Buscar

Aula-antecedente

Prévia do material em texto

ANTECENDENTES DA CONSTITUIÇÃO – Teoria Geral do Estado
Prof. Sérgio Tibiriçá Amaral
Leitura obrigatória da obra CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL (Manuel Gonçalves Ferreira Filho – qualquer edição) 
1) Gregos
Data da Antigüidade a percepção de que, entre as leis, algumas há que organizam o próprio poder. São leis que fixam os seus órgãos, estabelecem as suas atribuições, numa palavra, definem a sua Constituição. Na célebre obra de Aristóteles, “A política”, está clara essa distinção entre leis constitucionais e leis outras, comuns ou ordinárias. Os Gregos – já identificavam 2 tipos de normas – Nomoi e Topoi. Nomoi – eles se reuniam na Ágora = assembléias na Eklesia (Igreja), local de encontro (Igreja é diferente de Templo que é o local físico) e lá faziam leis para o cotidiano.
-	nas Ágoras faziam-se as normas do dia-a-dia – nomois – leis por votação direta. Os cidadãos recebiam doação (jetons = auxílio pecuniário) para incentivar a participação.
-	eram 108 Estados gregos – praticavam na época a democracia direta. 
-	os gregos já reconheciam leis maiores e menores.
Topoi – oráculos – eram as normas superiores, de caráter religioso, quase que imutáveis e que não se contestavam. Somente na época das olimpíadas poderiam eventualmente ser mudadas.
Oráculos – local onde os deuses davam seus pareceres.
DIREITO NATURAL – também aparece com os gregos. 
Ex.: na obra Antígona, de Sófocles, terceiro livro da trilogia – a heroína questiona o Rei Creonte sobre os direitos naturais de seu irmão morto e deixado sem sepultura. Os povos da Antiguidade temiam mais a falta da sepultura do que a própria morte – acreditavam que se tornariam almas penadas se ficassem sem sepultura.
Dois irmãos, sobrinhos do Rei Creonte lutavam pelo poder, um contra o rei e este, com um edito real, impediu que fosse sepultado por ser seu inimigo e tivesse o ritual de passagem.
A irmã – Polinice – pergunta ao tio, Rei Creonte, se ele é Zeus (deus), invocando as regras do Direito natural, que não podem ser revogadas pelo rei, que não estão à disposição dos seus poderes reais.
-	essa é a primeira vez que se invocava o Direito Natural – art. 5º. CF/88, hoje, diz que é inerente ao cidadão, a vida, estar vivo, o sepultamento, etc...
Duas contribuições dos gregos: divisão das leis (nomoi e topoi) e Direito Natural
2) Romanos – influenciaram muito do Direito e até hoje inspiram constituições, como a nossa.
-	reconheciam normas de Direito Público e Privado, normas superiores e normas populares – responsabilidade civil
Topus - lei que estipulava, por exemplo, que uma legião de soldados romanos poderia entrar em Roma (só parte desta, mais ou menos 20 soldados).
Ditadura – durante as crises do Estado Romano (uma guerra, por exemplo) era decretada a ditadura, paravam o Senado, e um 1 só legislava na emergência.
O Direito Romano dominou o mundo por 12 séculos. Os gregos estão para a Filosofia como os romanos estão para o Direito.
3) Código de Manu e Hamurabi
Manu - Índia – brâmades – topo – 5 castas – paria (partes do corpo) e pés. Era um código de classes sociais onde as classes inferiores recebiam os piores tratamentos 
Código de Hamurabi – está no Museu do Louvre, em Paris. Escrito num grande pedra preta, um código de leis feito pelo Rei da Babilônia.
4) EUROPA - Forais, Cartas de Franquias, Pactos de Vassalagem, Covenants e Leis Fundamentais do Reino (França) 
-	o Feudalismo imperava na Europa
-	Surgem os primeiros bancos para intermediação da relação comercial na entrada das feiras livres. 
O banqueiro judeu ficava sentado num banquinho na entrada das feiras e guardava o dinheiro para troca comercial. Não tinham feiras aos sábados porque era o dia sagrado e de jejum do judeu, coisa que até hoje acontece por aqui.
Características desses documentos: OUTORGAS – eram direitos escritos e deveres concedidos pelo senhor feudal. Nestas estavam configurados os direitos e deveres dos vassalos
4.1) Forais, Cartas de Franquias e pactos têm semelhanças.
-	nesta época, esses documentos ainda estavam sujeitos ao poder absoluto do rei
Vassalos				 Senhor Feudal
Homenagem - soberano, estima pelo rei, reverência,	
defensium – defendia de ataques de outros feudos 
auxílio – auxulium – prestar auxílio na colheita	
protecsium – defendia da doença, da peste - assitência
conselho – consilium -	aconselhavam o senhor feudal
beneficium – festas, casamentos
serviços – segurança, militar, exército, proteção (força) dos inimigos
warrant – garantia, fiador do servo
senhor feudal 
resumindo: vassalos - homenagem, auxílio, conselho, serviço militar – para com o senhor feudal
senhor feudal - proteção, benefício, defesa e garantia de pagamento de dívidas.
5) MAGNA CARTA LIBERTATUM
A partir de uma abordagem histórica, um relato de antecedente importante é documento britânico, que trouxe alguns dos princípios essenciais dos institutos da democracia moderna, como o devido processo legal, o habeas-corpus, o tribunal do júri e a vedação do confisco na tributação, que limitaram os poderes do monarca e continuam impondo restrições nos dias atuais. Registra-se também, a partir da Magna Carta uma nova ordem imperativa, cujo princípio é basilar para o funcionamento da magistratura, qual seja, o dispositivo que assegura que a Justiça não será vendida, denegada ou retardada. 
Em 10 de junho de 1215, os barões revoltados com o péssimo governo e os fracassos do rei, tomaram com suas tropas a cidade de Londres e forçaram o monarca a aceitar um documento conhecido, posteriormente, como os “Artigos dos Barões”. A assinatura ocorreu no dia 15 de junho, mas o rei João sem-Terra escreveu seu nome no documento pretendendo não cumpri-lo, pois colocou o sinete real mediante coação das tropas dos nobres. Em troca do selo real colocado na ilha de Runnymede (arredores de Londres), os barões renovaram os seus juramentos de fidelidade no dia 19 do mesmo mês e retiraram o cerco. Logo que teve condições de preparar um exército, o rei João deu início a uma guerra contra os nobres, a fim de não cumprir o que acordou. Os problemas estavam em três frentes: querela religiosa dos bispos, que acabou por acarretar a excomunhão de João pelo Papa; a guerra na França e a perda de territórios e os desdobramentos do governo centralizado com gastos desproporcionais e impostos pagos pelos barões entre outros tantos fracassos�.
Ao mesmo tempo, João sem-Terra entrou em choque com o Vaticano, pois forneceu apoio ao seu sobrinho o imperador Óton IV, no conflito contra o rei da França. O problema com o papa alcançou também uma disputada chamada de querela das investiduras. João recusou-se a aceitar a designação de Stephen Langton como cardeal de Canterbury, sendo por isso excomungado pelo Papa Inocêncio III, que reinou entre 1198 e 1216. A disputa entre o Poder Real e o Vaticano denominado de “querela das investiduras” surgiu ainda no século XI. Tratava-se de uma disputa para nomeação de bispos nos seus respectivos territórios.
      João era denominado “Lackland” não somente pela perda dos territórios ingleses tomados por Felipe Augusto, de França, que ficou patente na derrota durante a Batalha de Bouvines, em 1214. Por ser filho mais novo, não havia recebido “terras” como herança, ao contrário dos seus irmãos mais velhos. Foi com base no direito feudal que João foi julgado vassalo infiel e condenado, em 1202, pela corte real (Curia Regis ou la Court du Roi) do rei da França, à perda das terras feudais que ele e seus genitores tinham�.
João morreu de disenteria em outubro de 1216, quando comandava uma batalha dentro da guerra contra os barões para tentar não cumprir o documento. Todavia, os barões estavam bem preparados e mesmo que João não morresse, poderiam derrotá-lo. 
O pacto com os barões ratificou as leis anteriores, como os pactos de Eduardo, o confessor, e a Constituição dos saxões, onde já figuraram alguns direitos como a livre-caução (frank-pledge). 
Como afirmaPontes de Miranda, o pacto de 1215 não fora lei de reforma: iniciava período novo, com ser o produto de verdadeira conquista libertária, embora consistisse, em sua máxima parte, na confirmação do velho direito saxônico�. Todavia, as leis anteriores muitas vezes eram descumpridas e a partir da mobilização dos barões, passaram a ser exigidas.
       O documento original de 15 de junho de 1215 foi elaborado pelos barões e não pelo rei, com outros pactos celebrados na ilha. Sofreu, posteriormente, diversas modificações com o passar dos anos�. Alguns capítulos foram modificados, outros acrescentados e diversos suprimidos ou considerados obsoletos. Henrique III, filho de João, assinou a carta ainda como menor de idade, mas o documento do regente de nove anos de idade já continha modificações, entre elas a supressão da cláusula número 61 inclusive. Quando atingiu a maioridade, aos 18 anos, em 1225, Henrique republicou o documento mais uma vez, com uma versão ainda mais curta, com apenas 37 dispositivos, também pressionado pelos nobres.
	Com a morte de Henrique III, em 1272, a Magna Carta já estava definitivamente incorporada ao direito inglês, o que impossibilitaria uma revogação. Os barões, que já faziam parte do que depois se tornou o Parlamento, obrigaram Eduardo I, filho e sucessor de Henrique III, a republicar o documento em 12 de outubro de 1297. Esse documento ficou conhecido como “Confirmatio Cartarum”, que reconhecia a versão curta assinada pelo seu avô, o rei João. 
A Carta de João sem Terra foi confirmada por diversos soberanos: sete vezes por Henrique III, três vezes por Eduardo I, catorze vezes por Eduardo III, seis vezes por Ricardo II, seis vezes por Henrique IV, uma vez por Henrique V e uma vez por Henrique VI�. 
Cada soberano, até o século  XV, teria jurado respeitar seu texto curto�, que somente seria ignorado pelos reis da dinastia Tudors (1485-1603), que transformaram a Inglaterra num Estado nacional pela ruptura com os antigos domínios franceses. Isso foi possível pelo enfraquecimento do feudalismo e aspiração da pequena nobreza e da burguesia por um poder centralizado. 
Os Stuarts (1605-189), casa escocesa ascendeu ao trono inglês pela falta de descendência de Elizabete ou Isabel I (1533-1603), não implantaram a mesma política, mas foram também bastante pressionados para reconhecer direitos de tempos imemoriais�. Acabaram tendo que assinar alguns outros “bills” e reconhecer direitos de tempos imemoriais contidos na Magna Carta. 
   	Mas, para se checar ao Bill of Rigths foi preciso inicialmente que fosse reconhecidos e garantidos alguns dispositivos da versão inicial, que formalmente, pode ser considerado como um documento sucinto. Entretanto, para a época, era até mesmo longo. O fato de ser um documento escrito, definindo, minuciosamente, os direitos da realeza e os limites impostos à autoridade real, é de suma importância, porque possibilitou a fixação de hábitos e costumes, evitando que, no futuro, soberanos arbitrários impunemente abusassem de seus poderes. Vale lembrar que por ser escrito em “latim bárbaro”, a maior parte das pessoas comuns ignorava os dispositivos, que muito mais tarde foram traduzidos para o inglês.
      O que se deve ressaltar é que embora não se perca o momento histórico, necessariamente tem que se atribuir à Magna Carta o valor basilar de um princípio que permeou a vida dos ingleses.
      	Sempre tendo em mente os aspectos acima ressaltados, ou seja, o entendimento dos dispositivos do documento com o enfoque  próprio  e uma época feudal, cabe agora a análise de alguns dos seus legados, em especial aqueles que tiveram reflexos na história da Inglaterra e, porque não dizer, na própria concepção moderna de direitos e de garantias do indivíduo perante o Estado, que inclusive estão na Constituição do Brasil de 1988.
5.1.)LEGADOS DA MAGNA CARTA
I	tribunal do júri – julgamento pelos iguais, pares ( 5.XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
II.	duo process law – devido processo legal (direito individual- 5.º - LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
 III.domicílio inviolável – Art. 5.º XI ninguém pode violar o domicílio, nem a autoridade real
IV.anterioridade tributária – só se pode criar um tributo num ano e cobrar no outro (artigo 150, III “b” – princípio da anterioridade tributária).
V.hábeas corpus 5.º LXVIII- conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder
VI.	juiz natural – julgamento pelo juiz da Comarca, do local, não podendo ser manipulado por interesses próprios (artigo 5.º, incisos – XXXVII): 
São todos direitos e garantias individuais, inclusive o dispositivo do artigo 150, III, “B’, que foi reconhecido pelo STF com base no parágrafo 2.o, do artigo 5.o.
6) Outras declarações(bills) da Inglaterra
	Depois da Magna Carta, outros pactos foram celebrados entre os reis ingleses seus súditos. O “Petition of Rights”, de 1628, obrigou ao rei Carlos I o respeito aos direitos de tempos imemoriais. Com a “petition”, ninguém ficava mais obrigado a contribuir com qualquer dádiva, empréstimo ou benevolência, sem consentimento de todos. Coke, Eliot e Sir Thomas Wentworth, em nome do Parlamento conseguiram, ao menos de forma temporária, a proibição de cobrança de impostos sem autorização do Parlamento, bem como a vedação de prisão sem culpa formada durante o processo. 	
	 No ano de 1679, outro importante “Bill”, o Hábeas Corpus� Act (Ato de Hábeas Corpus) que dava o direito de reclamação ou requerimento de pessoas detida ou acusada e obrigava o lorde-chanceler a soltar ou arbitrar fiança, sob pena de ser responsabilizado. O hábeas corpus já existia na Inglaterra antes da Magna Carta, mas durante os agitados anos que reinaram a dinastia Stuart, os últimos soberanos católicos, o Parlamento, de maioria protestante, procurou de todas as formas limitar o poder real, em especial o poder de prender os opositores políticos, sem submete-los ao devido processo legal. A importância constitui no fato de que essa garantia judicial, criada para proteger a liberdade de locomoção, tornou-se a matriz de todas as que vieram a ser criadas posteriormente, visando a proteção de outras liberdades fundamentais�.
	Em 1689, o Bill of Rigths é uma verdadeira “constituição”. Afasta o ramo Stuart católico do trono inglês e cria uma duarquia, com William e Mary (Guilherme de Orange, príncipe holandês) e Mary Stuart (filha do 1.º casamento de Jaime II). O documento avança em direitos e garantias e passa a regular o lançamento de impostos, a liberdade nas eleições, regulamenta o porte de arma e dá imunidades aos parlamentares.
	Durante todo o século XVII, a Inglaterra foi agitada por revoltas, rebeliões, guerras civis e perseguições políticas e religiosas. Carlos I foi deposto, condenado à morte e executado em 1642, sob a acusação de tentar restabelecer o catolicismo como religião oficial. Após uma ditadura cruel liberada por Oliver Cromwell�, que se estendeu até 1658, à dinastia Stuart, restabeleceu o trono. Carlos II, que reinou até 1685, logrou se manteve fiel à fé católica e logrou êxito em abafar todas as revoltas. Durante os quatro últimos anos do seu reinado, dispensou a convocação do Parlamento para votação de impostos, graças ao apoio que recebeu do seu primo Luís XIV. Apoio que só fez aumentar o descontentamento, pois tinha uma relação de parentesco e também de poder com um inimigo secular, a França.
	Sucedendo a Carlos II, seu irmão Jaime II suscitou contra si, em pouco tempo, a oposição mortal da nobreza e do alto clero anglicano. Em 1688, o nascimento de um herdeiro do trono, filho de uma princesa católica e espanhola, fez com que a rebeliãoque fermentava há anos, se torna uma realidade.
	Convidado por um grupo de sete nobres dos dois partidos políticos da época (Whigs e Tories) a assumir através de uma duarquia o trono da Inglaterra, o príncipe Guilherme de Orange chegou em Torbay em 5 de novembro. No dia 11 de dezembro, Jaime II fugiu para a França. Reunido por sua própria iniciativa, o Parlamento declarou então vago o trono da Inglaterra. Além de Guilherme de Orange, assumiu também o trono Maria de Stuart, filha mais velha de Jaime II, que era protestante. Os novos soberanos William III e Maria II aceitaram o Bill of Rigths votada pelo Parlamento, que passou a constituir uma das leis fundamentais do reino.
	A partir do Bill of Rigths, a idéia de um governo representativo, ainda que não de todo o povo, mas pelo menos de suas camadas superiores, começa a firmar-se como uma garantia institucional indispensável das liberdades civis�. 
O Ato de Tolerância (Act of Seattlemente – 1701) estabeleceu a liberdade de culto apenas para os protestantes (Quakers, Anabatistas, Presbiterianos e Anglicanos) e limitou ainda mais as prerrogativas reais. O documento assegurou o princípio da inamovibilidade dos juizes e também o impechment dos magistrados �, estabeleceu leis iguais para todos e ainda regulou a sucessão ao trono. 
Esse documento veio também reconhecer vários pactos chamados “covenants”, que haviam sido celebrados anterior na Grã-Bretanha e nas colônias da América do Norte, que asseguravam direitos religiosos. Os covenants serão analisados abaixo.
7) Portugal -Na história dos tempos medievais vamos encontrar referências a uma ordem constitucional, contidas no Foral de Leão, que foi aceito pelas Cortes, desde 1188, como pacto político civil entre os nobres e D. Afonso IX. Assegurava o Foral uma boa administração de justiça, a inviolabilidade do domicílio, o direito de propriedade etc., além de conter solene promessa do Rei de não promover a guerra nem fazer a paz “senão de acordo com o conselho dos bispos, nobres e homens bons, pelo qual devo reger-me”�.
8)COVENANTS
O “covenant” era, inicialmente, uma aliança celebrada entre os súditos e o rei, visando garantir um antecedente de direito constitucional estipulado formalmente, ou seja, era elaborado um tipo de documento formal, escrito e com assinatura da autoridade concedente, no qual constava o destinatário ou destinatários dessas concessões. Seu caráter inaugural é religioso e inspirado na doutrina da Reforma e a autoridade concedente era o monarca. É praticamente uma lei escrita entre as partes, embora fosse uma outorga do soberano para com um ou mais súditos visando uma liberdade ou prerrogativas religiosas e, posteriormente, direitos de tempos imemoriais. Essa promessa de contrato solene, normalmente, era firmada debaixo de um selo, a fim de assegurar o seu cumprimento e o respeito. Talvez a denominação melhor fosse mesmo “aliança” utilizada por alguns doutrinadores, numa referência a “nova aliança” feita com por intermédio de Jesus. Não era um instituto do hoje direito privado, pois se tratava de um documento avalizado pelo poder soberano do monarca, representante do poder do reino, e um servo, embora fique difícil uma comparação. Era um tipo especial de pacto cuja origem é eminentemente religiosa, sinônimo daquela “aliança”, embora não se limite somente aos aspectos eclesiásticos. 
A liberdade religiosa englobava outras prerrogativas, como liberdade de liturgia, de expressão, de publicação de obras reformadas, de se opor ao poder civil considerado contrário às Escrituras e de organização de uma igreja, bem como o direito à educação para poder ler as Escrituras. A prerrogativa dessa liberdade envolve até mesmo não servir o exército em guerras consideradas injustas ou se opor às leis contrárias.
O substantivo pacto significa, segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa� “ajuste”, “convenção” ou “contrato”. Estes três substantivos são também usados para definir o significado do substantivo “aliança”. Diferentes versões da Bíblia em português usam os substantivos pacto, aliança, acordo ou concerto para traduzir o substantivo hebraico “berith” que aparece 290 vezes no Antigo Testamento�. Para todos esses sinônimos a idéia básica que encontramos é a de união entre duas partes, um pacto ou acordo bilateral, mas que estabelecia um dos valores e que os pactuantes regiam-se por um direito próprio�. 
Durante a viagem de navio, os puritanos, na sua maioria presbiterianos, fizeram uma reunião muito importante para a história norte-americana, mas também para o futuro governo das colônias. Os passageiros no total de 102, incluindo mulheres e crianças não formavam um grupo homogêneo. Trinta e cinco deles eram presbiterianos, mas havia outros protestantes de outras denominações(anabatistas, quackers etc..), que cultivavam o propósito de viver em paz de acordo com suas convicções religiosas. Havia um pequeno grupo movido pelo desejo de mudar de vida, construir uma nova sociedade e também fazer fortuna.
Depois de uma forte tempestade na costa americana, os viajantes acabaram desembarcando 200 quilômetros mais ao norte, diante do Cabo Cod, fora dos territórios combinados com a companhia. Todos foram abandonados à própria sorte. Para dar valor legal à fixação na costa americana, e também, com intuito de se protegerem, redigiram e assinaram um documento precioso, comprometendo-se a estabelecer um governo próprio, que se orientasse por dispositivos escritos e ditados pela busca do bem comum. Foram signatários da ‘nova aliança’, no dia 21 de novembro de 1620, 41 adultos�. 
Dessa forma, “os peregrinos do Mayflower não invocaram a Carta Régia que lhes servisse de normas, mas o seu próprio Pacto do Mayflower, uma aliança que é considerada a primeira constituição escrita do mundo�. 
Depois que juraram todos, sob a Bíblia, manter a ordem legal instituída, os peregrinos começaram a construir seus lares, em meio às experiências comuns a todos os pioneiros na história dos Estados Unidos�. Vale ressaltar que a carta elaborada em alto mar é um documento feito exclusivamente pelos chefes de família, que asseguravam direitos individuais, entre os quais a liberdade religiosa, a liberdade de expressão e a liberdade de portar armas. 
O Compact foi um documento que teve reflexo nas futuras constituições do País e nas Cartas Políticas de todo o mundo�. Trata-se de um pacto de caráter político, social e religioso, portanto, um tipo de “covenant”, embora tivesse também aspectos formais dos contratos de colonização.
A igualdade essencial de condição jurídica do indivíduo foi bem marcada, desde o início da colonização, no protodocumento que não por acaso começa com a frase:
“Em nome de Deus, Amém. Nós, cujos nomes vão subscrito, súditos fiéis de nosso respeitável soberano Senhor Rei Jaime, rei da Grã-Bretanha, da França e da Irlanda, defensor da fé, havendo empreendido, para a glória de Deus e progresso da fé cristã, e honra de nosso rei e país, uma viagem para estabelecer a primeira colônia no Norte da Virgínia, pelos presentes, realizamos solene e mutuamente, na presença de Deus, uns perante os outros convencionamos a nossa aliança e a constituição de um corpo político civil, para garantir uma ordem e proteção maiores, aa busca dos objetivos precedentes citados; em virtude dos quais, decretar, redigir e conceber e promulgar leis justas e iguais, autorizações, ordenações, atos, constituições e ofícios públicos, de tempos em tempos, como for julgado mais adequado e conveniente para o bem geral da Colônia, ao qual prometemos todos a devida submissão e obediência que lhe são devidas. Dando fé a esse documento, escrevemos abaixo nossos nomes. Em Cap Cod, 11 de novembro do ano do reino de nosso senhor Jaime, décimo oitavo rei da Inglaterra, da França e da Irlanda, e qüinquagésimo quarto rei da Escócia. Anno Domini. 1620”.
O movimento pioneiro de colonização britânica na América do Norte foi provocado pela intolerância religiosa contra os protestantes, ora porcatólicos, ora por anglicanos�. Fica patente a idéia de estabelecimento e organização de um auto-governo pelos próprios signatários, que é um dos pilares da Constituição. Desde o início, os puritanos manifestaram o desejo de se organizar em um corpo político civil utilizando como modelo o que desenvolviam nas igrejas. Os protestantes eram perseguidos na Grã Bretanha, mas assinaram anteriormente com o rei “covenants” com objetivo de garantir a estes, educação, liberdade religiosa, alfabetização e principalmente, um novo modo de vida em sociedade.
Do mesmo modo que estabeleceram em 1620 o Compact, outros pactos, covenants, bem como contratos de colonização e cartas foram celebrados não apenas em Massachusetts. Algumas experiências de grupos protestantes dissidentes foram muito ricas para a democracia e a construção dos direitos fundamentais. 
 Entre 1630 a 1640, em ondas sucessivas, cerca de 20 mil ingleses desembarcaram em Massachusetts. Do Maine ao Connecticut, comunidades foram aparecendo com freqüência, embora isoladas uma das outras, eram semelhantes. As atividades laborais eram variadas, entre as quais caça, pesca e agricultura, mas as cidades eram governadas por conselhos.
Sem desmerecer o trabalho em busca de direitos das demais colônias, além da pioneira Massachusetts, outros dois redutos puritanos se destacaram na obtenção do que os reis chamavam de privilégios: Rhode Island e Connecticut. 
As inclinações democráticas das cidades de Massachusetts não foram suficiente para satisfazer os dois rebeldes mais destacados, Roger Williams e Thomas Hooker�, que eram membros respeitados do clero puritano e com considerável reputação. Mas, no tocante a doutrina, tinham dois poderosos adversários, o governador John Winthrop e o reverendo John Cotton.
Para discordar das questões doutrinárias relativas à democracia, Williams não teve escolha, sendo obrigado a fugir, pois queria uma liberdade ainda maior da qual existia e era um avanço em relação à Nova Inglaterra, que já havia se distanciado da Grã-Bretanha. Todavia, por achá-la ainda insuficiente foi para o sertão, fundando Providence. Ali se reuniram outros dissidentes da mesma opinião, inclusive Anne Hutchinson e alguns dos seus seguidores. 
Williams logo no início da povoação de Rhode Island, por volta de 1644, escreveu um manifesto, que na colônia, protestantes de todas denominações e católicos, além de judeus e ateus, podiam, viver juntos e em paz�. Foi o pioneiro na liberdade religiosa, que hoje está na Constituição Federal como cláusula pétrea.
9)CONTRATOS DE COLONIZAÇÃO
-	Compact – 1620 – foi um covenant, mas o documento assinado antes de chegarem nos Estados Unidos também marca a estréia de um novo tipo de antecedente, os contratos de colonização. Foi elaborado dentro do Navio Mayflower – puritanos que vieram fugidos da Inglaterra em busca de um lugar melhor – perseguição religiosa.
-	puritanos – Reforma Protestante – Calvinistas e Luteranos – anabatistas, quakers, presbiterianos, que vieram embora para a nova terra para nunca mais voltar. Principal vontade: liberdade religiosa, andar armado, ensino, educação e ler a Bíblia.
-	católicos e anglicanos – somente essas religiões assumiam o trono inglês, mas uma perseguia a outra.
14. colônias americanas (13 independentes, além do Canadá que continuou fiel à coroa britânica) – para colonizar as terras americanas, o rei inglês deu terras e os donos vão fazer com os monarcas, contratos de colonização – eram documentos escritos para assegurar direitos individuais aos cidadãos durante a colonização.
	Os contratos de colonização também são antecedentes da Constituição, pois os proprietários das colônias, como William Penn (fundador da Pennsylvania – Floresta de Penn), outorgavam direitos aos colonizadores, que posteriormente reconhecidos pelos reis. Garantiam a propriedade da terra a isenções tributárias para os fossem residir por lá, bem, como asseguravam outros “direitos” que havia nas outras cidades: educação, liberdade religiosa e organização social participativa.
Durante as perseguições religiosas, os reis com a finalidade de aliviar as tensões e proporcionar a ampliação do comércio, assinaram vários documentos para que novas colônias se estabeleçam na América do Norte. Vieram depois desses contratos de colonização, as leis locais, já celebradas com a garantia de alguns direitos.
A importância das igrejas foi fundamental para o desenvolvimento da colônia, pois não havia analfabetos nas cidades protestantes, pois todos tinham obrigação de ler as Escrituras. Além disso, o modelo de comando das igrejas idealizado por João Calvino foi transportado para o comando da sociedade civil. As igrejas decidiam seus principais temas em assembléia no caso dos batistas ou por meio dos seus representantes, como no modelo presbiteriano.
10) Fundamental Orders of Connecticut – 1639 
Os também puritanos dissidentes, mas seguidores do líder religioso Thomas Hooker foram para o oeste, ao longo das fronteiras de Massachusetts. Organizaram e passaram a viver em uma comunidade que, em sua democracia, situava-se entre as de Rhode Island e da originária de Boston. Um Governo rudimentar era provido a princípio por um Tribunal Geral, que em 1639 regularizou sua posição com o estabelecimento das Fundamentais Ordens de Connecticut., mas tarde reconhecidas pelas mãos do rei Carlos II, que posteriormente às incorporou à Carta outorgada em 1662�. 
A região que constitui atualmente o Estado americano de Connecticut era habitado, antes da chegada dos primeiros exploradores europeus na região, por diversas tribos de nativos americanos pertencentes à família ameríndia dos algonquinos.
O primeiro assentamento europeu de caráter colonizador e permanente fundado por colonos ingleses dissidentes vindos de Massachusetts, incluem as cidades de Hartford, New London, Saybrook, Wethersfield e Windsor, durante as décadas de 1620/1630. Em 1636, as povoações de Hartford, Wethersfield e Windsor uniram-se para formarem juntas uma única colônia, a ''Colônia de Connecticut'', que adotou uma forma teocrática de governo. Dois anos depois, New Haven foi fundada, como uma nova colônia. Outras pequenas cidades espalhadas no atual Connecticut aderiram à colônia de New Haven em 1743. 
Os colonos de Connecticut haviam saído da Inglaterra em busca de liberdade político e religiosa. Em 1638, Thomas Hooker passou a discursar pelo fim da teocracia e pela implementação de uma forma democrática de governo. Em 1639, o Connecticut adotou as "Ordens Fundamentais". Este documento, que deu aos habitantes da colônia de Connecticut, é vista por muitos como a primeira Constituição escrita dos EUA.
Até a década de 1660, diversos assentamentos ingleses na região juntariam-se à Colônia de Connecticut. Em 1662, o monarca inglês cedeu a John Winthrop, um habitante da Colônia de Connecticut, uma faixa de terra de 117 quilômetros de comprimento, ao longo da Baía Narragansett, incluindo também a Colônia de New Haven. Este ato do monarca inglês significou efetivamente a fusão do último assentamento independente com a Colônia de Connecticut. Os habitantes de New Haven inicialmente protestaram contra a medida, mas concordaram com a fusão em dezembro de 1664, tendo o processo de unificação completado-se em 1665.
Em 1686, Edmund Andros foi escolhido pela coroa inglesa para tornar-se o primeiro governador da realeza do Domínio da Nova Inglaterra. Andros afirmou que ele e seu governo real haviam anulado a licença instituída pelo monarca inglês em 1662, e que o Connecticut passaria a fazer parte do Domínio da Nova Inglaterra. 
Os moradores de Connecticut inicialmente ignoraram Andros, mas este desembarcou na colônia em outubro de 1687, com tropas e uma esquadra de guerra. O então governador do Robert Treat, não teve escolha senão dissolver a assembléia legislativa da colônia. Andros encontrou-se com Treat e a Corte General na noite de 31 de outubro de 1687.
Andros elogiou a forte indústria e o governo do Connecticut,mas depois ler sua carta de comissão, exigiu a devolução da licença instituída pelo monarca inglês em 1662 de volta. Na medida em que o documento fora colocado na mesa, as velas que iluminavam a construção foram apagadas. Quando tais velas foram novamente acessas, o documento havia sumido. A lenda diz que tal documento fora colocado em uma árvore de carvalho, que se tornaria conhecida, posteriormente, como ''Charter Oak''.
Andros considerava as colônias de Nova Iorque e Massachusetts como as partes mais importantes do domínio, tendo, inicialmente, ignorado Connecticut. Além de alguns percentuais de impostos enviados para a capital da Nova Inglaterra, Boston, o Connecticut também ignorou em sua maior parte o novo governo unificado da região. 
Mas quanto os moradores de Connecitcut souberam da Revolução Gloriosa e que os habitantes de Boston forçaram Andros para o exílio, houve dupla comemoração. A primeira pelo afastamento de um rei católico e a segunda pela destituição do antigo desafeto. Os membros da corte de Connecticut juntaram-se em 9 de maio de 1689, onde em uma votação, restabeleceram a licença da Colônia de Connecticut, tendo reeleito Robert Treat como governador da colônia.
-	eram 13 colônias americanas diferentes, como países distintos, comandadas por leis e sistemas diferentes conseguidos por meio de diferentes outorgas e pactos celebrados com diversos monarcas britânicos em diferentes momentos:
-	William Penn – Pensilvânia e Thomas Horn – Virginia (ganharam as terras de presente do rei) e as demais com diferentes concessões para exploração comerciais e privilégios e forte organização religiosa.
-	New York era holandesa
Lousianna era posse francesa e até hoje, tem direito igual ao nosso, ou seja, CIVIL LAW ao invés de COMMON LAW.
CARTAS DA VIRGÍNIA
A Carta da Virgínia durou pouco. Mas, é primeira Constituição do mundo do chamado modelo liberal, ou seja, com um documento escrito que organizava os poderes e organizava o Estado e ainda trazia uma carta de direitos.
Merece atenção especial pela luz que ela lança então sobre a situação civil e política da colônia, mas também pela questão religiosa, embora não possa ser descartada, posteriormente, a questão tributária, que levou a chamada Tea� Party, em Bouston�. A questão religiosa é fundamental na colonização, embora a questão dos impostos cobrados pelo rei, vá determinar o movimento de independência.
No preâmbulo, o documento estabelece uma carta de intenções: “propagar a Religião Cristã ao Povo que ainda vive nas Trevas e na miserável ignorância do verdadeiro Conhecimento e Adoração de Deus” e ainda fala em “trazer os Infiéis e Selvagens, que vivem nessas Partes, à Civilidade humana e a um Governo estabelecido e tranqüilo”�. 
Como tradicionalmente ocorria, a pedidos dos súditos, a carta é um tipo de covenant e diz ainda: “por estas nossas Cartas Patentes, Nós graciosamente aceitamos seus humildes e bem intencionados Desejos e com eles concordamos”�. 
A presença desse segundo núcleo de puritanos vai ser de vital importância para a história dos Estados Unidos da América do Norte, mas também para o surgimento dos direitos e garantias individuais, pois todas as cartas americanas fazem referência direta ao objetivo da associação política�.
	A religião puritana ou reformada, na sua maioria presbiteriana na colonização inicial, era a força dominante na vida do povo, pois a vida social era cheio de zelo, disciplina e princípios cristãos.� No entanto, a partir da produção de produtos, esses grupos se sentem oprimidos pelo poder central.
 Havia uma concepção cristã de vida dos colonizadores, que estabelecia igualdade entre todos os membros da comunidade, chamados de “irmãos”, pois eram seres criados a imagem e semelhança de Deus. Buscavam a felicidade e o desenvolvimento, por meio do trabalho que lhes dava prosperidade econômica.
Algumas dessas colônias, não eram apenas da coroa britânica, mas dos seus senhores, como ocorre na Carolina do Norte e Pensilvânia recebem cartas de liberdade e privilégios, que foram decisivas para reger os princípios fundamentais do governo e da organização�.
Muitas dessas cartas somente contem a confirmação de um tipo de documento escrito e assinado, um tipo de “constituição”, com as outorgas que haviam sido dadas anteriormente aos próprios interessados, com especial destaque para a liberdade religiosa. As liberdades eram outorgadas pelo rei e o senhor proprietário, mas existiam e serviam de documento para as pessoas exigirem o que estava acordado.
 Os exemplos são Fundamentais Ordens de Connecticut, que surgiram dos contratos ou covenants anteriores assinados e firmados pelos puritanos, pelo o rei e também pelos proprietários da colônia. A carta de privilégios o rei Carlos II que concedeu a colônia foi documento que serviu de base para os direitos que foram confirmados pelo povo em 1776 como Constituição do Estado livre e substituída mais tarde, pela primeira vez em 1818, mediante uma nova Constituição. 
De igual modo Rhode-Island, fundada anteriormente por Roger Williams sobre a base de um contrato de colonização, recebeu sua “Constituição” em 1663 de Carlos II, com o monarca confirmando várias liberdades. Aliás, Williams será o primeiro a buscar uma liberdade religiosa total e a defender que a crença ou fé está numa esfera do indivíduo que não está ao alcance do Estado. 
Apesar de pastor protestante, Roger Williams que era batista manifestou-se que em sua colônia, todos protestantes independente da denominação, os católicos, os judeus e até mesmo os ateus poderiam viver juntos e em paz. Seus ensaios e sermões ocorrem por volta de 1644, o que havia sido feito anteriormente em Maryland, em 1632, por lorde Baltimore, embora a repercussão não tenha sido a mesma devido a proeminência de Williams, que era um líder carismático civil e religioso, bastante respeitado pelos protestantes por sua vida cristã. 
John Clarke e William Penn trabalharam com o mesmo espírito de liberdade religiosa nas colônias e, no século seguinte, ou seja, no XVIII, foram imitados por Thomas Paine, Benjamim Franklin, Thomas Jefferson, George Mason e James Madison.
	América do Norte acolheu muitos refugiados europeus, que fugiam de perseguições políticas, religiosas ou filosóficas. Entre os perseguidos migraram cristãos protestantes, judeus e também os humanistas, os defensores do contrato social e os deístas. Portanto, um grupo heterogêneo se estabeleceu no novo mundo, formando as treze colônias. Mas, não se pode deixar de ressaltar o papel dos cristãos reformados na construção da nação norte-americana. Os que não eram protestantes buscaram as colônias onde havia mais liberdade religiosa, a fim de evitar problemas e perseguições. Os contratos de colonização e os outros documentos outorgados serviam para a definição de onde os fugitivos procurariam se estabelecer. 
Talvez nenhum dos estados modernos tenha conhecido tão fortemente a marca da religião em sua formação. Formação foi à motivação dos cem ingleses pioneiros: os “Pais Peregrinos, que fundaram Plymouth�. Religiosa foi a motivação dos milhares de puritanos presbiterianos que vieram habitar Massachusetts e Connecicut; Também de caráter doutrinário foi a motivação do batista Roger Williams em fundar Rhode Island, do quacker William Penn em colonizar a Pensilvânia, do católico Lord Baltimore em fundar Maryland�, do anglicano Robert Hunt em fundar a Virgínia, ou dos exilados luteranos austríacos que, sob a proteção do general Oglethorpe, um jovem filantropo inglês, colonizaram a Geórgia.
11) LEIS FUNDAMENTAIS DO REINO – FRANÇA – REVOLUÇÃO
A existência de leis fundamentais que se impõe ao próprio rei é uma criação dos legislas franceses, empenhados em defender a Coroa, contra as fraquezas do próprio monarca. Afirmava essa doutrina que, acima do soberano e, portanto, longe do seu alcance, há regras que constituem um ‘corpo específico’, seja no tocante à sua matéria, seja quanto à sua autoridade e também quanto à sua estabilidade�.Quanto à sua matéria, que é a aquisição, o exercício e a transmissão do poder. No tocante à sua autoridade, as Leis Fundamentais eram superiores a legislação emanadas pelo Poder Legislativo Ordinário que são nulas se com elas conflitarem. Quanto à sua estabilidade, enfim, são imutáveis, como queriam alguns ou somente alteráveis pelos Estados Gerais, ou seja, assembléias que representassem todos os estados. É uma repetição aprimorada da doutrina nascida na Grécia. Busca-se demonstrar que a primeira dimensão de direitos teria surgido neste momento. Os Estados Gerais são a reunião das três ordens ou Estados (hoje diríamos classes) da sociedade da Idade Média: o nobre que luta, o clero que reza e o camponês (Terceiro Estado) que trabalha. Os mais importantes Estados Gerais ocorrem às vésperas da Revolução Francesa, quando Luís XVI reconquista a popularidade decretando que o Terceiro Estado terá tantos representantes (400) quanto o clero e a nobreza juntos, Mas não sabe aproveitar a situação para orientar as eleições e nem propor aos deputados algum programa de reformas. Acaba sendo destituído e morto na quilhotina. 
A França antes da Revolução está dividida em três grupos básicos ou estamentos. O clero é o Primeiro Estado, a nobreza, o segundo, e os cerca de 95 por cento restantes do povo, que inclui ricos burgueses até camponeses muito pobres, formam o Terceiro Estado. E é este último que, estimulado pelos ideais iluministas de liberdade e igualdade, se revolta contra os privilégios da minoria. Desde o reinado de Luís XIV, o "Rei Sol", a França encontra-se carregada de dívidas decorrentes das guerras de conquista da monarquia e da manutenção de uma corte pomposa, rodeada de uma nobreza parasitária.
Nobres - São apenas 2,5% de um total de 23 milhões de franceses. São isentos dos impostos e tem acesso aos cargos públicos, inclusive todo o Judiciário. Subdivide-se em: alta nobreza, cujos rendimentos provêm dos tributos senhoriais, pensões reais e dos cargos na corte; nobreza rural, que possui direitos de senhorio e de exploração agrícola; e nobreza burocrática, de origem burguesa, com altos postos administrativos. 
Clero – É o menor grupo, dois por cento população, embora muito padres fossem estrangeiros.Também não pagam de impostos. Apresenta um grande desnível entre o alto clero, de origem nobre e grandes rendimentos provenientes das rendas eclesiásticas, e o baixo clero, de origem plebéia, reduzido à subsistência.
Terceiro Estado – Integrado por 95% do povo francês, engloba a burguesia, os artesãos, o proletariado industrial e o trabalhadores do campo. A burguesia é composta por fabricantes, banqueiros, comerciantes, advogados, médicos. Os burgueses têm poder econômico, principalmente por meio da indústria e das finanças, mas é igualada ao povo, dentro do Terceiro Estado, sem direito de participação política, liberdade econômica e ascensão social.
� Barros, Sérgio Resende de. Direitos humanos: paradoxos da civilização, p. 347. “...Complacente, pródigo em liberalidade, João usurpou trono da ilha, sob forte oposição do continente, cujas tradições feudais preferiam a filiação à irmandade, na linha de sucessão”.
� Ganshof, Francis-L. O que é feudalismo?, p.212. Original: “Tandem vdero curia regis Franciae adunata adjudicavit regem Angliae tota terra sua privandum quam hactenus de regibus Franciae ipse et progenitores sui tenuerant, eo quod fere ominia servitia eisdem terris debita perlongum tempus facere contempserant nec domino suo in aliquibus obtemperare volebant”. 
� Pontes de Miranda, Francisco Cavalcante. História e Prática do Habeas-Corpus, p.14.
� Quintana, Segundo V. Linares. Tratado de La Ciencia del Derechor Constitucional, p.50, nota de rodapé n.º 85.No original “El documento original, redactado en latín, consta de uma sóla página escrita com letra pequeña y comprimida. Cuatro de las copias originales de la Carta han llegado hasta nuestro días y dos de elas se conservan en el Museo Britànico. Un tercer ejemplar se encuentra en los archivos de la catedral de Salisbury e un cuarto y último es guardado en la Biblioteca del Congreso de los Estados Unidos de América”
� Miranda, Jorge. Textos históricos do direito constitucional, p. 13. No mesmo sentido, Quintana, Segundo V. Linares. Tratado de La Ciencia del Derecho Constitucional, p. 50 
� Confirmatio cartarum.
� Costa, Nelson Nery. Curso de Ciências políticas, p. 93. O autor cita a guerra civil, em 1642, porque Carlos I, com sua administração e suas perseguições religiosa, havia provocado uma crise por não respeitas direitos e privilégios.
� Pontes de Miranda, Francisco Cavalcante. História e prática do habeas-corpus, p. 23.. O autor explica a natureza do instituto: “Habea-Corpus eram as palavras iniciais da fórmula no mandado que o Tribunal concedia, endereçado a quantos tivessem em seu poder, ou guarda, o corpo detido. A ordem era do teor seguinte: ‘ Toma (literalmente: tome, no subjuntivo, habeas, de habeo, habere, ter, exibir, tomar, trazer, etc) o corpo deste detido e vem submeter ao Tribunal o homem e o caso” 
� Comparato, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos, p. 75 .
� Costa, Nelson Nery. Curso de ciências políticas, 93. A Guerra Civil começou, em 1642, porque Carlos I, com sua administração e suas perseguições religiosas, havia provocado a crise. Os “cabeças redondas”, nome dados aos revolucionários pelo fato de cortarem o cabelo bem curto, segundo os costumes puritanos, foram habilmente dirigidos por Cromwell, um modesto proprietário rural, violento e fanático.. As vitórias em Marston e Naseby (1645) aumentaram consideravelmente o prestígio dos revoltados. Depois disso, ela apoderou-se do poder e criou uma república chamada de commonweallth, da qual se proclamou Lorde Protetor. A ditadura acabou com sua morte em 1658.
� Comparato, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos, p. 37.
� Moraes, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais , p. 27.
� Maluf, Said. Teoria Geral do Estado, p. 196. O mestre faze referência ainda a Bula de Ouro dos húngaros de 1222.
� Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo Dicionário , 2.ª ed. Revista e aumentada (1986).
� Somente no “Pentateuco” em Gênesis: 6.18; 9.9; 9.11; 9.12; 9.13;9.15; 9.16; 9.17; 14.13; 15.18; 17.2; 17.4; 17.7; 17.9; 17.10; 17.11; 17.13; 17.14; 17.19; 1721; 21.27; 21.32; 26.28; 31.44; Êxodo – 2.24; 6.4; 6.5;19.5; 23.22; 24.7; 24.8; 31.16; 3; 34.10; 34.12; 34.15; 34.27; 34.28; Levítico – 2.13; 24.8; 26.9; 26.15; 26.25; 26.42; 26.44; 26.45. Números – 10.33; 14.44; 18.19; 25.12; 25.13. Deuteronômio – 4.13; 4.23; 4.31; 5.2; 5.3; 7.2; 7.9; 7.12; 8.18; 9.9; 9.11; 9.15; 10.8; 17.2; 29.1; 29.9; 29.12; 29.14; 29.21; 29.25; 31.9; 31.16; 31.20; 31.25; 31.26 e 33.9 – 76 vezes.
� Sobre este assunto, cf. supra, a Magna Carta, capítulo 1º .
� Para os anglo-saxões, dia 11 de novembro, pois só aceitaram o calendário gregoriado a partir do século XIX.
� Cretella Júnior, José. Elementos de Direito Constitucional, p.18-19.Nesse sentido: “Quando, a bordo do Mayflower, em 1620, os puritanos ingleses aportaram em terras que correspondem à atual América do Norte, ainda a bordo, fizeram um pacto comum, em relação a uma reunião de leis que passariam a obedecer; dali por diante, quando se fixassem no continente, mútuo consenso que teria reflexo nas futuras Constituições das colônias do País e nas Cartas Políticas de todo o mundo”.
� Nichols, Roy F. ; Bagley, William C.; Beard, Charles A .; Os Estados Unidos de Ontem e de Hoje, p. 7. No mesmo sentido, Ferreira, Waldemar Martins, História do direito constitucional, p.21.
� Cretella Júnior, José. Elementos de Direito Constitucional, p. 18-19. O autor diz textualmente: “Quando, a bordo do Mawflower, em 1620, os puritanos ingleses aportaram em terras que correspondem à atual América do Norte, ainda a bordo, fizeram um pacto comum, em relação a uma reunião de leis que passariam a obedecer, dali por diante, quando se fixassem no continente, mútuo consenso queteria reflexos nas futuras Constituições das colônias do País e nas Cartas Políticas de todo o mundo”.
� Comparato, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos, p. 86. O autor afirma: “O primeiro movimento de colonização inglesa da América do Norte, como sabido, foi provocado pelo ambiente de pesada intolerância religiosa, que predominou na Grã-Bretanha desde o século XVI”.
� Ekirch Jr., Arthur A . A democracia americana – Teoria e prática, p. 25.
� Castro Fariñas, J . A . De la libertad de prensa, p.59.
� Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional, p. 5.
� A palavra “tea” é um anagrama para “taxes enough already” (chega de mais impostos).
� O referido episódio ocorreu no século XVIII. Foi um movimento contra o aumento dos impostos.O colonos fantasiados de índios invadiram navios ancorados no porto e jogaram sacos de chá no mar.
� Barros, Sérgio Resende. Direitos humanos: paradoxo da civilização, p. 283. O autor afirma que a questão religiosa era apenas uma desculpa ideológica. Não concordamos, pois eram ‘refugiados” religiosos em busca de uma nova terra, sempre como ânimo definitivo.
� Labouylaye, Edouard. Historie dês États-Unist, p. 68 APUD Sérgio Resende de Barros (Direitos humanos: paradoxo da civilização, p. 283).
� Bobbio, Norberto. A era dos direitos, p. 90. Nesse sentido [....] quase todas as cartas americanas fazem referência direta à finalidade da associação política, que é a da common benefit (Virgínia), da good of whoe (Maryland) ou da comon good (Massachussets). Os constituintes americanos relacionaram os direitos do indivíduo ao bem comum da sociedade”.
� Nichols, Robert Hastings. História da Igreja Cristã, p, 262.
� Jellinek, George. Teoría general del Estado, p.636.
� Cavalcanti, Robinson. Cristianismo & Política, p.145.
� Pound, Roscoe Desenvolvimento das garantias constitucionais da liberdade, p.148. O autor afirma que a colônia recebeu sua carta em 1632, autorizando outros estatutos não contraditórios às leis da Inglaterra. 
� Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Obra citada, p. 5.
�PAGE �
�PAGE �63�

Continue navegando