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Sempre recordo de um paciente chamado Antônio, um professor aposentado que entrou no consultório com as mãos ressequidas, fissuras dolorosas e uma sensação persistente de coceira que o acompanhava havia anos. Vivendo com diabetes tipo 2 e insuficiência venosa crônica, sua pele era um mapa das intersecções entre doença sistêmica, medicamentos e negligência bem-intencionada. Ao traçar a história clínica e tocar a pele, percebi ali mais do que sintomas dermatológicos: havia uma narrativa sobre como doenças crônicas transformam a pele em um órgão vulnerável e, simultaneamente, em um indicador sensível do controle e dos efeitos colaterais terapêuticos. Narrativamente, a pele do paciente crônico é protagonista de pequenas tragédias cotidianas — fissuras que impedem o toque no piano, pruridos que interrompem o sono, úlceras que retardam a mobilidade. Tecnicamente, essas manifestações decorrem de alterações fisiopatológicas previsíveis: perda da barreira epidérmica por xerose e atrofia dérmica; microangiopatia e neuropatia que comprometem a perfusão e a sensibilidade; imunossupressão associada à doença ou a fármacos que facilita infecções fúngicas e bacterianas; e inflamação crônica que perpetua pruridos e dermatites. Argumento que um enfoque preventivo e multidisciplinar na dermatologia de pacientes crônicos não é luxo, mas necessidade. Primeira razão: a pele é indicador precoce de descompensações sistêmicas. Eritema, livedo, lesões purpúricas ou ulcerações podem sinalizar eventos vasculares, reações a medicamentos ou atividades microbianas que antecedem complicações maiores. Segunda razão: intervenções dermatológicas simples — hidratação regular, proteção solar, cuidado com as unhas e calçados adequados — reduzem morbidade, custos hospitalares e preservam qualidade de vida. Terceira razão: o tratamento dermatológico eficaz exige adaptação às comorbidades e aos medicamentos em uso; por exemplo, corticoides tópicos devem ser usados com cautela em pele atrofia e diabetes, e antifúngicos sistêmicos podem interagir com drogas cardiológicas ou imunossupressoras. No manejo prático, propomos uma estratégia em camadas. Em primeiro plano, medidas gerais: educação sobre hidratação diária com emolientes sem fragrância, pH neutro, preferir ceramidas e humectantes que restauram o estrato córneo; banhos curtos e mornos; evitar sabões agressivos; cortar unhas corretamente; uso de filtro solar 30+ e roupas protetoras. Em segundo plano, monitoramento direcionado: inspeções regulares de pés no diabetico, avaliação de áreas de pressão em pacientes imobilizados, vigilância da pele periostomal, e exames periódicos em terapia imunossupressora. Em terceiro plano, intervenções específicas: antifúngicos tópicos em onicomicose e intertrigo, antibióticos quando houver infecção documentada, corticosteroides tópicos de baixa potência em eczemas limitados e calcineurina tópica para áreas sensíveis. Para prurido refratário associado à insuficiência renal ou colestase, considerar agentes sistêmicos (antihistamínicos sedativos, gabapentinoides, sertralina, ou fototerapia) com orientação nefrológica/hepatológica. A integração entre dermatologia, endocrinologia, nefrologia, reumatologia e fisioterapia é essencial. Nos centros de atenção primária, treinar equipes para reconhecer sinais de alerta — exsudato, odor fétido, bordas necróticas, febre — permite encaminhamentos precoces. Teledermatologia e fotografias seriadas são ferramentas valiosas para acompanhar evolução de lesões em zonas remotas, reduzindo atrasos. Também argumento pela importância de protocolos adaptados ao contexto socioeconômico: em populações com acesso limitado, priorizar o uso de hidratantes econômicos, calçados acolchoados e escolas de autocuidado para pacientes e cuidadores. Há ainda considerações sobre medicamentos crônicos: corticoides orais prolongados predispondo a atrofia cutânea e maior risco de infecção; inibidores da calcineurina sistêmica e biológicos modificando suscetibilidade a vírus e fungos; diuréticos e anticoagulantes alterando turgor e propensão a equimoses. O manejo deve balancear risco e benefício, ajustando dosagens, espaçando aplicações tópicas e promovendo vigilância laboratorial quando necessário. Finalmente, defender uma visão centrada no paciente é imperativo. A pele não é apenas órgão de proteção, mas elemento identitário. Lesões visíveis afetam autoestima, relações e adesão terapêutica. Investir em cuidados dermatológicos em pacientes crônicos é investir em dignidade, funcionalidade e redução de complicações sistêmicas. Antônio voltou algumas semanas depois com menos fissuras, menos prurido e a confiança de que pequenas medidas diárias podem transformar sua experiência de viver com doenças crônicas. Sua pele, antes sinal de derrota, passou a ser indicador de cuidado bem-sucedido. PERGUNTAS E RESPOSTAS 1. Quais cuidados diários são essenciais para pele de paciente com diabetes? R: Hidratação diária com emoliente sem perfume, inspeção diária dos pés, cortes de unhas adequados e uso de calçados protetores. 2. Quando encaminhar um paciente crônico ao dermatologista? R: Ao notar ulceras, infecções recorrentes, eritema inexplicado, lesões progressivas ou falha terapêutica após tratamento inicial. 3. Como manejar prurido em insuficiência renal crônica? R: Hidratação, emolientes, emolientes oclusivos noturnos; fototerapia ou gabapentinoides/antidepressivos em casos refratários, com avaliação nefrológica. 4. Quais interações medicamentosas dermatológicas são mais relevantes? R: Antifúngicos azólicos com estatinas/antiarrítmicos; imunossupressores aumentando infecções; corticoides amplificando hiperglicemia em diabéticos. 5. Que medidas previnem úlceras em pacientes com mobilidade reduzida? R: Revezamento de posição, superfícies de apoio adequadas, inspeções diárias, higiene e hidratação da pele, controle de umidade e controle glicêmico. 1. Qual a primeira parte de uma petição inicial? a) O pedido b) A qualificação das partes c) Os fundamentos jurídicos d) O cabeçalho (X) 2. O que deve ser incluído na qualificação das partes? a) Apenas os nomes b) Nomes e endereços (X) c) Apenas documentos de identificação d) Apenas as idades 3. Qual é a importância da clareza nos fatos apresentados? a) Facilitar a leitura b) Aumentar o tamanho da petição c) Ajudar o juiz a entender a demanda (X) d) Impedir que a parte contrária compreenda 4. Como deve ser elaborado o pedido na petição inicial? a) De forma vaga b) Sem clareza c) Com precisão e detalhes (X) d) Apenas um resumo 5. O que é essencial incluir nos fundamentos jurídicos? a) Opiniões pessoais do advogado b) Dispositivos legais e jurisprudências (X) c) Informações irrelevantes d) Apenas citações de livros 6. A linguagem utilizada em uma petição deve ser: a) Informal b) Técnica e confusa c) Formal e compreensível (X) d) Somente jargões