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Enfermagem no Brasil e no mundo Você vai entender a construção histórica da enfermagem no Brasil e no mundo, com foco no papel sociocultural da profissão, durante diversos períodos até sua consolidação como ciência do cuidar. Profa. Romeika Carla Ferreira de Sena 1. Itens iniciais Propósito O estudo sobre a historicidade da enfermagem é essencial para a formação profissional, pois fornece uma compreensão abrangente de práticas e evoluções históricas globais e nacionais da área, permitindo uma atuação mais informada, contextualizada e adaptável às diversas realidades de saúde. Preparação Antes de iniciar os estudos, leia aResolução do Conselho de Enfermagem (Cofen) nº 736, de 17 de janeiro de 2024, que dispõe sobre a implementação do processo de enfermagem em todo o contexto socioambiental no qual ocorre o cuidado de enfermagem. Objetivos Reconhecer a historicidade da enfermagem, identificando as principais mudanças sociais, culturais e científicas ao longo dos séculos. Identificar a enfermagem como profissão regulamentada, com processo de trabalho e atuação profissionais definidos e consolidados na atualidade. Introdução A história da enfermagem remonta a épocas antigas, mas sua evolução se deu ao longo dos tempos. No cenário mundial, ganhou destaque por meio do papel social desenvolvido nas guerras. No país, durante o período colonial, era praticada sobretudo por religiosas e leigas. A enfermagem indígena também foi muito importante, com práticas tradicionais passadas de geração em geração. Durante o Brasil Império, a profissão começou a ganhar mais reconhecimento, com a criação dos primeiros centros de formação, como a Escola de Enfermeiras Anna Nery, em 1923. A chegada da República impulsionou o desenvolvimento da profissão, com o surgimento de mais escolas e a profissionalização da área, mas foi durante as guerras mundiais que as enfermeiras brasileiras solidificaram sua importância. A década de 1940 marcou o início da regulamentação da enfermagem no Brasil, com a criação do Cofen em 1946. Hoje, as perspectivas são amplas, com avanços tecnológicos e científicos que melhoram a qualidade do cuidado. É reconhecida por ser uma das profissões mais importantes na área da saúde, tendo papel relevante em todas as etapas de tratamento, recuperação, prevenção dos agravos e promoção da saúde. No entanto, a enfermagem enfrenta impasses, como falta de reconhecimento adequado, condições de trabalho precárias, sobrecarga e baixos salários. Estudar e refletir a seu respeito é essencial para a compreensão teórico-filosófica de suas implicações e perspectivas. É fundamental ainda investir na valorização e no fortalecimento dessa atividade imprescindível para o funcionamento do sistema de saúde e para o bem-estar da população, a fim de enfrentar os desafios atuais e futuros. • • 1. História da enfermagem A enfermagem no mundo Neste vídeo, discorreremos de forma breve e clara sobre a historicidade da enfermagem no mundo, relatando os principais eventos que marcaram a visão sociocultural da enfermagem e sua solidificação como ciência do cuidar. Veja! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. A enfermagem e seus aspectos socioculturais A história da enfermagem é rica e multifacetada, refletindo as mudanças sociais, culturais e científicas ao longo dos séculos. Acompanhe alguns registros da enfermagem ao longo da história em diferentes localidades. Egito Antigo (3000 AEC) Primeiros registros de enfermagem Identificam-se registros de práticas de enfermagem, em que textos médicos, como o Papiro de Ebers, descreviam técnicas de tratamento de feridas e outras doenças. As práticas eram, em grande parte, realizadas por sacerdotes e sacerdotisas. Grécia (460-370 AEC) Templos e cuidado sagrado A enfermagem era associada aos templos de Asclépio, o Deus da Cura, onde religiosos realizavam cuidados. Hipócrates influenciou a prática médica e de enfermagem com seus escritos sobre ética médica e observação clínica. Roma (século IV EC) Primeiro hospital Fabiola, uma nobre, fundou o primeiro hospital cristão, sendo considerada uma das primeiras enfermeiras da história. Saiba mais As siglas AEC (antes da Era Comum) e EC (Era Comum) tem como objetivo uma escrita inclusiva, sem distinção de crença ou cultura. São equivalentes aos termos antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.). Durante a Idade Média, a enfermagem foi amplamente praticada nos monastérios e conventos cristãos. Ordens religiosas, como a Ordem de São João de Jerusalém e as Beguinas, desempenharam papéis importantes nos cuidados aos doentes, especialmente durante epidemias, como a peste negra no século XIV. Durante a Idade Moderna, a prática e o cuidado em enfermagem baseavam-se em três características principais: 1 Mosteiros e ordens religiosas Os mosteiros eram os principais locais onde a enfermagem era praticada. Os monges e as freiras eram responsáveis por cuidar dos doentes, proporcionando-lhes abrigo, alimentação e cuidados básicos. 2 Enfermagem empírica Os conhecimentos sobre cuidados de enfermagem eram baseados em práticas empíricas, transmitidas oralmente entre os membros da comunidade religiosa. 3 Reconhecimento social Embora o trabalho dos religiosos fosse valorizado, não havia distinção clara entre os cuidados espirituais e físicos. A enfermagem era vista como um dever religioso e caritativo. O Renascimento trouxe um avanço na ciência médica e na prática de enfermagem. Durante a Reforma Protestante, no século XVI, muitos hospitais e conventos foram fechados, o que afetou significativamente os serviços de enfermagem na Europa. A criação de hospitais civis, como o Hôtel-Dieu, em Paris, marcou um desenvolvimento importante na organização dos cuidados de saúde. A crescente urbanização e as guerras também aumentaram a demanda por serviços de enfermagem. Retrato de Florence Nightingale. No século XIX, a enfermagem passou por uma transformação significativa, marcada pela profissionalização e pelo desenvolvimento de práticas baseadas em ciência e organização. Tudo isso se inicia de forma mais clara a partir de Florence Nightingale, considerada a fundadora da enfermagem moderna. Após se formar na Escola de Diaconisas em Kaiserswerth, em 1836, Nightingale destacou- se ao implementar práticas de higiene e cuidados organizados nos hospitais de campanha, reduzindo drasticamente as taxas de mortalidade, durante a Guerra da Crimeia (1853-1856). Em 1860, fundou a Escola de Enfermagem Nightingale, no Hospital St. Thomas, em Londres. A instituição tornou-se um modelo para a educação em enfermagem, estabelecendo padrões de treinamento rigorosos e enfatizando a importância de um ambiente limpo e organizado para a recuperação dos pacientes. A metodologia de Nightingale inspirou a criação de várias escolas de enfermagem pelo mundo e elevou o status da profissão, destacando a necessidade de educação formal e contínua para os enfermeiros. Em toda a Europa, no século XIX, também se viu o surgimento de várias escolas de enfermagem, que seguiram os princípios estabelecidos por Florence Nightingale. Na França, a enfermagem começou a se organizar mais formalmente com a criação de programas de treinamento nos hospitais de Paris. As irmãs de caridade e outras ordens religiosas continuaram a desempenhar um papel indispensável, mas começaram a incorporar práticas mais organizadas. Comentário Hoje em dia, a enfermagem é uma profissão globalmente reconhecida e regulamentada, com práticas baseadas em evidências científicas e uma forte ênfase em educação contínua e especialização. A pandemia de covid-19 (2019-2021) reforçou a importância da enfermagem no sistema de saúde global, destacando a resiliência e o valor dos profissionais de enfermagem. A história da profissão é de contínua evolução e adaptação às necessidades de saúde da sociedade. Desde as práticas rudimentares da Antiguidade até a profissionalização contemporânea, a enfermagem tem desempenhado papel importante na promoçãoda saúde e no cuidado aos doentes, refletindo os avanços científicos e as mudanças sociais de cada época. A enfermagem no Brasil Colônia Durante o período colonial, a enfermagem no Brasil também estava intimamente ligada à Igreja Católica, e as freiras eram as principais responsáveis pelos cuidados de saúde. Reconstrução de enfermeira religiosa cuidando de paciente. Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, RJ. Os conventos e hospitais religiosos eram os principais locais onde os cuidados de enfermagem eram oferecidos. As freiras se dedicavam ao cuidado dos doentes, feridos e órfãos, além de prestar auxílio em partos e tratamentos. Nesse período, também não existia formação acadêmica. A prática da enfermagem era vista como uma vocação, não como uma profissão, e muitas vezes era exercida por mulheres de origem humilde. A enfermagem na era colonial também estava mais ligada aos cuidados básicos, como higiene, alimentação e conforto dos doentes. Os tratamentos médicos eram rudimentares, e a atuação das enfermeiras consistia principalmente em fornecer conforto físico, emocional e espiritual aos enfermos. Ressalte-se que, com a chegada dos portugueses ao Brasil, a enfermagem foi adaptada às necessidades da época colonial e começou a ganhar contornos mais profissionais, mas ainda estava longe de ser reconhecida como uma profissão autônoma. Por meio da colonização, os primeiros cuidados de enfermagem no Brasil foram realizados por religiosos, principalmente jesuítas e franciscanos, que se instalaram no país com o intuito de catequizar e prestar assistência a colonos e índios. Enfermagem no Brasil Império Neste vídeo, você vai aprender mais sobre a história da enfermagem no Brasil, as principais épocas e o papel da profissão ao longo dos tempos. Veja! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Durante o Brasil Império, a enfermagem ainda era uma prática essencialmente empírica, baseada em conhecimentos transmitidos oralmente e associada a instituições religiosas. A criação da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, em 1545, representou um marco, por ser um dos primeiros espaços organizados para prestação de cuidados de saúde no país. A Santa Casa tornou-se referência como hospital e como instituição de caridade, onde as irmãs desempenhavam papel fundamental no cuidado aos enfermos. Outro marco importante que impulsionou a prática de enfermagem e proporcionou reconhecimento como categoria profissional foi após a dedicação e o empenho de Anna Nery. Enfermeira Anna Nery, c. 1903. Anna Nery ficou conhecida principalmente por sua atuação durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), na qual se tornou a primeira enfermeira brasileira a servir em campo de batalha. Ao lado de seu filho, que era soldado, ela se voluntariou para ajudar os feridos da guerra, mesmo com as dificuldades e o preconceito enfrentado à época. Durante a guerra, Anna Nery atuou no Hospital de Caridade de Assunção, prestando cuidados aos soldados brasileiros feridos. Sua dedicação e coragem foram fundamentais para salvar muitas vidas e inspirar outras mulheres a se juntarem ao esforço de guerra como enfermeiras. Após o fim da guerra, Anna Nery retornou ao Brasil e continuou sua missão de promover cuidados de saúde. Em 1880, fundou a Escola de Enfermeiras de Salvador, a primeira do Brasil e a segunda das Américas, com base nos ensinamentos e experiências que adquiriu durante a Guerra do Paraguai. A Escola de Enfermeiras de Salvador foi precursora no ensino formal de enfermagem no país, oferecendo formação estruturada, que combinava teoria e prática. Seu objetivo era capacitar mulheres para atuar como enfermeiras em hospitais, lares e comunidades, promovendo o bem-estar e aliviando o sofrimento dos doentes. Além de fundar a escola, Anna Nery lutou pela profissionalização da enfermagem, defendendo melhores condições de trabalho e reconhecimento para as enfermeiras. Sua visão pioneira e sua determinação foram fundamentais para o desenvolvimento da enfermagem no Brasil. Anna Nery faleceu em 1880, deixando um legado duradouro para a enfermagem brasileira. Sua coragem, dedicação e compromisso com o cuidado aos doentes inspiraram gerações de enfermeiras e contribuíram para elevar o status da enfermagem como uma profissão respeitável e essencial para a saúde pública no Brasil. Em reconhecimento à sua contribuição, Anna Nery foi homenageada com o título de Patrona da Enfermagem Brasileira. Durante o século XIX, com o aumento das demandas por serviços de saúde por causa do crescimento populacional e dos surtos de doenças, começaram a surgir algumas escolas de enfermagem. A atuação da enfermagem nesse período estava centrada principalmente nos cuidados básicos de higiene, alimentação e conforto aos doentes, tanto nos hospitais quanto nas residências. As enfermeiras eram responsáveis por: Administrar medicamentos Trocar curativos Manter a limpeza dos pacientes Manter a limpeza do ambiente Prestar apoio emocional e espiritual A formação das enfermeiras na época era muitas vezes informal, baseada em aprendizado prático com supervisão de religiosas ou médicos. No entanto, com o tempo, as escolas de enfermagem começaram a oferecer cursos mais estruturados, abrangendo disciplinas teóricas e práticas, com duração de alguns anos. Enfermeira atendendo paciente infantil. Mesmo com toda a necessidade social da profissão, a enfermagem, no entanto, não era bem vista pela sociedade, sendo muitas vezes associada a mulheres de origem humilde e relegada a um papel subalterno no sistema de saúde. Além disso, as condições de trabalho eram precárias, com longas jornadas e baixos salários, especialmente para as enfermeiras sem formação acadêmica. A partir do final do século XIX, com o avanço da medicina e a valorização da ciência, a enfermagem começou a ganhar mais reconhecimento como uma profissão essencial para o cuidado dos doentes. Com o tempo, foi conquistando mais autonomia e respeito, contribuindo para a profissionalização e o desenvolvimento da profissão no Brasil. Em resumo, durante o Brasil Império, a enfermagem estava em estágio inicial de desenvolvimento no país. Com o surgimento de escolas de enfermagem e a profissionalização da área, ela começou a ser vista como uma profissão essencial, apesar das dificuldades e dos preconceitos enfrentados pelas enfermeiras da época. A enfermagem no Brasil República Neste vídeo, vamos falar da enfermagem no Brasil República, abordando a época histórica e a atuação da enfermagem como profissão durante esse período. Confira! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. A história da enfermagem no Brasil é marcada por uma trajetória de evolução e reconhecimento, desde os períodos iniciais de colonização até os dias atuais. Um caminho de desafios, superações e conquistas, que contribuiu significativamente para a saúde e o bem-estar da população brasileira. Durante o período da República, ela foi marcada por importantes avanços e transformações, que moldaram a profissão até os dias atuais. Desde o início do século XX, a enfermagem no Brasil começou a se organizar e a se profissionalizar, seguindo tendências mundiais e adaptando-se às peculiaridades do país. No início da República, continuava sendo exercida principalmente por religiosas e leigas, sem formação profissional ou acadêmica, principalmente em instituições como conventos, asilos e casas de saúde. Foi no final do século XIX e início do século XX que a atividade começou a se institucionalizar. Em 1890, sob o governo de Deodoro da Fonseca, o Decreto nº 1.482 criou o Corpo de Enfermeiros do Exército, o que representou um marco na profissionalização da enfermagem no Brasil. A atuação da ocupação nesse período estava centrada principalmente nos cuidados prestados em hospitais, tanto civis quanto militares, e em instituições de caridade. As enfermeiras eram responsáveis por cuidar de doentes, realizar curativos, administrar medicamentos e auxiliar médicos em cirurgias.Com o passar do tempo, para além da fundada por Anna Nery, outras escolas de enfermagem foram surgindo em diferentes regiões do Brasil, ampliando o acesso à formação profissional. No entanto, a visão da enfermagem ainda era permeada por estigmas sociais, sendo uma profissão majoritariamente exercida por mulheres e associada ao cuidado, à dedicação e à submissão. Enfermeira atendendo paciente adulto. Um marco importante foi a criação da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), em 1926, por iniciativa da enfermeira mineira Alzira de Sá Carvalho. A fundação ocorreu em um momento fundamental para a enfermagem brasileira, marcado pela necessidade de organização e valorização da profissão. A ABEn tem papel fundamental na defesa dos interesses dos enfermeiros, promovendo a educação continuada, a pesquisa científica e o aprimoramento da prática profissional. Além disso, contribui significativamente para a construção de políticas públicas de saúde, sendo uma voz ativa na formulação de diretrizes que visam melhorar a assistência de enfermagem e a qualidade dos serviços de saúde no Brasil. Ao longo dos anos, a associação se tornou referência na área da enfermagem, influenciando positivamente a formação e a atuação dos profissionais e contribuindo para o reconhecimento da enfermagem como profissão essencial no sistema de saúde brasileiro. Durante o governo de Getúlio Vargas, na década de 1930, a enfermagem ganhou maior reconhecimento. O Decreto nº 20.109, de 1931, regulamentou a profissão de enfermeiro e enfermeira no Brasil, estabelecendo critérios para seu exercício. O decreto também criou o Conselho Nacional de Enfermagem (CNE), responsável por fiscalizar o exercício da profissão no país com os seguintes critérios: Reconhecimento de escolas Formação acadêmica Certificação profissional Normas de condutas Supervisão dos auxiliares de enfermagem Durante a Era Vargas, a enfermagem ganhou espaço nos serviços de saúde pública, especialmente com a criação do Ministério da Educação e Saúde (MES), em 1930. As enfermeiras passaram a atuar em postos, centros de saúde e campanhas de vacinação, tendo papel fundamental na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Com o tempo, a enfermagem foi se especializando em diferentes áreas, como obstetrícia, pediatria, psiquiatria e saúde pública. As enfermeiras passaram a desempenhar funções mais complexas, assumindo o papel de gestoras de unidades de saúde e coordenadoras de equipes multidisciplinares. A formação de enfermeiras também passou por transformações significativas. Além das escolas de enfermagem, surgiram os cursos superiores, oferecendo uma formação mais abrangente e científica. Hoje em dia, para se tornar enfermeira no Brasil, é necessário cursar uma graduação em enfermagem reconhecida pelo Ministério da Educação e obter registro no Conselho Regional de Enfermagem (Coren). Verificando o aprendizado Questão 1 • • • • • Sabe-se que a enfermagem no Brasil passou por várias transformações ao longo dos anos. Nesse contexto, qual foi um marco importante na história da enfermagem brasileira durante o século XX? A A criação da ABEn. B A fundação da Escola de Enfermagem de São Paulo. C A introdução da técnica de enfermagem avançada. D A publicação do primeiro código de ética para enfermeiros. E O estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). A alternativa A está correta. A criação da ABEn em 1926 foi um marco importante na história da enfermagem brasileira, pois contribuiu para a valorização e o desenvolvimento da profissão, além de promover a educação continuada e a defesa dos direitos dos enfermeiros. Questão 2 O Decreto nº 20.109, de 15 de julho de 1931, foi um marco histórico para a regulamentação da profissão de enfermeiro e enfermeira no Brasil, estabelecendo critérios e normas para a formação e o exercício da enfermagem no país. Com base nesse decreto, qual das seguintes exigências foi estabelecida para o exercício da profissão de enfermeiro no Brasil? A Realização de um curso de graduação em enfermagem de no mínimo quatro anos. B Necessidade de formação técnica em enfermagem com estágio supervisionado. C Certificação de escolas de enfermagem reconhecidas pelo governo. D Obrigatoriedade de registro em um conselho regional de enfermagem. E Exigência de experiência prática mínima de dois anos em instituições de saúde. A alternativa C está correta. O Decreto nº 20.109, de 1931, estabeleceu a certificação de escolas de enfermagem reconhecidas pelo governo como uma das exigências para o exercício da profissão de enfermeiro no Brasil. Essa medida visava garantir a qualidade da formação profissional e a padronização de conhecimentos e habilidades necessários para a prática da enfermagem. Enfermeira em atendimento . Enfermeiro atendendo paciente idoso. 2. Enfermagem hoje: atuação, perspectivas e profissão Perspectivas atuais da enfermagem: formação e profissão Neste vídeo, trataremos, de forma breve e clara, das perspectivas atuais da enfermagem com foco na formação e no processo de trabalho do enfermeiro. Assista! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. A enfermagem na atualidade Atualmente, a enfermagem é uma profissão essencial ao sistema de saúde mundial e brasileiro, com profissionais atuando em diversos cenários, como hospitais, clínicas, unidades básicas de saúde, unidades de pronto-atendimento, empresas, escolas e até mesmo em domicílio, oferecendo cuidados diretos aos pacientes, orientação à comunidade, educação em saúde e gestão de serviços de saúde. A formação de enfermeiros também se aprimorou, com a criação de novas escolas e cursos de graduação em enfermagem. Atualmente, para se tornar enfermeiro, é necessário cursar uma graduação em enfermagem, que geralmente tem duração de cinco anos e pelo menos 4 mil horas de estudos em sala de aula e vivências práticas. Além disso, é comum que os profissionais de enfermagem realizem cursos de especialização e pós-graduação para se aprofundarem em áreas específicas. Um grande avanço também é observado na questão de gênero. A enfermagem é historicamente uma profissão com predominância feminina. No entanto, ao longo dos anos, tem havido um aumento gradual da presença masculina nesse campo. Os homens enfermeiros têm papel fundamental na quebra de estereótipos de gênero e na promoção da igualdade no campo da saúde. A profissão tem se esforçado para criar um ambiente inclusivo e respeitoso para todos os profissionais, independentemente do gênero, reconhecendo a importância da diversidade para o desenvolvimento da enfermagem e para a qualidade do cuidado prestado aos pacientes. Com relação à atuação da enfermagem no Brasil contemporâneo, pode-se dizer que hoje vivenciamos uma práxis abrangente e diversificada. Além dos cuidados diretos aos pacientes, os enfermeiros desempenham papéis importantes na gestão de serviços de saúde, na pesquisa científica, na educação em saúde e na promoção do autocuidado. Esse arcabouço de ações e funções, que estão diretamente interligadas, é chamado de processo de trabalho do enfermeiro. As interfaces que o constituem são: Assistir Pesquisar Gerenciar Educar Vale ressaltar que esse processo de trabalho se refere ao profissional enfermeiro, sendo considerado parte da competência e da habilidade nos âmbitos de atuação de assistência, gerência, ensino e pesquisa. É considerado um método multifacetado e inter-relacionado, que envolve várias dimensões essenciais para a prática profissional. Veja, com mais detalhes, cada uma das interfaces já apresentadas. Assistir Está ligado à dimensão do cuidar e à assistência, ou seja, envolve o cuidado direto ao paciente, a avaliação das necessidades de saúde, o planejamento e a implementação de intervenções, bem como a avaliação dos resultados. O enfermeiro assiste o paciente em suas atividades diárias, administra medicamentos, realiza curativos, monitora sinais vitais e oferece suporte emocional. Essa dimensão requer habilidades técnicas,empatia e sensibilidade para lidar com as necessidades físicas e emocionais dos pacientes. Pesquisar Evidencia-se que a pesquisa em enfermagem é importante para o avanço dessa ciência. O enfermeiro pode se envolver em pesquisas clínicas, estudos epidemiológicos ou projetos de melhoria de práticas. A pesquisa contribui para a base de evidências que sustenta a prática de enfermagem. Habilidades em metodologia de pesquisa, análise de dados e interpretação de resultados são importantes nessa dimensão. Gerenciar É outra parte fundamental do trabalho do enfermeiro. Envolve a coordenação de equipes, recursos e processos. O enfermeiro gerencia escalas de trabalho, alocação de pessoal, materiais, equipamentos e fluxo de pacientes. Habilidades de liderança, organização e tomada de decisão são essenciais nessa dimensão. Educar A dimensão educativa do processo envolve a orientação de pacientes, familiares e colegas de equipe. O enfermeiro tem em mente o educar sobre cuidados de saúde, prevenção de doenças, uso correto de medicamentos e adaptação a condições crônicas. Essa função requer habilidades de comunicação, didática e paciência. A enfermagem, que antes era vista como apenas mais uma área da saúde subvalorizada pela sociedade, hoje é reconhecida como uma profissão fundamental para a promoção da saúde e a prevenção de doenças. Comentário O papel das enfermeiras na linha de frente durante a pandemia de covid-19, por exemplo, evidenciou sua importância e coragem no enfrentamento de desafios complexos. A história da enfermagem no Brasil é marcada por um contínuo processo de profissionalização, valorização e expansão de atuação, contribuindo significativamente para a saúde e o bem-estar da população brasileira ao longo dos séculos. Processo de enfermagem Neste vídeo, você vai aprender mais sobre a historicidade do processo de enfermagem, relatando os principais eventos que marcaram sua regulamentação e as atualizações. Confira! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Processo de enfermagem: regulamentação e modificações O processo de enfermagem é uma metodologia sistemática utilizada pelos enfermeiros para prestar cuidados individualizados aos pacientes. É composto por uma série de etapas inter-relacionadas que guiam a prática de enfermagem, desde a coleta de dados sobre o paciente até a avaliação dos resultados das intervenções realizadas. O objetivo do processo de enfermagem é promover a qualidade e a eficácia da assistência de enfermagem, garantindo uma abordagem holística e baseada em evidências. Fundamental para a tomada de decisões clínicas e para a organização do cuidado, o processo de enfermagem permite que os enfermeiros identifiquem as necessidades de saúde dos pacientes, planejem, implementem intervenções adequadas e avaliem os resultados alcançados. O processo de enfermagem (Cofen, 2024) comumente inclui as seguintes etapas: Avaliação Diagnóstico Planejamento e prescrição Implementação Evolução Ao longo do tempo, o processo de enfermagem evoluiu, desde sua concepção inicial até as atualizações mais recentes, com o objetivo de melhorar a qualidade e a eficácia dos cuidados de enfermagem. A seguir, listamos as principais resoluções que marcaram essa evolução, destacando a importância de sua criação. 1. 2. 3. 4. 5. Resolução Cofen nº 159/1993 Essa foi a primeira resolução do Cofen, que instituiu o processo de enfermagem no Brasil. Estabeleceu as bases para a aplicação do processo, incluindo as etapas de histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação. Essa resolução foi um marco importante, pois formalizou uma metodologia específica para a prática de enfermagem, garantindo uma abordagem sistemática e organizada no cuidado ao paciente. Resolução Cofen nº 272/2002 A resolução atualizou e aprimorou o processo de enfermagem, incorporando novos elementos e diretrizes. Entre as principais mudanças, destacam-se a inclusão do diagnóstico de enfermagem como competência privativa do enfermeiro e a necessidade de utilização de terminologia padronizada, seguindo a taxonomia da North American Nursing Diagnosis Association (Nanda). Nanda é uma organização de enfermagem profissional que trata da terminologia padronizada da área. Fundada em 1982, desenvolve, pesquisa, divulga e refina nomenclatura, critérios e taxonomia dos diagnósticos de enfermagem. Resolução Cofen nº 358/2009 Trouxe novas diretrizes para o processo de enfermagem, destacando a importância da sistematização da assistência de enfermagem como instrumento para a prática profissional. Estabeleceu a obrigatoriedade da realização do processo de enfermagem em todos os ambientes onde sejam prestados cuidados de enfermagem, públicos ou privados. Resolução Cofen nº 529/2016 Atualizou as diretrizes do processo de enfermagem, reforçando a importância de sua aplicação como instrumento fundamental para a qualidade da assistência de enfermagem. Além disso, definiu que o registro das etapas do processo de enfermagem deve ser feito no prontuário do paciente, garantindo a continuidade e a integração dos cuidados. Resolução Cofen nº 736/2024 A mais recente atualização do processo de enfermagem consolidou e aprimorou as diretrizes anteriores. Ela reforça a importância da aplicação do processo de enfermagem como uma responsabilidade do enfermeiro, garantindo a segurança, a integralidade e a qualidade do cuidado. A resolução também promove a utilização de tecnologias da informação na documentação do processo de enfermagem, visando a uma maior eficiência e precisão na coleta e no registro de dados. A importância da criação e atualização do processo de enfermagem está intrinsecamente ligada à melhoria da qualidade da assistência de enfermagem. Ao padronizar a prática profissional, o processo de enfermagem contribui para a identificação precoce de problemas de saúde, a promoção da segurança do paciente, a eficácia das intervenções de enfermagem e a comunicação interprofissional. Além disso, valoriza a profissão, reconhecendo o papel do enfermeiro como um profissional capacitado e responsável pelo cuidado holístico e individualizado do paciente. Assim, o processo de enfermagem é uma ferramenta essencial para garantir uma assistência de excelência, alinhada com os princípios éticos e científicos da profissão. O processo de enfermagem e suas atualizações A Resolução Cofen nº 736/2024 trouxe algumas mudanças importantes no processo de enfermagem, consolidando e aprimorando as diretrizes anteriores. A seguir, destacamos as principais alterações. Acompanhe! Ampliação do escopo de atuação do enfermeiro na sistematização da assistência de enfermagem (SAE) A resolução ampliou o escopo de atuação do enfermeiro na SAE, reforçando que é sua responsabilidade exclusiva planejar, implementar, avaliar e documentar a assistência de enfermagem. Isso confere ao enfermeiro uma maior autonomia e responsabilidade na organização e execução do cuidado. Utilização de tecnologias da informação na documentação do processo de enfermagem A resolução incentiva a utilização de tecnologias da informação na documentação do processo de enfermagem, visando a uma maior eficiência e precisão na coleta e no registro de dados. O uso de sistemas informatizados e prontuários eletrônicos facilita a documentação e permite uma comunicação mais rápida e efetiva entre os membros da equipe de saúde. Registro do processo de enfermagem no prontuário do paciente Foi reforçada a obrigatoriedade do registro das etapas do processo de enfermagem no prontuário do paciente. Isso garante a continuidade do cuidado e a integração das informações entre os profissionais de saúde, facilitando a tomada de decisões e evitando duplicidade de procedimentos. Definição das responsabilidades do enfermeiro A resolução estabelece de forma clara as responsabilidades do enfermeiro, enfatizando que ele é o profissional responsável por coordenar e supervisionar a assistência de enfermagem. É também sua responsabilidaderealizar diagnósticos prioritários, assim como determinar os resultados, sejam eles quantitativos ou qualitativos, esperados ou exequíveis, de acordo com a realidade de cada paciente, além de tomar decisão clínico-terapêutica baseada em evidências científicas, declarada pela prescrição de enfermagem e suas intervenções, por meio de ações/atividades e protocolos assistenciais (Cofen, 2024). Isso fortalece o papel do enfermeiro como gestor do cuidado, garantindo uma prática segura e de qualidade. Ênfase na integralidade do cuidado e na promoção da saúde A resolução destaca a importância de uma abordagem holística no cuidado de enfermagem, considerando os aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais do paciente. Foram enfatizados padrões de cuidados a serem seguidos, como cuidados específicos de enfermagem, cuidados interprofissionais e cuidados pautados em programas de saúde que possam guiar as ações de promoção da saúde, prevenção dos agravos, de tratamento e recuperação da saúde, visando ao bem-estar e à qualidade de vida do paciente. Essas mudanças representam avanços na prática de enfermagem, reforçando o papel do enfermeiro como um profissional capacitado e responsável pelo cuidado holístico e individualizado do paciente. A Resolução Cofen nº 736/2024 contribui para a valorização da profissão de enfermagem e para o aprimoramento da assistência de enfermagem no Brasil. A Dama da Lamparina. Reprodução litográfica popular de uma pintura de Nightingale feita por Henrietta Rae, 1891. Retrato de Clarissa Harlowe Barton. Figuras da enfermagem e suas contribuições para a profissão Neste vídeo, vamos tratar da historicidade da enfermagem no mundo, abordando as contribuições e a importância de Florence Nightingale para a profissão. Veja! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Florence Nightingale (1820-1910) é uma figura emblemática na história da enfermagem, tanto no Brasil quanto no mundo. Nascida em 1820, na Itália, ficou conhecida como a Dama da Lâmpada por sua atuação pioneira durante a Guerra da Crimeia (1853-1856), em que liderou uma equipe de enfermeiras voluntárias para cuidar dos soldados feridos. Sua atuação foi revolucionária e teve impacto duradouro na enfermagem e na saúde pública. Nightingale introduziu métodos de higiene e organização hospitalar que transformaram completamente o cuidado aos doentes. Ela insistia na importância da limpeza, da ventilação e da iluminação adequadas nos hospitais, além de promover a lavagem das mãos dos profissionais de saúde, práticas que reduziram significativamente as taxas de infecção e mortalidade nos hospitais onde atuava. Seu trabalho foi fundamental para elevar o status da enfermagem, antes considerada uma ocupação pouco prestigiada, para uma profissão respeitável e essencial na assistência à saúde. O legado de Florence Nightingale não se limita apenas a seus feitos durante a Guerra da Crimeia. Ela é considerada a fundadora da enfermagem moderna, e sua influência se estende até os dias atuais. Nightingale foi a primeira a teorizar sobre a enfermagem de forma científica, publicando, em 1859, Notas de enfermagem, em que apresentava suas ideias e experiências. No livro, ela introduziu o conceito de ambiente de cura, enfatizando a importância das condições do ambiente hospitalar para a recuperação dos pacientes. Sua tese estabeleceu as bases para o que conhecemos hoje como teoria ambientalista da enfermagem, que considera os ambientes físico, psicológico e social como determinantes para a saúde e o bem-estar do paciente. Agora, vejamos mais figuras importantes para a enfermagem. Clarissa Harlowe Barton (1821-1912), mais conhecida como Clara Barton, foi uma pioneira na enfermagem e fundadora da Cruz Vermelha Americana. Durante a Guerra Civil Americana, ela trabalhou incansavelmente para fornecer suprimentos e cuidados aos soldados no campo de batalha. Após a guerra, Barton continuou sua missão humanitária, participando de delegações de Retrato de Mary Eliza Mahoney. Retrato de Dorothea Dix. Isabel Hampton, retratada com o vestido escuro, com a turma de formandas de 1893 da Escola de Treinamento para Enfermeiras. socorro em desastres e ajudando a estabelecer a Cruz Vermelha Americana, em 1881, em que serviu como sua primeira presidente. Mary Eliza Mahoney (1845-1926) foi a primeira enfermeira afro-norte-americana registrada nos Estados Unidos. Nascida em Boston, ela se formou na Escola de Enfermagem do Hospital New England em 1879. Mahoney foi uma defensora fervorosa da igualdade racial na enfermagem e ajudou a fundar a Associação Nacional de Enfermeiras Graduadas de Cor, que mais tarde se fundiu com a Associação Americana de Enfermeiras. Sua carreira exemplar abriu portas para inúmeras mulheres negras na enfermagem. Dorothea Dix (1802-1887) foi uma enfermeira e ativista norte-americana que trabalhou arduamente para reformar o tratamento de indivíduos com doenças mentais. Durante a Guerra Civil Americana, Dix foi nomeada superintendente das enfermeiras do Exército da União, em que foi responsável por organizar hospitais de campo, recrutar e treinar enfermeiras. Sua campanha para melhorar as condições nos asilos resultou em uma melhor atenção aos pacientes psiquiátricos e na construção de hospitais psiquiátricos adequados. Virginia Henderson (1897-1996) foi uma influente teórica e pesquisadora norte-americana. Muito conhecida por sua definição de enfermagem, enfatizou a assistência ao indivíduo doente ou saudável na execução de atividades que contribuíssem para a saúde ou a recuperação. Henderson escreveu o livro Principles and practice of nursing, considerado um clássico na literatura da área. Sua visão holística do cuidado ao paciente continua a influenciar a prática e a educação em enfermagem. Isabel Hampton Robb (1860-1910) foi líder na educação em enfermagem e uma das fundadoras da Associação Americana de Enfermeiras (ANA). Nascida no Canadá, ela se formou em Nova York e se destacou por seus esforços em reformar a educação em enfermagem. Robb escreveu vários livros importantes sobre treinamento de enfermeiras e foi a primeira superintendente do Johns Hopkins Hospital. Ela também ajudou a estabelecer os padrões para a prática e a educação em enfermagem nos Estados Unidos. Essas figuras icônicas não só moldaram a enfermagem como a conhecemos hoje, mas também abriram caminho para futuras gerações de enfermeiros e enfermeiras que continuam a aprimorar e a transformar a profissão. Suas contribuições são lembradas e celebradas em todo o mundo, inspirando profissionais a seguir seus passos em busca de excelência no cuidado com a saúde. Desafios na enfermagem moderna Neste vídeo, discutiremos os desafios da enfermagem nas questões sociais e de gênero. Assista! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Como a maioria das profissões da área da saúde, a enfermagem enfrenta desafios no contexto atual, os quais impactam de forma negativa os profissionais, a partir de situações que podem dificultar seu processo de trabalho produtivo e contínuo. Mudanças demográficas e epidemiológicas Uma das mudanças demográficas mais notáveis é o envelhecimento da população. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a proporção de pessoas com 60 anos ou mais deve quase dobrar de 12% para 22% entre 2015 e 2050. Esse aumento na população idosa tem várias implicações para a enfermagem, desafios que apontamos e discutimos a seguir. Aumento da demanda por cuidados geriátricos Com o envelhecimento da população, há uma maior incidência de doenças crônicas e condições associadas ao envelhecimento, como demência, osteoporose e doenças cardiovasculares. Os enfermeiros precisam estar preparados para fornecer cuidados especializados em geriatria que incluam a gestão de múltiplas comorbidades e a promoção do envelhecimento saudável. Necessidade de cuidados continuados e de longa duração O envelhecimento da população aumenta a demanda por cuidados de longa duração, tantoem ambientes domiciliares quanto em instituições de cuidados prolongados. Desigualdade e acesso à saúde A desigualdade no acesso a serviços de saúde de qualidade é um desafio persistente, especialmente em regiões remotas e subdesenvolvidas. Os profissionais muitas vezes trabalham na linha de frente, enfrentando desafios como falta de recursos, infraestrutura inadequada e condições de trabalho precárias. Abordar essas desigualdades requer políticas de saúde inclusivas e investimentos na formação e retenção de profissionais de saúde em áreas carentes. A seguir são listadas algumas formas de desigualdade que os profissionais de enfermagem enfrentam. Desigualdade geográfica A localização geográfica é um fator importante na determinação do acesso aos serviços de saúde. Populações em áreas rurais ou remotas, como indígenas, ribeirinhas, quilombolas, entre outras, frequentemente enfrentam barreiras para acessar os cuidados de saúde por causa de escassez de profissionais, infraestrutura inadequada e longas distâncias até as instalações de saúde. Representação de enfermeira cansada. Desigualdade econômica A situação econômica dos indivíduos influencia fortemente sua capacidade de acessar os cuidados de saúde. Pessoas de baixa renda podem ter dificuldades para manter um bom padrão de qualidade de vida, com hábitos saudáveis, alimentação adequada, acesso a consultas, à saúde privada, a medicamentos, a tratamentos e a seguros de saúde que possibilitem cuidado integral e continuado. Essas barreiras financeiras podem resultar em cuidados de saúde inadequados ou adiados. Desigualdade étnico-cultural Grupos étnicos minoritários muitas vezes enfrentam discriminação e preconceito dentro dos sistemas de saúde, levando a disparidades no acesso e na qualidade dos cuidados recebidos. Essas populações também podem ter menos acesso a informações de saúde adequadas e enfrentam barreiras linguísticas significativas. Além disso, existe a falta de qualificação profissional para atuação integral junto a populações específicas, as quais têm necessidades e abordagens diferentes. Desigualdade de gênero A enfermagem é uma profissão majoritariamente feminina, com mulheres representando a maioria dos profissionais no campo. Essa predominância traz consigo várias implicações. Historicamente, a enfermagem foi associada a papéis tradicionais de cuidado e nutrição, reforçando estereótipos de gênero que consideram o cuidado como uma extensão natural das responsabilidades das mulheres. Apesar de sua importância no sistema de saúde, essa associação com papéis de gênero tradicionais muitas vezes leva a uma desvalorização do trabalho dos enfermeiros em termos de reconhecimento, salários e condições de trabalho, em comparação com profissões dominadas por homens. A desigualdade de gênero na enfermagem também se manifesta em desafios específicos dentro da profissão. Esse, aliás, é um tópico que demanda maior discussão. Mulheres enfermeiras podem enfrentar barreiras ao avanço na carreira, como a menor representação em posições de liderança e administração, muitas vezes ocupadas por homens. Além disso, a carga de trabalho e as expectativas sociais de equilibrar a carreira com responsabilidades familiares podem levar ao burnout e à exaustão. Apesar desses desafios, as enfermeiras continuam a desempenhar papel essencial na prestação de cuidados de saúde, e é importante promover políticas e práticas que reconheçam e valorizem plenamente suas contribuições, além de incentivar a equidade de gênero em todos os níveis da profissão. Verificando o aprendizado Questão 1 Com o envelhecimento da população, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais deve quase dobrar entre 2015 e 2050, um aumento que tem várias implicações para a enfermagem. Enfrentar esse desafio exige que os profissionais estejam preparados para gerir múltiplas comorbidades e promover o envelhecimento saudável. Com base nisso, assinale a alternativa que melhor descreve um desafio específico que a enfermagem enfrenta por causa do envelhecimento da população. A Dificuldade em integrar tecnologia digital nos cuidados de saúde ao idoso, mesmo que de forma parcial. B Mudanças demográficas e epidemiológicas associadas ao desenvolvimento de habilidades e cuidados geriátricos de forma integral. C Aumento da resistência a mudanças organizacionais entre os profissionais de saúde, inclusive os de enfermagem, para atuar em instituições de cuidados continuados. D Falta de conhecimento sobre doenças infecciosas emergentes, pois afeta significativamente os idosos de todo o Brasil e do mundo. E Redução na necessidade de cuidados preventivos em saúde pública, tendo em vista que hoje o idoso é visto como um ser independente e saudável. A alternativa B está correta. O envelhecimento da população aumenta a incidência de doenças crônicas e condições associadas ao envelhecimento, exigindo que os enfermeiros desenvolvam habilidades específicas para fornecer cuidados especializados em geriatria e prolongados. Questão 2 O processo de enfermagem é uma abordagem sistemática, que guia a prática de enfermagem, permitindo que os profissionais forneçam cuidados individualizados e baseados em evidências. Ele é composto por várias fases inter-relacionadas, cada uma desempenhando um papel fundamental na assistência ao paciente. Qual das alternativas a seguir descreve corretamente a fase do processo de enfermagem em que o enfermeiro estabelece metas, desenvolve um plano individualizado e indica intervenções de enfermagem? A Avaliação inicial B Diagnóstico C Planejamento e prescrição D Implementação E Avaliação final A alternativa C está correta. Na fase de planejamento e prescrição, o enfermeiro estabelece metas, desenvolve um plano individualizado e prescreve intervenções de enfermagem com base nos diagnósticos formulados. É uma etapa fundamental para garantir a qualidade e a segurança do cuidado prestado ao paciente. As outras fases do processo de enfermagem incluem avaliação inicial, diagnóstico, implementação e avaliação final. A nova resolução, de janeiro de 2024, reforça a importância dessas etapas no exercício profissional da enfermagem. 3. Conclusão Considerações finais A história da enfermagem é reflexo da evolução da sociedade e da prática de cuidados de saúde ao longo dos séculos, tanto no Brasil quanto no mundo. Desde os tempos mais remotos, ela tem desempenhado papel essencial no cuidado aos doentes e na promoção da saúde. A enfermagem se consolidou como ciência e, com os avanços tecnológicos, tem transformado as formas de saber-fazer cuidado. Atualmente, passa por um período de grande transformação e reconhecimento no Brasil e no mundo. Os profissionais de enfermagem são altamente qualificados, com formação universitária, pós-graduação, ocupação de espaços acadêmicos e atuação em diversas áreas, como assistência direta, gestão de serviços de saúde, pesquisa e educação. Assim, a enfermagem moderna se baseia em evidências científicas e práticas humanísticas, buscando oferecer cuidados holísticos e centrados no paciente. Pode-se dizer que esses profissionais, sejam eles enfermeiros, técnicos, auxiliares ou parteiras, são peças- chave nos sistemas de saúde, desempenhando papel fundamental na promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento de enfermidades e reabilitação dos pacientes. Além disso, essa profissão tem sido protagonista em momentos críticos da história da saúde pública no Brasil e no mundo, como a pandemia de covid-19, iniciada em 2019, que deixou vestígios até os dias atuais. Nesse período, a enfermagem demonstrou coragem, dedicação e competência no enfrentamento de desafios complexos. Em resumo, a história global da enfermagem é marcada por avanços relevantes ao longo dos séculos. De um passado de práticas rudimentares e condições precárias, a enfermagem evoluiu para se tornar profissão essencial e respeitada, com papel fundamental na promoção da saúde e no bem-estar da sociedade. Fala, mestre! No vídeo,Mariane Roma e Felipe Rossoni, mestre em enfermagem, discutem a história da saúde do trabalhador e sua evolução no Brasil. Felipe explica que o Brasil tardou a focar especificamente na saúde do trabalhador, começando com marcos como a abolição da escravatura e a promulgação da CLT em 1943, que trouxe proteção previdenciária e segurança para os trabalhadores. Outros marcos históricos importantes incluem a criação do FGTS, a obrigatoriedade de serviços de medicina do trabalho em empresas grandes na década de 1970, e a Constituição de 1988, que atribuiu ao Ministério da Saúde a responsabilidade pela saúde do trabalhador. Felipe destaca também a Lei Orgânica 8080, referente à criação do SUS, e a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador (PNSST) de 2006, como legislações chave que norteiam a proteção e promoção da saúde do trabalhador. As legislações ao longo do tempo visaram garantir e melhorar a saúde e segurança dos trabalhadores, sendo essenciais para a qualidade de vida desses indivíduos e o próprio desempenho das empresas e da sociedade. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Explore + Busque por Anna Justina Ferreira Nery: um marco na história da enfermagem brasileira, publicado no volume 52, número 3, da Revista Brasileira de Enfermagem, e entenda como uma mulher anônima que participou de uma guerra mudou a história da enfermagem brasileira. O artigo está no repositório SciELO. Você também pode acessar o canal Enfermundo, no YouTube, e assistir à História de Anna Nery (resumo) | história da enfermagem, para compreender a importância dessa mulher pioneira para a enfermagem no Brasil. No vídeo, discute-se a relação da Guerra do Paraguai (1865-1870) e a consolidação da enfermagem no país. Referências CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. COFEN. Resolução Cofen nº 736, de 17 de janeiro de 2024. Dispõe sobre a implementação do processo de enfermagem em todo o contexto socioambiental onde ocorre o cuidado de enfermagem. Brasília, DF: Cofen, 2024. Enfermagem no Brasil e no mundo 1. Itens iniciais Propósito Preparação Objetivos Introdução 1. História da enfermagem A enfermagem no mundo Conteúdo interativo A enfermagem e seus aspectos socioculturais Primeiros registros de enfermagem Templos e cuidado sagrado Primeiro hospital Saiba mais Mosteiros e ordens religiosas Enfermagem empírica Reconhecimento social Comentário A enfermagem no Brasil Colônia Enfermagem no Brasil Império Conteúdo interativo Administrar medicamentos Trocar curativos Manter a limpeza dos pacientes Manter a limpeza do ambiente Prestar apoio emocional e espiritual A enfermagem no Brasil República Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 2. Enfermagem hoje: atuação, perspectivas e profissão Perspectivas atuais da enfermagem: formação e profissão Conteúdo interativo A enfermagem na atualidade Assistir Pesquisar Gerenciar Educar Assistir Pesquisar Gerenciar Educar Comentário Processo de enfermagem Conteúdo interativo Processo de enfermagem: regulamentação e modificações Resolução Cofen nº 159/1993 Resolução Cofen nº 272/2002 Resolução Cofen nº 358/2009 Resolução Cofen nº 529/2016 Resolução Cofen nº 736/2024 O processo de enfermagem e suas atualizações Ampliação do escopo de atuação do enfermeiro na sistematização da assistência de enfermagem (SAE) Utilização de tecnologias da informação na documentação do processo de enfermagem Registro do processo de enfermagem no prontuário do paciente Definição das responsabilidades do enfermeiro Ênfase na integralidade do cuidado e na promoção da saúde Figuras da enfermagem e suas contribuições para a profissão Conteúdo interativo Desafios na enfermagem moderna Conteúdo interativo Mudanças demográficas e epidemiológicas Aumento da demanda por cuidados geriátricos Necessidade de cuidados continuados e de longa duração Desigualdade e acesso à saúde Desigualdade geográfica Desigualdade econômica Desigualdade étnico-cultural Desigualdade de gênero Verificando o aprendizado 3. Conclusão Considerações finais Fala, mestre! Conteúdo interativo Explore + Referências