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Há um momento em que todo empresário, cansado de simulações e planilhas, precisa decidir se seguir a trama do Lucro Real vale o esforço ou se o roteiro mais simples do Lucro Presumido merece o papel principal. Nesta resenha narrada a partir da experiência de quem acompanhou a transição de uma pequena indústria familiar para o regime presumido, procuro mesclar olhares técnicos e sensações práticas: o alívio administrativo, a tensão fiscal e a necessidade constante de aconselhamento contábil qualificado. Quando João, o protagonista desta história realista, recebeu a proposta do seu contador para migrar ao Lucro Presumido, sentiu primeiro uma insinuação de liberdade. O expediente contábil, até então minucioso e oneroso, prometia menos cálculo de ajustes e menos cruzamento de adições e exclusões fiscais. Na prática, o que o Lucro Presumido oferece é uma presunção legal de lucro baseada na receita bruta: aplica-se um percentual — diferente conforme a atividade — sobre a receita e esse montante vira base para IRPJ e CSLL, simplificando bastante o processo de apuração. Tecnicamente, a beleza do mecanismo está na previsibilidade. Em vez de aferir o lucro contábil e ajustá-lo por adições e exclusões, o empresário sabe que determinada fração da sua receita será considerada automaticamente como lucro tributável. Para atividades comerciais e industriais, por exemplo, a presunção costuma ser menor; para serviços, a porcentagem é maior. Esses percentuais determinam a base de cálculo sobre a qual incidem as alíquotas de IRPJ e CSLL (com a incidência padrão de IRPJ de 15% mais eventual adicional e CSLL de alíquota específica). Além disso, PIS e COFINS, geralmente no regime cumulativo para empresas nesse regime, têm alíquotas fixas que afetam a carga tributária global. Na prática contábil, entretanto, a simples aplicação dos percentuais não elimina a necessidade de registros meticulosos. João descobriu que, mesmo presumindo lucro, a escrituração correta das receitas, a separação clara de receitas e receitas financeiras, bem como a organização de notas fiscais, eram essenciais — não só para fiscalização, mas para decisões gerenciais. A contabilidade continua a ser instrumento de gestão: demonstrações bem preparadas ajudam a avaliar se o Lucro Presumido é vantajoso diante do resultado real do negócio. Esta resenha técnica-narrativa também aponta perigos. O principal deles é a falsa segurança: presumir lucro pode ser custoso quando a margem real é menor que a presumida. Empresas com altos custos operacionais, investimentos intensivos ou prejuízos cíclicos podem acabar pagando mais tributos do que se estivessem no Lucro Real. Outro risco é o enquadramento indevido: certas atividades e instituições financeiras não podem optar pelo regime, e a receita bruta anual tem limite legal para adesão — um detalhe que pode desclassificar uma empresa inesperadamente. Do ponto de vista tributário-estratégico, o Lucro Presumido costuma ser atraente para empresas com baixa intensidade de gastos dedutíveis e margens robustas e estáveis. A previsibilidade facilita o fluxo de caixa e reduz a complexidade das provisões mensais. No entanto, a falta de possibilidade de abater despesas operacionais na base de cálculo do IRPJ e da CSLL exige uma análise custo-benefício antes da opção anual. Além disso, aspectos formais — como a necessidade de manter livros contábeis, emitir demonstrativos e observar obrigações acessórias federais — permanecem e devem ser geridos por profissionais. Do ponto de vista fiscal-prático, recomendo algumas atitudes: consolidar simulações históricas comparando Lucro Presumido e Real, atentar ao enquadramento das receitas (operacionais versus não operacionais), planejar o fluxo para o pagamento de IRPJ/CSLL trimestral e cuidar da origem das receitas que possam ser tributadas por alíquotas diferentes. Em meu relato, João só consolidou a vantagem do regime após três trimestres de acompanhamento e ajustes na gestão de custos; antes disso, houve decisões a aprender e reversões a evitar. Como resenha, concluo que a Contabilidade do Lucro Presumido é uma proposta coerente para quem busca menor complexidade e previsibilidade tributária, sem abrir mão da necessidade de boa governança contábil. Não é um remédio universal: depende do perfil de custos, da composição das receitas e da disciplina contábil. Para muitos, será um alívio administrativo; para outros, um convite a pagar mais imposto por conforto. Em qualquer situação, o veredito final exige números, cenários e o olhar crítico de quem entende legislação e gestão. PERGUNTAS E RESPOSTAS 1) Quando o Lucro Presumido é mais vantajoso? R: Quando a margem real é maior que a presumida e a empresa tem poucos custos dedutíveis, garantindo menor carga tributária e previsibilidade. 2) Quais tributos são apurados no regime? R: Principalmente IRPJ e CSLL sobre base presumida; além de PIS/COFINS em regime cumulativo e contribuições previdenciárias conforme folha. 3) Há limite de receita para optar? R: Sim: existe teto anual de receita bruta para adesão (valor legal sujeito a atualização); checar o limite vigente é obrigatório. 4) A contabilidade deixa de ser necessária? R: Não. Escrituração, controles e demonstrações seguem essenciais para gestão, compliance e defesa em fiscalizações. 5) Pode-se mudar de regime durante o ano? R: A opção é anual e sujeita a regras; mudanças exigem planejamento e observância de prazos e condições legais.