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ASPECTOS HISTÓRICOS DA DEFICIÊNCIA Prof.: Denise Matias ASPECTOS HISTÓRICOS DA DEFICIÊNCIA O percurso da pessoa com deficiência é atravessado por práticas discriminatórias e diversas lutas e movimentos em favor da manutenção do direito à cidadania. Não é possível pensar em todo esse movimento sem, entretanto, refletir sobre a cultura de cada grupo de indivíduos na sociedade. Por meio da transmissão de conhecimentos as comunidades ou grupos de pessoas iniciam suas vidas e consolidam hábitos e modos de viver pautados em suas gerações anteriores. Como a pessoa com deficiência se “enquadra” em um contexto social de produção para a própria sobrevivência? A antiguidade foi considerada o período do extermínio, a deficiência não exista como tal. Todas as crianças que nasciam deficientes ou com algum tipo de anormalidade eram rejeitadas e eliminadas sumariamente. Segundo Gugel (2007) por meio de evidências arqueológicas no Egito Antigo as pessoas com deficiência podiam trabalhar e ocupar um lugar social juntamente com as demais. No entanto, na Antiguidade Clássica, a negligência era total, não havia atendimento ou acolhimento e as pessoas estavam condenadas a serem abandonadas. Já na Grécia Antiga, precisamente em Esparta, segundo Emmel (2002) havia um padrão de beleza estabelecido. Em Atenas cabia ao pai decidir o que fazer com os filhos que não apresentavam o padrão de saúde esperado socialmente. Na Roma Antiga os bebês do sexo feminino que nasciam deficientes eram colocados aos pés do pai para que ele decidisse o futuro da criança. • A educação especial estava atrelada a caridade ou ao assistencialismo. • Na Idade Média a doutrina Cristã modifica e interfere neste cenário. As pessoas com deficiência tiveram o apoio da Igreja. • A história da educação especial no mundo teve seu início no século XVI. • Deficiência do ponto de vista organicista. • Institucionalização. Contribuições: • Surdez - Abade Charles Michel de L’Epée. • Cegueira - Valentin Haüy e Louis Braille. • Deficiência mental - Jean Marc Gaspard Itard, Maria Montessori. A obra de John Locke não só representou um marco na história da deficiência como também contribuiu no campo pedagógico, ao afirmar que a individualidade é um fator primordial no processo de aprendizagem, que a experiência é a condição primeira dos processos complexos de pensamento e que os objetos concretos são importantes para a aquisição de noções. Prof.: Denise Matias ASPECTOS HISTÓRICOS DA DEFICIÊNCIA NO BRASIL A HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA NO BRASIL No Brasil, a educação das crianças com deficiência surge com as ideias divulgadas no final do século XVIII e início do século XIX, e se deu inicialmente de forma institucionalizada. O liberalismo defendia a liberdade em todos os campos: intelectual, político, social, religioso e econômico, consequentemente sua interferência em todos esses campos, influenciou também o início da educação das pessoas com deficiência no Brasil. A relação explica-se pelo fato de como o movimento estava vinculado com a democratização dos direitos para todos os cidadãos, as pessoas . No Brasil as Santas Casas de Misericórdia seguiam a tradição europeia, acolher pobre e doentes. Devido a isso exerceram um papel importante na educação de pessoas com deficiência. Em são Paulo, a partir de 1717, a Santa Casa de Misericórdia acolhia crianças abandonadas até os 07 anos de idade. Supõe- se que muitas destas crianças apresentavam doenças mentais. Apesar do abandono e do assistencialismo de algumas instituições, o direito das pessoas com deficiência estava previsto implicitamente desde a primeira constituição do Brasil promulgada em 22 de abril de 1824. A Constituição é clara com relação à educação primária minimamente gratuita “a todos os cidadãos”, contudo, na prática o lugar da pessoa com deficiência não era na escola, mas para a Roda dos Excluídos, e, como alguma sorte talvez pudesse ingressar em um seminário. Eis uma das facetas cruéis da exclusão, já referenciada há séculos atrás. Durante o século XIX as iniciativas voltadas para o atendimento de pessoas com deficiência foram isoladas. Contudo apesar de serem pouco significativas, houve preocupação em melhorar a vida dos alunos com deficiência mais severa, apesar das instituições que atendiam cegos e surdos, serem privilegiadas. A história da educação especial passou por diversos momentos, um desses períodos foi nomeado com período da institucionalização. Contudo a educação especial se firma na década de 1960, em função do grande desenvolvimento econômico pelo qual o país estava passando. Do ponto de vista econômico, a escola surge como a produtora e formadora de mão de obra essencial às necessidades das formas de produção, principalmente para a ocupação de cargos elevados, administradores, técnicos, planejadores, etc. Um dos importantes marcos para a pessoa com deficiência no cenário político mundial ocorre em 1948, com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos que garante a igualdade de direitos para todos os cidadãos sem distinção. Outro marco no período da institucionalização foi a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), lei nº 4.024, de 1961. A partir dessa lei a deficiência não mais aparece nas entrelinhas ou no entendimento de cada um. A ESCOLA COMO ESPAÇO PARA A DIVERSIDADE Prof.: Denise Matias DIVERSIDADE CULTURAL Diversidade Cultural Cultura Linguagem Tradição Identidade Cultural Variedade Diferenças História O professor exerce o papel fundamental de “ponte” entre o aluno e diversidade cultural com suas mais variadas manifestações (MOSER, 2017). A escola é um espaço em que as contradições sociais se revelam por todo o tempo, é um espaço de multiculturalismo. A pluralidade cultural refere-se à valorização e ao conhecimento das características étnicas e culturais, as práticas sociais discriminatórias e às desigualdades econômicas dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional. Ela possibilita ao aluno conhecer o seu país por meio de sua complexidade e a desconstruir conceitos enraizados na sociedade. É papel do professor promover a transformação social, acolher as diversidades, buscar estratégias de ensino em que o aluno seja o grande protagonista, e não a escola. Ela seria o veículo promotor da liberdade. A escola deve educar pensando no pluralismo cultural, em que o outro não só existe, mas que é legítimo e singular com sua cultura, sua história, sua etnia, um ser heterogêneo, multifacetado, atravessado por costumes que provém de suas famílias e lugares onde reside, além de apresentar diferenças no ritmo de aprendizagem. É preciso que a escola se planeje de modo a atender a diferença, a diversidade e as formas de aprendizagem, contribuindo para uma formação ampla e plena sociedade em que vive. Nessa perspectiva, o olhar do professor precisa estar voltado para s diferenças, buscando aprimorar seus conhecimentos, de forma que consiga ser coerente com a realidade cultural da escola que trabalha. A palavra raça é utilizada erroneamente nos dias atuais por parte do senso comum. Esse emprego inadequado se perpetuou durante muitos anos, como uma forma de dividir ou categorizar os grupos humanos por suas diferenças biológicas. É impossível negar a desigualdade racial, social e econômica, além de sua função discriminatória. A elite dominante “trama” uma ideologia de que no Brasil não haveria discriminação racial, seria dada a todos os habitantes, negros, brancos e mestiços as mesmas oportunidades, sem diferenciação, muito embora a realidade vivida e experenciada seja completamente divergente. Resgatando os conceitos de raça e etnia, percebemos que são termos que não mantém nenhum tipo de similaridade, não se justapõem e não se complementam, muito ao contrário, o termo raça já foi e ainda é utilizado como um depreciador das características culturais de um determinado povo, grupo ou comunidade. PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO:IMPLICAÇÕES SOCIAIS Prof.: Denise Matias PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO: IMPLICAÇÕES SOCIAIS Preconceito é a organização de ideias que se alicerçam em vivências ou experiências aportadas em concepções prévias que não passaram pela reflexão ou ideias que foram elaboradas ou concebidas a partir de fatos deturpados. Em síntese um “pré-conceito” é objeto de uma falsa reflexão ou racionalização. Implica em um julgamento imaturo e inadequado sobre algo, ou ainda, uma opinião formada sem reflexão (CARVALHO et al., 2012; SANTOS, 2010). I – Discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições. II – Desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; III – Desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais; IV – População negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga; V – Políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais; VI – Ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades”. (BRASIL, 2010) No âmbito da penal, a Lei nº 7.716/89, estabelece punição aos crimes resultantes em discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, sem, entretanto, esclarecer precisamente cada um desse termos. A primeira lei a punir os crimes resultantes de preconceito, raça e cor, foi a Lei 1.390/51, chamada “Lei Afonso Arinos”, em homenagem ao deputado federal Afonso Arino de Melo e Franco. Etnocentrismo, um tipo de preconceito marcado por sentimentos de superioridade em relação a outros grupos. Etnocentrismo vem de “etno” (etnia, que significa, semelhança de cultura, costumes e hábitos) e “centrismo” (posição que coloca algo no centro, a tudo que está a sua volta), ou seja, compreender que a partir da sua cultura você se encontra em uma posição mais privilegiada que outros grupos. Podemos pensar que preconceito e discriminação caminham juntos e na mesma direção, a segregação. Você já parou para pensar se tem algum base ideológica que gere preconceitos e discriminação? Se tem, isso interfere em sua prática educativa? Cabe à escola e ao professor repensar as bases ideológicas, as formas de combate e como incluir a família nesse processo. A EDUCAÇÃO ESPECIAL E OS MARCOS LEGAIS Prof.: Denise Matias A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: MARCOS LEGAIS Não podemos pensar a educação especial sem, contudo, pensar nos marcos regulatórios necessários para assegurar as conquistas históricas obtidas para os alunos com necessidades educacionais especiais. Inicialmente a educação especial organiza-se como uma modalidade de ensino completamente integrada à educação em um contexto geral. Fragmentos de textos legais embasaram a utilização de conceitos e terminologias utilizados na área, como educação especial e atendimento educacional especializado e necessidades educacionais especiais, como vistas a oferecer subsídios à compreensão dos professores a função e natureza da educação especial na perspectiva da inclusão social. Quando nos apropriamos do discurso legal, nos apropriamos também de um processo de construção e significação acerca da realidade. Compreender os fundamentos legais que norteiam a educação e as práticas escolares, significa compreender o mundo, a sociedade e nossas relações. O estudo de alguns dispositivos legais nos possibilita ampliar nossa compreensão social e a forma como a sociedade se organizou na construção de um sistema inclusivo, de uma educação especial. Lei 4.024/1961 • Educação de excepcionais; • Os alunos devem ser integrados no sistema educacional na medida do possível. Lei 5.692/1971 • Os alunos que apresentarem deficiência física e mental e os superdotados deverão receber tratamento especial; Lei 9.394/1996 • Educação especial, modalidade de educação escolar oferecida para portadores de deficiência; • Preferencialmente na rede regular de ensino; • Apoio especializado quando necessário. Legislação O quê? Para quem? Onde? Constituição de 1988 Atendimento educacional especializado Portadores de deficiência Preferencialmente na rede regular de ensino Estatuto da criança e do adolescente – Capítulo IV – Lei nº 8.069/1990 Atendimento educacional especializado Portadores de deficiência Preferencialmente na rede regular de ensino Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/1996 Educação Especial Educandos Portadores de deficiência Rede regular de ensino (preferencialmente) classes especiais ou escolas especiais Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação Básica Res. CNE 2/2001 Educação Especial Educandos com necessidades educacionais especiais Classes comuns (preferencialmente), classes especiais ou escolas especiais Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001 Educação Especial Pessoas com necessidades especiais Classes comuns, classes especiais ou escolas especiais Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva - Res. CNE 4/2009 Atendimento educacional especializado Alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação Escolas da rede pública, centros de atendimento educacional especializado públicos ou conveniados Lei 13.146/2015 Atendimento educacional especializado Pessoa com deficiência Instituições escolares públicas e privadas. Conforme o quadro percebemos uma variação de terminologias em relação aos serviços prestados: Educação especial e atendimento educacional especializado. O mesmo percebemos para portadores de deficiência, educandos com necessidades educacionais especiais, pessoas com necessidades especiais e por fim e correto, pessoa com deficiência. Percebemos, que existe uma preocupação com o atendimento individualizado e especializado, tanto na escola regular como nas escolas especiais, além da articulação com demais áreas que possam assegurar também o bem-estar, a inserção no mercado de trabalho e a saúde. Por outro lado, o financiamento do Atendimento Educacional Especializado (AEE) está condicionado à matrícula no ensino regular, o que provocou a migração de alunos que antes estudavam apenas nas escolas especializadas, para esses espaços onde receberão o AEE no contraturno. Assim, o AEE imprime à educação especial um novo olhar, e sua inserção no contexto da inclusão escolar, viabilizando o atendimento às necessidades educativas especiais no espaço da escola regular. NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: AVANÇO OU RETROCESSO? Prof.: Denise Matias NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: AVANÇO OU RETROCESSO? Comumente as pessoas substituem deficiência por necessidades educacionais especiais. Todas as pessoas com deficiência apresentam necessidades especiais, isso não quer dizer que toda pessoa com necessidade especial é deficiente, ou seja, deficiência não é sinônimo de necessidade especial. Por outro lado, a expressão necessidades educativa especiais se popularizou após ser utilizada na Declaração de Salamanca que teve como como um de seus objetivos atenuar as terminologias negativas e os rótulos dados às pessoas com deficiência: deficientes, anormais, retardados, idiotas, excepcionais, incapazes entre outros. Contudo, ela acabou por incorporar outro grupo de alunos, aqueles que apresentavam dificuldades de aprendizagem,sem necessariamente apresentar algum tipo de deficiência. Um dos grandes problemas do Brasil refere-se a desigualdade social, a pobreza e as condições da escola em atender a toda essa demanda de forma a atingir a equidade. Não se atende na escola apenas a criança ou um jovem menos favorecido. A escola recebe junto com ele suas diferenças culturais, econômicas, étnicas, preconceitos e discriminações. Há de se refletir que quanto mais for homogênea e tradicional a proposta pedagógica da escola, mais se intensificam as dificuldades de aprendizagem, os processos de adaptação ou o surgimento fantasioso de necessidades especiais. Faz-se necessário pensar uma escola diferente, sem padrões, sem igualdades, mas que se paute nas diferenças. Uma escola que busque extrapolar as desigualdades sociais dentro de seus muros, que fortaleça os laços de afetividade. Uma ação que supere os possíveis e os problemas de aprendizagem, estruturando-se, organizando-se em torno de propostas que ofertem recursos adequados a cada caso: a escola da subjetividade e da singularidade. O conceito de necessidades educacionais especiais, que até os dias de hoje ainda é utilizado equivocadamente para substituir a deficiência. Ainda temos o problema de que a deficiência é do aluno e está “localizada apenas nele”. A deficiência é também da escola, do professor, dos recursos, e da sociedade. As crianças que fracassavam na escola devido a vários fatores, sociais, familiares, culturais e econômicos, e que ao longo do processo educativo necessitavam de um recurso especializado, apoio adicional, de uma adaptação curricular ou de materiais didáticos específicos que potencializassem ou estimulassem sua aprendizagem eram consideradas deficientes . Essa visão desloca “a ênfase do ‘aluno com defeito’ para buscar na escola uma resposta educativa diferenciada, pautada na singularidade de cada um. Uma resposta em que as adequações curriculares sejam pensadas, o currículo reformulado, nas intervenções com foco em cada dificuldade, considerando todo o histórico do aluno. Ao repensarmos esse conceito ou terminologia, percebemos um novo aspecto no âmbito da positividade: deixar de focar apenas na dificuldade e ampliar o olhar para os recursos e serviços educacionais necessários capaz de atender às dificuldades de aprendizagem. Pode-se perceber que a inclusão não se faz apenas por meio das leis, mas, pela mudança dos espaços, da proposta pedagógica e das pessoas no acolhimento da deficiência e da diferença, buscando sempre ações em que a equidade prevaleça.