porque sabemos que à semelhança da maioria dos diagnósticos mentais, o alcoolismo possui um forte estigma social, e os pacientes tendem a evitar esse estigma. 143 Essa defesa natural de preservação da autoimagem e consequentemente da autoestima acaba trazendo atrasos ao início do tratamento do alcoolismo, vez que para isso é necessário que o paciente preserve sua autoestima em níveis elevados sem, contudo, negar sua condição de alcoólatra. Para se atingir tais condições, é indispensável orientação psiquiátrica adequada na condução de cada caso em particular. 49.6.7 Aspectos Biológicos do Alcoolismo Tradicionalmente o alcoolismo e a dependência química têm sido considerados pelos psiquiatras como o “patinho feio” da especialidade, pois no passado eles admitiam o falso conceito popular de que o alcoolismo é um problema relacionado à força de vontade. Os alcoólatras seriam pessoas fracas, provavelmente degeneradas, que não teriam força suficiente para resistir ao prazer envolvido com o ato de beber. Dessa forma, a condução do tratamento da dependência química durante certo tempo se tornou “terra de ninguém”, que incluía várias categorias de pessoas, tais como: dependentes recuperados, pessoas bem e mal intencionadas (charlatões). Dessa maneira, não é de se estranhar que uma grande quantidade de mitos tenha proliferado no campo da dependência química. Entre eles, podemos citar a visão moral da dependência química, a ausência de recuperação, a necessidade de “fundo de poço”, para que se pudesse dar início a um tratamento com possibilidade de recuperação e o conceito de que qualquer tipo de recaída poria tudo a perder. Esses mitos não só carregam um grande estigma para o paciente dependente, mas também dificultam a sua recuperação, pois atuam diretamente na autoestima e na motivação. Felizmente, a evolução científica tem trazido uma nova luz para a ciência da dependência química e nos últimos vinte anos estudos realizados têm evidenciado que a dependência química é também um quadro cerebral, além de um transtorno psicológico e social. Há evidências de que o cérebro está profundamente afetado nas alterações causadas pelo uso de drogas psicoativas. O sistema de recompensa cerebral, que envolve os neurotransmissores (dopamina e endorfina), parece ficar ativado de forma específica pelo álcool, cocaína, anfetaminas, opioides e canabioides, de modo que, após o início do uso regular dessas 144 drogas, o processode dependência química segue o seu percurso bastante independente da vontade individual. Estes estudos têm trazido resultados práticos muito importantes, dentre eles o novo enfoque de ver a dependência química como uma doença crônica, o aparecimento de formas mais específicas de psicoterapia comportamental para abordagem da dependência química, bem como o surgimento de medicamentos modernos para o tratamento da dependência do álcool, tabaco e heroína. 49.6.8 Estratégias do Tratamento Ao contrário, existem vários estágios entre esses dois extremos e o papel do médico psiquiatra é ajudar o paciente a se motivar ao tratamento, ou seja, induzi-lo a querer tratar-se, vez que a vontade de parar é o primeiro passo importante para o tratamento. Isso só é possível com o entendimento do processo de mudança que começa com o estado de pré-contemplação, no qual o paciente ainda não reconhece os problemas que a bebida lhe causa e não planeja mudar seu comportamento. Nesta fase não seria efetivo aconselhar o paciente apenas a mudar o hábito ou os lugares que frequenta. Antes ele precisa se dar conta dos riscos de continuar bebendo. Um modo de ajudar o paciente neste estágio é fazer com ele um quadro dos riscos e benefícios de usar a substância alcoólica. O estágio seguinte é o de contemplação, onde o paciente está conseguindo avaliar, de forma mais clara, os custos e benefícios de usar a bebida e já considerar a hipótese de mudar o seu comportamento. Nesta etapa o médico pode ajudá-lo a avaliar quais situações o deixam mais suscetível a beber e encontrar uma estratégia para evitá-las ou enfrentá-las de forma eficiente. A fase seguinte é da ação, quando o paciente já se decidiu pela mudança do comportamento e alterações concretas, podem ser feitas mediante a interrupção total do uso de bebidas alcoólicas (abstinência). A chamada “desintoxicação” pode ser feita em casa ou, em casos mais graves, em hospital, mas sempre sob cuidado médico. Nesse período é fundamental um exame médico completo com solicitação de exames laboratoriais, com especial atenção para o fígado e sistema nervoso a fim de avaliar os danos 145 físicos e mentais decorrentes do álcool. A dosagem sanguínea das transaminases é um exame importantíssimo e barato que permite diagnosticar doenças do fígado em fase relativamente precoce. O ideal seria solicitar as transaminases (TGP e TGO) e a Gama GT. Este último exame é importante para avaliar as condições em que se encontra o fígado de quem bebe. O próximo estágio de mudança é o da manutenção da abstinência. O paciente já parou o consumo do álcool, fez mudanças concretas no comportamento e agora se reúnem estratégias para ele não recair, ou seja, manter-se abstinente. A maioria dos estudos mostra que a abstinência deve ser total e completa. Uma “bebidinha” de vez em quando abre caminho novamente para a recaída na grande maioria dos casos. Assim, é preciso muito esforço e apoio, com envolvimento do cônjuge e demais familiares, para que o paciente fique distante das bebidas alcoólicas e de outros produtos que contém álcool. De fato, se existe um cônjuge ou uma família, o prognóstico é melhor e o trabalho com ambos os cônjuges – individual e conjuntamente – deve começar prontamente. Contudo, é importante salientar que estes estágios de mudança de comportamento em relação ao consumo do álcool não são lineares, ou seja, o paciente ao longo do tratamento flutua entre esses estágios, podendo ocorrer recaídas que não devem ser interpretadas como retorno ao estágio zero. As experiências anteriores do paciente podem representar aprendizados que o ajudam a voltar à abstinência. A cada recaída o paciente pode retroceder a qualquer estágio do processo de mudança. A psicoterapia comportamental desempenha papel fundamental na recuperação. Procura buscar com o paciente os motivos que o levam a beber e auxiliá-lo na resolução dos conflitos objetivando a construção de uma personalidade mais madura e capaz de lidar com as adversidades sem precisar se refugiar na bebida. Os grupos de autoajuda também desempenham um papel muito importante na recuperação, sendo recomendável matricular o paciente nos Alcoólatras Anônimos (AA) e o cônjuge no “Al-Anon”. Não se deve subestimar a importância da religião, particularmente por ser o alcoólatra uma pessoa dependente e que necessita de muito suporte. O aconselhamento religioso – quer por sacerdote católico ou por pastor evangélico – poderá também contribuir significativamente para o sucesso do tratamento. 146 49.6.9 Recaída A taxa de recaída (voltar a beber depois de ter se tornado dependente e parado com o uso de álcool) é muito alta. Quando nenhuma terapêutica de acompanhamento é feita, cerca de 90% dos pacientes voltam a beber nos quatro anos seguintes à interrupção, daí a importância de um acompanhamento terapêutico em longo prazo. A semelhança com outras formas de dependência, como a nicotina, tranquilizantes, estimulantes, etc., leva a crer que há um mecanismo psicológico (cognitivo) comum. O dependente que consiga manter-se longe do primeiro gole terá mais chances de evitar a recaída. O aspecto central da recaída é o chamado “craving”, palavra da língua inglesa sem tradução para o português que significa uma intensa vontade de voltar a consumir uma droga pelo prazer que ela causa. O “craving” é a dependência psicológica propriamente dita. 49.7 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E ABUSO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS O uso de drogas (álcool, cocaína, anfetaminas...) frequentemente desinibe o comportamento do indivíduo, reduzindo o controle sobre os impulsos emocionais e aumentando os sentimentos persecutórios. Por essa razão frequentemente o uso de tais substâncias está relacionado a episódios de violência doméstica. As formas de violência doméstica afetam não somente os cônjuges, mas também as crianças e os idosos, influenciando o bem-estar físico e psicológico de toda a família. Ênfase na identificação e no desenvolvimento de estratégias eficazes de abordagem de ambos os problemas (violência doméstica e uso de substâncias) pode contribuir para a redução da violência e de seu impacto sobre a saúde das próximas gerações. A associação entre violência e uso de drogas tende a complicar e impor desafios adicionais no tratamento de mulheres que sofrem de ambas as condições. Geralmente as mulheres com histórico de violência doméstica têm maior dificuldade em confiar em outras pessoas, incluindo profissionais de saúde. A habilidade do clínico em romper esta barreira é crítica para o estabelecimento de uma relação profissional efetiva. O profissional 147 de saúde deve primeiro garantir a segurança da paciente, fornecendo informações sobre o acesso às delegacias dos direitos da mulher, devendo, contudo, evitar a confrontação direta com o companheiro violento, já que essa abordagem pode acarretar o aumento da agressividade e dos ataques contra a vítima. O período que se segue a um episódio de violência é oportuno para se romper o ciclo por meio do encaminhamento para tratamento do dependente em clínicas especializadas com psiquiatras e/ou psicólogos, conforme a necessidade. A sugestão de tratamento pode ser mais bem recebida pelo dependente de drogas nesse momento em que se encontra invadido por sentimentos de culpa e renova promessas de mudança. É importante ter em mente que ambas as condições (violência doméstica e uso de substâncias) têm caráter crônico, com recaídas frequentes. Consequentemente, o processo de mudança é complexo e demorado, exigindo estratégias eficazes de abordagem de ambos os problemas. A paciente deve ser encorajada a participar das reuniões de grupos de mútua ajuda (Alcoólicos Anônimos-AA e Narcóticos Anônimos-NA ou Al-Anon e Nar-Anon para familiares, ou Mulheres que Amam Demais Anônimas-MADA envolvidas em relaçõesabusivas). É recomendável que o profissional de saúde esteja familiarizado com esses grupos disponíveis na comunidade. 49.8 DEPENDÊNCIA ÀS DROGAS NA ADOLESCÊNCIA O entendimento dos fatores de risco e das características do uso de drogas (não esquecer que o álcool também é uma droga) entre os jovens poderia auxiliar na prevenção do vício. Uma questão fundamental na adolescência é o distanciamento do jovem do contexto familiar e a consequente individualização de sua conduta, que passa a agir por conta própria em relação à família. O estresse e a ansiedade advindos dessa fase da vida aumentam a vulnerabilidade dos adolescentes à pressão dos amigos. Se por um lado ganham autonomia em relação a seus pais, por outro lado adquirem uma forte aliança com seus colegas. Nesse movimento, a influência do grupo e a “modelagem”, isto é, a imitação de determinado padrão de comportamento a partir de um líder torna o adolescente 148 especialmente vulnerável. Comportamentos de risco fazem parte do processo e geralmente vêm associados a sentimentos de grandiosidade e de “onipotência juvenil”, que induzem à negação do potencial de perigo inerente a tais comportamentos. Assim, o adolescente se questiona e tende a se adaptar aos modelos de comportamento “adulto” de que dispõe, sendo o uso de álcool, tabaco e outras drogas, apenas mais um dentre vários modelos. É o caso dos jovens que bebem sem responsabilidade, entrando nas baladas para se firmarem perante aos demais de seu grupo e daí para consumir outras drogas é apenas um passo a mais. O abuso acarreta acidentes automobilísticos, sexo sem responsabilidade, pois alcoolizado não se preocupa em usar camisinha, daí o perigo da AIDS. 49.9 NÍVEIS DE PREVENÇÃO A prevenção primária, apoiada nos educadores naturais (pais e professores), deve atuar o mais cedo possível, devendo fazer parte da educação familiar. Nesse nível, a prevenção deve ser feita pelo conjunto de medidas que devem estar inseridas na educação, visando intervir na formação dos jovens antes que surjam os problemas e para tanto é necessário que sejam aplicadas de maneira didática, criativa e prazerosa. No caso dos jovens, deve enfatizar medidas de conscientização e sensibilização quanto aos problemas da infância e da adolescência, em seus aspectos físicos e culturais. Com os adultos, a prevenção primária deve fornecer conhecimentos básicos para provocar e favorecer maior reflexão sobre os problemas abordados. A prevenção secundária deve ser entendida como um prolongamento da prevenção primária, quando esta não alcançou os efeitos necessários. O nível secundário de prevenção se aplica quando o indivíduo está em dificuldades que o levam a pensar em consumir a droga ou mesmo já está consumindo de maneira não contínua por simples curiosidade. Neste caso, a pessoa ainda não é um dependente, mas o risco de se tornar é cada vez maior. Os métodos de abordagem devem ser feitos tanto por uma comunicação mais dirigida e específica para aprofundar o diálogo quanto conhecer mais profundamente a droga utilizada, seus efeitos e problemas. Na prevenção terciária, os métodos se confundem com o tratamento ou reabilitação. Aqui, o indivíduo que consumia droga eventualmente por simples curiosidade, com a repetição, 149 perde completamente o controle sobre o comportamento de consumidor eventual e se torna um “dependente”, ou seja, consumidor compulsivo. Este nível terciário tem o objetivo de evitar a recaída e visa reintegrar o indivíduo à sociedade. Essa prevenção atua antes, durante e depois do tratamento. Antes do tratamento objetiva auxiliar o dependente a solicitar ajuda, ou seja, conscientizá-lo de que seu problema não pode ser resolvido só por ele mesmo. Durante o tratamento a prevenção age evitando que o tratamento seja interrompido. Após o abandono das drogas a prevenção tem como meta auxiliar o indivíduo a se reintegrar socialmente, evitando recaídas. Os mecanismos pelos quais o álcool atua no cérebro, assim como as alterações cerebrais produzidas pelo seu consumo crônico, ainda não estão compreendidos, sendo que a maioria dos estudos indica a participação dos sistemas dopaminérgicos, serotoninérgicos e principalmente gabaérgicos. O sistema de recompensa associado ao uso do álcool, além dos neurônios dopaminérgicos da área tegmental ventral e núcleo accumbens, inclui também estruturas que usam o ácido gama-aminobutírico (GABA) como transmissor, tais como o córtex, cerebelo, hipocampo, colículos superiores, inferiores e a amígdala. 49.10 OPIOIDES FIGURA 114 150 Os opioides modulam a liberação de neurotransmissores como a acetilcolina, serotonina, noradrenalina, além de outros peptídeos, como a substância P. O locus coeruleos, responsável pela maior parte da produção de noradrenalina no SNC, apresenta-se estimulado na síndrome de abstinência a opiáceos, o que provoca os típicos sintomas de estimulação simpática. O sistema de recompensa aos opiáceos, além das estruturas antes mencionadas, inclui também áreas que usam como neurotransmissores opiáceos endógenos, tais como o núcleo arqueado, a amígdala, o locus coeruleos e a área cinzenta periaquedutal dorsal. 151 50 PSICOTRÓPICOS FIGURA 115 Para podermos compreender como as drogas psicotrópicas interferem nas funções do sistema nervoso central (SNC), é importante termos noções do funcionamento desse sistema. Quando o ser humano recebe um estímulo, por meio de seus órgãos do sentido, a mensagem é enviada ao SNC, onde ocorre o processamento da informação, interpretação, elaboração, memorização, associações, entre outros. Esses processamentos ocorrem em milésimos de segundo e se repetem milhares de vezes ao longo de um único dia. As drogas psicotrópicas agem alterando essas comunicações entre os neurônios, podendo produzir diversos efeitos de acordo com o tipo de neurotransmissor envolvido e a forma como a droga atua. Por exemplo, uma droga do tipo benzodiazepínico (tranquilizante) atua facilitando comunicações do GABA, neurotransmissor responsável pelo controle da ansiedade, produzindo a diminuição da mesma. Dessa forma, de acordo com o tipo de ação, as drogas podem provocar ansiedade, sonolência, excitações, convulsão, entre outros. Estimar o tamanho do efeito de cada droga é difícil. Muitos ensaios apresentam limitações de delineamento e de seleção da amostra. Assim, 152 torna-se difícil mensurar o real benefício dos psicotrópicos. Mas o tratamento com estes medicamentos torna-se muito útil no manejo de animais. 50.1 CLASSIFICANDO AS SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS De acordo com os seus efeitos ao sistema nervoso central, têm-se os seguintes grupos: 50.1.1 Depressoras Como o próprio nome indica, diminuem a atividade do SNC, ou seja, esse sistema passa a funcionar mais lentamente. Como consequência, aparecem os sintomas e os sinais dessa diminuição: úteis como medicamentos em casos nos quais o SNC do animal está funcionando “muito acima do normal” (CARLINI, 1994). Os hipnóticos são substâncias que determinam graus variados de depressão do SNC. Esta depressão depende de alguns fatores, como a via de administração, dose da substância hipnótica e maior ou menor sensibilidade do paciente à droga. Assim é que pode ocorrer sedação, que é um grau mais superficial de depressão e que corresponde a uma sonolência acompanhada de discreto relaxamento muscular, com diminuição da ansiedade (SOLERO et al., 1999). Aprofundando-se mais, surge a hipnose, estado de depressão semelhante ao sono fisiológico e que dele se distingue pelo fato de, na hipnose induzida por drogas, haver um encurtamento daquela fase do sono paradoxal ou de movimentos açulares rápidos, que corresponde à fase dos sonhos e é benéfica para a estabilização psíquica (KAPLAN et al., 2002).Atualmente, de acordo com a importância clínica, encontram-se propriedades hipnóticas nos benzodiazepínicos, nos barbitúricos e em um terceiro grupo que poderíamos chamar de substâncias não benzodiazepínicas e não barbitúricas, que engloba um número variado de substâncias farmacologicamente hipnóticas, mas com pouco uso clínico (SILVA, 1998). 153 Exemplos: álcool, soníferos ou hipnóticos (drogas que promovem o sono – barbitúricos, alguns benzodiazepínicos, etc.), ansiolíticos (acalmam; inibem a ansiedade benzodiazepínicos, tais como diazepam, lorazepam, etc.), opiáceos ou narcóticos (aliviam a dor e dão sonolência – morfina, heroína, codeína, meperidina, etc.), inalantes ou solventes (FRANÇA, 2001). 50.1.2 Estimulantes São aquelas que estimulam atividade do SNC, fazendo com que o estado de vigília fique aumentado (portanto, diminui o sono), haja excitação, aumento da atividade motora, etc. Em doses mais elevadas chegam a produzir sintomas perturbadores do SNC, tais como convulsão (CARLINI, 1994). Muitos medicamentos podem estimular o sistema nervoso central, uns de modo predominante, outros de modo secundário. A estimulação pode exteriorizar-se sob a forma de moderada elevação no estado de alerta, excitação, agitação e até convulsões. A hiperexcitabilidade pode ser um efeito indesejado ou esperado ou resulta da alteração do equilíbrio entre os sistemas excitatórios e inibitórios do SNC (KING et al. 1992). Aproximava da dose que produzia convulsões e arritmias, além disso, os estimulantes psicomotores (anfetaminas e congêneres) criam problemas de tolerância, de abuso e de dependência (SILVA, 1998). Os declínios do uso de estimulantes do SNC se devem aos seguintes fatores: os estimulantes não eram antagonistas específicos, a duração de ação dos estimulantes era geralmente mais curta que aquela dos depressores do SNC, a dose necessária para reverter a depressão grave do SNC se aproximava da dose que produzia convulsões e arritmias, além disso, os estimulantes psicomotores (anfetaminas e congêneres) criam problemas de tolerância, de abuso e de dependência (SILVA, 1998). Exemplos: Cafeína, nicotina, anfetamina, anorexígenos e cocaína. Anfetamina – Empregada como vasoconstritor e estimulante. Protege o doente com excesso de sono e age também como moderador do apetite (SOLLERO et al., 1999). 154 50.1.3 Anorexígenos Diminuem a fome. Principais drogas pertencentes a essa classificação são as anfetaminas. Ex: dietilpropriona, femproporex, etc. 50.1.4 Perturbadoras Nesse grande grupo temos as drogas que produzem uma mudança qualitativa no funcionamento do SNC. Assim, alterações metais que não fazem parte da normalidade. Por essa razão, são chamadas de piscoticomiméticas, ou seja, drogas que mimetizam psicoses (CARLINI, 1994). A ação de cada psicotrópico depende: do tipo da droga, da via de administração, da quantidade, do tempo, da frequência de uso, da absorção e eliminação desta pelo organismo. A ação de cada psicotrópico depende: do tipo da droga, da via de administração, da quantidade, do tempo, da frequência de uso, da absorção e eliminação desta pelo organismo e da associação com outras drogas (FLANAGAN et al., 1994). A retirada brusca da droga de um animal dependente pode levar ao aparecimento de uma gama de sinais e sintomas que constituem a síndrome de abstinência, sendo os mais frequentes a fraqueza, irritação, tremores, insônia, cólicas, vômitos, hipertermia, hipotensão e convulsões violentas, podendo ser confundidas com crises epilépticas (LOWE, 2003). A suspensão da droga deve ser feita com o acompanhamento médico, começa-se oferecendo uma dose do psicotrópico semelhante àquela última que vinha sendo usada, diminui- se então, progressiva e paulatinamente, a dose até chegar-se ao ponto em que, com zero miligrama da droga durante vários dias, o paciente não apresente nenhum sinal de necessidade física ou psíquica do barbitúrico. Nesse momento, o ser humano está liberado para retornar a sua residência (BREIMER, 1977). 155 51 TRANSTORNO DISSOCIATIVO FIGURA 116 51.1 INTRODUÇÃO Estes transtornos são os mais explorados pela indústria cinematográfica, dada sua curiosa forma de apresentação. O aspecto central dos transtornos dissociativos (ou também chamados conversivos) é a perda total ou parcial de uma função mental ou neurológica. As 156 funções comumente afetadas são a memória, a consciência da própria identidade, sensações corporais e o controle dos movimentos corporais. Esses acometimentos estão, por definição, ligados a algum evento psicologicamente estressante na vida do paciente, cuja ligação costuma negar e consequentemente o psiquiatra precisa de auxílio para detectar. Dada a comprovação da inexistência de um fator físico detectável, sua rápida instalação e a preservação das demais funções mentais e neurológicas, as pessoas diretamente prejudicadas pelo distúrbio do paciente consideram simuladores. Esses casos ainda não foram inteiramente compreendidos, o que não significa que sejam simulações. Reconhecemos nossa ignorância e justamente por ela não temos como negar sua existência. Por enquanto admite-se a existência da paralisia neurológica e psiquiátrica, uma de bases definidas, outra de bases indefinidas, justamente como foi no passado com a neurologia. 51.2 AMNÉSIA DISSOCIATIVA FIGURA 117 157 O principal aspecto é a perda da memória, usualmente para eventos recentes importantes, graves o suficiente para serem tomados como simples esquecimento. Deve ser comprovada a impossibilidade de uma causa orgânica como medicamentos ou problemas cerebrais. A amnésia costuma acontecer para eventos traumáticos, como acidentes ou perdas inesperadas, podendo ser específica para determinados temas, por exemplo: em uma determinada boate onde ocorreu um incêndio o paciente não se recorda dos comentários de outras pessoas a respeito do cheiro de fumaça instantes antes do pânico generalizado; também não se lembra de alguém que tentava orientar a multidão ou outra pessoa que tentou ajudá-la, somente dos doces, das bebidas, das músicas e com quem conversou. Na maioria das vezes o paciente sabe que perdeu parte da memória, alguns se aborrecem com isso, outros ficam indiferentes e despreocupados. Os adultos jovens, os adolescentes e as mulheres são os mais acometidos por esse problema. Há técnicas como a hipnose ou outras formas de relaxamento que permitem ao profissional experiente penetrar na parte “esquecida” da mente do paciente e fazê-lo contar o que houve. Em certos casos, psicoterapias podem também fazer com que o paciente se conscientize do que presenciou. 51.3 FUGA DISSOCIATIVA FIGURA 118 158 Na fuga dissociativa o indivíduo repentinamente perde todas suas recordações, inclusive de sua própria identidade. Inesperadamente essa pessoa muda-se de localidade, de cidade ou de estado, assumindo outra identidade, função e vida por vários dias. Durante esse período não se lembra nada de sua vida passada nem tem consciência de que se esqueceu de algo. Seu comportamento é compatível com as normas sociais de maneira que ninguém percebe algo errado naquela pessoa, exceto por ser um forasteiro. Vive de forma simples, um pouco recluso, com modéstia. Subitamente recobra toda a memória, excetuando-se o período enquanto viveu a fuga dissociativa. Com o restabelecimento da memória a pessoa recobra sua vida anterior. Raramente esse episódio dura meses, mas dias ou horas. 51.4 DESPERSONALIZAÇÃO / DESREALIZAÇÃO FIGURA 119 A desrealização é a alteração da sensação a respeito de si, enquanto a despersonalização é a alteração da sensação de realidade do mundo exterior, sendo preservada a sensação sobre si. Contudo, ambas podemacontecer simultaneamente. A classificação norte- 159 americana não distingue mais a desrealização da despersonalização, encarando-as como o mesmo problema. Contrariamente ao que o nome pode sugerir a despersonalização não trata de um distúrbio de perda da personalidade: este problema, inclusive, não tem nenhuma relação com qualquer aspecto da personalidade normal ou patológica. O aspecto central da despersonalização é a sensação de estar desligado do mundo como se, na verdade, estivesse sonhando. O indivíduo que experimenta a despersonalização tem a impressão de estar em um mundo fictício, irreal, mas a convicção da realidade não se altera. A desrealização é uma sensação e não uma alteração do pensamento como acontece nas psicoses, em que o indivíduo não diferencia realidade da “fantasia”. Na despersonalização o indivíduo tem preservado o senso de realidade apesar de ter uma sensação de que o que está vendo não é real. É comum a sensação de ser o observador de si próprio e até sentir o “movimento” de saída de dentro do próprio corpo, de onde se observa a si mesmo de um lugar de fora. A ocorrência eventual das sensações de despersonalização ou desrealização é comum. Algumas estatísticas falam que aproximadamente 70% da população já experimentaram alguma vez esses sintomas, não podendo se constituir num transtorno enquanto ocorrência esporádica. Porém, se acontece continuamente ou com frequência, proporcionando significativo sofrimento, passa a ser considerado um transtorno. A severidade pode chegar a um nível de intensidade tal que o paciente deseja morrer a continuar vivendo. O diagnóstico desse transtorno dissociativo só pode ser feito se outros transtornos foram descartados como as síndromes psicóticas, estados de depressão ou ansiedade, especialmente o pânico. Nessas situações as despersonalizações e desrealizações são comuns, constituindo-se em um sintoma e não em um transtorno à parte. Não há tratamento eficaz conhecido para esses sintomas isoladamente. 160 51.5 PERSONALIDADE MULTIPLICA FIGURA 120 FILME SYBIL (ABORDA O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE MÚLTIPLA) Ao contrário do que poderia parecer, este transtorno nada tem a ver com os transtornos de personalidade. Está classificado entre os transtornos dissociativos porque existem várias personalidades dentro de uma só pessoa e essas não são necessariamente patológicas. No transtorno de personalidade não há amnésias, mas uma conduta rotineiramente inadaptada socialmente. O aspecto essencial da personalidade múltipla é a existência de duas ou mais personalidades distintas dentro de um indivíduo, com apenas uma delas evidenciando-se a cada momento. Cada personalidade é completa, com suas próprias memórias, comportamento e gostos de forma bastante elaborada e complexa. As personalidades são muito independentes umas das outras, sendo possível inclusive terem comportamentos opostos, por exemplo, uma sendo sexualmente promíscua e outra recatada. Em alguns casos há completo bloqueio de memória entre as personalidades, noutros há conhecimento, podendo gerar rivalidades ou fraternidades. O observador externo que só conheça uma das personalidades não notará nada de anormal com esta pessoa. As personalidades podem ser do sexo oposto, ter idades diferentes e até de outras raças. 161 O primeiro episódio de mudança de personalidade pode ser precedido de um evento forte, como uma tragédia. Com o passar do tempo essa pessoa pode continuar tendo as “viradas” na personalidade sem fatores precipitantes. A mudança de uma personalidade para outra pode ser súbita ou ocorrer em uma espécie de período confusional transitório, pode acontecer durante uma sessão de relaxamento ou de psicoterapia. Nada se sabe a respeito das causas desse transtorno, mas admite-se que é mais frequente do que se suspeitava antigamente. Atualmente as psicoterapias são as únicas formas de abordagem dos casos. Não há uma medicação eficaz. 51.6 TRANSTORNO DISSOCIATIVO MOTOR FIGURA 121 162 Os transtornos motores são os mais comuns do grupo das dissociações. As queixas que esses pacientes costumam apresentar são fraquezas ao realizar um determinado movimento, andar instável ou inseguro, movimentos anormais, tremores, contrações involuntárias. Os sintomas costumam se intensificar quando o paciente é observado. Apesar dessas queixas dificilmente esses pacientes se ferem, ao contrário do que acontece nos casos neurológicos propriamente ditos. Esse distúrbio é aproximadamente cinco vezes mais comum em mulheres do que em homens. Um aspecto que muitas vezes chama a atenção é a relativa à acomodação com a situação. Ao contrário de uma pessoa que repentinamente passa a necessitar de uma cadeira de rodas, por exemplo, esses pacientes reagem com relativa tranquilidade e indiferença à sua incapacidade física, não se importando com seu problema. 51.7 TRANSTORNO DISSOCIATIVO SENSITIVO FIGURA 122 163 É equivalente ao transtorno motor, sendo a função neurológica afetada mais frequentemente a sensorial, o tato, a audição e a visão. Podem manifestar-se com perda parcial ou completa das sensações táteis de determinada área do corpo, principalmente as extremidades (pés e mãos). Nesses casos, todas as funções táteis costumam estar acometidas para o toque, para a dor e para a temperatura. Assim o paciente queixa-se de anestesia em um lado inteiro do corpo ou nas mãos ou pés. Os órgãos dos sentidos especiais como audição, visão podem ser afetados provocando surdez, visão turva, cegueira, visão em túnel. Tanto ambos os lados podem ser acometidos simultaneamente como de um lado só. Novamente esses pacientes não se ferem por causa de seu transtorno, mas se isso acontecer como fato isolado não se poderá excluir o diagnóstico. Tanto as alterações motoras como as sensoriais costumam ser limitadas a um período de tempo com completa recuperação posterior, mas o mesmo quadro ou outro semelhante pode surgir após a recuperação. 51.8 ALEXITIMIA FIGURA 123 164 O conceito de Alexitimia é muito melhor conhecido hoje que há um quarto de século. Trata-se de uma marcante dificuldade para a expressão apropriada da língua, para descrever os sentimentos próprios e para relatar as sensações corporais, uma impressionante habilidade para fantasiar e uma maneira prática e utilitária de pensar (pensamento operante). O conceito de Alexitimia foi formulado em consequência das observações clínicas em Paris e Boston nos anos 1960, sobre uma condição que resultava em certo déficit em pacientes que sofriam de alguma condição psicossomática. Alexitimia é hoje um termo que diz respeito à marcante dificuldade para usar a comunicação verbal apropriada para expressar e descrever sentimentos, bem como das sensações corporais. 51.9 ALEXITIMIA NA POLÍTICA E NO CRIME FIGURA 124 165 Existem muitos relatos na Psiquiatria forense sobre alguns criminosos condenados a longos anos de prisão, à prisão perpétua ou mesmo à morte, que não eram capazes de demonstrar nenhuma reação emocional, mesmo quando suas sentenças eram proferidas pelo juiz. Sifneos cita o relatório sobre um assassino em série que, condenado à morte, não mostrou nenhum sentimento. Também não demonstrou sentimentos quando eram descritos seus crimes hediondos durante o julgamento. O criminoso só pareceu ser totalmente apático em termos emocionais. Nenhum músculo moveu-se, sua expressão facial era uma tela em branco. Um amigo dele o teria descrito como um cérebro ambulante. Começou a beber e usar a cocaína quando tinha 13 anos, costumava dizer que preferia matar alguém, ainda que apenas para o divertimento, do que morrer ele próprio. E ria quando falava isso. O crime para ele era como sairde férias ou escalar uma montanha. Depois das observações iniciais das características clínicas originais para a Alexitimia, mais duas foram acrescidas em 1972 e em 1976, em Londres e em Heidelberg respectivamente. A conferência de Londres afirmava uma hipótese de provável etiologia biológica para a Alexitimia, enquanto a conferência de Heidelberg classificou-a juntamente com os transtornos psicossomáticos. Durante os 20 anos seguintes um grande número de estudos clínicos constatou a presença de características alexitímica em porcentagens variadas nos pacientes que sofriam distúrbios clínicos e psiquiátricos diferentes, tais como, no abuso de substâncias, na dor psicogênica, nos transtornos alimentares, nas depressões típicas ou mascaradas, nos ataques do pânico, nos transtornos somatoformes, na personalidade borderline e transtornos sociopáticos da personalidade, bem como em indivíduos normais. Na política, Sifneos escolheu como modelo de Alexitimia três reconhecidos criminosos de guerra como exemplo: Hoess, Eichmann e Hitler. Rudolf Hoess foi comandante do campo de concentração de Auschwitz de 1941 a 1944. Escreveu um livro ao esperar sua execução em 1949. Segundo essa autobiografia, dizia ter trabalhado de acordo com suas próprias decisões e consciência. Seu único confidente era seu pônei. Ele mesmo reconhece, no livro, ser incapaz de ter quaisquer sentimentos para qualquer pessoa, “mesmo para com minha irmã”. Disse não ter conseguido lembrar-se de ter experimentado qualquer sentimento por ocasião da morte de seu pai. Escreveu ainda que as matanças de prisioneiros nas câmaras de gás sob suas ordens não produziam nele nenhuma emoção, inclusive, que elas ajudavam “sua mente descansar”. 166 Adolf Eichmann era o oficial das SS nazistas e responsável pelo transporte de prisioneiros para campos de concentração. Durante seu julgamento pelos bárbaros crimes de guerra cometidos, deixou claro não ter tido nenhum sentimento sobre a monstruosidade de seus crimes, nem o mais ligeiro traço de remorso. Sobre a quantidade de pessoas exterminadas nos campos de concentração que ele ajudou a transportar, limitou-se a dizer em seu julgamento que: “Eu não sou nenhum estatístico, mas uns seis milhões devem ter sido mortos. Apenas obedeci a ordens e aquele era meu trabalho. Se houvesse um milhão, ou cem milhões, teria feito a mesma coisa”. Dentre as centenas de livros escritos sobre Hitler, um deles de extraordinária importância, e com mais de 700 páginas, foi publicado pela Universidade de Oxford em 1953. Trata-se da transcrição de monólogos de Hitler em uma atmosfera doméstica e relaxada, durante o almoço e o jantar, com um grupo dos colegas membros do partido, com militares e secretárias. Martin Borman foi o secretário que fez essas anotações. Segundo a introdução do professor Trevor, Hitler era um pensador sistemático. Sua mente era grosseira, estreita, rígida e cruel. Apesar de seus discursos serem sempre bem preparados, suas conversas na intimidade eram espontâneas e mostravam um verdadeiro retrato vívido de sua mente. As conversas se mostravam completamente triviais, dotadas de materialismo estreito e repugnante. Hitler era bastante rígido, sem tolerância. Na maioria das vezes parecia não haver nenhuma palavra que denotava sentimentos. Declarava com sinceridade que costumava gastar dez horas ou um dia todo pensando somente sobre assuntos militares e que sua vida inteira poderia ser resumida no esforço de persuadir pessoas. Em outro livro interessante sobre ele, Hitler`s Mistakes (1984), conclui que não havia nenhuma emoção humana. Simplesmente não permitia a ninguém se aproximar de sua intimidade, mesmo porque, em termos de sentimentos, parecia ser uma pessoa completamente vazia. Segundo Lewin: “é minha opinião que Hoess, Eichmann e Hitler eram alexitímicos”. As consequências da Alexitimia na medicina, na política e no crime são perigosas. O ideal seria que as pessoas eleitas não somente governassem e cumprissem certos interesses, mas, deveriam possuir as qualificações éticas e os sentimentos que nos distinguem dos animais e que são característica do ser humano normal. Alexitimia, resumindo, é uma marcante dificuldade para o uso apropriado da linguagem para expressar e descrever sentimentos, bem 167 como a dificuldade para diferenciar com precisão as sensações corporais e uma impressionante capacidade para fantasias. 168 52 OUTROS TEMAS LIVRES 52.1 CAUSA A causa da Alexitimia tem preocupado diversos investigadores por muito tempo. Krystal e Freyberger atribuíram estes defeitos à predisposição psicológica. Nemiah e Sifneos, por outro lado, sugeriram defeitos biológicos estruturais como sendo a causa subjacente primária das características alexitímica. Mais recentemente, um grande número de pesquisas neurobiológicas tem retratado muito bem a anatomia e a fisiologia das estruturas cerebrais responsáveis pela postura emocional da pessoa, apesar da complexidade e às vezes dos resultados inconclusivos. 52.2 TERAPIAS FIGURA 125 169 Concorda-se, geralmente, que para os indivíduos incapazes de verbalizar e diferenciar suas emoções de suas sensações corporais, com uma queda para fantasiar, juntamente com uma maneira utilitária de pensar, as psicoterapias dinâmicas são totalmente ineficazes, às vezes até prejudiciais aos pacientes com esse diagnóstico. Por outro lado, as terapias de suporte, individuais e/ou em grupo, juntamente com medicação psicotrópica, parecem oferecer melhores resultados. Uma terapia modificada da Psicopedagogia foi usada por Krystal e deve também ser considerada. Com as características alexitímicas já mencionadas, foram encontrados portadores desse transtorno não somente nos pacientes que sofrem de uma variedade de doenças emocionais, mas também entre aqueles com personalidade sociopática ou do tipo borderline. 52.3 LUTO E PSIQUIATRIA FIGURA 126 170 A missão tradicional do médico é aliviar o sofrimento humano; se puder curar, cura; se não puder curar, alivia; se não puder aliviar, consola. Ao pensar na morte, seja a simples ideia da própria morte ou a expectativa mais do que certa de morrer um dia, seja a ideia estimulada pela morte de um ente querido ou mesmo de alguém desconhecido, o ser humano maduro normalmente é tomado por sentimentos e reflexões. As pessoas que se regozijam em dizer que não pensam na morte normalmente têm uma relação mais sofrível ainda com esse assunto, tão sofrível que nem se permitem pensar a respeito. Esses pensamentos, ou melhor, os sentimentos determinados por esses pensamentos variam muito entre as diferentes pessoas, também variam muito entre diferentes momentos de uma mesma pessoa. Podem ser sentimentos confusos e dolorosos, serenos e plácidos, raivosos e rancorosos, racionais e lógicos, e assim por diante. Enfim, são sentimentos das mais variadas tonalidades. Isso tudo pode significar que a morte, em si, pode representar algo totalmente diferente entre as diversas pessoas, e totalmente distinto em diferentes épocas da vida de uma mesma pessoa. 52.4 O EU DIANTE DA MORTE FIGURA 127 171 De um modo geral, descontando as defesas das reflexões zen, das meditações transcendentais e de toda sorte de subterfúgios do medo e do temor do nada, a ideia da morte nos remete aos sentimentos de perda, portanto, em tese, nos desperta sentimentos dolorosos. Trata-se de uma espécie de dor psíquica, a qual muitas vezes acaba também gerando dores físicas, ou criando uma dinâmica incompreensível para quem a vida continua sorrindo. Poderíamos dizer que na depressão, o tema morte está mais presente, seja o medo dela, seja a vontade de que ela aconteça casualmente ou, mais grave, sob a forma de ideação suicida. De qualquer forma, pensa-se na morte e, como70 27 AFETIVIDADE ........................................................................................................................... 71 28 EMOTIVIDADE .......................................................................................................................... 72 4 29 CONSCIÊNCIA ......................................................................................................................... 73 30 ESQUIZOFRENIA ..................................................................................................................... 74 30.1 EPIDEMIOLOGIA ...................................................................................................................... 75 30.2 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS................................................................................................ 75 30.3 SINTOMAS ................................................................................................................................ 75 30.4 SINTOMAS NEGATIVOS .......................................................................................................... 76 30.5 TIPOS DE ESQUIZOFRENIA .................................................................................................... 77 30.5.1 Paranoide .................................................................................................................................. 77 30.5.2 Hebifrênica ................................................................................................................................ 78 30.5.3 Catatônica ................................................................................................................................. 79 30.5.4 Simples ...................................................................................................................................... 80 30.5.5 Residual ..................................................................................................................................... 81 30.6 TRATAMENTO .......................................................................................................................... 82 31 TRANSTORNOS DO HUMOR .................................................................................................. 83 32 TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR ........................................................................................ 84 33 MANIA ....................................................................................................................................... 85 34 HIPOMANIA .............................................................................................................................. 86 35 DEPRESSÃO ............................................................................................................................ 87 35.1 DEPRESSÃO E TRISTEZA ....................................................................................................... 88 35.2 TRATAMENTO DO QUADRO DEPRESSIVO ........................................................................... 89 35.3 TRATAMENTO DA HIPOMANIA E MANIA ............................................................................... 90 36 TRANSTORNOS ALIMENTARES ............................................................................................ 91 36.1 BULIMIA .................................................................................................................................... 92 36.2 ANOREXIA ................................................................................................................................ 93 36.3 PERFIL DA PESSOA COM ANOREXIA E BULIMIA ................................................................. 94 36.3.1 ANORÉXICO ............................................................................................................................. 94 36.3.2 BULÍMICO ................................................................................................................................. 94 37 TRANSTORNO DO COMER COMPULSIVO ............................................................................ 95 38 TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO .......................................................................... 96 39 TRANSTORNOS ANSIOSOS ................................................................................................... 97 39.1 FATORES QUE DESENCADEIAM A ANSIEDADE .................................................................. 98 39.2 SINTOMATOLOGIA .................................................................................................................. 99 5 39.3 AGITAÇÃO MOTORA .............................................................................................................. 100 39.4 ANSIEDADE FISIOLÓGICA ..................................................................................................... 101 39.5 ANSIEDADE PATOLÓGICA ..................................................................................................... 102 39.6 TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA ................................................................ 103 40 TRANSTORNO DO PÂNICO ................................................................................................... 104 41 FOBIAS .................................................................................................................................... 106 41.1 FOBIA SIMPLES ...................................................................................................................... 107 41.2 FOBIA SOCIAL ......................................................................................................................... 108 42 TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS ......................................................................................... 110 43 TRATAMENTO ........................................................................................................................ 112 44 DEPENDÊNCIA QUÍMICA ....................................................................................................... 113 44.1 DROGA .................................................................................................................................... 114 44.2 DEPENDÊNCIA QUÍMICA ....................................................................................................... 114 44.3 ABUSO DE DROGAS ............................................................................................................... 115 44.4 USO DE DROGAS ................................................................................................................... 116 45 CLASSIFICAÇÃO DO GRUPO DE DROGAS ......................................................................... 117 46 ANFETAMINAS ....................................................................................................................... 118 47 TRANSTORNO MENTAL ORGÂNICO .................................................................................... 119 48 ESQUIZOFRENIA .................................................................................................................... 121 48.1 SINTOMAS ............................................................................................................................... 121 48.1.1 Sintomas Positivos ................................................................................................................... 122 48.1.2 Sintomas Negativos .................................................................................................................. 122 48.2 CAUSAS ................................................................................................................................... 123 48.2.1 Teoria Genética ....................................................................................................................... 123 48.2.2 Teorianão poderia deixar de ser, acompanha sentimentos dolorosos. Essa é uma dor psíquica, naturalmente movida por sentimentos de tristeza, de finitude, de medo, de abandono, de fragilidade e insegurança. Na espécie humana a dor psíquica diante da morte pode ser considerada fisiológica, mas sua duração, intensidade e resolução vão depender, muito provavelmente, de como a pessoa experimentou a vida. Diz um ditado: “teme mais a morte quem mais temeu a vida”. Durante a fase de enfrentamento da morte o paciente é estimulado a profundas reflexões sobre a própria vida; se lhe foi satisfatória sua trajetória de vida, se houve algum desenvolvimento emocional, se pode criar vínculos afetivos fortes e permanentes, se ele pode auxiliar a outros seres humanos. Orientado psicologicamente (cognitivamente) poderá ser possível que, apesar de doloroso, esse momento possa ter um importante e saudável balanço emocional. 52.5 OS 5 ESTÁGIOS DA PERSPECTIVA DE MORTE A reação psíquica determinada pela experiência com a morte, ou mesmo diante de um diagnóstico médico associado com a perspectiva de vir a morrer, foi descrita por Elisabeth Kubler-Ross como tendo cinco estágios (BERKOWITZ, 2001): 172 52.5.1 Primeiro Estágio: Negação e Isolamento A Negação e o Isolamento são mecanismos de defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte. A intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com essa dor. Em geral, a Negação e o Isolamento não persistem por muito tempo. 52.5.2 Segundo Estágio: Raiva Por causa da raiva, que surge devido à impossibilidade do Ego manter a Negação e o Isolamento, os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. Junto com a raiva, também surgem sentimentos de revolta, inveja e ressentimento. Nessa fase, a dor psíquica do enfrentamento da morte se manifesta por atitudes agressivas e de revolta: “por que comigo?” A revolta pode assumir proporções quase paranoides; “com tanta gente ruim para morrer por que eu, eu que sempre fiz o bem, sempre trabalhei e fui honesto?”... Transformar a dor psíquica em agressão é, mais ou menos, o que acontece em crianças com depressão. É importante, nesse estágio, haver compreensão dos demais sobre a angústia transformada em raiva na pessoa que sente interrompidas suas atividades de vida pela doença ou pela morte. 52.5.3 Terceiro Estágio: Barganha Havendo deixado de lado a Negação e o Isolamento, “percebendo” que a raiva também não resolveu, a pessoa entra no terceiro estágio; a barganha. A maioria dessas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo. Como dificilmente a pessoa tem alguma 173 coisa a oferecer a Deus, além de sua vida, e como Este parece estar tomando-a, quer a pessoa queira ou não, as barganhas assumem mais as características de súplicas. A pessoa implora que Deus aceite sua “oferta” em troca da vida, como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada à igreja, aos pobres, à caridade. Na realidade, a barganha é uma tentativa de adiamento. Nessa fase o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil (não se pode barganhar com Deus, ao mesmo tempo em que se hostilizam pessoas). 52.5.4 Quarto Estágio: Depressão A Depressão aparece quando o paciente toma consciência de sua debilidade física, quando já não consegue negar suas condições de doente, quando as perspectivas da morte são claramente sentidas. Evidentemente, trata-se de uma atitude evolutiva; negar não adiantou agredir e se revoltar também não, fazer barganhas não resolveu. Surge então um sentimento de grande perda. É o sofrimento e a dor psíquica de quem percebe a realidade nua e crua, como ela é realmente, é a consciência plena de que nascemos e morremos sozinhos. Aqui a depressão assume um quadro clínico mais típico e característico: desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro, etc. 52.5.5 Quinto Estágio: Aceitação Nesse estágio o paciente já não experimenta o desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso e serenidade antes da longa viagem. É claro que interessa à psiquiatria e à medicina melhorar a qualidade da morte (como sempre tentou fazer em relação à qualidade da vida), que o paciente alcance esse estágio de aceitação em paz, com dignidade e bem-estar emocional. Assim ocorrendo, o processo até a morte pôde ser experimentado em clima de serenidade por parte do paciente e, pelo lado dos que ficam de conforto, compreensão e colaboração para com o paciente. 174 53 A MEDICINA PALIATIVA FIGURA 128 O termo “paliativo” tem uma conotação leiga pejorativa que não corresponde, absolutamente, à verdade. Paliativo é a qualidade de aliviar, e é o que mais interessa à pessoa que sofre, portanto, quando se fala Medicina Paliativa não se pretende, de forma alguma, atribuir um sentido pejorativo, minimizado ou frugal ao termo. Devemos ter cuidado quando alguém diz... “Esse medicamento é APENAS um paliativo”, com intenção clara em atribuir alguma conotação pejorativa. No Brasil a Medicina Paliativa ainda caminha a passos lentos, mas no Reino Unido, onde tudo começou, somando-se com a Austrália, USA e Canadá, existem mais de 6.000 centros de Medicina Paliativa, sendo considerada uma especialidade médica e de grande notoriedade. No Brasil, a atuação da Medicina Paliativa, iniciada em 1983 pela Dra. Miriam Martelete, no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, é ainda praticamente desconhecida pelos médicos brasileiros. Os Cuidados Paliativos são tipos especiais destinados a proporcionar bem- 175 estar, conforto e suporte aos pacientes e seus familiares nas fases finais de uma enfermidade terminal. Assim, a Medicina Paliativa procura conseguir que os pacientes desfrutem os dias que lhes restam de forma mais consciente possível, livres da dor e com seus sintomas sob controle. Isso tudo é pretendido para que esses pacientes possam viver seus últimos dias com dignidade, em sua casa ou em algum lugar mais parecido possível, rodeados de pessoas que lhes queiram bem. Na realidade, esse tipo de cuidado pode ser realizado em qualquer local onde o paciente se encontra, seja em sua casa, no hospital, em asilos ou instituições semelhantes, etc. Cuidado Paliativo é uma atenção médica e multiprofissional aos pacientes cuja doença não responde aos tratamentos curativos. Para a Medicina Paliativa é primordial o controle da dor, de outros sintomas igualmente sofríveis e, até, dos problemas sociais, psicológicos e espirituais. Os Cuidados Paliativos são interdisciplinares e se ocupam do paciente, da família e do entorno social do paciente. Os Cuidados Paliativos não prolongam a vida, nem tampouco aceleram a morte. Eles somente tentam estar presentes e oferecer conhecimentos médicos e psicológicos suficientes para o suporte físico, emocional e espiritual durante a fase terminal e de agonia do paciente, bem como melhorar a maneira de sua família e amigos lidarem com essa questão. Essa área médica objetiva o alívio, a preparação e, consequentemente, a melhoria das condições de vida dos pacientes com doenças progressivas e irreversíveis como, por exemplo, crônico-degenerativas, incapacitantes e fatais. Atualmente dizem respeito mais aos pacientes com câncer, AIDS, pneumopatias, degenerações neuromotoras, doenças metabólicas, congênitas, Doença de Alzeheimer, Doença de Parkinson, etc., bem como os politraumatizados com lesões irreversíveis. Uma das maiores dificuldades para a Medicina Paliativa ter desenvoltura próxima à de outras especialidades pode ser o preconceito universal existente em relação às condutas terminais, mais precisamente, em relação à morte.176 54 A QUALIDADE DA VIDA E DA MORTE FIGURA 129 Na formação do médico, bem como na formação das especialidades, a morte costuma ser abolida do rol de preocupações clínicas. Dificilmente os médicos perguntam, na anamnese, se o paciente tem medo de morrer, pensa em morrer, pensa em suicídio, ou coisas assim. Aliás, nem sequer é indagado se está triste, nem sequer como ele está... E isso se deve, provavelmente, à total falta de conhecimento sobre o que fazer com a resposta do paciente. Quanto mais avança o conhecimento médico em todos os campos (farmacologia; terapêutica, anestesia, cirurgia, transplantes de órgãos, f ertilização humana, genética, imunologia, medicina nuclear, recursos diagnósticos, etc.), quanto mais se desenvolvem tecnologias aplicadas à medicina, mais o médico se distancia da morte. Os protocolos de procedimentos médicos, as normas administrativas da medicina e os rígidos manuais de conduta acabaram por institucionalizar a morte. 177 É comum vermos em livros texto uma perfeita descrição de determinado quadro clínico, reconhecidamente irreversível e com desfecho fatal, mas nada se fala dos cuidados finais, da atenção familiar e afetiva que o paciente deveria receber nesse momento. Não se fala muito em deixá-lo nos centros de terapia intensiva. É objetivo da Medicina Paliativa a preocupação com a desinstitucionalização da morte, dando ao paciente a possibilidade de escolher permanecer em casa durante sua agonia. A discussão que pretendemos alimentar é, sobretudo, um protesto contra as condições de vida impostas pela medicina moderna aos doentes terminais, subtraindo deles as opções de um morrer menos sofrível. Pensamos que intervir no paciente terminal em centros de terapia intensiva, quando não objetiva exclusivamente minimizar sofrimentos, pode refletir sentimento de onipotência da medicina sobre a vida, sobre a vida física, como se ela fosse considerada o bem supremo e absoluto, acima da liberdade e da dignidade. O amor pela vida, quando a toma como um fim em si mesmo, se transforma em um culto pela vida. A medicina que se preocupa insensivelmente com as “condições vitais”, deixando de lado as “qualidades vitais”, promove implicitamente esse culto idólatra à vida. Nessas circunstâncias a medicina interfere na fase terminal como se travasse uma luta a todo custo contra a morte e não, como seria preferível, em uma luta em defesa do paciente. A maneira de morrer, portanto, não pode ser excluída, absolutamente, do projeto de vida da pessoa. A maneira de morrer também é uma forma de humanizar a vida no seu ocaso, devolvendo-lhe a dignidade perdida. 178 55 O PACIENTE TERMINAL O grande desenvolvimento da Medicina nas últimas décadas do século XX, assim como as melhorias inegáveis nas condições de vida, elevou a expectativa de vida de 34 anos, no começo do século XX, até quase 80 anos no começo do século XXI. Consequentemente ao aumento da perspectiva de vida e ao envelhecimento progressivo das populações, nas últimas décadas está havendo um avanço gradual na prevalência de algumas doenças crônicas e invalidantes. Os avanços obtidos no tratamento específico do câncer têm permitido um aumento significativo da sobrevivência e da qualidade de vida desses pacientes. Mesmo assim, estima-se atualmente que 25% das mortes sejam devidas ao câncer. Por outro lado, sem nenhuma relação com o envelhecimento da população, a AIDS grassou tenazmente em nossa sociedade, demandando fortes medidas sanitárias. Aqui também, apesar dos avanços nessa área, continua grande o número anual de pacientes terminais produzidos por essa doença. O estado mórbido que chamamos de Doença Terminal se caracteriza por algumas situações clínicas precisamente definidas, as quais se podem relacionar da seguinte forma: Presença de uma doença em fase avançada, progressiva e incurável; Falta de possibilidades razoáveis de resposta ao tratamento específico; Presença de numerosos problemas ou sintomas intensos, múltiplos, multifatoriais e alternantes; Grande impacto emocional (no paciente e familiar) relacionado à presença ou possibilidade incontestável da morte; Prognóstico de vida inferior a 6 meses. Os Pacientes Terminais apresentam peculiaridades próprias que o profissional médico deve conhecer. O controle dos sintomas do estado terminal deve ser abordado não só do ponto de vista farmacológico, senão também, do ponto de vista psicológico, social, familiar, espiritual, etc. Nesses pacientes os sintomas costumam ser devidos a diversos fatores. Podem ser decorrentes da própria doença que levou ao estado terminal, podem ser devidos aos tratamentos 179 médicos fortemente agressivos à saúde, da debilidade física geral ou de causas totalmente alheias à doença grave, entre elas, do estado emocional do paciente. Seja qual for a origem dos sintomas e do quadro geral que o paciente apresenta, é necessário explicar, da melhor forma possível, sobre o que está ocorrendo e sobre as possíveis questões que possam estar preocupando. Também a família deve estar sempre bem informada, especialmente quando os cuidados estiverem a cargo dela (SÁNCHEZ, 2000). 180 56 A FAMÍLIA NA VISÃO PALIATIVA FIGURA 130 De modo geral, exceto as infelizes exceções, o familiar representa mais do que a simples presença de alguém promovendo cuidados ao paciente. O familiar simula alguém que, independente das possibilidades terapêuticas, pode compreender e realizar com carinho difíceis tarefas como, por exemplo, dar banho, às vezes no leito, dar a medicação nas doses e horários certos, preparar e dar uma alimentação adequada, fazer curativos, etc. É claro que os profissionais contratados para essas tarefas poderão fazê-las melhor, tecnicamente, mas importa muito a maneira e o carinho com que são realizadas. Havendo a qualidade afetiva dos cuidados, outros cuidadores, além da família, podem ser envolvidos no Tratamento Paliativo. Um dos propósitos da Medicina Paliativa é orientar a família para que ela seja um bom suporte de auxílio ao paciente terminal, priorizando sempre as 181 condições necessárias para manter o paciente em casa onde, seguramente, terá uma qualidade de vida melhor. Lá ele estará cercado de carinho e atenção, o que pode minimizar o seu medo de morrer. Para a desejável participação familiar plena devem ser identificados, dentro da dinâmica familiar, os eventuais pontos de conflitos, anteriores e posteriores ao diagnóstico da doença. Antigamente o paciente em fase terminal morria em sua própria casa, lentamente, onde tinha tempo para despedir-se e passar seus últimos momentos com seus familiares. Nossa cultura científica e objetiva por excelência, muitas vezes acaba por deixar pessoas morrerem sozinhas, na assepsia fria dos hospitais e experimentando, como último sentimento, um dos medos mais primitivos do ser humano: a solidão. Com o desenvolvimento científico morrer tornou-se solitário e desumano. Geralmente o doente cognominado Doente 620-C ou doente do Box 3-B é confinado ao seu leito onde aguarda a morte chegar, estando as pessoas seriamente preocupadas com o funcionamento de seus pulmões, secreções, pressão venosa central, traçado eletrocardiográfico, etc. Diante do paciente terminal, quando a medicina já sabe que a doença venceu a guerra, não cabe mais ao médico a tentativa de cura, muitas vezes extremamente sofrível e estéril, mas assistir, servir, confortar e cuidar. Se pretendermos ajudar alguém nessa fase, seja terapêutica, medicamentosa ou humanamente, deveremos nos informar e nos preparar para lidar com a morte. Mas sempre tem alguém que já sabe sobre a morte, não precisa saber mais nada, como é comum dizerem sobre qualquer tema da psicologia e da psiquiatria. Ora, todos também sabemos correr. O problema é que,se não treinarmos e aperfeiçoarmos a arte de correr, jamais faremos alguma coisa meritosa com nossa maneira, digamos, “natural” de correr. Portanto, vamos falar da morte para ajudar pessoas que morrem... Segundo o paradigma cartesiano e os dicionários objetivos, a morte se constitui o oposto da vida. Por isso, torna-se um fenômeno aterrorizante, repulsivo e desconhecido para nossa espécie, que exulta instintivamente a vida. Dor e medo são os sentimentos básicos predominantes nesta relação. Mas a morte é um processo biológico natural e necessário. Falar que a morte é o contrário da vida não é correto. A morte é uma condição indispensável à sobrevivência da espécie e, por meio dela, a vida se alimenta e se renova. Dessa maneira, a morte não seria a negação da vida e sim um artifício da natureza para tornar possível a manutenção da vida. 182 A sociedade ocidental, basicamente, rejeita a morte procurando constantemente vencê- la e para isso se baseia no seu desenvolvimento científico. A tentativa de vencer ou, no mínimo, contornar a morte é pretendida com certo sucesso pela medicina moderna. Tomando por base a aspiração natural do ser humano para a vida, considerando ainda que o maior desejo do ser humano seja a imortalidade, na maioria das vezes a morte é considerada uma inimiga. O sonho da permanência eterna ou, no mínimo, muitíssima prolongada, ganhou um importante aliado com os avanços da medicina, com o aumento da expectativa de vida, com a possibilidade de haver cura para todas as doenças, mesmo o câncer ou a AIDS. Enfim, a ciência médica – com seus progressos para a melhoria da vida, com seus avanços científico- tecnológicos, com a indiscutível eficiência dos diagnósticos, dos medicamentos, das técnicas cirúrgicas, etc. – não tem tido tempo de falar da morte. Não a ciência médica, mas os médicos, embevecidos pelo sucesso na promoção da vida, acabam achando um despropósito dedicar-se a cuidar da morte, único evento decididamente atrelado à vida. Não se sabe bem porque, mas, apesar do sucesso da ciência em prolongar a vida útil do ser humano, em manter jovem por mais tempo as pessoas, em atrasar o envelhecimento, em fazer viver mais de 100 anos, enfim, apesar de todos esses fatores de valorização da vida e da conquista da beleza e jovialidade duradouras, a ideia da morte contínua assombrando ainda mais. Poderíamos perguntar, hipoteticamente, ao ser humano: “depois de todas essas conquistas da ciência para aumentar o tempo e a qualidade da existência humana, você está satisfeito?” Certamente a resposta é não. E é graças a esse inconformismo com a finitude que o ser humano promove, cada vez mais, sua permanência entre os vivos. Talvez todo esse avanço tenha servido para estimular maior apego ainda à vida. Enfim, tudo o que possa lembrar a morte, seja a doença grave, a velhice, a decrepitude e até a própria idade é escamoteado. Para a ocultação ser completa, o próprio doente que vai morrer, perece no hospital, longe dos olhos (e do coração). Também os rituais de luto são cada vez mais rápidos e pragmáticos, digamos mais empresariais e mais claros. Como se não bastasse o verdadeiro pânico do ser humano diante da morte, ainda somos educados com a personificação da morte representada por um esqueleto coberto com uma capa preta e carregando uma foice afiada na mão, pronta para degolar quem quer que se aproxime. Dificilmente as pessoas entenderão que a morte possa apenas representar uma vida que chegou naturalmente ao fim, uma existência que simplesmente expirou. A duração máxima 183 da vida humana atualmente é de, aproximadamente, 120 anos. Alguns centros científicos dedicados à pesquisa da longevidade trabalham com uma expectativa de levar a vida humana até os 400 anos. Hoje se acredita que o processo de envelhecimento, que culmina com a morte, não se dá aleatoriamente, simplesmente como consequência natural da degeneração, mas como um processo ativo e geneticamente programado. Esse programa estaria impresso nos cromossomos, ou seja, nossas células se regenerariam um número geneticamente definido de vezes, depois do qual morreriam. 56.1 O QUE PODEMOS FAZER A dificuldade do ser humano em geral e, particularmente, do profissional de saúde em lidar com a morte pode ser trabalhada e melhorada, com isso, pode aprimorar a qualidade de vida de todos os envolvidos na questão; do próprio paciente, dos familiares, do médico e de toda equipe. Inicialmente, é claro, o maior investimento deve ser dirigido ao paciente, deve pretender melhorar o conforto e a qualidade de vida de quem agoniza, mas, em seguida, como “a morte é para quem fica”, os familiares e os próprios profissionais envolvidos com o morrer cotidiano devem ser acudidos. O ser humano, normalmente, recebe alguma preparação antes mesmo de vir ao mundo; o bebê, de uma forma ou de outra, uns mais outros menos, tem sua chegada preparada. Aí então, a criança é preparada para ficar maiorzinha, para entrar na pré-escola, para entrar na escola. Preparam-se, uns mais outros menos, para a adolescência e, na família ou fora dela, para ser jovem depois adulto. O adulto é preparado, pela própria vida, uns mais outros menos, para a velhice. Mas, raramente alguém é preparado para a morte. Por isso, primeiramente, o profissional de saúde deve preparar-se para lidar com a morte ele próprio, quando esta pode ser uma ocorrência comum no ambiente de trabalho. Além disso, para poder ajudar os outros, deverá conhecer e estudar a Tanatologia; conhecer a reação psicológica da perda de algo (pessoa, situação etc.), saber identificar o luto normal e o patológico e entender como crianças, adolescentes, adultos e velhos reagem à morte e às perdas da vida. 184 Notamos a falta de preparo das equipes de saúde quando existe, no ambiente hospitalar, um temor pela morte como se tratasse de um forte potencial de “contágio”. Esse aspecto temerário e despreparado explica a solidão e a frieza das unidades de terapia intensiva, onde, muitas vezes, os doentes terminais morrem sem a chance de dizer uma última palavra aos que amam e sem que estes lhes ofereçam qualquer conforto emocional. Para a formação do médico uteísta, preocupa-se muito em treiná-lo para passar um intracat, a interpretar uma gasometria, um eletrocardiograma ou um exame de fundo de olho. Estes são, sem dúvida, requisitos indispensáveis para salvar vidas. Mas, quando tudo isso não for suficiente e o paciente insiste em não reagir, o médico versado nas urgências e emergências não costuma saber mais o que fazer; não sabe segurar a mão agonizante, falar palavras de apoio, conforto e carinho. É claro que, sendo assim, morrer no hospital é muito mais sofrível, dá muito medo. A quase ausência total de auxílio emocional (espiritual) para aqueles que vão morrer não pode ser justificado pelo apego acadêmico à ciência, pois o cuidado afetivo e espiritual é um direito essencial de todo ser humano. Não é de forma alguma incompatível, que se ensinem técnicas da medicina moderna aos jovens médicos que se formam simultaneamente aos preceitos milenares do humanismo caridoso e fraterno. 185 57 EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA EM ADOLESCENTES 57.1 O SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA FIGURA 131 Ainda hoje, infelizmente, em muitos segmentos de nossa cultura repudia-se a responsabilidade pessoal do suicida sobre seu ato, acreditando-se que sua atitude corresponda a um plano pensado e executado com lucidez e arbítrio plenos, em completo descaso intencional e proposital para com a vida. Essa espécie de ousadia irreverente do suicida incomoda tanto as pessoas que, com frequência, vemos até no meio médico, pessoas se omitirem ao atendimento de um suicida, assim como, infelizmente, aceitarem a ideia de que “quem quer se matar que se mate”. Embora a discussão filosófica em torno do suicídio sejaextenuante e inconclusiva, do ponto de vista médico a morte por suicídio é tão letal quanto aquela decorrente do infarto do miocárdio e, não obstante, é tão sujeita à abordagem terapêutica quanto esta. 186 Se pensarmos no suicida como uma pessoa embriagada por uma química não alcoólica, mas de neurotransmissores, entenderíamos melhor a possibilidade de esse ato ser satisfatoriamente reavaliado quando a pessoa voltar à normalidade psiconeuroquímica. Sabe-se hoje que, na grande maioria dos casos, o suicida tem uma percepção patologicamente falsa do mundo e dos valores, tal como um míope veria desfocada a realidade. Há inúmeros estados emocionais que limitam e distorcem a percepção da realidade, subtraindo da pessoa a devida liberdade, que os sadios têm, de considerar as condições de existência com a devida sensatez. O desejável hoje é que as pessoas sadias percebam suas responsabilidades em relação aos suicidas, tal como procedem em relação às crianças, aos demenciados, aos portadores de doença de Alzheimer, aos epilépticos durante suas crises, enfim que considerem os suicidas como portadores de limitações da liberdade necessária para lidar com a vida de forma sensata. Devemos levar a sério e estar disponíveis para qualquer manifestação de intenção ou ideação de suicídio, pois é grande o número daqueles que acabam cumprindo esse propósito. Nos últimos anos tem havido um aumento no número de suicídios realizado por adolescentes, mas, apesar de tratar-se de um acontecimento lamentável, suas dimensões são bem pouco conhecidas. O suicídio tem sido considerado a segunda principal causa de morte de jovens entre 15 e 19 anos, perdendo apenas para os acidentes de carros e de motos por alguns autores, no máximo como terceira causa de morte, por outros autores. Segundo Merrick (2000), as taxas do suicídio entre jovens de 15-24 anos nos Estados Unidos aumentaram de 2,7 a cada 100.000 jovens em 1950, para 13,2 em 1990. Em Israel, onde o autor realizou suas pesquisas, as taxas neste grupo de idade eram 2,9 em 1955 e de 5,0 em 1995. Mas, tanto em nosso meio quanto no exterior, normalmente os jornais não noticiam suicídios, quer de adultos ou de adolescentes, pois, em geral, as famílias os encobrem na tentativa de se protegerem de uma dor maior, por conta desse infortúnio. A literatura sobre suicídio na adolescência mostra a participação de fatores psiquiátricos, familiares, demográficos e religiosos em torno do suicídio do adolescente. De fato, Renám García Falconi realizou um estudo para analisar essas variáveis na predição da intenção suicida em adolescentes. Foram estudados 51 adolescentes masculinos e 60 femininos, com idades entre 14 e 18 anos. Constatou-se que a ideação suicida, a ansiedade, o motivo existencial e a depressão estão fortemente relacionados com a intenção suicida. 187 57.2 SUICÍDIO E DEPRESSÃO Entre os fatores psiquiátricos associados ao suicídio, em primeiro lugar está a depressão, alteração afetiva predominante no ato suicida, desde sua ideação, intenção até o suicídio de fato. Apesar de vários motivos ou explicações rodearem o suicídio dos adolescentes, como por exemplo, os fatores de ordem sexual, as drogas, timidez, fracasso escolar, problemas sentimentais, de relação familiar, e muitos outros, se a pessoa passar por tudo isso sem depressão ela, certamente, não se suicidará. Alguns autores consideram que, além da depressão, tem sido comum em adolescentes suicidas também um transtorno de conduta (BEYAERT, 1999). O suicídio em virtude de depressão não costuma ser espontâneo ou impulsivo, como acontece em alguns casos de esquizofrenia, de embriaguez patológica ou transtorno explosivo da personalidade. Na depressão o suicídio costuma ser elaborado em detalhes, com escolha do meio de se matar, hora e local do ato. 57.3 ALÉM DA DEPRESSÃO FIGURA 132 188 A depressão não esgota as possibilidades patológicas do suicídio na adolescência e alguns outros quadros podem estar associados, possivelmente como causa psiquiátrica. Felizmente não tão frequente, a Esquizofrenia em seu surto agudo pode ser responsável por um número de suicídios na adolescência. A faixa etária dessa psicose no sexo masculino, principalmente, é por ocasião da adolescência e, dependendo da natureza dos sintomas delirantes pode levar ao suicídio. Além da imposição ao suicídio determinada por delírios autodestrutivos, também a depressão que acompanha a esquizofrenia pode resultar em autoextermínio. Por várias décadas os sintomas depressivos da esquizofrenia foram menosprezados, voltando-se quase exclusivamente para o estudo dos sintomas psicóticos. Mas, na realidade, os sintomas depressivos são reconhecidos na esquizofrenia desde suas primeiras descrições por Kraepelin em 1896 e Bleuler em 1911 e este tipo de sintoma se acompanha de um maior risco de suicídio. Jorge Alberto Salton fala em 10% o número de esquizofrênicos que se matam. Depois de passado o surto psicótico da esquizofrenia, costuma surgir a chamada Depressão Pós-Psicótica. Segundo levantamento bibliográfico feito por Rodrigo Afonseca Bressan (Shirakawa, 1998), a Depressão Pós-Psicótica tem sido relacionada a hospitalizações mais longas, à pior resposta a medicações, pior desempenho social, cronicidade, maiores taxas de recaídas e ao suicídio. Os dados epidemiológicos atualmente aceitos em relação ao suicídio na esquizofrenia, citados por Bressan (in: SHIRAKAWA, 1998) são os seguintes: a) de 2% a 13% de todos os pacientes cometem suicídio; b) esquizofrênicos têm um risco de 10% a 20% maior que a população geral para cometer suicídio; c) o risco é maior em pacientes do sexo masculino; d) o risco é maior em pacientes jovens e diminui com a idade. Entre os fatores capazes de aumentar o risco de suicídio em pacientes esquizofrênicos destacam-se: o isolamento social, não ser casado, desempregado, história prévia de tentativa de suicídio, fortes expectativas sociofamiliares de boa performance, curso da doença crônico e com muitos surtos agudos, múltiplas internações, dificuldades no trabalho, história de depressão no http://www.salton.med.br/principal.phtml?par=id_menu%3Dinicial%26id_texto%3D35 189 passado e, evidentemente, depressão presente. Este último fator é de maior risco ainda, quando o sintoma proeminente é humor deprimido persistente e desesperança. O Transtorno Dismórfico Corporal, muito comum em adolescentes, diz respeito à preocupação exagerada com um defeito inexistente ou ligeiro na aparência. Atualmente o Transtorno Dismórfico Corporal está relacionado à alteração patológica da imagem corporal que encontramos em pacientes anoréticos, os quais se veem mais gordos do que são ou até, veem-se gordos quando, de fato, estão raquíticos. Entre pacientes com esse Transtorno Dismórfico Corporal, 21% tinham feito uma tentativa do suicídio, no mínimo, segundo Albertini (1999). A Personalidade Borderline, segundo o DSM.IV (Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais) é caracterizada por um padrão comportamental de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, na autoimagem e nos afetos. Há uma acentuada impulsividade, a qual começa no início da idade adulta e persiste indefinidamente. O paciente Borderline frequentemente se queixa de sentimentos crônicos de vazio. Há sempre uma propensão a se envolver em relacionamentos intensos, mas instáveis, os quais podem causar nessas pessoas repetidas crises emocionais. A CID 10 diz ainda que esses pacientes se esforçam excessivamente para evitar o abandono, podendo haver, quanto a isso, uma série de ameaças de suicídio ou atos de autolesão. O suicídio concreto, quando acontece em portadores de Personalidade Borderline, geralmente se dá por engano, ou seja, quando sua automutilação ou teatralidade não foi bem planejada ou fugiu ao seu controle.http://www.psiqweb.med.br/forense/border.html 190 57.4 SUICÍDIO E A FAMÍLIA FIGURA 133 Variáveis familiares costumam estar fortemente associadas com o ato suicida de adolescentes. Algumas dessas variáveis dizem respeito à estrutura familiar, bem como às relações entre os membros da família (KURTZ & DEREVENSKE, 1993; PALUSZNE, DAVENPORT & KIM, 1991; WAGNER & COHEM, 1994). Inclusive, alguns autores realçam o aumento de risco quando existe história familiar de violência e de depressão. Tem sido observado também que o risco de cometer suicídio em famílias com apenas um dos pais é maior do que nas famílias com ambos os pais, principalmente no caso de jovens adultos do sexo masculino (DIEKSTRA, 1997). Olsson, em 1999, estudou três grupos de 75 estudantes cada: um grupo de adolescentes com história de tentativa prévia de suicídio, outro grupo com depressão, mas sem tentativas do suicídio e, finalmente, outro grupo sem depressão. Comparou a existência de problemas na família e atos violentos praticados por adolescentes desses três grupos. 191 Problemas de família eram muito mais comuns entre adolescentes do grupo que havia tentado suicídio do que nos outros dois grupos. Assim como as histórias de abuso físico também foram mais encontradas em adolescentes que haviam tentado suicídio do que entre estudantes deprimidos e saudáveis. Os adolescentes com tentativas de suicídio tinham cometido mais atos violentos e apresentavam mais Transtornos de Conduta e abuso do álcool do que os outros grupos e houve forte relação entre o abuso do álcool e violência. A conclusão de Olsson foi que os adolescentes com tentativas do suicídio experimentam mais violência da família, em especial abuso físico, e têm um comportamento mais violento do que adolescentes deprimidos e sadios. 57.5 SUICÍDIO E HOMOSSEXUALISMO FIGURA 134 Uma pesquisa realizada pelo Psicosite, publicada na revista Archives General Psychiatry (1999; 56: 867-874), diz que “a média das pesquisas de tentativa de suicídio entre adolescentes homossexuais ou bissexuais é de 31%, variando entre 20 e 39%. Estudos epidemiológicos 192 mostram que entre 18 e 24 anos de idade as tentativas de suicídio entre os homens são de 1,5% e para as mulheres de 3,4%. Entre 25 e 44 anos a taxa é de 4%. Acredita-se, segundo esses estudos, que a não conformidade com sua condição sexual gera o comportamento de autoagressão”. Sendo assim, o Psicosite concluiu dizendo que a orientação homossexual está significativamente relacionada aos sintomas ligados ao suicídio, em comparação com os irmãos heterossexuais, constatando um aumento significativo do risco de suicídio entre os homossexuais masculinos, independente do abuso de substâncias psicoativas e outros transtornos psiquiátricos. 193 58 PSICOSE INFANTIL 58.1 DESENVOLVIMENTO NORMAL E DESENVOLVIMENTO PATOLÓGICO FIGURA 135 A constituição da subjetividade do sujeito se dá a partir da relação “saudável”, que se estabelece entre a mãe e o bebê. Concepções estas apresentadas por D. W. Winnicott, referindo-se ao desenvolvimento emocional-afetivo da criança. Tendo como referencial o investimento libidinal no relacionamento dual (mãe-bebê). De acordo, com Winnicott o bebê em seu primeiro ano de vida apresenta uma relação visceral com a mãe, sendo esta, considerada por ele, como uma extensão do seu próprio corpo, visto que não houve ainda a divisão do “não eu” e do “eu” do bebê. Assim, ele tem nesta mãe o ambiente ao seu redor, como um prolongamento de seu corpo. Tanto esta mãe quanto este ambiente deve ser suficientemente bom para que haja, de fato, neste bebê, uma formação saudável de sua psique. Essa relação materna satisfatória permite ao bebê entrar no misterioso espaço transitório, que é uma área intermediária de 194 experiências, que não está nem em seu mundo exterior, nem interno a ele, mas sim, em sua capacidade de prolongar a ilusão da presença materna, quando esta se faz ausente, usando-se assim, desta área de ilusão com a finalidade de transferir sua catexia e prolongar um agradável momento anterior. Entretanto, vale ressaltar que, se esta mãe não for suficientemente boa, não suprindo satisfatoriamente as necessidades do bebê e caso estas “falhas” não sejam corrigidas, estabelece-se na relação mãe-bebê, uma espécie de carência, acarretando para ele uma grande ansiedade e, consequentemente, há um comprometimento na constituição de sua subjetividade, devido a esta deficiente relação materna. A abordagem psicanalítica faz referência à construção da subjetividade, sendo isto possível na própria dinâmica familiar que permitirá ou não esse processo. A origem dos quadros de psicose infantil estaria na ocorrência de distorções no relacionamento mãe-bebê. Segundo Margareth Mahler parece haver crianças que devido a uma inerente fragilidade do ego desde o estágio de indiferenciação, tornam-se alienadas do meio ambiente. Essas seriam as crianças com “psicose autística infantil”, em que a mãe parece nunca ter sido percebida pela criança, nem como entidade emocionalmente significativa, nem como representante do não eu. Nessas crianças, a mãe permaneceria um objeto parcial que não seria distinto dos objetos inanimados. Nos quadros de psicose simbiótica, o contato com a realidade estaria na dependência de um vínculo simbiótico entre mãe e bebê; em que esta não é percebida como distinta do self, mas se confunde com ele. 58.2 CONCEITO DE PSICOSE INFANTIL Na tentativa de conceituar a psicose infantil, em 1960, um grupo de psiquiatras britânicos buscou oferecer critérios para o diagnóstico da psicose em crianças tais como: o relacionamento prejudicado com as pessoas, confusão de identidade pessoal e inconsciência do eu, preocupação anormal com alguns objetos, resistência a mudanças no ambiente, diminuição ou aumento de sensibilidade aos estímulos sensoriais, reação de ansiedade excessiva ou ajuda em resposta à menor mudança, perturbação da linguagem e da fala, perturbações da motilidade (hiper ou hipoatividade), desempenho assimétrico nos testes de inteligência com área de 195 funcionamento normal a superior, intercaladas com áreas de atraso no desenvolvimento intelectual. Em 1970, Ajuriaguerra na 1ª edição do manual de psiquiatria infantil definiu a psicose infantil como um transtorno de personalidade dependente de um transtorno da organização do eu e da relação da criança com o meio ambiente. Tradicionalmente os psiquiatras definem o termo psicose como um distúrbio no sentido da realidade. Em contrapartida, em uma visão psicodinâmica a psicose seria uma desorganização da personalidade, podendo então ser compreendida como uma confusão entre o mundo imaginário e perceptivo na ausência do Ego (Freud), estrutura limitante entre esses dois mundos. 58.3 CARACTERÍSTICAS DO PSICÓTICO INFANTIL Dificuldades de se afastar da mãe; Problemas na compreensão do que vê; Problema na compreensão dos gestos e da linguagem; Alterações marcantes na forma ou conteúdo do discurso, repetindo imediatamente palavras e/ou frases ouvidas (fala ecolálica), ou utilizando-se de estereotipias verbais e de frases ouvidas anteriormente e empregadas de forma idiossincrática. A inversão pronominal é comum, a criança se refere a ela mesma utilizando-se da terceira pessoa do singular ou do seu nome próprio. Alterações marcantes na produção da fala, com peculiaridades quanto à altura, ritmo e modulação, habilidades especiais. Conduta socialmente embaraçosa. 58.4 INCIDÊNCIA Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Distúrbio Autista é cerca de três vezes mais comum em meninos que em meninas. Em relação à população em geral, é de cinco em 196 cada dez mil pessoas. Para Grunspun (1999), as estimativasepidemiológicas da prevalência da esquizofrenia com início na infância não são precisas e são calculadas na população infantil em torno de 0,04%. A incidência é, em crianças, acima de sete a oito anos de idade e é igual para os dois sexos. 58.5 CLASSIFICAÇÃO Em psicose infantil, a classificação encontra dificuldades devido às divergências de pensamento sobre seu conceito entre os estudiosos. Para superar esses obstáculos, recorre-se a classificações multiaxiais (CID - 10 e DSM - III), um sistema baseado em um enfoque biopsicossocial e sua etiologia relacionada é puramente descritiva. Há algum tempo, as classificações gerais das doenças mentais não mencionavam as psicoses infantis. A primeira vez que a classificação internacional considerou os distúrbios psicopatológicos próprios da criança foi em 1979 (CID 9), propondo os seguintes títulos: Autismo infantil (síndrome de Kanner); Psicose desintegrativa (síndrome de Heller); Psicoses infantis atípicas; essa classificação parece já ultrapassada. Os autores da DSM – III (1980) classificam as psicoses da criança sob a denominação “distúrbios difusos do desenvolvimento”, preferem não utilizar o termo “psicose”, fundamentados nas diferenças semiológicas importantes entre as psicoses do adulto e da criança. Dividem o título em três itens: autismo infantil; distúrbios difusos do desenvolvimento com início na infância; distúrbios atípicos do desenvolvimento. 197 59 INFORMAÇÕES ÚTEIS NA EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA FIGURA136 Ao se deparar com uma pessoa apresentando uma das situações acima, é importante pedir ajuda, pois são quadros que não podem ser resolvidos sozinhos, principalmente quando há comportamento violento. Em casos de pessoas que já tenham tratamento psiquiátrico anterior, pode-se acionar uma ambulância para levar essa pessoa a um hospital onde há serviço de emergência psiquiátrica. Quando não há causa aparente para as alterações apresentadas pela pessoa, ou são alterações devido ao uso de álcool ou drogas, essas pessoas podem ser levadas a uma emergência de hospital geral. Quando não é possível conseguir uma ambulância, a polícia pode ajudar fazendo o transporte desse paciente até o hospital. O mais importante disso tudo é que após o atendimento na emergência seja feito um diagnóstico da causa que gerou o quadro e essa possa ser adequadamente tratada, não só no episódio, mas sim, seguir fazendo o 198 tratamento, seja ele com medicações e/ou acompanhamento ambulatorial (consultas psiquiátricas regulares para avaliar como está o paciente). FIGURA 137 E 138 VIZINHOS EM CASO DE EMERGÊNCIA / HOSPITAL GERAL EM CASO DE EMERGÊNCIA / MEDICAMENTOS 199 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Diretrizes para um modelo de assistência integral em saúde mental no Brasil. Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 2006. ASSUMPÇÃO JR, F. B. Violência. In: RAMADAM, Z. B. A.; ASSUMPÇÃO JR, F. B. (Orgs). Psiquiatria. Barueri: Manole, 2005. BERGERON, J. David; BIZJAK, Gloria. First Responder. 4. ed. New Jersey: Brady, 1996. BERGERON, J. David; BIZJAK, Gloria. Primeiros Socorros. São Paulo: Atheneu, 1999. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imesp, 1988. BRASIL. Ministério da Saúde. Lei nº 8.080/1990. Condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organizaçãofuncionamento dos serviços correspondentes. Disponível em: . BREIMER, D. D. Clinical pharmacokinetics of hypinotc. Clin. Pharmacokinet., 2:93- 109,1977. CAINE, S. B. et al. Effects of dopamine D (1-like) and D (2-like) agonists in rats that self- administer cocaine. J. Pharmacol. Exp. Ther. 291, 353–360. 1999. CAINE, S. B.; NEGUS, S. S.; MELLO, N. K. Effects of dopamine D(1-like) and D(2- like) agonists on cocaine self-administration in rhesus monkeys: rapid assessment of cocaine dose–effect functions. Psychopharmacology 148, 41–51. 2000. CAMPBELL, John E. Basic Trauma Life Support - Advanced Prehospital Care. Maryland: Brady, 1985. CARLINI, E. A. et al. Drogas psicotrópicas – o que são e como agem. Revista Imesc. n. 3, p. 9-35, 2001. 200 CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO ESTADO DE SÃO PAULO. Câmara Técnica Assistencial. Parecer nº 5/1997. Contenção Mecânica de Pacientes. DICKINSON, Edward T. Fire Service Emergency Care. New Jersey: Brady - IFSTA, 1998. FLANAGAN, R. J.; IVES, R. J. Abuso de substâncias voláteis. Boletim de narcóticos, XLVI(2):50-78, 1994. FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2001. FOUCAULT, M. L. História da loucura. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. GRANT, S.; LONDON, E. D.; NEWLIN, D. B. et al. Activation of memory circuits during cue- elicited cocaine craving. Proc. Natl. Acad. Sci USA 93:12040-12045. HORTA, W. A. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. IKEMOTO, S.; GLAZIER, B. S.; MURPHY, J. M., MCBRIDE, W. J. Role of dopamine D1 and D2 receptors in the nucleus accumbens in mediating reward. J. Neurosci. 17, 8580–8587. 1997. JACINTO, A. C. A.; STELLA, F.; LAURITO JUNIOR, J. B. Agitação psicomotora. In: BOTEGA, Sterian, A. (2001). Emergências Psiquiátricas: uma abordagem psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. JENKINS, Jon L.; LOSCALZO, Joseph. Manual de Emergências Médicas - Diagnóstico e Tratamento. Rio de Janeiro: MEDSI, 1988. KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de Psiquiatria: Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica. São Paulo: Artmed, 2002. KING, G. R.; ELLINWOOD, E. H. Amphetamines and other Stimulants. In: LOWINSON, J. H. et al. Substance Abuse. Acomprehensive textbook. 2. ed. Baltimore: Willians & Wilkins, 1992. KOOB, G. F.; LE MOAL, M. Drug Addiction, Dysregulation of Reward,and Allostasis. Neuropsychopharmacology, v. 24, n. 2, 2001. 201 LEWIN, R. Hitler`s Mistakes. New York: Morrow, 1984. LOWE, N. et al. Joint analysis of DRD5 marker concludes association with ADHD confined to the predominantly inattentive and combined subtypes. Am J Hum Genet, v. 74, p.348-356, 2003. MALIN, D. H. et al. The nicotine antagonist mecamylamine precipitates nicotine abstinence syndrome in the rat. Psychopharmacology 115:180–184. MARGIS, Regina; PICON, Patrícia; COSNER, Annelise Formel; Silveira, Ricardo de Oliveira. Relação entre estressores, estresse e ansiedade. Rev. psiquiatra. v. 25, supl. 1. Porto Alegre: [s.n.], 2003. O'KEEFE, Michael F. et al. Emergency Care. 8. ed. New Jersey: Brady, 1998. OLIVEIRA, Marcos de. Fundamentos do Socorro Pré-Hospitalar. 3. ed. Chapecó: Grifos, 1999. QUEVEDO, João; SCHIMITT, Ricardo; KAPCZINSKI, Flávio. Emergências psiquiátricas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. ______. Câmara Técnica de Ética. Parecer nº 56/1993. Restrição dos Movimentos do Pacientepela Enfermagem. RUDNICK, G.; CLARK, J. From synapse to vesicle: The reuptake and storage of biogenic amine neurotransmitters. Biochim Biophys Acta 1144:249–263. 5. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE. CURITIBA (Município). Saúde Mental em Curitiba. 2002. SILVA, Penildo. Farmacologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. p. 320-377. SOLLERO, Tereza; SILVA, Cláudio da; AMARAL, Julio Rocha do. Abuso das Drogas. Revista Cérebro e Mente. São Paulo: Núcleo de Informática e Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, 1999. 202 VOLKOW, N. D.; WANG, G. J.; FISCHMAN, M. W. et al. Effects of route of administration on cocaine induced dopamine transporter blockade in the human brain. Life Sci 67:1507-1515, 2000. VOLKOW, N. D.; WANG, G. J.; FISCHMAN, M, et al. Relationship between subjective effects of cocaine and dopamine transporter occupancy. Nature 386:827-830, 1997.Neurobiológica ............................................................................................................ 124 48.2.3 Teoria Psicanalítica ................................................................................................................ 125 48.2.4 Teoria Familiar ........................................................................................................................ 125 48.3 TIPOS DE ESQUIZOFRENIA ................................................................................................... 125 48.3.1 Esquizofrenia Paranoide ........................................................................................................ 126 48.3.2 Esquizofrenia Desorganizada ................................................................................................ 127 48.3.3 Esquizofrenia Catatônica ....................................................................................................... 127 48.3.4 Esquizofrenia Indiferenciada ................................................................................................. 128 6 48.3.5 Esquizofrênia Residual .......................................................................................................... 129 49 EMERGÊNCIAS ASSOCIADAS AO ÁLCOOL E A DROGAS DE ABUSO ............................ 132 49.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 132 49.2 COCAÍNA ................................................................................................................................. 133 49.3 METANFETAMINA E ECSTASY (MDMA-3,4-METILENODIOX, METANFETAMINA) ............. 134 49.4 MACONHA ............................................................................................................................... 135 49.5 NICOTINA ................................................................................................................................ 136 49.6 ÁLCOOL ................................................................................................................................... 137 49.6.1 Risco de Criar Dependência .................................................................................................. 138 49.6.2 Efeitos Deletérios do Álcool .................................................................................................. 139 49.6.3 Síndrome de Dependência ..................................................................................................... 139 49.6.4 Fenômeno da Dependência ................................................................................................... 141 49.6.5 Fenômeno da Tolerância ....................................................................................................... 141 49.6.6 Aspectos Gerais do Alcoolismo ............................................................................................ 142 49.6.7 Aspectos Biológicos do Alcoolismo ..................................................................................... 143 49.6.8 Estratégias do Tratamento .................................................................................................... 144 49.6.9 Recaída .................................................................................................................................... 146 49.7 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E ABUSO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS .............................. 146 49.8 DEPENDÊNCIA ÀS DROGAS NA ADOLESCÊNCIA ............................................................... 147 49.9 NÍVEIS DE PREVENÇÃO ........................................................................................................ 148 49.10 OPIOIDES ................................................................................................................................ 149 50 PSICOTRÓPICOS .................................................................................................................... 151 50.1 CLASSIFICANDO AS SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS ...................................................... 152 50.1.1 Depressoras .......................................................................................................................... 1522 50.1.2 Estimulantes ........................................................................................................................... 153 50.1.3 Anorexígenos .......................................................................................................................... 154 50.1.4 Perturbadoras ......................................................................................................................... 154 51 TRANSTORNO DISSOCIATIVO .............................................................................................. 155 51.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 155 51.2 AMNÉSIA DISSOCIATIVA ....................................................................................................... 156 51.3 FUGA DISSOCIATIVA .............................................................................................................. 157 51.4 DESPERSONALIZAÇÃO / DESREALIZAÇÃO ........................................................................ 158 7 51.5 PERSONALIDADE MULTIPLICA ............................................................................................. 160 51.6 TRANSTORNO DISSOCIATIVO MOTOR ................................................................................ 161 51.7 TRANSTORNO DISSOCIATIVO SENSITIVO .......................................................................... 162 51.8 ALEXITIMIA .............................................................................................................................. 163 51.9 ALEXITIMIA NA POLÍTICA E NO CRIME ................................................................................ 164 52 OUTROS TEMAS LIVRES ....................................................................................................... 168 52.1 CAUSA ..................................................................................................................................... 168 52.2 TERAPIAS ................................................................................................................................ 168 52.3 LUTO E PSIQUIATRIA ............................................................................................................. 169 52.4 O EU DIANTE DA MORTE ....................................................................................................... 170 52.5 OS 5 ESTÁGIOS DA PERSPECTIVA DE MORTE .................................................................. 171 52.5.1 Primeiro Estágio: Negação e Isolamento ............................................................................. 172 52.5.2 Segundo Estágio: Raiva ......................................................................................................... 172 52.5.3 Terceiro Estágio: Barganha ................................................................................................... 172 52.5.4 Quarto Estágio: Depressão ................................................................................................... 173 52.5.5 Quinto Estágio: Aceitação ..................................................................................................... 173 53 A MEDICINA PALIATIVA ........................................................................................................ 174 54 A QUALIDADE DA VIDA E DA MORTE .................................................................................. 176 55 O PACIENTE TERMINAL ........................................................................................................ 178 56 A FAMÍLIA NAVISÃO PALIATIVA ......................................................................................... 180 56.1 O QUE PODEMOS FAZER ...................................................................................................... 183 57 EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA EM ADOLESCENTES .......................................................... 185 57.1 O SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA ........................................................................................... 185 57.2 SUICÍDIO E DEPRESSÃO ....................................................................................................... 187 57.3 ALÉM DA DEPRESSÃO ........................................................................................................... 187 57.4 SUICÍDIO E A FAMÍLIA ............................................................................................................ 190 57.5 SUICÍDIO E HOMOSSEXUALISMO ......................................................................................... 191 58 PSICOSE INFANTIL ................................................................................................................ 193 58.1 DESENVOLVIMENTO NORMAL E DESENVOLVIMENTO PATOLÓGICO ............................. 193 58.2 CONCEITO DE PSICOSE INFANTIL ....................................................................................... 194 58.3 CARACTERÍSTICAS DO PSICÓTICO INFANTIL .................................................................... 195 58.4 INCIDÊNCIA ............................................................................................................................. 195 8 58.5 CLASSIFICAÇÃO ..................................................................................................................... 196 59 INFORMAÇÕES ÚTEIS NA EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA ................................................. 197 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 199 9 1 EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS “É vivenciando internamente a crise que o sujeito cria condições de transcendê-la: é preciso trazer o caos dentro de si para fazer nascer a estrela bailarina”. (F. W. Nietzsche). 1.1 DEFINIÇÃO FIGURA 1 A emergência psiquiátrica caracteriza-se por alguns sintomas distintos, ou seja, alteração no pensamento, sentimento ou comportamento para as quais se faz necessária intervenção imediata, por representar risco significativo para os pacientes ou para terceiros. Esse distúrbio afeta o pensamento, tornando o paciente incapaz de lidar com as situações da vida. É um fato imprevisto que necessita de uma intervenção imediata. A Emergência Psiquiátrica é um conjunto de interesses afetivos e práticos constantes, em que o paciente e sua crise são uma totalidade e não uma parte. É importante determinar se o paciente está, 10 atualmente, sobre tratamento psiquiátrico, de modo que possa ser feito o contato com o terapeuta ou médico que o atenda. A oportunidade proporcionada pela crise pode facilitar o crescimento e a percepção do paciente, o que não seria possível se a crise não tivesse ocorrido. Os principais objetivos de um atendimento emergencial, são: Estabilização do quadro em que o paciente se encontra; Estabelecer uma hipótese diagnóstica, caso o paciente não tenha história pregressa; Excluir causas orgânicas; Encaminhamento do paciente. Para que os objetivos sejam alcançados, ou seja, para que tudo ocorra de uma forma muito rápida e eficaz é necessária uma boa relação terapêutica médico/psiquiatra/paciente, já que o próprio ambiente não é propício, pois um ambiente emergencial dificulta a boa relação em razão de: Ansiedade do profissional ali envolvido e do paciente; Superlotação; Diversidade de patologias. Podemos adotar algumas medidas para aproximar o paciente do médico examinador, para que haja uma melhora na avaliação: Realizar perguntas que aproximem o paciente do examinador, exemplo: “como posso ajudá-lo?”; Estabelecer metas de avaliação; Conhecer a vida pregressa do paciente; Não se “projetar” com o paciente, ou seja, paciente que apresenta um quadro de irritabilidade pode transferi-la facilmente para o examinador, como exemplo: “caso eu seja internado irei processá-lo”. 11 FIGURA 2 1.2 AVALIAÇÃO DO PACIENTE NA EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA 1.2.1 Anamnese FIGURA 3 12 A avaliação do paciente em crise não difere da avaliação convencional, mas devemos ficar atentos, por ser uma avaliação emergencial dentro de um contexto psiquiátrico o cuidado deve ser redobrado para que não haja risco para o paciente e nem para os demais. O relacionamento entrevistador/entrevistado vai depender muito da comunicação verbal e não verbal, ou seja, depende da empatia entre ambos, isso influencia diretamente no que o paciente diz ou não diz. É de extrema importância ser franco, honesto, nunca se deve enfrentar o paciente direta ou indiretamente por meio da equipe e nem tomar atitudes punitivas. Os diagnósticos que estão ligados diretamente à heteroagressividade ou a autolesão são, na grande maioria, os distúrbios psicóticos e orgânicos. GRÁFICO DEMONSTRANDO HETEROAGRESSIVIDADE E SUAS PATOLOGIAS 13 O examinador precisa diferenciar causas orgânicas das causas funcionais, pois algumas causas orgânicas podem ser facilmente confundidas com transtornos psiquiátricos. Não podemos avaliar somente a parte psiquiátrica. Pacientes, moradores de rua e etilistas apresentam risco para algumas doenças: Carência de vitaminas; Tuberculose; Síndrome da Deficiência Adquirida; Gravidez precoce, “principalmente em moradores de rua”. Determinar se o paciente está ou não psicótico é de extrema importância para uma boa avaliação, além de definir a gravidade dos sintomas e o grau de perturbação do paciente com esses recursos, pois a chance de conduzir a avaliação até o final é maior. 1.2.2 Fatores de Risco FIGURA 4 14 Os fatores que aumentam a probabilidade de um ataque de violência incluem: 1. Agitação psicomotora; 2. Intenção declarada de um plano específico, ou seja, disponibilidade de meios para violência, 3. Sexo masculino; 4. Pouca idade (entre 15 e 24 anos); 5. Baixa situação socioeconômica; 6. Fraco sistema de apoio familiar e de amigos; 7. História de tentativas de suicídio e estressores recentes. História de comportamento violento pregresso é um dos melhores indicadores de uma autoagressão, incluindo o suicídio e a heteroagressividade. Outros sinais incluem: 1. Atos de violência recente; 2. Dentes e punhos cerrados; 3. Ameaças verbais; 4. Portar armas ou objetivos potencialmente utilizáveis como armas (talheres, cinzeiros); 5. Agitação psicomotora (que é considerado um importante indicador, pois quase sempre precede atos violentos); 6. Intoxicação; 7. Delírios paranoides; 8. Alucinações de comando. 1.2.3 Manejo A medida mais importante frente a uma avaliação de emergência psiquiátrica é a autoproteção e proteger o paciente de todos ao redor, evitando qualquer tipo de dano físico ou 15 psicológico. É preciso ter em mente que há sempre risco para a violência. Não deixe se surpreender por um “ataque”, súbito, nem se coloque em uma situação na qual possa ser facilmente agredido, nunca avalie um paciente em uma sala pequena de costas para a parede, deixe que o paciente fique voltado para a parede e o examinador para a porta, no caso de agressão, terá como sair com maior facilidade. A distância ideal para a avaliação é sempre de um braço, nunca chegue muito próximo dopaciente, independentemente da patologia, pois o mesmo pode sentir-se ameaçado e agredir o examinador. Durante a avaliação, o examinador deve incluir sinais vitais do paciente e avaliação física cefalocaudal. 1.2.4 Comportamento Suicida FIGURA 5 16 O comportamento suicida é todo o ato pelo qual um indivíduo causa lesão contra si mesmo, independente do grau e da intensidade da mesma. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 1996) define o suicídio como “a partir de um pensamento de autodestruição, passando por ameaças, gestos, tentativas de suicídio e, finalmente, o suicídio”. 1.2.5 Epidemiologia Segundo a (OMS, 2003), o número de pessoas mortas por suicídio foi de 900 mil pessoas na faixa etária de 15 a 35 anos. O suicídio está entre as três maiores causas de morte global. 1.2.6 Aspectos Psicossociais Não é fácil saber, ao certo, quantas pessoas que tentam suicídio têm ou não problema psiquiátrico, pois a estimativa depende muito do momento em que a pesquisa foi realizada. Os diagnósticos mais frequentes no caso de suicídio são: Transtorno de personalidade; Depressão; Alcoolismo. 17 1.2.7 Risco de Suicídio FIGURA 6 Segundo Morgan (1990), os indivíduos que estão mais propensos ao suicídio são os que apresentam transtornos mentais, depressão (50% dos casos), esquizofrenia, álcool, droga e uso de outras substâncias psicoativas. 18 2 EMERGÊNCIA E URGÊNCIA PSIQUIÁTRICA FIGURA 7 Emergência – distúrbio de pensamento, sentimentos ou ações que envolvem risco de vida ou risco social grave, necessitando de intervenções imediatas e inadiáveis (tempo medido em minutos ou horas). Exemplos comuns incluem: violência, suicídio ou tentativa de suicídio, estupor depressivo, excitação maníaca, automutilação, juízo crítico acentuadamente prejudicado e severo e autonegligência. Urgência – a situação implica riscos menores que necessitam de intervenções em curto prazo (tempo medido em dias ou semanas). Alguns exemplos são comportamentos bizarros, quadros agudos de ansiedade, síndromes conversivas, entre outros. 19 Eletistas – a rapidez da internação não é um critério essencialmente importante. São exemplos de ansiedade leve, distúrbios de relacionamento interpessoal, informações sobre medicações e fornecimento de receitas. 2.1 OBJETIVOS DE UM ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA FIGURA 8 1. Estabilizar o quadro; 2. Estabelecer uma hipótese diagnóstica; 3. Excluir uma causa orgânica; 4. Fazer encaminhamento. 20 2.2 MEDIDAS PARA APROXIMAR O PACIENTE DO EXAMINADOR FIGURA 9 1. Conectar-se com o fato do paciente; 2. Esclarecer os objetivos da avaliação; 3. Conhecer o contexto do paciente; 4. Não se identificar com os sentimentos do paciente. 21 2.3 EMERGÊNCIAS CLÍNICAS FIGURA 10 22 2.4 DOR TORÁCICA FIGURA 11 Uma das queixas mais frequentes e preocupantes para os profissionais da área da saúde e para o próprio paciente, tanto no pronto-socorro como nos consultórios médicos, é a dor torácica. É preciso diferenciar dor torácica de origem cardíaca de outras causas não cardíacas, uma vez que um grande número de diagnósticos diferenciais torna-se necessário. 23 2.4.1 Causas de Dor Torácica FIGURA 12 24 2.4.1.1 Pericardite aguda FIGURA 13 Geralmente pacientes portadores de pericardite aguda referem-se a muita dor torácica que irradia para o dorso, pescoço e ombros, piorando quando inspira profundamente. Quando se encontra sentado e em posição inclinada o paciente refere melhora significativa. 25 2.4.1.2 Tromboembolismo pulmonar FIGURA 14 O tromboembolismo pulmonar representa uma das causas mais comuns de dor torácica e não são diagnosticadas nas unidades de emergência. O paciente apresenta o seguinte quadro: Hemoptise; Fadiga; Síncope; Dispneia; Cianose e até parada cardíaca. 26 2.4.1.3 Pneumotórax FIGURA 15 Pacientes com pneumotórax têm dor torácica de forma repentina. O paciente apresenta o seguinte quadro: Ausência de murmúrio vesicular; Aumento do volume torácico; Taquicardia; Dispneia. 27 2.4.1.4 Dissecção aórtica FIGURA 16 Geralmente pacientes referem algia torácica, como se estivesse “rasgando” o peito. Vários são os fatores de risco: Hipertensão arterial; Idade avançada; Arteriosclerose; Doença do tecido conjuntivo. A taxa de mortalidade é alta e é preciso realizar o controle da pressão arterial e realizar avaliações cirúrgicas periódicas. 28 2.4.1.5 Pneumonia FIGURA 17 Devido à pneumonia, o paciente pode ter um variado quadro de sinais de sintomas, desde uma pneumonia simples até uma infecção generalizada (sepse). O quadro clínico é caracterizado por: Febre; Calafrios; Mialgia; À ausculta pulmonar apresenta: murmúrio vesicular diminuído com estertores subcreptantes; Tosse produtiva. 29 2.5 TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS FIGURA 18 Os transtornos psiquiátricos são responsáveis por 10% das causas de dor torácica nos serviços de pronto-atendimento são eles: Transtorno de Ansiedade; Síndrome do Pânico; Depressão. O paciente pode apresentar o seguinte quadro clínico: Dor torácica; 30 Sudorese; Taquicardia; Palpitações; Náuseas; Dispneia; Tontura; Parestesias. 2.6 GASTRITE, ESOFAGITE E ÚLCERA FIGURA 19 31 Essas doenças do aparelho digestivo costumam causar: Azia: queimação no estômago; Pirose: queimação no centro do tórax, no trajeto do esôfago; Dor de estômago; Plenitude pós-prandial; Náuseas; Vômitos. O paciente costuma apresentar desconforto ao alimentar-se e quando encontra-se em repouso. A ingesta de álcool pode agravar bastante o quadro. A duração pode variar, permanecer minutos ou horas. A gastrite e a úlcera são comuns e tendem a piorar o sintoma com a palpação na região epigástrica. 32 2.7 DOR MUSCULAR FIGURA 20 A dor muscular pode ter origem em um dos lados do corpo, ou seja, no hemitórax, quando o paciente apresenta-se em repouso por um período de longa duração; a dor pode piorar ao respirar, movimentar-se ou à palpação torácica, podendo haver antecedente de trauma muscular ou torácico. 33 2.8 DOR ÓSSEA FIGURA 21 Este tipo de dor geralmente é localizada, apresenta-se ao repouso, respiração, movimentação exagerada ou palpação torácica. Pode ter ou não antecedentes de trauma ou osteoporose, o que torna os ossos mais frágeis. 34 2.9 INVESTIGAÇÃO DA DOR TORÁCICA Para que se tenha uma base correta, ou seja, um diagnóstico preciso da causa da dor torácica é necessário uma boa avaliação clínica, ou seja, uma excelente anamnese contemplando todas as etapas. O auxílio do diagnóstico pode ser confirmado com exames complementares, por exemplo: exame de sangue, radiografia de tórax, eletrocardiograma, 35 ecocardiograma, tomografia computadorizada de tórax, teste de esforço, cineangiocoronariografia, cateterismo cardíaco, angiotomografia da aorta, entreoutros. 2.10 SÍNDROME DE TIETZE FIGURA 22 A Síndrome de Tietze é caracterizada por um processo inflamatório da aponeurose de uma costela com o osso esterno, causando dor localizada na região torácica ao repouso, piorando com a respiração e palpação do local. 36 2.11 HERPES ZOSTER FIGURA 23 O Herpes Zoster é uma doença que causa inflamação nos nervos do tórax, causando neurite. A dor localiza-se no trajeto do nervo, em forma de queimação, que se apresenta quando o paciente encontra-se em repouso de duração prolongada. O local afetado costuma ficar muito sensível ao toque, podendo causar dúvidas ao ser diagnosticado no momento em que antecede o aparecimento de erupção cutânea com pequenas bolhas, no percurso do nervo, que são típicas da doença. 37 3 ÉTICA NAS EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS FIGURA 24 Pode-se dizer que os grandes desafios bioéticos da emergência psiquiátrica (EP) se manifestam por tensão entre a observância dos princípios da autonomia e da beneficência, visto que muitas vezes os pacientes, em função de sua condição psíquica, desejam realizar claramente atos prejudiciais a si ou a outros. Em alguns destes casos restrição da autonomia pessoal em nome da beneficência são eticamente permissíveis. As maiores dificuldades com as quais irá se deparar o psiquiatra diz respeito aos casos de justa causa para quebra da confidencialidade. É necessário que se realize um juízo de valor prévio para que se possa aquilatar se determinada causa é “justa”, ou seja, se é moralmente suficiente para respaldar a inobservância de um preceito ético fundamental para a profissão médica, o da manutenção do sigilo das informações prestadas pelo paciente. 38 4 A QUESTÃO DO RISCO De acordo com as normas legais brasileiras (Lei Federal nº 10.216/01, Portaria MS/GM, nº 2.391/02, e as diversas leis estaduais sobre a reforma da atenção psiquiátrica). Nesse caso as normas não são claras, ou seja, não especificam quais são os riscos que podemos considerar pelo médico ao determinar uma internação involuntária. Os profissionais de saúde que trabalham com emergências psiquiátricas têm o dever ético e moral de estar atualizados a respeito dos quadros psiquiátricos mais graves, para prevenir agressão tanto para o paciente quanto aos demais. 39 5 TIPOS DE INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS GRÁFICO DE INTERNAÇÕES PSIQUIÁTRICAS Nas internações psiquiátricas temos quatro tipos: Internação psiquiátrica voluntária [IPV]; Internação psiquiátrica involuntária [IPI]; Internação psiquiátrica voluntária que se torna involuntária [IPVI]; Internação psiquiátrica compulsória [IPC]. As IPCs cíveis constituem mais uma das consequências do descaso com que a saúde pública é tratada no Brasil, pois geralmente essas determinações judiciais ocorrem por solicitação de familiares de pacientes que não conseguem receber o atendimento de que necessitam por meio dos recursos normalmente disponíveis. 40 6 CONTENÇÃO MECÂNICA E ISOLAMENTO FIGURA 25 Quando houver a necessidade de restrição física ou de isolamento, involuntário, ou seja, sem que o paciente esteja de acordo, todos os procedimentos devem ser registrados em prontuário médico e comunicar o mesmo o quanto antes. No caso de paciente que estiver em contenção de espaço ou contenção química, deverá ser mantido em boas condições, em um local adequado e seguro para o paciente. Deve permanecer sob os cuidados da equipe enquanto estiver “contido”. No caso de uma restrição de espaço ou física, involuntário, é necessário que o paciente tenha alguém que o represente e responda pelo mesmo. 41 7 ALTA E PEDIDO FIGURA 26 Quando o paciente e os familiares desejarem a alta e houver riscos, máxime de “iminente perigo de vida”, recomenda-se o imediato contato com o representante do Ministério Público da localidade. 42 8 ANSIEDADE FIGURA 27 Atualmente a ansiedade tem sido citada por vários autores como uma das doenças que mais tem acometido a população mundial, devido à competitividade e à agitada dinâmica existencial da vida moderna – a Idade da Ansiedade –, associando a este acontecimento psíquico a um consumismo desenfreado e por aí vai. A sociedade contemporânea, por si só, já é um pré-requisito para o surgimento de algum tipo de ansiedade ou transtorno de ansiedade. O homem “moderno” associou a ansiedade a um fator de normalidade ou um destino comum, que estão atrelados de alguma maneira. Por uma questão biológica a ansiedade sempre esteve presente em todos os seres humanos ao longo dessa jornada, desde a era pré-histórica até a chegada do homem à Lua. O que há de novo em tudo isso são as descobertas dos tipos e efeitos da ansiedade sobre o psiquismo e o organismo humano. Todos nós temos um potencial ansioso fisiológico, o que carrega o sentimento do “medo” que é inerente à ansiedade. 43 FIGURA 28 A ansiedade faz parte da natureza humana, para sinalizar sinal de perigo, ameaça pelo desconhecido e algum tipo de sofrimento. Hoje em dia a ansiedade passou a ser um distúrbio, por conta do ser humano que não usa como um exercício de sobrevivência, como era feito antigamente. 44 9 AGITAÇÃO PSICOMOTORA FIGURA 29 A agitação psicomotora, a agressividade e a violência correspondem a um conjunto de comportamentos inespecíficos que podem ser observados em diferentes distúrbios psiquiátricos. Na agitação observa-se um aumento da excitabilidade, uma inquietação, uma resposta exacerbada aos estímulos internos e externos, uma irritabilidade e uma atividade motora e verbal inapropriada e repetitiva. Os pacientes podem se queixar de nervosismo, inquietação e irritabilidade. A agitação, geralmente, tem um curso flutuante, que pode se modificar rapidamente ao longo do tempo. De maneira geral, o comportamento agressivo pode ser definido como um rápido escalonamento da agitação, infligindo danos morais e/ou físicos ao próprio paciente e aos demais. A violência pode ser entendida como uma agressão física dirigida a uma determinada pessoa, por exemplo, os 45 cuidadores, as mulheres, os negros. A agitação psicomotora pode ser observada em diversos quadros psiquiátricos. De maneira geral, todos os quadros psicóticos podem estar associados à agitação. 46 10 PSICOSES FIGURA 30 Os pacientes com pensamentos e comportamentos mais desorganizados podem apresentar uma agitação impulsiva, já os pacientes que apresentam um sistema delirante mais organizado podem manifestar uma agitação secundária às vivências paranoides. 47 11 MANIA FIGURA 31 Os pacientes em mania, não psicóticos, podem se apresentar irritados, com um padrão hostil de respostas e perda das inibições sociais, o que pode gerar discussões e brigas. 48 12 EPILEPSIA FIGURA 32 A agitação psicomotora também pode ocorrer durante ou após uma crise epilética. Em geral, esta não é direcionada e é decorrente das tentativas de restringir a manipulação do paciente pela equipe de saúde, por exemplo, com cuidados de higiene. 49 13 TRANSTORNO MENTAL ORGÂNICO E DELIRIUM FIGURA 33 No caso de transtorno mental orgânico pode ocorrer um rebaixamento do nível de consciência, com alterações da atenção, da orientação e pensamento, o que caracteriza o quadro de Delirium. As agitações podem estar presentes nos quadros de intoxicação aguda por álcool e drogas. 50 14 FATORES DESENCADEANTES PARA UM COMPORTAMENTO AGRESSIVO FIGURA 34Os profissionais da saúde mental, ao avaliar um paciente, têm que levar em conta os fatores de risco para o comportamento agressivo. Infelizmente, em nosso meio, não existem estudos suficientes capazes de delinear os fatores de risco para a nossa população. Existe um consenso que quanto mais jovem for o indivíduo, maior o risco do envolvimento com atos de agressividade e violência. De maneira geral, as mulheres estão menos envolvidas com os comportamentos agressivos, entretanto, nas portadoras de transtornos mentais graves, o grau de violência se aproxima aos homens. A história prévia de agitação psicomotora e violência é um forte fator primitivo para os comportamentos agressivos. Os transtornos de personalidade antissocial e por uso de substância estão associados aos comportamentos agressivos que os transtornos psicóticos. Entretanto, nos episódios psicóticos agudos, particularmente, os que apresentam alucinações auditivas de comando têm risco significativamente aumentado de agressividade. 51 Ao se avaliar o risco de agressividade, o clínico também deve levar em conta o ambiente em que vive o paciente. Existem evidências que as regiões mais pobres tendem a ser mais violentas. Por outro lado, os pacientes portadores de distúrbios mentais tendem a ser violentos com algum membro da própria família, enquanto que na população em geral, as vítimas tendem a ser indivíduos estranhos ao agressor. 52 15 ATENDIMENTOS DE EMERGÊNCIA FIGURA 35 Os móveis do local de atendimento não devem oferecer riscos. A porta do consultório deve, preferencialmente, permanecer aberta. Os seguranças devem estar por perto. O entrevistador deve sentar-se junto à porta, enquanto o paciente permanece no fundo da sala. Com o objetivo de manter a garantia do local de atendimento deve-se interrogar sobre a presença de isqueiros, armas e facas. Em algumas situações, pode ser necessário revistar o paciente e/ou acompanhantes. Nessas situações é importante realizá-la de forma respeitosa, a fim de evitar o escalonamento para a agressividade. 53 16 ABORDAGEM INICIAL JUNTO AO PACIENTE Preferencialmente, um membro da equipe de saúde mental deve assumir a coordenação das abordagens junto ao paciente, familiares e equipe. Cabe ao coordenador: Promover um vínculo terapêutico já no início do tratamento; Deve-se ouvir a versão do paciente, considerar seriamente as suas opiniões e informá-lo sobre sua evolução e tratamento; Identificar os fatores de melhora e piora no comportamento do paciente; Intervir junto à equipe e familiares; Providenciar para que as avaliações e medidas tomadas sejam adequadamente registradas no prontuário do paciente, inclusive a periodicidade das reavaliações; Considerar as abordagens e condutas mais adequadas após a avaliação dos fatores de risco, da situação clínica e da segurança. 54 17 OBSERVAÇÃO DO DOENTE MENTAL FIGURA 36 A observação do doente mental é característica básica para uma boa assistência psiquiátrica e se aplica também em clínicas diversas, por isso, o profissional da saúde deve estar atento ao paciente de forma a observar o todo: Como ele se comporta; Como ele se veste; Como ele se relaciona com as pessoas; O grau de dependência; A forma como ele se comunica verbalmente; A forma como ele se comunica não verbalmente, ou seja, como é o seu comportamento. 55 Dessa forma, em psiquiatria a observação do paciente vai além do aspecto somático, clínico ou orgânico, vai também para o aspecto psíquico, daquilo que o paciente não está expressando pela linguagem, mas por meio do comportamento por ele apresentado. Quando falamos de observação de comportamento não queremos dizer que devemos seguir o paciente como um satélite e anotar todos os seus gestos, de forma sistemática. Isso qualquer máquina poderia fazer melhor do que nós. Quando notamos o comportamento estamos falando de observar as formas pelas quais o paciente psiquiátrico se relaciona com o meio no qual está inserido. Algumas dicas são importantes para observar o comportamento do paciente psiquiátrico em caso de emergência: Observar o comportamento é observar o que o outro faz e como faz, sem julgamento; O paciente não é o comportamento que ele apresenta, ele é consequência da forma como ele aprendeu a se relacionar: Do ambiente em que ele se encontra (é bem diferente estar em casa ou em um hospital); Do papel social que ele está exercendo (por exemplo, é bem diferente ser um estudante ou ser um modelo); E a sua psicopatologia (esquizofrênicos geralmente têm um padrão de comportamento que é diferente do dependente químico); A observação de comportamento deve ser discreta e não devemos “vigiá-los como prisioneiros”, pois isso inibiria o comportamento espontâneo do indivíduo e pode ter consequências imprevisíveis; O paciente não é a sua psicopatologia. Temos que observar o que cada pessoa apresenta em particular porque nem todos os pacientes são deprimidos, por exemplo, se comportam da mesma forma, por isso, analisar o comportamento do paciente é mais do que procurar sinais e sintomas da psicopatologia; Devemos manter a privacidade do paciente em todos os momentos, no banho, nos procedimentos clínicos, na inspeção física e na observação de comportamento; Devemos tomar cuidado com a nossa comunicação não verbal, especialmente com as expressões ao olhar para o paciente, para não sermos interpretados de forma errônea. 56 Resumindo: O que devemos observar em um paciente psiquiátrico ao chegar a um serviço de pronto-atendimento: A forma como ele está vestido, sua aparência física, sua higiene, seu peso, se está ou não drogado; Maneira de andar, alterações físicas que ele possa apresentar (se tem curativos, lesões, sondas, drenos, cateteres, regularidade da marcha, ritmo da marcha, estilo da marcha, exemplo, se claudica ou não); Maneira de falar com as pessoas (se grita, se fala muito rápido, se fala muito baixo, se murmura e se reclama das coisas), se sorri, se é sarcástico com as pessoas; Sua fisionomia (se demonstra raiva ou irritação, medo ou ansiedade, desejo ou aversão, indiferença ou interesse); Sua comunicação verbal e não verbal. Tendo em vista todos estes “padrões de comportamento”, a tendência principal do ser humano e do profissional que ali está é estabelecer “rótulos” para o paciente, então: queixosos, irritados, calmos, enfim. Isso jamais deve ser feito, porque a forma com que eles se expressam vem à psicopatologia, independe da sua vontade, ou seja, pelo ambiente, por sua psicopatologia, como já havia citado, e pela forma como ele interpreta as situações. O que devemos fazer é registrar em prontuário específico para cada área (equipe multidisciplinar) o que é observado sem a preocupação de condenar o comportamento em uma só palavra. Dessa forma, a nossa observação de comportamento estará isenta de julgamentos e será mais fidedigna. 57 18 ATENÇÃO FIGURA 37 É o mecanismo que prepara o processamento dos estímulos, selecionando o que é e quanto processar. Estado de vigilância caracterizado pela disponibilidade perceptiva e a presença do real, com desaparecimento, no eletroencefalograma, do ritmo Alfa. Ela é reduzida na maior parte das doenças mentais, com exceção dos delírios de perseguição ou de ciúmes, em que a atenção aparece polarizada em um sentido muito exato. Pode ser classificada: Espontânea ou passiva: Ocorre naturalmente ou modo instintivo. Voluntária ou ativa: É a atenção disciplinada ou forçada. Externa: Quando a atenção é dirigida para o meio externo. Interna ou subjetiva: Quando a atenção está voltada para o interiordo indivíduo. 58 19 MEMÓRIA FIGURA 38 É a capacidade de reter uma experiência vivenciada no passado. A patologia da memória compreende as amnésias, as hipermnésias, as paramnésias. A maioria panorâmica corresponde a um afluxo de lembranças. Temos: Primária ou imediata: Tem uma reserva de capacidade limitada ao tempo, se não for repetida não será fixada; Secundária ou de fixação: Capta, fixa e conversa os fatos percebidos. Armazena as informações recentes; Terciária ou de Evocação: Consiste na reminiscência dos fatos, lembranças mais antigas, pessoais e bem aprendidas. 59 20 SENSOPERCEPÇÃO FIGURA 39 Alteração nos órgãos dos sentidos: 20.1 ALUCINAÇÕES FIGURA 40 60 Percepções sem objetivo, prefere-se falar de conduta alucinatória para indicar que a alucinação inclui todo comportamento do indivíduo e não se limita à percepção, seguida de convicção. Segundo o aparelho sensorial implicado, distinguem-se as alucinações visuais, auditivas (verbais ou não), tácteis, gustativas, olfativas. Em geral, as alucinações são polissensoriais. Observam-se as alucinações nos esquizofrênicos, os delírios, a confusão mental. 20.2 ILUSÃO FIGURA 41 61 Modificação de uma percepção, em geral ligada à alucinação na confusão mental. A pessoa vê um objeto que é real e acha que é outro, uma percepção deformada. Exemplo: O paciente está vendo uma caneta e acha que é um cigarro. 20.3 SENSAÇÃO DE ESTRANHEZA FIGURA 42 Impressão de sentir o mundo e o ambiente familiar como distantes ou estranhos, junto com uma percepção reduzida de sua própria realidade psíquica, ou seja, percebe a realidade de uma forma diferente. 62 20.4 TRANSFORMAÇÃO CORPORAL FIGURA 43 O indivíduo sente o corpo diferente do que ele realmente é exemplo, é gordo e se sente magro. 20.5 IMAGINAÇÃO FIGURA 44 63 Desordem de pensamento, alimentada não por interpretação ou alucinação, mas sim por ficções produzidas sem controle e às quais o paciente mostra uma convicção total, temos como exemplo pessoas mitotônicas. 20.6 FABULAÇÃO FIGURA 45 Tendência de reinventar, de modo pouco convincente, uma realidade que foge devido aos distúrbios da atenção de orientação, da memória, do juízo. Desejo de refazer a realidade mais ou menos ordenada em relação à ficção escolhida, com finalidade de compensação, de prestígio, para causar dano ou sob o efeito de um impulso habitual. Preencher lacunas da memória. 64 20.7 MITOMANIA FIGURA 46 É a disposição habitual em certos indivíduos e, na falta de intenção exata ou de um alvo definido, para alterar a verdade, simular, mentir, elaborar fábulas, ou seja, tendência de criar e relatar eventos imaginários, como uma mentira patológica. 65 21 PENSAMENTO FIGURA 47 É a representação das vivências da consciência humana e ideias, é uma representação na mente de um objeto ou situação. Conjunto de operações intelectuais que permite compreender os objetos e suas relações e de se conformar ao conhecimento do mundo. No delírio, o pensamento se desvia do real, em proveito do imaginário. Os distúrbios do pensamento podem ser: ideia obsessiva, bloqueio mental, aceleração ou lenhificação mental, entre outros. 66 22 ORIENTAÇÃO FIGURA 48 Autopsíquica (dados sobre si mesmo) e alopsíquica (tempo e espaço). 67 23 INSTINTO FIGURA 49 Pulsão inata. Podem ser: De autopreservação; De sexualidade; De associação. 68 24 INTELIGÊNCIA FIGURA 50 Capacidade de aprendizado, de adaptar-se e exercer a autocrítica. 69 25 JULGAMENTO FIGURA 51 É a capacidade de formular julgamentos, fazer comparações, críticas. 70 26 SENSO ÉTICO FIGURA 52 É a capacidade de utilizar as normas e padrões aceitos pela sociedade. As alterações podem ser: Imoralidade; Hipermoralismo; Anormalidade Constitucional; Senso Moral Desviado. 71 27 AFETIVIDADE FIGURA 53 Conjunto de emoções, sentimentos (alegria, amor, ódio, etc.). Hipertimia: Euforia, tristeza, manifestação exagerada; Hipotimia: Diminuição da afetividade; Paratimia: Quando surgem sentimentos uma ação. 72 28 EMOTIVIDADE FIGURA 54 Habilidade emocional, obsessão (ideia persistente e indesejada, a pessoa reconhece como absurda, mas não consegue eliminá-la pela lógica ou raciocínio), ansiedade (tensão ou apreensão de um perigo iminente), angústia e fobia. 73 29 CONSCIÊNCIA FIGURA 55 Autocrítica dos padrões próprios do comportamento. Os principais distúrbios: Estreitamento: Redução do campo de ação de consciência; Obnubilação: Turvação e obscurecimento da consciência e do pensamento. Delirium: Transtorno mental orgânico agudo, confusão mental, consciência alterada, com instabilidade emocional, ansiedade e agitação e a presença de delírios e alucinações. 74 30 ESQUIZOFRENIA FIGURA 56 Transtorno do pensamento, doença descrita pela primeira vez por Emil Krapelin em 1896, que classificou os vários quadros da doença como Demência Precoce. Bleuler em 1911 deu o nome esquizofrenia após reorganizar os critérios para a demência precoce. Para ele os sintomas fundamentais eram a desorganização do pensamento (associação frouxa de ideias). A perda da realidade ou a incapacidade de diferenciar o real do imaginário é chamada de psicose funcional. Após anos de estudos não há evidências entre o transtorno e os processos físicos do cérebro, porém com o avanço da medicina, principalmente no campo da pesquisa farmacológica, os pacientes hoje estão com medicamentos mais avançados e com maior eficácia, com isso, diminui o tempo do surto e também o espaço de tempo entre um surto e outro está aumentando. 75 30.1 EPIDEMIOLOGIA Há uma grande predominância no sexo masculino, com idade entre 17 a 30 anos, estima-se que 1% da população geral seja portador desta psicopatologia. 30.2 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Indivíduos quietos, passivos, com poucos amigos de infância, fantasiosos, introvertidos e retraídos, crianças obedientes e boazinhas, adolescentes com poucos amigos íntimos e poucos relacionamentos românticos, indivíduos que se excluem de atividades em grupo (jogos e encontros sociais), preferem atividades isoladas (ouvir música, assistir televisão, etc.). Amigos e parentes podem notar que a pessoa mudou e que não está mais agindo como antigamente. Durante este período pode começar a sentir-se ansioso, perplexo e desenvolver interesse por ideias abstratas: filosofia, ocultismo, questões religiosas, etc. Os transtornos esquizofrênicos são caracterizados, em geral, por distorções fundamentais peculiares do pensamento e da percepção e por afeto inadequado. O humor torna-se superficial ou incongruente. 30.3 SINTOMAS Eco do pensamento, inserção ou roubo do pensamento, irradiação do pensamento; Delírios de controle, influência ou passividade claramente se referindo ao corpo ou movimentos dos membros ou pensamentos específicos, ações ou sensações; Alucinações auditivas, comentando o comportamento do paciente ou discutindo entre elas, sobre ele; 76 Delírios persistentes inapropriados e impossíveis, como identidade política ou religiosaou poderes sobre-humanos (capaz de controlar o tempo ou de se comunicar com alienígenas). Alterações no curso do pensamento, resultando em discurso incoerente, irrelevante ou neologismos. Comportamento catatônico, tal como: postura inadequada, negativismo, mutismo e estupor. 30.4 SINTOMAS NEGATIVOS Apatia marcante; Pobreza de discurso; Embotamento afetivo (resultando em retraimento e diminuição do desempenho social); Alterações no comportamento pessoal, como perda de interesse, falta de objetivos, inatividade e retraimento social. 77 30.5 TIPOS DE ESQUIZOFRENIA 30.5.1 Paranoide FIGURA 57 É a mais comum. O quadro é denominado por delírios estáveis, com frequência paranoides, acompanhadas por alucinações (auditivas) e perturbações da percepção. Exemplo, alucinação de perseguição, referência, ascendência importante, missão especial, mudanças corporais; delírios auditivos que ameaçam ou dão ordens, assovios, zunidos ou risos. 78 30.5.2 Hebifrênica FIGURA 58 Caracteriza-se por mudanças afetivas, por um comportamento irresponsável, maneirismos. Neste caso geralmente o afeto é superficial e inadequado, com risadinhas, caretas, brincadeiras fora de hora. O pensamento torna-se desorganizado e incoerente, tendo início no final da adolescência e início da vida adulta. O prognóstico não é bom, devido ao embotamento afetivo, perda da volição e pelo rápido desenvolvimento dos sintomas negativos. 79 30.5.3 Catatônica FIGURA 59 Apresenta-se por agitações psicomotoras e podem se alterar entre extremos como hipercinesia e estupor ou obediência automática e negativismo. Há uma diminuição marcante de reação ao meio ambiente, de movimentos e atividades espontâneas ou mutismo. Podendo apresentar também mutismo, excitação, postura inadequada, negativismo, rigidez, flexibilidade cérea, obediência automática e perseveração de palavras e frases. 80 30.5.4 Simples FIGURA 60 Há um desenvolvimento insidioso, mas progressivo de conduta estranha, incapacidade de atender as exigências da sociedade e um declínio no desempenho total. Delírios e alucinações não são evidentes. Ele pode se tornar absorto em si mesmo, inativo e sem objetivo. 81 30.5.5 Residual FIGURA 61 É um estágio crônico no desenvolvimento da esquizofrenia caracterizado por sintomas “negativos”. 82 30.6 TRATAMENTO FIGURA 62 Terapia Medicamentosa; Terapia Medicamentosa mais psicoterapia; Psicoterapia; Métodos físicos (Eletroconvulsoterapia – ECT). Esses tratamentos poderão ser desenvolvidos no âmbito hospitalar ou não, vai depender muito do quadro da doença que o paciente esteja apresentando. Há mais ou menos uns 10 anos preconiza-se a internação somente em casos de surtos agudos, cuja gravidade não permita que o mesmo seja tratado no consultório, ambulatórios ou comunidades terapêuticas. As internações devem ser criteriosas e de curta duração. 83 31 TRANSTORNOS DO HUMOR FIGURA 63 84 32 TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR FIGURA 64 O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), antigamente conhecido como Psicose Maníaca Depressiva (PMD), é uma doença que se caracteriza pela alternância de humor. Esse período de alteração do humor caracteriza-se por episódios de euforia (mania), depressão ou períodos intercalados de mania com episódios depressivos e períodos de normalidade, quando o paciente está devidamente medicado. 85 33 MANIA FIGURA 65 A mania caracteriza-se por um estado de exaltação do humor, ou seja, um aumento de energia, sem qualquer relação com o momento em que o paciente está vivenciando. Geralmente apresenta: Irritabilidade; Impaciência; Pensamento acelerado; Logorreia; Pensamentos de grandeza; Otimismo exagerado; Aumento da autoestima; Grande produtividade; 86 Hiperbulimia; Abuso de álcool e/ou drogas, entre outros sintomas. 34 HIPOMANIA FIGURA 66 Na hipomania encontramos uma forma moderada da mania, ou seja, podendo predominar a irritabilidade e não apresentar momentos de euforia. O paciente e/ou a família costumam não perceber esta alteração de humor. Geralmente confunde-se com a recuperação da depressão e por isso o paciente está mais “animado”. 87 35 DEPRESSÃO FIGURA 67 O humor fica deprimido, o paciente encontra-se melancólico, apresentando tristeza sem motivo aparente. Segue abaixo alguns sintomas da depressão: Apatia; Angústia; Desânimo e falta de energia; Falta de motivação; 88 Diminuição da libido; Insônia ou hipersonia; Autoestima rebaixada; Isolamento social; Medo e desconfiança; Sentimento de ruína, entre outros sintomas. 35.1 DEPRESSÃO E TRISTEZA FIGURA 68 Quando a pessoa encontra-se deprimida, sabe que seus sentimentos diferem de uma tristeza anteriormente vivida, pois na depressão a pessoa se isola, não quer a companhia dos 89 familiares e amigos, perde o interesse em tudo, não melhora pela força de vontade e nem com o tempo se não for medicado. 35.2 TRATAMENTO DO QUADRO DEPRESSIVO FIGURA 69 Primeiramente procurar um médico psiquiatra; Antidepressivos (Tricíclicos, Inibidores da Monoaminoxidase, Inibidores da recaptura da serotonina); Medicamento e Psicoterapia; Psicoterapia. 90 35.3 TRATAMENTO DA HIPOMANIA E MANIA FIGURA 70 Antidepressivos; Estabilizadores do Humor (Sais de Lítio, Ácido Valproico e Antipsicóticos); Ansiolíticos (ilustração acima à esquerda); Psicoterapia (ilustração acima à direita). 91 36 TRANSTORNOS ALIMENTARES FIGURA 71 A anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o comer compulsivo caracterizam sintomas dos distúrbios alimentares que se tornam cada vez mais conhecidos em nosso meio, devido à pressão exercida pela “sociedade” e pela “mídia”. Segundo Taylor, as teorias sociais apontam para um aumento dramático em sua incidência na população mundial. 92 36.1 BULIMIA FIGURA 72 Geralmente o paciente ingere quantidades enormes de alimentos de uma forma compulsiva, após o fato ocorrido, o mesmo sente-se “culpado” e depois provoca vômitos. Para manter o peso, fazem uso de laxantes, diuréticos, jejuns prolongados, prática de exercícios físicos exagerados e sem antes consultar um médico e um educador físico. 93 36.2 ANOREXIA FIGURA 73 O quadro da anorexia nervosa caracteriza-se pela recusa do paciente em se alimentar voluntariamente. O paciente sente fome, no entanto, há uma restrição cerebral deliberada. Como há a distorção da imagem corporal, o paciente se olha no espelho e se enxerga gordo, mesmo estando magérrimo, com isso ele faz regime para continuar a emagrecer, jejuns prolongados, exercícios físicos deliberadamente. No mundo em que vivemos há uma pressão social, cultural e pressão da mídia muito grande para que as pessoas sejam magras, com um corpo “perfeito” devido ao “modismo”, com isso desencadeia os distúrbios alimentares, precisamente a anorexia nervosa. 94 36.3 PERFIL DA PESSOA COM ANOREXIA E BULIMIA 36.3.1 Anoréxico Emagrecimento extremo; Desenvolvimento psicossocial e sexual atrasado; Sabem o valor nutricional de cada alimento; Alteração dos sinais vitais; Dificilmente menstruam; Desnutrição grave, podendo levar à morte; Constipação intestinal;