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O existencialismo
O referencial teórico existencial com os seus principais precursores: Søren A. Kierkegaard, Martin
Heidegger, além de Jean-Paul Sartre, considerados influenciadores e difusores do pensamento filosófico
humanista existencial.
Profa. Martina de Paula Eduardo Ravaioli
1. Itens iniciais
Propósito
Compreender e conhecer a corrente filosófica existencial, seu contexto histórico, identificando os precursores
do existencialismo até o surgimento e a estrutura do existencialismo contemporâneo, é essencial ao trabalho
do psicólogo para poder reconhecer a abordagem existencial-humanista em diferentes contextos e
aplicações.
Objetivos
Identificar os conceitos básicos do existencialismo.
 
Analisar as contribuições de Kierkegaard e Heidegger no que concerne à filosofia existencial.
 
Reconhecer as características do existencialismo e da filosofia contemporânea a partir de Sartre.
Introdução
A partir do conteúdo apresentado, compreenderemos a problemática existencial do homem, que buscou
mobilizar diversas reflexões, abarcando a existência em diferentes contextos. Kierkegaard (1813-1855) –
filósofo dinamarquês considerado o principal precursor da filosofia existencial – compreende a existência
pautada em expectativas irrealizáveis. Em suas teorias, abordou os temas da morte e da angústia.
 
Kierkegaard considera que as experiências vivenciadas de forma negativa se tornam situações necessárias ao
transcorrer existencial, possibilitando que o indivíduo se torne autêntico. Martin Heidegger (1889-1976),
filósofo alemão, também se destaca como influenciador da corrente existencial do século XX. Verificaremos a
influência desses dois grandes pensadores e suas contribuições para o curso do pensamento filosófico.
 
A partir da temática existencial, Jean-Paul Sartre (1905-1980) terá como direcionamento a postura crítica,
proporcionando novos fundamentos para a Psicologia. Dessa forma, constrói-se material teórico e biográfico
para a compreensão integral do homem, no contexto que se apresentava em sua época. Por fim, a Psicologia,
identificada a partir do viés existencial, encontra relação na Antropologia, atrelando o encontro da filosofia
marxista com o existencialismo a partir de Sartre.
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1. Conceitos básicos do existencialismo
O que é o existencialismo
O existencialismo nasceu no século XIX, e teve continuidade e expansão no século XX. A doutrina filosófica
pode ser traduzida pelo questionamento existencial, tendo o homem como ator principal em sua trajetória.
 
A complexidade humana proporcionou à filosofia existencial ampliação das produções literárias, tendo como
interesse a aproximação da existência humana e a problematização construída a cada vivência, identificando a
literatura como facilitadora para acadêmicos, intelectuais e pessoas comuns.
Um dos conceitos que orienta o existencialismo está pautado na tomada de consciência adquirida pelo
homem sobre a responsabilidade pela própria trajetória de vida.
A filosofia existencial possui como base conceitual que a existência pessoal possa ser vivida para
além das aparências impostas, permitindo ao homem a compreensão de si mesmo, distanciando-se
da escravidão que o meio social e as demandas socioculturais impõem silenciosamente. Com isso, o
existencialismo considera que o homem deve preservar sua consciência em direção a si próprio,
como também em benefício à construção do meio.
Diante do exposto, a preservação da consciência individual e coletiva foi difundida veementemente no século
XX a partir das grandes guerras mundiais, calcadas por discursos de extermínio. Haja vista a contradição entre
o que se deseja viver de modo individual e o que é vivido pela coletividade, tendo entre suas consequências o
surgimento da angústia, acompanhada pelo sentimento de inauticidade e estranhamento pessoal.
Psicoterapia existencial
Por meio da filosofia fenomenológica e existencial, práticas terapêuticas foram desenvolvidas e nomeadas
como psicoterapia existencial.
Seu método é a relação interpessoal, com o objetivo de proporcionar autoconhecimento e
autonomia por meio da expressão legítima da existência por parte do cliente.
Desse modo, a finalidade principal das técnicas
em psicoterapia existencial se relaciona com a
proposta de auxiliar ao indivíduo a caminhar em
direção ao crescimento pessoal, assim como
aproximar o indivíduo de sua autenticidade,
projetando-se e assumindo-se livremente no
mundo.
 
Nessa perspectiva, o indivíduo torna-se o
centro, tomando consciência das dificuldades
que perpassam suas escolhas, direcionando-se
à realização de decisões mais significativas e
autênticas, privilegiando a autocompreensão, a autoconsciência e a autodeterminação.
Proposta existencial em psicoterapia
A psicoterapia existencial humanista pode ser
aplicada em diversos contextos, por exemplo,
no ambiente clínico, hospitalar, em atendimento
individual e grupal. A psicoterapia, nesse
referencial, permite ao indivíduo o encontro
consigo a partir da ampliação de consciência,
legitimando sua autenticidade.
 
A partir da interação entre a fenomenologia, o existencialismo, a psicologia e a psicopatologia, teve início um
extenso e significativo movimento de reflexão, intervenção, ideias e investigação. Trata-se de um conjunto de
teorias e técnicas com base fenomenológico-existencial, que podem ser diferenciados em: psicoterapia
humanista, com proposta experiencial, e psicoterapia existencial.
 
No entanto, as diferenças existentes entre psicoterapia humanista e psicoterapia existencial encontram-se na
condição do indivíduo para o autocrescimento, bem como a partir dos conceitos norteadores e da finalidade
interventiva. (VILLEGAS, 1989)
 
Portanto, a finalidade da intervenção é definida pela:
Psicoterapia humanista
A partir de compreender-se e conhecer-se.
Psicoterapia existencial
É definida pelo direcionamento de uma existência significativa e mais autêntica, enfatizando projetos
e responsabilidade de modo individual.
Com proposta experiencial
Considera-se o sujeito que vive a experiência e a experiência de fato. E ainda, há de se considerar a
experiência do sujeito vivida no processo, na relação terapêutica, em que também é relevante o
encontro entre terapeuta e paciente.
No entanto, alguns autores identificam a finalidade da psicoterapia existencial de maneiras distintas:
 
Encontro de si próprio (MAY, 1958);
 
Superação dos dilemas, paradoxos e desafios (VAN DEURZEN-SMITH, 2002);
 
Procura pelo sentido da existência (FRANKL, 1984);
 
Busca pela autenticidade consigo próprio e na relação com os outros;
 
Promoção do encontrar-se, assumindo a própria existência, podendo projetá-la com mais autonomia,
ampliando a autopercepção (VILLEGAS, 1989);
 
Reconhecimento acerca da liberdade e as possibilidades de potência no existir (ERTHAL, 1999).
Existência
A partir de Beaufret (1976), ao verificar a origem da palavra existência, identifica-se a contraposição expressa
na palavra essência. De acordo com o autor, essentia refere-se à transposição direta do verbo ser.
 
A palavra existência, no entanto, designa ao termo existere, que significa saída (de um esconderijo, de uma
casa), representando movimento por extensão. Ainda de acordo com Beaufret, o sentido do termo ek-stase, 
evidenciado por Aristóteles, tende à representação para algo externo, podendo ser considerado um
movimento para a transformação.
Resumindo
O sentido do termo existência dirige-se ao sentido próprio da filosofia, considerando a existência como
algo constituinte em torno do homem envolvido em si mesmo, configurando o próprio homem como
problema em sua existência (ABBAGNANO 1962). Esse é o lugar no qual o homem e toda sua
problemática existencial se inserem, mobilizando diversos pensadores que refletiram em teorias e
construções acerca da existência em diferentes contextos. 
Angústia
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No entanto, o que mais caracteriza e integra o
existencialismo está relacionado à inquietação
para a ação, seguida da problemática
envolvendoa escolha que perpassa a
existência humana.
 
Para o existencialismo, a angústia é parte da
constituição do homem, sendo resultado da
necessidade de escolher, exigindo ação. Desse
modo, a angústia é acompanhada pelo
desamparo, denotando que o ato de escolher
se faz de modo solitário. Com isso, o próprio
indivíduo é autor de suas escolhas, assumindo posteriormente a consequência pelo que elegeu e por tudo
aquilo que não pode escolher, deixando para trás as possibilidades.
 
Entretanto, tendo a angústia em sua forma aguda, esta pode se transformar em desespero e melancolia, assim
como a limitação da consciência e das possibilidades diante da vida, levando o sujeito ao tédio diante das
possibilidades não realizáveis.
A angústia surge a partir da limitação da consciência, bem como pelo outro, pelo mundo e pela
morte.
Ainda que existam muitas possibilidades de
escolha, o homem é confrontado pelas
limitações colocadas pelos costumes, pela
sociedade, pelo controle, pela convivência e
seus padrões, entre outros. 
 
Desse modo, é sabido que a morte nos lembra
que existe um tempo para as escolhas, não
restando tempo para resgatar as escolhas não
feitas e, com isso, os arrependimentos por não
conseguir reparar as escolhas, não podendo
refazer o caminho outrora feito.
Autenticidade e responsabilidade
A proposta existencial em psicoterapia tem como direcionamento auxiliar o paciente em sua caminhada
existencial de modo autêntico e responsável. Esse processo implica escolher a si próprio, colaborando para o
crescimento e a autoconsciência. Com isso, o paciente poderá se projetar livremente e assumir uma postura
existencial ativa a partir das possibilidades que lhe são apresentadas.
O existencialismo e a constituição de homem
O existencialismo é compreendido como uma posição filosófica por meio da qual é possível direcionar sentido
à vida humana, declarando que toda ação implica a subjetividade humana. Nesse sentido, para entender a
existência, é necessário partir da subjetividade e de suas implicações.
 
Para o existencialismo, segundo Sartre, o homem existe e se descobre, está inserido no mundo, para somente
depois se definir.
Nossas escolhas e ações são implicações que nos definem, sendo uma resposta estruturalista.
Identificamo-nos, portanto, como
correspondentes a algo por meio do
questionamento, no qual não importa o que as
estruturas são capazes de provocar em nós,
mas o que fazemos a partir dos fragmentos
deixados.
 
Dessa forma, o primeiro esforço do
existencialismo está em analisar o homem na
situação em que ele se encontra, atribuindo-lhe
total responsabilidade por aquilo que deseja se
tornar, de maneira individual como também
coletiva. Por meio da estrutura filosófica segundo a qual a essência é posterior à existência, e na construção
da imagem individual, esta ressoará nos demais indivíduos. Nesse sentido, escolhendo-me, escolho a
humanidade.
 
No existencialismo, a caminhada humana é compreendida como complexa e fluida, ainda que consumida pelo
cotidiano e sua passividade. A rotina e os costumes impossibilitam que o homem considere a vida e, com ela,
toda sua dinâmica. Desse modo, deixa-se esvair, permitindo que a vida seja consumida, deixando de tornar
possíveis momentos e oportunidades. Verifica-se, ainda, que é pela imutabilidade da vida que se instala o
tédio existencial, reconhecendo a angústia como consequência de uma existência vazia.
Um dos questionamentos levantados pelo existencialismo baseia-se na impossibilidade de encontrar
uma verdade absoluta como definidora do homem. O homem, em sua existência, irá escrever
paulatinamente sua história, em uma construção constante.
O existencialismo, em sua aplicabilidade psicoterapêutica, pode ser ilustrado a partir dos seguintes conceitos:
Ser-no-mundo
O indivíduo percebe-se imerso no mundo,
sendo do mundo e para ele.
Temporalidade
O homem existe no tempo, constituindo o
sentido do existir.
Espacialização
Ocupamos um espaço, somos reais.
Escolher
Existir é permitir que as possibilidades da vida
se apresentem, colocando-nos diante de
nossos limites.
Para exemplificar, existem pessoas que gastam grande parte da vida adiando escolhas importantes,
preferindo a ilusão da manutenção da plenitude de sua liberdade; outras são consumidas pela sensação de
incapacidade de decisão, verificando a possibilidade de renúncia de algo imprescindível, ou, ainda, pela
insegurança de analisar que as projeções não passavam de ideias infundadas.
Aplicação do existencialismo na psicoterapia
Neste vídeo, a especialista Martina de Paula Eduardo Ravaioli fala sobre a aplicação dos conceitos “ser-no-
mundo”, “temporalidade”, espacialização” e “escolher” na psicoterapia.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
A consciência individual e coletiva no existencialismo
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A proposta existencial em psicoterapia: problemática existencial e angústia
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Verificando o aprendizado
Questão 1
A psicoterapia existencial teve influência da fenomenologia e do existencialismo. Em relação às técnicas
utilizadas no atendimento psicoterápico baseadas nesse referencial, identifique os objetivos principais dessa
prática:
A
Ampliar o autoconhecimento e a autonomia por parte do paciente, auxiliando em direção ao crescimento
pessoal, aproximando-o de sua expressão legítima em torno de sua existência, identificando possibilidades
em realizar projeções, atribuindo-lhe liberdade e autonomia de ser-no-mundo.
B
Excluir aspectos de responsabilidade nas escolhas, descaracterizando a autoconsciência, terceirizando ao
outro assumir decisões significativas.
C
Aumentar a capacidade do cliente para responder ao ambiente de maneira breve e focalizada, minimizando a
ampliação de consciência.
D
Priorizar a direção ao autoconhecimento e à autocompreensão para formas autênticas de existir,
desconsiderando as influências das relações interpessoais, seus desafios e dilemas.
E
Verificar aspectos individuais como forma de superação dos dilemas existenciais, desconsiderando a própria
existência e suas vicissitudes.
A alternativa A está correta.
A prática em psicoterapia existencial tem como objetivo proporcionar ao cliente a direção pelo
autoconhecimento e pela autonomia, por meio de um despertar para a legítima forma de ser-no-mundo,
auxiliando a ampliação de projeções, o crescimento pessoal, além de assumir aspectos da alteridade como
condição de liberdade e potência existencial.
Questão 2
Sendo o existencialismo uma posição filosófica francesa iniciada no século XIX, a partir do desvelamento das
questões existenciais que eram descaracterizadas por escandalizar a população desse período, identifique
sua principal característica:
A
Reconhece o homem por sua condição existencial, no qual se encontra determinado e direcionado a escolhas
preexistentes.
B
Verifica-se o existir como a inserção do homem no mundo e a possibilidade da definição e do descobrimento a
posteriori, cabendo ao homem o direcionamento e a busca de sentido pela própria vida, compreendendo que
toda ação implica a subjetividade humana.
C
Para o existencialismo, a essência precede a existência.
D
A corrente existencial desloca o homem de sua responsabilidade pela direção de sentido, atribuindo aos
outros a posição por uma caminhada com significado.
E
O existencialismo não considera o homem envolvido em si mesmo, logo, desconsidera o mesmo em toda sua
problemática existencial.
A alternativa B está correta.
O existencialismo pauta-se na existência do homem em torno de si mesmo, na possibilidade de se definir e
se descobrir a partir de escolhas, direcionando sentido.
2. Contribuições de Kierkegaard e Heidegger no que concerne à filosofia existencial
Nascimento do existencialismo e suas ramificações
Søren Kierkegaarde Martin Heidegger se destacam como pensadores que destinaram sua obra a partir do
tema angústia e seus desdobramentos. Kierkegaard nasceu em Copenhague (1813-1855), foi filósofo, poeta,
teólogo e também crítico em ordem social. Além disso, foi considerado o primeiro filósofo existencialista,
reconhecido como o pai do existencialismo.
 
Martin Heidegger (1889-1976) nasceu na pequena cidade de Messkirch, na Alemanha. Foi filósofo e professor,
e trabalhou como assistente de Edmund Husserl na Universidade de Marburg. Posteriormente, lecionou a
disciplina de Filosofia na Universidade de Friburgo, onde estudou Teologia e Filosofia. As reflexões de
Heidegger contribuíram para a construção do existencialismo, transformando a perspectiva filosófica.
Pelo enquadramento filosófico, verifica-se que Kierkegaard e Heidegger são contemporâneos do
existencialismo. Kierkegaard foi existencialista a partir do viés cristão, e Heidegger, por sua parte, foi o filósofo
que deu continuidade ao existencialismo, sob a influência da fenomenologia, aproximando seu pensamento
em uma ramificação existencial fenomenológica.
A fenomenologia, como ramificação do existencialismo, compreende a questão da existência
humana, bem como destina compreensão da conceituação fenomenológica envolvendo algumas
temáticas existenciais pertinentes.
No entanto, verifica-se o compartilhamento filosófico do existencialismo, tendo influência kierkegaardiana
atrelada ao trabalho do filósofo Heidegger, a qual é considerada de semelhança frágil, pois Kierkegaard
apresentava-se como cristão, e Heidegger não possuía, de modo evidente, apreço pelo cristianismo em seus
trabalhos.
A partir dessas influências filosóficas, torna-se
necessário identificar pontos de aproximação
entre o pensamento de Kierkegaard e
Heidegger, na tentativa de estreitar a influência
dos filósofos, compreendendo características já
desenvolvidas e pensadas por Heidegger, como
também anteriormente e de modo significativo
pelo filósofo Kierkegaard.
 
Contudo, o conceito vinculado ao
existencialismo está calcado na dinâmica
central, na qual o homem se insere e toda sua
problemática existencial, mobilizando
existencialistas a reflexões que abarcam a existência em diferentes contextos.
Comentário
Podemos afirmar que pensadores como Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger, Karl Jarpers, Emmanuel
Lévinas, Enzo Paci, Miguel García-Baró, Jean Hyppolite, Jacques Derrida, Gabriel Marcel, entre outros,
difundiram o pensamento filosófico kierkegaardiano a partir de palestras no período do século XX. 
Entretanto, o que mais caracteriza e integra o existencialismo está relacionado à inquietação para a ação
seguida da problemática que envolve o direcionamento para a escolha, correspondente à existência humana.
Angústia como característica principal da existência
Kierkegaard e Heidegger tinha pensamentos diferentes sobre a angústia, veja a seguir o que cada um deles
pensava sobre.
A temática apresentada a partir dos filósofos em questão, por meio de suas obras, surge de modo distinto,
mas verificam-se as semelhanças destacadas a partir do fenômeno da angústia. Desse modo, existem alguns
pontos que aproximam e diferenciam o pensamento evidenciado por Kierkegaard em relação à angústia,
tratado na obra O conceito de angústia, e a forma pela qual Heidegger destaca tal conceito a partir da
analítica existencial em Ser e tempo. O conceito de angústia para Kierkegaard foi publicado em 1844, já Ser e
tempo foi publicada por Heidegger apenas em 1927.
No conceito de angústia cunhada por Kierkegaard e Heidegger, fica caracterizada a experiência da
angústia como apenas do homem. Nessa semelhança de ideias, compreende-se que apenas o
homem vivencia tal sentimento. Com isso, o sentido do que significa ser humano para cada autor
surge como ponto de diferenciação.
Kierkegaard 
Difundiu o pensamento existencial a partir do
conceito de angústia como relação entre os
pilares do pecado, da liberdade e da fé. Para
esse autor, a angústia gera sentimentos
ambíguos e tem uma importância tanto
filosófica como teológica.
Heidegger 
A angústia está atrelada ao sentido
ontológico (relativo ao ser em si mesmo,
relativo às coisas existentes),
caracterizado como a liberdade por
meio da escolha própria ou dos
condicionantes dessa possibilidade,
atribuindo ao ser a possibilidade de
assumir o próprio modo de existir. Em
outras palavras, ser livre para escolher a
si mesmo e, dessa forma, assumir o
modo próprio de ser.
Na obra O conceito de angústia, Kierkegaard
(2010a) considera que o homem nada mais é do
que espírito, compreendido como a relação
entre o psíquico e o corpóreo. Ainda nessa
obra, Kierkegaard, ao relacionar o homem como
espírito, questiona como se dá a relação dele
com a sua condição. Em resposta, o autor
afirma que o relacionamento se dá a partir da
angústia (KIERKEGAARD, 2010a).
 
Dessa maneira, ao compreender que somente o
homem é espírito, é ele quem realiza a
experiência da angústia na relação consigo
mesmo. Portanto, a angústia é um sentimento humano por excelência. Em outras palavras, Kierkegaard
evidencia uma relação pertencente ao homem: a experiência relacional do espírito com a angústia,
identificando que a angústia vivenciada é um sentimento demasiadamente humano (KIERKEGAARD, 2010a).
A partir da filosofia kierkegaardiana, a angústia é produzida pelo homem, sendo pertencente a cada sujeito
como indivíduo (KIERKEGAARD, 2010a). De forma semelhante, para Heidegger, a angústia é compreendida
como um sentimento unicamente humano. Entretanto, na obra Ser e tempo, esse autor não considera a
angústia como um fenômeno psicológico, mas ontológico.
 
Na filosofia Heideggeriana, há uma preocupação em definir o ser do Dasein como cuidado, possuindo uma
estrutura composta pelos seguintes existenciais: compreensão, decaída e sentimento de situação, sendo o
sentimento de situação relevante. Tudo isso denota ligação pelo estado afetivo, pois ele se apresenta como o
mundo se mostra, sendo evidenciado para o Dasein ou ser-no-mundo.
Dasein
Conceito heideggeriano que define a constituição essencial do homem e que pode ser traduzido como
ser-no-mundo. Esse conceito implica a imposição de se manter aberto às possibilidades de ser, que são
constituintes do próprio ser.
Desse modo, Heidegger não relaciona a angústia como estado psicológico, mas como forma a partir de como
o mundo é apresentado.
 
A partir da análise apresentada por Kierkegaard e Heidegger, ambos os autores compreendem que a angústia
não deve ser interpretada como algo estranho ao homem.
Tanto para Kierkegaard como para Heidegger, a angústia acaba sendo compreendida como algo
produzido e vivenciado pelo homem.
A partir do exposto pelo filósofo Kierkegaard, o sentimento de situação é definido como constituinte do
próprio ser. No pensamento de Heidegger, o sentimento de situação é definido como quando o mundo lhe
surge.
 
Verifica-se, a partir do exposto, que a distinção feita quanto ao aspecto psicológico e também ontológico
considera a experiência da angústia pertencente unicamente ao homem.
Angústia como fenômeno interno e externo
Portanto, no que consiste à distinção
apresentada quanto ao aspecto psicológico e
ontológico, configura-se a angústia como
característica unicamente do homem. Desse
modo, a angústia está relacionada ao ataque,
podendo prejudicar o estar-aí humano, visto
como Dasein. Logo, a angústia humana faz-se
presente pelo risco que é viver, colocando em
perigo a extinção da não possibilidade do
próprio se angustiar.
 
Nesse sentido, para Kierkegaard, a angústia é
estabelecida pela essência não definida do homem. Este, a partir do direcionamento de suas escolhas, é
colocado diante das incertezas e possibilidades daquilo que ainda não é, de algo que não configura realidade,
cabendo ao homem pela angústia das decisões.
 
Para Heidegger, existe distinção entre angústia e medo. Veja a seguir.
A partir da filosofia Heideggeriana, compreende-se, portanto, que o medo se vincula a um objeto presente na 
esferaôntica, relacionado ao ente existente, concreto e múltiplo, tendo a angústia inclinação na esfera
ontológica, relativa ao ser em si mesmo.
 
Para Kierkegaard, a história do indivíduo somente se inicia após seu nascimento. Kierkegaard se contrapõe ao
idealismo alemão do século XX, o qual buscava compreender o homem pelo alcance do saber absoluto. Para o
filósofo, no entanto, a definição do homem dava-se em consonância com os fatores culturais, históricos,
biológicos, políticos, entre outros.
Medo 
Advém de um ente especificamente
intramundano, podendo estar relacionado a
um animal, gesto, sendo verificado como
ameaça. Heidegger considera que, em lugar
de nós mesmos, atribuímos significado ao
medo que podemos sentir, deixamos que
outros ou as circunstâncias lhe atribuam
sentido e, assim, nós nos alienamos.
Angústia 
Coloca-nos frente à compreensão do
medo, sendo ela não definida como
condição preexistente, visto que o seu
estabelecimento se dá perante o
mundo enquanto este se apresenta.
Esfera ôntica
Para Heidegger, o termo ôntico refere-se aos entes múltiplos e concretos da realidade. 
Contudo, apesar de Kierkegaard e Heidegger
discorrerem acerca do tema da angústia de
modo distinto, percebe-se que eles se
aproximam em alguns momentos. Verifica-se
que, ao longo do texto, a temática da angústia
possui relações com o medo e o nada, haja
vista que as temáticas apontadas não são as
únicas levantadas pelos filósofos. 
 
Com isso, outros pontos ligados à angústia
podem ser verificados por Kierkegaard, sendo
esta ligada diretamente à liberdade. No
entanto, o que o texto apresenta inicialmente
dirige-se aos conceitos de angústia definidos pelos dois autores.
 
Vejamos um exemplo sobre o conceito de angústia presente nas obras de Kierkegaard e Heidegger.
Exemplo
Pensemos na angústia vivida por uma criança ou bebê que chega aos
cuidados de um abrigo familiar e que vivencia a experiência da perda ao
ser abandonado pela mãe. A maioria dos profissionais em torno dessa
criança pode entender esse momento como uma grande ameaça à vida,
entendendo que a segurança materna não está assegurada.
Na realidade, o abrigo representa justamente essa perda. Logo, estará
presente, na criança, a rejeição e a insegurança no lugar do acolhimento,
proporcionando prejuízos nas esferas psíquica e afetiva, já vivenciado
pelo medo por uma vida que está se iniciando.
O conceito de angústia segundo Kierkegaard e Heidegger
Neste vídeo, a especialista Martina de Paula Eduardo Ravaioli fala sobre o conceito de angústia segundo
Kierkegaard e Heidegger.
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Entendendo sobre os filósofos Kierkegaard e Heidegger
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A experiência de angústia segundo Kierkegaard e Heidegger
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Verificando o aprendizado
Questão 1
A partir de Kierkegaard, considerado o “pai do existencialismo”, compreende-se que a existência está pautada
em
A
priorizar experiências, levando-se em consideração apenas vivências realizáveis, não cabendo
responsabilização das escolhas.
B
expectativas irrealizáveis, considerando que elas são condições necessárias da vida humana e possibilitam ao
indivíduo se tornar autêntico.
C
constituir um modo de ser categorial, pois a síntese ontológica é marcada pelo caráter predefinido do ser.
D
conceber apenas os aspectos corpóreo e psíquico, desconsiderando o estágio espiritual como constituinte da
existência.
E
considerar que a ideia de negatividade não se caracteriza como condição necessária da existência.
A alternativa B está correta.
Kierkegaard compreende que a existência está direcionada a expectativas frustradas, culminando em
aspectos negativos da existência, considerando que o homem, envolvido em suas escolhas e tudo aquilo
que se refere a ele, está relacionado à problemática da existência em si.
Questão 2
A partir do que foi verificado, o conceito de angústia aproxima e distancia Kierkegaard e Heidegger.
Identifique como os filósofos definem tal fenômeno:
A
O conceito de angústia é compreendido pelos filósofos como algo produzido a priori, não cabendo ao homem
decisão por suas escolhas.
B
A angústia é verificada como algo que deve ser interpretado de modo exterior ao sujeito, sendo compreendida
como algo que não se caracteriza como produção do próprio homem.
C
O fenômeno da angústia não é verificado como um sentimento unicamente humano.
D
Kierkegaard define que a angústia se estabelece a partir das incertezas daquilo que ainda não se configura
como realidade. Para Heidegger, a angústia não é definida como condição preexistente, ela se estabelece a
partir de um ente intramundano, sendo o mundo apresentado por si mesmo.
E
A angústia, para Kierkegaard, é relacionada à essência do homem, colocando-o diante das certezas das
decisões daquilo que julga ser realidade. Logo, para Heidegger, a angústia se configura como algo
estritamente do homem sem a interferência do mundo e suas manifestações.
A alternativa D está correta.
Para Kierkegaard e Heidegger, o conceito de angústia aparece de modo semelhante, no qual identificam
que o fenômeno é produzido pelo homem, sendo pertencente a cada sujeito como indivíduo, sendo
compreendida como um sentimento unicamente humano. No entanto, também se diferenciam, uma vez
que, para Kierkegaard, a angústia configura-se diante das incertezas pertencentes ao homem em relação
às escolhas de situações que ainda não ocorreram. Já para Heidegger, é verificada como algo externo,
relacionado à forma como o mundo é apresentado.
Jean-Paul Sartre (1905-1980).
3. Características do existencialismo e da filosofia contemporânea a partir de Sartre
Liberdade do homem e suas escolhas segundo Sartre
Jean-Paul Sartre (1905-1980) nasceu em Paris,
onde passou a maior parte de sua vida. Em sua
carreira, Sartre buscou respostas acerca da
existência humana e seus impasses. A
pluralidade do filósofo lhe permitiu ser autor de
peças de teatro, ativista político, crítico e
romancista, contribuindo significativamente
para as mudanças e possibilidades de seu
século (LÉVY, 2001).
 
Como grande escritor e filósofo, Sartre leu os
principais fenomenologistas – Husserl,
Heidegger e Scheler – quando foi sucessor de
Raymond Aron no Instituto Francês de Berlim
(1933-1934). Sartre encontrava em Husserl a
libertação do pensamento herdado por Descartes, que tinha como constructo a ideia de interior/exterior,
certeza e imediatismo. Desse modo, inicialmente para Sartre, o princípio de intencionalidade é de grande
importância para compreender o conceito Dasein (ser-no-mundo) de Heidegger. Segundo esse filósofo
francês, toda consciência visa ou direciona intenção a algo/outro. Tal ideia acaba fornecendo material à
filosofia inicial de Sartre, sendo mantida e lapidada pelo filósofo de modo pragmático.
 
Sartre discorre sobre a condenação do homem à liberdade. A partir de Sartre, não há como o homem se
eximir de sua liberdade quando confrontado com suas escolhas. Para o existencialismo, o homem é o
verdadeiro responsável pelas escolhas, devendo ele mesmo construir-se, sendo livre para realizar ações
frente às possibilidades viáveis no decorrer de sua existência.
Desse modo, escolher e assumir as consequências é algo desafiador para o homem, uma vez que,
embora anseie e necessite ser livre, está presente a angústia entre a importância e a urgência da
escolha, que descarta a realização daquelas não escolhidas outrora.
Diante disso, pelo receio em relação à escolha e à privação da liberdade, alguns terceirizam o poder da
escolha. No entanto, recusar a liberdade também é compreendido como a recusa do que é advindo a partir
disso.
 
Não podemos esquecer que outros filósofos, como Kierkegaard, consideram a religião como o caminho para o
autoconhecimento e também para o encontroao transcendente. Dessa maneira, o pensamento filosófico
existencialista aproxima ideias quando, independentemente da existência de um Deus, caberá ao homem, e
somente a ele, fazer escolhas, decidindo seu destino e sendo responsável por sua própria história.
No início do século XX, instaura-se a crise epistemológica da Psicologia, verificada a partir da cisão entre as
vertentes subjetivistas e objetivistas, necessitando do meio científico como base teórica para sustentação.
Dessa maneira, Sartre encontra na fenomenologia elementos metodológicos e filosóficos que irão fornecer
crítica ao psicologismo, na possibilidade de vislumbrar novas perspectivas para a Psicologia.
Questões da integralidade do homem – superação entre
objetivismo e subjetivismo
O existencialismo de Sartre surge no início do século XX como forma de tornar a Psicologia menos objetivista,
ganhando contornos subjetivistas, buscando a observação do homem tal como ele se apresentava, como
também vinculado as relações estabelecidas com o meio.
Sartre, influenciado pela fenomenologia e pelo marxismo, proporcionou à psicologia existencialista a
concepção de uma estrutura dialética e histórica, superando a metodologia de uma psicologia que
ultrapassasse a dicotomia entre objetivismo e subjetivismo, a partir de pressupostos teórico-
metodológicos como implementação.
Sartre provocava os mais variados sentimentos e emoções, atraindo admiradores e despertando ódio e
desprezo de alguns. Veja alguns exemplos:
Exemplo 1
Como exemplo de desprezo, podemos citar o caso do diretor do jornal Le Fígaro, que deixa claro seu
desafeto pelo filósofo escrevendo que já era o momento “de exorcizá-lo, colocando enxofre e ainda
atear-lhe fogo em frente à catedral de Notre-Dame, sendo o meio possível que lhe salvaria a alma”
(LÉVY, 2001, p. 42-43).
Exemplo 2
Do mesmo modo, provocou ainda a ira do Vaticano e do diretor do jornal France-Soir na referida
época, declarando sua desaprovação e proclamando que tirar a roupa do existencialismo seria
insuficiente, sendo mais eficiente “arrancar-lhe a pele” (LÉVY, 2001, p. 42-43).
Entretanto, em meio à convulsão de sentimentos causados pelo pensamento sartriano, durante o século XX, é
sabido que esse intelectual era contrário às formas de injustiça e todo enquadre que pudesse suprimir e
aterrar a existência humana, compreendendo que essa mesma existência era prenhe de possibilidades e
mudanças.
Na obra O Existencialismo é um Humanismo, Sartre pretendeu aproximar-se do texto original de O Ser e o
Nada como forma de minimizar críticas feitas ao seu pensamento, em uma construção acentuada dirigida ao
pessimismo em torno da vida, escandalizando com naturalismo o que era “inapropriado” na vida humana, o
que também era evidenciado pelos novelistas da época.
O pensamento de Sartre ressalta a tensão e a preocupação colocada como existencial, identificando
o homem em sua relação em uma dimensão macro, dividida em nichos que envolviam a sociedade, a
família, a política, a educação, os comportamentos aprendidos, denotando um pertencimento de
múltiplas possibilidades.
Com isso, Sartre torna-se incisivo quando se refere a que a escolha que envolve o ser humano está atrelada à
responsabilidade, por mais indesejável que possa ser.
Atenção
Compreende-se que Sartre identifica o conceito de existencialismo como uma postura filosófica,
culminando em um sentido à vida humana. Contudo, o filósofo mostra-se contumaz quando declara que
toda ação e toda verdade caracterizam a interferência humana e sua subjetividade. Dessa maneira, em
uma afirmativa existencial, Sartre expõe que a “existência precede a essência” (SARTRE, 1946, p. 80). 
A partir da colocação supracitada, verifica-se
que, para Sartre, o homem primeiramente
existe, descobre-se indivíduo em relação ao
mundo, para somente definir-se a posteriori. 
Nesse sentido, o homem não é considerado
apenas como ele se apresenta em sua
concepção, mas, após a existência, como ele
quer que seja. Após essa premissa e em retorno
aos estruturalistas, é colocado que não importa
o que as estruturas fazem de nós, mas, sim, o
que fazemos com o que elas fizeram (SARTRE,
1946, p. 82).
 
Ademais, o esforço do existencialismo baseia-se em analisar o homem, atribuindo-lhe responsabilidade a
partir daquilo que ele se torna, tanto de maneira individual quanto coletiva. Dessa maneira, compreendendo
que a existência precede a essência, passamos a existir a partir da forma como construímos nossa imagem,
sendo essa imagem atribuída a todos, portanto, escolhendo-me, escolho a humanidade. Com isso, verifica-se
que a arqui-reponsabilidade apresentada conduz ao sentimento de angústia, de forma que não podemo-nos
isentar dessa responsabilidade total.
Questões da interferência humana e subjetividade – a
existência precede a essência
Para Sartre, a angústia é estabelecida a partir
da percepção do homem sobre si mesmo,
tomando consciência de sua liberdade atrelada
à responsabilidade, estando diante de
possibilidades viáveis que lhe permitam
escolhas em torno de sua construção
existencial.
 
No entanto, a liberdade deve ser criada,
permitindo ao ser agir, deslocando-se do
passado em direção ao futuro. Com isso, Sartre
demonstra a possibilidade de uma liberdade
vivencial, tornando-se estrutura da própria
ação humana. Tal liberdade é, portanto, condição para desenvolver atividades, mantendo relações favoráveis,
permitindo-lhe sair do isolamento abstrato.
Curiosidade
Na obra O Ser e o Nada, Sartre, com a prerrogativa de eliminar esse isolamento, desenvolve a noção de
situação, pela qual transforma a abstração do ser-para-si em uma transposição concreta para o homem-
em-situação (SARTRE ,1943). 
A partir da análise da liberdade em decorrência do agir humano, na obra O Ser e o Nada, Sartre demonstra
que o homem é um ser integralmente responsável por suas ações, sendo ontologicamente livre. Desse modo,
a liberdade é a prerrogativa na qual o homem decide diretamente os próprios atos, sendo este o primeiro ato
que dará sentido ao agir, à ação, levando a consideração da escolha (SARTRE, 1943).
Resumindo
Vejamos, de forma simplificada, o que tudo isso quer dizer. Se tivermos de pensar em um argumento que
derrube a afirmação de que “todo homem é livre”, a primeira ideia seria que, na realidade, o ser humano
acaba sendo impotente frente à maioria das suas condições. Por exemplo, não temos como modificar as
limitações que nos são impostas pela natureza, pelo tempo, pela nossa origem, entre outros fatores. 
Podemos citar casos de quem nasce com um problema genético, ou vive em uma zona de alto risco, ou que se
encontra sofrendo as consequências de uma epidemia ou furacão etc. Esses exemplos nos colocam frente à
nossa impotência de transformação. Sendo assim, de que liberdade estamos falando? A final de contas, será
que somos livres para escolher e mudar nosso destino? Pelos exemplos mencionados, parece mais lógico
pensar ser feito do que fazer-se.
No entanto, se não podemos dominar a nossa
sorte, o que Sartre afirma é que, por exemplo,
nosso posicionamento frente a um fim ou uma
condição é o que determina as adversidades
que enfrentaremos. Nesse sentido, uma
montanha pode se tornar um obstáculo
insuperável, caso eu queira removê-la, ou uma
oportunidade, caso eu queira escalá-la para
admirar a paisagem desde seu cume.
 
Na realidade, a montanha não é, em si, boa ou
ruim, ela é neutra. É o fim que outorgamos para
qualquer coisa que a qualifica de uma forma ou de outra. Portanto, é a nossa liberdade que delimita os limites
que encontraremos.
 
Sartre evidencia e tenta distinguir o livre arbítrio da liberdade humana, identificando que a premissa de o
homem ser livre não lhe confere o poder de agir a partir de seus caprichos nem tanto ao acaso. Portanto, a
liberdade dada ao homem lhe permite decidir o seu próprio comportamento, na escolha dos próprios projetos
e valores, dando-lhe a possibilidade de agir quanto ao seu passado, presente e futuro.
Dessa forma, a angústia que se apresenta faz partedo próprio agir. Para Sartre, a tomada de
consciência dirigida à liberdade se vincula diretamente à angústia (SARTRE, 1943).
Verifica-se, portanto, que a angústia se torna a forma de ser da liberdade quando alcançada a consciência do
próprio ser. Essa liberdade, verificada como angústia direcionada ao homem, e somente ao próprio homem, é
identificada pelo nada e, então, apoia-se no niilismo. Como o nada não pode existir fora do ser, e como o nada
não pode nadificar porque ele, o nada, não é um ser, é apenas a partir do próprio ser que o nada vem às
coisas, surgindo no mundo como um ser em seu ser, pois apenas o ser pode nadificar o nada em seu próprio
ser (SARTRE, 1943).
Niilismo
Visão que considera que não há qualquer sentido ou utilidade na existência. 
Comentário
Na narrativa sobre a liberdade, Sartre reitera que o homem está condenado a ser livre, indicando que, a
partir do modo como foi lançado ao mundo, não está definido. Com isso, o homem é responsável por
suas escolhas, cabendo a ele se inventar em um futuro incerto. 
Sendo a liberdade um projeto relacionado ao mundo, Sartre confere ao engajamento da ação direcionada ao
externo como consciência essencial à liberdade do homem, portando, de fato, a contingência irremediável do
ser-aí, da existência a ser conquistada.
A partir disso, a consciência Sartriana lança-se
para o fazer-se, criar-se, em um movimento e
uma invenção que se tornam constantes.
Sendo, portanto, um projeto de se libertar, a
liberdade é evidenciada no próprio ato de agir,
ou seja, ser é agir (SARTRE, 1943).
 
Dessa maneira, reflexões e contribuições
vindas de outros pensadores tornaram o
existencialismo e a Fenomenologia mais
próxima e substancial, tendo como proposta a
união dessas duas grandes áreas. Tal proposta,
vale ressaltar, surgiu da discussão entre pensadores e pesquisadores.
Resumindo
A sociedade contemporânea vivência a angústia de modo exponencial, sendo confrontada, cada vez
mais, diante da realidade e do imediatismo presentes no cotidiano, envolvido em uma infinidade de
escolhas e desejando a garantia de uma existência plena. 
O indivíduo, na tentativa de minimizar todo o sofrimento, tem buscado terceirizar responsabilidades pela
inabilidade de transpor dificuldades, na tentativa de alcançar recursos que lhe ofereçam alternativas, podendo
encontrar outras formas de existência e, posteriormente, de sentido.
O livre arbítrio da liberdade humana
Neste vídeo, a especialista Martina de Paula Eduardo Ravaioli fala a visão Sartriana de que todo o homem é
livre: o que significa fazer-se, diferenciando livre arbítrio e liberdade humana segundo Sartre.
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A liberdade do homem e suas escolhas segundo Sartre 
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Compreendendo a máxima Sartriana: a existência precede a essência
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Verificando o aprendizado
Questão 1
No início do século XX, Sartre recebeu influências da fenomenologia e do marxismo, buscando uma nova
concepção para a psicologia existencialista. Em relação à nova referência conceitual para a disciplina,
identifique as propostas utilizadas por Sartre:
A
Proporcionar a concepção de uma estrutura dialética e histórica, superando a metodologia de uma psicologia
que ultrapassasse a dicotomia entre objetivismo e subjetivismo, construindo material teórico e biográfico para
a disciplina como fonte de compreensão integral do homem, considerando aspectos culturais, sociais, familiar
e individual, a partir do contexto vivenciado e observado por ele no início do século XX.
B
Priorizar aspectos a partir da compreensão do homem apenas pela compreensão individual, desconsiderando
os aspectos social, cultural e familiar.
C
Compreender o homem pela concepção subjetiva e histórica, sendo o aspecto objetivo algo a ser verificado
apenas como exterior ao homem.
D
Proporcionar a concepção de uma estrutura dialética, superando a metodologia de uma psicologia que
priorizasse apenas o subjetivismo, construindo material teórico e biográfico para a disciplina como fonte de
compreensão integral do homem, levando-se em conta os aspectos culturais, sociais, familiar e individual, no
contexto que se apresentava em sua época.
E
Compreender o homem por meio da concepção histórica, sendo o aspecto holístico compreendido como algo
separado do homem e do mundo que o cerca.
A alternativa A está correta.
A psicologia existencial, para Sartre, recebeu novos contornos a partir da construção na qual se observou o
homem em sua estrutura dialética e histórica, rompendo com o conceito e a separação antes cunhados
entre objetivismo e subjetivismo como visão do homem, buscando compreendê-lo em sua totalidade.
Questão 2
O existencialismo de Sartre está conceituado como:
A
A postura do homem no qual a essência precede a existência, caracterizando em toda ação e interferência
humana, direcionando sentido existencial.
B
Postura filosófica que culmina em um sentido à vida humana. Por outro lado, Sartre se posiciona para o fato
de que toda ação e toda verdade caracterizam a interferência humana e sua subjetividade. Desse modo, em
uma expressão existencialista, sustenta que a “existência precede a essência”.
C
O deslocamento do homem de sua responsabilidade pela direção de sentido, atribuindo aos outros a posição
por uma caminhada com significado.
D
O envolvimento do homem em si mesmo, desconsiderando-o em toda sua problemática existencial da
influência do meio e suas interferências.
E
Postura filosófica que culmina em um sentido à vida humana. Contudo, Sartre faz referência ao fato de que
toda ação e toda verdade não caracterizam a interferência humana e sua subjetividade. Desse modo, em uma
expressão existencialista, sustenta que a “existência precede a essência”.
A alternativa B está correta.
Para Sartre, o conceito de existencialismo tem como premissa a existência do homem. Em primeira
instância, instaura-se a descoberta desse indivíduo em relação ao mundo para, somente a posteriori,
definir-se. Sartre se posiciona para o fato de que toda ação e toda verdade caracterizam a interferência
humana e sua subjetividade. Desse modo, o esforço do existencialismo baseia-se em analisar o homem,
atribuindo-lhe responsabilidade a partir daquilo que ele se torna, tanto de maneira individual quanto
coletiva.
4. Conclusão
Considerações finais
A partir do que foi apresentado, a psicoterapia existencial é compreendida pelo direcionamento do cliente na
busca de sentido a partir de suas escolhas e decisões em torno dos questionamentos existenciais. Partindo
do existencialismo como base, a psicoterapia entende que cabe ao cliente a ampliação de percepção e
autorresponsabilidade, podendo assumir livremente seu lugar no mundo. Dessa forma, ela proporciona ao
indivíduo a possibilidade de ele se encontrar consigo mesmo.
 
O existencialismo – corrente filosófica que embasa a psicoterapia existencial – está relacionado à inquietação
para a ação seguida da problemática que envolve a escolha que perpassa a existência humana.
 
O legado filosófico deixado por pensadores existenciais, por meio de suas explicações baseadas no homem e
em sua complexidade a partir de aspectos vivenciais concretos, considera temáticas calcadas na angústia,
liberdade e responsabilidade. Dessa maneira, a existência é compreendida como um acontecimento que não
pode ser classificado ou mensurado, sendo ela mesma um desdobramento possível a partir do próprio
homem.
Podcast
Agora, a especialista Martina de Paula Eduardo Ravaioli encerra falando sobre os conceitos básicos do
existencialismo, assim como as contribuições principais de Kierkegaard e Heidegger, reconhecendo as
contribuições de Sartre e seus desdobramentos na psicoterapia.
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Explore+
Pesquise o artigo Introdução à psicoterapia existencial, na internet, e verifique como José A. Carvalho
Teixeira aborda a temática das técnicas em ambiente clínico.
 
Assista ao vídeo intitulado Kierkegaard: angústia e esperança, no YouTube, em que o professor
Oswaldo Giacoia Jr. aborda a influência do filósofo na contemporaneidade e as reflexões da angústia.
 
Pesquise o livro No café existencialista - O retrato da época em que a filosofia, a sensualidade e a
rebeldia andavam juntas, de Sarah Bakewell, que conta de forma descontraída a história do
existencialismo a partir do encontro entre três amigos: Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e
Raymond Aron.
 
Assista ao vídeo intitulado Sartre e o existencialismo, no YouTube, apresentado pelo professor da USP
Franklin Leopoldo e Silva, no qual faz uma descrição detalhada da filosofia existencialista de Sartre.
Referências
ABBAGNANO, N. Introdução ao existencialismo. Lisboa, Portugal: Minotauro, 1962.
 
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BEAUFRET, J. Introdução às filosofias da existência. São Paulo, SP: Duas Cidades, 1976.
 
ERTHAL, T. Terapia vivencial – uma abordagem existencial em psicoterapia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
 
FRANKL, V. Man’s Search for Meaning. New York: Washington Square Press, 1984.
 
HEIDEGGER, M. Sein und Zeit. 19. ed. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 2006.
 
KIERKEGAARD, S. A. O conceito de angústia: uma simples reflexão psicológica demonstrativa direcionada ao
problema dogmático do pecado hereditário. Trad. Álvaro Luiz Montenegro Valls. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes;
São Paulo, SP: Editora Universitária São Francisco, 2010a.
 
LÉVY, B.-H. O século de Sartre. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2001.
 
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SARTRE, J. P. El universal singular. In: Kierkegaard Vivo. Una reconsideración [Colóquio UNESCO, 1963].
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SARTRE, J. P. L’ Être et le Néant – Essai d’Ontologie Phénoménologique. Paris: Gallimard, 1943.
 
SARTRE, J. P. L’Éxistentialisme est un Humanisme. Paris: Nagel, 1946.
 
SARTRE, J. P. La Nausée. Paris: Gallimard, 1938.
 
SARTRE, J. P. L'être et le néant. Paris: Gallimard, 1943.
 
VAN DEURZEN-SMITH, E. Existential Counselling and Psychotherapy in Practice. London: Sage Publications,
2002.
 
VILLEGAS, M. Psicoterapias existenciais. Comunicação nas primeiras Jornadas de Psicologia e Psicopatologia
Fenomenológicas e Existenciais. Lisboa, 1989.
	O existencialismo
	1. Itens iniciais
	Propósito
	Objetivos
	Introdução
	1. Conceitos básicos do existencialismo
	O que é o existencialismo
	Psicoterapia existencial
	Proposta existencial em psicoterapia
	Psicoterapia humanista
	Psicoterapia existencial
	Com proposta experiencial
	Existência
	Resumindo
	Angústia
	Autenticidade e responsabilidade
	O existencialismo e a constituição de homem
	Ser-no-mundo
	Temporalidade
	Espacialização
	Escolher
	Aplicação do existencialismo na psicoterapia
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	A consciência individual e coletiva no existencialismo
	Conteúdo interativo
	A proposta existencial em psicoterapia: problemática existencial e angústia
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	2. Contribuições de Kierkegaard e Heidegger no que concerne à filosofia existencial
	Nascimento do existencialismo e suas ramificações
	Comentário
	Angústia como característica principal da existência
	Angústia como fenômeno interno e externo
	Exemplo
	O conceito de angústia segundo Kierkegaard e Heidegger
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Entendendo sobre os filósofos Kierkegaard e Heidegger
	Conteúdo interativo
	A experiência de angústia segundo Kierkegaard e Heidegger
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	3. Características do existencialismo e da filosofia contemporânea a partir de Sartre
	Liberdade do homem e suas escolhas segundo Sartre
	Questões da integralidade do homem – superação entre objetivismo e subjetivismo
	Exemplo 1
	Exemplo 2
	Atenção
	Questões da interferência humana e subjetividade – a existência precede a essência
	Curiosidade
	Resumindo
	Comentário
	Resumindo
	O livre arbítrio da liberdade humana
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	A liberdade do homem e suas escolhas segundo Sartre
	Conteúdo interativo
	Compreendendo a máxima Sartriana: a existência precede a essência
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	4. Conclusão
	Considerações finais
	Podcast
	Conteúdo interativo
	Explore+
	Referências

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