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Violência e Conflito na Sociedade

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Julio César

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Violência, conflito e sociedade
A violência na sociedade brasileira, as políticas públicas referentes às populações menorizadas e o
combate à impunidade na perspectiva de diminuição da violência cotidiana.
Dennis Novaes e Natânia Lopes
1. Itens iniciais
Propósito
Apresentar de que modo a violência e o conflito atravessam a vida em sociedade, tema fundamental para o
pensamento crítico de qualquer profissional e cidadão.
Preparação
Levando-se em conta a riqueza e as múltiplas possibilidades de análise do tema, seria importante ter à mão
um bom dicionário de Teoria Política ou de Ciências Sociais. Sugerimos o Dicionário de Política, de Norberto
Bobbio, e o Dicionário de Sociologia, da UFSC/Repositório, ambos disponíveis em formato virtual.
Objetivos
Definir como a violência se tornou uma marca constitutiva da sociedade brasileira.
Reconhecer a relação entre políticas públicas e as populações menorizadas.
Identificar a impunidade no âmbito social e a busca pela diminuição da violência cotidiana.
Introdução
A violência é um fenômeno presente em diversas sociedades e períodos históricos. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), ela é definida como o uso de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra
si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento,
morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação (DAHLBERG e KRUG, 2007). Essa definição
ampla já aponta a complexidade do tema. Para identificar suas causas e criar políticas públicas adequadas
para resolver a questão, as diferentes formas de violência devem ser compreendidas caso a caso, de acordo
com sua especificidade.
 
Esse fenômeno é tão presente em nossa sociedade que as autoridades de saúde pública definiram a violência
no Brasil como uma epidemia, ou seja, como uma doença que se alastra coletivamente e cresce de forma
descontrolada. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2020) ocorreram 57.956
homicídios no Brasil em 2018. Embora todos os cidadãos convivam com o medo da violência, ela toma
contornos mais cruéis de acordo com critérios como a cor, a classe social e o gênero. Mais de 90% dos
assassinados no Brasil em 2018 foram homens e 75% deles eram negros.
A desigualdade racial cria situações bem distintas para brancos e negros. De 2008 a 2018, por exemplo, as
taxas de homicídios entre brancos foram reduzidas em 12% enquanto entre negros aumentou em 11%. Mas a
violência não se restringe aos homicídios e os números da violência contra mulheres e crianças são ainda mais
acentuados. Foram registrados 66.041 casos de violência sexual em 2018 e mais de 200 mil ocorrências de
violência doméstica. Esses dados podem ser conferidos no Atlas da Violência (IPEA 2020).
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A seguir, investigaremos as causas que tornam o Brasil um dos países mais violentos do mundo, quais os
mecanismos para compreender esse fenômeno e como é possível combatê-lo.
1. Violência como marca da sociedade brasileira
Violência colonial e genocídio
O Brasil é frequentemente descrito como o país do Carnaval, marcado pela cordialidade de seu povo
hospitaleiro e pela riqueza de sua cultura. Por muito tempo, afirmou-se que viveríamos uma espécie de
“democracia racial”, onde negros, brancos e indígenas seriam tratados como iguais. Esse imaginário,
infelizmente, não condiz com a história real da construção do Brasil como Estado-nação.
 
A colonização portuguesa e o processo histórico que resultou no país como o conhecemos foram
caracterizados pela violência contra os povos indígenas que aqui habitavam, bem como pelo tráfico e a
escravização de povos africanos. Neste módulo, veremos como a violência tornou-se parte constitutiva da
identidade nacional e qual o seu papel no desenvolvimento do Estado brasileiro.
 
Violência como forma de dominação
De acordo com Weber (2008), o Estado é aquele que detém o monopólio legítimo da violência física dentro de
um território e que constitui, em última instância, uma forma de dominação de homens sobre outros homens.
Nessa perspectiva, a relação de dominação pode se legitimar de três formas:
 
Poder tradicional, que remete a costumes antigos
Poder carismático de um líder que angarie alguma forma de admiração por parte dos dominados
Poder racional legal que se baseie na aceitação de um conjunto de leis de competência positiva e
racionalmente determinadas
Weber (2008) afirmava que toda dominação organizada necessita de um “Estado-maior administrativo” e de
meios materiais de gestão. A política seria a disputa entre diferentes grupos pelo poder de assumir o Estado e
assim exercer o monopólio da violência legítima.
 
O que é, então, um país? A ideia de que todos somos brasileiros, diferentes de espanhóis, argentinos, ou
angolanos, é de certa forma uma abstração. Podemos apontar o Brasil no mapa, ou justificar a unidade de
nosso território pelo fato de que falamos português. Mas as fronteiras de um território são demarcações
arbitrárias, fruto de disputas, conflitos e guerras. O português também não é a única língua falada no Brasil,
uma vez que povos de diferentes etnias indígenas se comunicam em mais de 200 línguas diferentes de acordo
com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010).
Fala, mestre!
O vídeo aborda o avanço, embora insuficiente, na visibilidade e posicionamento do negro na sociedade
brasileira. Destaca a persistência do mito da democracia racial e a omissão da verdadeira história da África e
dos negros no Brasil no ensino formal. Apesar de alguns progressos, atualmente há um retrocesso significativo
com crescentes agressões raciais e religiosas, especialmente contra as religiões de matriz africana. A
discriminação e exclusão social são perpetuadas pela elite, mantendo os negros em posições subalternas e
sem acesso a certos privilégios, evidenciando que a escravidão ainda não foi completamente erradicada no
Brasil.
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Bandeirantes e a caça aos índios, José Rosael/Hélio
Nobre/Museu Paulista da USP, 1925.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Violência contra comunidades indígenas
Até meados do século XVIII, a língua mais falada em muitos estados brasileiros era o nheengatu, uma mistura
do dialeto tupinambá com outras línguas indígenas. Muitos elementos que atualmente compreendemos como
características da identidade nacional foram construídos através de séculos de conflitos e violência ao longo
dos quais um “Estado” brasileiro foi se consolidando.
 
De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI, 2010), estima-se que, em 1500, quando os portugueses
chegaram ao litoral de Porto Seguro, na Bahia, três milhões de indígenas habitavam o território que atualmente
conhecemos como Brasil. Em 1650, esse número caiu para 650 mil e, em 1957, chegou a ser estimado em
apenas 70 mil indivíduos. 
Tais índices estarrecedores refletem séculos de violência brutal contra os povos originários. Aqueles
habitantes chamados genericamente de “índios” pelos colonizadores eram, na verdade, povos diversos com
línguas, culturas, hábitos e costumes variados.
Ao contrário dos portugueses e outros
europeus, as culturas indígenas não
consideravam a mata, os rios, o solo e os
animais como recursos que deveriam ser
explorados exaustivamente. Suas culturas e
seus conhecimentos prezavam pela harmonia
com a natureza, que era vista como um lar do
qual eles faziam parte. Isso não significa que os
indígenas não travassem guerras e batalhas
entre si, mas essas guerras ocorriam por razões
próprias de suas culturas e não eram motivadas
pela exploração da terra e pelo comércio.
 
Se para os indígenas a ideia de que a terra
podia ser propriedade de alguém era um
absurdo, os europeus, por outro lado,
rapidamente demarcaram fronteiras imaginárias e se autointitularam os proprietários de áreas imensas. Para
fazer valer o seu domínio sobre o território, os recém-chegados utilizaram a força bruta em guerras que
Zumbi dos Palmares, Antônio Parreiras – ARTExplorer,
semCâmara cresce, mas não chega a um quarto do total. In: Agência Brasil
de Comunicação. Publicado em: 9 out. 2018.
 
GRAMSCI, A. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. Tradução: Luiz Mário Gazzaneo. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1984.
 
HAJE, L.; BECKER, M. Bancada feminina na câmara sobre de 51 para 77 deputadas. In: Agência Câmara de
Notícias. Câmara dos Deputados, 8 out. 2018.
 
HOBBES, T. Leviatã, ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. (Tradução: João Paulo
Monteiro, Maria Beatriz Nizza da Silva e Cláudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
 
HOLLANDA, S. B. Raízes do Brasil. Coleção Intérpretes do Brasil, v. III. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 2002.
 
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Brasil indígena. [online] 2010. Consultado em:
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LÔBO, E. M. L. Conflito e continuidade na história brasileira. In: KEITH, H. H.; EDWARDS, S. F. Conflito e
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MOURA, C. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo: Brasiliense, 1981
 
NASCIMENTO, M. Morro Velho. Álbum Milton Nascimento. Belo Horizonte: Codil, 1967.
 
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PUTMAN, R. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
 
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ROSSI, A. Navios portugueses e brasileiros fizeram mais de 9 mil viagens com africanos escravizados. In: BBC
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WACQUANT, L. Punir os Pobres – a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. A onda Punitiva. Rio de
Janeiro: Revan, 2001.
 
WEBER, M. A política como vocação. Tradução: Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2008.
	Violência, conflito e sociedade
	1. Itens iniciais
	Propósito
	Preparação
	Objetivos
	Introdução
	1. Violência como marca da sociedade brasileira
	Violência colonial e genocídio
	Violência como forma de dominação
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Violência contra comunidades indígenas
	Escravismo negro
	Patriarcalismo
	O termo pater familis, oriundo da estrutura social da Roma Clássica (Idade Antiga), pode também nos ajudar a entender o senhor rural, que, de acordo com Freyre (2002), exercia o poder despótico sobre mulher, filha, escravos e clientela no complexo casa grande-senzala.
	Saiba mais
	Hegemonia
	“Nos momentos de crise orgânica, a classe dirigente perde o controle da sociedade civil e apoia-se na sociedade política para manter sua dominação.” (CYMROT, 2013)
	Atenção
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	Sobre a violência no Brasil, podemos afirmar que:
	2. Políticas públicas e populações menorizadas
	Minorias políticas e processos de estereotipia
	Minorias políticas
	Essa conjuntura na qual alguns grupos têm mais direitos em relação a outros é o que gera as minorias políticas, também chamadas de minorias sociais. A noção sociológica de minoria não é a mesma da Matemática. Um grupo numericamente maior pode ser sistematicamente excluído dos principais espaços de poder na sociedade.
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Fala. mestre!
	Conteúdo interativo
	Processos de estereotipia
	O processo de estereotipia de populações menorizadas também passa pela ausência das minorias sociais nos espaços de produção do conhecimento, como as universidades, por exemplo, o que impede que os interesses desses grupos se manifestem naquilo que é dado como verdades científicas, artísticas e técnicas.
	Exemplo
	Violência simbólica e políticas públicas
	Atenção
	Uma sociedade realmente democrática é aquela onde os indivíduos não são discriminados por origem, cor, raça, gênero, classe social ou religião. Para isso, é preciso que as instituições estatais garantam que as diferenças e as individualidades das pessoas sejam respeitadas, desde que não firam os direitos umas das outras.
	De que formas o Estado deveria atuar, na prática, no estabelecimento dessas garantias? O Estado Nacional Moderno já assumiu diversas formas ao longo do tempo. No Brasil, a forma atual do Estado é reconhecida como sendo a de um Estado Democrático de Direito, o que significa que o seu funcionamento acontece a partir de uma tripartição do poder do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário. Para que haja uma coordenação harmoniosa das garantias dos direitos de grupos minoritários e dos direitos individuais por parte do Estado, é necessário, inicialmente, que o equilíbrio de forças pactuado seja respeitado.
	O poder que restringe o comportamento dos indivíduos na esfera pública não se fundamenta em suas preferências, no que é bom para eles, mas no que pode causar dano a outrem. Ou seja, a liberdade individual encontra seu limite quando passa a prejudicar o outro e nesses termos é que devem ser restringidos ou determinados os campos de atuação do Estado. As políticas públicas devem garantir as liberdades individuais de modo que a vontade da maioria não impeça a liberdade das minorias.
	Conteúdo interativo
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	3. Impunidade e redução da violência cotidiana
	Punição e tipos de pena
	Curiosidade
	Comentário
	O problema do estabelecimento da verdade
	Atenção
	Exemplo
	Impunidade X Punitivismo
	O crime é reverso da lei. Esta, de certa forma, cria o crime, ao prever, tipificar determinada conduta como ilegal. Assim, um Estado eficiente deveria regular o conjunto de leis que rege o convívio, punindo adequadamente os infratores e a radicalização dessa lógica que cria e sustenta uma cultura das punições, estabelecendo a aplicação da pena como condição fundamental para a paz social.
	Politicamente permanentemente
	Privatização dos presídios
	Conteúdo interativo
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	4. Conclusão
	Considerações finais
	Podcast
	Conteúdo interativo
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Explore+
	Referênciasdata.
dizimaram populações inteiras. Essa violência capaz de dizimar uma população é atualmente definida como 
genocídio.
No Brasil, a Lei n. 2.889, promulgada no ano de 1956, que define e pune o crime de genocídio, afirma a
imputabilidade de:
Art. 1. Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso,
como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros
do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a
destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do
grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo.
Lei 2.889/1956
Como veremos nos módulos seguintes, a existência dessa lei infelizmente não evita que a violência em
patamares semelhantes continue acontecendo.
Escravismo negro
A colonização do Brasil também foi feita a partir da maior migração forçada da história. Embora a escravidão já
ocorresse na África, a demanda dos europeus por escravos gerou um aumento jamais visto no tráfico de seres
humanos.
 
Ao longo de mais de 300 anos, cerca de 4,9 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil, o país que
recebeu quatro em cada dez africanos escravizados no mundo. A título de comparação, os Estados Unidos
respondem por 489 mil (ROSSI, 2018), um número dez vezes menor. Aqueles que sobreviviam à travessia
eram obrigados a realizar trabalhos forçados e submetidos à tortura e outras formas de violência. Em busca
de uma vida digna, homens e mulheres africanos fugiam das plantações e se organizavam em quilombos.
No decorrer de todo o período escravista,
inúmeras batalhas foram travadas entre
africanos nos quilombos e aqueles dedicados a
recapturá-los, como os bandeirantes e
capatazes pagos pelos senhores de engenho e
pelos governadores das capitanias hereditárias.
O quilombo mais famoso foi Palmares, liderado
por Zumbi, contra quem holandeses e depois
portugueses travaram batalhas por anos.
Estima-se que, em 1670, cerca de 20 mil
africanos fugidos dos engenhos chegaram a
viver em Palmares. A título de comparação
(MOURA, 1981), cerca de sete mil pessoas
moravam no Rio de Janeiro naquele mesmo
período.
Zumbi dos Palmares é, sem dúvida, uma figura emblemática e que, exatamente por isso, está sob os holofotes
de quem busca santificá-lo ou condená-lo.
Região quilombola, Leonardo Mercon, sem data.
Engenho colonial, Frans Post – Itamaraty Safra
catalogue, 1993.
 
Para derrotar o poderoso Quilombo dos Palmares, o governador de Pernambuco contratou os serviços do
bandeirante Domingos Jorge Velho, que reuniu um contingente de seis mil homens armados a fim de
combater os quilombolas liderados por Zumbi.
Palmares não foi o primeiro nem o último
quilombo do Brasil. Milhares de escravos
fugiram dos domínios de senhores de engenho
ao longo dos séculos e ainda existem no Brasil
comunidades remanescentes de quilombos.
Essas comunidades são habitadas por
descendentes de africanos que fugiram da
escravidão e passaram a viver em terras livres.
Patriarcalismo
O período colonial foi profundamente marcado
por conflitos, guerras e batalhas que por
diferentes motivos contestaram a ordem
vigente e o domínio da coroa portuguesa. A repressão por parte dos colonizadores foi fundamental para que
os senhores de engenho e a coroa portuguesa mantivessem o seu domínio ao longo dos séculos.
De acordo com a historiadora Eulália Lobo
(1970), um dos mais marcantes traços da
história brasileira é o seu elemento de
continuidade. Em suas pesquisas, a autora
observou que certas características como a
distribuição de terras pautada no sistema
latifundiário sofreram poucas alterações do
período colonial até o século XX. Esse sistema,
em um contexto em que a terra representava o
centro da produção de riquezas, permitiu que o
senhor rural angariasse grande poder na
sociedade colonial – poder esse que se
manteve até a primeira metade do século XX.
No auge de sua dominação, o senhor rural
controlava a terra, a mão de obra e as finanças,
e representava o principal elemento de
continuidade do poder no Brasil (LOBO, 1970).
O termo pater familis, oriundo da estrutura social da Roma Clássica (Idade Antiga), pode também nos
ajudar a entender o senhor rural, que, de acordo com Freyre (2002), exercia o poder despótico sobre
mulher, filha, escravos e clientela no complexo casa grande-senzala.
 
Os senhores de engenho tinham grande influência política do Período Colonial ao Império. Essa forma de
dominação tradicional exercida sobre uma comunidade e determinada pelo pertencimento a uma família – o
patriarcalismo – contribuiu para o desenvolvimento do clã familiar como um núcleo de extrema importância
para a compreensão da vida política brasileira.
 
A violência contra as mulheres era fundamental para o domínio patriarcal do senhor de engenho. Além de ter
total autoridade sobre suas esposas, geralmente mulheres brancas de origem europeia, os senhores de
engenho violentavam mulheres negras e indígenas escravizadas.
Saiba mais
Segundo Carneiro (2018), pode-se inferir que o estupro colonial perpetrado pelos senhores brancos
portugueses sobre negras e indígenas origina todas as construções de identidades brasileiras e as
hierarquias de gênero e raça existentes em nossa sociedade. É a partir das relações do “estupro
colonial” cometido por senhores brancos contra mulheres escravizadas negras e indígenas que se
constrói a nossa massa de população mestiça.Esse tipo de violência sexual era tão disseminado que
deixou marcas profundas na população brasileira que podem ser sentidas até os dias atuais.
Pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) sequenciaram em 2019 o
genoma de brasileiros e brasileiras em diferentes regiões do país (ESCOBAR, 2020). A descoberta feita
por eles é que 70% das mães que deram origem à nossa população têm ascendência africana ou
indígena, mas 75% dos pais foram europeus. 
Outra percepção sobre o período pode nos chegar também pela Arte. As contradições internas dos
escravismos e das complexas relações sociais – e mesmo pessoais – que eram geradas é bem explícita na
letra da música Morro Velho, de Milton Nascimento:
Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos (...)
Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante (...)
Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar
Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.
(NASCIMENTO, 1967)
O desenvolvimento da sociedade brasileira não ocorreu a partir da ideia de que os cidadãos deveriam ser
tratados da mesma forma. Da colonização, a partir do século XVI até meados do século XX, eram os senhores
de engenho e grandes proprietários rurais que detinham toda a riqueza e poder.
 
De acordo com Hollanda (2002), a formação da sociedade brasileira se deu a partir do patrimonialismo, uma
forma de dominação concentrada nas opiniões e valores do senhor de engenho e não com base em critérios
de igualdade entre toda a população. A união entre uma burocracia em expansão e a cultura patrimonialista
gera um Estado ineficiente em diversos sentidos. Aqueles que detinham o poder econômico podiam usar o
Estado para seus próprios interesses e não para o bem comum, ou seja, o interesse privado ganha espaço em
detrimento do público, gerando práticas corruptas e clientelistas.
Hegemonia
O processo histórico que formou o Brasil como o conhecemos é profundamente marcado pela dominação de
alguns grupos políticos sobre outros menos favorecidos. Essa correlação de forças é o pilar dos fenômenos
políticos (GRAMSCI, 1984). Na argumentação desse ponto de vista, para analisar as forças que atuam na
história de um período,é preciso compreender a relação entre estrutura e superestrutura e procurar as
relações de forças sociais intrínsecas à estrutura.
Assalto à mão armada, Apiwan Borrikonratchata, sem
data.
 
Aqui se está baseando em um aparato dialético:
“Nos momentos de crise orgânica, a classe dirigente perde o controle da sociedade civil e
apoia-se na sociedade política para manter sua dominação.” (CYMROT, 2013)
 
Deve-se também avaliar o grau de homogeneidade e de consciência de classe atingidos pelos vários grupos
sociais e compreender a relação das forças militares, que podem ter um grau técnico-militar, ou político-
militar.
Os conflitos entre grupos que disputam o
aparato do Estado muitas vezes se
manifestaram de forma violenta ao longo da
história. Quando ouvimos falar de violência, a
primeira coisa que pensamos é nos assaltos à
mão armada e nos altos índices de homicídio
que caracterizam o Brasil contemporâneo.
Muitas vezes escutamos de nossos pais e avós
que, no tempo deles, “não era assim”. Embora
seja verdade que há algumas décadas a
violência armada não era tão presente no
cotidiano, a violência e o conflito sempre
fizeram parte da própria constituição da
sociedade brasileira.
 
O processo histórico que levou à construção do Brasil como o conhecemos foi marcado por séculos de
violência colonial, de modo que esse fenômeno sempre esteve presente em nosso país. Como veremos nos
próximos módulos, as sequelas deixadas por séculos de escravidão e pelo patriarcalismo atravessam de
várias formas a violência que vivemos atualmente.
Atenção
A repressão e a violência não são a única forma de construir um país democrático. Ao refletirmos sobre
as formas de organização e ação coletiva da sociedade civil, podemos entender que tanto a busca por
cooperação entre indivíduos a fim de atingirem um resultado ótimo a todos quanto a deserção em
situações em que haveria a possibilidade de associação constituem soluções racionais que trazem
potencial estabilidade aos grupos sociais que as adotam (PUTMAN, 1999). A solução óbvia encontrada
em um contexto no qual os indivíduos não conseguem associar-se entre si nem contar com o
cumprimento de acordos por parte dos outros é recorrer a um poder coercitivo, baseado na repressão,
que garanta certa estabilidade à sociedade. 
A sociedade civil 
Cuja dominação seria fundamentada na
hegemonia. Nesta categoria, inserem-se as
instituições capazes de difundir os valores da
classe dirigente por toda a sociedade: a Igreja,
a mídia corporativa, a escola etc.
A sociedade política 
Baseada na dominação coercitiva. Esta
categoria seria composta pelo aparelho
jurídico-coercitivo responsável por
manter, pela força, a ordem
estabelecida.
Segundo Putman (1999), a partir do conceito de capital social – cujo pilar principal é a confiança –, os
indivíduos se associam com o cumprimento de acordos por parte uns dos outros, por meio de normas, regras
e sistemas. Essa situação aumenta a eficiência da sociedade, pois nesse caso busca-se um resultado ótimo a
todos sem recorrer à repressão. A verdadeira democracia, para Robert Putman (1999), seria um sistema
baseado na confiança mútua e na cooperação, aumentando a eficiência da sociedade e ao mesmo tempo
fazendo com que o Estado não se baseie apenas na coerção e na violência.
 
A construção de uma sociedade mais justa e menos violenta depende de que todos os cidadãos se
comprometam com o reconhecimento dos conflitos sociais e busquem formas de reparar coletivamente as
bases da violência.
 
No vídeo a seguir, o especialista Dennis Novaes comenta sobre fatores históricos, como o escravismo e
patriarcalismo, que contribuíram para uma sociedade marcadamente violenta. Vamos assistir!
Conceito de capital social
Capital social diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas,
que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade (PUTMAN, 1999). 
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Sobre a violência no Brasil, podemos afirmar que:
A
É um fenômeno recente que teve início nas grandes cidades a partir da segunda metade do século XX.
B
Trata-se de uma violência limitada às periferias urbanas, onde facções criminosas comandam o tráfico de
drogas.
C
A violência fez parte da própria constituição do Estado-nação brasileiro de uma forma que moldou o país
como atualmente o conhecemos.
D
Os povos indígenas exterminaram grandes massas de colonizadores, por isso a maior parte da população
brasileira atual tem origem indígena.
E
Os africanos escravizados exterminaram indígenas e portugueses, por isso a maior parte da população
brasileira atual tem origem negra.
A alternativa C está correta.
A constituição da sociedade brasileira foi moldada por séculos de violência colonial, o que definiu as
características linguísticas e socioculturais do Brasil contemporâneo.
Questão 2
De acordo com as reflexões do cientista político Robert Putman (1999), a democracia ideal deve ser um
regime:
A
No qual alguns grupos políticos disputam o controle do aparelho estatal e a dominação hegemônica.
B
Baseado na confiança e na cooperação entre os cidadãos, de modo que o Estado não recorra à repressão e à
coerção.
C
No qual poucos homens de bem tenham controle sobre o aparelho burocrático do Estado.
D
Baseado no controle da classe operária sobre os meios de produção das mercadorias.
E
Em que todos tenham direitos iguais, contanto que sigam as mesmas crenças religiosas, tenham as mesmas
orientações sexuais e ideologias políticas.
A alternativa B está correta.
O cientista político Robert Putman (1999) defende que tanto a busca por cooperação entre indivíduos a fim
de atingirem um resultado ótimo a todos quanto a deserção em situações em que haveria a possibilidade
de associação constituem soluções racionais que trazem potencial estabilidade aos grupos sociais que as
adotam.
2. Políticas públicas e populações menorizadas
Minorias políticas e processos de estereotipia
Em 1960, a escritora Carolina Maria de Jesus lançava a sua obra mais famosa. O livro Quarto de Despejo:
diário de uma favelada reunia trechos do diário escrito pela autora sobre a dura condição de uma mulher
negra e moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Em uma das passagens mais marcantes de seu livro,
ela afirmou:
O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem
passa fome aprende a pensar no próximo e nas crianças.
Jesus, 1963
Pobre, negra e escritora, Carolina Maria de Jesus era uma exceção, tendo em vista que a maioria dos
moradores de favelas e periferias daquela época eram analfabetos.
Minorias políticas
No ano de 1960, foi publicada uma grande pesquisa sobre as favelas do Rio de Janeiro que nos ajuda a
compreender a dimensão do problema. O relatório da Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas
Aplicadas aos Complexos Sociais (SAGMACS) foi a iniciativa mais robusta, até aquele momento, de análise da
conjuntura em que viviam os moradores de favelas.
 
O levantamento (SAGMACS apud MELLO et al, 2012), cuja direção técnica ficou sob a responsabilidade de
José Arthur Rios, foi realizado em 58 favelas e apontava um cenário que ainda nos soa familiar: praticamente
80% da população era composta de pretos e pardos e quase metade era analfabeta. Os estudos sobre o
acesso à educação apresentados no relatório deixavam claro que esse cenário não estava perto de ser
transformado.
 
O Brasil ainda estava longe de ser governado por alguém que passou fome, como queria Carolina de Jesus.
Naquela época, analfabetos ainda eram proibidos de votar e, portanto, uma enorme parcela da população não
podia escolher os seus representantes. O direito ao voto foi por muito tempo restrito em nosso país. As
mulheres, por exemplo, só votaram pela primeira vez em 1934. Mas ainda assim não eram todas as mulheres,
apenas aquelas com certo grau de instrução e condições financeiras.
Foi só a partir da constituição de 1988, tambémconhecida como a “Constituição Cidadã”, que o
direito universal ao voto foi consolidado no
Brasil. Mesmo que isso represente um avanço
para a nossa democracia, aprofundando os
direitos da população, trata-se de pouco mais
de trinta anos de voto universal comparados a
séculos em que os direitos políticos eram
reservados para um restrito grupo de homens
brancos e ricos.
 
Essa conjuntura na qual alguns grupos têm mais direitos em relação a outros é o que gera as minorias
políticas, também chamadas de minorias sociais. A noção sociológica de minoria não é a mesma da
Matemática. Um grupo numericamente maior pode ser sistematicamente excluído dos principais
espaços de poder na sociedade.
 
Embora cerca de 54% da população brasileira seja composta por negros, eles ocupam apenas 20% das
cadeiras no Congresso Nacional (GONÇALVES, 2018). Algo semelhante ocorre com as mulheres, que
compõem 51% da nossa população, mas ocupam apenas 15% das vagas na Câmara dos Deputados (HAJE;
BECKER, 2018).
O Brasil é um dos países mais atrasados do mundo em relação à participação das mulheres na política,
ocupando a 154ª posição no ranking de participação elaborado pela ONU, que compara 174 países.
 
Esses exemplos demonstram que uma minoria política não é necessariamente a que está em desvantagem
numérica na população, mas aquela que está distante das principais instâncias coletivas de poder e decisão.
Antes, trata-se de grupos que são sistematicamente marginalizados em função de aspectos econômicos,
sociais, culturais, físicos ou religiosos.
As minorias sociais são as coletividades que sofrem processos de estigmatização e discriminação,
resultando em diversas formas de desigualdade ou exclusão sociais. São exemplos de minorias sociais,
atualmente, negros, indígenas, imigrantes, mulheres, homossexuais, idosos, moradores de favelas,
portadores de deficiências e moradores de rua.
Novo, 2019
A desigualdade manifesta-se para além dos quadros políticos, como o Congresso Nacional, as prefeituras, as
assembleias ou os governos estaduais, em todos os âmbitos da sociedade.
Fala, mestre!
No vídeo, uma mulher compartilha sua trajetória de vida, marcada por lutas, resistência e superação. Ela
relembra como sobreviveu após nascer prematura e ser declarada morta, e como essa experiência fortaleceu
seu espírito de luta. Criada por uma mãe solteira que cuidou sozinha de 11 filhos após o abandono paterno, ela
aprendeu desde cedo a ser resiliente. Desde a infância, se dedicou ao trabalho e ao aprendizado, ajudando
sua mãe e contribuindo para o sustento da família. No âmbito escolar, enfrentou discriminação e preconceito,
mas sempre buscou se destacar pelo conhecimento e pela dedicação aos estudos. Ela enfatiza a importância
do conhecimento como uma ferramenta essencial para enfrentar adversidades e conquistar respeito. Através
Calças Dracon (machista) – Anos 1960.
de sua história, transmite a mensagem de que a luta pelo reconhecimento e igualdade é constante e que o
apoio familiar e a determinação são fundamentais para superar os desafios.
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Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Fala. mestre!
O vídeo discute a persistente desigualdade de gênero no ambiente de trabalho, destacando a escassez de
mulheres em cargos de liderança e na tomada de decisões. Examina o histórico patriarcal e machista que
perpetua essa desigualdade estrutural, similar ao racismo e sexismo, e reflete sobre a disparidade salarial,
com as mulheres ganhando cerca de 20,5% menos que os homens na mesma função. Aborda a influência dos
estereótipos de gênero desde a infância, que limitam as possibilidades tanto para homens quanto para
mulheres em diversas profissões e habilidades. Examina as dificuldades enfrentadas pelas mulheres que se
ausentam para a licença maternidade e o impacto negativo desses estereótipos nas suas carreiras.
Reconhece os avanços recentes na ocupação de espaços de poder público por mulheres, mas ressalta a
necessidade de continuar desconstruindo papéis sociais tradicionais para alcançar uma igualdade efetiva.
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Processos de estereotipia
Essa imagem trata de uma propaganda de
calças masculinas veiculada nos Estados
Unidos nos anos 1960. Na peça publicitária,
uma mulher é feita de tapete por um homem
que pisa sobre sua cabeça e na legenda se lê:
“É bom ter uma mulher na casa”.
 
A imagem em questão reforça uma série de
estereótipos sobre as relações entre homens e
mulheres em que os primeiros são retratados
como superiores e as segundas como
submissas. Esse imaginário é ainda difundido
por diversos setores da sociedade, e sua
perpetuação faz com que a desigualdade entre
homens e mulheres seja tida como algo natural
na sociedade. Chamamos isso de “naturalização”, que é a inculcação de valores culturais dos quais perdemos
o distanciamento crítico em função da sua recorrência.
O mesmo se pode dizer de estereótipos de cunho racista, homofóbico, xenófobo etc., que são perpetuados
por propagandas, novelas, programas televisivos, ou na mídia em geral. Há aí um reforço sistemático de certas
imagens estereotipadas que representam os grupos minoritários e que retroalimentam a cultura da exclusão e
estigmatização desses mesmos grupos.
 
O processo de estereotipia de populações memorizadas passa, então:
 
Pela ausência dessas figuras em espaços de poder, como os ambientes decisórios da política
institucional.
• 
Pelas representações midiáticas, que fazem circular certas imagens em detrimento de outras.
A recorrente exibição de certos aspectos visuais, como imagens estereotipadas de mulheres, negros,
homossexuais, indígenas etc., significa também a invisibilidade de outros aspectos que poderiam contribuir
com a desconstrução dos estereótipos. Mas por que as grandes emissoras de televisão, as revistas que mais
vendem seus conteúdos e as empresas publicitárias arriscariam investir em imagens cuja boa repercussão/
circulação/aceitação não seria garantida, uma vez que esteja instituída uma cultura de exclusão dessas
minorias e repetição de estereótipos relacionados a essa lógica? Voltaremos a essa questão mais adiante. Por
hora, o que importa é reconhecer as dinâmicas de desigualdade estabelecidas.
O processo de estereotipia de populações menorizadas também passa pela ausência das
minorias sociais nos espaços de produção do conhecimento, como as universidades, por exemplo,
o que impede que os interesses desses grupos se manifestem naquilo que é dado como verdades
científicas, artísticas e técnicas.
Voltemos à pergunta sobre por que a grande mídia investiria em imagens que vão contra os estereótipos
estabelecidos. Uma leitura atenta e crítica desse texto coloca a dúvida sobre se o que a mídia tem feito
atualmente é, de fato, a reprodução dos estereótipos tão alardeada pelos movimentos sociais. E podemos
pensar, nesse caso, nas campanhas publicitárias da Natura, por exemplo, grande empresa de cosméticos
brasileira.
Exemplo
Uma busca rápida sobre o assunto na internet nos mostra as polêmicas dos últimos anos envolvendo as
campanhas publicitárias da Natura, grande empresa de cosméticos brasileira, como as campanhas de
Dia dos Namorados, que mostram casais gays presenteando-se com cosméticos da marca, além de
casais inter-raciais, pessoas negras, velhas ou gordas. A marca tem assumido como estratégia de
divulgação de seus produtos a quebra de estereótipos relacionados a padrões de beleza como a
campanha “sou mais que um rótulo”, que exibe mulheres descolando de suas peles adesivos onde se
pode ler “brava”, “histérica”, “mal resolvida”, “irritada” e “chorona”, como metáfora para os estereótipos
sociais normalmente usados para definir mulheres. A modelo protagonista da campanha é uma mulher
negra de cabelos crespos e volumosos, e a fotografia de divulgação a mostra entre outras mulheres;
com diversos biótipos, inclusive uma modelo de perna amputada usando prótese mecânica. 
Como a Natura, diversas outras marcas têm feito o mesmo, uma vez queo problema das minorias políticas,
pelas reivindicações dos movimentos sociais ao longo dos anos, vem ganhando notoriedade e, portanto,
contornos de um nicho de mercado inexplorado pelos mais diversos setores da economia. Utilizar imagens de
propaganda na contramão dos estereótipos passa a ser viável, em termos do risco que isso implica para as
empresas.
 
Enquanto os ciclos culturais de manutenção de desigualdades se sustentarem, a opressão de certos grupos
por outros, organizados em relações de poder estabelecidas na sociedade, tendem a se manter. E com a
opressão, a violência, em sua dimensão simbólica.
Violência simbólica e políticas públicas
Essa forma de dominação inculcada no imaginário social é definida por Bourdieu (2018) como “violência
simbólica”. Em suas palavras:
• 
O que denomino de violência simbólica ou dominação simbólica, ou seja, formas de coerção que se
baseiam em acordos não conscientes entre as estruturas objetivas e as estruturas mentais.
Bourdier, 2018
Trata-se de uma forma de violência que pode ser reproduzida por todos os indivíduos, reforçando a
dominação de alguns grupos sobre os outros. A violência simbólica permeia as mentes dos indivíduos que
violentam ou são violentados, fazendo com que fenômenos como o racismo, o machismo, a homofobia, entre
outros, sejam reproduzidos cotidianamente.
 
Um bom exemplo seria o caso do homem que retém, escondidos, os documentos da própria mulher/esposa
com objetivo de impedir seu afastamento (ou mesmo fuga) da realidade imposta por ele. Embora legalmente
reconhecida como violência patrimonial, não deixa de ser uma violência simbólica a partir do momento que um
indivíduo (homem) se considera no direito de tomar decisões sobre outro indivíduo (mulher) por entendê-lo
inferior ou submisso.
 
Também podemos pensar nas interações das crianças na escola. Em como os indivíduos, em uma idade em
que estão descobrindo a si mesmos e aos outros, e ainda não têm condições socioemocionais para a
elaboração de críticas autônomas aos sistemas de dominação e relações de poder em que estão inseridos,
tanto reproduzem quanto se fragilizam diante desses jogos relacionais. Repetem os preconceitos dos
familiares, das gerações anteriores, que são os porta-vozes do que consideram “o certo” e podem se mostrar
tanto violentos quanto vulneráveis aos esquemas de opressão raciais, de classe e aos estereótipos de
maneira geral.
Atenção
A escola seria um dos principais espaços onde a violência simbólica é exercida. Ao valorizar tipos
específicos de conhecimento em detrimento de outros, a instituição escolar muitas vezes contribui para
que minorias políticas sejam inferiorizadas simbolicamente. Um exemplo é o fato de que, embora o Brasil
seja o país com a maior população de origem africana do mundo, até pouco tempo a história da África e
de seus povos não era ensinada nas escolas. Isso mudou com a Lei n. 10.639/2003, que entre outras
coisas determinou o ensino obrigatório da história da África. 
É muito recente que negros passaram a ter maior conhecimento sobre suas origens e as culturas ancestrais
dos povos africanos. Os efeitos desse tipo de apagamento são muito profundos e contribuem enormemente
para a manutenção dos preconceitos contra minorias políticas.
 
De volta à escritora Carolina Maria de Jesus, podemos citar outro trecho de sua obra em que ela reflete sobre
a invisibilização das mulheres, outro grupo que tem sua história apagada na sociedade brasileira. Em uma
passagem de Quarto de Despejo, a autora relata:
Quando eu era menina, o meu sonho era ser homem para defender o Brasil, porque eu lia a história do
Brasil e ficava sabendo que existia guerra, só lia os nomes masculinos como defensores da pátria então
eu dizia para minha mãe: – Por que a senhora não faz eu virar homem?
Jesus, 1963
A reflexão de Carolina Maria de Jesus demonstra de que forma a violência simbólica – nesse caso o
apagamento da contribuição das mulheres na história do Brasil – é inculcada no imaginário dos indivíduos.
Para combater essas formas de violência simbólica, que impedem que a sociedade se desenvolva de forma
mais justa e igualitária, é preciso criar políticas públicas, a exemplo da Lei n. 10.639/2003.
Uma sociedade realmente democrática é aquela onde os indivíduos não são discriminados por
origem, cor, raça, gênero, classe social ou religião. Para isso, é preciso que as instituições estatais
garantam que as diferenças e as individualidades das pessoas sejam respeitadas, desde que não
firam os direitos umas das outras.
De que formas o Estado deveria atuar, na prática, no
estabelecimento dessas garantias? O Estado Nacional
Moderno já assumiu diversas formas ao longo do tempo.
No Brasil, a forma atual do Estado é reconhecida como
sendo a de um Estado Democrático de Direito, o que
significa que o seu funcionamento acontece a partir de
uma tripartição do poder do Estado: Executivo, Legislativo
e Judiciário. Para que haja uma coordenação harmoniosa
das garantias dos direitos de grupos minoritários e dos
direitos individuais por parte do Estado, é necessário,
inicialmente, que o equilíbrio de forças pactuado seja
respeitado.
A relação entre democracia e direitos individuais foi o principal objeto de investigação do filósofo e
economista britânico John Stuart Mill, considerado um dos pais do liberalismo político. Em seu livro Sobre a
Liberdade, publicado originalmente em 1859, ele observou como a sociedade britânica escolhia seus
representantes e criava suas leis.
John Stuart Mill
John Stuart Mill (1806-1873) foi um filósofo inglês, um dos mais influentes pensadores do século XIX,
responsável por lançar as bases da revisão do utilitarismo como ideologia suprema e dedicou-se ao
estudo de numerosas questões sociais de seu tempo. Fonte: ebiografia.com
Para Stuart Mill, o estabelecimento de cargos eletivos ocupados por representantes do povo criou a
impressão de que não havia mais por que temer a tirania, já que o povo não devia temer sua própria vontade.
Acontece que o povo pode desejar reprimir uma parte de si mesmo, ou seja, grupos numérica ou politicamente
minoritários.
 
Contra essa repressão, Stuart Mill observava que as leis devem definir mecanismos de proteção aos grupos
minoritários. A sociedade deveria respeitar a esfera individual, restringindo-se apenas à definição de
penalidades civis, estando proibida de envolver-se em assuntos referentes à alma e à conduta individual.
 
O homem comum é movido por preferências individuais no que tange aos seus gostos, costumes e
moralidade; mas quando essas preferências individuais são transplantadas a nível público por homens
detentores da autoridade secular – transformando-se em leis –, o que há é incompreensão, abuso de poder e
o despertar do ódio.
O poder que restringe o comportamento dos indivíduos na esfera pública não se fundamenta em
suas preferências, no que é bom para eles, mas no que pode causar dano a outrem. Ou seja, a
liberdade individual encontra seu limite quando passa a prejudicar o outro e nesses termos é que
devem ser restringidos ou determinados os campos de atuação do Estado. As políticas públicas
devem garantir as liberdades individuais de modo que a vontade da maioria não impeça a
liberdade das minorias.
No vídeo a seguir, o especialista Dennis Novaes aprofunda o conceito de violência simbólica. Vamos assistir!
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Fala, mestre!
O vídeo aborda a questão da desigualdade social e racial no Brasil, especialmente nas periferias do Rio de
Janeiro. O conteúdo destaca como a ausência do Estado e a falta de direitos básicos enfraquecem as
comunidades pobres. Ressalta a disparidade de tratamento entre negros e brancos no sistema de justiça,
onde jovens negros são frequentemente mais penalizados em relação a crimes menores, enquanto crimes de
colarinho branco, cometidos por parte da elite, têm consequências mais brandas, apesar do maior prejuízo à
sociedade. Também enfatiza que a luta contra o racismo deve continuar, poissilenciar sobre este tema
favorece a persistência de uma falsa democracia racial. A narradora, uma mulher negra e idosa, reafirma a
importância de nunca deixar de falar, denunciar e lutar contra o racismo, utilizando os obstáculos como
ferramentas de fortalecimento pessoal e coletivo.
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Fala, mestre!
O vídeo aborda a problemática da implementação inadequada das leis brasileiras referentes às crianças e
adolescentes, com foco especial na discriminação sofrida por famílias de religiões de matriz africana. Apesar
dessas leis permitirem que os pais levem seus filhos aos seus ambientes religiosos, muitas mães perderam a
guarda dos filhos por essa razão, sob a alegação de que praticam violência devido a rituais religiosos. A juíza
entrevistada destaca que, durante sua carreira, investigava pessoalmente as condições dos terreiros
religiosos para garantir que nenhum abuso ocorresse, buscando assegurar que todas as religiões fossem
respeitadas igualmente. Ela enfatiza a importância da família e do afeto no desenvolvimento das crianças e
critica a falta de conhecimento e vivência das autoridades ao julgarem esses casos.
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Verificando o aprendizado
Questão 1
A respeito da discussão sobre minorias políticas, marque a alternativa incorreta:
A
Minorias políticas são apenas aqueles grupos numericamente inferiores na sociedade. Os descendentes de
asiáticos no Brasil, por exemplo, são uma minoria porque representam 1,09% da população.
B
As minorias são grupos sub-representados em espaços de poder na sociedade.
C
O conceito de minoria política não se restringe à ordem numérica da Matemática. Trata-se, na verdade, de um
conceito usado para falar da representatividade política.
D
Uma minoria política pode ser a maioria numérica em uma sociedade.
E
As minorias políticas geralmente sofrem com a violência simbólica.
A alternativa A está correta.
A noção sociológica de minoria não é a mesma da Matemática. Um grupo numericamente maior pode ser
sistematicamente excluído dos principais espaços de poder na sociedade.
Questão 2
Tendo estudado sobre o conceito de "violência simbólica" de Bourdieu, qual das alternativas abaixo
representa um exemplo do fenômeno descrito pelo autor?
A
Relações entre alunos e professores em que os alunos são agressivos, de maneira inadequada à hierarquia
estabelecida nas instituições de ensino.
B
Violência familiar e doméstica em que os abusos são entendidos como parte natural da dinâmica de poder da
casa.
C
O crime comum violento, como o caso dos assaltos na rua, em que as vítimas são surpreendidas pelos
meliantes que lhes subtraem seus bens.
D
Violência policial, em que as vítimas são mortas ao serem confundidas com criminosos gerando revolta e
comoção entre seus familiares e redes de vizinhança.
E
Nos casos em que pessoas sistematicamente aviltadas pela ordem social conseguem se rebelar e procuram
fazer valer seus direitos por meio da força.
A alternativa B está correta.
Violência abrigada na hierarquia familiar (seja de homens sobre mulheres ou de pais sobre filhos) e
naturalizada porque entendida como parte do sistema de manutenção da ordem naquele grupo pode ser
considerada como violência simbólica devido a estar entranhada na cultura de tal forma que leve ao não
reconhecimento da violência pela própria vítima.
3. Impunidade e redução da violência cotidiana
Punição e tipos de pena
As perspectivas sobre a impunidade possuem uma variação disciplinar. E as Ciências Sociais podem contribuir
para uma apreciação histórica da “punição”, problematizando o seu lugar nas sociedades contemporâneas,
sobretudo no Brasil. Por exemplo, é possível em clássica abordagem sociológica estabelecer um contraste
entre as penas punitivas e as restitutivas (DURKHEIM, 1999). Quando um crime é cometido, sua forma de
reparação pode se processar de duas maneiras:
 
Reparação do dano causado
Punição àquele que comete o crime (quando a reparação do dano causado não for possível)
 
Pensemos, a título de exemplo, no crime de difamação, previsto pelo nosso Código Penal.
Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena – detenção, de três meses
a um ano, e multa.
Decreto-Lei 2.848/1940
Quando aquele que causou o dano é condenado à pena de multa, entende-se que o valor pago restitui o dano
causado, restabelecendo a ordem das coisas, a “justiça”. Assim, se um indivíduo processa uma empresa que
lhe prestou um mau serviço, a empresa pode ser condenada a indenizá-lo, pagando um valor que funciona,
em sentido filosófico e material, como compensação por aquele mau serviço. Trata-se de uma pena
restitutiva, sob esse ponto de vista de entendimento da sociedade e suas formas de regulação e ordem.
No caso da pena de detenção, reclusão (que são penas restritivas da liberdade do sujeito condenado) e, no
caso de ordenamentos jurídicos de outros Estados-nação que não o Brasil, da pena de morte, o que está em
jogo não é a reparação do dano causado via restituição material ou pagamento. Nesses casos, aplicados
como penas de maior severidade, a “restituição” acontece em um nível mais sutil, filosófico, e que no limite
passa por infligir sofrimento àquele que cometeu o crime.
• 
• 
Curiosidade
Em muitos ordenamentos jurídicos antigos como o código de Hamurabi, por exemplo, havia a chamada
Lei de Talião. Talião vem do latim talio, talis e significa “tal qual”, “idêntico”. “Olho por olho, dente por
dente”. Assim, se um indivíduo batesse em seu pai, o que era considerado um ato contra o valor da
honra, sua mão deveria ser cortada; se matou, deveria ser morto. Essa lei é a antecessora dos
ordenamentos jurídicos atuais no sentido de estabelecimento de uma proporcionalidade da pena em
relação à lesão.Khammu-rabi, rei da Babilônia no 18º século A.C., estendeu grandemente o seu império e
governou uma confederação de cidades-Estado. Erigiu, no fim do seu reinado, uma enorme "estela" em
diorito, na qual ele é retratado recebendo a insígnia do reinado e da justiça do rei Marduk. Abaixo
mandou escrever 21 colunas, 282 cláusulas que ficaram conhecidas como Código de Hamurabi (embora
abrangesse também antigas leis). 
Historicamente, tratou-se de vulgarização da pena de morte, uma vez que o ofendido, especialmente se
provinha de camadas mais abastadas da sociedade, precisava sentir-se vingado.
 
Algumas leis do código de Hamurabi mostram a amplificação do escopo da pena de morte:
Se alguém roubar a propriedade de um templo ou corte, deve ser condenado à morte, e aquele que
receber o produto do roubo do ladrão deve ser igualmente condenado à morte. Se alguém receber em
sua casa um escravo fugitivo da corte, homem ou mulher, e não o trouxer à proclamação pública na casa
do governante local ou de um homem livre, o mestre da casa deve ser condenado à morte. Se alguém
arrombar uma casa, ele deverá ser condenado à morte na frente do local do arrombamento e ser
enterrado. Se um construtor construir uma casa para outrem, e não a fizer bem feita, e se a casa cair e
matar seu dono, então o construtor deverá ser condenado à morte. Se morrer o filho do dono da casa, o
filho do construtor deverá ser condenado à morte.
Queiroz, 2019
Esse tipo de penalidade que segue, quando em uma cultura religiosa mais primitiva, a lógica do sacrifício,
trata-se de uma restituição no sentido de estabelecimento da justiça, entendendo-se justiça como um tipo de
equilíbrio mágico que, se corrompido, pode ser cruel, pode trazer morte e dor, sendo essa crueldade
entendida como parte indelével de um bem maior.
 
Trata-se de uma austeridade que institui o sentido de importância e de valor da ordem e da própria vida,
abrigada nessa ordem social. Esse pensamento estaria na origem do próprio sentido da vingança, sendo uma
espécie de impulso pouco refinado que os indivíduos experimentam quando lesados por outrem.
Comentário
Neste caso, Cunha (2019) afirma podermos dizerque a pena é entendida como suplício e expiação,
aplicada passional e difusamente, muitas vezes associada à vergonha pública. Na abordagem
sociológica aqui adotada, é importante perceber que ela identifica uma genealogia das penas quanto a
esses dois tipos, ligada às sociedades primitivas ou complexas.Para o autor, o direito punitivo faz muito
mais sentido nas sociedades primitivas, como sociedades da Idade Média e de períodos históricos
anteriores, ou nas sociedades tribais onde exista uma comunidade de valores considerados sacros e que
deveriam ser incorruptíveis, enquanto as penas restitutivas teriam surgido em momentos históricos
subsequentes e seriam características das sociedades mais contemporâneas e complexas, onde a
divisão do trabalho é estratificada e existe uma pluralidade de valores em disputa, possibilitada pelo
multiculturalismo. 
Nas sociedades complexas, como é o caso da nossa, temos assim um dispositivo jurídico que combina:
 
Penas restitutivas
Penas punitivas
 
As penas punitivas, expiatórias, são aplicadas quando o bem jurídico tutelado pelo Estado está relacionado a
um valor de importância central na nossa sociedade. Assim, atentados contra a “vida”, a “infância”, a
“propriedade privada”, por exemplo, são punidos com prisão e, em outros países, até mesmo com a morte do
criminoso.
 
Devemos acrescentar que a prisão, assim como a condenação à morte, possui um caráter prático, entendido
como a retirada daquele indivíduo do convívio social, uma vez que se considera que o crime cometido possui
enorme potencial ofensivo dos valores tutelados pelo Estado. Isso não exclui, contudo, o sentido de expiação
desse tipo de pena, basta observar o clamor público, a comoção social em torno de crimes que ofendam
nossos valores mais caros como crimes hediondos cometidos contra crianças ou pessoas incapazes, por
exemplo.
Podemos refletir sobre a gana social, feroz, por
justiça quando se ofende gravemente a ordem
social mediante algumas práticas tradicionais
do folclore nacional como a “malhação do
Judas”, ou nas iniciativas populares de “fazer
justiça com as próprias mãos”, como os
linchamentos de estupradores.
• 
• 
Representação, feita por Jan Luyken (1685), da
execução na fogueira de Anneken Hendriks (Amsterdã,
1571), durante as Guerras Religiosas (Reforma e
Contrarreforma), Jan Luyken – Cl Roger-Viollet, 1685.
Podemos ainda pensar em instâncias medianas entre a
iniciativa solitária ou espontânea dos que se vingam de um
crime brutal e as respostas do Estado a esses crimes pela
aplicação das penalidades previstas em lei. Entre uma coisa
e outra, há os tribunais do tráfico e as tropas de milícias em
grandes cidades brasileiras. Esses grupos armados se
estabelecem no vácuo do poder público e atendem, muitas
vezes, a uma demanda de ordem que o Estado não é capaz
de suprir. Aplicam pena de morte em casos como o de
estupro e centralizam a aplicação da violência nas regiões
onde atuam.
O problema do
estabelecimento da verdade
Curiosamente, o suplício do criminoso tem em
si um valor social. É como se mediante aquele
suplício tivéssemos uma extirpação do próprio
crime. Ao longo da história, a extirpação do
crime pela expiação do criminoso assumiu
muitas formas no Ocidente, as quais flertavam
com as cosmologias cristãs muitas vezes, dada
a importância cultural do cristianismo ao
estabelecer os entendimentos do que seria
justiça e sua relação com a transcendência. É o
caso da pena de morte na fogueira para
mulheres acusadas de bruxaria pelos tribunais
do Santo Ofício.
 
Acreditava-se que o fogo pudesse “queimar a
praga” espiritual e salvar a alma da mulher
acometida pelas tentações demoníacas. É o
mesmo princípio dos sacrifícios rituais, em que
se abre mão, oferece-se ou se descarta algo importante em prol de um bem maior.
 
A temática da Inquisição e do Santo Ofício também é bastante controversa. Embora não seja o objetivo deste
estudo aprofundar tais questões, vale destacar que, entre 1998 e 2004, um grupo de 30 renomados
historiadores, especialistas no tema, realizaram o Simpósio Internacional sobre as Inquisições. Por ter
acontecido na Cidade do Vaticano (que abriu sua biblioteca para esses profissionais), era de se esperar que o
resultado fosse também controverso (BORROMEO, 2003).
Atenção
As penas têm, nesses casos, sempre algum castigo que envolva o corpo do criminoso e sua aflição. Essa
relação com o corpo esteve presente, nos séculos passados, não apenas na pena, mas no
estabelecimento da verdade. Experimentos sociojurídicos envolvendo o corpo mostravam resultados
espirituais que eram interpretados pelos juristas numa fase do processo que era anterior à da aplicação
da pena. 
Manifestação não pacífica, Hayk_Shalunts, 2020.
Como era predominante a visão de que o suplício físico (desde jejuns a dores infligidas), aplicado de forma
voluntária ou imposta, purificaria a alma – e, consequentemente, a relação com Deus –, era comum entender a
importância do juramento ou confissão nesse processo (FOUCAULT, 2005). As palavras ditas pelo acusado
recebiam uma gama de interpretações, que implicaria pena.
 
Pode-se destacar ainda, nesse contexto, os chamados ordálios (provas físicas), que consistiam em submeter
uma pessoa a uma espécie de jogo, de luta com seu próprio corpo, para constatar se venceria ou fracassaria.
Exemplo
Na época do Império Carolíngio, havia uma prova célebre imposta a quem fosse acusado de assassinato
em certas regiões do norte da França. O acusado devia andar sobre ferro em brasa e, dois dias depois,
se ainda tivesse cicatrizes, perdia o processo.Havia ainda outras provas como o ordálio da água, que
consistia em amarrar a mão direita ao pé esquerdo de uma pessoa e atirá-la na água. Se ela não se
afogasse, perdia o processo, porque a própria água não a recebia bem e, se ela se afogasse, teria ganho
o processo, visto que a água não a teria rejeitado. 
Todos esses afrontamentos do indivíduo ou de seu corpo com os elementos naturais são uma transposição
simbólica, cuja semântica deveria ser estudada, da própria luta dos indivíduos entre si. No fundo, trata-se
sempre de uma batalha, trata-se sempre de saber quem é o mais forte. No velho Direito germânico, o
processo é apenas a continuação regulamentada, ritualizada da guerra (FOUCAULT, 2005).
 
Ao longo das Idades Média e Moderna, diversos procedimentos de inquérito foram experimentados na medida
em que as resoluções dos litígios entre indivíduos foram sendo centralizadas pelo Estado. Com isso, os
métodos de depuração da verdade se formaram e se modificaram culturalmente.
Impunidade X Punitivismo
O estabelecimento da verdade, das penas cabíveis aos crimes, a aplicação dessas penas e a garantia de seu
cumprimento pelo Estado Moderno concorrem para o estabelecimento do princípio da “segurança jurídica”,
que rege o entendimento de que ao Estado cabe prover às relações humanas o maior grau de previsibilidade e
estabilidade possível. A questão é que nossa cultura penal, que é herdeira da Lei de Talião, desenvolveu-se
historicamente fundamentada na importância da extirpação do crime através da expiação do criminoso.
Temos, na verdade, toda uma cultura da
punição que atravessa os séculos. Corrompê-la
gera um sentimento de insegurança nas
pessoas, um temor de que se estabeleça a
desordem social. Desde a Inglaterra do séc.
XVII já era chamado de “luta de todos contra
todos” a um estado de natureza em que os
indivíduos, sem a regulação do Estado,
estariam livres para exercer os seus impulsos
uns sobre os outros, como animais, fazendo
valer, no final das contas, a lei do mais forte,
sem nenhuma racionalidade que organizasse o
convívio humano em função de um princípio
abstrato de justiça (HOBBES, 2003).
O crime é reverso da lei. Esta, de certa forma, cria o crime, ao prever, tipificar determinada conduta
como ilegal. Assim, um Estado eficiente deveria regular o conjunto de leis que rege o convívio, punindo
adequadamente os infratores e a radicalização dessa lógica que cria e sustenta uma cultura das
punições,estabelecendo a aplicação da pena como condição fundamental para a paz social.
O sociólogo Loïc Wacquant fez um amplo estudo sobre a cultura punitivista na Europa e no continente
americano, mostrando a inserção dessa cultura no sistema capitalista de produção. Ele conclui sobre o viés de
classe social que recorta a aplicação de penalidades pelos Estados nos dois continentes. Segundo o autor, o
Estado mínimo preconizado pelo neoliberalismo – a “mão invisível” (SMITH, 2013) – possui um revés: a mão de
ferro do punitivismo que se abate preferencialmente sobre as classes pobres.
Loïc Wacquant
Eu nasci e cresci no sul da França. Fiz meus estudos na França, inicialmente em Economia Industrial e
depois em Sociologia. Fui para os EUA em 1985 para fazer meu doutorado na Universidade de Chicago.
Trabalhei inicialmente sobre as desigualdades urbanas e a marginalidade social na cidade. Foi meu
trabalho sobre a marginalidade urbana que me levou a encontrar a prisão, porque, para fazer um estudo
sobre a transformação do gueto negro de Chicago, inscrevi-me em um clube de boxe do gueto como
forma de fazer uma observação participante e descobri que todos os meus colegas de boxe haviam
passado pela prisão. Fiz esse trabalho de campo para me aproximar da realidade cotidiana, em
particular, da juventude negra e pobre do gueto de Chicago. (WACQUANT apud BOCCO et al, 2008)
Politicamente permanentemente
O estabelecimento de políticas de segurança pública que passa pelo policiamento permanente de
áreas socioeconomicamente degradadas, como é o caso das citès na França, dos guetos norte-
americanos e das favelas brasileiras, com suas relativamente recentes Unidades de Polícia
Pacificadora.
Privatização dos presídios
O processo de privatização dos presídios norte-americanos, que indica a transformação das
penalidades em um lucrativo negócio, uma vez que a reclusão penal é um sistema que muito onera o
Estado e que as prisões tendem a ser mal administradas pelo poder público, que não consegue, de
fato, com esse sistema, ressocializar o criminoso.
No fim das contas, é como se o encarceramento em massa fosse uma forma eficaz, na contemporaneidade,
de gerir o enorme contingente de mão de obra que não encontra lugar no mercado de trabalho. E numa
perspectiva ainda mais atual, a questão racial pode ser percebida, presente na dinâmica cultural do
encarceramento:
O que poderíamos chamar de germe do sistema criminal brasileiro já se iniciou punitivista. De 1500 a
1822, o que seria um código penal eram as Ordenações Filipinas, notadamente o Livro V, onde
predominava a esfera privada e da relação senhor/proprietário-escravizado/propriedade. Com isso, a
lógica do direito privado imperava já no nascedouro do nosso sistema e, dado o caráter violento do
escravismo, já tinha em seu cerne as práticas de tortura, fossem psicológicas, fossem físicas, por
mutilações e abusos sofridos pelos escravizados. Havia, com isso, diferenciação das penas entre
escravizados e livres. Um exemplo é a execução da pena capital em que os “bem-nascidos” eram
executados pelo machado, considerada uma morte digna, e aos demais era utilizada a corda,
considerada uma morte desonrosa. Posteriormente essa diferenciação não aparecerá na letra da lei, mas
será́ exercida e sentida na aplicação da punição aos réus.
Borges, 2019
A população carcerária, no Brasil atual, caracteriza bem isso, por ter uma cor de pele específica. Não será
porque pessoas negras delinquem mais que brancas, nem porque pessoas pobres (em sua maioria negras)
delinquem mais que as ricas. Há, talvez, um recorte social do tipo de crime cometido pelos indivíduos e um
direcionamento do aparato punitivista do Estado para esses crimes, que passam a ser considerados de maior
poder ofensivo, seja porque o racismo é estrutural e pode orientar subliminarmente os próprios julgamentos e
sistemas de acusações, seja porque pessoas pobres (em sua maioria negras) não possuem os recursos
necessários para custear profissionais com maior formação e experiência.
 
Essa situação não nasceu em nossos dias:
Com relação aos padrões de detenção, as pesquisas de 1810 a 1821 demonstram o critério de cor. São
pouquíssimos os brancos presos. No Rio de Janeiro da época (quase metade da população era negra),
80% dos julgados eram escravos, 95% nascidos na África, 19% ex-escravos e apenas 1% livres. No
sistema penal dirigido à escravidão, os principais motivos para a prisão de escravos eram fuga ou prática
de capoeira.
Batista, 2003
Resta-nos, portanto, não somente aprofundar o conteúdo aqui apresentado, mas, principalmente,
compreender nosso papel nesse processo, buscando formas, cada vez mais eficientes, institucionais e
pessoais, de combatermos a violência.
 
No vídeo a seguir, o especialista Dennis Novaes apresenta a relação entre os conceitos de impunidade e
violência no contexto do tema estudado. Vamos assistir!
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Fala, mestre!
O vídeo explica o papel do advogado, que pode atuar tanto na defesa quanto na acusação em um caso
judicial. Ele esclarece a diferença entre autor (quem propõe a ação) e réu (quem se defende). Além disso,
aborda as variações na advocacia (civil e criminal), a função do Ministério Público como acusador e a do
defensor público. O juiz é quem julga os casos, podendo haver recurso para instâncias superiores como os
desembargadores e tribunais superiores (STJ, STF, TSE). O processo judicial é detalhado desde a proposição
da ação até a possibilidade de recursos em instâncias superiores, enfatizando que a justiça envolve muitos
procedimentos e recursos.
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Fala, mestre!
O vídeo aborda a visão sobre a morte de Marielle Franco, destacando como ela se posicionava contra os
interesses da elite e ocupava um espaço inesperado na sociedade como uma mulher negra e homossexual. De
acordo com a análise apresentada, o assassinato de Marielle foi um ato político destinado a silenciar vozes
dissidentes. O vídeo também menciona que, embora já se conheça a identidade dos executores, ainda falta
esclarecer quem foram os mandantes do crime. Segundo o relato, grande parte da sociedade já está ciente da
natureza política do ato e acredita-se que a verdade completa será revelada em breve.
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Verificando o aprendizado
Questão 1
Sobre a relação abordada entre punitivismo e impunidade, podemos afirmar que:
A
A impunidade pode ser pensada como uma propaganda de uma cultura punitivista.
B
A impunidade e o punitivismo são, na verdade, o mesmo processo social.
C
O punitivismo é um dispositivo cultural superado pelas sociedades contemporâneas após o surgimento do que
Durkheim chamou de penas restitutivas.
D
O punitivismo possui estreita relação com a igualdade de direitos na nossa sociedade.
E
A impunidade é o maior motivo da proliferação da violência no Brasil e no mundo.
A alternativa A está correta.
A impunidade, vista através das lentes da desnaturalização, é um dispositivo cultural, uma imagem que a
sociedade pode ter a respeito de si mesma. De acordo com os exemplos históricos em que isso se dá, tem
a ver com o estabelecimento de uma demanda de justiça atrás do anseio da população por uma mais ampla
aplicação das punições legais e de um reforço cultural da importância da punição/condenação.
Questão 2
Para Durkheim, as penas punitivas estão presentes:
A
Exclusivamente nas sociedades complexas, uma vez que as sociedades primitivas possuem maior habilidade
política para a resolução de conflitos.
B
Exclusivamente nas sociedades contemporâneas tribais, em que os líderes políticos precisam de fortes
exemplos daquilo que não pode ser feito.
C
Exclusivamente em sociedades simples ou primitivas, como é o caso de tribos e das grandes sociedades da
Idade Média.
D
Principalmente em sociedades cujos valores sociais mais fundamentais e compartilhados por todos possam
sofrer atentados na formade ilegalismos.
E
Tanto em sociedades simples quanto em sociedades complexas, tendo sido o fruto do desenvolvimento das
penas restitutivas.
A alternativa D está correta.
As penas punitivas são aquelas mais primitivas em termos de surgimento histórico, originadas em
sociedades nas quais a violação de valores importantes tinha um grande efeito emocional na população, o
que gerava a demanda por expiação/suplício do criminoso.
4. Conclusão
Considerações finais
No decorrer dos três módulos, vimos como a violência é um fenômeno complexo com implicações variadas
para a vida em sociedade.
 
Em primeiro lugar, analisamos de que forma a violência esteve presente na constituição da identidade
nacional. O processo histórico que deu origem ao Brasil enquanto Estado-nação foi permeado por conflitos e
disputas violentas pelo domínio sobre um território.
 
Em seguida, refletimos sobre as populações menorizadas e como as políticas públicas podem fomentar uma
sociedade verdadeiramente democrática. Para isso, é necessário que os grupos alijados dos espaços de
poder tenham voz e sejam representados, mas também que as minorias tenham seus direitos preservados.
 
Por fim, apresentamos como a punição e os tipos de pena se constituíram em diferentes períodos históricos e
sociedades. A relação entre impunidade e violência é mais complexa do que o senso comum muitas vezes faz
parecer e, por esse motivo, uma abordagem socioantropológica sobre esse fenômeno é fundamental para a
criação de políticas públicas eficazes.
Podcast
Agora com a palavra o especialista Dennis Novaes, relembrando tópicos abordados neste tema e
comentando sobre a sua aplicação na prática. Vamos ouvir!
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Acesse a versão digital para ouvir o áudio.
Fala, mestre!
Este é um vídeo sobre uma série que aborda temas de machismo estrutural, feminismo e a luta por igualdade
de gênero. O vídeo expõe comentários e situações cotidianas que refletem o machismo e discute a
importância do reconhecimento e da luta contra essa discriminação. A série pretende trazer esses debates de
forma acessível e menos cansativa, com o objetivo de educar e conscientizar a sociedade. O vídeo começa
mostrando exemplos típicos de machismo no dia a dia, como comentários sobre roupas, questionamentos
sobre a maternidade e a ideia de que certas carreiras não são apropriadas para mulheres. Aborda também o
impacto do machismo na vida das mulheres, ressaltando que ele reforça a violência e limita as possibilidades
delas. A série esclarece conceitos como machismo estrutural, feminismo e empoderamento feminino, e mostra
que a mudança começa com a compreensão desses problemas. Destaca a importância de compreender e
questionar os papéis de gênero impostos socialmente, levando em consideração que o machismo não apenas
prejudica mulheres, mas também limita homens. São apresentadas as ondas do feminismo, desde a luta pelo
direito ao voto até o atual ativismo nas redes sociais, destacando a evolução e a abrangência do movimento.
Explica-se que o objetivo do feminismo é garantir às mulheres a liberdade de fazer suas próprias escolhas e
promover a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. O vídeo termina com a mensagem de que a
transformação da sociedade é um esforço coletivo e contínuo. Para alcançar uma sociedade mais justa e
igualitária, é necessário educar, debater e mudar atitudes tanto na esfera privada quanto na pública.
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Fala, mestre!
O vídeo propõe uma reflexão sobre os excessos no futebol, destacando como eles podem levar à violência e
ao preconceito, especialmente racial. O comentarista observa que incidentes de racismo são mais comuns em
estádios europeus do que no Brasil, celebrando a diversidade e a integração social do público brasileiro. Ele
sugere que o Brasil está construindo uma identidade nacional única, marcada pelo respeito às diferenças
culturais e linguísticas. Além disso, o vídeo aborda a influência negativa de extremismos e preconceitos no
esporte, analisando também o impacto histórico de conflitos, como a Guerra Civil Espanhola, e a forma como
grupos de futebol podem refletir ou exacerbar essas tensões. A discussão finaliza ressaltando a dualidade do
futebol, que pode tanto unir quanto dividir, comparando-o a uma "faca de dois legumes", segundo a famosa
expressão do ex-presidente do Corinthians, Vicente Matheus.
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A obra de Michel Foucault é uma referência que atravessa diversas áreas disciplinares a respeito do
tema da punição. Para se aprofundar na discussão, leia o livro Vigiar e Punir, obra clássica do autor.
Veja a dissertação de mestrado em Antropologia Social de Andréa Regina Moura Mendes sobre o ritual
popular de “malhação do Judas” na Semana Santa. O trabalho se chama: A Malhação do Judas: rito e
identidade.
Para conhecer a instigante reflexão de Eliane Tânia Martins de Freitas sobre a relação entre crimes
violentos e santificação nas crenças populares sobre cangaceiros famosos no Nordeste, leia o artigo 
Violência e Sagrado, o que no criminoso anuncia o santo?
O livro O que é encarceramento em massa?, escrito por Juliana Borges, apresenta de forma didática a
situação dramática do sistema carcerário no Brasil. Somos um dos países que mais prendem no mundo,
mas isso não tem se refletido na redução dos índices de violência, pelo contrário. A autora traz
reflexões fundamentais para quem deseja compreender o encarceramento e a violência no Brasil
contemporâneo.
Para conhecer uma das polêmicas em torno da figura de Zumbi dos Palmares, leia a breve reportagem
da revista Veja (21 nov. 2015), assinada por Leandro Narloch e intitulada Zumbi tinha escravos. E daí?.
Como forma de aprofundarmos a visão da relação dos indígenas com a terra, vale a leitura apresentada
por Thomas Woods (Historiador de Harvard) em seu artigo Os índios americanos realmente eram
ambientalistas?.
Referências
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insegurança social: entrevista com Loïc Wacquant. In: Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p.
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