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Módulo Controle da Incidência Tributária SEMINÁRIO II - CONTROLE PROCESSUAL DA INCIDÊNCIA: DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE Questões 1) A respeito do controle de constitucionalidade no sistema processual brasileiro, pergunta-se: a) Quais as espécies de controle de constitucionalidade existentes no ordenamento jurídico brasileiro? O controle de constitucionalidade pode ser definido como a "verificação da conformidade de uma lei ou ato normativo com a Constituição, considerando tanto seus aspectos formais quanto materiais"1. Destaca-se que o controle de constitucionalidade pode ser categorizado em quatro classificações distintas, com base em aspectos subjetivos, objetivos e processuais; a natureza do órgão que realiza o controle; o momento em que o controle é exercido; o órgão judicial que efetua o controle; e a forma ou o modo do controle judicial. Controle Político x Controle Judicial O controle político é realizado pelos poderes Executivo e Legislativo e é aplicado antes da entrada em vigor de uma lei. Pode ocorrer de duas maneiras, por meio do controle prévio de admissibilidade e constitucionalidade dos atos normativos, considerando sua existência e validade; e posteriormente, pelo veto legislativo, que visa impedir atos normativos que ultrapassem os limites regulamentares ou de delegação.2 1 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 13ª ed. São Paulo: Atlas. 2003. 2 BUZANELLO, José Carlos. Controle de Constitucionalidade: a Constituição como estatuto jurídico do político. Brasília: Senado. 1997. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/288/r136- 02.pdf?sequence=4&isAllowed=y#:~:text=O%20sistema%20brasileiro%20de%20controle,e%20a%C3%A 7%C3%A3o%20direta%20inter%2D%20ventiva. Acesso em 16. Agosto de 2024 https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/288/r136-02.pdf?sequence=4&isAllowed=y#:~:text=O%20sistema%20brasileiro%20de%20controle,e%20a%C3%A7%C3%A3o%20direta%20inter%2D%20ventiva https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/288/r136-02.pdf?sequence=4&isAllowed=y#:~:text=O%20sistema%20brasileiro%20de%20controle,e%20a%C3%A7%C3%A3o%20direta%20inter%2D%20ventiva https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/288/r136-02.pdf?sequence=4&isAllowed=y#:~:text=O%20sistema%20brasileiro%20de%20controle,e%20a%C3%A7%C3%A3o%20direta%20inter%2D%20ventiva Módulo Controle da Incidência Tributária Já o controle judicial é exercido pelo Poder Judiciário. Este permite ao Poder Judiciário, a autoridade para analisar a constitucionalidade de leis já promulgadas, assegurando a aplicação adequada da norma, podendo ou não a declarar inconstitucional. Preventivo x Controle Repressivo O controle preventivo visa impedir a criação de normas inconstitucionais antes que entrem em vigor. Este controle é aplicado antes do aperfeiçoamento do ato normativo, como em casos de mandado de segurança que visam impedir a tramitação de propostas de emenda constitucional que contrariem cláusulas pétreas. O controle preventivo é realizado pelo Poder Legislativo, através das Comissões de Constituição e Justiça, e pode também ser exercido pelo Poder Executivo, mediante veto jurídico de um ato normativo por inconstitucionalidade do projeto. Em situações excepcionais, o controle preventivo pode ser realizado pelo Judiciário, quando a elaboração de uma norma é claramente ofensiva à Constituição Federal. O controle repressivo, por sua vez, é exercido após a promulgação ou entrada em vigor da lei e é realizado pelo Judiciário, com o objetivo de remover do ordenamento jurídico atos normativos que sejam inconstitucionais. Este controle pode ainda ser subdividido em difuso e concentrado. Controle Difuso x Controle Concentrado O controle difuso, ocorre quando, ao resolver um caso específico, se declara a inconstitucionalidade de uma norma, cujos efeitos se aplicam apenas às partes envolvidas naquele caso. Este tipo de controle assegura que qualquer juiz ou órgão judicial, ao aplicar a lei a um caso concreto, tenha o poder de afastar sua aplicação se considerá-la incompatível com a Constituição. É considerado incidental, pois a declaração de inconstitucionalidade não é o objetivo principal do julgamento, mas uma questão necessária para a resolução do mérito. Módulo Controle da Incidência Tributária Já o controle concentrado busca invalidar uma lei ou ato normativo, independentemente de um caso concreto, visando garantir a segurança das relações jurídicas que não podem ser baseadas em normas inconstitucionais.3 Trata-se de modalidade relacionada ao julgamento de questões constitucionais por um tribunal superior ou uma corte constitucional, como o Supremo Tribunal Federal. A Constituição Federal prevê várias formas de controle concentrado, incluindo: (a) ação direta de inconstitucionalidade; (b) ação direta de inconstitucionalidade por omissão; (c) ação direta de inconstitucionalidade interventiva; (d) ação declaratória de constitucionalidade; e (e) arguição de descumprimento de preceito fundamental. Controle por via Incidental x Ação Direta O controle incidental é realizado por juízes e tribunais ao apreciarem casos concretos, ao manifestar sobre a constitucionalidade ou não de uma norma. Trata-se de uma "questão prejudicial, que precisa ser decidida como premissa para a resolução do litígio. A declaração incidental de inconstitucionalidade é feita no exercício normal da função jurisdicional, que é a de aplicar a lei contenciosamente4”. Este tipo de controle está relacionado ao controle difuso. Por fim, o controle por via direta, ou por via principal, é exercido por meio de um instrumento específico cujo objetivo é a validade da norma em si, independentemente de uma controvérsia entre partes, com o intuito de preservar a unidade e harmonia do sistema jurídico. Este controle elimina qualquer ato que seja contrário ou incompatível com a norma maior. O controle direto está associado ao controle concentrado. b) Explique as diferentes técnicas de interpretação adotadas pelo STF no controle de constitucionalidade (parcial com redução de texto, sem redução de texto, interpretação conforme à Constituição). 3 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 13ª ed. São Paulo: Atlas. 2003. 4 BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 6ª ed. São Paulo: Saraiva. 2012 Módulo Controle da Incidência Tributária Ao exercer o controle de constitucionalidade das leis, o Supremo Tribunal Federal adota três modalidades de controle: a interpretação conforme com redução de texto, a interpretação conforme sem redução de texto, mas com a fixação de uma interpretação considerada constitucional, e a interpretação conforme sem redução de texto, excluindo a interpretação declarada inconstitucional. Na primeira modalidade, o tribunal declara a inconstitucionalidade de apenas uma expressão ou parte do texto legal, permitindo que a parte restante da norma, que é compatível com a Constituição, continue em vigor. Na segunda modalidade, o tribunal estabelece uma interpretação específica de determinada norma legal que deve ser seguida, sem alterar formalmente o texto escrito da norma. Um exemplo é o julgamento da ADI nº 2.084.5 Na terceira modalidade, o tribunal, sem modificar qualquer termo ou texto legal, declara que uma interpretação específica da norma é inconstitucional. 2) A respeito da modulação de efeitos prescrita no (i) art. 27 da Lei n. 9.868/99 e no (ii) § 3º do art. 927 do CPC/15, responda: a) há distinção entre a espécie de controle de constitucionalidade em que a modulação dos efeitos pode ser consagrada, considerando o teor de cada um dos dispositivos em análise? Sim. O art. 27 da lei 9868/99 trata a modulação de efeitos no âmbito do Controle de constitucionalidade concentrado.Em contrapartida, o art. 927 do CPC trabalha a execção à regra prevista na Lei 9868/99, ou seja, trata o controlde difuso. Os dispositivos têm em comum, a declaração de (in)constitucionalidade que produz efeitos ex tunc, com exceção daqueles casos que resultam em 5 “Com relação ao inciso V do art. 170, da referida Lei Complementar 734/93, o Tribunal, adotando a orientação firmada no julgamento da ADIn 1.377-DF — julgada em 3.6.98, acórdão pendente de publicação, v. Informativo 113 —, emprestou interpretação conforme à CF, para o fim de esclarecer que a filiação partidária de representante do Ministério Público dos Estados-Membros somente ocorrerá na hipótese de afastamento de Promotor ou Procurador de Justiça de suas funções institucionais mediante licença e nos termos da lei (...)". Módulo Controle da Incidência Tributária insegurança jurídica ou que fere diretamente princípio ou direito previsto na Constituição. Embora, modalidades semelhantes, a modalidade prevista na Lei 9.868/99 possui eficácia erga omnes, enquanto a previsão do CPC possui efeitos inter partes. b) há identidade entre os fundamentos apontados em cada um dos dispositivos para que seja convocada a modulação dos efeitos da decisão proferida em controle de constitucionalidade? Identifique-os. Sim. Conforme resposta anterior, ambos os artigos fundamentam-se na modulação de efeitos com o objetivo de assegurar o interesse social e a segurança jurídica. O interesse social se baseia na suspensão da aplicação de um entendimento anterior e nos possíveis impactos dessa suspensão sobre valores sociais importantes. Por outro lado, a segurança jurídica considera se as partes afetadas pela decisão agiram "confiando na orientação jurisprudencial alterada."6 3) Os conceitos de controle concreto e abstrato de constitucionalidade podem ser equiparados aos conceitos de controle difuso e concentrado, respectivamente? Que espécie de controle de constitucionalidade o STF exerce ao analisar pretensão deduzida em reclamação (art. 102, I, “l”, da CF)? Concreto ou abstrato, difuso ou concentrado? Explique no que consiste a nominada abstrativização do controle difuso? Quais os fundamentos jurídicos para a abstrativização (Vide anexos I e II)? Sim, os conceitos de controle concreto e abstrato de constitucionalidade podem ser equiparados aos conceitos de controle difuso e concentrado, respectivamente. 6 FILHO, Carlos Mário Velloso. Modulação dos efeitos das decisões do STF e do STJ. Migalhas. 2018. https://www.migalhas.com.br/depeso/274538/modulacao-dos-efeitos-das- decisoes-do-stf-e-do-stj. Acesso em 16. Ago de 2024 https://www.migalhas.com.br/depeso/274538/modulacao-dos-efeitos-das-decisoes-do-stf-e-do-stj https://www.migalhas.com.br/depeso/274538/modulacao-dos-efeitos-das-decisoes-do-stf-e-do-stj Módulo Controle da Incidência Tributária O controle difuso é aquele exercido por qualquer juiz ou tribunal ao aplicar a lei a um caso específico. Em contrapartida, o controle concentrado, que lida com questões exclusivamente constitucionais, é exercido apenas por um órgão jurisdicional superior. Essas modalidades se referem ao órgão judicial que realiza o controle de constitucionalidade: seja qualquer juiz ou tribunal, seja o tribunal supremo. As modalidades de controle concreto e abstrato se relacionam com a natureza da inconstitucionalidade na lide. No controle abstrato, a inconstitucionalidade é o foco principal da lide, correspondendo ao controle concentrado. Por outro lado, o controle concreto envolve um caso específico onde a constitucionalidade é abordada de forma incidental, como uma consequência da garantia de direitos, estabelecendo assim sua correspondência com o controle difuso de constitucionalidade. De acordo com o art. 102 da Constituição Federal, a reclamação é uma ação constitucional com finalidades de: (a) assegurar a autoridade do tribunal, e (b) preservar sua competência. Quando a reclamação é direcionada ao STF, a garantia da autoridade busca assegurar o controle das decisões tanto no controle difuso quanto no concentrado. As decisões provenientes do controle concentrado (e controle abstrato), produzem efeitos erga omnes e vinculantes. Por sua vez, as decisões do controle difuso (e concreto) têm como objetivo garantir o cumprimento das decisões entre as partes envolvidas. Portanto, nessas situações, o tribunal exerce o controle concentrado (abstrato). A Abstrativização do controle difuso, de forma simplificada, determina que se o STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou até mesmo de qualquer ato normativo, ainda que seja feito por meio do controle difuso, tal decisão terá os mesmos efeitos que produzem o controle concentrado, ou seja, efeito erga omnes e vinculante. Módulo Controle da Incidência Tributária Isto porque, se um dispositivo foi declarado inconstitucional ou constitucional, seus efeitos devem se produzir a todos e não apenas à casos específicos, inclusive, as decisões do STF possuem força normativa. 4) Que significa afirmar que as sentenças produzidas em ADI e ADC possuem “efeito dúplice”? As decisões proferidas em ADI e ADC sempre vinculam os demais órgãos do Poder Executivo e Judiciário? E os órgãos do Poder Legislativo? O efeito vinculante da súmula referida no art. 103-A, da CF/88, introduzido pela EC n. 45/04, é o mesmo da ADI? Justifique sua resposta. A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é um instrumento constitucional do controle concentrado, destinado a declarar a inconstitucionalidade de uma norma. Em contrapartida, a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) visa confirmar a constitucionalidade de um ato normativo. Nesse contexto, afirmar que as decisões em ADI e ADC possuem efeito dúplice significa, nada mais que reconhecer que "a procedência da ADI equivale à improcedência da ADC; e a improcedência da ADI corresponde à procedência da ADC7". Conforme disposto no §2º do artigo 102: "As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal". Isso significa que as decisões proferidas no âmbito da ADI e ADC vinculam os demais órgãos dos poderes Executivo e Judiciário, mas não se estendem ao Poder Legislativo, já que o legislativo poderá editar lei com conteúdo idêntico. O artigo 103-A estabelece que: Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante 7 LINS, Robson Maia. Controle de Constitucionalidade da Norma Tributária. Decadência e Prescrição. Quartier Latin do Brasil: São Paulo. 2005 Módulo Controle da Incidência Tributária em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. §1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre estes e a administração pública, que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. Em outras palavras, ao contrário da ADI, que busca remover do ordenamento jurídico uma norma incompatível com a Constituição, as Súmulas Vinculantes são emitidas pelo STF para conferir validade, interpretação e eficácia a normasfrequentemente envolvidas em conflitos entre órgãos judiciais ou entre estes e a Administração Pública, padronizando a aplicação da norma. Neste caso, o efeito vinculante, também não atinge o Poder Legislativo. 5) O STF tem a prerrogativa de rever seus posicionamentos ou também está inexoravelmente vinculado às decisões por ele produzidas em controle abstrato de constitucionalidade? Se determinada lei tributária, num dado momento histórico, é declarada constitucional em ADC, poderá, futuramente, após mudança substancial dos membros desse tribunal, ser declarada inconstitucional em ADI? É cabível a modulação de efeitos neste caso? Analisar a questão levando-se em conta os princípios da segurança jurídica, coisa julgada e as disposições do art. 927, § 3o, do CPC/15. O Supremo Tribunal Federal (STF) tem o poder de revisar suas próprias decisões, mas essa prerrogativa não é absoluta, conforme a Súmula 473 do STF: "A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial." Inicialmente, o legislador deu a entender que as decisões em sede de ADI e ADC seriam definitivas. No entanto, não há como prever todas as possíveis interpretações ou fundamentos que, no futuro, possam tornar uma norma Módulo Controle da Incidência Tributária inconstitucional, especialmente considerando que a sociedade está em constante mudança. Por essa razão, as decisões do STF em controle concentrado não afirmam a (in)constitucionalidade de uma norma, mas apenas de um fundamento ou interpretação específica. Dessa forma, para evitar a nulidade automática de atos e normas declarados inconstitucionais e para garantir a segurança jurídica, os direitos adquiridos, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, o legislador considerou cabível a modulação dos efeitos jurídicos das decisões. Como pontua Humberto Ávila: "[...] a decisão de manter os efeitos de atos inválidos com base no princípio da segurança jurídica deve analisar todos os efeitos decorrentes da inversão da consequência normal pelo descumprimento das normas: a mesma segurança jurídica que pode ser usada para manter as leis contrárias à Constituição com a finalidade de proteger a confiança de alguns que confiaram na validade de leis cuja constitucionalidade era presumida também pode ser utilizada com o fim de proteger a confiança de outros que confiaram na aplicação da consequência prevista para o descumprimento das leis contrárias à Constituição." 6) O art. 535, §5º, do CPC/15 prevê a possibilidade de desconstituição, por meio de impugnação ao cumprimento de sentença, de título executivo fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo STF ou em aplicação ou interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal em controle concentrado ou difuso. Pergunta-se: a) É necessário que a declaração de inconstitucionalidade seja anterior à formação do título executivo? Sim. No julgamento da ADI 2.418 e do RE 611.503, o STF determinou que, quando o artigo em questão for aplicado, a norma declarada inconstitucional deverá ser anterior e, caso contrário, a revisão deverá ser buscada por meio de ação específica. "Os atos anteriores, mesmo que baseados em norma inconstitucional, Módulo Controle da Incidência Tributária só poderão ser anulados ou rescindidos, se for o caso, através de um processo próprio [...]."8 No regime atual (CPC/15), se a decisão do STF sobre a inconstitucionalidade for posterior ao trânsito em julgado da sentença exequenda, "será possível a propositura de ação rescisória, cujo prazo será contado a partir do trânsito em julgado da decisão do Supremo Tribunal Federal."9 Portanto, o surgimento de uma decisão que declare a inconstitucionalidade de uma lei não implica automaticamente na reforma ou rescisão de decisões anteriores que adotaram uma interpretação diferente. b) E se for posterior, poderá ser alegada? Se sim, por qual meio? Há prazo para esta alegação? Sim. Poderá ser alegada, em impugnação se anterior ao trânsito em julgado da decisão ou por meio de ação rescisória se posterior ao trânsito em julgado, no prazo de 2 (dois) anos. 7) Contribuinte ajuíza ação declaratória de inexistência de relação jurídico- tributária que o obrigue em relação a tributo cuja lei instituidora seria, em seu sentir, inconstitucional (porque violadora do princípio da anterioridade). Paralelamente a isso, o STF, em ADI, declara constitucional a mesma lei, fazendo-o, contudo, em relação a argumento diverso. Pergunta-se: a) Como deve o juiz da ação declaratória agir: examinar (1) o mérito da ação e julgá-la procedente, ou (2) extingui-la, sem julgamento de mérito (sem análise do direito material), por força dos efeitos erga omnes da decisão em controle de constitucionalidade abstrato? Como a ação tem um objeto diferente daquele julgado pela Suprema Corte, o juiz deve analisar o mérito da questão e decidir se é procedente ou improcedente. O efeito erga omnes advindo da ADI refere-se somente à questão submetida ao STF, enquanto a questão do contribuinte, embora relativa, é diversa da 8 AC 00265738420158070000. TJDF – Conselho Especial. Rel. Mário Machado. DJe 16/03/2021 9 ADI 2418/DF. STF – Plenário. Rel. Min. Teori Zavascki. DJe 16/11/2 016 Módulo Controle da Incidência Tributária submetida a ADI. Dessa forma, deverá ser feita nova análise da questão levantada submetendo eventualmente a inconstitucionalidade apontada a ferramentas de controle concreto e difuso. b) Se o STF tivesse se pronunciado sobre o mesmo argumento veiculado na ação declaratória (violação do princípio da anterioridade), qual solução se colocaria adequada? Responda a essa pergunta, considerando o que foi respondido na questão “a)”. Conforme a decisão proferida no RE 730.462 pelo STF, “a declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade de um preceito normativo pelo Supremo Tribunal Federal não resulta automaticamente na alteração ou anulação das sentenças anteriores que tenham adotado uma interpretação diversa”. Portanto, na ausência de uma sentença proferida, o juiz deve extinguir o processo sem resolução do mérito, tendo em vista tratar-se de tema objeto de decisão proferida em controle de constitucionalidade concentrado, com efeitos erga omnes e vinculante. Se a sentença já tiver sido proferida, a Fazenda deve buscar, por meio de recurso ou ação rescisória, a adequação da decisão ao novo entendimento. c) Se na referida ação declaratória já tivesse ocorrido o trânsito em julgado de decisão de procedência (acolhendo o pedido do contribuinte), qual comportamento deverá adotar a Advocacia Pública à luz do entendimento consagrado no RE 955.227 (Tema 885) e RE 949.297 (Tema 881) (Vide anexos III e IV)? Com base nos temas 885 e 881 do STF, a Advocacia Pública não precisará mais interpor ação rescisória para contestar a execução de uma ação favorável ao contribuinte já transitada em julgado. Isto porque, diante de um novo entendimento do STF que considere constitucional a cobrança anteriormente questionada, a decisão que beneficiava o contribuinte perde automaticamente sua eficácia. Módulo Controle da Incidência Tributária Portanto, não é necessário que a Fazenda adote medidas quanto ao tema.