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Microbiologia Giárdia Lamblia Conceitos Morfológicos A Giardia lamblia apresenta duas formas morfológicas principais: → Trofozoíto (forma ativa e multiplicativa): → Tem formato de pêra ou "pipa" e mede cerca de 12-15 µm de comprimento por 5-9 µm de largura. → Possui dois núcleos grandes (com nucléolo) e quatro pares de flagelos que permitem sua locomoção. → Apresenta um disco ventral adesivo, que utiliza para se fixar à mucosa intestinal. → Não sobrevive bem fora do hospedeiro. → Cisto (forma resistente e infecciosa): → Ovalado, mede cerca de 8-12 µm de comprimento. → Possui parede espessa e resistente, que o protege no ambiente externo. → Pode sobreviver por semanas a meses em água contaminada. → Contém quatro núcleos e quando ingerido libera dois trofozoítos no intestino delgado. Ciclo O ciclo de vida da Giardia é monoxênico (ocorre em um único hospedeiro, o humano) e envolve duas fases: → Ingestão do cisto: O ser humano adquire a infecção ao consumir água ou alimentos contaminados com cistos viáveis. → Excistamento: No estômago e intestino delgado, o cisto libera dois trofozoítos, que se aderem à mucosa do duodeno e jejuno. → Multiplicação: Os trofozoítos se multiplicam por divisão binária e colonizam o intestino, podendo interferir na absorção de nutrientes. → Encistamento: Parte dos trofozoítos se transforma novamente em cistos à medida que se deslocam para o cólon. → Eliminação fecal: Os cistos são liberados nas fezes e podem contaminar a água e alimentos, perpetuando a transmissão. Os trofozoítos não sobrevivem fora do hospedeiro, enquanto os cistos podem permanecer viáveis no ambiente por semanas a meses. Localização no Trato Gastrointestinal → A Giardia lamblia coloniza principalmente o duodeno e jejuno (parte inicial do intestino delgado). → Usa seu disco ventral adesivo para se fixar às células epiteliais intestinais, impedindo a absorção de nutrientes e promovendo inflamação. → Diferente de outros parasitas intestinais, não invade os tecidos, mas pode causar dano à mucosa intestinal. Mecanismos de Patogenicidade Atrofia das microvilosidades intestinais → Prejudica a absorção de nutrientes, levando à má absorção de gorduras e carboidratos. Produção de toxinas e enzimas → Pode danificar a mucosa intestinal. Diminuição da produção de enzimas digestivas → Afeta a digestão e absorção de nutrientes. Reação inflamatória local → Pode desencadear diarreia osmótica e inflamatória. Em crianças, a giardíase pode levar à desnutrição crônica, comprometendo o crescimento e o desenvolvimento. Transmissão A infecção ocorre de forma fecal-oral, principalmente por: → Ingestão de água contaminada (rios, lagos, fontes maltratadas); → Alimentos contaminados manuseados por pessoas infectadas sem higiene adequada; → Contato pessoa a pessoa (mãos contaminadas, creches, locais com saneamento precário); → Relações sexuais oroanais em alguns casos. A água é o principal veículo de transmissão, especialmente em áreas com saneamento básico deficiente. Sintomatologia → A giardíase pode variar de assintomática a grave, dependendo do sistema imunológico do paciente. Os principais sintomas incluem: → Diarreia fétida e persistente (pode ser explosiva e sem sangue); → Esteatorreia (fezes oleosas devido à má absorção de gordura); → Flatulência excessiva e distensão abdominal; → Dor abdominal e cólicas intestinais; → Náuseas e vômitos ocasionais; → Perda de peso e desnutrição (em infecções crônicas). Em crianças, pode causar desnutrição e atraso no crescimento devido à má absorção de nutrientes! Diagnóstico Exame parasitológico de fezes → Busca por cistos ou trofozoítos (pode ser necessário repetir 3-6 amostras, pois a eliminação é intermitente). Teste de ELISA → Detecta antígenos de Giardia em amostras fecais (alta sensibilidade). PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) → Detecta DNA do parasita (método mais preciso, mas menos acessível). Enterotest (teste do barbante) → Método alternativo para coletar trofozoítos intestinais. Tratamentos → Metronidazol (1ª escolha, 5-7 dias); → Tinidazol (dose única); → Nitazoxanida (alternativa eficaz, 3 dias). O tratamento deve ser estendido a toda a família em casos de surtos, pois a reinfecção é comum! Medidas profiláticas (prevenção) → Saneamento básico adequado (tratamento da água, esgoto); → Filtragem ou fervura da água antes do consumo (especialmente em áreas rurais); → Higiene pessoal rigorosa (lavagem das mãos antes das refeições e após ir ao banheiro); → Higienização correta dos alimentos (lavar frutas, verduras com solução clorada); → Educação sanitária sobre os riscos de transmissão. Filtros de carvão ativado e métodos químicos (cloração, iodo) podem não ser totalmente eficazes contra cistos de Giardia, sendo recomendada a fervura da água em áreas de risco.