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DIREITO PROCESSUAL PENAL I 23/02/2016 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS AO ESTUDO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL I-PROCESSO 1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS: A-CONCEITO E ORIGEM DO PROCESSO: Justiça Privada: é a solução de conflitos entre os próprios litigantes, através da auto defesa e da auto composição, sem a interferência do Estado. a)Auto defesa: é a solução do conflito pelo uso da força. 1.ausência de juiz distinto das partes 2.imposição da decisão por uma das partes à outra; b)Auto composição: é a solução do conflito através de concessões mútuas. 1.desistência: renúncia à pretensão; 2.submissão: renúncia à resistência oferecida à pretensão; *transação: concessões recíprocas - Justiça Estatal: é a solução dos conflitos gerados na sociedade através da interferência Estatal, por meio do exercício de uma das suas funções soberanas, o Poder Judiciário. -Processo: é a forma que o Estado estabeleceu, após chamar para si a tarefa de administrar a justiça, para solucionar os conflitos de interesses juridicamente tutelados. B-DO DIREITO DE PUNIR DO ESTADO: -Direito Objetivo: é o conjunto de normas impostas pelo Estado e dirigida a todos como norma geral de agir (norma agendi). -Direito Subjetivo: é a faculdade ou poder que se outorga a um sujeito para a satisfação de seus interesses tutelado por uma norma de direito objetivo (facultas agendi). -Direito Objetivo Penal: é o conjunto das normas penais. É o conjunto de normas jurídicas que o Estado estabelece para combater o crime, através das penas e medidas de segurança (Basileu Garcia). É o conjunto de normas que descrevem os delitos e estabelecem as seções (Mirabete). -Direito Subjetivo Penal: 1°) Direito de punir do Estado: é o direito que tem o Estado de aplicar a pena cominada no preceito secundário da norma penal incriminadora, contra quem praticou a ação ou omissão descrita no preceito primário, causando um dano ou lesão jurídica (José Frederico Marques), ou seja, é o direito subjetivo penal. 2°) Direito de Liberdade: é o direito consagrado pela constituição de não ser o indivíduo privado da sua liberdade sem o devido processo legal (art. 5°, LIV, da CF). C-DA PRETENSÃO PUNITIVA E DA LIDE PENAL: -Lide: é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida (Carnelutti). -Conflito de interesses penais: é o que resulta com a prática de um ilícito penal e que se desenvolve entre o direito subjetivo de punir do Estado e o direito subjetivo de liberdade do autor desta infração. -Pretensão (resistida) Punitiva: é a exigência, feita pelo Estado, de subordinação do interesse do autor da infração penal de manter sua liberdade ao interesse do Estado que é restringir tal direito através da aplicação da pena prevista para esta infração. 2. HISTÓRIA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL: 1°) Processo Penal na GRÉCIA: -distinção entre crimes privados e crimes públicos; -apuração dos crimes privados ficava a cargo do ofendido, os demais crimes eram apurados com a participação direta dos cidadãos e o procedimento primava pela oralidade e publicidade dos debates; -os juízes votavam sem deliberar e a decisão era tomada por maioria de votos, no caso de empate o acusado era absolvido; -alguns crimes eram julgados por Tribunais compostos por 6.000 pessoas, dividido em seções de 500 cada, em que cada uma podia julgar isoladamente ou em conjunto com outras; -sistema de processo: inquisitivo. 2°) Processo Penal ROMANO: -havia a separação entre crimes públicos (contra a segurança da cidade) e crimes privados (infrações menos graves); -os crimes privados eram julgados pelo Estado, que era o árbitro, que decidia de acordo com as provas apresentadas. Depois, o processo penal privado foi abandonado quase que totalmente; -os crimes públicos eram apurados, inicialmente, por Tribunais Populares e excepcionalmente pelo Senado e depois passaram a ser apurados por um magistrado, que reunia as funções de acusador e julgador; -Introduziu-se a tortura do réu e até mesmo de testemunhas e a prisão preventiva; -sistema de processo: inquisitivo. 3°) Processo Penal GERMÂNICO: -Os crimes privados eram reprimidos pela vingança privada e depois pela composição. Havia também a Assembleia, presidida pelo Rei, Príncipe, Duque ou Conde, que atuava somente por iniciativa da vítima ou de seus familiares. -Principais provas? a)confissão, que tinha valor extraordinário; b)juramento (na crença de que Deus, conhecendo o passado, pode castigar aquele que jura falsamente); c)Juízo de Deus (ordálias) não era propriamente uma prova, mas uma devolução a Deus da decisão sobre a controvérsia, exemplos: 1.Água Fria; 2.Água Quente; 3.Ferro Quente; -Sistema de processo: inquisitivo. 4°) Processo Penal CANÔNICO: direito processual da Igreja; -inicialmente o processo era do tipo acusatório, o processo só podia ser iniciado com a acusação, apresentada aos Bispos, Arcebispos ou oficiais encarregados de exercerem a função jurisdicional; -punia-se a calúnia e não se podia processar o acusado ausente; -depois, estabeleceu-se o processo tipo inquisitivo, com denúncias anônimas, abolindo-se e a publicidade do processo; -estabeleceu-se também a tortura, a ausência de garantias aos acusados, e o temido Santo Ofício (Tribunal de Inquisição) para reprimir a heresia, a bruxaria, etc. 5°) Processo Penal MODERNO: -iniciou-se na segunda metade do século XVIII, com o chamado “período humanitário do direito penal”; -a instituição do Ministério Público foi elogiada; -a tortura, os Juízos de Deus, o testemunho secreto foram condenados e pregava-se a admissão de todas as provas; -censurava-se a lei que obrigava o Juiz a portar-se não como Magistrado, mas como inimigo do acusado; -após o Código de Napoleão, de 1808, a ação penal pública passou a ser de iniciativa do Ministério Público; -o processo penal passa a adotar o sistema misto de inquisitivo (na fase instrutória) e acusatório; -hoje, em quase todas as legislações predomina, com maior ou menor intensidade, o sistema misto. 6°) Processo Penal no BRASIL: -Período Colonial: a.Ordenações Afonsinas: não chegaram a ter qualquer aplicação do Brasil; b.Ordenações Manuelinas: aplicadas no Brasil nos moldes da implantada em Portugal; c.Código de D. Sebastião: de curta aplicação; d.Ordenações Filipinas: aplicadas no Brasil até a sua independência; -Período Imperial: No início, aplicou-se as Ordenações Filipinas, até que fossem editadas novas disposições legais; Constituição de 1824: organizou o Poder Judiciário brasileiro; Código Processual Criminal do Império de 1832: 1.a comunicação de crime assumiu a forma de “queixa”; 2.a denúncia era oferecida pelo Ministério Público, pelo Juiz (ex-officio) ou por qualquer do povo; 3.o julgamento era feito pelo Júri, salvo as contravenções e os crimes menos graves; -Período Republicano: Constituição de 1891: cada Estado passou a ter sua própria Constituição e Leis, inclusive as de caráter processual; Constituição de 1934: unificou novamente a legislação processual penal; Código de Processo Penal de 1941: atual CPP, entrou em vigor em 1°/01/42; Lei de Execução Penal de 1984 (LEP). 3. O PROCESSO PENAL E O DIREITO DE PUNIR DO ESTADO: -Observa-se que o Estado, ao se autolimitar, outorgou aos indivíduos direitos, inclusive constitucionais, que deverão ser observados quando tiver que exercer o seu direito de punir em razão da prática de uma infração penal por qualquer destes indivíduos. -Portanto, o processo foi a forma que o Estado estabeleceu para exercer o seu direito de punir, sem ferir os direitos constitucionais do infrator, limitadores deste seu direito. -O Estado como qualquer outro cidadão, deverá dirigir-se também ao Estado-Juiz pleiteando e exercendo o seu direito de punir (representado pelo MP e pela vítima), pois está ele impedido de auto aplicar (executar) o direito reconhecido em lei penal editada peloPoder Legislativo. 4. ATIVIDADE DESENVOLVIDA PELO ESTADO PARA EXERCER O SEU DIREITO DE PUNIR: PERSECUÇÃO CRIMINAL. (“Persecutio Criminis”): É o nome atribuído ao conjunto de atividades desenvolvidas para apurar as infrações penais e a respectiva autoria, buscando obter a aplicação da “sanctio juris” pelo Estado. -A persecução criminal se dá em dois momentos e formas distintos: 1-INQUÉRITO POLICIAL (investigação policial, fase de obtenção da justa causa, fase administrativa): É a forma pela qual se dá o primeiro momento da persecução criminal, onde se colhe as informações preliminares acerca da prática de uma infração penal e da respectiva autoria. 2-AÇÃO PENAL (fase judicial): É a forma pela qual se dá o segundo e definitivo aumento da persecução criminal que ocorre com o pedido de julgamento da pretensão punitiva do Estado e durante a tramitação do competente processo penal. Obs: O INQUÉRITO é a atividade preparatória da ação penal, de caráter preliminar e informativo, desenvolvida pela POLÍCIA. A AÇÃO PENAL consiste no pedido de julgamento da pretensão punitiva do Estado, feito pelo MINISTÉRIO PÚBLICO. Desta forma a POLICIA (em sentido amplo) tem como função primordial impedir a prática das infrações penais (Polícia Militar) e, se uma vez praticados, investigar a ocorrência deles e descobrir a sua autoria (Polícia Civil). O MINISTÉRIO PÚBLICO (estado/administração) representa a sociedade e o interesse do Estado na imposição da sanção ao que praticar uma infração penal. Por fim, o JUIZ (estado/juiz), que tem a função de analisar o pedido do Estado/Administração e, se for o caso, impor a pena, sempre com imparcialidade. 5. O PROCESSO COMO COMPLEXO DE ATOS E COMO RELAÇÃO JURÍDICA: a.O PROCESSO COMO COMPLEXO DE ATOS: 1-Processo: É uma série de atos que se praticam visando à aplicação da lei penal ao caso concreto, ou seja, visando a solução do litígio. 2-Procedimento: É a coordenação dos atos processuais, ou seja, é o ordenamento dos atos do processo. É a forma exterior de se movimentar o processo (Humberto T. Júnior). -Procedimento é sinônimo de rito do processo, é o modo e a forma pelo qual (por que) se movem os atos no processo (Humberto T. Júnior). b.O PROCESSO COMO RELAÇÃO JURÍDICA: 1-Teoria da Relação Jurídica: O processo é uma verdadeira relação jurídica. É a teoria dominante. -A relação jurídico-processual não se confunde com a relação jurídico-material. 2-Sujeitos da Relação Processual: a)Estado-Juiz: b)Autor: c)Réu: 6. DO ESTUDO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL: a.CONCEITO: É o conjunto de normas e princípios que regula a aplicação jurisdicional do direito penal objetivo, a sistematização dos órgãos de jurisdição e respectivos auxiliares, bem como da persecução penal (Tourinho Filho e Frederico Marques). b.DIVISÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL: -Direito Processual Penal Comum -Direito Processual Penal Militar -Direito Processual Penal Eleitoral c.AUTONOMIA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL: O direito processual penal constitui uma ciência autônoma no campo da dogmática jurídica. -Tem objetos e princípios próprios. d.INSTRUMENTALIDADE DO DIREITO PROCESSUAL PENAL: O direito processual penal possui caráter instrumental, porque constitui o meio para fazer atuar o direito material penal, tornando efetiva a função dele de prevenção e repressão das infrações penais. e.FINALIDADE DO PROCESSO PENAL: 1°)Finalidade Mediata- A manutenção da paz social e da ordem jurídica. 2°)Finalidade Imediata- Conseguir a efetivação da pretensão punitiva derivada de um delito, através da utilização da garantia constitucional do devido processo legal. f.POSIÇÃO DO PROCESSO PENAL NO QUADRO GERAL DO DIREITO: O processo penal pertence ao ramo do DIREITO PÚBLICO. -Norma cogente (indisponível) g.RELAÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL COM OUTROS RAMOS DO DIREITO E CIÊNCIAS AUXILIARES: I-RELAÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL COM OUTROS RAMOS DO DIREITO: Direito Constitucional: Porque este estabelece e enuncia: 1-A dinâmica do Poder Judiciário: Estabelece, enuncia e disciplina os órgãos do Poder Judiciário (art. 92 e ss. da CF); 2-Estabelece princípios que servem de base à jurisdição penal como: do juiz natural (art. 5°, XXXVII); da reserva legal (art. 5°, XXXIX); do direito de liberdade (art. 5°, “caput”); da legalidade (art. 5°, XXXV); da plenitude de defesa e do contraditório (art. 5°, LV); da retroatividade benéfica (art. 5°, XL); da legalidade da prisão e do direito da fiança (art. 5°, LXVI); da instituição do Tribunal do Júri (art. 5°, XXXVIII); etc...
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