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FICHAMENTO PSICOLOGIA JURÍDICA.docx

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FICHAMENTO PSICOLOGIA JURÍDICA
O homem passou a refletir sobre si mesmo e sobre a vida humana, nomeadamente sobre as suas emoções, inquietações, sentimentos, o porquê da existência, do nascimento, da morte... E deste modo que nasce o conceito de alma, onde nasce a raiz etimológica da psicologia: psyché (alma, mente) + logos (razão, estudo).
Aristóteles (384-322 a.c.) postulou que alma e corpo não deve ser dissociado (separar). Caracterizou a vida do homem pelo princípio que denominou de alma racional, com a função de pensar. Sistematizou seus estudos sobre as diferenças entre as sensações, a percepção e a razão em um tratado denominado Da anima, o qual pode ser considerado o primeiro em psicologia. Os Gregos consideravam a alma com o sopro da vida, como o que vivificava a vida.
Santo Agostinho (354-430 a.c.) foi o primeiro a centralizar-se na introspecção psicológica, segundo ele o raciocínio dedutivo era o único instrumento de constatação da verdade e da realidade (racionalismo). Ele negava, a capacidade do homem em encontrar a verdade confiando apenas em suas próprias faculdades.
Hipócrates (400 a.c.) foi o primeiro a formular a classificação das personalidades em função do temperamento (humor), distinguido quatro tipos fundamentais:
Temperamento Sanguíneo – caracteriza uma personalidade sociável, alegre, amigável, ativa e que necessita de emoções e movimento.
Temperamento Colérico ou Bilioso – personalidade de muita vitalidade, agressiva em momentos de enfrentar problemas.
Temperamento Melancólico – são antissociais, emotivas, pessimistas e orgulhosos.
Temperamento Fleumático – próprio das pessoas tranquilas e seguras, porém na realidade são sensíveis e apreensivas.
Platão (427-347 a.c.) concebia alma separada do corpo e imortal, com capacidade de ocupar outro corpo quando o corpo de origem desaparecia com óbito.
John Locke (1632-1704) acreditava na existência de duas realidades:
Experiências Exterior conferida pela percepção dos objetos.
Experiências Interior ou Subjetiva conferida pela percepção dos sentimentos e desejos.
A doutrina de Locke foi desenvolvida por Berkeley e por Davis Hume (1711-1776), os quais concluíram que nenhum conhecimento é absoluto e aquilo que sabemos é baseado na experiência subjetiva, ou seja, experiência interior, a qual não reflete o quadro verdadeiro do mundo.
Se antes o homem era uma criação divina que criou vida através de um sopro, com Charles Darwin (1809-1882) os seres humanos são apenas o resultado de uma bem-sucedida mutação casual de espécies anteriores. Esse cientista chocou a sociedade e revolucionou a ciência.
Ernest Hilgard o principal impulso para o procedimento empírico na psicologia – para o método de observação e experiência proveio dele. Entre outros, o fundador da moderna doutrina genética e da hereditariedade. Em seu estudo sugestivo “A Psicologia após Darwin” enfatizou a expressão dos movimentos afetivos, a investigação das diferenças entre os diversos indivíduos, o problema da influência da hereditariedade em comparação com a do meio ambiente, o problema do papel da consciência e, logo a seguir, o estudo experimental das funções anímicas e a introdução do princípio quantitativo da investigação.
A Psicologia Científica
Como marco inicial desde período científico pode-se fixar um dentre dois momentos:
A consagração do método experimental como tarefa possível e adequado à problemática psicológica.
Uso sistemático do conceito de comportamento como objeto da pesquisa e, nesse caso, está em evidência John B. Watson
Como exposto anteriormente, os filósofos antigos, gregos e medievais procuravam, antes de tudo, dar resposta aos problemas fundamentais acerca da natureza da alma, sua relação com o corpo, seu destino depois da morte e a origem das ideias. Somente, porém, com o advento do espírito científico e, principalmente, com a constatação de que há possibilidade de encontrar fórmulas suficientemente precisas entre variação do estímulo físico, mudança fisiológica e reação psíquica, é que começou o trabalho pioneiro de Gustav Fechner, Hermann Helmholtz e Wilhelm Wundt: a psicofísica e a psicofisiologia.
Para Wundt, o objeto da psicologia era a consciência. Ele entendia a ciência como estudo da estrutura ou das funções detectáveis na experiência interior, nos processos psíquicos de sensação, percepção, memória e sentimento. A essa concepção da psicologia opuseram-se psicólogos científicos posteriores, em particular os Behavoristas, para os quais só pode haver ciência para aquilo que é observável, no caso, o comportamento.
Assim, uma das maneiras de classificar as especialidades em que se dividiu a psicologia é segundo os conteúdos examinados por cada área. As principais disciplinas psicológicas seriam as psicologias da sensação, da percepção, da inteligência, da aprendizagem, da motivação, da emoção, da vontade e da personalidade. Outra divisão possível se faz segundo o critério de examinar esses mesmos conteúdos quanto a sua relação com o funcionamento do organismo, com a denominada psicologia fisiológica; ou quanto a sua manifestação no decorrer da evolução, na psicologia do desenvolvimento; ou, ainda, quanto às diversas formas da convivência social, objeto da psicologia social.
Na década de 1910, John B. Watson lançou a corrente behaviorista, uma das três tendências teóricas a psicologia neste século. Esta corrente propunha o estudo exclusivo do comportamento (em inglês avior), ou seja, daquilo que é observável na conduta do homem. Segundo ele, seria cientificamente observável a ação de um estímulo sobre o organismo e a reação deste em face do estímulo. A relação entre estímulo e reação teria seu protótipo nos reflexos incondicionado e condicionado. Como exemplo de reflexo incondicionado, podemos citar a contração das pupilas quando uma luz forte incide sobre os olhos ou quando o arrepio da pele é provocado quando um ar frio nos atinge. Já uma melodia pode nos fazer sentir alegria e elevar a taxa de endorfina do organismo, se nosso sistema nervoso tiver sido condicionado anteriormente para tanto, ilustra o reflexo condicionado, estudado mais detalhadamente pelo médico russo Ivan Pavlov. “Hoje, não se entende comportamento como uma ação isolada de um sujeito, mas, sim, como uma interação entre aquilo que o sujeito faz e o ambiente onde o seu fazer acontece” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2004:).
Contra esse, o estudo da psicologia voltado para o comportamento de maneira isolado surgiu a corrente fundada por Max Wertheimer (1880-1943), Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Köhler (1887-1967), chamada psicologia da forma ou Gestalt, outra tendência teórica da psicologia neste século. Os gestaltistas também definem a psicologia como ciência que estuda o comportamento, porém formularam seu princípio segundo o qual não podem ser inferidas das partes isoladamente, a partir da investigação das percepções. Uma de suas formulações bastante conhecidas é a de que o todo é diferente da soma das partes
Sigmund Freud (1856-1939), se especializou no tratamento de problemas do sistema nervoso e em particular nas desordens neuróticas. As desordens neuróticas, como você talvez saiba, caracterizam-se pela ansiedade excessiva e, em alguns casos, depressão, fadiga, insônia, paralisia ou outros sintomas relacionados com conflitos ou tensões. O nome e as ideias de Sigmund Freud são tão familiares ao público em geral que a psicologia é às vezes identificada com a teoria psicanalítica, denominação genérica para as ideias freudianas a respeito da personalidade, da anormalidade e do tratamento. A teoria psicanalítica é, contudo, apenas uma teoria psicológica, que compõe o trio de tendências teóricas deste século. O movimento psicanalítico não se assemelhou aos outros que descrevemos porque Freud nunca tentou influenciar a psicologia acadêmica. Seu objetivo era o de levar ajuda a pessoas em sofrimento. Uma vez que a teoria psicanalítica teve imensa influência dentro da psicologia e atraiu vasto grupo de seguidores entre os cientistas do comportamento,a psicanálise é considerada como um movimento da psicologia. 
 Na época de Freud, os médicos não compreendiam os problemas neuróticos, nem sabiam como tratá-los. Tendo descoberto logo que cuidar dos sintomas físicos da pessoa neurótica era inútil, Freud começou a procurar uma terapia psicológica apropriada. Vários de seus colegas estavam hipnotizando seus pacientes neuróticos e encorajando-os a “exteriorizar através da fala” os seus problemas. Quando esses pacientes discutiam e reviviam as experiências traumáticas que pareciam associadas a seus sintomas, frequentemente melhoravam. Freud adotou a hipnose durante algum tempo, mas não a achou satisfatória. Nem todos podiam atingir um estado de transe, e a hipnose parecia resultar em curas temporárias, com o aparecimento posterior de novos sintomas. Essa insatisfação impulsionou Freud a desenvolver um novo método, a associação livre, que serviu a muitos dos mesmos propósitos, embora apresentando menos problemas. Os pacientes repousavam num divã e eram encorajados a dizer o que quer que lhes viesse à mente, sendo também convidados a relatar seus sonhos. Freud analisava todo o relato que aparecia, procurando desejos, temores, conflitos, pensamentos e lembranças que se encontravam além do conhecimento consciente do paciente. Em suma, podemos afirmar que Freud tratava de seus pacientes tentando trazer à consciência aquilo que estava inconsciente. A teoria psicanalítica criou uma revolução na concepção e tratamento dos problemas emocionais e gerou interesse entre os psicólogos acadêmicos pela motivação inconsciente, a personalidade, o comportamento anormal e o desenvolvimento infantil.
O símbolo “PSI” tripé que sustenta a ciência do comportamento em suas três vertentes: A corrente comportamentalista, a corrente psicanalítica e a corrente humanista. Sumarizando o conteúdo desenvolvido até aqui, a psicologia a partir dos testemunhos escritos que nos ficaram das antigas culturas, em particular a Grega, podemos depreender que os homens sempre refletiram sobre a alma, a morte e a imortalidade, sobre o bem e o mal e as causas dos seus medos e preocupações. Atravessada por várias teorias, recorrendo a métodos e técnicas de investigação diversificados, organizada em várias especialidades, a psicologia procura, nesta diversidade, responder às questões que desde sempre se colocaram acerca do comportamento, emoções, sentimentos, relações sociais, sonhos e perturbações. E, antes de continuarmos essa unidade falando sobre o conceito de psicologia, seu objeto de estudo contemporâneo e métodos de investigação, apresento-lhes o quadro a seguir com os principais marcos da história da psicologia.
Conceito de Psicologia 
A capacidade que algumas pessoas têm de escutar os outros e darem bons conselhos. É chamada de psicologia do senso comum. Contudo, definir a psicologia como ciência, obriga a mesma a respeitar um conjunto de características científicas. São elas: objeto formal de estudo bem delimitado; investigação rigorosamente metódica e controlada, derivando-se, daí, a razão da confiança nas conclusões científicas; linguagem clara, consistente, coesa e objetiva na transmissão de suas conclusões, cumprindo sua finalidade social enquanto conhecimento compartilhado; objetivação, que é a tentativa de descobrir a realidade como ela é e processo cumulativo do conhecimento. Assim, definir a psicologia cientificamente é sinônimo de caracterizá-la quanto ao seu objeto de estudo e metodologia de investigação. É o que faremos a seguir.
O OBJETO FORMAL DE ESTUDO DA PSICOLOGIA
Na psicologia, o homem é visto de maneiras bem diversas entre si, o que explica sua diversidade de objetos de estudo. Assim temos o comportamento humano como objeto da psicologia comportamentalista, o inconsciente como objeto de estudo da psicologia na visão psicanalista, e assim por diante. Logo, a ciência psicológica é uma só, mas possui várias faces. A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme desenvolvemos e vivenciamos as experiências da vida social e cultural. A subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um, enfim o que constitui o nosso modo de ser.
É uma síntese que nos singulariza de um lado por ser única e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social. 
Psicologia é a ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento. Entende-se por comportamento uma estrutura vivencial interna que se manifesta na conduta e subjetividade de cada um. 
 Subjetividade. Por exemplo, “Eu vejo o que você vê, mas nunca vou saber como é o seu ver. Você tem a sua subjetividade”. O indivíduo não nasce com a sua subjetividade. Ele a constrói aos poucos, apropriando-se do material do mundo social e cultural. Criando e transformando o mundo externo, o homem constrói e transforma a si próprio. A subjetividade, dependendo da abordagem psicológica, também é vista como a “individualidade”. Ainda como “personalidade”, mas personalidade é um conjunto de comportamentos, que podem se repetir em várias pessoas. Quando falamos de individualidade estamos falando de unicidade, de comportamentos únicos naquelas pessoas. Quando falamos de personalidade estamos falando de um repertório de comportamentos que uma pessoa tem e outras também, estamos falando de semelhanças, de comportamento médio emitido por um grupo de indivíduos. Citando Guimarães Rosa (2001) em Grande Sertão Veredas: “O importante e bonito no mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam”. Portanto, já que a concepção da realidade é baseada na experiência subjetiva e, sendo esta capaz de conferir uma natureza altamente pessoal à percepção do mundo e aos pensamentos, então a realidade percebida decorrerá sempre do estado subjetivo do indivíduo. Cada consciência, em particular, integra e totaliza de maneira muito peculiar o seu 
Relacionamento com o mundo. Desta forma, os fatos oferecidos pelo mundo à nossa volta resultarão numa representação única e individual para cada um de nós e será esta representação que constituirá a realidade particular de cada indivíduo.
METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA
 
O método para se estudar a subjetividade deve ser, portanto, o que leva a procurar no indivíduo as marcas da sociedade. Ou seja, dizer que o indivíduo é mediado socialmente, não significa que ele seja afetado externamente pela sociedade, mas sim que se constitui por ela, isto é, pela sua introjeção. Isso implica que a psicologia, para entender as questões que se referem à subjetividade, deve compreender as finalidades, as instâncias, os meios, pelos quais uma determinada cultura forma o indivíduo.
CAPÍTULO 2 PERSONALIDADE VERSUS TEMPERAMENTO
A DSM-IV (American Psychiatric Association [APA], 1994) define personalidade como “padrões duradouros de perceber, relacionar com o ambiente e consigo mesmo e pensar a respeito disso”. As teorias do desenvolvimento identificam os comportamentos dos indivíduos através da idades especificando assim o que é adequado ou inadequado a cada nível do desenvolvimento. Logo, os estágios do desenvolvimento são identificados pela idade. Idealmente, um indivíduo executa com êxito todas as tarefas associadas a um estágio antes de passar para o estágio seguinte (à idade apropriada). Na realidade, porém, isto raramente acontece. Uma das razões disso está relacionada ao temperamento. O temperamento designa características de personalidade inatas que influenciam a maneira pela qual o indivíduo reage ao ambiente e em última análise sua progressão no desenvolvimento (Chess & Thomas, 1986). Sendo que o ambiente também pode influenciar o padrão de desenvolvimento de um indivíduo. Os indivíduos que são criados num sistema familiar disfuncional apresentam com frequência retardo no desenvolvimento do ego. De acordo com os especialistas no desenvolvimento do ciclo vital,os comportamentos de um estágio não completado com êxito podem ser modificados e corrigidos num estágio posterior. 
TEORIA PSICANALÍTICA
Freud (1961), que já foi chamado de pai da psiquiatria, é considerado o primeiro a identificar o desenvolvimento por estágios. Ele considerava os 5 primeiros anos da vida de uma criança como sendo os mais importantes, pois achava que o caráter básico de um indivíduo já estava formado à idade de 5 anos.
ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
Freud organizou a estrutura da personalidade em três componentes principais: id, ego e superego. Eles são distinguidos por suas funções peculiares e características diferentes.
 
Id
O id é o local das pulsões instintivas – o “princípio do prazer”. Presente ao nascimento, ele dota a criança de pulsões instintivas que buscam satisfazer necessidades e obter gratificação imediata. Os comportamentos impulsionados pelo id são impulsivos e podem ser irracionais. 
Ego
Também denominado eu racional ou “princípio da realidade”, o ego começa a desenvolver-se entre os 4 e os 6 meses de idade. O ego vivencia a realidade do mundo externo, adapta-se a ela e responde a ela. À medida que se desenvolve e ganha força, o ego procura fazer as influências do mundo externo agirem sobre o id, para substituir o princípio do prazer pelo princípio da realidade (Kaplan & Sadock, 1989). Uma das principais funções do ego é a de mediador, ou seja, de manter a harmonia entre o mundo externo, o id e o superego.
Superego
Se o id é comandado pelo princípio do prazer e o ego pelo princípio da realidade, o superego pode ser designado como “princípio da perfeição”. Desenvolvendo-se entre os 3 e os 6 anos de idade, o superego internaliza os valores e princípios morais estabelecidos pelos responsáveis primários pelo cuidado do indivíduo. Derivado de nosso sistema de recompensas e punições, o superego é constituído de dois componentes principais, o ideal do ego e a consciência. Quando uma criança é, consistentemente, recompensada por “bom” comportamento, a autoestima aumenta e o comportamento passa a fazer parte do ideal do ego, isto é, ele é internalizado como parte de seu sistema de valores. A consciência se forma quando a criança é consistentemente punida por “mau” comportamento. A criança aprende por feedback recebido das figuras paternas e da sociedade ou cultura o que é considerado moralmente certo ou errado. Quando os princípios morais e éticos ou até mesmo ideais e valores são deixados de lado, a consciência
gera um sentimento de culpa no indivíduo, pois ajudo o ego no controle dos impulsos. Problemas de baixa autoconfiança e baixa autoestima ocorrem quando o superego se torna rígido e punitivo.
TOPOGRAFIA DA MENTE
Freud classificou todos os conteúdos e operações da mente em três categorias: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente.
O consciente inclui todas as memórias que permanecem ao alcance da percepção do indivíduo. Ele é a menor das três categorias. Eventos e experiências que são facilmente recordados ou recuperados são considerados como parte da percepção consciente do indivíduo. Os exemplos incluem números de telefone, aniversários da própria pessoa e outros entes queridos, as datas de feriados especiais e o que se comeu no almoço nesta tarde. A mente consciente está sob o controle do ego, da estrutura racional e lógica da personalidade.
O pré-consciente inclui todas as memórias que podem ter sido esquecidas ou não estão no momento na consciência, mas podem ser rapidamente trazidos à consciência pela atenção. Os exemplos incluem números de telefone já sabidos, mas pouco usados e sentimentos associados a eventos vitais significativos que podem ter ocorrido em algum momento no passado. O pré-consciente aguça a percepção ajudando a suprimir da consciência memórias desagradáveis ou não-essenciais. Ele está parcialmente sob controle do superego, que ajuda a suprimir pensamentos e comportamentos inaceitáveis.
O inconsciente inclui todas as memórias que não se conseguem trazer à percepção consciente. Ele é o maior dos três níveis topográficos. O material inconsciente consiste em memórias desagradáveis ou não-essenciais que foram reprimidas e só podem ser recuperadas por terapia, hipnose e o uso de certas substâncias que alteram a percepção e têm a capacidade de reestruturar as memórias reprimidas. O material inconsciente também pode vir à tona nos sonhos e num comportamento aparentemente incompreensível.
DINÂMICA DA PERSONALIDADE E OS MECANISMOS DE DEFESA DO EGO
Freud achava que a energia psíquica é a força ou pulsão necessária para o funcionamento da mente. Originando-se do id, ela satisfaz instintivamente as necessidades fisiológicas básicas. Freud designou esta energia psíquica (ou o impulso a satisfazer necessidades fisiológicas básicas, como fome, sede e sexo) como libido. À medida que a criança amadurece, a energia psíquica é desviada do id para formar o ego e depois do ego para formar o superego. A energia psíquica se distribui por esses três componentes, com o ego recebendo a maior proporção para manter um equilíbrio entre o comportamento impulsivo do id e os comportamentos idealistas do superego. Se uma quantidade excessiva de energia for armazenada num desses componentes da personalidade, o comportamento vai refletir esta parte da personalidade. Freud usou os termos catexis e anticatexis para descrever as forças no id, ego e superego que são usadas para se investir energia psíquica em fontes externas para satisfazer necessidades. Freud achava que um desequilíbrio entre catexis e anticatexis ocasionava conflitos internos, produzindo tensão e ansiedade no indivíduo. A filha de Freud, Anna, elaborou uma lista de mecanismos de defesa considerados como sendo usados pelo ego como um recurso protetor Catexis é o processo pelo qual o id investe energia num objetivo na tentativa de obter gratificação. Um exemplo é o indivíduo que se volta, instintivamente, para o álcool para aliviar o estresse.
Anticatexis é o uso de energia psíquica pelo ego e o superego para controlar os impulsos do id. No exemplo citado, o ego tentaria controlar o uso de álcool pelo pensamento racional, como “Eu já tenho úlceras por beber demais. Vou chamar meu conselheiro do AA para me dar apoio. Não vou beber”. O superego exerceria controle por: “Não devo beber. Se eu beber minha família
vai ficar magoada e furiosa. Tenho de pensar em como isto os afeta. Sou uma pessoa muita fraca”. Relativamente à ansiedade, efetuando a mediação entre as exigências excessivas do id e as restrições excessivas do superego.
MECANISMOS DE DEFESA DO EGO
Quando aumenta o nível de ansiedade, a força do ego é testada e energia é mobilizada para enfrentar a ameaça. Anna Freud (1953) identificou alguns mecanismos de defesa do ego empregados face a ameaças à integridade biológica ou psicológica. Alguns desses mecanismos de defesa do ego têm maior valor adaptativo que os outros, mas todos eles são usados consciente ou inconscientemente como recursos protetores do ego, num esforço para aliviar uma ansiedade leve a moderada. Eles se tornam um fator de desajuste quando são “usados em grau tão extremo que distorcem a realidade, interferem nas relações interpessoais, limitam a capacidade do indivíduo em trabalhar de maneira produtiva e promovem a desintegração do ego e não a integridade do eu” (Stuart & Sundeen, 1987). Os principais mecanismos de defesa do ego identificados por Anna Freud são discutidos a seguir.
1. Compensação é encobrir uma fraqueza real 
(a) Um menino deficiente físico, incapaz de participar em atividades esportivas, compensa tornando-se muito estudioso.
 2. Negação é a recusa em reconhecer a existência de uma situação real ou sentimento a ela associado.
(a) Os indivíduos continuam a fumar mesmo tendo sido informados do risco de saúde envolvido.
3. Deslocamento é a transferência de sentimentos de um alvo para outro que é considerado menos ameaçador ou neutro.
 (a) Um menino que é ridicularizado e espancado pelo valentão de suaclasse no recreio vem para casa depois da escola e dá um chute em seu cachorro.
 4. Identificação é uma tentativa de aumentar o próprio valor adquirindo-se certos atributos e características de alguém a quem se admira.
(a) Uma garota adolescente imita os maneirismos e o estilo de vestir-se de uma estrela do rock
popular.
5. Intelectualização é uma tentativa de evitar as emoções reais associadas a uma situação de estresse pelo uso dos processos intelectuais da lógica, raciocínio e análise.
Um jovem professor de psicologia recebe uma carta da noiva rompendo o noivado. Ele não demonstra qualquer emoção ao discutir isso com seu melhor amigo. Em vez disso, ele analisa o
comportamento da noiva e tenta estabelecer as razões pelas quais a relação fracassou.
6. Introjeção é a internalização das crenças e valores de um outro indivíduo, de tal modo que eles passam a fazer parte simbolicamente do eu, a ponto de perder-se o sentimento de separação ou diferença.
Uma criança pequena desenvolve sua consciência internalizando o que seus pais consideram ser certo e errado. Os pais tornam-se literalmente parte da criança. A criança diz a um amigo enquanto brinca: “Não bata nas pessoas. Isso não é bom!”
7. Isolamento é a separação de um pensamento ou uma recordação do afeto ou das emoções associadas a este.
Uma mulher jovem descreve ter sido atacada e estuprada por uma gangue de rua. Ela tem expressão apática e não apresenta nenhuma reação emocional.
8. Projeção é a atribuição a uma outra pessoa de sentimentos ou impulsos inaceitáveis pelo próprio eu. O indivíduo “passa a culpa” desses sentimentos ou impulsos indesejáveis para outra
pessoa, obtendo, assim, alívio da ansiedade a eles associada.
(a) Um jovem soldado que tem um medo extremo de participar de combates militares diz a seu 
sargento que os outros membros de sua unidade são “um bando de covardes”.
9. Racionalização é a tentativa de dar desculpas ou formular razões lógicas para justificar sentimentos ou comportamentos inaceitáveis.
 (a) Um jovem não pode pagar pelo carro esporte que desejava muito. Ele diz ao vendedor: “Eu compraria o carro, mas vou me casar em breve. Este não é exatamente um carro para um homem com família.”
10. Formação Reativa é evitar a expressão de pensamentos ou comportamentos inaceitáveis ou indesejáveis exagerando pensamentos ou tipos de comportamento opostos.
(a) O jovem soldado que tem muito medo de participar de um combate militar se oferece como voluntário para missões perigosas na linha de frente.
11. Regressão é o retorno a um nível anterior de desenvolvimento e às medidas de conforto associadas a esse nível de funcionamento. 
(b) Uma pessoa que está deprimida vai para o quarto, deitasse em posição fetal na cama e dorme por um longo período.
12. Repressão é bloquear da própria consciência de modo involuntário sentimentos e experiências desagradáveis.
Um garoto adolescente não consegue se lembrar de ter dirigido o carro e ter-se evolvido num acidente em que seu melhor amigo foi morto.
13. Sublimação é o redirecionamento de pulsões ou impulsos que são pessoal ou socialmente inaceitáveis (p.ex., agressividade, raiva, pulsões sexuais) para atividades que são mais toleráveis
e construtivas.
Um garoto adolescente com fortes impulsos agressivos e competitivos torna-se a estrela do time de futebol americano de sua escola.
14. Supressão é bloquear voluntariamente da própria consciência sentimentos e experiências desagradáveis.
Uma mulher jovem que está deprimida devido a um divórcio iminente diz à amiga: “Não quero falar sobre o divórcio. Não há nada mesmo que eu possa fazer sobre isso.”
15. Anulação é o ato de desfazer ou cancelar simbolicamente uma ação ou vivência anterior que se considera intolerável.
(a) Um homem derrama algum sal na mesa e joga, então, um pouco o ombro esquerdo para “evitar o azar”.
OS ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE DE FREUD
Freud descreveu a formação da personalidade por cinco estágios de desenvolvimento psicossexual. Como já foi colocado anteriormente, Freud colocou muita ênfase nos 5 primeiros anos de vida e achava que as características desenvolvidas durante esses primeiros anos influenciavam fortemente os padrões de adaptação e traços de personalidade do indivíduo na idade adulta. A fixação num estágio inicial do desenvolvimento vai quase que certamente ocasionar uma psicopatologia.
Estágio Oral: nascimento aos 18 meses
Durante este estágio o comportamento é dirigido pelo id e o objetivo é a gratificação imediata
das necessidades. O foco da energia é a boca, com comportamentos que incluem sugar, mastigar e morder. 
Estágio Anal: 18 meses e 3 anos
As principais tarefas neste estágio são adquirir independência e controle, com um foco específico na função excretora. Freud achava que a maneira pela qual os pais e outros responsáveis pelos cuidados primários abordam a tarefa do treinamento excretor pode ter efeitos duradouros sobre a criança em termos de valores e características de personalidade. torna-se extrovertida, produtiva e altruísta.
Estágio Fálico: 3 a 6 anos
Nesse período o foco da energia passa para a área genital. A descoberta de diferenças entre os sexos acarreta maior interesse pela própria sexualidade e por aquela de outras pessoas. Este interesse pode se manifestar por brincadeiras sexuais auto exploratórias ou exploratórias em grupo 
Estágio de Latência: 6 a 12 anos
Durante os anos de escola primária o foco passa do egocentrismo para aquele em que há maior
interesse por atividades em grupo, aprendizado e socialização com pares. A sexualidade não se
encontra ausente durante este período, mas permanece obscura e imperceptível aos outros. A
preferência é homossexual, ou seja, as crianças desta idade evidenciam uma nítida preferência por relações com indivíduos do mesmo sexo, até mesmo rejeitando membros do sexo oposto.
Estágio Genital: 13 a 20 anos
No estágio genital há um ressurgimento da pulsão libidinal com a maturação dos órgãos genitais. O foco é em relações com membros do sexo oposto e na preparação para a escolha do parceiro. O desenvolvimento da maturidade sexual decorre da autogratificação de comportamentos que foram considerados aceitáveis pelas normas sociais 
Relevância da Teoria Psicanalítica para a prática da psicologia jurídica
O conhecimento a respeito da estrutura da personalidade pode ajudar no reconhecimento dos comportamentos associados ao id, ego e superego contribuindo na avaliação do nível do desenvolvimento do indivíduo. O conhecimento do uso dos mecanismos de defesa é importante para fazer determinações sobre comportamentos desajustados, planejar o cuidado de clientes de modo a ajudar a produzir mudanças, caso desejado, ou ajudar os clientes a aceitarem-se como indivíduos únicos.
TEORIA DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL
Na formação do psiquismo humano, além dos fatores biológicos, igualmente importante, são os fatores sociais e culturais. Erikson (1963) estudou a influência dos processos sociais sobre o desenvolvimento da personalidade. Ele descreveu oito estágios do ciclo vital durante os quais os indivíduos lutam com “crises” do desenvolvimento. Tarefas específicas associadas a cada estágio devem ser completadas para haver a resolução da crise e crescimento emocional.
Estágios de desenvolvimento da Personalidade de Erikson Confiança versus Desconfiança: nascimento aos 18 meses
 
Principal tarefa do desenvolvimento.
Neste estágio a principal tarefa é desenvolver uma confiança básica na figura materna e ser capaz de generalizar isto para outras pessoas.
 • A realização da tarefa acarreta autoconfiança, otimismo, confiança na gratificação de necessidades e desejos e esperança no futuro. A criança aprende a confiar quando as necessidades básicas são consideradas atendidas.
• A não-realização acarreta insatisfação emocional consigo mesmo e com outras pessoas, desconfiança e dificuldade nas relações interpessoais.
Autonomia versus Vergonha e Dúvida: 18 meses a 3 anos
Principaltarefa do desenvolvimento. A principal tarefa neste estágio é adquirir algum autocontrole e independência no ambiente. 
• A realização dessa tarefa acarreta um sentimento de autocontrole e a capacidade de retardar a gratificação, juntamente com um sentimento de autoconfiança na própria capacidade de desempenho. A autonomia é atingida quando os pais encorajam atividades independentes e dão oportunidades para isso.
• A não realização acarreta falta de confiança em si mesmo, falta de orgulho na própria capacidade, um sentimento de ser controlado pelos outros e raiva contra si mesmo.
Iniciativa versus culpa: 3 a 6 anos
Principal tarefa do desenvolvimento. Durante este estágio o objetivo é desenvolver um sentimento de propósito e a capacidade de iniciar e dirigir as próprias atividades.
• A realização da tarefa acarreta a capacidade de exercer moderação e autocontrole em relação a comportamentos sociais impróprios. A afirmação e a responsabilidade aumentam e a criança aprecia o aprendizado e as conquistas pessoais. A consciência se desenvolve, controlando, assim, os comportamentos impulsivos do id. A iniciativa é alcançada quando a criatividade é encorajada e o desempenho é reconhecido e reforçado de maneira positiva.
• A não-realização acarreta um sentimento de inadequação e de derrota. A culpa é vivenciada em grau excessivo, até o ponto de aceitar-se responsabilidade por situações pelas quais não se é responsável. A criança pode se ver como má e merecedora de punição.
Indústria versus Inferioridade: 6 a 12 anos 
Principal tarefa do desenvolvimento.
A principal tarefa aqui é obter um sentimento de autoconfiança pelo aprendizado, competição, desempenho com êxito e por receber reconhecimento por parte de outros entes queridos, pares e conhecidos.
• A realização da tarefa acarreta um sentimento de satisfação e prazer na interação e no envolvimento com outras pessoas. O indivíduo domina hábitos de trabalho confiáveis e desenvolve atitudes de merecedor de confiança. Ele é consciencioso, tem orgulho de suas conquistas e aprecia brincadeiras, mas deseja um equilíbrio entre a fantasia e as atividades do “mundo real”. A indústria é alcançada quando é dado encorajamento a atividades e responsabilidades na escola e na comunidade, bem como àquelas no lar e é dado reconhecimento às conquistas.
• A não-realização acarreta dificuldades nas relações interpessoais, devido a sentimentos de inadequação pessoal. O indivíduo não pode cooperar ou se comprometer com outras pessoas e em atividades de grupo, nem resolver problemas ou completar com êxito as tarefas. Ele pode tornar-se passivo e dócil ou excessivamente agressivo para encobrir sentimentos de inadequação. Se isto ocorrer, o indivíduo pode manipular ou violar os direitos dos outros para satisfazer suas próprias necessidades ou desejos, pode tornar-se um viciado em trabalho, com expectativas pouco realista quanto às conquistas pessoais.
Identidade versus Confusão de Papéis: 12 a 20 anos
Principal tarefa do desenvolvimento.
Neste estágio o objetivo é integrar as tarefas dominadas nos estágios anteriores a um sentimento seguro do eu.
• A realização dessa tarefa acarreta um sentimento de confiança, estabilidade emocional e uma percepção de si mesmo como um indivíduo único. São feitos compromissos com um sistema de valores, com a escolha de uma carreira e com relações com membros de ambos os sexos. A identidade é alcançada quando os adolescentes podem ter experiências independentes, tomando decisões que influenciam sua vida. Os pais devem estar disponíveis para dar apoio quando necessário, mas devem liberar gradualmente o controle ao indivíduo em maturação, numa tentativa de encorajar ao indivíduo em maturação, numa tentativa de encorajar o desenvolvimento de um sentimento independente da própria pessoa.
• A não-realização acarreta um sentimento de constrangimento, dúvida e confusão quanto ao próprio papel na vida. Valores ou objetivos pessoais para a própria vida estão ausentes. Os compromissos para as relações com outras pessoas não deixam de existir, mas são, em vez disso, breves e superficiais. Uma falta de autoconfiança é freqüentemente expressa por um comportamento delinqüente e rebelde.
Intimidade versus Isolamento: 20 a 30 anos
Principal tarefa do desenvolvimento.
O objetivo durante esta fase é formar uma relação intensa e duradoura ou um compromisso com outra pessoa, uma causa, uma instituição ou um esforço criativo (Murray & Zenner, 1997).
• A realização da tarefa acarreta a capacidade de amor e respeito mútuo entre duas pessoas e a capacidade de um indivíduo de comprometer-se totalmente com outra pessoa. A intimidade vai muito além do contato sexual entre duas pessoas. Ela descreve um compromisso em que são feitos sacrifícios pessoais pelo outro, quer seja uma pessoa ou, se assim se decidir, uma carreira
ou outro tipo de causa ou tarefa a que o individuo decida dedicar sua vida. A intimidade é alcançada quando um indivíduo consegue desenvolver a capacidade de se dar a outro. Isto é aprendido quando se recebeu este tipo de doação numa unidade familiar.
• A não-realização acarreta retraimento, isolamento social, solidão. O indivíduo é incapaz de formar relações íntimas duradouras, procurando com freqüência a intimidade através de numerosos contatos sexuais superficiais. Não é estabelecida uma carreira; ele pode ter uma história de mudanças ocupacionais (ou pode temer mudanças e permanecer assim numa situação profissional indesejável). A tarefa não é resolvida quando a vida no lar foi de privações ou sofreu distorções nas etapas iniciais (Murry & Zentner, 1997). Não se consegue desenvolver a capacidade de dar-se sem ter recebido isso inicialmente dos responsáveis pelo cuidado primário.
Produtividade versus Estagnação ou Auto-absorção: 30 a 65 anos
Principais tarefas do desenvolvimento.
A principal tarefa aqui é atingir os objetivos de vida estabelecidos para si próprio, ao mesmo tempo em que se leva em consideração o bem-estar das gerações futuras.
• A realização da tarefa acarreta um sentimento de gratificação por conquistas pessoais e profissionais e por contribuir de modo significativo para os outros. O indivíduo é ativo em serviço da sociedade e para ela. A produtividade é alcançada quando o indivíduo expressa satisfação com este estágio da vida e demonstra responsabilidade por fazer do mundo um lugar melhor para se viver.
 • A não-realização acarreta ausência de preocupação pelo bem-estar
dos outros e total preocupação com a própria pessoa. Ela se torna retraída,
isolada e muito auto-indulgente, sem nenhuma capacidade de se dar a
outras pessoas.
Integridade do Ego versus Desespero: 65 anos até a morte
Principal tarefa do desenvolvimento.
Durante esta fase o objetivo é rever a própria vida e tirar significado de eventos tanto positivos como negativos, para obter um sentimento positivo do eu nesse estágio da vida.
• A realização da tarefa acarreta um sentimento de valor pessoal e auto aceitação ao reverem-se os objetivos de vida, aceitando-se que alguns foram atingidos e outros não. O indivíduo deriva
um sentimento de dignidade de suas experiências de vida e não teme a morte, vendo-a, em vez disso, como uma outra fase do desenvolvimento.
• A não-realização acarreta um sentimento de desprezo por si próprio e desgosto com a maneira pela qual a vida transcorreu. O indivíduo gostaria de começar de novo e ter uma segunda chance na vida. Ele ou ela se sente inútil e incapaz de mudar. Raiva, depressão e solidão são evidentes. O foco pode ser em fracassos anteriores ou percebidos com tal. A morte iminente é temida ou negada ou podem predominar idéias de suicídio.
3.2 RELEVÂNCIA DA TEORIA DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL PARA A PRÁTICA DA PSICOLOGIA JURÍDICA
A teoria de Erikson é particularmente aplicável à prática da psicologia jurídica, por incorporar conceitos socioculturais ao desenvolvimento da personalidade. Ele proporciona uma abordagem sistemática por etapas e delineia tarefas específicas queteriam de ser completadas durante cada estágio. Essas informações podem ser usadas muito facilmente no contexto psiquiátrico de saúde mental, que estudaremos na unidade IV.
TEORIA DO DESENVOLVIMENTO MORAL
Os estágios de desenvolvimento moral de Kohlberg (1968) não estão estreitamente ligados a grupos etários específicos. A pesquisa foi realizada com indivíduos masculinos variando de 10 a 28 anos de idade. Kohlberg acha que cada estágio é necessário e básico para o estágio seguinte e que todos os indivíduos têm de progredir sequencialmente por cada estágio. Ele definiu três níveis principais de desenvolvimento moral, cada um dos quais é adicionalmente subdividido em dois estágios. Muitas pessoas não passam por todos os seis estágios.
Nível I: Nível Pré-convencional (Proeminente dos 4 aos 10 anos de idade)
Estágio 1 – Punição e orientação por obediência.
Nesse estágio o indivíduo responde às orientações culturais de bom e mal e certo e errado, mas principalmente em termos das consequências relacionadas conhecidas. O medo da punição pode ser o incentivo conformidade. Por exemplo, atitudes do tipo: “Vou fazer isso, porque se não fizer não vou poder ver TV por uma semana”.
Estágio 2 – Orientação instrumental relativista.
Os comportamentos deste estágio são orientados pelo egocentrismo e a preocupação com o eu. Há um desejo intenso de satisfazer as próprias necessidades, mas ocasionalmente as necessidades dos outros são consideradas. Em sua maior parte as decisões se baseiam nos benefícios pessoais obtidos. Falas do tipo, “Vou fazer isso se ganhar alguma coisa em troca” ou ocasionalmente, “... porque você me pediu”, são exemplos desse estágio.
Nível II: Nível convencional (Proeminente dos 10 aos 13 anos de idade e até a idade adulta)
Estágio 3 – Orientação por concordância interpessoal.
O comportamento neste estágio é orientado pelas expectativas dos outros. A aprovação do grupo social do indivíduo e a aceitação neste grupo proporcionaram o incentivo à conformidade. Atitudes que exemplificam bem esse estágio são: “Vou fazer isto porque você me pediu”; “...porque isto vai ajudar a você” ou “... porque isto vai agradar a você”.
Estágio 4 – Orientação por lei e ordem.
Há um respeito pessoal pela autoridade. Regras e leis são necessárias e sobrepujam princípios pessoais e de grupo. A crença é de que todos os indivíduos e grupos estão sujeitos ao mesmo código de ordem e ninguém está isento disso. Por exemplo: “Vou fazer isto porque esta é a lei”.
Nível III: Nível Pós-convencional (Pode Ocorrer da Adolescência em Diante)
Estágio 5 – Orientação legalista dos contratos sociais.
A crença é de que há alguns direitos humanos intrínsecos, aos quais todos os indivíduos estão habilitados. Os indivíduos que chegam ao estágio 5 desenvolveram um sistema de valores e princípios que determina para eles o que é certo ou errado; os comportamentos são guiados de maneira aceitável por este sistema de valores, desde que não violem os direitos humanos dos outros. O indivíduo no estágio 5 vive de acordo com as leis e princípios universais; entretanto, ele tem a ideia de que as leis estão sujeitas à crítica e alterações, conforme a evolução e modificação das necessidades na sociedade. Como exemplos, temos comportamentos tais como: “Vou fazer isto porque esta é a coisa moral e legal a se fazer, ainda que não seja minha escolha pessoal”.
Estágio 6 – Orientação por princípios éticos universais.
O comportamento neste estágio é dirigido por princípios internalizados de honra, justiça e respeito pela dignidade humana. As leis são abstratas e não escritas, como a “Regra de Ouro”, “igualdade de direitos humanos” e “justiça para todos”, não as regras concretas estabelecidas pela sociedade. A consciência é o guia e uma culpa intensa é a consequência quando não se satisfaz os comportamentos que se espera de si mesmo. A aderência a esses princípios éticos é tão forte que o indivíduo é guiado por eles mesmos sabendo que vão ocorrer consequências negativas. Um exemplo deste último estágio visto por nós brasileiros em 2003 foi o caso do tratorista Hamilton dos Santos de 53 anos, que se recusou a cumprir uma ordem judicial que determinava a derrubada da casa da merendeira Telma Sueli no aglomerado da Palestina em Salvador. Santos se preparava para colocar abaixo a casa da merendeira, mas percebendo o drama da mulher e das sete crianças que moram no local, o tratorista chorou e disse que não poderia executar a ordem nem que fosse preso. O oficial da Justiça que estava na favela para cumprir a ordem de despejo mandou prender Santos que foi liberado logo depois, diante da repercussão do caso.
RELEVÂNCIA DA TEORIA DO DESENVOLVIMENTO MORAL PARA A PSICOLOGIA JURÍDICA
O desenvolvimento moral tem relevância para a psicologia jurídica por afetar o raciocínio crítico quanto à maneira pela qual os indivíduos deveriam se comportar e tratar os outros. O comportamento moral reflete a maneira pela qual a pessoa interpreta o respeito básico por outras pessoas, como o respeito pela vida humana, liberdade, justiça ou confidencialidade (Davis,1981).
Como podemos perceber após o estudo dessa unidade, o crescimento e o desenvolvimento são peculiares a cada indivíduo e continuam durante todo o seu tempo de vida. A cada estágio se estabelece uma complexidade crescente no desenvolvimento da personalidade. Esta unidade proporcionou uma familiarização com as teorias de Freud, Erikson e Kohlberg e suas aplicações à psicologia jurídica. Esses teóricos proporcionam conjuntamente uma abordagem multifacetada do desenvolvimento da personalidade, compreendendo aspectos cognitivos, psicossociais e morais essenciais a esta disciplina.
Muitas teorias surgiram para que se tivesse uma visão mais objetiva da sociedade e do comportamento do homem, de sua formação e de sua estrutura, dentre elas a psicologia. Mas, como a sociedade sofre mutações todos os dias, necessário se faz que a Psicologia seja bastante dinâmica para acompanhar este processo. Esta ciência, que possui um objeto de estudo tão complexo, engloba em suas análises a relação existente entre o homem e suas condutas coletivas, no que diz respeito às influências que estas acarretam para o mesmo e as transformações que geralmente ocorrem ao se correlacionarem. Consequentemente, ao ingressar na sociedade, o indivíduo tem que adaptar-se às normas que a mesma impõe. Estas podem ser de acordo com a moral social ou com a lei, divergindo com relação ao tipo de conduta. O comportamento considerado como um desvio de conduta terá sanções que podem ser repressivas, excludentes e se a infração estiver prevista na lei, esta será objeto do direito. Podemos citar como exemplo, um indivíduo que faça parte de um grupo religioso e que venha a trair a sua esposa, o mesmo sofrerá uma sanção de repressão do grupo uma vez que este grupo social condena essa conduta, podendo o mesmo ser até expulso ou mesmo responder a um processo judicial. Diante disso, podemos perceber que o homem durante toda a sua vida
social irá submeter-se a regras, sejam estas impostas por um grupo social ou pelo Estado. Daí, surge a ligação entre a Psicologia e o Direito, que é expressa desde a mais simples das relações sociais, podendo ser vislumbrada até mesmo num jogo entre crianças, onde há regras a serem cumpridas para que não haja conflitos.
A psicologia de um modo geral pode permitir ao homem conhecer melhor o mundo, os outros e a si próprio. A psicologia jurídica, em particular, pode auxiliar a compreender o hommo juridicus e a melhorá-lo, mas também pode ajudar a compreender as leis e as suas conflitualidades principalmente as instituições jurídicas, assim como melhorá-las.
A aproximação do direito e da psicologia, bem como a criação de um território transdisciplinar, é uma verdadeira questão essencial de Justiça.
A sociedade possui vários modos de conduta coletiva. Entre elas, a que mais se destaca são os usos e os costumes. Recaséns (apud REALE, 1999) distingue os usos dos costumes, estes exercendouma simples pressão ou certa obrigatoriedade, reservando a designação de hábitos sociais para os usos não normativos. Existem várias teorias que tentam diferenciar as diversas normas existentes na sociedade, como o direito, a moral, as normas de trato social, normas técnicas, religiosas, políticas, higiênicas, entre outros.
Porém, esta não é uma tarefa das mais fáceis, pois vários fatores influenciam nesta diferenciação, entre eles a própria convicção de cada grupo.
Para Recaséns (apud REALE, 1983) a moral tem por sujeito o homem individual, que esta orienta no sentido de sua vida autêntica. Já o direito refere-se ao eu socializado, que procura regular no sentido que convenha à convivência humana em dada sociedade. A psicologia do direito fala da moral coletiva como fato social e da moral individual, em que o indivíduo é o próprio legislador.
A Psicologia Jurídica surge exatamente para perceber as consequências comportamentais decorrentes dos tipos de norma de conduta social que são impostas pelos grupos sociais e estudá-las. É uma ciência muito jovem, estando, ainda, numa fase de discursar sobre problemas metodológicos.
Atualmente, a Psicologia Jurídica possui várias barreiras que impedem uma melhor compreensão desta ciência, entre elas pode-se citar a opacidade da linguagem dos códigos e a impenetrabilidade da ciência jurídica. Portanto, necessário se faz que haja algumas mudanças para que se possa abordar melhor a psicologia para o direito.
Em outras palavras, como já houve quem dissesse, de uma cultura do Dever passamos a uma cultura do Direito. A moral secularizou-se, querendo com isto dizer que houve uma passagem do sagrado ao profano, considerando-se quebrada a relação da moral com o transcendente. Esta
secularização é patente nas correntes do pragmatismo, em que o Bem é o prazer e a utilidade, no assumir da lei natural como busca da felicidade subjetiva e nos fenômenos da “morte de Deus” e da desacreditação da moral. Enfim, desde o século XVIII, o direito tornou-se o fato moral
fundamental, celebraram-se os direitos individuais e entoaram-se hinos às coletividades nacionais e aos direitos dos povos. O homem contemporâneo desconfia da ética tanto em suas bases econômicas e biológicas bem como psicológicas. O agnosticismo e o ateísmo foram ganhando terreno, não obstante as cruzadas desenvolvidas a favor da religião. No século XX, poucas esferas da vida permaneceram sob a tutela do dever, foi o caso da sexualidade humana (na primeira metade do século) e da família (nomeadamente, a relação pais-filhos).
De um valor de Bem passou a conferir-se importância ao Bem-Estar e nele se alicerçaram as culturas da felicidade subjetiva e do ócio. O mundo moderno valorizou a sexualidade, “arrancou-a do complexo de culpa e conferiu-lhe dignidade” (FRANCESCO 1994, p.150) e o prazer, durante tanto tempo banido e exilado da vida pública, foi promovido à finalidade humana pela publicidade.
UNIDADE 3 - PSICOLOGIA JURÍDICA, DIREITO E LEI
Viveu-se, no decorrer da segunda metade do século XX, a erupção de uma nova ordem social, com diferenças claras no moralismo dos costumes, um liberalismo mais evidente nas instituições (como o casamento) e, paralelamente, uma busca de novos valores e de uma moral individual (tem se vindo a apontar a flexibilidade do homem atual, divulgando o desporto e os prazeres higienistas, entre outros).
No final dos anos 80 foi feita uma curiosa caracterização desse período como havendo uma “softideologia”, já que de nada serve querer mudar a ordem do mundo, valeria mais resignar-mo-nos a sofrer as consequências dos acontecimentos. Nesta perspectiva, cada um deveria cultivar o seu próprio jardim. A forma cultural perdera o seu sistema de referência e as opiniões
dividiam-se. Havia dois troncos básicos de opinão: os que apelavam ao regresso a valores re-descobertos e os que apontavam esse momento como a ambivalência total, a indecisão, uma espécie de pensamento brando ou “em banho-maria”.
Entre as diversas análises já realizadas em torno do nosso tempo, citamos ainda a que designou os anos 80 como uma “nova civilização”, pelo surgir de novos hábitos e novos valores, prevendo uma ultrapassagem da ética aquisitiva devida à expansão da economia de mercado. As novas palavras de ordem seriam, entre outras, “descentralização” e “realização pessoal”, sendo significativa uma nova concepção de natureza (por ação de uma consciência planetária) e do Homem com uma visão de versatilidade e um aumento da auto-ajuda, atribuindo-se valor elevado ao que as pessoas fazem.
Se a vida é desordem, tensão, conflito e procura, a moral não pode ser linear. Os tumultos da vida interferem com a moral de diversas formas, uma das mais evidentes é a mudança das idéias morais no tempo.
Os valores e as regras vão mudando e hoje não há um único modelo de comportamento, mas um repertório de alternativas, veiculados pelos órgãos de comunicação social. Face às diversas opções, cada um exerce o seu direito de livre arbítrio e vive do modo que considera melhor para si. E é nesta forma que se revela a ética pessoal - pela forma de viver. Não se trata, simplesmente, de uma posição teórica. Mais do que isso, é uma modalidade
da vida prática.
Hoje parece assistirmos a um ressurgimento da ética, que passou a gozar dos favores nos discursos sociais e políticos. E é patente a antinomia entre as realidades do mundo social (como a fraude fiscal, a violência ou a “febre do dinheiro”) e a de uma cultura do dever (de que constituem exemplos os apelos às medidas de moralização dos costumes, as preocupações com o ambiente, os valores profissionais, a Bioética ou as campanhas contra a droga e o tabagismo). Também parece patente a ressurgência dos valores religiosos, da importância dada à transcendência.
Se não pretendemos, neste espaço de reflexão, debruçar-mo-nos sobre o assunto, não podemos ignorá-lo completamente. Conforme Trindade (2004), parece que o momento de arrancar a psicologia do estatuto restritivo de ciência meramente auxiliar e constituí-la num ramo do pensamento e da aplicação do direito chegou. Com isso, exige-se uma tomada de consciência
epistêmica que obriga a criação de um verdadeiro espaço de interlocução, de transdisciplinaridade, que não é nem metapsicológico, nem metajurídico, mas a um só tempo psicojurídico.
CONCEITO
Diante do contexto histórico apresentado, é que a psicologia saiu de seu lugar auxiliar do direito e passou a ocupar o lugar do pensamento e da aplicação do direito. Agora, porém, o comportamento humano não é mais um objeto de estudo apropriado somente pela ciência da psicologia, mas estudado por diversos saberes simultaneamente, em diferentes perspectivas, sem com isso esgotar-se epistemologicamente.
Nesse sentido, como define Clemente (1998, p.25), a psicologia jurídica: “É o estudo do comportamento das pessoas e dos grupos enquanto têm a necessidade de desenvolver-se dentro de ambientes regulados juridicamente, assim como da evolução dessas regulamentações jurídicas ou leis enquanto os grupos sociais se desenvolvem neles”.
Como podemos perceber, a psicologia jurídica não é apenas uma simples justaposição da psicologia com o direito, ou ainda, o resultado de uma soma de dois ramos diferentes do conhecimento ligados por um objeto em comum - o homem e seu comportamento. 
A psicologia jurídica trata-se de um produto da transdisciplinaridade e, portanto, é uma disciplina ainda por construir.
PSICOLOGIA E DIREITO
O direito possui como função primária pacificar os conflitos existentes na sociedade. Para Recaséns apud (REALE, 1983) esta ciência regula estes interesses conflitantes da seguinte forma:
a) Classificando os interesses opostos em duas categorias: a dos que merecem proteção e a dos que não merecem.
b) Harmonização ou compromisso entre interesses parcialmente opostos.
c) Definindo os limites entre os quais tais interesses devem ser reconhecidos e protegidos, mediante princípios jurídicos que são congruentemente aplicados pela autoridade jurisdicional ou administrativa,caso tais princípios não sejam aplicados espontaneamente pelos particulares.
d) Estabelecendo e estruturando uma série de órgãos para declarar as normas que servirão como critérios para resolver tais conflitos de interesse, bem como desenvolver e executar as normas, além de ditar normas individualizadas aplicando as normas gerais aos casos concretos.
Podemos citar ainda o poder social que se refere ao aspecto psicológico da vigência do direito. O legislador irá impor suas vontades, seus interesses, que, na verdade, são as vontades de senso comum através das leis e essas serão cumpridas pelo povo que irá decidir se vigorará ou não. Portanto, se a opinião pública pressionar os tribunais, juizes e funcionários administrativos sobre uma norma, mesmo que esta já esteja regulamentada, deverá haver uma revisão para que se atenda às necessidades da população.
No início da formação das sociedades surgiram necessidades de se condenar àqueles que infringiam alguma regra. Esse sentimento de justiça ou vingança privada podia ser percebido quando um indivíduo que cometia uma infração recebia uma pena proporcional ou maior do que o crime cometido. Esse primeiro instinto podia ser vislumbrado também diante de linchamentos que ocorriam e isso era bastante negativo para a sociedade e necessitava ser regulado. Foi então surgindo a ideia do Direito positivo.
Atualmente, a justiça popular, ou seja, a de “pagar na mesma moeda”, pode ser compreendida, muitas vezes, como uma defesa da sociedade diante da falha da polícia ou dos órgãos de defesa da população. Existe uma grande deficiência no sistema judiciário, seja ela econômica, política ou social e esta crise reflete diretamente na sociedade que já não deposita tanto crédito na justiça, por perceber a lentidão dos processos judiciais, a lotação dos presídios, a falta de recursos para a polícia, enfim uma série de fatores que terminam prejudicando o setor judiciário. Esse declínio é provocado, também, pelo esgotamento do Estado como sociedade politicamente organizada e gerenciadora das atividades públicas e privadas. Isto está ocorrendo também em outros países.
Para Philip Selznick apud (SOUTO E FALCÃO, 1980), destaca-se o condicionamento da justiça e do direito por fatores, como a mentalidade pragmática, a impaciência com abstrações e os ritmos acelerados das mudanças sociais, ou seja, as sociedades estão evoluindo e com elas surgindo novos conflitos que não estão tendo soluções tão imediatas quanto os mesmos estão necessitando. O setor judiciário precisa de uma reavaliação para melhor atender e solucionar os conflitos do fim do século.
Psicologicamente, pode-se dizer que cada sociedade possui uma noção de direito e justiça e que mediante estes conceitos é que se podem analisar as causas da deficiência do setor judiciário. Muitas vezes o que pode ser considerado como crime grave no Brasil, não o é nos Estados Unidos. Mas ainda, alguns tipos de sociedade acreditam que a justiça está relacionada com a paz social e se não existir um órgão jurisdicional competente que efetive esse sentimento para esta sociedade, o mesmo tornar-se-á falho.
Segundo Trindade (2004) a Psicologia Jurídica é, pois, fundamental não só ao Direito, mas principalmente essencial à Justiça. Na verdade, para se chegar à Justiça, é necessário o direito e a psicologia, ambos compartilhando o mesmo objeto, que é o homem e seu bem-estar”.
A relação entre o direito e a psicologia, portanto, deve ser sempre vista e analisada como uma reciprocidade, pois é difícil discursar sobre o ordenamento jurídico sem correlacioná-la com uma verdadeira questão essencial de justiça.
PSICOLOGIA E LEI
Como vimos, a área da Psicologia Jurídica é relativamente nova, mas muito importante. Não obstante, como referiu Freud (1969, p.15) “a civilização precisava ser assumida e a normatividade dirige-se a esse fim, na medida em que promove a renúncia ao instinto, operando a inserção do sujeito na cultura”.
Historicamente, podemos então afirmar que a normatividade constitui parte da essência do humano uma vez que as leis fundam-se na natureza, mas só podemos ingressar na sua essência através da contemplação. Da origem psicossocial das normas, retirou-se o princípio de sua universal obrigatoriedade que, por sua vez, também seria uma especificidade da própria norma jurídica. Um vínculo que obriga. Nada parece estranho, pois se o mundo das relações sociais e jurídicas foi criado pelo homem, seus princípios devem se encontrar no próprio homem, no seu pensamento e na sua mente, na sua vontade e nos seus sentimentos. Platão também partiu da idéia de que a atividade humana é essencialmente motivada por fatores psicológicos, que coexistem com tantos outros, sejam econômicos ou políticos.
A Psicologia Jurídica, portanto, se fundamenta como uma especialidade que desenvolve ampla e específica relação entre o Direito e a Psicologia, no que diz respeito à parte teórica, explicativa, de investigação, aplicação, avaliação e tratamento. Pode ser compreendida como o estudo, explicação, promoção, análise, prevenção e em alguns casos, assessoramento e/ou tratamento dos fenômenos psicológicos, condutas e relacionamentos que incidem sobre o comportamento legal das pessoas, mediante a utilização de métodos próprios da Psicologia Científica e cobrindo, portanto, distintos aspectos de estudo e intervenção, os quais podemos citar: Psicologia Aplicada aos Tribunais, Psicologia Penitenciária, Psicologia da Delinqüência, Psicologia Judicial (testemunho, júri), Psicologia Policial e das Forças Armadas, Vitimologia e Mediação.
O psicólogo jurídico pode exercer diferentes funções, a saber: · Avaliação e diagnóstico: em relação às condições psicológicas dos atores jurídicos.
· Assessoramento: orientar e assessorar os operadores do Direito nas questões próprias da Psicologia.
· Intervenção: desenvolvendo e realizando programas para prevenção, tratamento, reabilitação e integração dos atores jurídicos, bem como na comunidade, no meio penitenciário, tanto a nível individual como coletivo.
· Formação e educação: treinar e selecionar profissionais do sistema legal (juízes, policiais, advogados, agentes penitenciários, entre outros) nos conteúdos e técnicas psicológicas úteis em seu trabalho.
· Campanhas de prevenção social diante da criminalidade e meios de comunicação: elaboração e assessoramento de campanhas de informação social para a população em geral e de risco.
· Investigação: estudo e investigação de problemáticas ligadas à Psicologia Jurídica.
· Vitimologia: investigar e contribuir para a melhora da situação da vítima e sua interação com o sistema legal.
· Mediação: propiciar soluções negociadas para os conflitos jurídicos, por meio de uma intervenção mediadora que contribua para amenizar e prevenir danos emocionais, sociais, e apresentar alternativas legais, onde as partes possuem papel importante.
Caro aluno, gostaríamos que você atentasse para o fato de que essas funções apresentadas anteriormente só vêm reforçar a condição de que tanto as normas morais, bem como as normas jurídicas apresentam um conteúdo psíquico, ou seja, emocional.
“Criadas pelos homens, a eles se destinam [...]. A emoção, fazendo o sujeito aprovar ou desaprovar uma forma de conduta, transporta-o da ordem dos fatos para a ordem das normas. Transmuta-o do registro da natureza para o da cultura” (TRINDADE, 2004, p.35).
Enfim, é importante que o operador do Direito saiba que a quase totalidade das questões jurídicas está relacionada a uma conduta humana, de cuja determinação dependem decisões judiciais que, ao incidirem na vida do indivíduo, promovem alterações na sua vida social, no seu patrimônio e no seu comportamento. Diante desta realidade e da crescente e feliz percepção de que o poder judiciário vem buscando laudos, perícias, consultorias e assessoramentos que possam determinar as reais motivações do comportamento humano, evidencia-se, cada vez mais forte, a importância do trabalho interdisciplinar entre os profissionais da Psicologia e do Direito.
Ocampo é vasto, só precisa de bons e interessados profissionais.
Diante do exposto, podemos perceber que desde o surgimento da vida em sociedade sempre existiram regras e costumes que disciplinavam a vida dos membros de uma sociedade. A convivência pacífica e justa entre os povos dependia de tratados e acordos que fixavam este relacionamento, o que já pode ser considerado como um avanço do percurso da sociedade ao direito. Vimos também que direito e psicologia coexistem, ou seja, não haveria um se o outro 
não existisse. A Psicologia e o Direito são ciências que se completam por estudarem praticamente o mesmo objeto, que é o homem e o seu bem-estar.

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