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JUNTOS⏐GRUPO DE ESTUDOS EM SERVIÇO SOCIAL Preparatório para Concurso UFF/2023 Apostila Serviço Social - aula 3 BEHRING, ELAINE ROSSETTI e BOSCHETTI, IVANETE. Política Social: Fundamentos e História. Ed. Cortez; 9ª edição, 2018; BOSCHETTI, IVANETE. A política de seguridade social no Brasil, In: Conselho Federal de Serviço Social -CFESS e Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS (Organizadoras) Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais, 1ª edição, Brasília. CFESS/ ABEPSS, 2009. PARTE 1 -Política Social: Fundamentos e História. (BEHRING, ELAINE ROSSETTI e BOSCHETTI, IVANETE. Política Social: Fundamentos e História. Ed. Cortez; 9ª edição, 2018) O QUE VEM POR AÍ? 1- Para Behring e Boschetti (2007, p.64), o surgimento das políticas sociais foi gradual e diferente entre os países. A variação tem relação direta com os movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, o grau de desenvolvimento das forças produtivas, e a correlação e composições de força no âmbito do Estado. A respeito da emergência das políticas sociais assinale a alternativa correta: a) A introdução de políticas sociais foi pautada na lógica da seguridade social. b) O reconhecimento público de que a incapacidade para trabalhar devia-se a comportamentos morais contribuiu para o surgimento das políticas sociais. c) Com a emergência das políticas sociais restringe-se a ideia de cidadania e focaliza-se suas ações nas situações de extrema pobreza. d) É no final do século XIX que o Estado capitalista passa a assumir e realizar ações sociais de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade. e) O sistema de proteção social que se constitui com o surgimento das políticas sociais foi influenciado pelo Plano Beveridge. RESPOSTA: _____ 1 1. Capitalismo, liberalismo e origens da política social (BEHRING, Elaine Rosseti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2011. Biblioteca básica de serviço social; vol.2.) As políticas sociais, como processo social, se gestaram na confluência dos movimentos de ascensão do capitalismo com a Rev Industrial, das lutas de classe e do desenvolvimento da intervenção estatal. Sua origem é relacionada aos movimentos de massa social-democratas e ao estabelecimento dos Estado-nação na Europa ocidental do final do séc. XIX, mas sua generalização situa-se na passagem do capitalismo concorrencial para o monopolista, em sua fase tardia, pós 1945. Ao lado da caridade privada e de ações filantrópicas, algumas iniciativas pontuais com características assistenciais são identificadas como protoformas de políticas sociais. Formas de atuação no “social” que antecederam a Revolução Industrial: Estatuto dos Trabalhadores – 1349 Estatuto dos Artesãos – 1563 Lei dos Pobres elisabetanas – 1531 e 1601 Lei do Domicílio – 1662 →Estas legislações estabeleciam um “código coercitivo do trabalho” e seu caráter punitivo e repressivo e não protetor. Speenhamland – 1795 (Caráter menos repressor que as outras. Pagamento de abono financeiro, se baseava no valor do pão. Contrapartida – proibia a mobilidade da mão-de-obra). Lei revisora das Leis dos Pobres – Nova Lei dos Pobres - 1834 (revogou os direitos assegurados pela Speenhamland, restabeleceu assistência interna nos albergues para os pobres inválidos, restituiu trabalhos forçados aos pobres capazes). Se essas legislações sociais pré-capitalistas eram punitivas, restritivas e agiam na intersecção da assistência social e do trabalho forçado, o “abandono” dessas tímidas e repressivas medidas de proteção no auge da Revolução Industrial lança os pobres à servidão da liberdade sem proteção, provocando o pauperismo como fenômeno mais agudo decorrente da chamada questão social. Foram as lutas pela jornada normal de trabalho que provocaram o surgimento de novas regulamentações sociais e do trabalho pelo Estado. Na sociedade pré-industrial ou não capitalista, as atividades de trabalho eram indissociáveis das demais atividades da vida social. Na sociedade capitalista burguesa, o trabalho perde seu sentido como processo de humanização, sendo incorporado como atividade natural de produção para a troca, independente de seu contexto histórico. 2 ● Questão social e política social A questão social se expressa nas refrações das relações de exploração do capital sobre o trabalho, e por outro lado, os sujeitos históricos engendram formas de seu enfrentamento. O debate sobre questão social deve incorporar, necessariamente, os componentes de resistência e de ruptura presentes nas expressões e na constituição de formas de enfrentamento da questão social, ou seja, o conceito está impregnado de luta de classes, sem o que se pode recair no culto da técnica dos mapas da exclusão, das fotografias, da vigilância da exclusão. Em resumo, podemos dizer que a luta em torno da jornada de trabalho, travada na segunda metade do séc. XIX e as respostas das classes e do Estado são, portanto, as primeiras expressões contundentes da questão social, já repleta naquele momento de ricas e múltiplas determinações. Há o movimento dos sujeitos políticos – as classes sociais. Começa a ocorrer o deslocamento do problema da desigualdade e da exploração como questão social, a ser tratada no âmbito estatal e pelo direito formal, que discute a igualdade de oportunidades, em detrimento da igualdade de condições. O debate acerca da jornada de trabalho mostra a irrupção da luta de classes e da questão social, bem como de suas formas de enfrentamento, com o início da regulamentação da relação capital/trabalho. Nesse sentido, a legislação fabril pode ser compreendida como a precursora do papel que caberá ao Estado na relação com as classes e os direitos sociais no século XX. ● Liberalismo e a negação da política social O período que vai de meados do séc. XIX até 1930 é profundamente marcado pelo predomínio do liberalismo e de seu principal sustentáculo: o princípio do trabalho como mercadoria e sua regulação pelo livre mercado. Nesse período há uma débil intervenção do Estado na garantia de direitos sociais sob o capitalismo liberal não emanou de uma natureza predefinida do Estado, mas foi criada e defendida deliberadamente pelos liberais, numa disputa política forte com os chamados reformadores sociais. Para aqueles, o Estado não devia intervir na regulação das relações de trabalho nem deveria se preocupar com o atendimento das necessidades sociais. Mas, paradoxalmente, podia e devia agir firmemente para garantir os interesses liberais de estabelecimento do mercado livre na sociedade civil. ESTADO LIBERAL: Cada indivíduo agindo em seu próprio interesse econômico, quando atuando junto a uma coletividade de indivíduos, maximizaria o bem-estar coletivo. É o funcionamento livre e ilimitado do mercado que asseguraria o bem-estar. É a “mão invisível” do mercado livre que regula as relações econômicas e sociais e produz o bem comum. O predomínio do mercado como supremo regulador das relações sociais, contudo, só pode se realizar na condição de uma suposta ausência de intervenção estatal. O papel do Estado, uma espécie de mal necessário na perspectiva do liberalismo, resume-se a fornecer a base legal com a qual o mercado pode melhor maximizar os 3 “benefícios aos homens”. A síntese que segue de alguns elementos essenciais do liberalismo ajuda a melhor compreender a reduzida intervenção estatal na forma de políticas sociais nesse período: a) Predomínio do individualismo. Os liberais consideram o indivíduo (e não a coletividade) como sujeito de direito, de modo que os direitos civis foram os primeiros a ser reconhecidos pelo Estado liberal no século XVIII, pois a liberdade de ir e vir, de adquirir e comercializar propriedade era um requisito fundamental para instituir a sociedade de classe. b) O bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo. Para os liberais, cada indivíduo deve buscar o bem-estar para si einovador e intencionar compor um sistema amplo de proteção social, a seguridade social acabou se caracterizando como um sistema híbrido, que conjuga direitos derivados e dependentes do trabalho (previdência) com direitos de caráter universal (saúde) e direitos seletivos (assistência). As diretrizes constitucionais, como universalidade na cobertura, uniformidade e equivalência dos benefícios, seletividade e distributividade dos benefícios, irredutibilidade do valor dos benefícios, equidade no custeio, diversidade do financiamento e caráter democrático e 9 descentralizado da administração (C.F, artigo 194), não foram totalmente materializadas e outras orientaram as políticas sociais de forma bastante diferenciada, de modo que não se instituiu um padrão de seguridade social homogêneo, integrado e articulado. A onda neoliberal que assolou o país a partir da década de 1990 foi determinante para o desenvolvimento de uma política econômica voltada para a rentabilidade econômica em detrimento dos avanços sociais. A crise econômica vivida no país foi conduzida por um Estado que não assumiu compromissos redistributivos e o “conceito retardatário, híbrido, distorcido ou inconcluso da seguridade social brasileira, conforme apontam importantes pesquisadores do tema, encontrou dificuldades antigas e novas ainda maiores para se consolidar”. QUESTÃO DE PROVA: Em toda a América Latina, ocorre um aumento de demanda por benefícios e serviços, o que se explica pela permanência de “Estado de mal-estar”, em função da não implantação ou mesmo destruição dos incipientes sistemas de seguridade social, que vivem um processo de contenção, limitação ou desintegração. A não instituição de uma “sociedade salarial” no Brasil, que se caracterizaria pela generalização de empregos assalariados estáveis e garantidores de direitos, faz com que aproximadamente metade da população economicamente ativa permaneça fora do mercado formal de trabalho e, portanto, sem garantia de acesso aos direitos decorrentes do trabalho, tais como salário regular, seguro-desemprego e seguro acidente de trabalho, e também daqueles da seguridade social condicionados a um emprego ou a uma contribuição como autônomos, tais como aposentadorias e pensões, 13o salário, salário-família e auxíliosaúde. ● O Permanente e Gradual Desmonte da Seguridade Social 24 Praticamente todos os princípios constitucionais estão sendo desconsiderados profundamente: a universalidade dos direitos, a uniformidade e equivalência dos direitos, a diversidade de financiamento no sentido de transferir recursos do capital para o trabalho e a gestão democrática e descentralizada. O princípio de seletividade e distributividade é o único que não está sendo derruído, ao contrário, está sendo colocado em prática com bastante rigor. Os caminhos desse desmonte seguem diferentes tendências. O primeiro caminho do desmonte é o da desconfiguração dos direitos previstos constitucionalmente. Estes não foram nem uniformizados e nem universalizados. O segundo caminho do desmonte é a fragilização dos espaços de participação e controle democrático previstos na Constituição, como Conselhos e Conferências. Enquanto instâncias deliberativas e participativas, os Conselhos não estão sendo consolidados. A terceira, e talvez mais destrutiva forma de desmonte, é a via do orçamento. As fontes de recurso não foram diversificadas, contrariando o dispositivo constitucional, e permanece a arrecadação predominantemente sobre folha de salários. Ocorre uma usurpação de 20% dos recursos da seguridade social para o pagamento da dívida pública por meio da Desvinculação das Receitas da União. Em relação ao financiamento, quem paga a conta da seguridade social é, majoritariamente, a contribuição dos empregadores e dos trabalhadores sobre folha de salário, o que torna o financiamento regressivo, já que sustentado nos rendimentos do trabalho. Não se pode compreender a seguridade social em sua totalidade sem entender sua relação com a política econômica. A redução dos direitos, a restrição dos espaços democráticos de controle democrático e as contenções dos recursos têm íntima relação com a política econômica, que engole parte significativa do orçamento da seguridade social. Esse quadro revela que a seguridade social brasileira, fruto das lutas e conquistas da classe trabalhadora, é espaço de fortes disputas de recurso e de poder, constituindo-se em uma arena de conflitos. A defesa e ampliação dessas conquistas e o posicionamento contrário às reformas neoliberais regressivas são desafios permanentes e condições para consolidação da seguridade social pública e universal. QUESTÕES DE CONCURSOS ANTERIORES 15- No Brasil, os princípios do modelo bismarckiano predominam na ___________, e os do modelo beveridgiano orientam o atual sistema público de saúde (com exceção do auxílio-doença, tido como seguro saúde e regido pelas regras da Previdência) e de Assistência Social, o que faz com que a seguridade social brasileira se situe entre o seguro e a ____________. Marque a opção que preenche CORRETA e respectivamente as lacunas. A)esfera pública / esfera privada B)previdência social / assistência social C)universalização dos direitos / política pública D)assistência social / previdência social E)sociedade capitalista / transferência de renda 25 16-Em relação ao padrão de seguridade social no Brasil e às respectivas políticas sociais que a compõem, assinale a alternativa correta. A)O período desenvolvimentista entre 1930 e 1945, durante o governo de Getúlio Vargas, estabeleceu as principais diretrizes sustentadoras do modelo de seguridade social no Brasil, existente até a atualidade. B)As políticas sociais que compõem a seguridade social no Brasil formam um sistema homogêneo fundamentado nos princípios da universalidade e da gratuidade. C)Com as conquistas sociais da Constituição Federal de 1988, o padrão de seguridade no Brasil consolidou-se na perspectiva do direito social. D)O capitalismo brasileiro implantou um modelo de seguridade social sustentado predominantemente na lógica do seguro. E)Com o desenvolvimento do neoliberalismo a partir da década de 1990 no Brasil, todas as políticas que compõem a seguridade social passaram a ter parte dos seus serviços privatizados no País. 17-Sobre os caminhos do permanente e gradual desmonte da seguridade social brasileira, de acordo com Boschetti (2009), julgue as afirmativas abaixo, marcando V para as que forem verdadeiras e F para as que forem falsas. ( ) Deu-se a desconfiguração dos direitos previstos constitucionalmente, que não foram nem uniformizados e nem universalizados. ( ) Ocorreu a ampliação da participação indireta nos espaços de controle social das políticas sociais. ( ) O princípio de seletividade e distributividade é o único que não é colocado em prática pelo governo. ( ) Foram fragilizados os espaços de participação e controle democrático previstos na Constituição, como conselhos e conferências. Enquanto instâncias deliberativas e participativas, os conselhos não estão sendo consolidados. ( ) As fontes de recurso não foram diversificadas, contrariando o dispositivo constitucional, e permanece a arrecadação predominantemente sobre folha de salários. Em relação ao financiamento, quem paga a conta da seguridade social é, majoritariamente, a contribuição dos empregadores e dos trabalhadores sobre folha de salário, o que torna o financiamento regressivo, já que sustentado nos rendimentos do trabalho. A alternativa que apresenta a sequência CORRETA de respostas, de cima para baixo, é A)V; F; F; V; V. B)V; V; V; V; V. C)F; F; V; V; F. D)V; F; F; V; F. E)F; V; F; F; V. 18- Boschetti (2009), a respeito da política de seguridade social no Brasil, avalia que há um permanente e gradual desmonte da mesma. Segundo a autora, “praticamente todos os princípios constitucionais estão sendo desconsiderados profundamente [...]. Todos esses princípios estão sendo gradualmente diluídos em sucessivascontrarreformas ou medidas tidas como de natureza técnica, mas que, na verdade, têm um nítido sentido político de desestruturação da seguridade social”. A 26 autora ressalta que somente um dos princípios não está sendo derrubado, “ao contrário, está sendo colocado em prática com bastante rigor”. Assinale-o. A)Universalidade. B)Uniformidade e equivalência. C)Diversidade de financiamento. D)Seletividade e distributividade. 19- No Brasil, o modelo de seguridade social implementado ao longo da sua trajetória sócio-histórica tem sido predominantemente sustentado pela lógica do(a): a) assistência b) proteção c) seguro d) labor 20-Os princípios estruturantes que vieram a implementar as primeiras iniciativas de benefícios previdenciários que constituíram a seguridade social no século XX nasceram na: a) Inglaterra, no início do século XX b) Canadá, na metade do século XX c) Alemanha, no final do século XIX d) França, na metade do século XIX 21- Boschetti (2009), referindo-se à política da Seguridade Social no Brasil, afirma que predomina na Previdência Social, os princípios: a) do modelo beveridgiano. b) do modelo bismarckiano. c) do modelo privatista. d) do modelo seletivo. e) do modelo protecionista. 22- Embora pretendesse ter um caráter inovador e intencionar compor um sistema amplo de proteção social, a seguridade social a partir da Constituição de 1988 acabou se caracterizando como um sistema híbrido. Na análise de Boschetti (2009), isso ocorreu porque a Constituição a) redirecionou a política de saúde para aqueles que dela necessitam, enquanto a assistência e a previdência tornaram-se universais. b) conjugou direitos relacionados ao trabalho (previdência), com direitos de caráter universal (saúde) e direitos seletivos (assistência). c) definiu como direitos universais a previdência e a assistência social, ao passo que a saúde assumiu um caráter seletivo. d) estabeleceu a saúde e a assistência social como direitos universais, enquanto a previdência tornou-se seletiva. 27 23- A análise de Boschetti (2009) acerca do atual modelo de proteção social brasileiro aponta para um processo de desmonte permanente e gradual, no qual seus princípios constitucionais estão sendo diluídos em sucessivas contrarreformas. Nessa lógica, para a autora, o único princípio da seguridade social que vem sendo assegurado com rigor é concebido como: A) diversidade da base de financiamento B) universalidade da cobertura assistencial C) seletividade na prestação dos benefícios D) equidade na forma de participação no custeio 24- Não se pode compreender a seguridade social em sua totalidade sem entender sua relação com a política econômica. A redução dos direitos, a restrição dos espaços democráticos de controle democrático e as contenções de recursos têm íntima relação com a política econômica, que engole parte significativa do orçamento da seguridade social. BOSCHETTI, Ivanete. A política de seguridade social no Brasil. In: CFESS. Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CEFESS/ABEPSS, 2009, p. 335. Na perspectiva de análise do tema do texto, identifica-se que, na atualidade, praticamente todos os princípios constitucionais do padrão de seguridade social no Brasil estão sendo desconsiderados, com exceção da A)seletividade e da distributividade. B)uniformidade e da equivalência dos direitos. C)diversidade no financiamento. D)gestão democrática e descentralizada. E)obrigação contributiva. 28 GABARITO 1- D 7-B 13-C 19-C 2-B 8-E 14-A 20-C 3-B 9-D 15-B 21-B 4-D 10-D 16-D 22-B 5-A 11-C 17-A 23-C 6-A 12-C 18-C 24-A 29sua família por meio da venda de sua força de trabalho no mercado. Assim, não cabe ao Estado garantir bens e serviços públicos para todos. Nessa perspectiva, cada um, individualmente, deve garantir seu bem-estar, o que levaria todos os indivíduos a atingir uma situação de bem-estar. Tal princípio se funda em outro — a liberdade em detrimento da igualdade. c) Predomínio da liberdade e competitividade. A liberdade e a competitividade são entendidas como formas de autonomia do indivíduo para decidir o que é melhor para si e lutar por isso. Os liberais não reconhecem que a liberdade e a competitividade não asseguram igualdade de condições nem de oportunidades para todos. d) Naturalização da miséria. Os liberais vêem a miséria como natural e insolúvel, pois decorre da imperfectibilidade humana, ou seja, a miséria é compreendida como resultado da moral humana e não como resultado do acesso desigual à riqueza socialmente produzida. e) Predomínio da lei da necessidade. Baseados nas teses malthusianas, os liberais entendem que as necessidades humanas básicas não devem ser totalmente satisfeitas, pois sua manutenção é um instrumento eficaz de controle do crescimento populacional e do consequente controle da miséria. f) Manutenção de um Estado mínimo. Para os liberais, o Estado deve assumir o papel “neutro” de legislador e árbitro, e desenvolver apenas ações complementares ao mercado. Sua intervenção deve restringir-se a regular as relações sociais com vistas a garantir a liberdade individual, a propriedade privada e assegurar o livre mercado. g) As políticas sociais estimulam o ócio e o desperdício. Para os liberais, o Estado não deve garantir políticas sociais, pois os auxílios sociais contribuem para reproduzir a miséria, desestimulam o interesse pelo trabalho e geram acomodação, o que poderia ser um risco para a sociedade de mercado. h) A política social deve ser um paliativo. Como, na perspectiva liberal, a miséria é insolúvel e alguns indivíduos (crianças, idosos e deficientes) não têm condições de competir no mercado de trabalho, ao Estado cabe apenas assegurar assistência mínima a esses segmentos, como um paliativo. A pobreza, para os liberais, deve ser minorada pela caridade privada. ● As lutas da classe trabalhadora e a origem da política social Com o predomínio desses princípios defendidos pelos liberais e assumidos pelo Estado capitalista, não é difícil compreender que a resposta dada à questão social no final do século XIX foi sobretudo repressiva e apenas incorporou algumas demandas da classe trabalhadora, transformando 4 as reivindicações em leis que estabeleciam melhorias tímidas e parciais nas condições de vida dos trabalhadores, sem atingir o cerne da questão social. O Estado europeu liberal do século XIX foi pródigo no reconhecimento dos direitos civis orientados para a garantia da propriedade privada. Ao Estado cabia proteger o direito à vida, à liberdade individual e os direitos de segurança e propriedade. Esse Estado liberal tinha características de Estado policial e repressor e sua função primordial era não intervir na liberdade individual de modo a assegurar que os indivíduos usufruíssem livremente seu direito à propriedade e à liberdade. A mobilização e a organização da classe trabalhadora foram determinantes para a mudança da natureza do Estado liberal no final do século XIX e início do século XX. Pautada na luta pela emancipação humana, na socialização da riqueza e na instituição de uma sociabilidade não capitalista, a classe trabalhadora conseguiu assegurar importantes conquistas na dimensão dos direitos políticos, como o direito do voto, de organização em sindicatos e partidos. Essas conquistas, no entanto, não romperam com o capitalismo. O surgimento das políticas sociais foi gradual e diferenciado entre os países, dependendo dos movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, do grau de desenvolvimento das forças produtivas, e das correlações e composições de força no âmbito do Estado. Alguns elementos ajudam a demarcar a emergência das políticas sociais, tais como as lutas das classes trabalhadoras no final do século XIX; a introdução de políticas sociais orientadas pela lógica do seguro social na Alemanha, a partir de 1883, e as políticas sociais passam a ampliar a ideia de cidadania e desfocalizar suas ações, antes direcionadas apenas para a pobreza extrema. Welfare State: O que ajuda a demarcar a emergência de políticas sociais são alguns elementos surgidos no final do século XIX, decorrentes da luta da classe trabalhadora. O primeiro foi a introdução de políticas sociais orientadas pela lógica do seguro social na Alemanha, a partir de 1883. O segundo elemento apontado pelo autor é que as políticas sociais passam a ampliar a idéia de cidadania e desfocalizar suas ações, antes direcionadas apenas para a pobreza extrema. O modelo bismarckiano é identificado como sistema de seguros sociais, pois suas características assemelham-se à de seguros privados. Em relação aos direitos, os benefícios cobrem principalmente (e às vezes exclusivamente) os trabalhadores contribuintes e suas famílias; o acesso é condicionado a uma contribuição direta anterior e o montante das prestações é proporcional à contribuição efetuada. ● A grande crise do capital e a condição da política social O enfraquecimento das bases materiais e subjetivas de sustentação dos argumentos liberais ocorreu ao longo da segunda metade do século XIX e no início do século XX, como resultado de alguns processos político-econômicos como o crescimento do movimento operário que passou a 5 ocupar espaços políticos e sociais e a vitória do movimento socialista em 1917 na Rússia e seu efeito no fortalecimento do movimento operário; outro processo foi a concentração e monopolização do capital, demolindo a utopia liberal do indivíduo empreendedor orientado por sentimentos morais. A criação de empresas passou a depender de grande volume de investimento e dinheiro. A concorrência intercapitalista feroz entre grandes empresas de base nacional ultrapassou as fronteiras e se transformou em confronto aberto e bárbaro nas duas grandes guerras mundiais. Destaca-se ainda o papel da Grande Depressão de 1929 que iniciou no sistema financeiro americano e se alastrou pelo mundo. Com ela estava a desconfiança de que os pressupostos do liberalismo estavam errados. As políticas sociais se multiplicam lentamente ao longo do período depressivo, que se estende de 1914 a 1939, e se generalizam no início do período de expansão após a Segunda Guerra Mundial, o que teve como substrato a própria guerra e o fascismo, e segue até fins da década de 1960. A saída da crise e de todo o processo complexo da década é uma espécie de “contestação burguesa” do liberalismo ortodoxo, expressa principalmente na chamada “revolução keynesiana”. As proposições de Keynes estavam sintonizadas com a experiência do New Deal americano, e inspiraram especialmente as saídas europeias da crise, sendo que ambas têm um ponto em comum: a sustentação pública de um conjunto de medidas anticrise ou anticíclicas para amortecer as crises cíclicas de superacumulação e superprodução. ● E no Brasil? O Brasil é no presente, um país capitalista moderno, impregnado de vários passados. O processo de colonização entre os séculos XVI e XIX, na sua interpretação, serviu à acumulação originária de capital nos países centrais. No caso brasileiro, não se pode falar de políticas sociais sem destacar que a acumulação originária, o colonialismo e o imperialismo são momentos de um sentido geral da formação brasileira: uma sociedade e uma economia que se organizam para fora e vivem ao sabor das flutuações de interesses e mercados longínquos. Outro elemento é o peso do escravismo que marca deleteriamente a cultura, os valores, as ideias, a ética, a estética e os ritmos de mudança. O maior exemplo é a condição de trabalho nas relações sociais e no ambiente cultural brasileiro, carregados atéhoje de desqualificação, a qual é definidora da relação entre capital e trabalho no país. A condição geral de trabalho no país marca o instável, restrito e segmentado cenário que marcou a política social brasileira nos seus primórdios. Se a política social tem relação com a luta de classes, e considerando que o trabalho no Brasil, apesar de importantes momentos de radicalização, esteve atravessado pelas marcas do escravismo, informalidade e fragmentação e que as classes dominantes nunca tiveram compromissos democráticos e redistributivos. Nesse quadro que se observam as esparsas e frágeis de proteção social no país até a década de 1930, embora suas características ainda persistam na atualidade. Até 1887, nenhuma legislação social. Em 1888 há a criação de uma caixa de socorro para a burocracia pública, inaugurando uma dinâmica categorial de instituição de direitos que será a tônica da proteção social brasileira até os anos 60 do século XX. O ano de 1923 marca o formato da política social brasileira no período subsequente: aprova-se a Lei Eloy Chaves que institui a criação de Caixas de Aposentadorias e Pensão para algumas categorias estratégicas de trabalhadoras. As CAPS (1923) foram as formas originárias de previdência 6 social no país, para algumas categorias estratégicas de trabalhadores, a exemplo dos ferroviários e marítimos, dentre outros, junto com as IAPS (1926), sendo a primeira a dos funcionários públicos. 2 – Keynesianismo-fordismo e a generalização da política social O capitalismo tardio ou maduro caracteriza-se por um intenso processo de monopolização do capital, pela intervenção do Estado na economia e no livre movimento do mercado, constituindo-se oligopólios privados e estatais, e expande-se após a crise de 1929-32, e, sobretudo, após a Segunda Guerra Mundial. CAPITALISMO TARDIO O capitalismo tardio ou maduro caracteriza-se por um intenso processo de monopolização do capital, pela intervenção do Estado na economia e no livre movimento do mercado, constituindo-se oligopólios privados (empresas) e estatais (empresas e fundações públicas), e expande-se após a crise de 1929-1932 e, sobretudo, após a Segunda Guerra Mundial. ● Fundamentos sócio-históricos dos “anos de ouro” Keynes defendeu a liberdade individual e a economia de mercado, mas dentro de uma lógica que rompia com os dogmas liberais. Para ele o Estado tinha o papel de restabelecer o equilíbrio econômico, por meio de uma política fiscal, creditícia, e de gastos nos períodos de depressão como estímulo à economia. A política keynesiana a partir da ação do Estado, antes de evitar a crise, vai amortecê-la através de alguns mecanismos que seriam impensáveis pela burguesia liberal stricto sensu. A intervenção estatal foi pensada em dois pilares: por meio de pleno emprego e maior igualdade social. 1. Gerar emprego dos fatores de produção via produção de serviços públicos, além da produção privada; 2. Aumentar a renda e promover maior igualdade, por meio das instituições de serviços públicos, dentre eles as políticas sociais. O Estado, diga-se, o fundo público, na perspectiva keynesiana, passa a ter um papel ativo na administração macroeconômica, ou seja, na produção e regulação das relações econômicas e sociais. Nessa perspectiva, o bem estar ainda deve ser buscado individualmente no mercado, mas se aceitam intervenções do Estado na área econômica para garantir a produção e na área social, para pessoas consideradas incapazes. Ao keynesianismo agregou-se o pacto fordista – da produção em massa para o consumo de massa e dos acordos coletivos com os trabalhadores do setor monopolista em torno dos ganhos de produtividade do trabalho. O fordismo representou uma forma de regulação das relações sociais, em condições políticas determinadas. Para além da dimensão econômica, seu impulso ao processo de exploração da mais-valia relativa mostrou sua atuação na nova política de controle e gerência de trabalho. Ele identifica sensivelmente a relação social fordista como um esforço de produção de um novo homem para uma 7 nova sociedade capitalista. Isso implicava o controle sobre o modo de vida e de consumo dos trabalhadores. Seus métodos serão de fato adotados no segundo pós-guerra, colaborando para o esforço de guerra que disciplinou os trabalhadores nas novas formas de organização da produção e otimizou o processo de valorização do capital. Houve. Naquele momento, uma melhoria efetiva das condições de vida dos trabalhadores fora da fábrica como acesso a consumo e a sensação de estabilidade no emprego, contribuindo para diluir as lutas e levar a crer na possibilidade de combinar acumulação com certos níveis de desigualdade. A derrota do socialismo real e a capacidade de regeneração do capitalismo com base no keynesianismo-fordismo constituem os processo que dão fôlego aos “anos de ouro” do capital. ● As políticas sociais e a experiência do Welfare State O chamado “consenso do pós-guerra” permitiu o estabelecimento de uma aliança entre classes, o que só viabilizou-se devido ao abandono, por boa parte da classe trabalhadora, do projeto de socialização da economia. Esse “consenso”, materializado pela assunção ao poder de partidos social-democratas, institucionalizou a possibilidade de estabelecimento de politicas abrangentes e mais universalizadas, baseadas na cidadania, de compromisso governamental com aumento de recursos para expansão de benefícios sociais, dentre outros. Três elementos marcam a idade de ouro das políticas sociais: 1. Crescimento do orçamento social em todos os países da Europa que integravam a OCDE; 2. Crescimento incremental de mudança demográfica, expresso pelo aumento da população idosa nos países centrais, o que ampliou gastos com saúde e previdência; 3. Crescimento sequencial de programas sociais no período. Os princípios que estruturam o Welfare State são os apontados no Plano Beveridge (publicado na Inglaterra em 1942 propunha uma nova lógica para a organização das políticas sociais a partir da crítica aos seguros sociais bismarckianos). São estes: 1. Responsabilidade estatal na manutenção das condições de vida dos cidadãos. 2. Universalidade dos serviços sociais. 3. Implantação de uma “rede de segurança” de serviços de assistência social. A expressão Welfare State origina-se na Inglaterra e é mais usada na literatura aglo-saxônica. Para o sistema francês comumente se usa a expressão Estado-providência. Alguns autores ainda classificam as políticas sociais em três tipos de regime de “Welfare State”: o primeiro é o liberal, predominante nos EUA, Canadá e Austrália – política para os notadamente pobres, benefícios restritos à reforma social limitada e critérios rigorosos para acessar os benefícios. O segundo é conservador e corporativista com base no modelo bismarckiano, predominante na Áustria, França, Alemanha e Itália. Não há uma obsessão liberal nesses, a concessão de direitos sociais não é controvertida, os direitos preservam o status ligado à estratificação social. O Estado só deveria intervir quando a capacidade da família se exaure. O terceiro regime, chamado de social-democrata, agruparia os países que instituírem políticas sociais universais e cujos direitos sociais foram estendidos às classes médias. São eles: Norte da Europa, Suécia, Dinamarca e Escandinâvia. 8 ● O Brasil após a Grande Depressão e as características da política social Resumidamente, os fatos que ocorrem da primeira década do século XX até 1960 não denotam que no Brasil tenha sido desenhada uma política social pública, como mostra a linha do tempo que segue: ✔ Primeira década do século XX – grande expressão de organização sindical com as primeiras greves; ✔ 1907 – é reconhecido o direito de livre organização sindical; ✔ 1917 – Revolução Russa – influências na criação do Partido Comunista Brasileiro em 1922; ✔ 1922 –Semana da Arte Moderna; ✔ 1929-32 – Crise internacional; ✔ 1930 – Revolução de 30 – Café responsável por 70% do PIB brasileiro,oligarquias ficam extremamente vulneráveis economia e politicamente, liderança desse processo – Getúlio Vargas – consegue o apoio de alguns militares e das bases sociais populares. ✔ 1934 – Constituição – expressa as tendências e contratendências desse período. ✔ 1935 – Intentona Comunista; ✔ 1937 – Instaura-se a Ditadura do Estado Novo com Vargas à frente; ✔ 1930-1943 – anos de introdução da política social no Brasil. ✔ 1930 – criado o Ministério do Trabalho; ✔ 1932 – Criada a carteira de trabalho – passa a ser documento de cidadania no Brasil; ✔ 1933 – criado o primeiro IAP – o IAPM dos marítimos. ✔ 1930 – criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, o Conselho Nacional de Educação e o Conselho Consultivo do Ensino Comercial; ✔ 1937 – criado o Departamento Nacional de Saúde que conduzia as campanhas sanitárias; ✔ Em relação à assistência social, somente em 1942 é centralizada uma ação, em âmbito federal, com a criação da LBA. Foi criada para atender às famílias dos pracinhas envolvidos na Segunda Guerra e era coordenada pela primeira dama Darci Vargas – o que denota as características de tutela, favor e clientelismo na relação entre Estado e sociedade brasileira. ✔ 1937 – a política social brasileira teve seu desfecho na Constituição de 37 a qual ratificava a necessidade de reconhecimento de trabalhadores pelo Estado; ✔ 1943 – A CLT inspirada na Carta ao Lavoro do fascismo de Mussolini, sela o modelo corporativista e fragmentado do reconhecimento do direito no Brasil, caracterizado de “cidadania regulada”. Os diversos processos sociais por que passou o país até culminar em 1964 com a ditadura militar dificultou consensos em torno de um projeto nacional, em que se incluía o desenho da política social. Assim, esse período ficou marcado pela expansão lenta dos direitos, que se mantiveram ainda no formato corporativista e fragmentado da era Vargas. 3 – Crise, reação burguesa e barbárie: a política social no neoliberalismo ● Para entender as causas da crise dos “anos de ouro” As pressões para uma reconfiguração do papel do Estado capitalista nos anos 1989 e 199, e seus impactos para a política social, estão articulados a uma reação burguesa à crise do capital que 9 se inicia nos anos 1970. Essa reação aprofunda ou mantém algumas características enunciadas no conceito mandeliano de capitalismo maduro. ✔ Capitalismo tardio ou maduro – conceito Mandeliano (1982) iniciada no pós-1945. A ideia de maduro remete ao aprofundamento e à visibilidade de suas contradições fundamentais, e às decorrentes tendências de barbarização da vida social. A recessão de 1974-1975 jogou por terra as crenças de que as crises do capital estariam sempre sob controle por meio do intervencionismo keynesiano. O sonho de Marshall da combinação entre acumulação, equidade e democracia política parecia estar chegando ao fim. O avanço já neste período do processo de internacionalização do capital foi um limitador da eficácia das medidas anticíclicas dos Estados nacionais. O que ocorreu em 1974-75, na verdade, foi uma crise clássica de superprodução, se observadas as tendências de longo prazo fundadas na lei do valor. O já presente agravamento do problema do desemprego pela introdução de técnicas capital-intensivas e poupadoras de mão-de-obra, a alta dos preços de matérias-primas importantes, a queda do volume do comércio mundial, e um poder de barganha razoável dos trabalhadores empregados, advindo do ainda recente período do pleno emprego no capitalismo central. O capitalismo administrou a crise do início dos anos 1970, que marcou o ponto de inflexão por meio de limitadas estratégias de reanimação monetária ainda de estilo keynesiano, apesar dos discursos em contrário. Assim, mais uma vez o Estado atuou como uma almofada amortecedora anticrise. A partir de então, no entanto, houve uma dificuldade crescente do capitalismo contemporâneo de escapar ao dilema entre recessão profunda ou inflação acentuada. O fundamental é que os momentos de retomada foram marcados por uma depressão dos fatores de crescimento. Em 1980-82, tem-se uma nova crise, desencadeada nos EUA. As saídas monetárias apontavam para o prolongamento do quadro recessivo e as alternativas, mesmo moderadas, de cariz keynesiano, depararam-se com a crise fiscal do Estado e os riscos de inflação galopante. Ao lado disso, os “mercados de substituição”, a exemplo do Brasil, estavam em situação de endividamento. Houve no período uma desvalorização maciça de capitais – com falências e aquisições, estas últimas implicando maior concentração do capital – em função do estreitamento do crédito e do estrangulamento da inflação. A crise, nessa perspectiva de análise, tem a função objetiva de se constituir como o meio pelo qual a lei do valor se expressa e se impõe. Ela é a consolidação de dificuldades crescentes de realização da mais-valia socialmente produzida, o que gera superprodução, associada à superacumulação. A própria lógica interna do crescimento cria empecilhos no momento subsequente: a situação keynesiana de “pleno emprego” dos fatores de produção, incorporando grandes contingentes da força de trabalho, dificultando o aumento da extração da mais-valia, com a ampliação do poder político dos trabalhadores e maior resistência à exploração; e a generalização da revolução tecnológica diminuiu o diferencial de produtividade. Esses são processos que implicaram a queda da taxa de lucros. A onda longa depressiva ou de estagnação iniciada em 1970 foi propiciada, portanto, pelo encontro de crises clássicas de superprodução, cujos esforços de limitação por meio do crédito perderam eficácia, em cada pequeno ciclo; contenção brusca dos rendimentos tecnológicos; crise do 10 sistema imperialista; crise social e política nos países imperialistas, com ascensão das lutas, em função do inicio das políticas de austeridade; e crise de credibilidade do capitalismo, enquanto sistema capaz de garantir o pleno emprego, o nível de vida e as liberdades democráticas. No período de acumulação flexível operam três condições necessárias do mundo do capital apreendidas por Marx: o capitalismo orienta-se para o crescimento, condição para a acumulação, independente de consequências sociais, políticas, ecológicas e outros; esse crescimento em valores reais tem apoio na exploração do trabalho vivo, que tem a capacidade de criar valor, ou seja, o crescimento funda-se na relação capital/trabalho, que é uma relação de classe, de controle e de dominação; o capitalismo é organizacional e tecnicamente dinâmico, já que a concorrência impele para as inovações em busca da maximização dos lucros, o que repercute nas relações capital/trabalho. Nos anos 1980, entra-se num novo período, com a ascensão dos neoliberais conservadores nos EUA e Inglaterra, e o desencadeamento de políticas que já não visam sustentar a demanda, mas exclusivamente restaurar o lucro. Estas atingem seu objetivo nos principais países capitalistas, alcançando uma pequena ascensão das taxas de crescimento, o que gerou um certo triunfalismo no inicio dos anos 1990, acentuado pela queda do Muro de Berlim. A crise que se inicia em 1973, tal como em 1930, é de superacumulação, um processo ineliminável sob o capitalismo. Ou seja, a partir dos anos 1970, o capitalismo encontrou fortes dificuldades para abrir saídas de massa em escala suficiente. O consumo de bens que foram o suporte do fordismo – automóveis e eletrodomésticos – chegou a um ponto relativo de saturação. Há, pois, alguns processos essenciais que caracterizam o capitalismo atual: o esgotamento da procura dos bens fordistas, acompanhada de uma incapacidade de fazer emergir um volume suficiente de procura de novos bens fordistas, e uma dificuldade para industrializar plenamente uma procura de serviços em forte progressão. A acumulação capitalista não depende exclusivamente de sua capacidade de assegurar condições de reprodução, mas também de se orientar para esferas portadoras de altos ganhosde produtividade. Houve uma resposta contundente do capital à queda das taxas de lucro da década de 1970. Os anos 1980 foram marcados por uma revolução tecnológica e organizacional na produção, tratada na literatura disponível como reestruturação produtiva – confirmando a corrida tecnológica em busca do diferencial de produtividade do trabalho, como fonte dos superlucros, cuja característica central é a geração de um desemprego crônico e estrutural. Se os “anos de ouro” comportaram algumas reformas democráticas, o que inclui os direitos sociais, viabilizados pelas políticas sociais, o período que se abre é contra-reformista, desestruturando as conquistas do período anterior, em especial os direitos sociais. Estes são processos imbricados e interdependentes no seio da totalidade concreta, que é a sociedade burguesa contemporânea e que configuraram a reação burguesa à crise global. ● A desestruturação do welfare State em tempos neoliberais A mundialização do capital não é um resultado inevitável de fatores econômicos refratáveis à ação política. Como componente intrínseco do processo de produção e reprodução capitalista, marca um período de esgotamento da perspectiva de regulação keynesiana das relações econômicas, políticas e sociais e do compromisso firmado entre grupos e classes sociais para gerar crescimento econômico, com impacto na estrutura das desigualdades sociais, o que só foi possível pelo estabelecimento de políticas sociais amplas e universais. 11 Se o Estado Social foi um mediador ativo na regulação das relações capitalistas em sua fase monopolista, o período pós-1970 marca o avanço de ideais neoliberais que começam a ganhar terreno a partir da crise capitalista de 1969-73. Os reduzidos índices de crescimento neoliberais criticarem o Estado social e o “consenso” do pós-guerra, que permitiu a instituição do Welfare State. O neoliberalismo surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial, como uma reação teórica ao Estado intervencionista e de bem-estar, e que suas premissas estavam elaboradas originalmente no texto de Hayek publicado em 1944, sendo seu propósito combater o keynesianismo e o solidarismo reinantes e preparar as bases para um outro tipo de capitalismo, duro e livre de regras para o futuro. A longa e profunda recessão entre 1969-73, contudo, alimentou o solo sobre o qual neoliberais puderam avançar. Para eles, a crise resultava do poder excessivo e nefasto dos sindicatos e o movimento operário, que corroeram as bases da acumulação, e do aumento dos gastos sociais do Estado, o que desencadearia processos inflacionários. Outro argumento é que a intervenção estatal na regulação das relações de trabalho também é negativa, pois impede o crescimento econômico e a criação de empregos. Para os neoliberais, a proteção social garantida pelo Estado social, por meio de políticas redistributivas, é perniciosa para o desenvolvimento econômico, pois aumenta o consumo e diminui a poupança da população. Os neoliberais defendem uma programática em que o Estado não deve intervir na regulação do comércio exterior nem na regulação de mercados financeiros, pois o livre movimento de capitais garantirá maior eficiência na redistribuição de recursos internacionais. A hegemonia neoliberal só ocorreu no final dos anos 1970, quando seus princípios foram assumidos nos programas governamentais em diversos países da Europa e dos EUA. Os primeiros expoentes foram os governos Thatcher (Inglaterra, 1979 – implantou um neoliberalismo puro) e Regan (EUA – 1980 – priorizou sua política neoliberal na competição militar com a União Soviética). O êxito das políticas neoliberais se deveu a políticas monetárias e fiscais austeras e ao crescimento do desemprego, o que reduziu o percentual de ajuste de salários, combinado à diminuição de preços de matérias-primas no mercado internacional, sobretudo os preços do petróleo. Outra consequência da onda neoliberal foi o aumento do desemprego em quase todos os países da OCDE nas décadas de 1980-90, devido à redução de postos de trabalho e à desaceleração na criação de novos empregos, como consequência da reestruturação produtiva. A redução e/ou manutenção dos gastos públicos implicaram também a redução dos gastos com os sistemas de proteção social. A reestruturação produtiva, as mudanças na organização do trabalho e a hegemonia neoliberal têm provocado importantes reconfigurações nas políticas sociais. O desemprego de longa duração, a precarização das relações de trabalho, a ampliação de oferta de empregos intermitentes, em tempo parcial, temporários, instáveis e não associados a direitos, limitam o acesso aos direitos derivados de empregos estáveis. Além disso, outra que vem ganhando destaque desde a década de 1970, em quase todos os países da Europa, é a expansão de programas de transferência de renda. Esses programas, globalmente, apresentam seguintes características: são condicionados à situação de ausência ou baixa renda; são completivos e/ou substitutivos aos salários; possuem abrangência nacional e são regulados em lei nacional, dentre outros. É inegável que as reestruturações em curso seguem na direção de sua restrição, seletividade e focalização; em outras palavras, rompem com os compromissos e consensos do pós-guerra, que permitiram a expansão do Welfare State. 12 ● O Brasil: da ditadura à redemocratização e a política social O primeiro elemento a ser identificado é uma aparente falta de sincronia entre tempo histórico brasileiro e os processos internacionais. Enquanto no plano internacional desencadeava-se a reação burguesa, o Brasil, no contexto da ditadura militar pós-64, vivia a expansão do “fordismo à brasileira”, por meio do chamado Milagre Brasileiro. De outro lado, expandia-se a cobertura da política social brasileira, conduzida de forma tecnocrática e conservadora, reiterando dinâmica singular de expansão dos direitos sociais em meio à restrição dos direitos civis e políticos, modernizando o aparato varguista. O intenso salto econômico para diante promovido pela ditadura tem a ver com um projeto de intensa internacionalização da economia brasileira, aproveitando-se da necessidade imperiosa do capital de restaurar as taxas de crescimento dos esgotados anos de ouro. Um dos movimentos do capital foi a tentativa de se valorizar, pela ampliação dos mercados de bens fordistas nos locais em que estes tinham algum potencial de crescimento, como é o caso brasileiro, e pela exportação de capitais, buscando nichos de valorização. A ditadura militar reeditou a modernização conservadora como via de aprofundamento das relações sociais capitalistas no Brasil, agora de natureza claramente monopolista, reconfigurando nesse processo a questão social, que passa a ser enfrentada num mix de repressão e assistência, tendo em vista manter sob controle as forças do trabalho que despontavam. Nesse quadro houve um incremento da política social brasileira. No contexto de perda das liberdades democráticas, de censura, prisão, tortura para as vozes dissonantes, o bloco militar-tecnocrático-empresarial buscou adesão e legitimidade por meio da expansão e modernização de políticas sociais. Linha do tempo: 1966 – unificação, uniformização e centralização da previdência social no INPS; 1967 – acidentes de trabalho passam também para a gestão do INPS; 1972 – cobertura previdenciária alcança as empregadas domésticas; 1974 – criado o Ministério da Previdência e Assistência Social; 1977 – criação do SINPAS – Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social que engloba o INPS, INAMPS E IAPAS. Os anos 1980 são conhecidos como a década perdida do ponto de vista econômico, ainda que também sejam lembrados como período de conquistas democráticas, em função das lutas sociais e da Constituição de 1988. O recrudescimento do endividamento externo e suas consequências são dados fundamentais para entender o ocaso da ditadura e nosso passaporte para a crise econômica crônica daqueles anos, após curto tempovirtuoso do milagre. Na entrada dos anos 1980, tem-se um aprofundamento das dificuldades de formulação de políticas econômicas de impacto nos investimentos e na redistribuição de renda, não só no Brasil, mas no conjunto da América Latina. Os efeitos da crise do endividamento foram muitos: empobrecimento generalizado da América Latina, especialmente no seu país mais rico, o Brasil; crise dos serviços sociais públicos num contexto de aumento da demanda em contraposição à não expansão dos direitos; desemprego; agudização da informalidade da economia; favorecimento da produção para a exportação em detrimento das necessidades internas. 13 Em síntese, do ponto de vista econômico, tem-se na entrada dos anos 1990, um país derruído pela inflação e que será o fermento para a possibilidade histórica de hegemonia neoliberal; paralisado pelo baixo nível de investimento privado e público; sem solução consistente para o problema do endividamento; e com uma questão social gravíssima. Tem-se a mistura explosiva que delineia uma situação de crise profunda. ● Política social no Brasil contemporâneo: entre a inovação e o conservadorismo Os anos 1990 até os dias de hoje têm sido de contra-reforma do Estado e de obstaculização e/ou redirecionamento das conquistas de 1988, num contexto em que foram derruídas até mesmo aquelas condições políticas por meio da expansão do desemprego e da violência. Ao longo dos anos 1990, propagou-se na mídia falada e escrita e nos meios políticos e intelectuais brasileiros uma avassaladora campanha em torno de reformas. Tratou-se, como se pôde observar, de “reformas” orientadas para o mercado, num contexto em que os problemas no âmbito do Estado brasileiro eram apontados como causas centrais da profunda crise econômica e social vivida pelo país desde o início dos anos 1980. Reformando-se o Estado, com ênfase especial nas privatizações e na previdência social, e, acima de tudo, desprezando as conquistas de 1988 no terreno da seguridade social e outros — a carta constitucional era vista como perdulária e atrasada —, estaria aberto o caminho para o novo “projeto de modernidade”. Revelou-se, sem surpresas, a natureza pragmática, imediatista, submissa e antipopular das classes dominantes brasileiras. E foram medidas que, em alguns setores, fizeram com que o país evoluísse de forma inercial e, em outros, o fizeram permanecer no mesmo lugar ou até mesmo andar para trás, se pensamos nos critérios de Florestan Fernandes: a ruptura com a heteronomia e com o drama social. Houve, portanto, uma abrangente contra-reforma do Estado no país, cujo sentido foi definido por fatores estruturais e conjunturais externos e internos, e pela disposição política da coalizão de centrodireita. ATENÇÃO: trinômio do neoliberalismo para as políticas sociais — privatização, focalização/seletividade e descentralização. ● Política social e a difícil coexistência entre universalidade e hegemonia neoliberal O princípio da universalidade da cobertura proposto não tem a pretensão de garantir direitos iguais a todos os cidadãos, mas assegura a política de saúde como direito universal, estabelece a assistência como direito aos que dela necessitarem (embora o benefício do salário mínimo para idoso e pessoa com deficiência seja associado à incapacidade para o trabalho), mas mantém a previdência submetida à lógica do seguro, visto que o acesso aos direitos é derivado de uma contribuição direta anterior. Os princípios da uniformidade e da equivalência dos benefícios garantem a unificação dos regimes urbanos e rurais no âmbito do regime geral da previdência, mediante contribuição, e os trabalhadores rurais passam a ter direito aos mesmos benefícios dos trabalhadores urbanos. A 14 seletividade e a distributividade na prestação de serviços apontam para a possibilidade de instituir benefícios orientados pela “discriminação positiva”. Esse princípio não se refere apenas aos direitos assistenciais, mas também permite tornar seletivos os benefícios das políticas de saúde e de assistência social, numa clara tensão com o princípio da universalidade. A irredutibilidade do valor dos benefícios indica que nenhum deles deve ser inferior ao salário mínimo, mas também sinaliza que tais benefícios devem ser reajustados de modo a não ter seu valor real corroído pela inflação, o que vem assegurando que nenhum benefício previdenciário seja inferior ao salário mínimo, apesar das diversas tentativas governamentais de desvinculação. A diversidade das bases de financiamento, talvez um dos mais importantes princípios constitucionais, absolutamente fundamental para estruturar a seguridade social, tem duas implicações. Primeiro, as contribuições dos empregadores não devem ser mais baseadas somente sobre a folha de salários. Elas devem incidir sobre o faturamento e o lucro, de modo a tornar o financiamento mais redistributivo e progressivo, o que compensaria a diminuição das contribuições patronais ocasionadas pela introdução da tecnologia e consequente redução da mão-de-obra, além de compensar o elevado mercado informal no Brasil. Em seguida, essa diversificação obriga o governo federal, os Estados e os municípios a destinarem recursos fiscais ao orçamento da seguridade social. Finalmente, o caráter democrático e descentralizado da administração deve garantir gestão compartilhada entre governo, trabalhadores e prestadores de serviços, de modo que aqueles que financiam e usufruem os direitos (os cidadãos) devem participar das tomadas de decisão. Isso não significa, por outro lado, que os trabalhadores e empregadores devem administrar as instituições responsáveis pela seguridade social. Tal responsabilidade continua sob a égide do Estado. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: Esses princípios constitucionais, genéricos, mas norteadores da estrutura da seguridade social, deveriam provocar mudanças profundas na saúde, previdência e assistência social, no sentido de articulá-las e formar uma rede de proteção ampliada, coerente e consistente. Tinham o objetivo de, enfim, permitir a transição de ações fragmentadas, desarticuladas e pulverizadas para “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade. Vianna (1998) aprofunda esse argumento da dualidade, mostrando como evoluiu o sistema de proteção social brasileiro, desde a era Vargas e, dentro disso, como foi preparado o terreno para o que chama de uma americanização perversa da proteção social brasileira, apesar do conceito constitucional de seguridade social de 1988 ser de inspiração beveridgiana (inglês) e a trajetória histórica — em especial no que se refere aos direitos previdenciários — ser de inspiração bismarckiana (alemã). 15 ● Projeto ético-político do Serviço Social e política social A perspectiva de direitos e de cidadania orientada por esse projeto ético-político vem sendo assumida e defendida em diferentes dimensões. Do ponto de vista teórico, vários intelectuais, pesquisadores, professores e estudantes vêm realizando pesquisas e produções que sustentam um padrão de direitos, cujos princípios se coadunam e reforçam aqueles expressos no projeto ético-político. No âmbito político-profissional, as entidades da categoria vêm envidando esforços memoráveis na disseminação de uma concepção de direitos sintonizada e orientada pelo projeto ético-político profissional, seja pela via da organização coletiva e articulação com movimentos sociais, seja pela realização de debates e socialização de informações, seja pela inserção nos espaços coletivos de controle democrático das políticas sociais que materializam direitos, seja, por fim, pela via do acompanhamento e qualificação da intervenção profissional nos espaços sócio-ocupacionais. Qualificar e precisar a concepção de direitos, cidadania e política social pressupõe discutir os limites e as possibilidades dos direitos no capitalismo, e a particularidade brasileira: um país historicamente heterônomo, subordinado econômica e politicamenteaos ditames do capitalismo mundial e das políticas de ajuste determinadas pelas agências internacionais. É preciso entender que os direitos no capitalismo são capazes de reduzir desigualdades, mas não são e não foram até aqui capazes de acabar com a estrutura de classes e, portanto, com o motor da produção e reprodução das desigualdades, já que a existência e persistência da pobreza e das desigualdades sociais são determinadas pela estrutura capitalista de apropriação privada dos meios de produção e da riqueza socialmente produzida (Marx, 1987) e não apenas pela não distribuição eqüânime de seus produtos. O reconhecimento desses limites não invalida a luta pelo reconhecimento e afirmação dos direitos nos marcos do capitalismo, mas sinaliza que a sua conquista integra uma agenda estratégica da luta democrática e popular, visando a construção de uma sociedade justa e igualitária. Essa conquista no âmbito do capitalismo não pode ser vista como um fim, como um projeto em si, mas como via de ingresso, de entrada, ou de transição para um padrão de civilidade que começa pelo reconhecimento e garantia de direitos no capitalismo, mas que não se esgota nele. QUESTÕES DE CONCURSOS ANTERIORES!! 1- As bases históricas e os fundamentos da política social estão relacionados à configuração da questão social e às respostas das classes sociais e do Estado. Sobre o assunto, analise as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta. I. O surgimento das políticas sociais foi gradual e diferenciado entre os países, dependendo dos movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, do grau de desenvolvimento das forças produtivas e das correlações e composições de força no âmbito do Estado. II. Os autores são unânimes em situar o final do século XIX como o período em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar ações sociais de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade. III. Algumas características identificadas a partir do final do século XIX, decorrentes da luta dos trabalhadores, ajudam a demarcar a emergência de políticas sociais. São elas: a introdução de políticas sociais orientadas pela lógica do seguro social na Alemanha, a partir de 1883; e políticas 16 sociais que passam a ampliar a ideia de cidadania e desfocalizar suas ações, antes direcionadas apenas para a pobreza extrema. IV. Em meados do século XIX, os trabalhadores organizaram caixas de poupança e previdência como estratégia de fundo e cotização para fomentar a organização operária e manter os trabalhadores em greve. V. O modelo bismarckiano absorve as caixas de poupança e previdência organizadas pelos trabalhadores a partir de meados do século XIX. O governo do chanceler alemão constituiu um sistema de seguros sociais em que os benefícios cobriam principalmente os trabalhadores contribuintes e suas famílias. Esse sistema era financiado pela contribuição paritária entre trabalhador, empregador e Estado, por isso se expressa como uma das primeiras iniciativas estatais de política social, mesmo se configurando como seguro social, sem caráter universalista. VI. Na França, as primeiras intervenções estatais durante o século XIX foram chamadas de Estado Providência. A primeira lei considerada o marco de emergência do Estado Providência é datada de 1898 e atendia a principal reivindicação da época, aposentadoria por tempo de contribuição, estabelecendo a proteção social obrigatória aos trabalhadores, sob responsabilidade estatal. A)Somente as afirmativas I, II, III e V estão corretas. B)Somente as afirmativas II, IV e VI estão corretas. C)Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas. D)Somente as afirmativas I, II, III e IV estão corretas. E)Somente as afirmativas III, IV, V e VI estão corretas. 2-Entre os elementos do liberalismo, que ajudam a melhor compreender a reduzida intervenção do Estado nas políticas sociais, estão A) o predomínio do individualismo; o predomínio da liberdade e competitividade; o predomínio da lei da necessidade; a naturalização da miséria; a manutenção de um estado mínimo; as políticas sociais paliativas; o predomínio da lei da universalidade das políticas de corte assistencial; o bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo. B) o predomínio do individualismo; o predomínio da liberdade e competitividade; o predomínio da lei da necessidade; a naturalização da miséria; a manutenção de um estado mínimo; as políticas sociais paliativas; as políticas sociais como estimulantes do ócio e do desperdício; o bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo. C) o predomínio do individualismo; o predomínio da liberdade e competitividade; o predomínio da lei da necessidade; a naturalização da miséria; a manutenção de um estado mínimo; as políticas sociais paliativas; as políticas sociais como estimulantes do ócio e do desperdício; o bem-estar individual minimiza o bem-estar coletivo. D) o predomínio do individualismo; o predomínio da liberdade e competitividade; o predomínio da lei da necessidade; a desnaturalização da miséria; a manutenção de um estado mínimo; as políticas sociais paliativas; o predomínio da lei da universalidade das políticas de corte assistencial; as políticas sociais como estimulantes do ócio e do desperdício. 17 3-Em relação à Seguridade Social e o acesso a proteção social brasileira, assinale a alternativa incorreta: A)O termo cidadania regulada proposto por Wanderley Santos em sua obra Cidadania e Justiça (1994) vincula o acesso à proteção social brasileira a partir do referenciamento à atividade e categoria profissional com reconhecimento econômico, político e regulamentada pelo Estado. B)A partir da Lei Elóy Chaves (1923), as políticas de previdência, saúde e assistência social foram reorganizadas e reestruturadas com novos princípios e diretrizes e passaram a compor o sistema de seguridade social estadual. C)A seguridade social brasileira apesar de ter um caráter inovador e intencionar compor um sistema amplo de proteção social acabou se caracterizando como um sistema híbrido, que conjuga direitos derivados e dependentes do trabalho (previdência) com direitos de caráter universal (saúde) e direitos seletivos (assistência). D)Os recursos que compõem as fontes de financiamento da Seguridade Social desempenham um papel relevante na sustentação da política econômica e social, e, desde 1994, vem ocorrendo apropriação indevida desses recursos do Orçamento da Seguridade Social por meio da Desvinculação das Receitas da União, que são retidos pelo Orçamento Fiscal da União e canalizados para a esfera financeira e geração do superávit primário. 4-Behring e Boschetti (2018), ao tratarem das origens da política social no Brasil, apoiadas no debate que envolve outros autores, afirmam que a condição geral do trabalho mantém uma forte relação com o desenho que marcou a política social brasileira desde os seus primórdios. Para as autoras, são elementos que marcam este “desenho” da política social brasileira nos seus primórdios, EXCETO: a) Instável. b) Restrito. c) Distributivo. d) Segmentado. 5-Segundo Behring e Boschetti (2018), o liberalismo é composto de alguns elementos/preceitos essenciais que ajudam a compreender a reduzida intervenção estatal na forma de políticas sociais no respectivo período histórico, político e intelectual. Marque V para Verdadeiro e F para Falso. 1) (...) Predomínio do individualismo. 2).(...).O bem estar individual maximiza o bem estar .....coletivo. 3) (...) Predomínio da liberdade e colaboração. 4) (...) Naturalização da abundância. 5) (...) Predomínio da lei da necessidade. A sequência correta é: A) 1 - V, 2 - V, 3 - F, 4 - F, 5 – V. B) 1 - F, 2 - V, 3 - F, 4 - F, 5 – V. C) 1 - F, 2 - F, 3 - F, 4 - F, 5 - V. D) 1 - V, 2 - V, 3 - F, 4 - V, 5 – V. E) 1 - F, 2 - V, 3 - V, 4 - V, 5 – V. 18 6-Na década de 1940, a política de Estado pretendeu estender a todas as categorias do operariado urbano os benefícios da previdência social.Assim, as antigas caixas de aposentadorias e pensões (CAPs) foram substituídas pelos institutos de aposentadoria e pensões (IAPs). A categoria de trabalhadores que teve o primeiro IAP criado foi a de: A) marítimos B) professores C) médicos D) bancários 7-Behring e Boschetti (2009), ao analisarem os fundamentos e história da política social, destacam que as primeiras iniciativas voltadas a sua construção estão imersas na relação de continuidade entre Estado Liberal e Estado Social. Para a mudança da natureza do Estado Liberal no século XIX e início do século XX, bem como a construção e generalização das políticas sociais, houve um elemento político determinante. Tal elemento relaciona-se: A)à criação de partidos políticos compostos pela classe trabalhadora que toma a composição do Estado B)ao movimento operário e à mobilização e organização da classe trabalhadora C)à estruturação do Estado social e à incorporação de demandas de pleno emprego D)à estruturação de políticas sociais fundamentadas pelo ideal de Welfare State E)à reconfiguração das relações Estado e sociedade civil que, através da classe trabalhadora, possibilitou o estabelecimento de um pacto social 8-Segundo Behring e Boschetti (2006, p. 155-6), a configuração de padrões universalistas e redistributivos de proteção social, no mundo e no Brasil contemporâneo, foi fortemente tensionada por A)emprego dos fatores de produção via produção de serviços públicos, além da produção privada; aumentar a renda e promover maior igualdade, por meio da instituição de serviços públicos, dentre eles as políticas sociais. B)produção em massa para o consumo de massa e dos acordos coletivos voltados aos ganhos de produtividade do trabalho; forma de regulação das relações sociais, em condições políticas determinadas. C)política tributária alta, formando superávit, que deve ser utilizado para o pagamento das dívidas públicas e para a formação de um fundo de reserva a ser investido nos períodos de recessão. D)acordos coletivos em torno dos ganhos de produtividade e da expansão das políticas sociais, por via dos salários indiretos assegurados pelo fundo público. E)estratégias de extração de superlucros; supercapitalização; e desprezo burguês para com o pacto social dos anos de crescimento. 9-Quando Behring e Boschetti abordam o Projeto Ético-Político do Serviço Social e sua relação com a política social, mencionam as concepções de direito e de cidadania que compõem aquele projeto ético-político. A concepção de cidadania pressupõe instituir direitos que se pautem pelos seguintes princípios, EXCETO: 19 A) Estruturação radicalmente democrática, descentralizada e participativa, de modo a socializar a participação política. B) Qualificação legal e legitimação das políticas sociais como direito, pois só por esse ângulo é possível comprometer o Estado como garantidor da cidadania. C) Orçamento redistributivo, com ênfase na contribuição de empregadores e no orçamento fiscal, onerando o capital e desonerando o trabalhador, tornando os direitos sociais redistributivos. D) Universalização do acesso aos direitos básicos como saúde, educação e assistência social, sucumbindo a lógica contratualista do seguro social que ainda marca a previdência, de modo a fazer dos direitos uma via para a equidade e justiça social. 10-Behring e Boschetti (2016) evidenciam que, sob o enfoque dialético, a explicação da gênese e o desenvolvimento das políticas sociais consideram alguns elementos essenciais e articulações. Sobre isso, é INCORRETO afirmar que: A)um dos elementos é o capitalismo, seu grau de desenvolvimento e estratégias de acumulação. B)o papel do Estado na regulamentação e implementação das políticas sociais deve ser considerado. C)se deve ter presente o papel das classes sociais. D)a política social é desarticulada da política econômica e da luta de classes. E)é imprescindível analisar acordos assinados com organismos internacionais. 11-Com base em Behring e Boschetti (2016), em relação à política social no contexto do regime militar no Brasil (1964-1985), é INCORRETO afirmar que: A)houve associação da previdência, assistência e saúde no Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social (SINPAS). B)a ditadura impulsionou uma política nacional da habitação com a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH), para impulsionar a economia. C)não houve expansão da cobertura da política social brasileira. D)a assistência social era implementada pela rede conveniada e pelos serviços prestados pela Legião Brasileira de Assistência (LBA). E)a ditadura militar abriu espaços para a saúde, a previdência e a educação privadas. 12- Assinale a alternativa que preencha corretamente a lacuna. Behring;Boschetti (2007) oferecem inúmeros contributos ao desenvolvimento e a organização das políticas sociais no Brasil, citando, inclusive, a promulgação da Lei Eloy Chaves em 1923. De acordo com as autoras a Lei Eloy Chaves __________: A)delimita e cria critérios para regulamentação do trabalho de mulheres e crianças incluindo a delimitação da jornada de trabalho B)define as ações do Estado a serem desenvolvidas junto aos segmentos mais vulnerabilizados e que seriam atendidos pela LBA C)institui a obrigatoriedade de criação de Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs) para algumas categorias de trabalhadores D)institui a obrigatoriedade de criação de Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs) para todos trabalhadores com registro em carteira de trabalho 20 13- Em 1923, foi aprovada a lei que institui a obrigatoriedade da criação das Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPS) para os trabalhadores ferroviários, marítimos, entre outros, a qual ficou conhecida como: A) A Constituição de 1824. B) A lei do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). C) A lei Eloy Chaves. D) A Lei de Benefícios da Previdência Social. 14- Behring e Boschetti (2011) afirmam que a análise das políticas sociais, sob o enfoque dialético, precisa considerar três referenciais para explicar seu surgimento e desenvolvimento, os quais determinam os limites e os graus de bem-estar que a política social pode produzir no capitalismo. Esses três referenciais são: A)a natureza do capitalismo, seu grau de desenvolvimento e as estratégias de acumulação prevalecentes; o papel do Estado na regulamentação e implementação das políticas sociais; e as classes sociais. B) o montante da dívida externa e sua relação com o PIB (Produto Interno Bruto); os modelos de proteção social requisitados à administração pública por instituições internacionais (Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial); e as avaliações das agências de risco. C)as requisições do Estado ao fomento das políticas sociais; as conferências de direitos locais, regionais e nacional; e o funcionamento dos conselhos de direitos nas esferas municipais, estaduais e federal. D)a articulação dos movimentos sociais para explicitação de suas demandas; as reinvindicações das associações de bairro, conselhos comunitários e campesinato; e a articulação das categorias profissionais que planejam, executam e avaliam essas políticas. E)o processo de modernização e desburocratização da administração pública; a flexibilização dos direitos trabalhistas; e a abertura para parcerias com o setor privado para a administração da seguridade social. ******************************************************************************** PARTE 2- A política de seguridade social no Brasil. (BOSCHETTI, IVANETE. A política de seguridade social no Brasil, In: Conselho Federal de Serviço Social -CFESS e Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS (Organizadoras) Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais, 1ª edição, Brasília. CFESS/ ABEPSS, 2009). Nos marcos dos países capitalistas da Europa ocidental e da América Latina, a Seguridade Social se estrutura tendo como referência a organização social do trabalho, apesar de constituir-se de forma bastante diferenciadaem cada país, em decorrência de questões estruturais, como o grau de desenvolvimento do capitalismo e de questões conjunturais, como a organização da classe trabalhadora. A instituição da seguridade social, como núcleo central do Estado social após a Segunda Guerra Mundial, foi determinante na regulação das relações econômicas e sociais sob o padrão keynesiano-fordista. 21 Os direitos da seguridade social,sejam aqueles baseados no modelo alemão bismarckiano, como aqueles influenciados pelo modelo beveridgiano inglês, têm como parâmetro os direitos do trabalho, visto que desde sua origem, esses assumem a função de garantir benefícios derivados do exercício do trabalho para os trabalhadores que perderam, momentânea ou permanentemente, sua capacidade laborativa. Historicamente, o acesso ao trabalho sempre foi condição para garantir o acesso à seguridade social. Por isso, muitos trabalhadores desempregados não têm acesso a muitos direitos da seguridade social, sobretudo a previdência, visto que essa se move pela lógica do contrato, ou do seguro social. A seguridade social brasileira, instituída com a Constituição brasileira de 1988, incorporou princípios desses dois modelos, ao restringir a previdência aos trabalhadores contribuintes, universalizar a saúde e limitar a assistência social a quem dela necessitar. Em um contexto de agudas desigualdades sociais, pobreza estrutural e fortes relações informais de trabalho, esse modelo, que fica entre o seguro e a assistência, deixa sem acesso aos direitos da seguridade social uma parcela enorme da população. ● Princípios Estruturantes da Seguridade Social As primeiras iniciativas de benefícios previdenciários que vieram a constituir a seguridade social no século XX nasceram na Alemanha, no final do século XIX, mais precisamente em 1883, durante o Governo do Chanceler Otto Von Bismarck, em resposta às greves e pressões dos trabalhadores. O chamado modelo bismarckiano é considerado como um sistema de seguros sociais, porque suas características assemelham-se às de seguros privados: no que se refere aos direitos, os benefícios cobrem principalmente (e às vezes exclusivamente) os trabalhadores, o acesso é condicionado a uma contribuição direta anterior e o montante das prestações é proporcional à contribuição efetuada; quanto ao financiamento, os recursos são provenientes, fundamentalmente, da contribuição direta de empregados e empregadores, baseada na folha de salários; em relação à gestão, teoricamente (e originalmente), cada benefício é organizado em Caixas, que são geridas pelo Estado, com participação dos contribuintes, ou seja, empregadores e empregados (BOSCHETTI, 2003). Esse modelo orientou e ainda sustenta muitos benefícios da seguridade social, sobretudo, os benefícios previdenciários. Em outro contexto econômico e político, durante a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em 1942, é formulado na Inglaterra o Plano Beveridge, que apresenta críticas ao modelo bismarckiano vigente até então, e propõe a instituição do welfare state. No sistema beveridgiano, os direitos têm caráter universal, destinados a todos os cidadãos incondicionalmente ou submetidos a condições de recursos, mas garantindo mínimos sociais a todos em condições de necessidade. No Brasil, os princípios do modelo bismarckiano predominam na previdência social, e os do modelo beveridgiano orientam o atual sistema público de saúde (com exceção do auxílio doença, tido como seguro saúde e regido pelas regras da previdência) e de assistência social, o que faz com que a seguridade social brasileira se situe entre o seguro e a assistência social. No Brasil, a lógica do seguro estruturou e estabeleceu os critérios de acesso da previdência e da saúde desde a década de 1923 até a Constituição de 1988. O princípio dessa lógica é garantir proteção, às vezes exclusivamente, e às vezes prioritariamente, ao trabalhador e à sua família. É um 22 tipo de proteção limitada, que garante direitos apenas àquele trabalhador que está inserido no mercado de trabalho ou que contribui mensalmente como autônomo ou segurado especial à seguridade social. ATENÇÃO: Além dessa característica securitária, que é estruturante na seguridade social, ela pode ter outra lógica, que é a lógica da universalização dos direitos sem estabelecimento de contrato de seguro contributivo. Nessa perspectiva, os benefícios podem romper com a lógica do seguro e assumir uma lógica social. Romper de que forma? Assegurando direitos com base nas necessidades sociais, que não sejam condicionados a uma contribuição direta prévia, que não sejam proporcionais a uma contribuição efetuada anteriormente. A seguridade social pode garantir mais, ou menos, acesso a direitos, quanto mais se desvencilhar da lógica do seguro e quanto mais assumir a lógica social. A primazia da lógica do seguro, sobretudo nos países que não instituíram uma situação de pleno emprego, ou de quase pleno emprego, limita a lógica social e restringe a universalização da seguridade social, instituindo, muitas vezes, uma incompatibilidade entre trabalho e direitos sociais, em especial o direito à assistência social. É preciso, assim, discutir a relação entre trabalho, assistência social e previdência, para entender, inclusive, se o padrão de seguridade social instituído em determinado país é (ou não) capaz de impor limites à desigualdade social no capitalismo. Reconhecer o direito à assistência social no âmbito da seguridade social não significa defender ou desejar que essa política seja a referência para assegurar o bem-estar ou satisfazer às necessidades sociais no capitalismo, pois adotar essa posição seria ter como horizonte uma sociedade de assistidos. A título de exemplo, nos países capitalistas do norte e centro da Europa, a situação de quase pleno emprego vivida após a Segunda Guerra Mundial, até os anos 1970, garantiu direito ao trabalho para a maioria dos trabalhadores. A seguridade social ampliada, além de garantir os direitos derivados do trabalho, como seguro desemprego, aposentadorias, pensões e seguro saúde, também instituiu diversos benefícios assistenciais, com intuito de reduzir desigualdades e responder à satisfação de necessidades básicas e específicas, como por exemplo: prestações assistenciais mensais para famílias monoparentais, para pessoas com deficiência, para idosos de baixa renda, para pagamento de aluguel a famílias de baixa renda, entre outras. Com a crise vivida pelo capitalismo no início da década de 1970, a implementação de medidas neoliberais e a incapacidade estrutural de garantir trabalho para todos, esses países passaram a abrandar a lógica do seguro no âmbito da seguridade social e passaram a instituir benefícios desprovidos da exigência de prévia contribuição, sobretudo na modalidade de programas de transferência de renda. Na situação predominante até a década de 1970, os benefícios assistenciais não são incompatíveis com o trabalho, caracterizando-se como complemento importante na redução das desigualdades sociais e satisfação de necessidades específicas. 23 ● A Seguridade Social (não) Implementada no Brasil No Brasil, estamos longe desse padrão de seguridade social. O capitalismo brasileiro implantou um modelo de seguridade social sustentado predominantemente na lógica do seguro. Desde o reconhecimento legal dos tímidos e incipientes benefícios previdenciários com a Lei Eloy Chaves em 1923, predominou o acesso às políticas de previdência e de saúde apenas para os contribuintes da previdência social. A assistência social manteve-se, ao longo da história, como uma ação pública desprovida de reconhecimento legal como direito, mas associada institucionalmente e financeiramente à previdência social. Foi somente com a Constituição de 1988 que as políticas de previdência, saúde e assistência social foram reorganizadas e reestruturadas com novos princípios e diretrizes e passaram a compor o sistema de seguridade social brasileiro. Apesar de ter um caráter