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A arte no Brasill colonial

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A Arte que os portugueses trouxeram 
 
Ao falar de arte brasileira no período colonial nos remetemos, diretamente, à arte sacra 
católica. Alguns estudiosos divergem quando se trata de identificar qual foi a primeira 
imagem que chegou ao território brasileiro. De acordo com as pesquisas para este artigo 
foi possível estabelecer três versões sobre qual teria sido, efetivamente, a primeira 
imagem trazida pelos colonizadores portugueses ao Brasil. 
Muito se falou que teria sido a imagem de Nª Sª da Graça, encontrada por Catarina 
Paraguaçu, cuja capela foi erguida em sua homenagem através dos esforços do seu 
marido Diogo Álvares Correa, o Caramuru. Este acontecimento remonta a 1535. “A 
princesa índia fez a doação do Santuário à Ordem de São bento em 1582(ou 1586)” 
BAZIN, 1983. 
Outra versão, muito conhecida, é que a primeira imagem foi a de Nª Sª da Conceição, 
trazida por Tomé de Souza, na nau capitânia que levara o mesmo nome. Ao 
desembarcar na praia, onde atualmente está situada a Igreja da Conceição da Praia, o 
primeiro governador geral ordenou a construção da primeira capela em terras 
brasileiras. 
Foi fundada pouco depois de 1549. Em 1736, no entanto, as Irmandades do Santíssimo 
Sacramento e da Imaculada Conceição decidiram reconstruir a igreja por uma em escala 
maior cujas plantas foram feitas por Manoel Cardoso de Saldanha, engenheiro militar. 
As pedras de lioz, principal material utilizado na reconstrução do templo foram trazidas 
de Lisboa. A igreja começou a ser erguida em 1739. 
 Segundo a historiadora Antonietta Nunes, a referida capela foi elevada à categoria de 
paróquia no dia 8 de dezembro de 1623 por D. Marcos Teixeira, então bispo da Bahia. 
A representação da virgem foi escolhida como padroeira de Portugal e seus domínios 
em 1646 e em 1721 Nossa Senhora da Conceição foi denominada a padroeira do Brasil. 
Como padroeira do estado da Bahia foi declarada em 1971. 
A imagem de Nossa Senhora da Conceição da qual a pesquisadora teve acesso, 
encontra-se na sacristia da igreja. Trata-se de uma pintura em óleo sobre tela de 
propriedade da Arquidiocese de Salvador. Sua datação provável é que seja do século 
XVIII. 
Os documentos contidos no Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados, volume 
90 –Minc/ IPHAN, não apontam a autoria da obra em análise ao mesmo tempo em que 
a identifica como estando em bom estado de conservação. 
Descrição da obra, segundo o Inventário: 
Pintura a óleo sobre tela, centrada por representação de figura feminina, de pé, frontal, 
cabeça raiada com raios amarelos de contorno azulado e estrelas brancas. A figura tem a 
sua cabeça pendente para a sua direita e para baixo; olhos na mesma direção, rosto 
sereno em tom claro e iluminado. Cabelos pintados de marron com mechas caídas sobre 
o ombro esquerdo. Braços flectidos à frente do corpo, mãos postas. Perna esquerda 
levemente flectida, direita apoiando o peso do corpo. Pés descalços,estando o esquerdo 
sobre a cabeça de uma serpente pintada de preto; a serpente trás na boca uma maçã. A 
figura feminina usa véu marron claro que cai sobre os ombros, túnica branca, manto 
azul que envolve os braços, quadril e pernas. Apoia-se em um globo azul onde vê-se um 
quarto nascente branco. Na lateral direita do globo existem nuvens pintadas de marron. 
Na lateral direita da representação feminina, cinco querubins entre nuvens e um serafim 
usando manto marron; suas asas na cor branca. Na lateral esquerda vê-se figura 
masculina, sentada sobre as nuvens, frontal, cabeça voltada para a sua direita (para 
Nossa Senhora). Cabelos curtos e pintados de marron claro. Braços à frente do corpo, 
mão esquerda em posição de abençoar, mão direita segurando um ramo de lírios. Usa 
túnica amarela e sobretúnica azul. Acima desta figura,cinco querubins entre nuvens . 
Moldura com parte inferior e laterais retas, com frisos salientes com douramentos e 
chacis em marron escuro. Parte superior da moldura em arco abatido com ornatos em 
trabalho de talha (folhas curvais) com douramento. 
 
Existem ainda alguns autores que identificam a Nª Sª da Ajuda como sendo a primeira 
representação artística vinda de Portugal. Relatam que foi assim chamada e que a 
mesma foi homenageada quando aconteceu a construção da Igreja da Ajuda. 
A Igreja de Nª Sª da Ajuda foi a primeira igreja construída dentro do território 
fortificado por Tomé de Souza; foi construída pelos jesuítas juntamente com o vigário 
Manoel Lourenço. Houve uma reconstrução desta igreja em materiais de pedra e cal no 
ano de 1579. “Expulsos os jesuítas em 1759 a igreja ficou abandonada até 1823, quando 
a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos e Vera Cruz ali se instalou.” 
(NUNES,2013) 
Apesar das divergências quanto ao reconhecimento da primeira imagem sacra que 
chegou nas “Terras do Brasil”, é relevante destacar que Pedro Álvares Cabral ao 
desembarcar em Porto seguro em 1500, trazia junto aos seus pertences uma imagem 
representativa de Nª Sª da Esperança. Esta representação da imaginária sacra católica, 
segundo o Professor da Universidade Federal da Bahia, José Cláudio- especialista em 
Arte Sacra Cristã – participou da primeira missa ocorrida em terras brasileiras e, 
posteriormente, seguiu de volta a Portugal onde se encontra atualmente. Ainda através 
do Professor Cláudio, a imagem está situada na Quinta de Belmonte em Portugal. 
É importante lembrar as relevantes inovações pelas quais passaram as ordens religiosas, 
na Europa, após os questionamentos da Reforma Protestante. Estas inovações tinham 
como prioridade recuperar o prestígio da fé católica e, para tanto, a arte necessitava ser 
reformulada expressivamente, através dos conceitos de representatividade e persuasão. 
Durante o Concílio de Trento (1545-1563), a igreja católica pretendia divulgar os ideais 
religiosos por meio de narrativas bíblicas, valendo-se das representações das imagens 
sacras e de obras artísticas que despertassem interesse e fervor aos seus fieis. Pretendia-
se provocar diversas emoções (e medo) e para isso, as manifestações artísticas – a 
música, inclusive, deveriam obedecer aos métodos de persuasão e deslumbramentos 
visuais e sonoros. Houve um visível enriquecimento da iconografia na arte sacra, já que 
seria a arte o principal veículo de comunicação entre a igreja e a sociedade, em geral, 
iletrada. O pensamento individual deveria ser totalmente abolido e a obediência 
religiosa, absoluta e inquestionável, vigiaria o cumprimento em relação aos dogmas 
impostos pela fé católica. 
A arte sacra católica do século XVI no Brasil está diretamente associada às imagens que 
aqui chegaram tanto com os colonizadores como as trazidas pelos padres jesuítas, estes, 
com o claro objetivo da catequese. Outras imagens chegaram nas bagagens dos colonos 
de Portugal cuja devoção fez com que fossem erguidos alguns santuários 
domésticos,uns elevados a condição de capelas e outros, bem mais simples porém não 
menos venerados. Além das imagens de devoção, os primeiros colonos inseriram as 
imagens de presépio cuja tradição se preserva até os nossos dias. 
 Todas as residências possuíam os seus santos de devoção, fato que nos leva a crer que, 
com o crescimento das vilas e povoados, elevou-se a necessidade de se produzir 
objetos de culto. A pratica das criações artísticas aconteciam, de início, nos mosteiros e 
conventos estendendo-se às oficinas, à medida que a demanda crescia junto com a 
população. Um dos destaques na arte escultórica sacra foi o Frei Beneditino Agostinho 
da Piedade cujas criações artísticas foram consideradas de reconhecida qualidade e 
perfeição. “Muitos deles adquiriram formação erudita nas suas terras de origens, e aqui, 
além de produzirem imagens,ensinavam também aos leigos o outros colegas da ordem, 
às vezes já nascidos no Brasil, como foi o caso de Frei Agostinho de Jesus.”, constata o 
professor Luiz Freire num artigo produzido em 2009 intitulado “Imaginária e 
imaginário no Brasil Colonial”. Em 1560 se tem notícia de que esteve na capital da 
Bahia o pintor jesuíta Manoel Álvares, responsável pela pintura do frontispício da Igreja 
do Colégio da Bahia, e em 1574 o pintor, também jesuíta, Manuel Sanches. 
Ainda sobre o escultor beneditino Frei Agostinho da Piedade, sabe-se que produziu 
mais de duas dezenas de imagens contudo apenas quatro estão assinadas e duas delas 
datadas.Entre as obras assinadas e datadas destacam-se as imagens de Nossa senhora do 
Monserrate de 1636 pertencente ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia mas em 
exposição no Museu de Arte Sacra da Universidade da Bahia e Santana Mestra de 1642 
pertencente ao Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia. Todas as obras 
do monge foram produzidas em barro cozido, segundo estudiosos da arte produzida na 
Bahia no período colonial, visto que não existem registros de obras confeccionadas em 
outros materiais. 
Mais de duas dezenas de imagens são atribuídas ao artista pelas técnicas e 
características estilísticas como, por exemplo, a imagem de santa Mônica, único 
relicário de corpo inteiro pertencente ao Mosteiro de São Bento da Bahia. 
O estudioso beneditino Dom Clemente da Silva Nigra se dedicou à análise das obras do 
Frei artista e, graças aos seus estudos é possível conhecer as principais obras deste 
período cujas três fases distintas foram claramente observadas: a primeira identificada 
como aquela que permanece com influências renascentistas. A segunda ainda obedece o 
mesmo traço estilístico; as inovações estéticas só ocorrem na terceira fase cujas 
características apresentam significantes variações. Desta fase destacam-se as seguintes 
imagens: Senhora Santana Mestra, Nossa Senhora com o Menino Jesus(Mosteiro de São 
Bento da Bahia), São Pedro Arrependido (Mosteiro de são bento da Bahia). 
Algumas obras atribuídas ao Frei Agostinho da Piedade por Dom Clemente da Silva 
Nigra fazem parte do acervo do Mosteiro de São Bento da Bahia. Destacam-se: 
 
Séc. XVII, c. 1630: “Busto Relicário de Santa Luzia”. Chumbo fundido, policromado e 
prata cinzelada e parcialmente dourada. Dimensões: altura total 49 cm; 22 cm cabeça 
sem o resplendor, e 27 cm busto sem a peanha (que foi acrescentada em 1936) . Peso 
total 6.325 gramas; cabeça 4.350 gramas, busto 1.975 gramas. Atualmente sob a guarda 
do Museu de Arte Sacra da Bahia. 
c.1630:“Busto Relicário de Santa Cecília”. Barro cozido, altura 50 cm. Atualmente sob 
a guarda do Museu de Arte Sacra da Bahia, o resplendor na faz parte da peça. 
c.1630: “Busto Relicário de Santa Catarina”. Barro cozido, altura 55 cm. Atualmente 
sob a guarda do Museu de Arte Sacra da Bahia. 
c.1630: “Busto Relicário de Santa Bárbara”. Barro cozido e policromado, altura 54 cm. 
Atualmente sob a guarda do Museu de Arte Sacra da Bahia. 
c.1630: “Busto Relicário de Santa Águeda”. Em barro cozido e possui penha do mesmo 
material, altura 50 cm. 
c.1630: “Busto Relicário de Santa Escolástica”. Em barro cozido,altura 55 cm. 
c.1630: “Busto Relicário de Santa Margarida ou Marinha”. Em barro cozido, altura 53 
cm. 
c.1630: “Busto Relicário de São Gregório Magno Papa”. Em barro cozido, altura 58 cm. 
 
Algumas obras documentadas 
 Instituto Geográfico e Histórico da Bahia 
1636: Imagem de Nossa Senhora de Montesserrate em barro cozido, dourado e 
policromado e com altura 92 cm. (Fig. 1 e 2). Atualmente sob a guarda do Museu de 
Arte Sacra da Bahia. Na parte posterior, uma longa inscrição informa sobre o autor e o 
doador: “Frei Agostinho da Piedade Religioso Sacerdote de Sam Bento Fez esta 
Imagem De Nossa Srã. Por mandado do muy Devoto Diogo de Sandoval e fella por sua 
Devoção, 1636.” 
Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia 
1642: Imagem de Senhora Santana Mestra, em barro cozido, dourado e policromado e 
com altura 77 cm. (Fig. 3 e 4). Imagem feita para a primitiva igreja do Solar do Unhão, 
residência urbana dos senhores do castelo de Garcia d’Avila – hoje sede do Museu de 
Arte Moderna da Bahia. Na base, parte inferior, há a inscrição: “1642 Frei Agostinho”. 
 
Nos estudos da historiadora Marieta Alves, o “livro das vidas e mortes dos Monges de 
São Bento” – o Dietário- consta que o monge artista nasceu em Portugal e se ordenou 
no Mosteiro da Bahia. Foi capelão da Igreja de Nossa Senhora da Graça e faleceu no 
ano de 1661. Existem documentos assinados pelo monge cujos registros fazem parte do 
“Livro Velho do Tombo do Mosteiro de São Bento da cidade de Salvador”. 
 
Com a expansão das vilas, crescia vertiginosamente o culto às imagens na capital da 
Bahia, e, obviamente, a demanda na produção das peças. Neste período os artífices ou 
artesãos, já que não eram considerados artistas, e que já haviam aprendido o ofício 
juntamente com os encarregados de marcenaria, oleiros, serralheiros entre outros, 
passaram a receber encomendas com mais frequência, principalmente das famílias mais 
abastadas; foi neste momento que começaram a surgir as primeiras manifestações 
estilísticas das quais foram evidenciadas as características de cada artífice: uma criação 
se diferenciava de outra através dos “traços” individuais de estilo. 
Na confecção das imagens os artífices utilizavam o barro cozido e a madeira pela 
facilidade de acesso; posteriormente passariam a usar a pedra, o metal e o marfim – este 
ainda um material raro na cidade da Bahia. Nas pinturas eram utilizados os óleos, a 
têmpera e, em raríssimos trabalhos, o afresco. 
Para se identificar a época e os estilos artísticos, já que as peças sacras variam de acordo 
com os fatores econômicos, sociais e geográficos, os especialistas tomam como 
referência as maneiras de se criar os cabelos, a face e o panejamento bem como os 
materiais e técnicas utilizados. 
Das imagens que possuem “atitude estática” destacam-se as mais antigas, duas que 
estão na antiga Igreja dos Jesuítas, hoje Catedral Basílica: São Francisco de Borja e 
Nossa Senhora de Guadalupe – esta pertenceu à Sé Primacial do Brasil. Outras 
apresentam vestes “caprichosas” e esvoaçantes em expressivas fisionomias. 
O trabalho nas oficinas acontecia em equipe: um “artista” esculpia a madeira ou 
trabalhava o barro enquanto outro pintava e, muitas vezes, a presença de um terceiro 
artesão que se “especializava” em douramentos ou em outros detalhes estilísticos, por 
exemplo, a técnica de dar tonalidade de cor de pele às imagens – a carnação. 
 A escultura e a pintura no período colonial brasileiro sofreram influências de artistas 
italianos e franceses. Pouco se conhece da influência indígena e africana na arte sacra 
cristã do período colonial a não ser através de “trocas simbólicas do fazer artístico” na 
construção de retábulos nas igrejas da capital. 
O trabalho em conjunto e o procedimento de não assinarem as obras quando 
executadas, impediam que as peças fossem identificadas quanto a sua autoria, pois não 
havia assinatura ou outro registro de criação. 
 Muitas peças confeccionadas no período colonial obviamente se perderam com a ação 
do tempo. Os autores afirmam que muitas imagens foram destruídas nos conflitos e 
guerras. Entre os inúmeros conflitos que por aqui ocorreram, os estudiosos se referem à 
invasão holandesa como sendo a principal responsável pela destruição das imagens 
através da doutrina protestante que se fortalecia na Holanda. 
Os pouquíssimos exemplares de imagens sacras que foram preservadas apesar dos 
conflitos, não nos permitem reconhecer com precisão os seus principaisestilos 
artísticos, principalmente pelas inúmeras interferências ocorridas nas peças cujos 
critérios técnicos não obedeciam à preservação do modelo estilístico original. Não 
havia conhecimento sobre as técnicas do restauro, portanto qualquer pessoa poderia se 
utilizar dos recursos disponíveis na intenção de “consertar” a peça, descaracterizando-a 
parcial ou na sua totalidade. Muitas pessoas pintavam ou colavam as imagens sem 
nenhum conhecimento técnico, apenas para garantir-lhe a materialidade. 
Segundo os estudos do professor José Cláudio, algumas imagens consideradas mais 
antigas e que possuem documentos de origem encontram-se na Bahia. São elas: 
- Imagem de São Francisco – trazida por Gonçalo Coelho (1502)- Porto Seguro; 
- Imagem de Nossa senhora da Graça- encontrada por Catarina Paraguaçu (1530)-Igreja 
da Graça- Salvador/Bahia; 
- Nossa Senhora das Maravilhas – trazida por D. Pero Fernandes Sardinha (1552) 
Museu de Arte Sacra da UFBA; 
- Cristo Crucificado (1580) – Museu do Carmo- Salvador/ Bahia; 
- Nossa Senhora de Guadalupe (1590)- venerada na Antiga Sé da Bahia – MAS /UFBA; 
- Nossa Senhora da Conceição (15...) – Acervo da Catedral Basílica de Salvador/ Bahia. 
 
Considerando a precariedade de documentos sobre a produção artística do período 
colonial brasileiro, há destaque para os seguintes artistas e seus respectivos períodos: 
Século XVI – João Gonçalo Fernandes e Frei Francisco dos Santos 
Século XVII – Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus e Frei Domingos da 
Conceição e Silva 
Século XVIII – Francisco das Chagas – o “Cabra”, Felix Pereira Guimarães, José 
Antonio de Araújo Lobo e Manoel Inácio da Costa 
A arte sacra encontra o seu apogeu no século XVIII no auge do movimento Barroco. 
 As manifestações religiosas, neste período, deveriam comover e despertar os sentidos 
nos fieis, através dos sons, luzes e cores. A arquitetura religiosa do período barroco 
dispõe de tribunas e balaustradas que se abrem para a nave central; o altar age como um 
palco cuja utilização de cortinas semiabertas remetem às cenas de espetáculos teatrais, 
inclusive no momento eucarístico. A luz é estrategicamente direcionada, provocando 
uma sensação de aumento do espaço, acolhimento, mistério e veneração. 
 Há predomínio de saliências e elementos curvilíneos e sinuosos nas fachadas 
monumentais das igrejas, elementos estes que dialogam com obras escultóricas que 
parecem “invadir” o espaço urbano num intenso movimento, até então desconhecido. O 
horror ao vazio ou “horror vacui” é característica primordial no barroco: nenhum espaço 
permanece vazio. 
 A pintura e a escultura se integram e as imagens adotam posturas humanas, no que diz 
respeito à expressividade, emocional e dramática. Internamente, as igrejas são 
“recheadas” de materiais nobres como mármores policromadas e douramentos. 
A temática se renova quando rejeita a idealização renascentista e a deformação típica do 
maneirismo: utiliza-se os recursos realistas/dramáticos nos objetos que se pretende 
destacar pois o objetivo principal é torná-la acessível à compreensão de todos. Sem a 
preocupação com os contornos lineares, a pintura barroca transmite uma sensação de 
continuidade – em muitas obras a imagem parece deslocar-se para fora do quadro, 
técnica denominada de escorço. A pintura barroca é predominantemente ilusionista – 
denominação conhecida como trompe l’oeil. Este recurso foi muito usado nas pinturas 
de teto cujos elementos simulam um dinamismo extremamente dramático e vigoroso. 
Roma foi o centro mundial da arte barroca graças às inúmeras encomendas feitas pelos 
papas e importantes representantes católicos. Inúmeros artistas foram estudar as obras 
clássicas na Itália, principalmente em Roma, razão pela qual o estilo espalhou-se por 
vários países da Europa. Como expoentes da arte barroca destacam-se as obras 
arquitetônicas monumentais de Gianlorenzo Bernini (1598-1680), que “...dominou o 
cenário artístico em Roma com seus projetos exuberantes, dinâmicos, teatrais e 
orgânicos”. (FARTHING, 2011). Sua mais conhecida escultura denomina-se “ O êxtase 
de Santa Tereza” que se encontra atualmente na Capella Cornaro em Roma. 
A arquitetura barroca foi “praticada em Roma durante os papados dos pontífices Urbano 
VIII, Inocêncio X e Alexandre VII 91623-1667)” (BURY, 1991). No Brasil colonial, as 
esplendorosas edificações traziam elementos decorativos rebuscados como se podem 
destacar nas colunas salomônicas cujas dimensões variam em maior e menor 
exuberância ornamental. 
Na Bahia, o “drama barroco” se valeu da paisagem natural da Baía de Todos os Santos e 
dos projetos arquitetônicos monumentais que se consolidariam entre os séculos XVII e 
XIX. As inúmeras intervenções, contudo, não nos permite promover uma “releitura”da 
paisagem da capital colonial a não ser no Pelourinho e nos bairros adjacentes. 
Segundo Rodrigo Baeta, o “drama barroco” iniciou-se com as primeiras edificações na 
própria baía, ou seja, com os Fortes de Santo Antonio da Barra, o de Santa Maria e o 
Forte de São Diogo. Para ele, o percurso pelas poucas ladeiras da “acrópole” chegando à 
Cidade Alta, proporcionava aos ilustres visitantes uma verdadeira cena persuasiva 
quando se deparavam com conjuntos arquitetônicos governamentais e religiosos, 
embora admita a inadequação no traçado semiortogonal proposto por Luis Dias. 
 As edificações religiosas foram responsáveis por agregarem elementos de grande 
influência no processo de colonização – e do apelo propagado através da estética 
barroca , razão pela qual o Terreiro de Jesus e o pátio da igreja de São Francisco se 
destacaram como símbolos de persuasão nada comparado com a arquitetura presente no 
centro cívico de Salvador. Este centro era constituído pela Casa de Câmara e Cadeia e 
pelo Palácio dos Governadores: “[...]quando o núcleo urbano era apenas um 
acampamento fortificado[...]” (BAETA,2012). Posteriormente viriam a Casa da Relação 
e a Casa da Moeda. 
 Todos os espaços arquitetônicos da cidade faziam parte de um cenário cuja personagem 
principal era a deslumbrante paisagem natural da Baía de Todos os Santos. 
Os principais conjuntos urbanos, em princípio os religiosos, se concentravam na Praça 
do Terreiro de Jesus. A denominação de terreiro foi dada por se tratar de um vasto adro 
ou, literalmente, um terreiro. Neste local se encontravam a Igreja e o Colégio dos 
Jesuítas. 
Havia um certo “desafio de poder”, mencionado pelo autor, quando o templo jesuítico 
se depara com outras monumentais edificações religiosas, a partir do século XVIII, 
como a Ordem Terceira de São Domingos, a Capela de São Pedro dos Clérigos, a 
Catedral Basílica de Salvador e a Ordem Primeira de São Francisco. Tais edificações 
religiosas, apesar de apresentarem algumas características maneiristas, revelam no seu 
interior a forte presença do estilo barroco, principalmente na Ordem Primeira de São 
Francisco cujo interior se destaca por uma extrema dramatização e rebuscamentos 
exagerados com elementos decorativos variados e escassa presença de luz, numa nítida 
intenção de construir um ambiente capaz de hipnotizar qualquer visitante; um contraste 
entre a fachada, relativamente sóbria, e o interior; contraste entre o real e o imaginário. 
O templo barroco assume, na capital da Bahia, um papel importantíssimo no processo 
de colonização. As experiências sensoriais propostas pela igreja católica contribuíram 
enormemente para a consolidação da fé cujos desdobramentos foram notados em 
vários setores da sociedade. 
A praça cívica não se comprometera em relação a nenhuma ordem religiosa: era, 
intencionalmente, o centro das ideologias e assim permaneceu até 1763 quando a capital 
foitransferida para o Rio de Janeiro. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
ALVES, Marieta. SMITH,Robert. OTT, Carlos. Ruy, Afonso. História das artes na 
cidade do Salvador. Publicação da PMS comemorativa ao IV centenário da cidade.1967. 
 ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e persuasão: ensaios sobre o Barroco. São Paulo: 
Companhia das Letras. 2004. 
BAETA. Rodrigo Espinha. O Barroco, a arquitetura e a cidade nos séculos XVII e 
XVIII. Salvador: EDUFBA,2012. 
BAZIN, Germain. A Arquitetura religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Editora 
Record. VolumesI e II,1983. 
BURY, John. Arquitetura e arte no Brasil colonial. São Paulo:Nobel, 1991 
COSTA, Heloisa Helena Fernandes Gonçalves da. Museologia e patrimônio nas cidades 
contemporâneas: uma tese sobre gestão de cidades sob a ótica da preservação da cultura 
e da memória. IN Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi. Ciências Humanas, 
2012.v. 7 n.1 
Dicionário Manuel Quirino de arte na Bahia / Org. Luiz Alberto Ribeiro Freire, Maria 
Hermínia Oliveira Hernandez. – Salvador: EBA-UFBA, CAHL-UFRB, 2014. Acesso: 
www.dicionario.belasartes.ufba.br 
FARTHING. Stephen. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. 
GOMBRICH. Ernest Hans. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2012. 
OTT, Carlos. A escola baiana de pintura- 1764-1850. Edição especial. Editor: Emanoel 
Araújo. 
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: Editora UNESP: 
Salvador, BA: EDUFBA, 2001. 
Artigo: Imaginária e imaginário no Brasil colonial. Luiz Alberto Ribeiro Freire- 
Universidade federal da Bahia. 
www.artesacracrista.blogspot.com.br