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Resenha crítica: O papel da ONU na resolução de conflitos A Organização das Nações Unidas (ONU) foi concebida como um espaço multilateral destinado a preservar a paz e a segurança internacionais, promover direitos humanos e fomentar cooperação entre Estados. Como objeto de análise, a atuação da ONU na resolução de conflitos revela um conjunto complexo de instrumentos, limites institucionais e paradoxos políticos que merecem avaliação crítica. Esta resenha adota uma postura dissertativo-argumentativa, sustentada por descrições concretas de mecanismos e missões, para ponderar até que ponto a organização cumpre seu mandato e quais reformulações são exigidas pelo contexto contemporâneo. Descrita em termos funcionais, a ONU dispõe de um repertório diversificado: mediação diplomática do secretário-geral, operações de manutenção e imposição de paz, tribunais internacionais e órgãos especializados (como o Conselho de Segurança, a Assembleia Geral e o Tribunal Internacional de Justiça). Missões de paz exemplares — como as intervenções de monitoramento eleitoral, proteção de civis e desarmamento — ilustram a versatilidade operacional. A descrição detalhada dessas iniciativas evidencia tanto a capacidade logística da organização quanto a sua dependência de contribuições voluntárias de Estados-membros, em homens, equipamentos e financiamento. Argumenta-se que a eficácia da ONU depende de três elementos interligados: legitimidade, capacidade e vontade política dos Estados-membros. Em termos de legitimidade, a ONU é frequentemente vista como árbitro neutro, capaz de conferir autoridade internacional a acordos e resoluções. Entretanto, essa imagem neutra esbarra na concentração de poder político no Conselho de Segurança, onde cinco membros permanentes detêm direito de veto. O veto ilustra um problema estrutural: a paridade formal entre princípios e práticas. Enquanto a Carta da ONU proclama igualdade soberana de todos os membros, a dinâmica real privilegia atores geopolíticos capazes de bloquear iniciativas, o que pode paralisar respostas a crises humanitárias ou perpetuar conflitos por interesses estratégicos. No plano da capacidade operacional, as missões de paz representam um esforço logístico admirável, mas frequentemente subfinanciado e com mandatos ambíguos. A descrição dos últimos conflitos onde a ONU atuou — por exemplo, em missões de estabilização na África ou de supervisão em processos de paz na América Latina — mostra que forças e instrumentos existem, mas sua eficácia depende de regras de engajamento claras, inteligência adequada e coordenação com atores regionais. Falhas em prevenir genocídios e massacres no passado, como em Ruanda e Srebrenica, apontam lacunas de prontidão e de vontade política que custaram vidas e corroeram a credibilidade institucional. A partir de um viés dissertativo-argumentativo, sustento que a ONU permanece indispensável, mas insuficiente sem reformas pragmáticas. A indispensabilidade advém de sua singularidade: somente um fórum universal pode legitimar acordos multilaterais e articular respostas que envolvam normas de direitos humanos, auxílio humanitário e reparações. Por outro lado, a insuficiência decorre da tensão entre soberania estatal e proteção de populações. A doutrina da "responsabilidade de proteger" (R2P) exemplifica essa tensão: reconhece responsabilidade internacional diante de crimes contra civis, mas sua aplicação esbarra na resistência de Estados que veem na intervenção uma ameaça à soberania. Assim, a efetividade da ONU não é apenas técnica, mas política — depende de um equilíbrio entre coerção legítima e diplomacia. Uma resenha crítica não pode omitir avanços: processos de mediação bem-sucedidos, tribunais internacionais que estabeleceram precedentes de responsabilização e operações híbridas que combinam forças nacionais e internacionais são progressos concretos. Tais exemplos demonstram que, quando há consenso político e clareza de mandato, a ONU pode mediar transições políticas e consolidar acordos duradouros. Entretanto, para ampliar essa capacidade sistêmica, proponho três linhas de reforma: democratizar mecanismos decisórios do Conselho de Segurança para reduzir o peso do veto; fortalecer a logística e o financiamento permanente de missões; e institucionalizar protocolos de prevenção e resposta rápida para crises humanitárias, em parceria com organizações regionais. Em síntese, o papel da ONU na resolução de conflitos é paradoxal: é ao mesmo tempo indispensável como fórum universal de negociação e limitado por contradições estruturais que o tempo e a política tornaram crônicas. A Organização ainda constitui o melhor instrumento coletivo para tentar conciliar soberania e proteção, mas precisa de reformas que alinhem princípios com práticas e aumentem sua capacidade de agir rapidamente e com legitimidade. Minha avaliação crítica conclui que a ONU pode continuar a ser o guardião da paz internacional se os Estados-membros aceitarem costurar compromissos que substituam privilégios de poder por responsabilidades compartilhadas. PERGUNTAS E RESPOSTAS 1) Quais instrumentos a ONU usa para resolver conflitos? Resposta: Mediação diplomática, missões de paz, sanções, tribunais internacionais e mecanismos de diálogo político e assistência técnica. 2) Por que o Conselho de Segurança é um entrave à ação da ONU? Resposta: Porque o veto dos cinco membros permanentes pode bloquear decisões, subordinando respostas a interesses geopolíticos. 3) A ONU já falhou em prevenir genocídios? Resposta: Sim; exemplos emblemáticos como Ruanda e Srebrenica mostram lacunas na prevenção e na vontade de agir. 4) O que é a doutrina "responsabilidade de proteger"? Resposta: Princípio que afirma obrigação internacional de proteger populações de genocídio, crimes de guerra e limpeza étnica, mesmo com restrição à soberania. 5) Quais reformas são prioritárias para tornar a ONU mais eficaz? Resposta: Reduzir o poder do veto, garantir financiamento estável para missões e criar protocolos rápidos de prevenção e resposta humanitária.