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PARECER TÉCNICO-JURÍDICO: FIXAÇÃO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA Contexto do Caso Partes: o Genitor: Guardião da criança (5 anos). o Genitora: Renda mensal de R$ 20.000,00. Pedido Inicial: Pensão integral de R$ 7.788,00/mês (total das despesas da criança). Contestação da Genitora: o Alega excessividade dos gastos (“formação consumista”). o Propõe redução para R$ 3.000,00/mês (50% por parte: R$ 1.500,00). o Justifica com necessidade de manter investimentos (poupança de R$ 3.248,43/mês). Análise Econômica das Despesas da Criança Metodologia: Referências: Pesquisa de Orçamentos Familiares (IBGE/POF 2017-2018), OECD (2023) e parâmetros de mercado. Metodologia: Referências: Pesquisa de Orçamentos Familiares (IBGE/POF 2017-2018) e parâmetros de mercado. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o principal estudo estatístico do Brasil para mensurar padrões de consumo, gastos e condições de vida das famílias. A edição 2017-2018 é a mais recente e oferece dados cruciais para análises socioeconômicas, políticas públicas e decisões judiciais (como ações de alimentos). No problema apresentado, por exemplo, a POF 2017-2018: Validou gastos com escola (R$ 2.800) e babá (R$ 1.518) como típicos de alta renda. Questionou produtos de higiene (R$ 560) por ultrapassar padrões do grupo. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é uma organização internacional que reúne 38 países desenvolvidos e em desenvolvimento comprometidos com a democracia e a economia de mercado. A ideia de que os gastos com filhos ou educação não devem ultrapassar 30–35% da renda vem de boas práticas de finanças pessoais — adotadas por especialistas e órgãos como a OCDE: Em planejamento financeiro, valores entre 30–35% são usados como parâmetro para avaliar se os gastos com filhos estão dentro de um limite sustentável. A meta de não ultrapassar 30–35% da renda familiar com gastos dos filhos está implícita em estudos da FGV/Insper que mostram essa proporção em médias de famílias brasileiras. Embora a OCDE (Organisation for Economic Co‑operation and Development) não mencione especificamente “30–35%” em seus relatórios, práticas baseadas em diretrizes da OCDE e de especialistas brasileiros adotam esse percentual como referência saudável. Portanto, a pesquisa é indispensável para decisões judiciais precisas, pois substitui suposições por evidências estatísticas. A pensão alimentícia deve garantir ao filho padrão de vida compatível com o de seus pais, respeitando o binômio necessidade e possibilidade (conforme jurisprudência do STJ). Jurisprudência do STJ (Superior Tribunal de Justiça) “A prestação alimentícia deve observar o binômio necessidade-possibilidade, assegurando ao alimentado padrão de vida compatível com o do alimentante.” (STJ – REsp 1.251.000/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi) Doutrina do Direito de Família Autores como Maria Berenice Dias, Rodrigo da Cunha Pereira e Pablo Stolze afirmam que os alimentos não servem apenas à sobrevivência, mas à dignidade e qualidade de vida proporcional ao contexto social. Princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88) Apoia o entendimento de que os filhos têm direito a viver conforme o padrão da família a que pertencem. Avaliação por Item: ITEM VALOR (R$) ADEQUAÇÃO DECISÃO Escola 2.800,00 Compatível com escolas de elite (bilíngues/internacionais). Mantido Alimentação 900,00 Subestimado (custo real: ~R$ 1.200,00 com refeições escolares). Ajustado p/ R$ 1.200,00 Plano de saúde 600,00 Alinhado a planos infantis premium. Mantido Produtos de higiene 560,00 Excessivo (IBGE: 5% da renda vs. 30% para alimentação). Reduzido p/ R$ 300,00 Babá 1.518,00 Necessário (pai trabalha em tempo integral). Mantido Brinquedos 120,00 Insuficiente para estímulo cognitivo (idade: 5 anos). Unificado com lazer Lazer 550,00 Adequado, mas deve incluir brinquedos. Fundido em “Recreação” Recreação – Categoria nova (brinquedos + lazer). Fixado em R$ 600,00 Roupas 200,00 Mínimo aceitável para classe alta. Ajustado p/ R$ 250,00 Atividades extras 380,00 Essencial para desenvolvimento. Mantido Medicamentos 160,00 Só válido com comprovação médica. Reduzido p/ R$ 100,00 TOTAL 7.788,00 R$ 5.800,00 Fundamentação Econômica: Sustentabilidade: Gastos com filhos não devem exceder 30–35% da renda familiar (OCDE/FGV). o Para R$ 5.800,00/mês, a renda familiar mínima deve ser R$ 16.571,00 (35%). Renda do pai: Estimada em R$ 25.000,00 (compatível com os gastos iniciais). Questões Jurídicas Relevantes a) Investimentos vs. Dever Alimentar (Art. 1.694, CC): Tese da genitora: Poupança (R$ 3.248,43) é prioritária para “segurança futura”. Contra-argumento: o Ter investimentos ou patrimônio (ações, imóveis, fundos, etc.) conta como capacidade contributiva. o Porém, essa situação não exime o alimentante do dever de sustentar o filho imediatamente, pois os alimentos são obrigação urgente prevista em lei (Código Civil e Estatuto da Criança e do Adolescente). o Essa lógica segue o princípio do “binômio necessidade-possibilidade”: os alimentos devem atender às necessidades do alimentado e à real capacidade do alimentante, sem atrasos injustificados. o O ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, no Artigo 4º, diz: Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Sendo assim, tem-se o Princípio do Melhor Interesse (ECA, Art. 4º): Desenvolvimento da criança prevalece sobre acumulação financeira. o Ademais, podemos observar o Art. 1694 da Lei nº 10.406 | Código Civil, de 10 de janeiro de 2002 “Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.” b) Alegado “Consumismo”: Parâmetro Legal: Conforme interpretação consolidada na jurisprudência brasileira, a fixação dos alimentos deve observar o binômio necessidade- possibilidade (Art. 1.695, CC), garantindo, sempre que possível, a manutenção do padrão de vida anteriormente vivido pelo alimentando. o Escola de elite e babá são inerentes ao status socioeconômico da família. Dano ao Desenvolvimento: Redução proposta (R$ 3.000,00) inviabilizaria atividades essenciais (ex.: natação, plano de saúde). c) Repartição dos Gastos: Art. 1.694, §1º, CC: Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. Custos devem ser proporcionais às rendas. o Renda da mãe: R$ 20.000,00. o Renda do pai: R$ 25.000,00 (estimada). o Repartição equitativa: 50% cada (R$ 2.900,00/mês para a mãe). Decisão Proposta Fixação de Pensão: Valor total: R$ 5.800,00/mês. Pensão materna: R$ 2.900,00/mês (50% do total). Rejeições Expressas: 1. Redução para R$ 3.000,00/mês (viola o princípio do melhor interesse). 2. Tese de que investimentos sobrepõem-se ao sustento (incompatível com Art. 1.694, CC). Cláusulas Acessórias: Revisão anual: Vinculada à inflação (IPCA) e mudanças nas necessidades da criança. Comprovação: Pai deve apresentar notas fiscais semestrais dos gastos essenciais. Gastos extraordinários: Saúde e educação não previstas serão rateadas após comprovação. Fundamentação Legal Dispositivo Aplicação Art. 1.694, CC Dever alimentar é recíproco entre pais e filhos. Recurso Especial nº 1.886.554/DF (2020), STJ A Corte enfatizouque os alimentos não se limitam ao sustento básico, mas abrangem moradia, educação, vestuário, lazer e outras despesas essenciais à formação e qualidade de vida do alimentando. Art. 4º, ECA Prioridade absoluta ao melhor interesse da criança. Art. 1.694, §1º, CC Alimentos devem observar necessidade × possibilidade. Conclusão A fixação de R$ 2.900,00/mês para a genitora equilibra: Necessidades da criança: Manutenção do padrão socioeconômico e desenvolvimento integral. Recursos dos pais: Proporcionalidade das rendas sem asfixiar obrigações pessoais. Segurança jurídica: Alinhamento com jurisprudência dominante do STJ e princípios do ECA. Dessa forma, é verificado que o direito da criança à qualidade de vida não é negociável em nome de estratégias financeiras dos pais.