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JOSÉ ELMANO SILVA T30 NEUROANATOMIA CAPÍTULO 09: Meninges e Circulação Liquórica MENINGES • O sistema nervoso central é envolvido por membranas conjuntivas denominadas meninges, e que são três: dura-máter, aracnoide e pia-máter. • A aracnoide e a pia-máter, que no embrião constituem um só folheto são, por vezes, consideradas como uma formação única, a leptomeninge, ou meninge fina, distinta da paquimeninge, ou meninge espessa, constituída pela dura-máter. • O conhecimento da estrutura e da disposição das meninges é importante, não só para a compreensão de seu papel de proteção dos centros nervosos, mas também porque elas podem ser acometidas por processos patológicos, como infecções (meningites) ou tumores (meningiomas). DURA-MÁTER • A meninge mais superficial é a dura-máter, espessa e resistente, formada por tecido conjuntivo muito rico em fibras colágenas, contendo vasos e nervos. • A dura-máter do encéfalo difere da dura-máter espinhal por ser formada por dois folhetos, externo e interno, dos quais apenas o interno continua com a dura-máter espinhal. ❖ O folheto externo adere intimamente aos ossos do crânio e comporta-se como periósteo destes ossos. • Em virtude da aderência da dura-máter aos ossos do crânio, não existe no encéfalo um espaço epidural, como na medula. Em certos traumas ocorre o descolamento do folheto externo da dura-máter da face interna do crânio e a formação de hematomas epidurais. • A dura-máter, em particular seu folheto externo, é muito vascularizada. No encéfalo, a principal artéria que irriga a dura-máter é a artéria meníngea média, ramo da artéria maxilar interna. • A dura-máter, ao contrário das outras meninges, é ricamente inervada. Como o encéfalo não possui terminações nervosas sensitivas, toda a sensibilidade intracraniana se localiza na dura-máter e nos vasos sanguíneos, responsáveis, assim, pela maioria das dores de cabeça. Pregas da dura-máter do encéfalo • Em algumas áreas, o folheto interno da dura-máter destaca-se do externo para formar pregas que dividem a cavidade craniana em compartimentos que se comunicam amplamente. • As principais pregas são as seguintes: ❖ Tenda do cerebelo: projeta-se para diante como um septo transversal entre os lobos occipitais e o cerebelo. ➢ A tenda do cerebelo separa a fossa posterior da fossa média do crânio, dividindo a cavidade craniana em um compartimento superior, ou supratentorial, e outro inferior, ou infratentorial. ➢ A borda anterior livre da tenda do cerebelo, denominada incisura da tenda, ajusta-se ao mesencéfalo. Esta relação tem importância clínica, pois a incisura da tenda pode, em certas circunstâncias, lesar o mesencéfalo e os nervos troclear e oculomotor, que nele se originam. ❖ Foice do cerebelo: pequeno septo vertical mediano, situado abaixo da tenda do cerebelo, entre os dois hemisférios cerebelares. ❖ Diafragma da sela: pequena lâmina horizontal que fecha superiormente a sela túrcica, deixando apenas um pequeno orifício para a passagem da haste hipofisária. Seios da dura-máter • Canais venosos revestidos de endotélio e situados entre os dois folhetos que compõem a dura-máter encefálica. • A maioria dos seios tem secção triangular e suas paredes, embora finas, são mais rígidas que a das veias e geralmente não se colabam quando seccionadas. • Alguns seios apresentam expansões laterais irregulares, as lacunas sanguíneas, mais frequentes de cada lado do seio sagital superior. • O sangue proveniente das veias do encéfalo e do globo ocular é drenado para os seios da dura-máter e destes para as veias jugulares internas. • Os seios comunicam-se com veias da superfície externa do crânio através de veias emissárias, que percorrem forames ou canalículos que lhes são próprios, nos ossos do crânio. Os seios da abóbada são os seguintes: • Seio sagital superior: ímpar e mediano, percorre a margem de inserção da foice do cérebro. Termina próximo à protuberância occipital interna, na chamada confluência dos seios, formada pela confluência dos seios sagital superior, reto e occipital e pelo início dos seios transversos esquerdo e direito. • Seio sagital inferior: situa-se na margem livre da foice do cérebro, terminando no seio reto. • Seio reto: localiza-se ao longo da linha de união entre a foice do cérebro e a tenda do cerebelo. Recebe, em sua extremidade anterior, o seio sagital inferior e a veia cerebral magna, terminando na confluência dos seios. • Seio transverso: é par e dispõe-se de cada lado ao longo da inserção da tenda do cerebelo no osso occipital, desde a confluência dos seios até a parte petrosa do osso temporal, onde passa a ser denominado seio sigmoide. • Seio sigmoide: em forma de S, é uma continuação do seio transverso até o forame jugular, onde continua diretamente com a veia jugular interna. ❖ O seio sigmoide drena a quase totalidade do sangue venoso da cavidade craniana. • Seio occipital: muito pequeno e irregular, dispõe-se ao longo da margem de inserção da foice do cerebelo. Os seios venosos da base são os seguintes: • Seio cavernoso: um dos mais importantes seios da dura-máter, o seio cavernoso é uma cavidade bastante grande e irregular, situada de cada lado do corpo do esfenoide e da sela túrcica. ❖ Recebe o sangue proveniente das veias oftálmica superior e central da retina, além de algumas veias do cérebro. ❖ Drena através dos seios petroso superior e petroso inferior, além de comunicar-se como seio cavernoso do lado oposto, através do seio intercavernoso. ❖ O seio cavernoso: atravessado pela artéria carótida interna, pelo nervo abducente e, já próximo à sua parede lateral, pelos nervos troclear, oculomotor e pelo ramo oftálmico do nervo trigêmeo. ➢ Estes elementos são separados do sangue do seio por um revestimento endotelial. ❖ Assim, aneurismas da carótida interna no nível do seio cavernoso comprimem o nervo abducente e, em certos casos, os demais nervos que atravessam o seio cavernoso, determinando distúrbios muito típicos dos movimentos do globo ocular. ❖ Pode haver perfuração da carótida interna dentro do seio cavernoso, formando-se, assim, um curto- circuito arteriovenoso (fístula carótido-cavernosa) que determina dilatação e aumento da pressão no seio cavernoso. ❖ Isto faz com que se inverta a circulação nas veias que nele desembocam, como as veias oftálmicas, resultando em grande protrusão do globo ocular, que pulsa simultaneamente com a carótida (exoftálmico pulsátil). ❖ Infecções superficiais da face (como espinhas do nariz) podem se propagar ao seio cavernoso, tornando-se, pois, intracranianas, em virtude das comunicações que existem entre as veias oftálmicas, tributárias do seio cavernoso, e a veia angular, que drena a região nasal. • Seios intercavernosos: unem os dois seios cavernosos, envolvendo a hipófise. • Seio esfenoparietal: percorre a face interior da pequena asa do esfenoide e desemboca no seio cavernoso. • Seio petroso superior: dispõe-se de cada lado, ao longo da inserção da tenda do cerebelo, na porção petrosa do osso temporal. ❖ Drena o sangue do seio cavernoso para o seio sigmoide, terminando próximo à continuação deste com a veia jugular interna. • Seio petroso inferior: percorre o sulco petroso inferior entre o seio cavernoso e o forame jugular, onde termina lançando-se na veia jugular interna. • Plexo basilar: ímpar, ocupa a porção basilar do occipital. Comunica-se com os seios petroso inferior e cavernoso, liga-se ao plexo do forame occipital e, através deste, ao plexo venoso vertebral interno. ARACNOIDE • Membrana muito delicada, justapostaà dura-máter, da qual se separa por um espaço virtual, o espaço subdural, contendo pequena quantidade de líquido necessário à lubrificação das superfícies de contato das duas membranas. • A aracnoide separa-se da pia-máter pelo espaço subaracnóideo, que contém o líquido cerebroespinhal, ou liquor, havendo ampla comunicação entre o espaço subaracnóideo do encéfalo e da medula. • Consideram-se também como pertencendo à aracnoide as delicadas trabéculas que atravessam o espaço para se ligar à pia-máter, e que são denominadas trabéculas aracnóideas. Cisternas subaracnóideas • A aracnoide justapõe-se à dura-máter e ambas acompanham grosseiramente a superfície do encéfalo. • A pia-máter, entretanto, adere intimamente a esta superfície, que acompanha em todos os giros, sulcos e depressões. • Desse modo, a distância entre as duas membranas, ou seja, a profundidade do espaço subaracnóideo é variável, sendo muito pequena no cume dos giros e grande nas áreas onde parte do encéfalo se afasta da parede craniana. • Formam-se assim, nessas áreas, dilatações do espaço subaracnóideo, as cisternas subaracnóideas, que contêm grande quantidade de liquor. • As cisternas mais importantes são as seguintes: ❖ Cisterna cerebelo-medular ou cisterna magna: ocupa o espaço entre a face inferior do cerebelo, o teto do IV ventrículo e a face dorsal do bulbo. ➢ Continua caudalmente com o espaço subaracnóideo da medula e liga-se ao IV ventrículo através de sua abertura mediana. ➢ A cisterna cerebelo-medular é a maior e mais importante, sendo às vezes utilizada para obtenção de liquor através das punções suboccipitais, em que a agulha é introduzida entre o occipital e a primeira vértebra cervical. ❖ Cisterna pontina: situada ventralmente à ponte. ❖ Cisterna interpeduncular: localizada na fossa interpeduncular. ❖ Cisterna quiasmática: situada adiante do quiasma óptico. ❖ Cisterna superior (cisterna da veia cerebral magna): situada dorsalmente ao teto do mesencéfalo, entre o cerebelo e o esplênio do corpo caloso. ❖ Cisterna da fossa lateral do cérebro: corresponde à depressão formada pelo sulco lateral de cada hemisfério. Granulações aracnóideas • Em alguns pontos a aracnoide forma pequenos tufos que penetram no interior dos seios da dura-máter, constituindo as granulações aracnóideas, mais abundantes no seio sagital superior. • As granulações aracnóideas levam pequenos prolongamentos do espaço subaracnóideo, verdadeiros divertículos deste espaço, nos quais o liquor está separado do sangue apenas pelo endotélio do seio e uma delgada camada da aracnoide. • São, pois, estruturas admiravelmente adaptadas à absorção do liquor que, neste ponto, cai no sangue. • A passagem do liquor através da parede das granulações se faz por meio de grandes vacúolos, que o transportam de dentro para fora. ❖ No adulto e no velho, algumas granulações tornam- se muito grandes, constituindo os chamados corpos de Pacchioni, que frequentemente se calcificam e podem deixar impressões na abóbada craniana. PIA-MÁTER • A pia-máter é a mais interna das meninges, aderindo intimamente à superfície do encéfalo e da medula descendo até o fundo dos sulcos cerebrais. • Sua porção mais profunda recebe numerosos prolongamentos dos astrócitos do tecido nervoso, constituindo assim a membrana pio-glial. • A pia-máter dá resistência aos órgãos nervosos, uma vez que o tecido nervoso é de consistência muito mole. • A pia-máter acompanha os vasos que penetram no tecido nervoso a partir do espaço subaracnóideo, formando a parede externa dos espaços perivasculares. • Nestes espaços existem prolongamentos do espaço subaracnóideo, contendo liquor, que forma um manguito protetor em torno dos vasos, muito importante para amortecer o efeito da pulsação das artérias ou picos de pressão sobre o tecido circunvizinho. • O fato de as artérias estarem imersas em liquor no espaço subaracnóideo também reduz o efeito da pulsação. LIQUOR • O liquor ou líquido cérebro espinhal é um fluido aquoso e incolor que ocupa o espaço subaracnóideo e as cavidades ventriculares. • A função primordial do liquor é de proteção mecânica do sistema nervoso central, formando um verdadeiro coxim líquido entre este e o estojo ósseo. • Qualquer pressão ou choque que se exerça em um ponto deste coxim líquido, em virtude do princípio de Pascal, irá se distribuir igualmente a todos os pontos. • Por outro lado, em virtude da disposição do espaço subaracnóideo, o SNC fica totalmente submerso em líquido, o que o torna mais leve e, de 1.500 gramas passa ao peso equivalente a 50 gramas, flutuando no liquor, o que reduz o risco de traumatismos do encéfalo resultantes do contato com os ossos do crânio. CARACTERÍSTICAS CITOLÓGICAS E FÍSICO-QUÍMICAS DO LIQUOR • Através de punções lombares, suboccipitais ou ventriculares, pode-se medir a pressão do liquor, ou colher certa quantidade. • O estudo do liquor é especialmente valioso para o diagnóstico dos diversos tipos de meningites. O liquor normal do adulto é límpido e incolor. • Embora o liquor tenha mais cloretos que o sangue, a quantidade de proteínas é muito menor do que a existente no plasma. • O volume total do liquor é de 100 mL a 150 mL, renovando-se completamente a cada oito horas. • Os plexos corioides produzem cerca de 500 mL por dia através de filtração seletiva do plasma e da secreção de elementos específicos. FORMAÇÃO, CIRCULAÇÃO E ABSORÇÃO DO LIQUOR • Durante muito tempo acreditou-se que o liquor seria formado somente pelos plexos corioides. Entretanto, o liquor é produzido mesmo na ausência de plexos corioides, sendo o epêndima das paredes ventriculares responsável por 40% do total do liquor formado. • O liquor é ativamente secretado pelo epitélio ependimário, sobretudo dos plexos corioides, e sua composição é determinada por mecanismos de transporte específicos. • Existem plexos corioides nos ventrículos laterais (corno inferior e parte central) e no teto do III e IV ventrículos. • Destes, sem dúvida, os ventrículos laterais contribuem com o maior contingente liquórico, que passa ao III ventrículo pelos forames interventriculares e daí ao IV ventrículo através do aqueduto cerebral. • Por meio das aberturas mediana e laterais do IV ventrículo, o liquor formado no interior dos ventrículos ganha o espaço subaracnóideo, sendo reabsorvido, sobretudo através das granulações aracnóideas que se projetam no interior dos seios da dura-máter, pelas quais chega à circulação geral sistêmica. • Como essas granulações predominam no seio sagital superior, a circulação do liquor no espaço subaracnóideo se faz de baixo para cima, devendo, pois, atravessar o espaço entre a incisura da tenda e o mesencéfalo. • No espaço subaracnóideo da medula, o liquor desce em direção caudal, mas apenas uma parte volta, pois há reabsorção liquórica nas pequenas granulações aracnóideas existentes nos prolongamentos da dura- máter que acompanham as raízes dos nervos espinhais. • A circulação do liquor é extremamente lenta. • Além de sua função de proteção mecânica do encéfalo, em torno do qual forma um coxim líquido, o liquor tem as seguintes funções: ❖ Manutenção de um meio químico estável no sistema ventricular, por meio de troca de componentes químicos com os espaços intersticiais, permanecendo estável a composição química do liquor, mesmo quando ocorrem grandes alterações na composição química do plasma. ❖ Excreção de produtos tóxicos do metabolismo das células do tecido nervoso que passam aos espaços intersticiais de onde são lançados no liquor e deste para o sangue.❖ Veículo de comunicação entre diferentes áreas do SNC. Por exemplo, hormônios produzidos no hipotálamo são liberados no sangue, mas também no liquor podendo agir sobre regiões distantes do sistema ventricular. HIDROCEFALIA • Existem processos patológicos que interferem na produção, circulação e absorção do liquor, causando as chamadas hidrocefalias. • Estas se caracterizam por aumento da quantidade e da pressão do liquor, levando à dilatação dos ventrículos e compressão do tecido nervoso de encontro ao estojo ósseo, com consequências muito graves. • Por vezes, a hidrocefalia ocorre durante a vida fetal, geralmente em decorrência de anomalias congênitas do sistema ventricular. • Nesses casos, assim como em lactentes jovens, já que ossos do crânio ainda não estão soldados, há grande dilatação da cabeça da criança, o que confere alguma proteção ao encéfalo. • No adulto, como o crânio não se expande, a pressão intracraniana se eleva rapidamente, com compressão das estruturas e sintomas típicos de cefaleia e vômitos, evoluindo para herniação, coma e óbito, caso não ocorra tratamento de urgência. • Existem dois tipos de hidrocefalias: comunicantes e não comunicantes. ❖ As hidrocefalias comunicantes resultam do aumento na produção ou deficiência na absorção do liquor, em razão de processos patológicos dos plexos corioides ou dos seios da dura-máter e granulações aracnóideas. ❖ As hidrocefalias não comunicantes são muito mais frequentes e resultam de obstruções no trajeto do liquor, o que pode ocorrer nos seguintes locais: ➢ Forame interventricular: provocando dilatação do ventrículo lateral correspondente. ➢ Aqueduto cerebral: provocando dilatação do III ventrículo e dos ventrículos laterais, contrastando com o IV ventrículo, que permanece com dimensões normais. ➢ Aberturas medianas e laterais do IV ventrículo: provocando dilatação de todo o sistema ventricular. ➢ Incisura da tenda: impedindo a passagem do liquor do compartimento infratentorial para o supratentorial, provocando também dilatação de todo o sistema ventricular ❖ Existem vários procedimentos cirúrgicos visando diminuir a pressão liquórica nas hidrocefalias. Pode- se, por exemplo, drenar o liquor por meio de um cateter, ligando um dos ventrículos à cavidade peritoneal, nas chamadas derivações ventrículo- peritoneais. HIPERTENÇÃO CRANIANA • Um dos aspectos mais importantes da cavidade crânio- vertebral e seu revestimento de dura-máter é o fato de ser uma cavidade completamente fechada, que não permite a expansão de seu conteúdo. • Desse modo, o aumento de volume de qualquer componente da cavidade craniana reflete-se sobre os demais, levando ao aumento da pressão intracraniana. • Tumores, hematomas e outros processos expansivos intracranianos comprimem não só as estruturas em sua vizinhança imediata, mas todas as estruturas da cavidade crânio-vertebral, determinando um quadro de hipertensão craniana com sintomas característicos, entre os quais se sobressai a cefaleia, podendo também ocorrer vômitos. • Pode haver também formação de hérnias de tecido nervoso. • Quando se comprimem no pescoço as veias jugulares internas que drenam o sangue do encéfalo, há estase sanguínea, com aumento da quantidade de sangue nos vasos cerebrais. • Isso resulta em imediato aumento da pressão intracraniana que se reflete na pressão liquórica, o que pode ser detectado medindo-se essa pressão durante uma punção lombar. • O fenômeno é utilizado para verificar se o espaço subaracnóideo da medula está obstruído, o que obviamente impede o aumento da pressão liquórica abaixo do nível da obstrução. • Leva à compressão do nervo óptico, por ser envolvido por um prolongamento do espaço subaracnóideo. • Isso causa obliteração da veia central da retina, a qual passa em seu interior, o que resulta em ingurgitamento das veias da retina, com edema da papila óptica (papiledema). • Essas modificações são facilmente detectadas no exame do fundo de olho, permitindo diagnosticar o quadro da hipertensão craniana e acompanhar sua evolução. HÉRNIAS INTRACRANIANAS • As pregas da dura-máter dividem a cavidade craniana em compartimentos separados por septos mais ou menos rígidos. • Processos expansivos, como tumores ou hematomas que se desenvolvem em um deles, aumentam a pressão dentro do compartimento, podendo causar a protrusão de tecido nervoso para o compartimento vizinho. • Assim, um tumor em um dos hemisférios cerebrais pode causar hérnias do giro do cíngulo, que se insinua entre a borda da foice do cérebro e o corpo caloso, fazendo protrusão para o lado oposto. • Entretanto, são mais importantes, pelas graves consequências que acarretam as hérnias do úncus e das tonsilas. • Hérnias do úncus ❖ Nesse caso, um processo expansivo cerebral, determinando aumento de pressão no compartimento supratentorial, empurra o úncus, que faz protrusão através da incisura da tenda do cerebelo, comprimindo o mesencéfalo. ❖ Inicialmente há compressão do nervo oculomotor na base do pedúnculo cerebral. ❖ Ocorre dilatação da pupila do olho do mesmo lado da lesão com resposta lenta à luz, progredindo para dilatação completa, desvio lateral do olhar, com paralisia contralateral. ❖ A sintomatologia mais característica e mais grave é a rápida perda da consciência, ou coma profundo por lesão das estruturas mesencefálicas, responsáveis pela ativação do córtex cerebral. • Hérnias das tonsilas ❖ Um processo expansivo na fossa posterior, como um tumor em um dos hemisférios cerebelares, pode empurrar as tonsilas do cerebelo através do forame magno, produzindo hérnia de tonsila. ❖ Nesse caso, há compressão do bulbo, levando geralmente à morte por lesão dos centros respiratório e vasomotor que nele se localizam. ❖ O quadro pode ocorrer também quando se faz uma punção lombar em pacientes com hipertensão craniana. ❖ Nesse caso, há súbita diminuição da pressão liquórica no espaço subaracnóideo espinhal, causando a penetração das tonsilas através do forame magno. ❖ Não se deve, portanto, na suspeita de hipertensão intracraniana, realizar uma punção liquórica sem antes realizar o fundo de olho ou exame de imagem, em razão do risco de herniação do tecido nervoso. HEMATOMAS EXTRADURAIS E SUBDURAIS • Uma das complicações mais frequentes dos traumatismos cranianos são as rupturas de vasos que resultam em acúmulo de sangue nas meninges sob a forma de hematomas. • Assim, lesões das artérias meníngeas, ocorrendo durante fraturas de crânio, sobretudo da artéria meníngea média, resultam em acúmulo de sangue entre a dura-máter e os ossos do crânio, formando-se um hematoma extradural. • O hematoma cresce, separando a dura-máter do osso, e empurra o tecido nervoso para o lado oposto, levando à morte em poucas horas se o sangue em seu interior não for drenado. • Nos hematomas subdurais, o sangramento se dá no espaço subdural, geralmente em consequência da ruptura de uma veia cerebral no ponto em que ela entra no seio sagital superior. • São mais frequentes os casos em que o crescimento do hematoma é lento, e a sintomatologia aparece tardiamente. • No caso de hemorragias no espaço subaracnóideo, não se formam hematomas, uma vez que o sangue se espalha no liquor, podendo ser visualizado em uma punção lombar. • Ocorre nos casos de ruptura de vasos de malformações arteriovenosas ou de aneurismas cerebrais. O quadro clínico é agudo, com cefaleia muito intensa, podendo ocorrer alteração de consciência.