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Transformações Lineares 1 8 8.1 Introdução 8.2 Transformações matriciais 8.3 Transformações lineares 8.4 Imagem de uma transformação linear 8.5 Núcleo de uma transformação linear 170 170 171 174 175 UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 170 UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. OBJETIVOS: 01_Definir os conceitos de transformação matricial e linear. 02_Apresentar vários exemplos de transformação lineares. 03_Compreender satisfatoriamente os principais resultados relacionados aos espaços vetoriais e as transformações lineares. 8.1 INTRODUÇÃO Um dos conceitos centrais na Matemática é o de função. De modo geral, usa-se os termos função, aplicação e transformação como sinônimos. Uma função é uma associação entre dois conjuntos A e B, envolvendo todos os elementos de A, mas não necessariamente todos os elementos de B, e que associa cada elemento de A à somente um elemento de B. Esta maneira de ver uma função somente como uma associação é uma visão essencialmente estática. Uma outra maneira de ver o mesmo conceito, porém mais dinâmica, é que uma função é uma transformação (um operador), que leva elementos do conjunto A em elementos do conjunto B, ou seja, transforma (opera) elementos de A em elementos de B. Na Álgebra Linear, usa-se mais o termo transformação do que função, especialmente no caso das transformações lineares, que definiremos nesta unidade. Em resumo, uma transformação de um espaço vetorial V em um espaço vetorial W é simplesmente um função de V em W. Como observamos são de interesse especial as transformações lineares. Começaremos definindo transformações matriciais e depois as lineares. Veremos que para transformações de Rn em Rm , os dois conceitos são equivalentes. 8.2 TRANSFORMAÇÕES MATRICIAIS Uma transformação matricial é uma função dada por T(x) = Ax, onde A é uma matriz. Mais pre- cisamente, seja A uma matriz m x n. Então, a aplicação T : Rn → Rm , dada por x → Ax, que é uma transformação matricial. 171 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 Exemplo: Seja: então A induz a transformação matricial T : R³ → R² , dada por x → Ax. Por exemplo, se , então: Em geral, se , então: Esse último formato de solução será muito comum de aparecer nas solução dos problemas de transformações lineares. E apenas como ilustração, vamos prosseguir avaliando uma matriz Am x n associada a uma transformação linear TA : Rn → Rm , cuja regra é obtida como TA(v) = A • v , onde v é tomado com um vetor coluna. Um caso simples pode ser analisado considerando a matriz: e a transformação linear dada por TA : R² → R3, tal que: Logo a regra da transformação TA(x, y, z) = (4x - 2y, x + 7y, 3x) . 8.3 TRANSFORMAÇÕES LINEARES De certa forma já temos em mãos tudo o que precisamos para trabalhar com espaços vetoriais A = 2 1 1 2 3 0 x = 1 -1 2 Ax = 2 1 1 2 3 0 • 1 -1 2 = 7 -1 x = x1 x2 x3 A = 4 1 3 -2 7 0 • x1 x2 x3 = 2x1 x1 x2 2x3 3x3+ + + TA(x, y, z) = 4 1 3 -2 7 0 • [x y] = 4x x 3x 2y 7y - + Ax = 2 1 1 2 3 0 UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 172 UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. reais. Acreditamos, a essa altura, que o leitor já esteja familiarizado com o conceito de funções, principalmente com aquelas que estão defi nidas em um subconjunto dos números reais e cujo contradomínio seja, eventualmente, um outro subconjunto dos números reais. As funções naturais no contexto dos espaços vetoriais, chamadas de transformações lineares, for- mam uma classe muito especial de funções que têm aplicações na Física, nas Engenharias e em vários ramos da Matemática. Estamos interessados nas funções cujos domínios e contradomínios são espaços vetoriais e que, além disso, preservam as operações de adição de vetores e de multiplicação de um vetor por um escalar. Isto é o conteúdo da defi nição a seguir. TRANSFORMAÇÃO LINEAR Sejam V e W espaços vetoriais. Uma transformação linear de V em W é uma função T : V → W que possui as seguintes propriedades: 01_T(v1 + v2) = T(v1) + T(v2) , para quaisquer v1 e v2 em V; 02_T( v) = T(v), para quaisquer v em V e em R. Os itens (1) e (2) da defi nição são equivalentes à seguinte afi rmação matemática: T(v1 + v2) = T(v1) + T(v2) para quaisquer v1 e v2 em V e para qualquer Є R. Em outras palavras, podemos dizer que uma transformação é linear quando preserva a soma de vetores e o produto de vetores por escalares. São estas caracterizações das transformações line- ares que utilizaremos, por ser mais prática, para mostrar que determinada função entre espaços vetoriais é uma transformação linear. Preservar a soma de vetores quer dizer que se somarmos os vetores primeiro (u + v) e, em segui- da, aplicarmos T, obtendo T(u + v), o resultado é o mesmo que aplicarmos T aos vetores e depois somarmos os resultados (Tu + Tv), isto é T(u + v) = Tu + Tv. Se A é uma matriz, u e v são vetores no domínio de T = Ax e c é um escalar, então, a propriedade 173 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 A(u + v) = Au + Av mostra que T preserva a soma de matrizes e a propriedade A(cu) = cA(u) mostra que T preserva o produto por escalar. Portanto, toda transformação matricial é linear. Por outro lado, nem toda transformação linear de espaços vetoriais é matricial. Veremos um exemplo deste tipo a seguir. Porém, transformações lineares de Rn em Rm são sempre matriciais. Vejamos, a seguir, alguns exemplos. Exemplo Diante da defi nição apresentada acima, avalie que a transformação T : R² → R³, defi nida por T(x, y) = (3x, -2y, x - y) , é linear. Solução: 01_Vamos avaliar u = (x1 , y1) e v = (x2 , y2) como vetores genéricos de R². Então: T (u + v) = T(x1 + x2 , y1 + y2) = (3 (x1 + x2) , - 2(y1 + y2) , (x1 + x2) - (y1 + y2)) = (3x1 + 3x2, - 2y1 - 2y2, x1 + x2 - y1 - y2) = (3x1, -2y1 , x1 - y1) + (3x2 , -2y2 ,x2 - y2) = T(u) + T(v) 02_Para todo Є R e para todo u = (x1 , y1) Є R², tem-se: T( u) = (3 x1 , -2 y1 , x1 - y1) = (3x1 , -2y1 , x1 - y1) = T(u) E isso encerra a nossa demonstração. Exemplo A transformação T : V → W dada por T(x)) • w é linear. Esta transformação, chamada de transforma- ção nula, leva todo vetor de V no vetor nulo de W. Exemplo Seja V um espaço vetorial qualquer, a transformação T : V → V dada por T(u) = u é linear. Esta transformação é chamada identidade. Se V = Rn, então a transformação linear dada pela matriz In, identidade de ordem n, é a transformação identidade Rn . Exemplo Seja r Є R. Mostre que a transformação T : Rn → Rn dada por T(x) = rx é uma transformação linear. UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 174 UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Solução:Sejam u, v Є Rn e c, d escalares. Então: T(cu + dv) = r(cu + dv) = rcu + rdv = c(ru) + d(rv) = cT(u) + dT(v) Portanto, T é uma tranformação linear. Se r = 0, então temos a transformação nula. Se r = 1, temos a transformação identidade. Se 0 ≤ r 1, então dizemos que T é uma dilatação. A Figura mostra a dilatação T(x) = 2x. Imagem: Dilatação T(x) = 2x Exemplo: A transformação T : R² → R² dada por T(x) = x + (1, 0) não é linear. Para ver isto, basta notar que ela não leva o vetor nula no vetor nulo. Esta é uma translação de vetores no R². 8.4 IMAGEM DE UMA TRANSFORMAÇÃO LINEAR Seja T : V → W uma transformação linear. Chamamos de imagem desta transformação linear e representamos por Im(T) ou T(V), ao conjunto: Im(T) = T(V) = {w Є W : v Є V/T(v) = w} OBSERVAÇÕES: 01_Im(T) W ; 02_0 Є Im(T), pois sabemos que T(0) = 0; 175 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 03_Im(T)é um subespaço vetorial de W, isto é; A) w1, w2 Є Im(T) → w1 + w2 Є Im(T) ; B) k Є R, w Є Im(T) → k ∙ w Є Im(T). 8.5 NÚCLEO DE UMA TRANSFORMAÇÃO LINEAR O núcleo e a imagem de uma transformação linear são dois subespaços de seu domínio e de seu contradomínio, respectivamente, que nos fornecem informações valiosas sobre a transformação. Há uma relação importante entre as dimensões do domínio, do núcleo e da imagem de uma transformação linear, que apresentaremos nesta seção e que possui muitas aplicações. NÚCLEO Chama-se núcleo de uma transformação linear T : V → W ao conjunto de todos os vetores v Є V que são transformados em 0 Є W. Indica-se esse conjunto por N(T) ou ker(T), tal que: N (T) = {v Є V | T(v) = 0 Є W} Note que o núcleo N(T), ou kernel ker(T) é um subconjunto não vazio de V, já que T(0) = 0. Mais ainda, ker(T) é um subespaço de V. De fato, se v1, v2 Є ker(T) e se α Є R, então v1 + v2 Є ker(T), pois: T(v1 + v2) = T(v1) + T(v2) Vamos analisar o caso em que, dada a transformação linear T : R³ → R³, tal que T(x, y, z) = (x, 2y, 0) , desejássemos encontrar, por exemplo, a imagem desta transformação linear, bem como o seu núcleo. Para a primeira parte teríamos: T(x, y, z) = (x, 2y, 0) = x(1, 0, 0)+ y(0, 2, 0) = [(1, 0, 0) , (0, 2, 0)] e, portanto, a imagem Im(T) = [(1, 0, 0), (0, 2, 0) . Na segunda parte do problema, precisamos notar que: T(x, y, z) = (x, 2y, 0) = (0, 0, 0) → x = 0 2y = 0 → 0 = 0{ x = 0 y = 0 z Є R{ UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 176 UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Logo, ker(T) = {(0, 0, z)}, z Є R. A Figura ilustra geometricamente a solução encontrada. Imagem: Projeção da transformação linear estudada. O seguinte exemplo ilustra o fato de que a determinação do núcleo de uma transformação linear, entre espaços vetoriais de dimensão finita, recai na determinação do conjunto solução de um sistema de equações lineares homogêneo. Exemplo: Seja T : R4 → R³ a transformação linear definida por: T(x, y, s, t) = (x - y + s + t, x + 2s - t, x + y + 3s -3t) Determine ker(T) . Solução: Para determinarmos ker(T), devemos obter o conjunto de vetores (x, y, s, t) em R4 tais que: T(x, y, s, t) = (x - y + s + t, x + 2s - t, x + y + 3s - 3t) =(0, 0, 0) Equivalentemente, ker(T) é o conjunto solução do seguinte sistema linear homogêneo: x - y + s + t = 0 x + 2s - t = 0 x + y + 3s - 3t = 0{ 177 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 Resolvendo o sistema acima, obtemos: ker(T) = {( -2s + t, -2 + 2t, s, t) s, t Є R} Note que ker(T) é um subespaço vetorial de R4 de dimensão 2. A Figura (1.3) nos permite uma interpretação geométrica sobre o entendimento do núcleo de uma transformação linear. Observe que N(T) nunca é vazio pois contém, ao menos, o vetor nulo do espaço domínio. Ou- tra consideração importante que podemos fazer é interpretar essa mudança matemática como uma transformação geométrica de um sistema para o outros. Ou seja, as transformações lineares podem descrever vários tipos de mudanças geométricas, como: rotação, cisalhamento, reflexão, além de outras deformações no plano ou no espaço. Assim, a imagem de T é constituída dos vetores de W que são imagem de pelo menos um vetor de V, através da aplicação de T. Imagem: Interpretação geométrica de uma transformação linear. UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 178 UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. RESUMO: Nesta unidade estudamos um dos conceitos fundamentais da Álgebra Line- ar, que é o de Transformação Linear. Vimos, inicialmente, as transformações matriciais. Em seguida, definimos transformações lineares. Na sequência, abordamos inúmeros exemplos para maior aprendizado e entendimento. 179 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 8 : TRANSFORMAÇÕES LINEARES 1 REFERÊNCIA: BIBLIOGRAFIA BASE BOULOS, Paulo; CAMARGO, Ivan. Geometria Analítica: um tratamento veto- rial. Pearson / Prentice Hall (Grupo Pearson), 2004. WINTERLE, Paulo. Vetores e Geometria Analítica. Makron Books (Grupo Pe- arson), 2000. ANTON, Howard. Álgebra Linear com Aplicações - 8ª edição. Bookman, 2001. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR MACHADO, Antonio dos Santos. Álgebra Linear e Geometria Analítica - 2ª edição. São Paulo: Atual Editora, 1996. MURDOCK, David D. Geometria Analítica - 2ª edição. Rio de Janeiro: LCT Edi- tora, 1971. BOLDRINI, José Luiz; COSTA, Sueli I. Rodrigues; FIGUEIREDO, Vera Lucia; WETZLER, Henry G. Álgebra Linear - 3ª edição. São Paulo: Harper e How do Brasil, 1980.