Prévia do material em texto
Na ação muscular voluntária, o comando para ativar os músculos é proveniente da área motora localizada no encéfalo. Esse comando é enviado na forma de impulsos nervosos, (denominados potenciais de ação – PA), os quais viajam pelos neurônios motores até chegarem às fibras musculares inervadas por eles. Ao atingi-las, os PA ativam o mecanismo contrátil muscular, e então o músculo desenvolve tensão. A capacidade de o músculo gerar tensão depende da ativação do conjunto formado pelo neurônio motor e pelas fibras musculares que ele inerva denomina-se unidade motora (UM). Uma UM produz níveis diferentes de tensão, conforme a quantidade de PA que dispara em um segundo. A figura a seguir e note que a tensão produzida por uma UM aumenta conforme sobe a frequência de disparos de PA. Logo, um músculo será capaz de produzir um nível mais alto de tensão se tiver unidades motoras capazes de disparar PA em frequências mais elevadas. Observe que para frequências produzidas entre 0 e 50 Hz, pequenos aumentos na frequência de PA são acompanhados por grandes aumentos de força. Veja ainda que, acima da frequência de 50 Hz, não há mais aumentos na produção de força. A faixa normal de disparos das UM fica entre 10 e 60 Hz. Consequentemente, uma UM pode produzir uma grande variação de força, mudando sua frequência de ativação. As UM presentes nos músculos de indivíduos destreinados disparam PA em frequências baixas, por isso essas pessoas produzem níveis baixos de força. Quando começamos a praticar alguma forma de treinamento de força, as UM gradativamente passam a disparar em frequências mais altas, elevando a capacidade de produção de força após um período curto de treinamento. Outro fator neural que interfere na eficiência da ativação dos músculos e, como consequência, na produção de força, é a quantidade de UM recrutadas em uma ação. À medida que treinamos aumentamos nossa eficiência de ativação, pois as UM passam a disparar PA em frequências mais altas e um número maior delas passa a ser ativado. Esses dois fenômenos são referidos, respectivamente, como aumento da taxa de codificação e aumento do recrutamento das unidades motoras. Eles acontecem em maior magnitude no início de um programa de treinamento de força, mas são adaptações que também podem ser observadas em indivíduos já treinados. Curva força-tempo A magnitude da força que somos capazes de produzir depende do tempo disponível para os músculos se manterem ativados. A curva ilustrada a seguir reflete uma série de avaliações da força muscular isométrica, no exercício de extensão do joelho. Note que, ao comando do avaliador, o indivíduo realiza o maior esforço com intensão de produzir o maior valor possível de força, no entanto demora um certo tempo para ele atingir sua expressão máxima de força (tensão). Isso varia de exercício para exercício, mas nesse exemplo a força máxima isométrica foi atingida depois de 1-2 segundos. Observe o percentual da força que conseguimos produzir quando há uma restrição de tempo para o movimento. Repare no exemplo ilustrado que, para tarefas com duração de 200 ms, o sujeito avaliado conseguiu produzir 60% da sua força máxima. O treinamento para melhora do desempenho de ações que têm restrição de tempo para acontecer, como saltos, lançamentos, chutes, golpes e arremessos, deve promover o deslocamento para a esquerda da curva f-t, o que significa que o sujeito passaria a produzir um nível mais alto de força no período disponível para a tarefa ser concluída. Curva força-velocidade A avaliação da força muscular usando um dinamômetro isocinético nos permite conhecer a magnitude da força ocasionada em diferentes regimes de ação muscular e em velocidades distintas. Esse gráfico nos mostra que a força gerada nas ações excêntricas é maior que a oriunda em uma ação isométrica (velocidade zero) e nas ações concêntricas. A velocidade da ação muscular influencia na magnitude da força produzida. Quanto maior for a velocidade da ação muscular concêntrica, menor será força gerada (lado direto da figura, em azul). No entanto, nas ações musculares excêntrica o efeito é o contrário. Quanto maior a velocidade das ações excêntricas, maior a força oriunda (lado esquerdo da figura, em vermelho). A razão para produzirmos mais força nas ações excêntricas é que nelas a tensão formada é o resultado das tensões somadas dos componentes contráteis e elásticos. Enquanto nas ações concêntricas e isométricas é o resultado da tensão produzida apenas pelo componente contrátil. Observação As proteínas actina e miosina que interagem para gerar tensão ativa são chamadas de componentes contráteis. São denominados componentes elásticos a proteína titina, os tecidos conectivos endomísio, perimísio e epimísio, bem como os tendões. Quiz – Fisiologia da Força Muscular 1. Frequência de Disparo e Produção de Força Durante uma avaliação de força isométrica, um aluno treinado consegue atingir rapidamente altos níveis de força, enquanto um aluno destreinado demora mais tempo e atinge valores inferiores. O professor explica que isso está relacionado à eficiência neural e à frequência de disparo das unidades motoras. Qual fator fisiológico mais contribui para a diferença observada entre os dois alunos? A) A quantidade de fibras tipo I nos músculos B) A ativação dos componentes elásticos C) A frequência de disparo dos potenciais de ação nas unidades motoras D) A presença de hipertrofia sarcoplasmática E) A produção de lactato durante o esforço X A frequência de disparo dos potenciais de ação nas unidades motoras é maior em indivíduos treinados, permitindo maior produção de força em menos tempo. 2. Curva Força-Tempo e Desempenho em Tarefas Explosivas Uma atleta de vôlei realiza um teste de salto vertical com tempo limitado para execução. Apesar de ter força máxima elevada, ela não consegue aplicar essa força completamente durante o salto. O treinador sugere um programa de treino para deslocar a curva força-tempo. Qual objetivo fisiológico está por trás da sugestão do treinador? A) Aumentar a resistência muscular localizada B) Reduzir a ativação dos componentes elásticos C) Melhorar a capacidade de gerar força em curto intervalo de tempo D) Elevar a produção de força isométrica máxima E) Aumentar a densidade de fibras musculares X O deslocamento da curva força-tempo para a esquerda permite que o atleta produza mais força em menos tempo, essencial para tarefas explosivas como saltos e arremessos. 3. Componentes Contráteis e Elásticos na Produção de Força Durante um exercício de descida controlada com carga (ação excêntrica), um aluno relata que sente mais força sendo aplicada do que em exercícios de subida (ação concêntrica). O professor explica que isso ocorre devido à contribuição de diferentes estruturas musculares. Qual combinação de componentes está mais envolvida na produção de força durante ações excêntricas? A) Apenas fibras tipo II B) Componentes contráteis e elásticos C) Proteínas sarcoplasmáticas e mitocôndrias D) Tendões e fibras tipo I E) Unidades motoras de baixa frequência X Nas ações excêntricas, a força é resultado da soma das tensões dos componentes contráteis (actina e miosina) e elásticos (titina, tecidos conectivos e tendões). 4. Curva Força-Velocidade e Tipos de Ação Muscular Em um teste com dinamômetro isocinético, um aluno apresenta maior força nas ações excêntricas do que nas concêntricas, especialmente em altas velocidades. O avaliador explica que isso é uma característica fisiológica da musculatura humana. Qual explicação fisiológica justifica esse resultado? A) A maior ativação cortical durante ações concêntricas B) A predominância de fibras tipo I nas ações excêntricas C) A contribuição dos componentes elásticos nas ações excêntricas D) A menor produção de lactato nas ações concêntricas E) A maior ativação do sistema nervoso simpático XA força nas ações excêntricas é maior devido à contribuição dos componentes elásticos, que somam tensão à gerada pelos componentes contráteis. 5. Adaptações Neurais ao Treinamento de Força Após quatro semanas de treinamento de força, um aluno relata que consegue levantar mais peso, mesmo sem mudanças visíveis na massa muscular. O professor explica que isso é resultado de adaptações neurais. Qual adaptação está mais relacionada ao ganho de força observado? A) Aumento da vascularização muscular B) Hipertrofia das fibras tipo I C) Aumento da taxa de codificação e recrutamento de unidades motoras D) Redução da produção de ácido lático E) Aumento da densidade mitocondrial X O aumento da taxa de codificação (frequência de disparo) e do recrutamento de unidades motoras são adaptações neurais que ocorrem nas fases iniciais do treinamento de força.