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Distúrbios sensoriais, motores e da consciência P5 - “Coisas esquisitas” 1) Conceituar crise epiléptica, crise aguda sintomática, crise única, epilepsia; Crise Epiléptica Evento clínico súbito, transitório e autolimitado, causado por uma descarga elétrica anormal, excessiva e síncrona dos neurônios do córtex cerebral. Essa atividade elétrica desorganizada interfere nas funções normais do cérebro e se manifesta de formas variadas — motoras, sensitivas, autonômicas, cognitivas ou comportamentais. 🚨 Nem toda crise epiléptica está relacionada à epilepsia: pode ocorrer isoladamente, sem que o paciente seja epiléptico (ex: crises sintomáticas agudas ou únicas). 🔹 Fisiopatologia O cérebro mantém um equilíbrio entre: • Neurotransmissores excitatórios (principalmente o glutamato) e • Neurotransmissores inibitórios (principalmente o GABA). Na crise epiléptica, esse equilíbrio se rompe → ocorre hiperexcitabilidade neuronal e hiperssincronismo entre grupos de neurônios corticais. Essa descarga anormal pode: • Permanecer restrita a uma região (crise focal); ou • Propagar-se para ambos os hemisférios (crise generalizada). 🔹 Fases da Crise 1. Pródromo: alterações de humor, irritabilidade, ansiedade ou cefaleia horas antes da crise (nem sempre presente). 2. Aura: sintoma inicial breve, que indica o início da descarga elétrica e ajuda a localizar o foco (ex: sensação epigástrica, cheiro estranho, déjà vu, medo súbito). 3. Ictal: fase da crise em si — manifestações motoras, sensitivas, autonômicas ou cognitivas. 4. Pós-ictal: período de recuperação, com confusão, cefaleia, sonolência e amnésia parcial. Crise Aguda Sintomática (ou Crise Provocada) A crise aguda sintomática é uma crise epiléptica provocada por uma causa aguda, identificável e reversível. Ou seja, o cérebro sofre um insulto temporário, que aumenta a excitabilidade neuronal e causa a descarga elétrica anormal — mas, após o tratamento da causa, o risco de recorrência desaparece. ➡ É uma crise secundária, e não caracteriza epilepsia. 🔹 Mecanismo Fisiopatológico Durante uma condição aguda que afeta o sistema nervoso (como trauma, infecção ou distúrbio metabólico), há desequilíbrio entre os neurotransmissores excitatórios (glutamato) e inibitórios (GABA). Esse desequilíbrio gera hiperexcitabilidade neuronal, levando à descarga elétrica anormal e sincronizada, típica das crises epilépticas — mas de forma transitória. Assim que a causa é corrigida, a função cerebral volta ao normal, e as crises cessam. 🔹 Principais Causas 🧠 Causas estruturais agudas • AVC isquêmico ou hemorrágico (fase aguda) • Traumatismo cranioencefálico (TCE) • Tumores cerebrais em crescimento rápido • Hemorragia subaracnóidea 📌 As crises ocorrem nas primeiras horas ou dias do evento. 💉 Causas metabólicas e tóxicas • Hipoglicemia • Hiponatremia / hipernatremia • Uremia (insuficiência renal) • Hepatopatia (encefalopatia hepática) • Hipocalcemia / hipomagnesemia • Uso ou abstinência de álcool, benzodiazepínicos, cocaína ou outras drogas estimulantes 🦠 Causas infecciosas • Meningite bacteriana • Encefalite viral • Abscesso cerebral • Neurocisticercose ativa 🌡 Outras condições precipitantes • Febre alta em crianças (crise febril) • Pós-operatório de neurocirurgia • Hipóxia cerebral (parada cardiorrespiratória, anóxia neonatal) 🔹 Características Clínicas • Ocorrem durante ou logo após o evento causal (geralmente nas primeiras 24–48 horas). • A manifestação pode ser idêntica a uma crise epiléptica comum (motora, sensitiva ou generalizada). • Normalmente não há recorrência após o tratamento da causa. • Estado pós-ictal (confusão, sonolência) pode estar presente, como nas crises epilépticas. 📌 O ponto chave é o contexto clínico: o paciente está metabolicamente instável ou com lesão cerebral aguda. Crise única A crise única é uma crise epiléptica não provocada que ocorre apenas uma vez, sem repetição e sem causa desencadeante identificável (como distúrbios metabólicos, infecção ou trauma). ➡ Em outras palavras: o paciente tem uma descarga elétrica cerebral anormal, típica de uma crise epiléptica, mas o evento é isolado. Isso significa que ele não tem epilepsia, pois não há tendência à recorrência. 🔹 Fisiopatologia Durante a crise única, há um episódio transitório de hiperexcitabilidade e hiperssincronismo neuronal no córtex cerebral, igual ao que ocorre nas crises epilépticas típicas. A diferença é que essa disfunção não se repete, pois o cérebro volta ao equilíbrio normal entre os neurotransmissores: • Glutamato (excitatório) • GABA (inibitório) Essa alteração pode acontecer em situações ocasionais — como privação de sono, fadiga extrema ou estresse intenso — sem que haja uma lesão estrutural ou predisposição crônica. 🔹 Características Clínicas • Episódio súbito e autolimitado, geralmente com perda de consciência e movimentos tônico-clônicos (como nas crises generalizadas). • Pode haver aura antes do evento e período pós-ictal (confusão e sonolência). • O paciente se recupera completamente após o episódio. • Não há recorrência espontânea. 📌 Importante: a ausência de repetição é o que define o diagnóstico de crise única — se novas crises ocorrerem, o diagnóstico muda para epilepsia. 🔹 Causas e Fatores Associados Mesmo sem uma “causa aguda”, alguns fatores podem predispor à ocorrência de uma crise única: • Privação de sono • Estresse emocional intenso • Uso de álcool em excesso ou abstinência • Uso de estimulantes (cafeína, drogas recreativas) • Mudanças hormonais (menstruação, puberdade) • Exposição a luzes intermitentes (crises fotossensíveis) 🚨 Essas condições aumentam temporariamente a excitabilidade cortical, favorecendo o surgimento de uma crise isolada. Epilepsia A epilepsia é uma doença neurológica crônica do sistema nervoso central, caracterizada por uma tendência duradoura e espontânea do cérebro a gerar crises epilépticas recorrentes. ➡ Ou seja, o cérebro do paciente tem hiperexcitabilidade persistente — ele produz descargas elétricas anormais sem precisar de uma causa aguda ou provocadora. 📍 O diagnóstico de epilepsia não é feito após uma única crise: é preciso recorrência ou alto risco de recorrência. 🔹 Fisiopatologia Ocorre um desequilíbrio entre excitação e inibição cerebral: • Aumento da atividade excitatória (glutamato) • Redução da atividade inibitória (GABA) Isso leva a hiperexcitabilidade e hiperssincronismo neuronal, que geram as descargas elétricas anormais responsáveis pelas crises. Com o tempo, há reorganização das conexões neuronais, o que perpetua a tendência às crises. 🔹 Classificação (ILAE 2017) A epilepsia pode ser classificada de acordo com: Início da crise • Epilepsia focal: crises originam-se em uma área localizada de um hemisfério. • Epilepsia generalizada: crises envolvem ambos os hemisférios desde o início. • Epilepsia combinada ou desconhecida: quando coexistem características de ambos ou não é possível determinar o foco. Etiologia • Genética: alterações em canais iônicos ou mutações hereditárias (ex: epilepsia mioclônica juvenil). • Estrutural/metabólica: consequência de AVC, trauma, tumor, infecção, malformação cortical. • Imune: encefalites autoimunes (anti- NMDA, anti-LGI1). • Infecciosa: neurocisticercose, toxoplasmose, encefalite viral. • Idiopática: sem causa identificável. 🔹 Tipos Clínicos de Crises na Epilepsia 🧠 Crises Focais • Iniciam em um hemisfério específico. • Podem ser: o Com consciência preservada: o paciente percebe o evento (ex: abalos em um membro,formigamentos). o Com consciência prejudicada: desconexão com o ambiente, olhar fixo, automatismos (mastigar, arrumar roupa). o Com evolução para bilateral tônico-clônica: começa focal e se espalha. 📍 Mais comum: epilepsia do lobo temporal. ⚡ Crises Generalizadas • Envolvem ambos os hemisférios cerebrais desde o início. • Sempre há perda de consciência. Principais formas: • Tônico-clônica: rigidez seguida de abalos generalizados, mordedura de língua, incontinência urinária. • Ausência: olhar fixo e desconexão breve, sem queda nem confusão (típica de crianças). • Mioclônica: abalos musculares súbitos e rápidos (como um “tranco”). • Atônica: perda súbita do tônus → quedas bruscas. 2) Classificar as epilepsias: tipos de crise epilépticas, tipos de epilepsia, síndromes epilépticas; ⚡ Tipos de Crise Epiléptica As crises são classificadas de acordo com: 1. O início da descarga elétrica (focal, generalizado ou desconhecido); 2. O nível de consciência; 3. As manifestações clínicas predominantes (motoras ou não motoras). 🔹 1. Crises Focais (ou Parciais) ➡ Ocorrem quando a descarga elétrica começa em uma área específica de um hemisfério cerebral. Podem ficar restritas ou se espalhar para o outro hemisfério. 🔸 Tipos: a) Focal com consciência preservada (antiga crise parcial simples) • O paciente permanece consciente e lembra do episódio. • Dura segundos a 1–2 minutos. • Manifestações variam conforme o local da descarga: o Motora: abalos em um membro ou parte do rosto. o Sensitiva: formigamentos, dor, sensação de calor. o Sensorial: alucinações visuais, auditivas, olfativas ou gustativas. o Autonômica: náuseas, rubor, palpitações, sensação epigástrica ascendente. o Psíquica: déjà vu, medo súbito, sensação de irrealidade. 📍 Exemplo: o paciente sente cheiro estranho e formigamento no braço, mas fica consciente o tempo todo. b) Focal com consciência prejudicada (antiga crise parcial complexa) • Há alteração do nível de consciência — o paciente parece “desligado”, com olhar fixo. • Apresenta automatismos: mastigar, mexer nas mãos, arrumar a roupa, murmurar. • Após a crise, há confusão e sonolência (fase pós-ictal). • Dura 1–2 minutos. 📍 Mais comum: epilepsia do lobo temporal. c) Focal que evolui para bilateral tônico- clônica • A crise começa localizada (por exemplo, abalos em uma mão) e depois se espalha para todo o corpo, tornando-se tônico-clônica generalizada. • O paciente perde a consciência durante a generalização. 📍 É a forma mais comum de generalização secundária. 🔹 2. Crises Generalizadas ➡ A descarga elétrica envolve ambos os hemisférios desde o início. ➡ O paciente sempre perde a consciência. 🔸 Tipos principais: a) Crise tônico-clônica (grande mal) • Início súbito com perda da consciência. • Fase tônica: rigidez muscular generalizada (dura 10–20 segundos). • Fase clônica: abalos musculares rítmicos e rápidos (30–60 segundos). • Mordedura de língua, incontinência urinária, cianose são comuns. • Pós-ictal: confusão, cefaleia e sonolência profunda. 📍 É o tipo mais conhecido e dramático de crise epiléptica. b) Crise de ausência (pequeno mal) • Episódios breves (5–15 segundos) de desconexão com o ambiente. • O paciente para o que está fazendo, fixa o olhar e não responde. • Após a crise, retoma imediatamente a atividade, sem confusão. • Ocorre várias vezes ao dia. • EEG: complexos ponta-onda de 3 Hz. 📍 Mais comum em crianças e adolescentes. ✨ Exemplo: a criança “se desconecta” durante a aula e depois volta ao normal. c) Crise mioclônica • Abalos musculares rápidos e bruscos, geralmente nos braços e ombros. • Ocorrem logo após acordar. • O paciente não perde a consciência. 📍 Típica da epilepsia mioclônica juvenil. d) Crise tônica • Rigidez muscular súbita e intensa, sem abalos. • Pode levar à queda e risco de trauma. 📍 Comum na síndrome de Lennox-Gastaut. e) Crise clônica • Abalos musculares rítmicos repetitivos, sem fase tônica inicial. • Menos comum isoladamente. f) Crise atônica (ou acinética) • Perda súbita do tônus muscular → o paciente cai bruscamente. • Recuperação rápida, mas com risco de ferimentos. 📍 Também ocorre em síndromes epilépticas graves da infância (como Lennox-Gastaut). 🔹 3. Crises de Início Desconhecido • Quando não é possível determinar se a crise começou de forma focal ou generalizada (ex: paciente dormindo, sem testemunhas). • Com o tempo, podem ser reclassificadas após novos exames. 🔹 4. Estado Pós-Ictal Após qualquer tipo de crise (especialmente tônico-clônica), o paciente pode apresentar: • Confusão mental e desorientação; • Sonolência intensa; • Cefaleia e mialgia; • Fraqueza transitória (Paralisia de Todd). Esse período é característico das crises epilépticas verdadeiras — e não ocorre nas síncopes. ⚡ Tipos de epilepsia A epilepsia é classificada de acordo com: 1. O início das crises (focal, generalizada, combinada ou desconhecida); 2. A causa (etiologia) — genética, estrutural, metabólica, infecciosa, imune ou desconhecida; 3. A síndrome clínica, quando identificável. Epilepsia Focal (ou Parcial) ➡ Origina-se de descargas elétricas em uma região específica de um hemisfério cerebral. ➡ Pode afetar consciência, movimento, sensações ou comportamento, dependendo da área cerebral envolvida. 🧠 Causas: • Cicatriz cortical pós-trauma; • AVC; • Tumor cerebral; • Malformação cortical; • Infecção (neurocisticercose, por exemplo). ⚙ Localização e sintomas: Localização Manifestações clínicas típicas Lobo temporal Aura epigástrica (sensação no estômago subindo), déjà vu, medo súbito, automatismos (mastigar, mexer nas mãos). Pós-ictal com confusão prolongada. Lobo frontal Crises curtas, frequentes, noturnas, com movimentos tônicos ou gritos. Pouca confusão pós-ictal. Lobo parietal Parestesias, formigamentos, sensação de calor ou frio, distorções da imagem corporal. Lobo occipital Alucinações visuais simples (pontos luminosos, flashes, distorções visuais). Epilepsia Generalizada ➡ As descargas elétricas ocorrem simultaneamente em ambos os hemisférios. ➡ Há perda de consciência desde o início e manifestações bilaterais (motores ou não). 💡 Causas: • Genéticas, envolvendo canais iônicos neuronais. • Sem lesão estrutural visível na RM. ⚡ Tipos principais: Tipo de epilepsia Faixa etária Características Epilepsia de ausência infantil 4–10 anos Múltiplos episódios diários de "desligamento" (ausência), sem queda, retomada imediata. Epilepsia mioclônica juvenil (EMJ) Adolescência Abalos mioclônicos ao despertar, com ou sem crises tônico-clônicas. Epilepsia tônico- clônica generalizada Adolescência- adulto Crises tônico-clônicas bilaterais, sem aura. Síndrome de Lennox- Gastaut Infância Crises múltiplas (tônicas, atônicas, ausências), atraso cognitivo, EEG com ponta-onda lenta (Prognóstico Epilepsia Rolândica (benigna da infância) 3–13 anos Crises noturnas com abalos orofaciais, salivação, fala travada. Excelente — remite na adolescência. Epilepsia mioclônica juvenil Adolescência Abalos matinais, geralmente ao acordar. Boa resposta ao valproato. Epilepsia de ausência infantil 4–10 anos Crises de ausência frequentes, curtas e discretas. Boa resposta à etossuximida. Síndrome de Lennox- Gastaut 2–6 anos Crises múltiplas, atraso cognitivo, EEG com ponta- onda lenta. Grave e refratária. Síndrome de West (espasmos infantis) 100 episódios/dia). • Sem confusão pós-ictal. ⚡ EEG: • Complexos ponta-onda de 3 Hz durante a crise. 💊 Tratamento: • Etossuximida (primeira escolha). • Alternativas: valproato ou lamotrigina. 🌿 Prognóstico: • Geralmente benigno — remite na adolescência. Epilepsia Mioclônica Juvenil (EMJ) 📍 Idade de início: • Adolescência (12–18 anos). 💥 Manifestações clínicas: • Abalos mioclônicos súbitos, geralmente ao acordar. • Podem ocorrer crises tônico-clônicas e, às vezes, crises de ausência. • O paciente não perde consciência nos abalos mioclônicos. ⚡ Fatores desencadeantes: • Privação de sono, álcool, luzes piscantes (fotossensibilidade). ⚡ EEG: • Ponta-onda generalizada rápida (4–6 Hz). 💊 Tratamento: • Valproato de sódio (melhor opção). • Alternativas: levetiracetam, lamotrigina, topiramato. • 🚫 Evitar carbamazepina — pode piorar crises. 🌿 Prognóstico: • Bom controle com tratamento, mas costuma persistir por toda a vida. • É uma epilepsia genética generalizada. Síndrome de West (Espasmos Infantis) 📍 Idade de início: • Menos de 1 ano de idade (pico: 3–8 meses). 💥 Tríade clássica: 1. Espasmos em flexão/extensão súbitos e repetidos (“em salva”); 2. Regressão do desenvolvimento neuropsicomotor; 3. EEG com hipsarritmia (atividade caótica, desorganizada). ⚡ Causas: Variadas: hipóxia perinatal, infecções, malformações, esclerose tuberosa. 💊 Tratamento: • Vigabatrina (se associada à esclerose tuberosa). • ACTH (hormônio adrenocorticotrópico) é a primeira escolha em geral. • Alternativas: corticosteroides ou valproato. 🌿 Prognóstico: • Ruim — alto risco de evoluir para Síndrome de Lennox-Gastaut e déficits cognitivos. Síndrome de Lennox-Gastaut 📍 Idade de início: • 2 a 6 anos (geralmente após uma encefalopatia infantil, como West). 💥 Manifestações clínicas: • Vários tipos de crise: tônicas (mais frequentes), atônicas, mioclônicas e ausências atípicas. • Déficit cognitivo progressivo. • Resistência a medicamentos. ⚡ EEG: • Complexos ponta-onda lentos (após a crise. 🧩 EEG: complexos ponta-onda de 3 Hz, generalizados e simétricos. Crise Mioclônica 💥 Características clínicas: • Abalos musculares súbitos, rápidos e breves (como um “tranco”). • Ocorrem principalmente ao despertar. • Envolvem braços e ombros, podendo fazer o paciente derrubar objetos. • Consciência preservada (diferente da tônico-clônica). • Podem preceder ou acompanhar outras crises generalizadas (ex: EMJ). 📍 Exemplo clássico: Epilepsia Mioclônica Juvenil. 🧩 EEG: ponta-onda poliespícula de 4–6 Hz. Crise Tônica 💥 Características clínicas: • Contração muscular sustentada e súbita, com rigidez generalizada. • Pode haver queda brusca se o paciente estiver em pé. • Sem abalos clônicos subsequentes. • Frequentemente ocorre durante o sono. • Pode estar associada à síndrome de Lennox-Gastaut. 🧩 EEG: descargas de ondas rápidas e de alta amplitude durante a rigidez. Crise Clônica 💥 Características clínicas: • Abalos musculares rítmicos repetitivos, simétricos e bilaterais. • Ocorre sem fase tônica inicial. • Mais rara de ocorrer isoladamente. • A consciência é abolida. 🧩 EEG: complexos ponta-onda a 2–3 Hz durante os abalos. Crise Atônica (ou Acinética) 💥 Características clínicas: • Perda súbita do tônus muscular → paciente cai bruscamente. • Pode causar traumatismos cranianos (queda sem proteção). • Recuperação rápida da consciência. • Curta duração (1–2 segundos). 📍 Frequente na síndrome de Lennox- Gastaut e em crianças com epilepsias graves. 🧩 EEG: descargas generalizadas de ponta- onda lentas, às vezes seguidas de silêncio elétrico. ⚡ Manifestações Clínicas das Crises Focais 🧠 Conceito As crises focais (ou parciais) são aquelas que se originam em uma área específica de um hemisfério cerebral. Elas podem permanecer restritas a essa região ou se espalhar para outras áreas — inclusive generalizar. ➡ A manifestação clínica depende diretamente da localização da descarga elétrica (ou seja, da área cortical envolvida). ➡ A consciência pode ou não ser afetada. 🔹 Classificação das Crises Focais (ILAE, 2017) 1. Focal com consciência preservada (antiga crise parcial simples) 2. Focal com consciência prejudicada (antiga crise parcial complexa) 3. Focal que evolui para bilateral tônico-clônica 🔸 1. Crise Focal com Consciência Preservada O paciente permanece consciente e lembra do episódio. • Duração curta — geralmente segundos a 1–2 minutos. • Ocorre uma manifestação clínica específica conforme o local do cérebro envolvido. 💥 Tipos de manifestações: Tipo de crise Área afetada Manifestações clínicas típicas Motora Lobo frontal / pré-central Abalos localizados (ex: em uma mão, braço ou face), que podem se espalhar gradualmente para segmentos vizinhos (marcha jacksoniana). Sensitiva Lobo parietal Formigamentos, dormência, sensação de calor/frio, dor localizada. Pode haver progressão no mesmo padrão da marcha jacksoniana. Sensorial Lobo occipital / temporal - Visual: flashes, pontos de luz, perda visual momentânea. - Auditiva: zumbidos, sons distorcidos. - Olfativa/gustativa: cheiros ou sabores estranhos (auras olfatórias). Autonômica Ínsula, hipotálamo, sistema límbico Palpitação, rubor, sudorese, náusea, sensação epigástrica ascendente (muito típica do lobo temporal). Psíquica (aura) Lobo temporal / sistema límbico Sensação de medo súbito, déjà vu, jamais vu, sensação de irrealidade, alteração de percepção do tempo. 🧩 Importante: Essas crises são frequentemente o início (aura) de crises mais complexas — podem evoluir para perda da consciência ou generalização. 🔸 2. Crise Focal com Consciência Prejudicada Ocorre alteração do nível de consciência: o paciente parece “desligado” e não responde adequadamente. • Duração: 1 a 2 minutos, seguida de fase pós-ictal com confusão e sonolência. • O paciente não lembra do episódio. 💥 Manifestações típicas: • Início com uma aura (ex: sensação epigástrica, medo, cheiro estranho). • Depois, o paciente fixa o olhar, para de falar e fica imóvel ou faz movimentos automáticos. ✋ Automatismos comuns: • Mastigar, deglutir, esfregar as mãos, arrumar roupas, murmurar. • Podem ser simples (movimento repetitivo) ou complexos (andar sem rumo, abrir portas). 💡 Localização mais comum: • Lobo temporal mesial, mas também pode ocorrer no lobo frontal. 🧩 EEG: • Descargas rítmicas focais (geralmente temporais). 🔸 3. Crise Focal Evoluindo para Bilateral Tônico-Clônica Começa focalmente (com aura ou sinais localizados) e depois se espalha para ambos os hemisférios, tornando-se tônico-clônica generalizada. • Durante a generalização, há perda total da consciência. 📍 Exemplo clássico: • O paciente sente formigamento no braço direito (crise sensitiva focal), o braço começa a tremer e, em seguida, todo o corpo entra em convulsão. 🔹 Auras (sintomas iniciais de crises focais) As auras são sensações subjetivas que antecedem a crise com alteração da consciência. Elas representam crises focais com consciência preservada e ajudam a localizar o foco epileptogênico. Tipo de aura Local cerebral Descrição Epigástrica Lobo temporal Sensação de calor ou desconforto que sobe do estômago até o tórax. Olfativa / gustativa Temporal (uncus) Cheiro ou gosto estranho, muitas vezes desagradável. Psíquica / emocional Temporal / límbico Sensação de medo, déjà vu, irrealidade. Visual Occipital Luzes piscantes, escotomas, distorções de imagem. Auditiva Temporal Sons distorcidos, zumbidos. Sensitiva Parietal Formigamento ou dormência localizados. 🔹 Manifestações conforme o lobo cerebral Lobo envolvido Manifestações clínicas Frontal Crises curtas (observado nas crises em salvas. 🕒 Características adicionais • As crises duram 1 a 2 segundos cada, mas costumam ocorrer em salvas (dezenas a centenas de espasmos em sequência). • São mais frequentes ao acordar ou durante a transição sono-vigília. • A consciência está alterada durante o episódio. • Após a crise, o bebê pode chorar, ficar irritado ou sonolento. • Os pais frequentemente descrevem como se o bebê “levasse um susto repetidas vezes”. 📍 Exemplo clássico de relato dos pais: “Meu bebê dá um tranco e encolhe o corpo várias vezes seguidas, como se levasse um choque.” 💡 Sinais associados importantes • Perda ou regressão do desenvolvimento neuropsicomotor (a criança para de evoluir ou perde habilidades adquiridas). • Alterações de comportamento: o bebê fica menos interativo, menos atento, com olhar perdido. • Alterações do sono e alimentação. ⚠ Causas (Etiologias associadas) Os espasmos epilépticos são um sintoma, não uma doença isolada — podem ter várias causas: Tipo Exemplos Sintomática (secundária) Hipóxia perinatal, hemorragia intracraniana, meningite, esclerose tuberosa, malformações cerebrais, infecções congênitas (toxoplasmose, CMV). Criptogênica / Idiopática Sem causa identificável, desenvolvimento prévio normal. 4) Identificar a etiologia das crises epilépticas; Nem toda crise epiléptica significa epilepsia. 👉 Crise epiléptica = evento único, causado por uma descarga elétrica anormal e transitória de neurônios corticais. 👉 Epilepsia = tendência crônica e recorrente do cérebro em gerar crises espontâneas. Por isso, é essencial identificar a causa (etiologia) da crise — para saber se é uma crise sintomática aguda, uma crise única idiopática, ou parte de uma síndrome epiléptica crônica. 🔹 Classificação Etiológica das Crises Epilépticas (ILAE 2017) A Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE) divide as causas em 5 grandes grupos, de acordo com o mecanismo envolvido 👇 Categoria Descrição Exemplos clínicos Estrutural Lesões anatômicas cerebrais que alteram a função neuronal. - AVC (isquêmico ou hemorrágico)- Traumatismo cranioencefálico (TCE)- Tumores cerebrais- Malformações corticais (heterotopia, displasia)- Esclerose hipocampal (epilepsia temporal mesial) Genética Alterações genéticas que afetam canais iônicos, receptores e sinapses, levando à hiperexcitabilidad e neuronal. - Epilepsia mioclônica juvenil- Epilepsia de ausência infantil- Síndromes familiares (mutação em SCN1A, GABRA1, CHRNA4, entre outras) Infecciosa Infecções que causam inflamação, cicatrizes ou lesões no SNC. - Neurocisticercose 🧩 (a causa mais comum no Brasil)- Meningite / encefalite viral ou bacteriana- Toxoplasmose congênita- HIV, tuberculose cerebral Metabólica Distúrbios sistêmicos que alteram o metabolismo cerebral e excitabilidade neuronal. - Hipoglicemia, hiponatremia, hipocalcemia- Insuficiência renal ou hepática grave- Erros inatos do metabolismo (fenilcetonúria, mitocondriopatias )- Acidose láctica Imune Doenças autoimunes com inflamação cerebral que - Encefalite anti- NMDA- Encefalite límbica (anti-LGI1, anti- causam descargas epilépticas. GAD)- Síndrome de Rasmussen (encefalite autoimune infantil) Desconhecid a Quando, mesmo após ampla investigação (EEG, RM, exames laboratoriais, genética), não se identifica a causa. - Epilepsia criptogênica (provável causa estrutural ou genética ainda não definida) 🔸 1. Causas Estruturais (Sintomáticas) 📍 As mais frequentes nos adultos. 🔹 Exemplos: • AVC → causa frequente em idosos; crises podem ocorrer dias ou meses após o evento. • TCE → crises precoces (nas primeiras 24h) ou tardias (dias/meses depois). • Tumores → gliomas, metástases, meningiomas. • Cicatrizes pós-infecção (encefalite, abscesso). • Esclerose mesial temporal → causa clássica de epilepsia focal com automatismos. 💡 Essas crises são chamadas de epilepsias sintomáticas estruturais. 🔸 2. Causas Genéticas (Epilepsias Idiopáticas ou Familiares) 📍 Ocorrem principalmente na infância e adolescência, com ausência de lesão estrutural no cérebro. 🔹 Mecanismo: mutações em genes de canais iônicos (sódio, potássio, cálcio) → neurônios se tornam hiperexcitáveis. 🔹 Exemplos: • Epilepsia de ausência infantil (canal de cálcio T-type). • Epilepsia mioclônica juvenil (canal GABA-A). • Epilepsia benigna rolândica da infância (canal de sódio SCN1A). 💡 Geralmente resposta muito boa ao tratamento e prognóstico favorável. 🔸 3. Causas Infecciosas 📍 Muito comuns em países em desenvolvimento (como o Brasil). 🔹 Principais: • Neurocisticercose: causa mais comum de epilepsia adquirida na América Latina. o Resulta da invasão do SNC por cistos da Taenia solium. o As crises são focais (por lesões corticais únicas ou múltiplas). • Meningite / Encefalite viral: podem deixar cicatrizes que geram focos epilépticos. • Toxoplasmose / Tuberculose / HIV → inflamação e necrose local. 💡 Geralmente são epilepsias sintomáticas, e o tratamento envolve controle da infecção + anticonvulsivante. 🔸 4. Causas Metabólicas e Tóxicas 📍 Provocam crises agudas sintomáticas, não epilepsia crônica. 🔹 Mecanismos: • A alteração metabólica muda o equilíbrio iônico e a excitabilidade neuronal. 🔹 Exemplos: • Hipoglicemia / hipernatremia / hiponatremia / hipocalcemia → despolarização anormal dos neurônios. • Uremia / encefalopatia hepática. • Intoxicações: álcool, cocaína, anfetaminas, isoniazida, penicilinas em altas doses. • Abstinência alcoólica: crises 6–48h após interrupção do álcool. 💡 São crises agudas, autolimitadas — o controle do distúrbio metabólico resolve o quadro. 🔸 5. Causas Imunes (Autoimunes) 📍 Mais reconhecidas nos últimos anos — ocorrem por autoanticorpos que atacam receptores neuronais. 🔹 Exemplos: • Encefalite anti-NMDA: causa crise, psicose, discinesia e disautonomia. • Encefalite anti-LGI1: crises faciobraquiais (contrações de face e braço). • Síndrome de Rasmussen: epilepsia progressiva e refratária unilateral em crianças. 💡 Diagnóstico com anticorpos no sangue ou líquor; tratamento com imunoterapia (corticoide, imunoglobulina, plasmaférese). 🔸 6. Etiologia Desconhecida / Criptogênica 📍 Quando nenhuma causa é encontrada, mesmo após exames completos (EEG, RM, painel genético). • Suspeita-se de causa genética ou estrutural ainda não identificável. • Exemplo: epilepsia generalizada idiopática do adulto. 5) Estabelecer diagnóstico diferencial das crises; Uma crise epiléptica é causada por uma descarga elétrica anormal e excessiva dos neurônios do córtex cerebral. Essa descarga gera manifestações súbitas e transitórias — motoras, sensitivas, autonômicas ou psíquicas. Mas várias outras condições podem causar episódios súbitos semelhantes sem origem elétrica cortical, como síncope, crises psicogênicas, hipoglicemia, etc. Por isso, o diagnóstico diferencial é clínico e baseado em história detalhada + exame físico + EEG. 🔹 Principais Diagnósticos Diferenciais Categoria Condições que podem imitar epilepsia Cardiovasculares Síncope vasovagal, arritmias cardíacas Metabólicas Hipoglicemia, hipocalcemia, hiponatremia, hipóxia Neurológicas não epilépticas Enxaqueca com aura, movimentos paroxísticos, distúrbios do sono Psiquiátricas Crises psicogênicas não epilépticas (PNES) Outras Tiques, cataplexia, espasmos musculares, vertigem paroxística benigna 🔸 1. Síncope (Desmaio) 🫀 A principal causa de confusão com crise epiléptica! 💡 Mecanismo: • Hipoperfusão cerebral global e transitória → perda breve da consciência. Não há descarga elétrica cortical. ⚖ Diferenciação com epilepsia: Característica Crise epiléptica Síncope Causa Descarga elétrica cortical Hipoperfusãocerebral Pródromos Aura (cheiro, déjà vu, medo, etc.) Escurecimento visual, zumbido, náusea, sudorese, palidez Início Súbito, sem aviso Gradual, com sintomas premonitórios Duração 1–3 minutos Segundos Movimentos Abalos rítmicos e simétricos Pode haver mioclonias curtas após a queda (“síncope convulsiva”) Cor Cianose Palidez Mordedura de língua Lateral Rara / ponta da língua Incontinência urinária Frequente Rara Recuperação Lenta, com confusão pós-ictal Rápida, sem confusão EEG Alterado Normal 📍 Dica de prova: recuperação imediata e ausência de confusão → pensar em síncope. 🔸 2. Crises Psicogênicas Não Epilépticas (PNES) 🧠 Também conhecidas como crises dissociativas ou conversivas. 💡 Mecanismo: São episódios de origem emocional ou psiquiátrica, sem atividade elétrica anormal no cérebro. 💥 Características clínicas: • Começo e término gradual, não súbito. • Movimentos desorganizados, variáveis e teatrais (ex: balanço de tronco, choro, gemido, olhos fechados fortemente). • Ausência de mordedura de língua e incontinência. • Sem confusão pós-crise. • Prolongadas (muitas vezes >5 minutos). • Frequentemente ocorrem com público presente ou em contexto de estresse. 📍 EEG: normal durante o episódio (não há descargas elétricas). 📍 Diagnóstico: confirmado com vídeo-EEG. 💊 Conduta: abordagem psiquiátrica (transtorno conversivo / somatização). 🔸 3. Hipoglicemia 💡 Mecanismo: Glicose insuficiente → disfunção neuronal generalizada. 💥 Características: • Pode causar convulsão, mas precedida de sinais autonômicos: o Tremor, sudorese, taquicardia, fome, ansiedade, fraqueza. • Perda de consciência com recuperação após glicose EV. 📍 Diagnóstico: glicemia capilar 5 minutos → pensar em enxaqueca, não epilepsia. 🔸 5. Distúrbios do Sono 💡 Parassonias (como sonambulismo, terror noturno, despertares confusos) podem simular crises epilépticas noturnas. Crises epilépticas noturnas Parassonias Duração curta (segundos) Duração longa (minutos) Início súbito Início gradual Movimentos estereotipados Movimentos variados Pode ocorrer várias vezes na noite Apenas uma vez por noite EEG anormal EEG normal 📍 O vídeo-EEG noturno é o melhor exame para diferenciar. 🔸 6. Movimentos Paroxísticos (não epilépticos) Incluem: • Tiques motores complexos • Distonias paroxísticas • Ataques catapléxicos (em narcolepsia) • Vertigem paroxística benigna da infância 💡 Nessas condições: • Consciência é preservada. • EEG é normal. • O movimento é repetitivo, estereotipado e consciente. 🔸 7. Outras condições sistêmicas que podem causar “crises” Situação Mecanismo Característica Hipocalcemia / Hiponatremia Hiperexcitabilidade neuronal Espasmos ou tetania com parestesias Febre alta (criança) Imaturidade cortical Crise febril simples (não é epilepsia) Abstinência alcoólica Hiperexcitabilidade por retirada de GABA Crises 6–48h após parar o álcool 6) Selecionar o tratamento medicamentoso conforme o tipo de epilepsia, na gestação e amamentação e no estado de mal epiléptico; 🧠 Princípios Gerais do Tratamento • O objetivo é controlar as crises com o mínimo de efeitos adversos. • Sempre que possível, deve-se utilizar monoterapia. • Se ineficaz, pode-se substituir o fármaco ou associar outro. • A escolha depende do tipo de crise/epilepsia (focal ou generalizada) e das características do paciente (idade, comorbidades, gestação etc.). 💊 O tratamento deve durar 2 a 5 anos após a última crise antes de considerar a retirada da medicação, desde que o EEG esteja normal. ⚙ Escolha da droga conforme o tipo de epilepsia A. Crises focais (parciais simples ou complexas) 🔹 Primeira escolha: • Carbamazepina • Oxcarbazepina 🔹 Alternativas: • Lamotrigina • Levetiracetam • Fenitoína • Lacosamida 💡 Evitar valproato (não tão eficaz nas focais e mais tóxico). B. Crises generalizadas 🔹 Primeira escolha: • Valproato de sódio (o mais eficaz — atua em múltiplos mecanismos) 🔹 Alternativas: • Lamotrigina • Levetiracetam • Topiramato 💡 Evitar carbamazepina e oxcarbazepina, pois podem agravar ausências e mioclonias. C. Crises de ausência (pequeno mal) 🔹 Primeira escolha: • Etossuximida 🔹 Alternativas: • Valproato • Lamotrigina 💡 Carbamazepina e fenitoína pioram a crise de ausência. D. Crises mioclônicas 🔹 Primeira escolha: • Valproato 🔹 Alternativas: • Levetiracetam • Topiramato • Clonazepam E. Crises atônicas 🔹 Primeira escolha: • Valproato 🔹 Alternativas: • Lamotrigina • Rufinamida 👶 Tratamento na gestação A gestante com epilepsia deve continuar o tratamento, pois o risco de crise convulsiva não tratada é maior do que o risco dos anticonvulsivantes. No entanto, é essencial escolher drogas mais seguras e ajustar doses. 💡 Condutas principais: Conduta Descrição Evitar o valproato Altamente teratogênico — risco ↑ de defeito do tubo neural e autismo. Preferir monoterapia Diminui o risco de malformações. Usar a menor dose eficaz Ajustar conforme ganho de peso e metabolismo aumentado da gestação. Suplementar ácido fólico (4 mg/dia) Iniciar antes da concepção e manter até o 1º trimestre. Monitorar níveis séricos das drogas Gestação altera o metabolismo hepático e renal. Evitar politerapia Somatório de efeitos teratogênicos. 🔹 Fármacos mais seguros na gestação: • Lamotrigina ✅ • Levetiracetam ✅ • Carbamazepina (aceitável, mas menos segura que os dois acima) ⚠ Fármacos de alto risco: • Valproato 🚫 • Fenitoína (síndrome fetal hidantoica) 🚫 • Fenobarbital (retardo do desenvolvimento) 🚫 • Topiramato (fenda labiopalatina) 🚫 🤱 Tratamento na amamentação A maioria dos anticonvulsivantes é compatível com o aleitamento, pois as concentrações no leite são baixas. Fármaco Amamentação Lamotrigina, Levetiracetam, Carbamazepina, Valproato Seguros — monitorar sedação ou irritabilidade do bebê. Fenobarbital, Primidona Podem causar sonolência e dificuldade de sucção. Topiramato Usar com cautela. 💡 Reforçar que os benefícios do aleitamento superam os riscos, na maioria dos casos. 🚨 Estado de Mal Epiléptico (EME) ⚡ Definição • Crise epiléptica contínua ≥ 5 minutos ou • Duas ou mais crises sem recuperação da consciência entre elas. É uma emergência neurológica — risco de dano neuronal e morte. 🩺 Conduta terapêutica — passo a passo 1⃣ Fase inicial (0–5 min): suporte vital • Garantir vias aéreas, ventilação, oxigenação e glicemia. • Acesso venoso + monitorização. • Se hipoglicemia: glicose 50% + tiamina 100 mg EV. 2⃣ Fase benzodiazepínica (5–10 min) • 1ª linha: o Diazepam 10 mg EV (ou 0,2 mg/kg), repetir em 5 min se necessário o OU Lorazepam 4 mg EV o OU Midazolam 10 mg IM / EV 3⃣ Fase anticonvulsivante de manutenção (10–30 min) • Se crise persiste após benzodiazepínico → iniciar anticonvulsivante EV: Opção Dose Fenitoína 15–20 mg/kg EV (máx. 50 mg/min) Valproato de sódio 20–40 mg/kg EV Levetiracetam 60 mg/kg EV (máx. 4.500 mg) Fenobarbital 20 mg/kg EV 💡 Escolher apenas um anticonvulsivante de manutenção. 4⃣ Fase refratária (>30–60 min) Se persistir, o paciente está em estado de mal refratário → sedação em UTI com: • Midazolam EV contínuo, ou • Propofol, ou • Tiopental. Objetivo: cessar atividade elétrica no EEG. ⚠ Causasprecipitantes mais comuns de EME: • Suspensão abrupta de anticonvulsivante. • Infecção, febre, distúrbio hidroeletrolítico. • AVE, trauma, abstinência alcoólica. 🧩 6⃣ Duração e controle do tratamento • Após o controle das crises, o anticonvulsivante deve ser mantido por 2–5 anos sem crises antes de considerar retirada. • A retirada deve ser lenta e supervisionada, especialmente em epilepsias generalizadas.