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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA NORMATIVA DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

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TEORIA DO 
PROCESSO 
JUDICIAL E 
EXTRAJUDICIAL
Lóren Formiga de Pinto Ferreira
Direito Processual Penal
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Discutir a evolução histórica e normativa do Direito Processual Penal.
  Apresentar as influências constitucionais no Direito Processual Penal 
e a sua relação com outros ramos do Direito.
  Explicar os novos instrumentos do Direito Processual Penal.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar sobre a evolução histórica e normativa 
do Direito Processual Penal, as influências constitucionais no processo 
penal, a sua relação com os demais ramos do Direito e os instrumentos 
do processo penal. Antes de analisar a evolução do processo penal, é 
necessário que você entenda a evolução das penas, visto que o processo 
servirá exatamente para possibilitar a sua aplicação.
Verá, também, a relação do processo penal com a Constituição Federal, a 
qual estabelece uma série de garantias processuais fundamentais, e, também, 
com os demais ramos do Direito, que tipificam determinadas condutas como 
crimes dessas áreas, como, por exemplo, os crimes ambientais e os tributários.
Além disso, você vai ler sobre os novos instrumentos do Direito Pro-
cessual Penal, os quais foram inseridos pela reforma sofrida no ano de 
2008 e que, na maior parte, resultam da inclusão da oralidade.
Evolução histórica e normativa do Direito 
Processual Penal
Como o processo penal é o instrumento para a aplicação prática das previsões 
realizadas pelo Direito Penal Material, ou seja, o processo penal é o caminho 
para que possam ser aplicadas, nos casos concretos, as sanções (penas) estabe-
lecidas nos tipos penais, devemos analisar, também, a evolução histórica das 
penas, para, posteriormente, entender a evolução do Direito Processual Penal.
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A primeira pena que se tem conhecimento foi aquela aplicada, por Deus, 
a Adão e Eva, no paraíso, quando esta comeu a maçã (que era um fruto 
proibido) e fez Adão também a comer, o que acabou fazendo com que fossem 
expulsos daquele lugar. Depois disso, com a vida em sociedade, o homem 
também passou a aplicar penas sempre que alguma regra do convívio social 
fosse desrespeitada.
Na Antiguidade, conforme Lopes Jr. (2014), não existia a pena de privação 
da liberdade, embora fosse aplicado o encarceramento há muito tempo, mas 
com outros objetivos, sem a função de pena. A prisão, até o final do século 
XVIII, era utilizada somente como custódia, ou seja, como forma de conter 
o acusado até que a sentença fosse prolatada e a execução da pena fosse cum-
prida. Nesse período, não havia verdadeira pena. O que se tinha eram sanções 
com características extremamente aflitivas, pois “[...] o corpo do agente é que 
pagava pelo mal praticado” (GRECO, 2018, p. 587), ou seja, as sanções eram 
corporais, infamantes e se esgotavam com a morte. A prisão, então, era um 
local de custódia e da prática da tortura.
Na Idade Média, também não existia a ideia de pena privativa de liberdade 
como sanção penal. A prisão continuava com o caráter de custódia e de local 
onde era praticada a tortura, como na Antiguidade. Nessa época, as penas 
aplicadas eram desumanas e incluíam mutilações diversas, como a amputação 
de braços, pernas, olhos, dedos e língua. 
Ainda nesse período, a prisão canônica (que era aquela realizada pela 
Igreja) foi um importante antecedente da prisão como é aplicada hoje. Essa 
prisão adotava princípios de pena medicinal, de acordo com Lopes Jr. (2014), 
pois buscava o arrependimento da pessoa que tivesse cometido algum pecado, 
em vez da sua destruição, como ocorria nas penas aplicadas até então. Dessa 
forma, a prisão canônica visava melhorar o condenado. 
Foi no período da Inquisição que a humanidade passou a ter ideia da pena privativa 
de liberdade, junto com a prisão processual ou preventiva.
Nos séculos XVI e XVII, a pena de morte era amplamente aplicada, e a 
forma de execução mais comum era a forca. Passado o tempo, a pena de morte 
ou pena capital, como também é chamada, começou a ser questionada, pois 
Direito Processual Penal2
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ela não conseguiu gerar o resultado desejado e se mostrou ineficaz na luta 
contra a criminalidade, que só aumentava. Então, na tentativa de resolver esse 
grande problema, surgiu a ideia de prisão como pena privativa de liberdade.
Na metade do século XVII, na Europa, ocorreu o desenvolvimento da 
pena privativa de liberdade com a construção de estabelecimentos prisionais 
organizados, que tinham o objetivo de corrigir os apenados, os quais eram 
submetidos a práticas disciplinares e laborais.
A pena privativa de liberdade passou a ser efetivamente aplicada como forma de 
sanção aos ilícitos penais apenas no século XVIII, influenciada principalmente pela 
publicação da obra de Cesare Beccaria, intitulada Dos delitos e das penas, em 1764, a 
qual levou a uma mudança de mentalidade quanto às sanções aplicadas até aquele 
momento. Essa obra foi um marco para a evolução da pena privativa de liberdade, 
pois, a partir dela, desenvolveu-se um sentimento de indignação com relação à forma 
como os seres humanos eram tratados pelos seus pares. 
Somente no século XIX a prisão passou a ser a pena principal, substituindo 
as aplicadas até então.
A pena inicialmente nem era vista como tal, já que era uma reação so-
cial aplicada como uma vingança coletiva. Com a evolução dessa estrutura, 
instituiu-se um pagamento à comunidade pela prática do delito.
No princípio, quem aplicava essas penas eram os parentes das vítimas, 
que aceitavam os pagamentos dos valores correspondentes aos delitos prati-
cados. Depois essa tarefa passou para o Estado, e, então, a vítima (e os seus 
parentes) deixou de participar da aplicação da pena. Com essa transferência 
de competência para o Estado, surgiu a ideia do juiz imparcial.
Após esse estágio, surgiu a necessidade de limitar o poder estatal, então a pena 
adquiriu o seu caráter de pena pública, agora considerando, realmente, critérios 
de justiça. “Dessa forma, nasceu o processo penal, como caminho necessário 
para que o Estado legitimamente imponha a pena” (LOPES JR., 2014, p. 38).
Da autotutela ao processo penal
O processo penal como instituição estatal é a única estrutura reconhecida como 
legítima, na seara criminal, para buscar a satisfação da pretensão acusatória e 
3Direito Processual Penal
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para impor a pena. Porém, como vimos, nem sempre essa competência esteve 
nas mãos do Estado.
A sua primeira manifestação se deu com a autotutela ou defesa privada, 
na qual, por meio da coação particular, a vítima tentava resolver de forma 
direta o conflito. Essa autotutela era chamada de simples, pois nela prevalecia 
a vontade das partes, não existindo um juiz distinto delas. No Direito Penal, 
ainda encontramos a aplicação dessa modalidade nos casos de estado de 
necessidade, previstos no art. 23, I, do Código Penal, e nos casos de legítima 
defesa, previstos no mesmo artigo, porém no inciso II, também do Código 
Penal (BRASIL, 1941).
Com o passar do tempo, veio a fase da autotutela processualizada, na qual o 
processo penal era inquisitório. Nele, o juiz atuava como parte, como ocorreu, 
por exemplo, no famoso julgamento de Nuremberg.
O Tribunal Militar Internacional de Nuremberg (uma cidade alemã) funcionou entre 
1945 e 1946, e a sua única finalidade foi realizar o julgamento de prisioneiros nazistas 
de guerra. 
A autocomposição surgiu dentro da evolução dos meios de solução de 
conflitos como uma forma mais civilizada de resolvê-los. Nela, as partes, 
mediante acordo mútuo ou pela resignação de uma delas, decidiam colocar 
fim ao conflito.
Já a heterotutela consistia na participação de um terceiro que estava a 
favor de uma das partes intervenientes. Ainda encontramos a sua aplicação, 
de forma excepcional, no nossoordenamento jurídico, nos casos de legítima 
defesa de terceiros, previstos no art. 23, II, do Código Penal brasileiro (esse 
artigo prevê a legítima defesa de forma genérica e ela divide-se em legítima 
defesa própria ou de terceiros) (BRASIL, 1941).
O processo penal surgiu com a pena pública e assumiu a estrutura de um 
sistema de compartilhamento heterônomo, com a existência de um terceiro 
imparcial (juiz), público, pertencente à administração pública, cuja compe-
tência é fixada pela lei.
Direito Processual Penal4
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O processo penal (estatal) é o único caminho legítimo para a imposição de pena. 
Nele, a parte acusadora (que é a titular da pretensão acusatória) provoca o juiz para 
que ele exerça a jurisdição e, ao final, caso seja comprovada a tese acusatória, exerça 
o poder punitivo do Estado. No momento em que o juiz substitui as partes e impede 
que seja aplicada a autotutela, nasce, também, um dever correlato, de atuar quando 
a intervenção seja solicitada. 
Assim, pelo exposto, percebemos que o instrumento por meio do qual se 
concretiza e se pode exercer o poder-dever punitivo é o processo penal.
Influências constitucionais no Direito Processual 
Penal e a sua relação com outros ramos do Direito
A Constituição Federal de 1988 orienta a instrumentalidade do processo penal 
brasileiro, buscando dar a máxima efetividade dos direitos e das garantias 
fundamentais nela previstos, pautando-se no superprincípio da dignidade da 
pessoa humana.
A nossa Carta Magna traz um sistema de amplas garantias individuais, 
iniciando pela previsão do art. 5º, LVII (princípio da presunção de inocência), 
que determina que “[...] ninguém será considerado culpado até o trânsito em 
julgado de sentença penal condenatória” (BRASIL, 1988, documento on-line).
Esse princípio tem sido bastante discutido, visto que até 2016 o Supremo 
Tribunal Federal (STF) adotava o entendimento de que, para que pudessem ser 
aplicadas as sanções ao réu, era necessário que tivesse se esgotado comple-
tamente a possibilidade de recursos, ou seja, que não coubesse mais nenhum 
tipo de recurso em nenhuma das quatro instâncias. 
Em 2016, no julgamento do habeas corpus 126.292, o Excelso Pretório 
decidiu que a pena pode ser cumprida após a decisão de segunda instância, ou 
seja, não houver a possibilidade de recursos na segunda instância, pois esgotada 
essa instância se “[...] encerra a análise de fatos e provas que assentaram a culpa 
do condenado, o que autoriza o início da execução da pena” (BRASIL, 2016, 
documento on-line).
O devido processo penal constitucional (art. 5º, LIV, da Constituição Fe-
deral) objetiva uma Justiça Penal submetida à exigência da igualdade efetiva 
entre os litigantes (BRASIL, 1988). O processo justo deve atentar, sempre, para 
5Direito Processual Penal
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a desigualdade material que geralmente ocorre durante a persecução penal, 
em que o Estado ocupa uma posição de proeminência, respondendo pelas 
funções investigatórias e acusatórias, como regra, pela atuação da jurisdição, 
sobre a qual exerce monopólio.
Qualquer processo, incluindo o penal, por previsão expressa da Consti-
tuição Federal, deve ser conduzido sob instrução contraditória (art. 5º, LV, da 
Carta Magna), perante o juiz natural da causa (art. 5º, LIII, da Constituição 
Federal), e com a participação efetiva da defesa técnica (ampla defesa, prevista 
no art. 5º, LV, da Constituição Federal). O processo com todas essas garantias 
respeitadas é a única forma da construção válida do convencimento judicial, 
o qual deverá ser sempre motivado (BRASIL, 1988).
Assim, o processo deve ser construído sob os rigores da lei (em sentido 
amplo), e a sua observância é imposta a todos os agentes do Poder Público, 
de maneira que a verdade ou a verossimilhança judicial sejam o resultado da 
atividade probatória desenvolvida de forma lícita. Daí decorre a vedação das 
provas obtidas de forma ilícita (art. 5º, LVI, da Constituição Federal), as quais 
violam direitos individuais protegidos pela nossa Constituição (BRASIL, 1988).
Ao Estado, deve interessar da mesma forma a absolvição do inocente e a condenação 
do culpado. Então, o Ministério Público, que é o órgão estatal responsável pela acusação, 
passou a ser, a partir da Constituição de 1988, uma instituição independente, estruturado 
em carreira, com ingresso mediante concurso público, sendo-lhe incumbida a defesa 
da ordem jurídica, e não dos interesses exclusivos da função acusatória. Nesse sentido, 
o Ministério Público, e não só o Poder Judiciário, deve atuar com imparcialidade, 
reduzindo-se a sua caracterização conceitual de parte ao campo específico da técnica 
processual.
Além de todas as garantias vistas, ainda devem ser respeitadas a (BRASIL, 
1988):
  publicidade (art. 5º, LX, da Constituição Federal); 
  economia processual (prevista no art. 5º, LXXVIII, da Constituição 
Federal);
  duração razoável do processo (prevista no art. 5º, LXXVIII, da Cons-
tituição Federal).
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A relação do processo penal com outros ramos
Vimos a relação do processo penal com a Constituição Federal, mas esse ramo do 
Direito também tem pontos de integração com outras áreas da ciência jurídica. 
Com o Direito Penal, é clara a sua relação de complementaridade, pois 
incumbe ao processo penal a função de instrumentalizar o Direito Penal, ou 
seja, ele definirá competências, fixará procedimentos e estabelecerá as medidas 
processuais necessárias à prática do Direito Material Penal. Assim, o processo 
penal é uma ferramenta para proporcionar a prática do Direito Penal.
Da mesma forma que o processo penal é o instrumento para a aplicação 
do Direito Penal material, ele o é para todos os outros ramos do Direito que 
englobam a tipificação de crimes e contravenções, como:
  Direito Eleitoral; 
  Direito do Consumidor; 
  Direito Tributário; 
  Direito Econômico; 
  Direito Administrativo;
  Direito Penal Ambiental.
Não podemos esquecer da previsão do Enunciado nº. 03 da I Jornada de 
Direito Civil, que determina que as disposições do Código de Processo Civil 
são aplicadas supletiva e subsidiariamente ao Código de Processo Penal, 
quando não forem incompatíveis com este.
Aqui podemos visualizar exemplos de crimes tipificados em diversos ramos do Direito, 
os quais necessitarão da instrumentalidade do processo penal para que consigam a 
devida aplicação prática nos casos em concreto.
Crime eleitoral — Boca de urna e divulgação de propaganda no dia da eleição — Lei 
nº. 9.504, de 30 de setembro de 1997.
Art. 39 [...]
§ 5º [...]
I — constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, 
de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços 
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à comunidade pelo mesmo período, e multa no valor de cinco mil a 
quinze mil UFIR: [...] 
Pena — detenção de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação 
de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa (BRASIL, 
1997, documento on-line). 
Crime contra a relação de consumo — Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990 
(Código de Defesa do Consumidor).
Art. 61 Constituem crimes contra as relações de consumo previstas 
neste código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, 
as condutas tipificadas nos artigos seguintes. 
[...] 
Art. 63 Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou pe-
riculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes 
ou publicidade: 
Pena — Detenção de seis meses a dois anos e multa (BRASIL, 1990a, 
documento on-line).
Crime contra a ordem tributária — Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990.
Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir 
tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as se-
guintes condutas:
I — omitirinformação, ou prestar declaração falsa às autoridades 
fazendárias;
[...]
Pena — reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa (BRASIL, 1990b, 
documento on-line).
Crime econômico — Lei nº. 8.137/1990.
Art. 4° Constitui crime contra a ordem econômica: 
I — abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, 
total ou parcialmente, a concorrência mediante qualquer forma de ajuste 
ou acordo de empresas; [...] (BRASIL, 1990b, documento on-line).
Crimes contra a administração pública — Peculato — Código Penal.
Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou 
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse 
em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: 
Pena — reclusão, de dois a doze anos, e multa (BRASIL, 1941, do-
cumento on-line).
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Novos instrumentos do processo penal
O Código de Processo Penal brasileiro e a legislação processual penal es-
parsa contêm as normas de Direito Processual Penal em nosso País. Esse 
código tem a função de organizar a justiça penal e possibilitar que o Estado 
brasileiro exerça o seu poder punitivo, ou seja, que ele possa colocar em prática 
as determinações oriundas do Direito Penal Material (do Código Penal, da Lei 
das Contravenções Penais e de toda legislação penal esparsa).
O Código de Processo Penal atualmente em vigor foi instituído pelo 
Decreto-Lei nº. 3.689, de 3 de outubro de 1941, por Getúlio Vargas, que era 
o presidente da época. Por ter sido desenvolvido há tanto tempo, várias in-
compatibilidades surgiram, principalmente com os direitos e as garantias 
fundamentais instituídos no nosso ordenamento jurídico pela Constituição 
Cidadã de 1988. Assim, a necessidade de reformas nesse código era clara.
De acordo com Ishido (2012), o processo penal brasileiro passou pela sua 
mais importante reforma no ano de 2008, a qual teve como objetivos modernizar 
esse processo, com base nos seguintes fundamentos: 
  fortalecimento do sistema acusatório; 
  reforço às garantias do acusado; 
  celeridade; 
  efetividade na busca da prestação jurisdicional; 
  revalorização do papel da vítima.
Essa reforma teve como um dos pontos principais a inclusão do prin-
cípio da oralidade, o qual garante a produção dos atos processuais de 
forma verbal, por debates orais em preferência aos memoriais, os quais 
não foram banidos, mas serão utilizados apenas quando a complexidade 
do caso os permitir. 
Crimes ambientais — Lei nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 
Art. 29 Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fau-
na silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, 
licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo 
com a obtida: 
Pena — detenção de seis meses a um ano, e multa (BRASIL, 1998, 
documento on-line).
9Direito Processual Penal
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Então, em regra, o depoimento das testemunhas será realizado na audiência 
de forma oral, de acordo com o que determina o art. 204 do Código de Processo 
Penal: “[...] o depoimento será prestado oralmente, não sendo permitido à 
testemunha trazê-lo por escrito” (BRASIL, 1941, documento on-line).
Dessa forma, o juiz pode avaliar a sinceridade do que é dito, em juízo, 
pela testemunha, o que não ocorre no depoimento escrito, o qual fere o prin-
cípio do contraditório (art. 5º, LV, da Constituição Federal) (BRASIL, 1988), 
pois impossibilita ao magistrado averiguar a sua fidelidade com relação aos 
fatos, não possibilitando a realização de perguntas das partes, conforme o 
testemunho vai ocorrendo.
O art. 221, § 1º, do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941, documento 
on-line) traz uma exceção à oralidade ao determinar que:
O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado 
Federal, da Câmara dos Deputados e do STF poderão optar pela prestação de 
depoimento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes 
e deferidas pelo juiz, lhes serão transmitidas por ofício.
A oralidade apresenta quatro importantes características (ou subprincípios), 
a saber: 
  imediatidade; 
  concentração; 
  identidade física do juiz; 
  irrecorribilidade das decisões interlocutórias, as quais serão explicadas 
a seguir.
Pelo exposto, podemos perceber que a tendência atual no processo penal 
é a concentração dos atos processuais em uma audiência única, dando cele-
ridade ao procedimento, conforme o art. 400 do Código de Processo Penal 
(BRASIL, 1941).
A imediatidade leva ao entendimento de que o ideal é a instrução proba-
tória ocorrer na presença do magistrado, para que ele possa colher todas as 
impressões, incluindo as expressões faciais impressas na audiência, que são 
importantes para a formação do seu convencimento.
Dessa forma, é necessário que, entre a audiência e a decisão final, não 
transcorra muito tempo para que o juiz ainda tenha em sua memória os ele-
mentos de que necessita para formar o seu convencimento.
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A identidade do juiz vai garantir que o juiz que presidiu a audiência profira 
a sentença, assegurando, dessa forma, que ele realmente julgue a ação com 
base nas provas e nas impressões obtidas na audiência una. Esse princípio 
está previsto no art. 399, § 2º, do Código de Processo Penal, que determina 
que: “[...] o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença” (BRASIL, 
1941, documento on-line).
Importante destacar que o princípio da identidade do juiz não é absoluto, 
conforme os entendimentos do STF e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), 
o que pode ser verificado no julgado do STJ a seguir:
AgRG no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 337.691 — DF 
(2013/0162542-2)
RELATORA: MINISTRA MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA 
CONVOCADA DO TJSE)
AGRAVANTE: ALEXANDRE FREIRE DA SILVA
ADVOGADO: DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL
AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TER-
RITÓRIOS
EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL 
NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA 
IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ NÃO OCORRÊNCIA. MAGISTRADO NO 
GOZO DE FÉRIAS. ACÓRDÃO EM CONFORMIDADE COM A JURIS-
PRUDÊNCIA DO STJ. VERBETE N. 83 DA SÚMULA DESTA CORTE. 
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 
— O princípio da identidade física do juiz não é absoluto, podendo a sentença 
penal ser proferida por outro magistrado quando o responsável pela colheita 
de prova se encontre em uma das situações enumeradas no artigo 132 do 
Código de Processo Civil, caso dos autos. Precedentes.
Agravo regimental desprovido (BRASIL, 2013, documento on-line).
O art. 132 do Código de Processo Civil de 1973 consagrava o princípio 
da identidade física do juiz, dispondo que: “O juiz, titular ou substituto, que 
concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, 
afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará 
os autos ao seu sucessor” (BRASIL, 1973, documento on-line). 
Estas, então, são as causas que flexibilizam o princípio em questão.
Com relação à irrecorribilidade das decisões interlocutórias, esta determina 
a proibição de apresentação de recursos referentes às decisões que resolvem 
questões incidentes, que são aquelas que surgem durante o processo, mas que 
não o resolvem, ou seja, que não julgam o mérito da questão, conforme o art. 
203, § 2º, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).
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São exemplos de decisões interlocutórias a intimação de uma testemunha citada no 
curso do processo e a nomeação de um médico legista como perito.
Além das decisões interlocutórias, o magistrado poderá proferir mais dois tipos de 
decisão: a sentença e os despachos.
A sentença, conforme o Código de Processo Civil, art. 203, § 1º, é o pronunciamento 
por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põefim à fase cognitiva 
do procedimento comum, bem como extingue a execução (BRASIL, 2015).
Já os despachos, de acordo com o art. 203, § 3º, do Código de Processo Civil, são 
todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a 
requerimento das partes (BRASIL, 2015).
Direito Processual Penal12
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Acesso em: 3 maio 2018.
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13Direito Processual Penal
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Acesso em: 28 abr. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRG no AREsp: 337.691 DF 2013/0162542-2. 
Relator: Ministra Marilza Maynard. Sexta Turma. DJe, 30 out. 2013.
BRASIL. Superior Tribunal Federal. Habeas Corpus 126.292 SP. Relator: Ministro Teori 
Zavascki. DJe, 17 fev. 2016. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/pa-
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GRECO, R. Curso de Direito Penal. 20. ed. Niterói-RJ: Ímpetus, 2018. v. 1.
ISHIDO, V. K. Reforma processual penal: uma análise após três anos de alterações legais 
do CPP. Jornal Carta Forense, jun. 2012. Disponível em: <http://www.cartaforense.
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LOPES JR., A. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
Leitura recomendada
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Pena pode ser cumprida após decisão de segunda 
instância, decide STF. Notícias STF, fev. 2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/
portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=310153 >. Acesso em: 3 maio 2018.
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da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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