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08 10- O Principio do Melhor Interesse da Crianca e a Adocao a Brasileira- Conflitos e Solucoes (1)

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FACULDADE DE DIREITO DE ALTA FLORESTA - FADAF
NOME DO ALUNO
O Princípio do Melhor Interesse da Criança e a Adoção à Brasileira: Conflitos e Soluções
Alta Floresta - MT
14
ANO
NOME DO ALUNO
O Princípio do Melhor Interesse da Criança e a Adoção à Brasileira: Conflitos e Soluções
Projeto de Pesquisa apresentado junto à Disciplina Monografia Jurídica I e submetido à Banca de Qualificação do Curso de Direito, da Faculdade de Direito de Alta Floresta, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador(a): Prof(a). Esp., Ms. (ou Me.), Dr. (ou Dra.) Xxxxxx
Alta Floresta - MT
Ano
SUMÁRIO
1 TEMA	3
2 JUSTIFICATIVA	4
3 PROBLEMA	6
4 HIPÓTESE PROVISÓRIA DE PESQUISA	7
5 OBJETIVOS	8
5.1 OBJETIVO GERAL	8
5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:	8
6 REFERENCIAL TEÓRICo	9
6.1 Fundamentos do princípio do melhor interesse da criança e a sua positivação no ordenamento	9
6.2 “Adoção à brasileira”, entrega voluntária e proteção integral: tensões entre ilegalidade, políticas públicas e direitos	13
6.3 Dimensões psicossociais da adoção e participação da criança: escuta qualificada, parentalidades e redes de apoio	16
6.4 Governança, dados e accountability no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA)	20
7 METODOLOGIA	23
8 sumário provisório	25
9 cronograma	26
REFERÊNCIAS	27
1 TEMA
O Princípio do Melhor Interesse da Criança e a Adoção à Brasileira: Conflitos e Soluções
O tema proposto articula dois eixos centrais do direito da criança e do adolescente no Brasil: a força normativa do princípio do melhor interesse e os desafios práticos impostos pela chamada adoção à brasileira. Ao mesmo tempo em que a Constituição, o Estatuto da Criança e do Adolescente e os tratados internacionais reconhecem a criança como sujeito de direitos, persistem práticas informais de registro e circulação que invisibilizam origens, fragilizam laços e tensionam a proteção integral. Examinar esse contraste permite compreender como normas, políticas e decisões judiciais se materializam no cotidiano das famílias e das instituições.
A escolha do recorte busca evidenciar a distância entre o desenho institucional da adoção legal, com suas garantias de habilitação, preparo, escuta e acompanhamento, e os atalhos clandestinos que ainda encontram tolerância social em contextos de vulnerabilidade. Ao observar as múltiplas motivações dos adultos e os impactos concretos sobre as crianças, o estudo privilegia uma leitura interdisciplinar, combinando dimensões jurídicas, psicossociais e éticas. A análise também considera a atuação de cadastros, fluxos administrativos e serviços especializados como mecanismos de prevenção e de cuidado.
Ao problematizar conflitos e soluções, pretende-se mapear caminhos que reduzam a aderência a práticas ilícitas e fortaleçam respostas institucionais coerentes com o melhor interesse. Isso envolve discutir participação infantil em processos, qualificação de equipes, indicadores de desempenho e estratégias de apoio pré e pós-adoção, além de refletir sobre medidas de comunicação pública que desnaturalizem a informalidade. O tema, portanto, não se limita a um debate abstrato de princípios, mas convoca a revisão de procedimentos e a consolidação de rotas legais acessíveis e protetivas.
2 JUSTIFICATIVA
A escolha do tema se justifica pela tensão recorrente entre a necessidade de combater práticas ilícitas de registro civil e a obrigação constitucional de assegurar, com prioridade absoluta, a proteção integral de crianças e adolescentes. A denominada “adoção à brasileira”, embora juridicamente reprovável, continua surgindo em casos concretos que chegam ao Judiciário, exigindo respostas que harmonizem legalidade, segurança jurídica e o princípio do melhor interesse da criança, vetor hermenêutico consagrado no art. 227 da Constituição Federal e irradiado por todo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1988; Brasil, 1990).
No plano internacional, a Convenção sobre os Direitos da Criança incorporou ao ordenamento a centralidade do “best interests of the child”, vinculando intérpretes e aplicadores do direito a uma avaliação circunstanciada do que melhor atende ao desenvolvimento físico, psíquico, moral e social da criança, acima de interesses patrimoniais ou punitivos de adultos. Essa diretriz, internalizada pelo Decreto n. 99.710/1990, reforça que a proteção não se limita ao texto legal, mas exige ponderação concreta de danos e benefícios para o sujeito de direitos em formação (Brasil, 1990).
A legislação brasileira evoluiu para coibir irregularidades e aperfeiçoar o fluxo da adoção legal, especialmente com a Lei n. 12.010/2009, que consolidou a adoção como medida excepcional, irrevogável e orientada pelo melhor interesse, após esgotadas alternativas de manutenção na família natural ou extensa (Brasil, 2009). Ainda assim, lacunas informacionais, desigualdades socioeconômicas e desconfianças quanto à celeridade do sistema criaram, historicamente, espaços para práticas clandestinas que não se confundem com a entrega legal para adoção e que produzem litígios de alta complexidade humana e jurídica (Dias, 2021; Madaleno, 2024).
A adoção à brasileira, tipificada pelo art. 242 do Código Penal, revela um conflito de primeira grandeza: como responsabilizar adultos pela fraude sem impor à criança um novo sofrimento decorrente da ruptura abrupta de vínculos afetivos construídos de fato. O problema adquire contornos mais sensíveis quando se verifica que muitas crianças, ainda que registradas irregularmente, vivem anos sob posse de estado de filho, com laços afetivos, rotinas e pertencimento social consolidados (Brasil, 1940; Venosa, 2024).
No campo doutrinário, o reconhecimento jurídico da filiação socioafetiva e a possibilidade de multiparentalidade ampliaram ferramentas para solucionar casos nos quais a dimensão afetiva é juridicamente relevante, sem que isso signifique premiar fraudes ou relativizar a centralidade do cadastro e dos procedimentos legais de adoção. A socioafetividade, nessa perspectiva, opera como dado normativo a ser ponderado com a legalidade, e não como válvula de escape para legitimar ilícitos (CNJ, 2017; Lôbo, 2021; Calderón; Toazza, 2019).
A jurisprudência dos tribunais superiores tem afirmado a importância da socioafetividade e do melhor interesse, inclusive no reconhecimento da multiparentalidade, ao passo que reafirma a necessidade de preservar a higidez do sistema de adoção. Decisões paradigmáticas indicam critérios como tempo e qualidade do vínculo, ausência de indícios de compra de criança, idade, enraizamento comunitário e pareceres técnicos, como balizas para evitar revitimização da criança e calibrar eventuais medidas de regularização, sem afastar sanções aos responsáveis (STF, 2016; STJ, 2018).
A relevância social e acadêmica do estudo reside em propor um protocolo decisório transparente e replicável, apto a orientar magistrados, Ministério Público, Defensorias e equipes interdisciplinares em casos de adoção irregular, evitando soluções binárias que, ou ignoram a legalidade, ou desconsideram a proteção integral devida à criança. Ao sistematizar balizas normativas, doutrinárias e jurisprudenciais, a pesquisa contribui para decisões mais consistentes e previsíveis, com foco na dignidade e no desenvolvimento infantojuvenil (Farias; Rosenvald; Braga Netto, 2025).
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3 PROBLEMA
A persistência da chamada “adoção à brasileira” — isto é, o registro irregular de criança como se biológica fosse — expõe um conflito central entre a legalidade registral e o princípio do melhor interesse da criança, que orienta a proteção integral prevista na CF/88 e no ECA. Nos casos em que já existe vínculo socioafetivo consolidado, a solução judicial precisa evitar a revitimização da criança e, ao mesmo tempo, não premiar a fraude nem desorganizar o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA). Falta, porém, um conjunto claro de critérios operacionais que balizem a decisão nesses cenários limítrofes — critérios que articulem tempo e qualidade da convivência,idade e enraizamento social da criança, existência (ou não) de indícios de compra/tráfico, pareceres técnicos, posição do Ministério Público e possibilidades de regularização sem violar a fila do SNA.
Problema central de pesquisa:
Em que medida, e sob quais critérios jurídicos e probatórios, o princípio do melhor interesse da criança deve orientar a solução de casos de “adoção à brasileira”, de modo a equilibrar a proteção integral e a socioafetividade com a preservação da legalidade do sistema de adoção e a responsabilização adequada dos adultos envolvidos?
4 HIPÓTESE PROVISÓRIA DE PESQUISA
Hipótese 1. Em casos de adoção à brasileira com vínculo socioafetivo estável, ambiente protetivo e ausência de indícios de compra ou tráfico, o princípio do melhor interesse pode justificar a preservação da convivência da criança, com regularização jurídica adequada. A responsabilização civil, administrativa e penal dos adultos deve seguir em vias próprias.
Hipótese 2. O melhor interesse não legitima a fraude registral; atua como critério de ponderação para modular consequências centradas na criança. As medidas adotadas devem respeitar a legalidade, o cadastro e a fila do SNA, com acompanhamento técnico e possibilidade de transição planejada quando necessário.
Hipótese 3. O fortalecimento de políticas de prevenção e da governança do SNA, com canais de entrega legal, informação às gestantes, apoio psicossocial e prazos efetivos, tende a reduzir a incidência de adoções irregulares. Protocolos decisórios claros aumentam a previsibilidade das decisões e qualificam a tutela do desenvolvimento infantil.
5 OBJETIVOS
5.1 Objetivo geral
Analisar a aplicação do princípio do melhor interesse da criança em casos de adoção à brasileira, com foco em critérios decisórios, segurança jurídica e proteção integral.
5.2 Objetivos específicos:
· Mapear fundamentos constitucionais, legais e internacionais, além de atos do CNJ relacionados ao SNA e à filiação socioafetiva.
· Sistematizar a jurisprudência do STF, STJ e tribunais estaduais sobre adoção à brasileira, com identificação de padrões decisórios e balizas probatórias.
· Propor critérios e protocolo decisório para casos irregulares, com diretrizes de responsabilização dos adultos e de proteção integral da criança.
6 REFERENCIAL TEÓRICo
6.1 Fundamentos do princípio do melhor interesse da criança e a sua positivação no ordenamento
O princípio do melhor interesse da criança emergiu como eixo interpretativo para decisões que envolvem infância e adolescência, articulando dignidade, desenvolvimento integral e prioridade absoluta. No Brasil, sua incorporação constitucional consolidou a centralidade dos direitos da criança e do adolescente como vetor de interpretação das políticas públicas, das decisões administrativas e dos litígios privados. A previsão constitucional orienta a leitura de normas infraconstitucionais e a harmonização com tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo país, estabelecendo um patamar normativo robusto para a proteção integral. Nesse horizonte, o melhor interesse opera como cláusula de concretização, delimitando escolhas estatais e privadas que afetem a infância (Brasil, 1988).
A positivação do princípio no estatuto protetivo brasileiro reforça garantias materiais e processuais específicas, reconhecendo crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e não como objetos de tutela. O estatuto organiza direitos fundamentais, diretrizes de políticas e instrumentos de intervenção, plasmando o paradigma da proteção integral e de prioridade absoluta. Esse arcabouço normativo desloca a análise de um enfoque assistencialista para uma leitura centrada em direitos, exigindo que decisões sejam justificadas por razões públicas que considerem o impacto concreto sobre o desenvolvimento infantojuvenil. Ao fazê-lo, estabelece bases para políticas e decisões que resistam à tentação de soluções meramente formais ou punitivistas (Brasil, 1990).
A convergência com a convenção internacional fortalece o conteúdo do princípio, destacando o dever de considerar primordialmente o interesse da criança em todas as ações que lhe digam respeito. Esse compromisso internacional não é retórico, pois influencia diretamente a hermenêutica interna e a conformação de políticas públicas. A incorporação por decreto amplia a exigência de compatibilização entre a legislação doméstica e os parâmetros convencionais, fomentando a atualização institucional e a responsividade do sistema de justiça. Assim, a interpretação de normas civis, penais e administrativas passa a dialogar com standards internacionais de proteção, em contínua retroalimentação normativa (Brasil, 1990a).
A doutrina de “best interests” também opera como instrumento de resolução de conflitos entre valores e direitos, exigindo métodos transparentes de ponderação. Na literatura bioética e jurídico-ética, discute-se a diferença entre evitar dano e promover melhores interesses quando há desacordo entre responsáveis, profissionais e sociedade. Essa distinção não é meramente semântica, pois influencia critérios operacionais de decisão nas instâncias judiciais e administrativas. A análise sugere que o melhor interesse requer justificativas públicas que transcendam preferências individuais e confiram primazia a evidências e parâmetros objetivos de bem-estar infantil (Archard; Parent, 2023).
A jurisprudência constitucional brasileira consolidou a centralidade do princípio e reconheceu a necessidade de soluções que reflitam a realidade afetiva, social e psicológica das crianças. Em temas de filiação e guarda, a corte sinalizou que o vínculo socioafetivo e a estabilidade das relações podem prevalecer sobre formalidades quando isto melhor resguarda o desenvolvimento. Essa orientação rejeita concepções patrimoniais ou meramente biológicas do parentesco, reforçando a prevalência de arranjos que efetivamente promovam proteção e cuidado. Assim, a leitura constitucional funciona como filtro contra práticas que instrumentalizem a criança em disputas adultocêntricas (Supremo Tribunal Federal, 2016).
No plano infraconstitucional, a orientação de precedentes do tribunal superior destaca que a preservação do melhor interesse deve guiar a análise de controvérsias sensíveis, inclusive quando envolvem irregularidades formais em vínculos de cuidado. A corte tem acentuado que soluções devem considerar a singularidade do caso, a trajetória de vínculos e o impacto de mudanças abruptas sobre o bem-estar infantil. Essa abordagem afasta automatismos e incentiva decisões prudentes, transparentes e proporcionais às consequências envolvidas para as crianças e adolescentes. Com isso, evita-se que respostas punitivas contra adultos descolem da proteção integral da infância (Superior Tribunal de Justiça, 2018).
A normativa administrativa também contribui para concretizar o princípio, ao estruturar cadastros, fluxos e responsabilidades no sistema nacional de adoção e acolhimento. A institucionalização de dados e procedimentos ajuda a prevenir discricionariedade, reduzindo tempos de espera e ampliando a transparência do percurso adotivo. Além disso, diretrizes do conselho nacional orientam práticas de registro civil e reconhecimento de vínculos afetivos, procurando compatibilizar segurança jurídica e realidade familiar. Esses instrumentos regulatórios servem como pontes entre macroprincípios e rotinas institucionais cotidianas (Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023; Brasil, 2019).
A hermenêutica do princípio demanda, contudo, parâmetros operacionais que evitem vagueza e subjetivismo. A literatura enfatiza que critérios de melhor interesse devem ser informados por evidências psicológicas, sociais e de saúde, bem como por avaliações interdisciplinares que considerem a voz da criança. Essa exigência impõe ao sistema de justiça e às políticas públicas uma abertura permanente à expertise técnica e às práticas avaliativas situadas. Ao mesmo tempo, requer justificativas escritas claras, que permitam controle social e revisãoadequada de decisões sensíveis (Archard; Parent, 2023).
A dupla dimensão do princípio, como diretriz material e processual, impõe garantias participativas nos procedimentos que envolvam crianças e adolescentes. A participação não é mera formalidade, mas requisito para captar a perspectiva subjetiva e as necessidades específicas de quem será diretamente afetado. Experiências brasileiras têm apontado a importância de instrumentos que viabilizem escuta qualificada, mediação adequada à faixa etária e devolutivas compreensíveis. Tais arranjos operam como salvaguardas contra invisibilização ou sobreposição de interesses exclusivamente adultos (Pinheiro; Oliveira, 2024).
A prioridade absoluta prevista no ordenamento jurídico se converte em critérios de alocação de tempo, recursos e atenção institucional. Isso significa que filas processuais, políticas de acolhimento e estratégias de atendimento devem refletir essa primazia de forma mensurável. O controle dessa prioridade exige indicadores e metas que tornem auditável a concretização do princípio, evitando que permaneça no plano declamatório. Ao transformá-lo em política pública rastreável, o sistema reduz desigualdades e eleva a accountability estatal (Brasil, 1990; Brasil, 2019).
A perspectiva de proteção integral requer também vigilância sobre práticas que, sob aparência de cuidado, perpetuam violências simbólicas e estruturais. Adoções informais, registros falsos e ocultação de origem biográfica minam o direito à identidade e à história de vida, com efeitos duradouros. A resposta jurídica deve, portanto, combinar prevenção, responsabilização proporcional e, sobretudo, recomposição de laços e direitos da criança. Essa abordagem evita soluções simplistas e reafirma o eixo do interesse infantil em detrimento de conveniências adultas (Brasil, 1940; Superior Tribunal de Justiça, 2018).
A formação continuada de operadores do direito e equipes interdisciplinares emerge como condição para a boa aplicação do princípio. A complexidade dos casos demanda atualização constante em psicologia do desenvolvimento, dinâmicas familiares e políticas de proteção. Além disso, exige competências comunicativas para produzir decisões compreensíveis às crianças e às famílias, fortalecendo confiança e adesão. Investir nessa dimensão humana e técnica converge com o próprio conteúdo do melhor interesse, que reclama respostas cuidadosas e fundamentadas (Benelli, 2022).
A compatibilização entre segurança jurídica e flexibilidade protetiva é um desafio permanente. De um lado, há o risco de relativismo que comprometa previsibilidade; de outro, normas rígidas podem ignorar singularidades e agravar danos. O princípio funciona como bússola para navegar essa tensão, orientando a construção de standards objetivos sem perder sensibilidade ao caso concreto. Nessa trilha, a motivação das decisões é o espaço para explicitar por que determinada medida promove melhor o desenvolvimento infantil (Archard; Parent, 2023; Supremo Tribunal Federal, 2016).
A interlocução entre direito interno e parâmetros internacionais reforça a necessidade de cooperação interinstitucional. O combate a práticas ilícitas, a regulação de cadastros e a prevenção de fraudes demandam arranjos coordenados entre justiça, registros civis e políticas sociais. A integração de bases de dados e protocolos de atuação reduz vulnerabilidades e fortalece o enfoque preventivo. Essa coordenação traduz o princípio em rotinas que protegem trajetórias infantis e evitam danos sistêmicos (Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023; Brasil, 1999).
A efetividade do melhor interesse depende, por fim, da capacidade de traduzir normas em experiências positivas de cuidado, pertencimento e identidade. A proteção não se esgota em sentenças, mas se realiza no cotidiano das relações familiares e comunitárias que sustentam o desenvolvimento. Políticas de apoio pós-adoção, preparo de pretendentes e fortalecimento de redes de apoio são extensões práticas do princípio. Ao privilegiar essas dimensões concretas, o sistema confere substância ao enunciado normativo e reduz disparidades de tratamento (Gomes; Costa; Garcia, 2024; Pasin; Mantovani; Kaloustian, 2022).
O princípio do melhor interesse opera como eixo estruturante que alinha constituição, estatuto, convenções e regulação administrativa à realidade das crianças. Sua aplicação exige métodos de justificativa pública, participação efetiva e articulação intersetorial, com indicadores que permitam controle e aprendizado institucional. Essa gramática comum viabiliza decisões prudentes, previne soluções adultocêntricas e reafirma a centralidade do desenvolvimento infantojuvenil na agenda pública. Assim, o ordenamento converte valores em práticas que resguardam trajetórias e potencialidades (Brasil, 1988; Brasil, 1990; Brasil, 2019; Archard; Parent, 2023).
6.2 “Adoção à brasileira”, entrega voluntária e proteção integral: tensões entre ilegalidade, políticas públicas e direitos
A chamada “adoção à brasileira” descreve práticas de burla ao circuito legal da adoção por meio de registro falso ou ocultação da origem, frequentemente naturalizadas em contextos de vulnerabilidade. Embora motivada por razões variadas, essa prática reproduz violências contra o direito à identidade e compromete o acesso da criança a garantias essenciais. O ordenamento jurídico tipifica a conduta e protege a veracidade registral, pois a falsidade documental afeta políticas e serviços que dependem de informações fidedignas. A proteção integral recomenda respostas que unam prevenção, responsabilização e recomposição de direitos (Brasil, 1940; Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, 2018).
A distinção entre irregularidade e cuidado eficaz é crucial, porque a responsabilização de adultos não pode eclipsar a centralidade do interesse infantil. A jurisprudência tem insistido que a solução de casos envolvendo vínculos de fato deve evitar rupturas traumáticas, ponderando estabilidade, afeto e segurança. Isso não legitima a prática ilícita, mas orienta saídas que minimizem danos e preservem o desenvolvimento da criança, inclusive com medidas de transição e acompanhamento psicossocial. Trata-se de calibrar a resposta punitiva com o eixo protetivo, evitando automatismos (Superior Tribunal de Justiça, 2018).
No plano das políticas, a instituição de um sistema nacional de adoção e acolhimento busca reduzir tempos, padronizar fluxos e aumentar transparência. Cadastros, estudos psicossociais e preparação de pretendentes funcionam como salvaguardas contra atalhos informais. Ao estruturar caminhos claros, o sistema desincentiva práticas clandestinas e fortalece a confiança social no percurso legal. Essa arquitetura administrativa é parte da prevenção primária de violações de direitos ligados à origem e à filiação (Brasil, 2019; Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023).
A entrega voluntária, prevista e regulamentada, não se confunde com abandono, tampouco com a adoção informal, pois ocorre sob acompanhamento e com garantias processuais. A literatura recente alerta, porém, para riscos de que contextos de desigualdade transformem a entrega em solução constrangida e silenciosa. Por isso, exige-se acolhimento isento, proteção à autonomia reprodutiva e suporte às mulheres, inclusive com alternativas e redes de proteção social. O objetivo é garantir decisão informada e livre, sem estigmas e sem violência institucional (Dieguez; Sá, 2024).
O enfrentamento de redes ilícitas ligadas à circulação irregular de crianças demanda perspectiva de direitos humanos e cooperação interinstitucional. Estudos apontam a necessidade de integrar justiça criminal, proteção social e registros civis para identificar fluxos e reduzir incentivos ao mercado ilegal. A abordagem deve priorizar a criança como vítima de múltiplas violências, articulando responsabilização com reparação e políticas de memória e identidade. Sem essa visão, respostas fragmentadas perpetuam vulnerabilidades e revitimizam famílias (Almeida; Moraes; Chai; Carneiro; Júnior, 2024).
A dimensãocultural da “adoção à brasileira” também precisa ser enfrentada, pois narrativas de “bondade privada” podem mascarar violações graves. Entrevistas e estudos qualitativos mostram como circulações informais naturalizam desvios em nome de soluções rápidas, especialmente em territórios marcados por desigualdade. A crítica acadêmica propõe deslocar o foco do voluntarismo para a institucionalidade protetiva, reforçando o caminho legal e as redes de apoio às famílias. Esse reposicionamento produz aprendizagem social e reduz a tolerância a práticas clandestinas (Gentili, 2020; Benelli, 2022).
No âmbito dos serviços, grupos reflexivos com pretendentes e famílias adotivas têm mostrado efetividade para alinhar expectativas, qualificar vínculos e preparar para desafios. A literatura brasileira destaca que a troca de experiências e a mediação técnica reduzem idealizações e fortalecem competências parentais. Essa preparação é particularmente relevante para prevenir desistências, rupturas e reinserções traumáticas no sistema de acolhimento. Em última instância, promove-se proteção integral por meio de cuidado responsável e informado (Gomes; Costa; Garcia, 2024; Pasin; Mantovani; Kaloustian, 2022).
Casos de adoção tardia ilustram tensões específicas, pois exigem manejo de histórias pregressas, identidades em formação e necessidades complexas de apoio. A pesquisa aponta que processos de vinculação demandam tempo, consistência e acompanhamento especializado, inclusive para elaboração de perdas. A institucionalidade deve assegurar suporte continuado, de modo a evitar sobrecargas que conduzam à ruptura dos vínculos recém-formados. A abordagem cuidadosa traduz o princípio do melhor interesse em práticas clínicas e psicossociais concretas (Alves; Lago; Arpini, 2022; Bravin, 2022).
A monoparentalidade adotiva, por sua vez, desafia estereótipos e expande o repertório de arranjos familiares reconhecidos pelo direito. Estudos recentes sobre motivação e trajetórias sugerem que apoio em rede e preparo específico potencializam êxitos e reduzem riscos de isolamento. Incorporar essa diversidade ao desenho de políticas reduz barreiras implícitas e amplia o leque de perfis aptos a oferecer cuidado estável e afetuoso. Essa abertura é coerente com a proteção integral e com a centralidade do interesse infantil (Lima, 2024).
A escuta qualificada da criança ao longo de todo o percurso é elemento decisivo para distinguir soluções protetivas de respostas adultocêntricas. Instrumentos de participação e metodologias adaptadas à idade permitem captar medos, desejos e expectativas, alimentando decisões mais ajustadas. Ao respeitar a voz infantil, o sistema evita substituições indevidas de vontade e previne o apagamento da subjetividade da criança. Tal prática fortalece legitimidade e efetividade das medidas adotadas (Pinheiro; Oliveira, 2024).
A multiparentalidade e a complexidade das famílias recompostas colocam novos desafios à regularização de vínculos e ao acesso a direitos. A literatura sublinha que reconhecer redes de cuidado reais pode servir ao melhor interesse, desde que se evitem fraudes e superposições lesivas. Esse reconhecimento demanda protocolos rigorosos de avaliação e justificativa, evitando banalização e preservando estabilidade para a criança. A calibragem jurídica deve ser fina e responsiva às condições do caso (Oliveira; Barbosa; Pratta, 2020; Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023).
A resposta penal à falsidade registral precisa ser acompanhada de políticas de prevenção e de caminhos de regularização que preservem direitos da criança. Medidas educativas, campanhas informativas e acessibilidade ao percurso legal contribuem para reduzir demanda por vias clandestinas. Paralelamente, a responsabilização deve ser proporcional e orientada ao resultado protetivo, evitando efeitos colaterais que agravem danos. Essa combinação alcança dissuasão sem sacrificar o eixo do desenvolvimento infantil (Brasil, 1940; Superior Tribunal de Justiça, 2018).
No desenho institucional, a integração entre varas da infância, defensorias, ministério público e serviços psicossociais é condição para respostas céleres e consistentes. Protocolos intersetoriais, prazos monitoráveis e comunicação transparente aumentam confiança e reduzem a opacidade que alimenta atalhos ilegais. Relatórios técnicos qualificados e decisões fundamentadas criam trilhas de aprendizagem institucional e padronizam boas práticas. Ao final, a criança se beneficia de um ecossistema coerente e previsível (Brasil, 2019; Benelli, 2022).
A produção de dados confiáveis sobre fluxos de adoção e sobre incidências de irregularidades é indispensável para políticas baseadas em evidências. Indicadores públicos permitem avaliar gargalos, regionalizar estratégias e priorizar investimentos, inclusive em preparação de pretendentes e apoio pós-adoção. Transparência amplia controle social e corrige distorções que favorecem a clandestinidade. O monitoramento retroalimenta normativas administrativas e práticas forenses (Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023; Brasil, 2019).
Em perspectiva sistêmica, enfrentar a “adoção à brasileira” requer transformar a cultura de excepcionalismos em rotinas de legalidade protetiva. Isso implica comunicação pública clara, serviços acessíveis e decisões que explicitem como promovem concretamente o melhor interesse em cada caso. Ao reduzir a margem para improvisos, o sistema oferece trajetórias seguras e compatíveis com a identidade e a história de cada criança. Essa é a via mais consistente para prevenir novas violações e consolidar confiança social nas instituições (Dieguez; Sá, 2024; Almeida; Moraes; Chai; Carneiro; Júnior, 2024).
6.3 Dimensões psicossociais da adoção e participação da criança: escuta qualificada, parentalidades e redes de apoio
A tomada de decisão em adoção demanda olhar interdisciplinar que incorpore evidências psicológicas, sociais e jurídicas sobre desenvolvimento infantil. Pesquisas brasileiras realçam que preparo prévio e acompanhamento pós-adoção reduzem riscos de ruptura e fortalecem a adaptação mútua. A centralidade do melhor interesse se materializa quando políticas e serviços traduzem princípios em práticas de cuidado individualizadas. Nesse cenário, equipes multiprofissionais são essenciais para leituras situadas de cada história e contexto (Gomes; Costa; Garcia, 2024; Pasin; Mantovani; Kaloustian, 2022).
A participação da criança em procedimentos que a afetam deve ser compreendida como direito substantivo e como garantia processual. Instrumentos de escuta adequados à idade permitem acessar percepções, medos e vínculos significativos, enriquecendo a motivação das decisões. A literatura recente indica que processos mais participativos tendem a produzir maior aderência e menor sofrimento, pela percepção de respeito e de previsibilidade. Assim, o direito de ser ouvido não é formalidade, mas componente do próprio interesse protegido (Pinheiro; Oliveira, 2024; Archard; Parent, 2023).
A preparação de pretendentes, realizada em grupos reflexivos, ajuda a desconstruir idealizações e a desenvolver competências parentais para desafios complexos. Relatos de experiência mostram ganhos na qualidade da vinculação, no manejo de comportamentos e na construção de rotinas estáveis. Esses espaços também funcionam como redes de apoio e aprendizagem continuada, diminuindo o isolamento e a sobrecarga familiar. O investimento nessa etapa é, portanto, estratégia de prevenção de rupturas e de promoção do bem-estar infantil (Gomes; Costa; Garcia, 2024; Pasin; Mantovani; Kaloustian, 2022).
A adoção tardia exige atenção especial à história pregressa, às perdas acumuladas e às expectativas de pertencimento. Estudos de caso indicam que o processo de construção de vínculos é paulatino e demanda manejo profissional qualificado, sensível às singularidades. Intervenções clínicas e psicoeducativas favorecem a elaboração de experiências traumáticas e a criação de significados compartilhados. Essas medidas dão concretude ao princípio do melhor interesse, evitandorespostas padronizadas que desconsiderem tempos subjetivos (Alves; Lago; Arpini, 2022; Bravin, 2022).
Grupos terapêuticos e intervenções sistêmicas têm sido utilizados como dispositivos para fortalecer a parentalidade adotiva e prevenir crises. A troca de vivências, aliada à mediação técnica, ajuda a construir repertórios para lidar com inseguranças, regressões e desafios escolares. Essa abordagem combina suporte emocional com estratégias práticas, reduzindo o risco de escaladas de conflito e de desorganização familiar. Ao estabilizar o ambiente, protege-se o percurso de desenvolvimento da criança (Miranda et al., 2020; Pasin; Mantovani; Kaloustian, 2022).
As motivações para a monoparentalidade adotiva revelam trajetórias diversas e necessidades específicas de suporte social. A literatura evidencia que redes de apoio, políticas de conciliação e preparo dirigido são determinantes para a sustentabilidade do projeto parental. Considerar esses fatores desde a habilitação evita sobrecargas e amplia a capacidade de resposta a imprevistos. A atenção a essas variáveis é parte integrante da leitura do melhor interesse em contextos contemporâneos (Lima, 2024).
Questões de infertilidade e luto reprodutivo podem atravessar o percurso adotivo, demandando cuidado clínico e espaços de elaboração. Estudos sugerem que a integração dessas dimensões ao preparo de pretendentes reduz projeções idealizadas e expectativas irreais. Ao reconhecer e trabalhar essas vivências, os serviços promovem vínculos mais estáveis e responsivos às necessidades da criança. Esse trabalho preventivo diminui probabilidades de rupturas e de sofrimento acumulado (Guimarães; Ferrão; Lopes, 2023; Gomes; Costa; Garcia, 2024).
A multiparentalidade e os arranjos familiares complexos exigem avaliações finas sobre papéis, responsabilidades e fronteiras funcionais. Pesquisas sobre famílias recompostas e vínculos socioafetivos mostram que reconhecimentos jurídicos podem refletir realidades de cuidado efetivo. Contudo, é preciso delimitar efeitos e prevenir ambiguidades que confundam a criança e fragilizem autorregulação familiar. Protocolos claros ajudam a traduzir pluralidade em estabilidade e previsibilidade (Oliveira; Barbosa; Pratta, 2020; Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023).
A circulação informal de crianças, por outro lado, amplia vulnerabilidades e compromete direitos à identidade, à origem e à memória. A crítica acadêmica desnaturaliza essas práticas, apontando danos de longo prazo e a urgência de rotas legais acessíveis. O enfoque psicossocial demonstra que vínculos iniciados na clandestinidade tendem a acumular segredos e inseguranças, dificultando elaboração posterior. A prevenção passa por comunicação pública, suporte social e qualificação institucional (Gentili, 2020; Almeida; Moraes; Chai; Carneiro; Júnior, 2024).
O manejo de crises no ciclo pós-adoção requer planos de cuidado com metas, monitoramento e pontos de reavaliação. Equipes devem articular intervenções clínicas, apoio escolar e mediação de conflitos, mantendo a criança no centro da decisão. A literatura de serviços descreve que abordagens integradas reduzem escaladas que levariam à ruptura do vínculo. Transparência e pactuação com a família favorecem corresponsabilidade no percurso (Gomes; Costa; Garcia, 2024; Miranda et al., 2020).
Formação continuada de profissionais é condição para escutas qualificadas e avaliações sensíveis ao desenvolvimento. Competências em comunicação com crianças, avaliação de risco e intervenção familiar melhoram a qualidade das decisões e relatórios. Essa profissionalização sustenta a coerência entre princípios normativos e práticas cotidianas, elevando a confiança social nas instituições. Sem essa base, o princípio tende a ficar retórico e pouco efetivo (Benelli, 2022; Pinheiro; Oliveira, 2024).
Indicadores de qualidade em preparo, tempo de espera e apoio pós-adoção permitem monitorar políticas e corrigir desvios. A cultura de avaliação cria ciclos de aprendizagem institucional e dá transparência à sociedade, reduzindo espaço para soluções improvisadas. Quando combinados à participação de usuários, esses indicadores captam necessidades reais e guiam investimentos. Esse giro para evidências fortalece a efetividade do melhor interesse (Brasil, 2019; Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023).
A articulação entre justiça, assistência social e saúde mental sustenta respostas integradas às necessidades das crianças e famílias. Protocolos compartilhados e comunicação intersetorial evitam contradições e lacunas que geram insegurança e sofrimento. Ao produzir coerência institucional, o sistema cria previsibilidade e confiança, elementos essenciais para vínculos em formação. Essa arquitetura traduz princípios em trajetórias protetivas concretas (Brasil, 2019; Benelli, 2022).
Nos casos transfronteiriços, a convenção específica sobre adoção internacional estabelece salvaguardas adicionais para prevenir tráfico e garantir subsidiariedade. A cooperação entre autoridades centrais e o respeito a origens e identidades culturais compõem o núcleo de proteção. Esses dispositivos reiteram que o melhor interesse não se confunde com facilitação de deslocamentos, mas com garantias integrais e controle rigoroso. A mesma lógica inspira políticas domésticas de prevenção a fluxos ilícitos (Brasil, 1999; Almeida; Moraes; Chai; Carneiro; Júnior, 2024).
A centralidade da criança e de sua narrativa biográfica funciona como fio condutor de todas as dimensões psicossociais. O reconhecimento de histórico, origem e vínculos significativos potencializa pertencimento e autoestima, reduzindo riscos de rupturas futuras. Políticas e práticas que acolhem a voz infantil e oferecem suporte continuado traduzem o princípio em vivências concretas. Essa é a medida de sucesso de um sistema orientado pelo melhor interesse (Pinheiro; Oliveira, 2024; Gomes; Costa; Garcia, 2024).
6.4 Governança, dados e accountability no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA)
A governança do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento organiza fluxos, define responsabilidades e introduz padrões mínimos para estudos técnicos, prazos e preparação de pretendentes, convertendo princípios abstratos em rotinas verificáveis. Ao integrar cadastros e procedimentos, o sistema reduz discricionariedades, assegura rastreabilidade das decisões e favorece a equalização de práticas entre comarcas, o que impacta diretamente a concretização do melhor interesse da criança ao longo do percurso adotivo (Brasil, 2019; Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023).
A padronização de etapas como habilitação, escuta, visitas técnicas e relatórios psicossociais contribui para que a avaliação de vínculos e contextos familiares seja comparável e auditável. Essa arquitetura administrativa também mitiga riscos de soluções improvisadas e cria barreiras institucionais a práticas informais, em especial nos pontos de maior vulnerabilidade, como a transição do acolhimento para a colocação em família substituta. A previsibilidade resultante aumenta a confiança social no caminho legal de adoção (Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023; Brasil, 2019).
Indicadores públicos são instrumentos centrais de accountability ao permitirem mensurar tempos de espera, taxas de reinserção, rupturas de guarda e necessidade de apoio pós-adoção. A visibilidade de resultados induz aprendizagem institucional, realoca recursos e orienta formações voltadas a gargalos identificados empiricamente. A cultura de dados, quando articulada à transparência ativa, ilumina desigualdades regionais e facilita o controle social sobre o cumprimento de prioridades legais (Brasil, 2019; Benelli, 2022).
A coleta e o uso ético de dados exigem salvaguardas para proteção de identidades e histórias de vida, especialmente quando se trata de crianças e adolescentes. Boas práticas incluem anonimização, perfis de acesso diferenciados e relatórios agregados que não exponham sujeitos nem casos singulares. Esse cuidado garante que o ganho de governança não viole direitos à privacidade e à memória,preservando a finalidade pública do sistema sem produzir novos danos (Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023; Benelli, 2022).
A governança orientada a evidências deve dialogar com fundamentos normativos e éticos do “best interests”, evitando que metas operacionais degradem a qualidade das decisões. Prazos, por exemplo, são relevantes, mas só expressam interesse infantil quando acompanhados de estudos técnicos robustos e participação efetiva da criança naquilo que lhe diz respeito. A literatura jurídico-ética adverte que medidas eficientes podem ser danosas se não forem justificadas por critérios substantivos de bem-estar (Archard; Parent, 2023).
No plano dos processos, a institucionalização da escuta qualificada requer protocolos específicos de comunicação, ambiente apropriado e devolutivas compreensíveis para diferentes faixas etárias. Incorporar a voz infantil como dado estruturante desloca a participação de formalidade para insumo decisório com impacto verificável em relatórios e sentenças. Esse arranjo fortalece legitimidade, melhora aderência às medidas e evita soluções adultocêntricas (Pinheiro; Oliveira, 2024; Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023).
A governança do SNA também depende do ecossistema de serviços que prepara pretendentes e acompanha famílias, especialmente por meio de grupos reflexivos e apoio pós-adoção. Quando esses dispositivos funcionam com regularidade e registro sistemático, geram informações sobre fatores de risco e proteção, retroalimentando políticas e formações de equipes técnicas. Trata-se de um circuito de qualidade que liga prática, dado e decisão administrativa (Gomes; Costa; Garcia, 2024; Pasin; Mantovani; Kaloustian, 2022).
Para reduzir a adesão a rotas clandestinas, a transparência do percurso legal deve ser acompanhada de comunicação pública clara sobre etapas, direitos e canais de orientação. Relatórios periódicos, painéis acessíveis e prestação de contas ampliam o entendimento social do sistema e diminuem a tolerância a práticas informais. Ao tornar visíveis avanços e pendências, a governança desloca narrativas de “atalho necessário” para a confiança em rotas institucionais (Benelli, 2022; Brasil, 2019).
A cooperação interinstitucional é outro pilar, envolvendo varas da infância, defensorias, ministério público, serviços de assistência e registros civis, com protocolos de fluxo e metas compartilhadas. Integrações tecnológicas e rotinas de reunião de caso previnem contradições e reduzem tempos mortos, frequentemente associados a rupturas e desistências. A coordenação sustentada traduz o melhor interesse em respostas coerentes e tempestivas (Conselho Nacional de Justiça, 2017–2023; Brasil, 2019).
Accountability significa explicar por que determinada decisão promove melhor o desenvolvimento infantil naquele caso, e como evidências e parâmetros foram ponderados. A motivação qualificada é o espaço onde dados, escuta e marcos normativos se encontram e se tornam auditáveis, permitindo correção de rumos quando necessário. Ao alinhar princípios, processos e resultados, a governança do SNA reforça a proteção integral e consolida trajetórias legais seguras e previsíveis (Archard; Parent, 2023; Pinheiro; Oliveira, 2024).
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7 METODOLOGIA
Este estudo adota cunho bibliográfico, com abordagem qualitativa e caráter descritivo-analítico, voltado a sistematizar e interpretar a produção recente sobre o princípio do melhor interesse da criança, “adoção à brasileira”, entrega voluntária e dimensões psicossociais da adoção. Definiu-se como recorte temporal o período de 2020 a 2025, contemplando literatura científica e normativa pertinente ao tema. Foram considerados artigos, livros, capítulos, provimentos e legislações que dialogam diretamente com a proteção integral e com a participação da criança nas decisões que lhe dizem respeito.
A busca de fontes ocorreu em bases indexadas e catálogos reconhecidos na área: SciELO, BVS/Bireme e PubMed, além de repositórios jurídicos institucionais (p. ex., CNJ, STF, STJ). Empregaram-se descritores controlados DeCS/MeSH e termos livres combinados com operadores booleanos, tais como: “melhor interesse da criança” OR “best interests”, “adoção à brasileira” OR “registro falso”, “entrega voluntária”, “adoção tardia”, “monoparentalidade adotiva”, “multiparentalidade”, “participação da criança” AND “processos judiciais”. Foram incluídos textos em português, inglês e espanhol, com acesso ao conteúdo integral.
Os critérios de inclusão abrangeram: (i) pertinência direta ao objeto; (ii) publicação entre 2020 e 2025; (iii) consistência metodológica explícita no caso de estudos empíricos; e (iv) aderência a marcos legais nacionais relacionados à infância e adoção. Excluíram-se duplicatas, comentários não fundamentados, textos opinativos sem respaldo metodológico e documentos alheios ao escopo. Após triagem por título e resumo, procedeu-se à leitura integral e à extração de dados em matrizes padronizadas (contexto, objetivo, método, achados principais, implicações).
A síntese foi conduzida por análise temática orientada às categorias definidas no referencial teórico: (a) fundamentos e positivação do melhor interesse; (b) tensões entre ilegalidade, políticas públicas e direitos (adoção à brasileira e entrega voluntária); e (c) dimensões psicossociais e participação da criança. Buscou-se evidenciar convergências, dissensos e lacunas, articulando a literatura científica com o marco normativo brasileiro. Foram observados princípios de rastreabilidade e transparência do processo (registro das estratégias de busca, critérios e decisões), bem como a discussão de limitações, notadamente possíveis vieses de publicação e a heterogeneidade metodológica dos estudos incluídos.
8 sumário provisório
INTRODUÇÃO
1 CAPÍTULO — Fundamentos do Princípio do Melhor Interesse da Criança
1.1 Origem, evolução e positivação no ordenamento brasileiro
1.1.1 Parâmetros éticos de “best interests” e balizas jurisprudenciais
1.2 Constituição, ECA e Convenção sobre os Direitos da Criança: proteção integral e prioridade absoluta
1.3 Normativas do CNJ e trajetórias legais de filiação e adoção
2 CAPÍTULO — “Adoção à Brasileira”, Entrega Voluntária e Políticas Públicas
2.1 Conceitos, tipificação penal e distinções entre irregularidade e cuidado efetivo
2.1.1 Jurisprudência aplicada e estudos de caso em perspectiva protetiva
2.2 Governança do SNA, fluxos padronizados e transparência de dados
2.3 Estratégias de prevenção, comunicação pública e cooperação interinstitucional
3 CAPÍTULO — Dimensões Psicossociais e Participação da Criança
3.1 Escuta qualificada, participação processual e motivação das decisões
3.2 Preparação de pretendentes, grupos reflexivos e apoio pós-adoção
3.3 Adoção tardia, monoparentalidade, multiparentalidade e famílias recompostas
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
9 cronograma
	Atividades (2025.2)
	Ago.
	Set.
	Out.
	Nov.
	Delimitação do assunto do projeto de pesquisa
	X
	X
	
	
	Escolha do orientador do projeto de pesquisa
	X
	X
	
	
	Seleção e leitura das obras para elaboração do projeto de pesquisa
	X
	X
	X
	X
	Elaboração dos elementos apresentados no modelo do projeto de pesquisa
	X
	X
	X
	X
	Depósito do projeto de pesquisa
	
	
	
	11/10 a 25/10
	Qualificação do projeto de pesquisa 
	
	
	
	10/11 a 14/11
	Depósito final do projeto de pesquisa
	
	
	
	10/11 a 22/11
	Atividades (2026.1)
	Fev.
	Mar.
	Abr.
	Mai.
	Jun.
	Seleção e leitura das obras para elaboração da monografia
	X
	X
	X
	
	
	Elaboração dos capítulos 
	X
	X
	X
	
	
	Elaboração dos elementos pré-textuais e pós-textuais
	
	
	X
	X
	
	Depósito da monografia 
	
	
	X
	X
	
	Bancas de Monografia
	
	
	
	X
	
	Depósito da versão final
	
	
	
	
	X
REFERÊNCIAS
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