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Atividade 1 - Ensaio reflexivo

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1. 352602068 - Macro e Microcriminalidade, Criminalidade Transnacional e Reditícia
2. Atividade 1 - Ensaio reflexivo (Valor: 20,0)
Atividade 1 - Ensaio reflexivo (Valor: 20,0)
Condições de conclusão
 Feito: Fazer um envio
Aberto: quarta-feira, 12 nov. 2025, 08:00
Vencimento: terça-feira, 2 dez. 2025, 23:55
Descrição:
Prazo: 12/11/2025 a 02/12/2025
Esta é uma atividade individual, realizada por envio de arquivo.
Você deverá produzir um ensaio reflexivo de 1 a 2 páginas, analisando criticamente a diferença entre delitos powerless e powerful e como essa distinção aparece na prática do sistema penal brasileiro.
O objetivo é compreender, com base em autores da criminologia, como fatores sociais, econômicos e institucionais moldam a atuação penal diante de diferentes tipos de crime.
Objetivo da Avaliação:
· Entender a distinção estrutural entre crimes cometidos por pessoas vulneráveis (powerless) e crimes cometidos por agentes com poder econômico ou institucional (powerful).
· Relacionar teoria criminológica com exemplos reais do contexto brasileiro.
· Desenvolver argumentação crítica e fundamentada sobre seletividade penal.
· Incentivar escrita acadêmica objetiva, clara e alinhada à temática da unidade.
1. Estrutura do Ensaio (obrigatória)
Seu texto deve conter:
1. Introdução
· Apresente o tema dos delitos powerless e powerful, contextualizando brevemente.
2. Desenvolvimento
· Inclua:
· Definição crítica dos dois tipos de delito;
· Referências a autores da criminologia (ex.: Zaffaroni, Wacquant, Garland, Baratta);
· Um exemplo real de cada categoria, sem citar nomes específicos de pessoas;
· Comparação da resposta do sistema penal em cada caso;
· Análise da seletividade penal.
3. Conclusão
· Traga sua reflexão pessoal:
· qual tipo de crime causa maior dano social;
· se o sistema penal reage proporcionalmente;
· qual panorama você enxerga para a segurança pública.
Ensaio: Delitos Powerless e Powerful Introdução: A Lente Desvendadora da Criminologia
A Criminologia Crítica sempre me pareceu uma ferramenta essencial, um par de óculos que desvela a verdade nua e crua do sistema penal. Ela nos força a encarar o fato de que a definição do que é "crime" e, mais importante, de quem é punido por ele, não é um processo neutro. Pelo contrário, está umbilicalmente ligada às complexas teias de poder e à estrutura de classes que governam nossa sociedade. O controle social formal possui uma mira notoriamente seletiva, focando quase obsessivamente na criminalidade mais visível e palpável. É neste ponto que emerge uma distinção analítica crucial: os delitos dos Powerless (aqueles cometidos por indivíduos à margem) e os delitos dos Powerful (aqueles praticados por quem detém o comando econômico ou institucional). Este ensaio busca destrinchar essa dicotomia, investigando como os fatores sociais, econômicos e institucionais esculpem a prática penal brasileira, revelando, no final das contas, um sistema que foi sutilmente desenhado para castigar a pobreza enquanto, ironicamente, blinda o capital. Desenvolvimento: Seletividade, Punição Implacável e Impunidade Conveniente Uma Definição em Perspectiva e a Prática Seletiva Os crimes imputados aos Powerless são, em geral, aqueles que a mídia e o senso comum gostam de chamar de "criminalidade de rua": pequenos furtos, roubos, a ponta do iceberg do tráfico de drogas ou crimes passionais. Seus protagonistas são figuras facilmente identificáveis em nosso imaginário de vulnerabilidade: baixa escolaridade, exclusão socioeconômica e a triste marca da marginalização. Lendo Loïc Wacquant (2001), percebo o quanto ele tinha razão: o sistema penal, em especial o aparato carcerário, funciona menos como uma ferramenta de justiça e mais como um dispositivo de gestão da miséria e do excedente de mão de obra, hiperencarcerando as classes subalternas como uma alternativa perversa à ausência de políticas sociais decentes. Em agudo contraste, os delitos dos Powerful abarcam o que Edwin Sutherland chamou de white-collar crime (crime de colarinho branco): fraudes empresariais, crimes ambientais de larga escala, corrupção estrutural e ilícitos corporativos. Os agentes, aqui, são indivíduos ou corporações que se valem de sua posição privilegiada e do acesso a estruturas complexas para cometer atos ilícitos de difícil rastreio. Alessandro Baratta (1991) já nos alertava: a seletividade penal não é só um problema de aplicação (a posteriori); ela começa na própria origem, na definição legal do que deve ou não ser criminalizado (a priori). O foco de medo e repressão que a ideologia penal insiste em concentrar no "crime de rua" é, no fundo, uma tática de desvio de atenção dos crimes que de fato causam um dano estrutural e sistêmico à sociedade. A Diferença Brutal na Resposta da Justiça A realidade brasileira é um espelho cristalino dessa dicotomia, manifestando-se de forma clara e dolorosa. Powerless O indivíduo que comete um furto famélico ou um roubo simples, desesperado por subsistência. A reação institucional é imediata, visível e rigorosa. Prisão em flagrante, prisão preventiva como regra e regime fechado na condenação. Resultado: Encarceramento em massa (Garland, 2008), focado esmagadoramente em jovens, pobres e negros, por crimes patrimoniais menores ou tráfico varejista. O sistema esmaga quem não tem poder de defesa. Powerful A fraude em licitações ou o desvio multimilionário de recursos públicos por altos executivos e agentes governamentais. A persecução penal é marcada pela complexidade probatória, morosidade e necessidade de grandes equipes investigativas. Resultado: Agentes com acesso a advogados caríssimos e a uma infinidade de recursos (habeas corpus, acordos de colaboração). Quando há condenação, a pena privativa de liberdade é frequentemente substituída ou cumprida em regimes leves. É, como diz Eugenio Zaffaroni (2001), a seletividade da brandura. Enquanto a punição do Powerless é um fim em si mesmo, uma porta aberta para a "escola do crime" que é o cárcere, a punição do Powerful é vista quase como um erro de percurso que deve ser negociado ou evitado, sempre visando a preservação das estruturas que permitiram o ilícito. Conclusão e Uma Necessária Reflexão Ao final dessa análise, a conclusão que se impõe é inevitável: os delitos dos Powerful, por mais que sejam percebidos com menor alarme imediato (afinal, não é você quem está sendo assaltado na rua), são, inegavelmente, a fonte do maior dano social e econômico estrutural. A corrupção sistêmica e os crimes ambientais, por exemplo, não roubam uma carteira; eles roubam a saúde pública, desviam recursos da educação e, no limite, corroem a própria fundação da democracia, perpetuando o ciclo de desigualdade que, por sua vez, alimenta a criminalidade do Powerless. O sistema penal brasileiro, no entanto, não reage à altura desse dano. Sua resposta desproporcional é o testamento da hipocrisia punitiva: o rigor absoluto é reservado aos mais vulneráveis, e a flexibilidade é garantida aos mais influentes. A insistência em priorizar a repressão ao "crime de rua" e o consequente hiperencarceramento não deveriam ser vistos como sinais de eficiência, mas sim como o sintoma de um sistema seletivo e funcional à manutenção de uma estrutura de dominação. O cenário para a segurança pública permanece sombrio enquanto essa seletividade for a norma. A segurança pública não pode ser um eufemismo para "guerra à pobreza" (Wacquant). O caminho para uma sociedade mais justa e segura exige, acima de tudo, o desmonte dessa seletividade penal, equalizando o rigor e direcionando os preciosos recursos investigativos para o macro-dano causado pelos poderosos. É hora de repensar a função da prisão para a criminalidade de subsistência, trocando a repressão simplista pela intervenção social de fato.

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