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Hidrologia Agosto/2006 HIDROLOGIA CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO À HIDROLOGIA 1.1. Introdução Hidrologia: é a ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades físicas e químicas e sua relação com o meio ambiente, incluindo sua relação com a vida. (United State Federal Council Science and Technology). O início dos estudos de medições de precipitação e vazão ocorreu no século 19, porém, após 1950 com o advento do computador, as técnicas usadas em estudos hidrológicos apresentaram um grande avanço. 1.2. Hidrologia Científica • Hidrometeorologia: é a parte da hidrologia que trata da água na atmosfera. • Geomorfologia: trata da análise quantitativa das características do relevo de bacias hidrográficas e sua associação com o escoamento. • Escoamento Superficial: trata do escoamento sobre a superfície da bacia. • Interceptação Vegetal: avalia a interceptação pela cobertura vegetal da bacia hidrográfica. • Infiltração e Escoamento em Meio Não-Saturado: observação e previsão da infiltração e escoamento da água no solo. • Escoamento em Rios, Canais e Reservatórios: observação da vazão dos canais e cursos de água, e do nível dos reservatórios. • Evaporação e Evapotranspiração: perda de água pelas superfícies livres de rios, lagos e reservatórios, e da evapotranspiração das culturas. • Produção e Transporte de Sedimentos: quantificação da erosão do solo. • Qualidade da Água e Meio Ambiente: trata da quantificação de parâmetros físicos, químicos e biológicos da água e sua interação com os seus usos na avaliação do meio ambiente aquático. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 1 Hidrologia Agosto/2006 1.3. Hidrologia Aplicada Está voltada para os diferentes problemas que envolvem a utilização dos recursos hídricos, preservação do meio ambiente e ocupação da bacia hidrográfica. Áreas de atuação da Hidrologia: • Planejamento e Gerenciamento da Bacia Hidrográfica: planejamento e controle do uso dos recursos naturais. • Abastecimento de Água: limitação nas regiões áridas e semi-áridas do país. • Drenagem Urbana: cerca de 75% da população vive em área urbana. Enchentes, produção de sedimentos e problemas de qualidade da água. • Aproveitamento Hidrelétrico: a energia hidrelétrica constitui 92% de toda energia produzida no país. Depende da disponibilidade de água, da sua regularização por obras hidráulicas e o impacto das mesmas sobre o meio ambiente. • Uso do Solo Rural: produção de sedimentos e nutrientes, resultando em perda do solo fértil e assoreamento dos rios. • Controle de Erosão: medidas de combate à erosão do solo. • Controle da Poluição e Qualidade da Água: tratamento dos despejos domésticos e industriais e de cargas de pesticidas de uso agrícola. • Irrigação: a produção agrícola em algumas áreas depende essencialmente da disponibilidade de água. • Navegação. • Recreação e Preservação do Meio Ambiente. • Preservação dos Ecossistemas Aquáticos. 1.4. Estudos Hidrológicos • Baseiam-se em elementos observados e medidos no campo. • Estabelecimento de postos pluviométricos ou fluviométricos e sua manutenção ininterrupta são condições necessárias ao estudo hidrológico. • Projetos de obras futuras são elaboradas com base em elementos do passado. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 2 Hidrologia Agosto/2006 1.5. Importância da Água A água é um recurso natural indispensável para a sobrevivência do homem e demais seres vivos no Planeta. É uma substância fundamental para os ecossistemas da natureza. É importante para as formações hídricas atmosféricas, influenciando o clima das regiões. No caso do homem, é responsável por aproximadamente ¾ de sua constituição. Infelizmente, este recurso natural encontra-se cada vez mais limitado e está sendo exaurido pelas ações impactantes nas bacias hidrográficas (ações do homem), degradando a sua qualidade e prejudicando os ecossistemas. A carência de água pode ser para muitos países um dos fatores limitantes para o desenvolvimento. Alguns países como Israel, Territórios Palestinos, Jordânia, Líbia, Malta e Tunísia a escassez de água já atingiu níveis muito perigosos: existem apenas 500 m3.habitante-1.ano-1, enquanto estima-se que a necessidade mínima de uma pessoa seja 2000 m3.habitante-1.ano-1. Atualmente a falta de água atinge severamente 26 países, além dos já citados estão nesta situação: Arábia Saudita, Iraque, Kuwait, Egito, Argélia, Burundi, Cabo Verde, Etiópia, Cingapura, Tailândia, Barbados, Hungria, Bélgica, México, Estados Unidos, França, Espanha e outros. No Brasil, a ocorrência mais freqüente de seca é no Nordeste e problemas sérios de abastecimento em outras regiões já são identificados e conhecidos. Alertas de organismos internacionais mencionam que nos próximos 25 anos, cerca de 3 bilhões de pessoas poderão viver em regiões com extrema falta de água, inclusive para o próprio consumo. A idéia que a grande maioria das pessoas possui com relação à água é que esta é infinitamente abundante e sua renovação é natural. No entanto, ocupando 71% da superfície do planeta, sabe-se que 97,30% deste total constituem-se de águas salgadas1, 2,70% são águas doces. Do total de água doce, 2,07% estão congeladas em geleiras e calotas polares (água em estado sólido) e, apenas 0,63% resta de água doce não totalmente aproveitada por questões de inviabilidade técnica, econômica, financeira e de sustentabilidade ambiental (Figura 1). Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 3 Hidrologia Agosto/2006 ÁguaTerras emersas 29% 71% Doce 0,63% Doce (geleiras e calotas) 2,07% Salgada 97,3% Figura 1 - Distribuição da água no planeta. Em escala global, estima-se que 1,386 bilhões de km3 de água estejam disponíveis, porém, a parte de água doce econômica de fácil aproveitamento para satisfazer as necessidades humanas, é de aproximadamente 14 mil km3.ano-1 (0,001%). Desde o início da história da humanidade, a demanda de água é cada vez maior e as tendências das últimas décadas são de excepcional incremento devido ao aumento populacional e elevação do nível de vida. A estimativa atual da população mundial é de 6 bilhões. Um número três vezes maior do que em 1950, porém enquanto a população mundial triplicou o consumo de água aumentou em seis vezes. A população do país aumentou em 26 anos 137%, passando de 52 milhões de pessoas em 1970 para 123 milhões em 1996, e para 166,7 milhões em 2000. Já a disponibilidade hídrica, de 105 mil m-3.habitante-1.ano-1, em 1950, caiu para 28,2 mil m-3.habitante-1.ano-1, em 2000. A Organização das Nações Unidas, ONU, prevê que, se o descaso com os recursos hídricos continuar, metade da população mundial não terá acesso à água limpa a partir de 2025. Hoje, este problema já afeta cerca de 20% da população do planeta – mais de 1 bilhão de pessoas. Mantendo-se as taxas de consumo e considerando um crescimento populacional à razão geométrica de 1,6% a.a., o esgotamento da potencialidade de recursos hídricos pode ser referenciado por volta do ano 2053. Portanto, asdisponibilidades hídricas precisam ser ampliadas e, para tanto, são necessários investimentos em Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 4 1 Água salina apresenta salinidade igual ou superior a 30‰. Água salobra apresenta variação de 0,50‰ a 30‰ na concentração de sais dissolvidos. Água doce apresenta salinidade menor ou igual a 0,50‰. Hidrologia Agosto/2006 pesquisa e desenvolvimento tecnológico para exploração viável e racional da água. O continente da América do Sul conta com abundantes recursos hídricos, porém existem consideráveis diferenças entre as distintas regiões nas quais os problemas de água se devem, sobretudo ao baixo rendimento de utilização, gerenciamento, contaminação e degradação ambiental. Segundo a FAO a Argentina, o Peru e o Chile já enfrentam sérios problemas de disponibilidade e contaminação da água por efluentes agro-industriais. A situação brasileira não é de tranqüilidade, embora seja considerado um país privilegiado em recursos hídricos. Contudo, conflitos de qualidade, quantidade e déficit de oferta já são realidade. Outra questão refere-se ao desperdício de água estimado em 40% por uso predatório e irracional. Por exemplo, em Cuiabá o desperdício chega a 53% de toda água encanada e na cidade de São Paulo a população convive com um desperdício de 45% nos 22000 km de encanamentos, causados por vazamentos e ligações clandestinas. Enquanto a escassez de água é cada vez mais grave, na região nordeste a sobrevivência, a permanência da população e o desenvolvimento agrícola dependem essencialmente da oferta de água. O Brasil é o país mais rico em água doce, com 12% das reservas mundiais. Do potencial de água de superfície do planeta, concentram-se 18%, escoando pelos rios aproximadamente 257.790 m3.s-1. Apesar de apresentar uma situação aparentemente favorável, observa-se no Brasil uma enorme desigualdade regional na distribuição dos recursos hídricos (Figura 2). Quando comparamos estas situações com a abundância de água na Bacia Amazônica, que corresponde às regiões Norte e Centro-Oeste, contrapondo-se a problemas de escassez no Nordeste e conflitos de uso nas regiões Sul e Sudeste, a situação agrava-se. Ao se considerar em lugar de disponibilidade absoluta de recursos hídricos renováveis, àquela relativa à população deles dependentes, o Brasil deixa de ser o primeiro e passa ao vigésimo terceiro no mundo. Mesmo considerando-se a disponibilidade relativa, existe ainda em nosso país o problema do acesso da população à água tratada, por exemplo, podemos citar a cidade de Manaus, que está localizada na Bacia Amazônica e grande parte das moradias não recebe água potável. No Brasil, cerca de 36% das moradias, ou Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 5 Hidrologia Agosto/2006 seja, aproximadamente 20 milhões de residências, não têm acesso a água de boa qualidade, segundo dados do IBGE. As águas subterrâneas no Brasil oferecem um potencial em boa parte ainda não explorado. Ao contrário de outros países que possuem informações e bancos de dados do potencial subterrâneo de água, no Brasil a matéria é tratada com meros palpites e avaliações grosseiras. Segundo a ABAS (Associação Brasileira de Águas Subterrâneas), o Brasil tem o impressionante volume de 111 trilhões e 661 milhões de metros cúbicos de água em suas reservas subterrâneas, inclusive detendo o maior aqüífero do mundo, o aqüífero Guarany. Muitas cidades já são abastecidas em grande parte por águas de poços profundos, por exemplo, a cidade de Ribeirão Preto. Nordeste - 3,3% (27% pop.) Outras regiões - 16,7% (66% pop.) Amazônia - 80% (7% pop.) Figura 2 - Recursos hídricos no Brasil. A questão crucial do uso da água subterrânea reside no elevado custo de exploração além de exigir tecnologia avançada para investigação hidro- geológica. No caso específico da região Nordeste, caracterizada por reduzidas precipitações, elevada evaporação e escassez de águas superficiais, as reservas hídricas subterrâneas constituem uma alternativa para abastecimento e produção agrícola irrigada. As disponibilidades hídricas subterrâneas da região indicam que os recursos subterrâneos, dentro da margem de segurança adotada para a sua exploração, contribuem apenas como complemento dos recursos hídricos superficiais para atendimento da demanda hídrica. Exceções podem ser dadas aos estados de Maranhão e Piauí, cujas reservas atenderiam a demanda total e à Bahia com atendimento quase total, caso a distribuição dos aqüíferos fosse homogênea, pois estes não ocorrem em mais do que 40% da área do estado. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 6 Hidrologia Agosto/2006 O setor agrícola é o maior consumidor de água. Ao nível mundial a agricultura consome cerca de 70% de toda a água derivada das fontes (rios, lagos e aqüíferos subterrâneos), e os outros 30% pelas indústrias e uso doméstico (Figura 3). Sendo este o elemento essencial ao desenvolvimento agrícola, sem o controle e a administração adequados e confiáveis não será possível uma agricultura sustentável. No Brasil 70% da água consumida ocorre na agricultura irrigada, 20% é utilizada para uso doméstico e 10% pelo setor industrial. Uso doméstico Agricultura Indústria 70%20% 10% Figura 3 - Uso setorial da água no planeta. Apesar do grande consumo de água, a irrigação representa a maneira mais eficiente de aumento da produção de alimentos. Estima- se que ao nível mundial, no ano de 2020, os índices de consumo de água para a produção agrícola sejam mais elevados na América do Sul, África e Austrália. Pode-se prever um maior incremento da produção agrícola no hemisfério sul, especialmente pela possibilidade de elevação da intensidade de uso do solo, que sob irrigação, produz até três cultivos por ano. A expansão da agricultura irrigada se tornará uma questão preocupante devido ao elevado consumo e as restrições de disponibilidade de água. Avaliando a necessidade de água dos cultivos, em termos médios, é possível verificar que para produzir uma tonelada de grão são utilizadas mil toneladas de água, sem considerar a ineficiência dos métodos e sistemas de irrigação e o manejo inadequado desta. Avaliações de projetos de irrigação no mundo inteiro indicam que mais da metade da água derivada para irrigação perde-se antes de alcançar a zona radicular dos cultivos. Um outro fato preocupante é velocidade de degradação dos recursos hídricos, com o despejo de resíduos domésticos e industriais nos rios e lagos. O país lança sem nenhum tratamento aos rios e lagoas cerca de 85% dos esgotos Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 7 Hidrologia Agosto/2006 que produz, segundo dados do IBGE. Somente a Ásia despeja 850 bilhões de litros de esgoto nos rios por ano. As conseqüências da baixa qualidade dos recursos hídricos remetem à humanidade perdas irreparáveisde vidas e também grandes prejuízos financeiros. No mundo 10 milhões de pessoas morrem anualmente de doenças transmitidas por meio de águas poluídas: tifo, malária, cólera, infecções diarreicas e esquistossomose. Segundo a ONU, a cada 25 minutos morre no Brasil, uma criança vítima de diarréia, doença proveniente do consumo de água de baixa qualidade. Com o aumento de 50% ao acesso à água limpa e potável nos países em desenvolvimento, faria com que aproximadamente 2 milhões de crianças deixassem de morrer anualmente por causa de diarréia. A qualidade da água pode ser alterada com medidas básicas de educação e a implementação de uma legislação adequada. O saneamento básico é de fundamental importância para a preservação dos recursos hídricos, pois cada 1 litro de esgoto inutiliza 10 litros de água limpa. Essas medidas além de salvar vidas humanas ainda iriam proporcionar economia dos recursos públicos, pois a cada R$ 1,00 investido em saneamento básico estima-se uma economia de R$ 10,00 em saúde. A UNESCO, por meio do Conselho Mundial da Água, divulgou em dezembro de 2002 um ranking de saúde hídrica. A pontuação dos países é a soma de notas em cinco quesitos (melhor de 20 em cada): • quantidade de água doce por habitante; • parcela da população com água limpa e esgoto tratado; • renda, saúde, educação e desigualdade social; • desperdício de água doméstico, industrial e agrícola; e • poluição da água e preservação ambiental. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 8 Hidrologia Agosto/2006 Ranking da Saúde Hídrica Colocação País Pontos 1 Finlândia 78,0 2 Canadá 77,7 5 Guiana 75,8 11 Reino Unido 71,5 13 Turcomenistão 70,0 16 Chile 68,9 18 França 68,0 22 Equador 67,1 32 Estados Unidos 65,0 34 Japão 64,8 35 Alemanha 64,5 39 Espanha 63,6 50 Brasil 61,2 52 Itália 60,9 56 Bélgica 60,6 58 Irã 60,3 71 Egito 58,0 74 México 57,5 85 Paraguai 55,9 93 Israel 53,9 100 Índia 53,2 101 Arábia Saudita 52,6 106 China 51,1 111 Sudão 49,9 118 Jordânia 46,3 119 Marrocos 46,2 120 Camboja 46,2 126 Moçambique 44,9 131 Iêmen 43,8 135 Angola 41,3 147 Haiti 35,1 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 9 Hidrologia Agosto/2006 1.6. Usos Múltiplos da Água Em função de suas qualidades e quantidades, a água propicia vários tipos de uso, isto é, múltiplos usos. O uso dos recursos hídricos por cada setor pode ser classificado como consuntivo e não consuntivo. a) Uso Consuntivo. É quando, durante o uso, é retirada uma determinada quantidade de água dos manaciais e depois de utilizada, uma quantidade menor e/ou com qualidade inferior é devolvida, ou seja, parte da água retirada é consumida durante seu uso. Exemplos: abastecimento, irrigação, etc. b) Uso Não Consuntivo. É aquele uso em que é retirada uma parte de água dos mananciais e depois de utilizada, é devolvida a esses mananciais a mesma quantidade e com a mesma qualidade, ou ainda nos usos em que a água serve apenas como veículo para uma certa atividade, ou seja, a água não é consumida durante seu uso. Exemplos: pesca, navegação, etc. 1.7. Exercícios 1) Comente a seguinte afirmativa: “O planeta está secando”. 2) (Questão 01 Prova de Hidrologia Concurso ANA 2002) Em uma bacia hidrográfica, o uso não-consuntivo da água é realizado por: a) navegação fluvial, irrigação, pesca; b) recreação, dessentação dos animais, geração de energia; c) abastecimento urbano, irrigação, recreação; d) navegação fluvial, geração de energia, pesca; e) abastecimento industrial, controle de cheia, preservação. 3) Comente as seguintes situações em relação ao Brasil. a) O país detém 12% de toda a água doce da superfície terrestre; e b) o país ocupa o 50º lugar no ranking mundial da saúde hídrica. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 10 Hidrologia Agosto/2006 CAPÍTULO 2. CICLO HIDROLÓGICO 2.1. O Ciclo da Água É o fenômeno global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente pela energia solar associada à gravidade e à rotação terrestre. O conceito de ciclo hidrológico (Figura 4) está ligado ao movimento e à troca de água nos seus diferentes estados físicos, que ocorre na Hidrosfera, entre os oceanos, as calotes de gelo, as águas superficiais, as águas subterrâneas e a atmosfera. Este movimento permanente deve-se ao Sol, que fornece a energia para elevar a água da superfície terrestre para a atmosfera (evaporação), e à gravidade, que faz com que a água condensada se caia (precipitação) e que, uma vez na superfície, circule através de linhas de água que se reúnem em rios até atingir os oceanos (escoamento superficial) ou se infiltre nos solos e nas rochas, através dos seus poros, fissuras e fraturas (escoamento subterrâneo). Nem toda a água precipitada alcança a superfície terrestre, já que uma parte, na sua queda, pode ser interceptada pela vegetação e volta a evaporar-se. A água que se infiltra no solo é sujeita a evaporação direta para a atmosfera e é absorvida pela vegetação, que através da transpiração, a devolve à atmosfera. Este processo chamado evapotranspiração ocorre no topo da zona não saturada, ou seja, na zona onde os espaços entre as partículas de solo contêm tanto ar como água. A água que continua a infiltrar-se e atinge a zona saturada, entra na circulação subterrânea e contribui para um aumento da água armazenada (recarga dos aquíferos). Na Figura 5 observa-se que, na zona saturada (aquífero), os poros ou fraturas das formações rochosas estão completamente preenchidos por água (saturados). O topo da zona saturada corresponde ao nível freático. No entanto, a água subterrânea pode ressurgir à superfície (nascentes) e alimentar as linhas de água ou ser descarregada diretamente no oceano. A quantidade de água e a velocidade com que ela circula nas diferentes fases do ciclo hidrológico são influenciadas por diversos fatores como, por exemplo, a cobertura vegetal, altitude, topografia, temperatura, tipo de solo e geologia. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 11 Hidrologia Agosto/2006 Figura 4 – Componentes do ciclo hidrológico. Figura 5 – Movimentação de água no perfil do solo. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 12 Hidrologia Agosto/2006 Resumo do ciclo hidrológico: a) circulação da água, do oceano, através da atmosfera, para o continente, retorno, após a detenção em vários pontos, para o oceano, através de escoamentos superficiais ou subterrâneos e, em parte pela própria atmosfera; e b) curtos-circuitos que excluem segmentos diversos do ciclo completo, como por exemplo a movimentação da água do solo e da superfície terrestre para a atmosfera, sem passar pelo oceano. 2.2. Equação Hidrológica I - O = ∆S I = (entradas) incluindotodo o escoamento superficial por meio de canais e sobre a superfície do solo, o escoamento subterrâneo, ou seja, a entrada de água através dos limites subterrâneos do volume de controle, devido ao movimento lateral da água do subsolo, e a precipitação sobre a superfície do solo; O = saídas de água do volume de controle, devido ao escoamento superficial, ao escoamento subterrâneo, à evaporação e à transpiração das plantas; e ∆S = variação no armazenamento nas várias formas de retenção, no volume de controle. Apesar dessa simplificação, o ciclo hidrológico é um meio conveniente de apresentar os fenômenos hidrológicos, servindo também para dar ênfase às quatro fases básicas de interesse do engenheiro, que são: precipitação; evaporação e transpiração; escoamento superficial; escoamento subterrâneo. Embora possa parecer um mecanismo contínuo, com a água se movendo de uma forma permanente e com uma taxa constante, é na realidade bastante Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 13 Hidrologia Agosto/2006 diferente, pois o movimento da água em cada uma das fases do ciclo é feito de um modo bastante aleatório, variando tanto no espaço como no tempo. Em determinadas ocasiões, a natureza parece trabalhar em excesso, quando provoca chuvas torrenciais que ultrapassam a capacidade dos cursos d’água provocando inundações. Em outras ocasiões parece que todo o mecanismo do ciclo parou completamente e com ele a precipitação e o escoamento superficial. E são precisamente estes extremos de enchente e de seca que mais interessam aos engenheiros, pois muitos dos projetos de Engenharia Hidráulica são realizados com a finalidade de proteção contra estes mesmos extremos. 2.3. Exercícios 1) (Questão 19 Prova de Hidrologia Concurso CPRM 2002 - Certo ou Errado) a) (item 2) o ciclo hidrológico é o fenômeno global de circulação fechada de água entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionada exclusivamente pela energia solar. b) (item 5) Os principais componentes associados ao ciclo hidrológico são a precipitação (P), a infiltração (I), a evapotranspiração (ET) e o escoamento superficial (ES). A equação do balanço hídrico para uma bacia hidrológica qualquer pode ser expressa por P + I = ET + ES. 2) Como se pode explicar o fato de que uma região que não houve aumento populacional, os recursos hídricos se tornaram escassos; mesmo havendo a renovação de água por meio do Ciclo Hidrológico. 3) Qual a função da Engenharia com relação aos extremos do Ciclo Hidrológico. 4) Explique o Ciclo Hidrológico, enfatizando cada um de seus componentes. 5) Discuta a renovação da água pelo Ciclo Hidrológico e a velocidade de degradação ambiental. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 14 Hidrologia Agosto/2006 CAPÍTULO 3. BACIA HIDROGRÁFICA 3.1. Introdução O Ciclo Hidrológico, como descrito anteriormente, tem um aspecto geral e pode ser visto como um sistema hidrológico fechado, já que a quantidade de água disponível para a terra é finita e indestrutível. Entretanto, os subsistemas abertos são abundantes, e estes são normalmente os tipos analisados pelos hidrologistas. Dentre as regiões de importância prática para os hidrologistas destacam- se as Bacias Hidrográficas (BH) ou Bacias de Drenagem, por causa da simplicidade que oferecem na aplicação do balanço de água, os quais podem ser desenvolvidos para avaliar as componentes do ciclo hidrológico para uma região hidrologicamente determinada, conforme Figura 6. Bacia Hidrográfica é, portanto, uma área definida topograficamente, drenada por um curso d’água ou por um sistema conectado de cursos d’água, tal que toda a vazão efluente seja descarregada por uma simples saída. CRUCIANI, 1976 define microbacia hidrográfica como sendo a área de formação natural, drenada por um curso d’água e seus afluentes, a montante de uma seção transversal considerada, para onde converge toda a água da área considerada. A área da microbacia depende do objetivo do trabalho que se pretende realizar (não existe consenso sobre qual o tamanho ideal). PEREIRA (1981) sugere: a) para verificação do efeito de diferentes práticas agrícolas nas perdas de solo, água e nutrientesÆ área não deve exceder a 50 ha. b) estudo do balanço hídrico e o efeito do uso do solo na vazão Æ áreas de até 10.000 ha. c) estudos que requerem apenas a medição de volume e distribuição da vazão Æ bacias representativas com áreas de 10 a 50 mil ha. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 15 Hidrologia Agosto/2006 Figura 6 – Esquema de bacias hidrográficas. A resposta hidrológica de uma bacia hidrográfica é transformar uma entrada de volume concentrada no tempo (precipitação) em uma saída de água (escoamento) de forma mais distribuída no tempo (Figura 7). Figura 7 – Resposta hidrológica de uma bacia hidrográfica. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 16 Hidrologia Agosto/2006 3.2. Divisores Divisores de água: divisor superficial (topográfico) e o divisor freático (subterrâneo). Conforme a Figura 8, o divisor subterrâneo é mais difícil de ser localizado e varia com o tempo. À medida que o lençol freático (LF) sobe, ele tende ao divisor superficial. O subterrâneo só é utilizado em estudos mais complexos de hidrologia subterrânea e estabelece, portanto, os limites dos reservatórios de água subterrânea de onde é derivado o deflúvio básico da bacia. Na prática, assume-se por facilidade que o superficial também é o subterrâneo. Figura 8 - Corte transversal de bacias hidrográficas. A Figura 9 apresenta um exemplo de delimitação de uma bacia hidrográfica utilizando o divisor topográfico. Nesta Figura está individualizada a bacia do córrego da Serrinha. Note que o divisor de águas (linha tracejada) acompanha os pontos com maior altitude (curvas de nível de maior valor). Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 17 Hidrologia Agosto/2006 Figura 9 – Delimitação de uma bacia hidrográfica (linha tracejada). 3.3. Classificação dos cursos d’água De grande importância no estudo das BH é o conhecimento do sistema de drenagem, ou seja, que tipo de curso d’água está drenando a região. Uma maneira utilizada para classificar os cursos d’água é a de tomar como base a constância do escoamento com o que se determinam três tipos: a) Perenes: contém água durante todo o tempo. O lençol freático mantém uma alimentação contínua e não desce nunca abaixo do leito do curso d’água, mesmo durante as secas mais severas. b) Intermitentes: em geral, escoam durante as estações de chuvas e secam nas de estiagem. Durante as estações chuvosas, transportam todos os tipos de deflúvio, pois o lençol d’água subterrâneo conserva-se acima do leito fluvial e alimentando o curso d’água, o que não ocorre na época de estiagem, quando o lençol freático se encontraem um nível inferior ao do leito. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 18 Hidrologia Agosto/2006 c) Efêmeros: existem apenas durante ou imediatamente após os períodos de precipitação e só transportam escoamento superficial. A superfície freática se encontra sempre a um nível inferior ao do leito fluvial, não havendo a possibilidade de escoamento de deflúvio subterrâneo. 3.4. Características físicas de uma bacia hidrográfica Estas características são importantes para se transferir dados de uma bacia monitorada para uma outra qualitativamente semelhante onde faltam dados ou não é possível a instalação de postos hidrométricos (fluviométricos e pluviométricos). É um estudo particularmente importante nas ciências ambientais, pois no Brasil, a densidade de postos fluviométricos é baixa e a maioria deles encontram-se nos grandes cursos d’água, devido a prioridade do governo para a geração de energia hidroelétrica. Brasil: 1 posto/ 4000 km2; USA: 1 posto/ 1000 km2; Israel: 1 posto/ 200 km2. 3.4.1. Área de drenagem É a área plana (projeção horizontal) inclusa entre os seus divisores topográficos. A área de uma bacia é o elemento básico para o cálculo das outras características físicas. É normalmente obtida por planimetria ou por pesagem do papel em balança de precisão. São muito usados os mapas do IBGE (escala 1:50.000). A área da bacia do Rio Paraíba do Sul é de 55.500 km2. 3.4.2. Forma da bacia É uma das características da bacia mais difíceis de serem expressas em termos quantitativos. Ela tem efeito sobre o comportamento hidrológico da bacia, como por exemplo, no tempo de concentração (Tc). Tc é definido como sendo o tempo, a partir do início da precipitação, necessário para que toda a bacia contribua com a vazão na seção de controle. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 19 Hidrologia Agosto/2006 Existem vários índices utilizados para se determinar a forma das bacias, procurando relacioná-las com formas geométricas conhecidas: a) coeficiente de compacidade (Kc): é a relação entre o perímetro da bacia e o perímetro de um círculo de mesma área que a bacia. A P28,0Kc ; P PKc C BH == O Kc é sempre um valor > 1 (se fosse 1 a bacia seria um círculo perfeito). Quanto menor o Kc (mais próximo da unidade), mais circular é a bacia, menor o Tc e maior a tendência de haver picos de enchente. b) fator de forma (Kf): é a razão entre a largura média da bacia (L ) e o comprimento do eixo da bacia (L) (da foz ao ponto mais longínquo da área) 2L AKf ; L AL ; L LKf === Quanto menor o Kf, mais comprida é a bacia e portanto, menos sujeita a picos de enchente, pois o Tc é maior e, além disso, fica difícil uma mesma chuva intensa abranger toda a bacia. 3.4.3. Sistema de drenagem O sistema de drenagem de uma bacia é constituído pelo rio principal e seus tributários; o estudo das ramificações e do desenvolvimento do sistema é importante, pois ele indica a maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. O padrão de drenagem de uma bacia depende da estrutura geológica do local, tipo de solo, topografia e clima. Esse padrão também influencia no comportamento hidrológico da bacia. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 20 Hidrologia Agosto/2006 a) Ordem dos cursos d’água e razão de bifurcação (Rb): De acordo com a Figura 10, adota-se o seguinte procedimento: 1) os cursos primários recebem o numero 1; 2) a união de 2 de mesma ordem dá origem a um curso de ordem superior; e 3) a união de 2 de ordem diferente faz com que prevaleça a ordem do maior. Quanto maior Rb média, maior o grau de ramificação da rede de drenagem de uma bacia e maior a tendência para o pico de cheia. Figura 10 – Ordem dos cursos d’água. b) densidade de drenagem (Dd): é uma boa indicação do grau de desenvolvimento de um sistema de drenagem. Expressa a relação entre o comprimento total dos cursos d’água (sejam eles efêmeros, intermitentes ou perenes) de uma bacia e a sua área total. A L Dd Σ= Para avaliar Dd, deve-se marcar em fotografias aéreas, toda a rede de drenagem, inclusive os cursos efêmeros, e depois medi-los com o curvímetro. Duas técnicas executando uma mesma avaliação podem encontrar valores um pouco diferentes. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 21 Hidrologia Agosto/2006 Bacias com drenagem pobre → Dd < 0,5 km/km2 Bacias com drenagem regular → 0,5 ≤ Dd < 1,5 km/km2 Bacias com drenagem boa → 1,5 ≤ Dd < 2,5 km/km2 Bacias com drenagem muito boa → 2,5 ≤ Dd < 3,5 km/km2 Bacias excepcionalmente bem drenadas → Dd ≥ 3,5 km/km2 3.4.4. Características do relevo da bacia O relevo de uma bacia hidrográfica tem grande influência sobre os fatores meteorológicos e hidrológicos, pois a velocidade do escoamento superficial é determinada pela declividade do terreno, enquanto que a temperatura, a precipitação e a evaporação são funções da altitude da bacia. a) declividade da bacia: quanto maior a declividade de um terreno, maior a velocidade de escoamento, menor Tc e maior as perspectivas de picos de enchentes. A magnitude desses picos de enchente e a infiltração da água, trazendo como conseqüência, maior ou menor grau de erosão, dependem da declividade média da bacia (determina a maior ou menor velocidade do escoamento superficial), associada à cobertura vegetal, tipo de solo e tipo de uso da terra. Dentre os métodos utilizados na determinação, o mais completo denomina-se método das quadrículas associadas a um vetor e consiste em traçar quadrículas sobre o mapa da BH, cujo tamanho dependerá da escala do desenho e da precisão desejada; como exemplo, pode-se citar quadrículas de 1km x 1km ou 2km x 2km etc. Uma vez traçadas as quadrículas, é procedida uma amostragem estatística da declividade da área, uma vez que sempre que um lado da quadrícula interceptar uma curva de nível, é traçado perpendicularmente à esta curva, um vetor (segmento de reta) com comprimento equivalente à distância entre duas curvas de nível consecutivas. Portanto, os comprimentos desses vetores serão variáveis, em função da declividade do terreno. Feita a Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 22 Hidrologia Agosto/2006 determinação da declividade de cada um dos vetores traçados, os dados são agrupados, conforme dados da tabela seguinte. BACIA: RIBEIRÃO LOBO - S.P. MAPA: IBGE (ESCALA - 1: 50.000) ÁREA DE DRENAGEM: 177,25 km2 1 2 3 4 5 6 DECLIVIDADE (m/m) Nº DE OCORRÊNCIAS % DO TOTAL % ACUMULADA DECLIV. MÉDIA COL. 2 * COL. 5 0,0000 - 0,0049 249 69,55 100,00 0,00245 0,6100 0,0050 - 0,0099 69 19,27 30,45 0,00745 0,5141 0,0100 - 0,0149 13 3,63 11,18 0,01245 0,1618 0,0150 -0,0199 7 1,96 7,55 0,01745 0,1222 0,0200 - 0,0249 0 0,00 5,59 0,02245 0,0000 0,0250 - 0,0299 15 4,19 5,59 0,02745 0,4118 0,0300 - 0,0349 0 0,00 1,40 0,03245 0,0000 0,0350 - 0,0399 0 0,00 1,40 0,03745 0,0000 0,0400 - 0,0449 0 0,00 1,40 0,04245 0,0000 0,0450 - 0,0499 5 1,40 1,40 0,04745 0,2373 TOTAL 358 100,00 - - 2,0572 Declividade média (dm): 2Coluna 6Coluna dm ∑ ∑= 2,0572 Declividade média (dm) = -------------- = 0,00575 m/m 358 A seguir é apresentado um exemplo de curva de declividade de uma BH. A Figura 11 representa a curva de distribuição da declividade em função do percentual de área da BH. Essa curva é traçada em papel mono-log, com os dados das colunas 1 e 4. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 23 Hidrologia Agosto/2006 Figura 11 - Curva de distribuição da declividade de uma bacia hidrográfica. b) curva hipsométrica: é definida como sendo a representação gráfica do relevo médio de uma bacia. Representa o estudo da variação da elevação dos vários terrenos da bacia com referência ao nível médio do mar. Essa variação pode ser indicada por meio de um gráfico que mostra a percentagem da área de drenagem que existe acima ou abaixo das várias elevações. Pode também ser determinadas por meio das quadrículas associadas a um vetor ou planimetrando-se as áreas entre as curvas de nível. A seguir é apresentado um exemplo de cálculo da distribuição de altitude referente à mesma bacia do exemplo anterior. A Figura 12 apresenta a curva hipsométrica desta bacia. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 24 Hidrologia Agosto/2006 1 2 3 4 5 6 COTAS (m) PONTO MÉDIO (m) ÁREA (km2) ÁREA ACUMUL. (km2) % ACUMUL. COL. 2 * COL. 3 940 - 920 930 1,92 1,92 1,08 1.785,6 920 - 900 910 2,90 4,82 2,72 2.639,0 900 - 880 890 3,68 8,50 4,80 3.275,2 880 - 860 870 4,07 12,57 7,09 3.540,9 860 - 840 850 4,60 17,17 9,68 3.910,0 840 - 820 830 2,92 20,09 11,33 2.423,6 820 - 800 810 19,85 39,94 22,53 16.078,5 800 - 780 790 23,75 63,69 35,93 18.762,5 780 - 760 770 30,27 93,96 53,01 23.307,9 760 - 740 750 32,09 126,05 71,11 24.067,5 740 - 720 730 27,86 153,91 86,83 20.337,8 720 - 700 710 15,45 169,36 95,55 10.969,5 700 - 680 690 7,89 177,25 100,00 5.444,1 TOTAL 177,25 136.542,1 Altitude média ( A ): A )Ae( A ii∑= Altitude média = ∑ ∑ 3 Coluna 6 Coluna Altitude média = m 770 25,177 1,542. =136 Figura 12 - Curva hipsométrica de uma bacia hidrográfica. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 25 Hidrologia Agosto/2006 c) Perfil longitudinal do curso d água: pelo fato da velocidade de escoamento de um rio depender da declividade dos canais fluviais, conhecer a declividade de um curso d’água constitui um parâmetro de importância no estudo de escoamento (quanto maior a declividade maior será a velocidade). Existem 4 procedimentos para se determinar a declividade média do curso d’água (Figura 13): 1o) Declividade baseada nos extremos (S1): obtida dividindo-se a diferença total de elevação do leito pela extensão horizontal do curso d’água entre esses dois pontos. Este valor superestima a declividade média do curso d’água e, consequentemente, o pico de cheia. Essa superestimativa será tanto maior quanto maior o número de quedas do rio. 2o) Declividade ponderada (S2): um valor mais representativo que o primeiro consiste em traçar no gráfico uma linha, tal que a área, compreendida entre ela e a abcissa, seja igual à compreendida entre a curva do perfil e a abcissa. 3o) Declividade equivalente constante (S3): leva em consideração o tempo de percurso da água ao longo da extensão do perfil longitudinal, considerando se este perfil tivesse uma declividade constante igual à uma declividade equivalente. 2 i i i 3 ) ) D L( L (S ∑ ∑= , em que Li e Di são a distância em e a declividade em cada trecho i, respectivamente. 4o) Declividade 15 – 85 (S4): obtida de acordo com o método da declividade baseada nos extremos, porém descartando-se 15% dos trechos inicial e final do curso d’água. Isto se deve, pois a maioria dos cursos d’água têm alta declividade próximo da nascente e torna-se praticamente plano próximo de sua barra. O Quadro a seguir apresenta um exemplo de cálculo do perfil longitudinal do curso d’água: Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 26 Hidrologia Agosto/2006 1 2 3 4 5 6 7 8 Cotas (m) Dist. (m) Dist. (L)* (km) Distância Acum. (km) Declividade Por Segmento (Di) = 20/(2) ( )5 (Si) Lreal ** (Li) (km) Li/Si 660 - 680 7100 7,100 7,100 0,00282 0,0531 7,100028169 113,800 680 - 700 500 0,500 7,600 0,04000 0,2000 0,5003998401 2,500 700 - 720 3375 3,375 10,975 0,00593 0,0720 3,375059259 43,700 720 - 740 5375 5,375 16,350 0,00372 0,0609 5,375037209 88,300 740 - 760 850 0,850 17,200 0,02353 0,1500 0,8502352616 5,500 760 - 780 1330 1,330 18,530 0,01504 0,1220 1,330150367 10,600 780 - 800 350 0,350 18,880 0,05714 0,2390 0,3505709629 1,460 800 - 820 350 0,350 19,230 0,05714 0,2390 0,3505709629 1,460 820 - 840 880 0,880 20,110 0,02273 0,1507 0,8802272434 5,830 840 - 860 950 0,950 21,060 0,02105 0,1450 0,950210503 6,550 860 - 880 400 0,400 21,460 0,05000 0,2236 0,4004996879 1,785 880 - 900 540 0,540 22,000 0,03704 0,1924 0,5403702434 2,810 Total 22000 22,000 22,00336 304,295 * L = distância medida na horizontal; ** Lreal = distância real medida em linha inclinada. m/m01091,0 22000 660 - 900S1 == m/m00606,0 000.22 3,133S2 == m/m00522,0 295,304 000,22S 2 3 = = m/m00812,0 3300 - 18700 665 - 790S4 == Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 27 Hidrologia Agosto/2006 Linha S1 Linha S2 Linha S4 Linha S3 Figura 13 - Perfil longitudinal de um rio e as linhas de declividade do Álveo. O rio Paraíba do Sul tem sua nascente na Serra da Bocaina a 1800m de altitude, e sua foz localiza-se no município de São João da Barra – RJ, onde deságua no Oceano Atlântico. 3.4.5. Características geológicas da bacia Tem relação direta com a infiltração, armazenamento da água no solo e com a suscetibilidade de erosão dos solos. 3.4.6. Características agro-climáticas da bacia São caracterizadas principalmente pelo tipo de precipitação e pela cobertura vegetal. A bacia do rio Paraíba do Sul tem 65% de pastagem, 21% culturas e reflorestamento e 11% de floresta nativa (Mata Atlântica). Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 28 Hidrologia Agosto/2006 3.5. Exercícios 1) Assinale a alternativa correta cujos fatores contribuem paraque uma bacia apresente uma maior tendência a picos de cheias: a) <área; <Kc; >Kf; <Rb; >Tc; <Dd; b) >área; >Kc; <Kf; >Rb; <Tc; >Dd; c) <área; <Kc; >Kf; <Rb; <Tc; <Dd; d) <área; <Kc; >Kf; >Rb; >Tc; >Dd; e) >área; <Kc; >Kf; >Rb; <Tc; >Dd; 2) Determinar a declividade média (Dm) de uma bacia hidrográfica e a curva de distribuição de declividade da bacia (papel semi-log) para os dados da tabela abaixo, os quais foram estimados pelo método das quadrículas: 1 2 3 4 5 6 Declividade (m/m) Número de ocorrência % do total % acumulada declividade média do intervalo coluna 2 x coluna 5 0,0000 - 0,0059 70 0,0060 - 0,0119 45 0,0120 - 0,0179 30 0,0180 - 0,0239 5 0,0240 - 0,0299 0 0,0300 - 0,0359 10 0,0360 - 0,0419 3 0,0420 - 0,0479 2 Total 3) Determinar a curva hipsométrica (papel milimetrado) e a elevação média de uma bacia hidrográfica para os dados da tabela abaixo : 1 2 3 4 5 6 cotas (m) Ponto médio (m) Área (km2) Área acumulada % acumulada col 2 x col 3 830 - 800 3,2 800 - 770 4,0 770 - 740 4,5 740 - 710 10,0 710 - 680 33,6 680 - 650 40,2 650 - 620 25,8 620 - 590 8,8 Total Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 29 Hidrologia Agosto/2006 4) De uma bacia hidrográfica, conhece-se os seguintes dados: - Perímetro: 70,0 km - Distribuição de cotas: Cotas (m) Ponto Médio (m) Área (km2) Área Acumulada (km2) % Acumulada Coluna 2 * Coluna 3 940 – 920 1,92 920 – 900 2,90 900 – 880 3,68 880 – 860 4,07 860 – 840 4,60 840 – 820 2,92 820 – 800 19,85 800 – 780 23,75 780 – 760 30,27 760 – 740 32,09 740 – 720 27,86 720 – 700 15,45 700 – 680 7,89 TOTAL - Distribuição de declividade: Decividade (m/m) Número de Ocorrências % do Total % Acumulada Declividade Média Coluna 2 * Coluna 5 0,0000 – 0,0049 249 0,0050 – 0,0099 69 0,0100 – 0,0149 13 0,0150 – 0,0199 7 0,0200 – 0,0249 0 0,0250 – 0,0299 15 0,0300 – 0,0349 0 0,0350 – 0,0399 0 0,0400 – 0,0449 0 0,0450 – 0,0499 5 TOTAL Pede-se: a) Qual é o coeficiente de compacidade? b) Qual é a altitude média? c) Qual é a declividade média? Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 30 Hidrologia Agosto/2006 5) Com os dados do perfil longitudinal de um curso d’água apresentado abaixo, calcule a sua declividade baseada nos extremos. 1 2 3 4 5 6 8 Cotas (m) Distância (m) Distância (Li) (km) Distância Acumulada (km) Declividade por Segmento (Di) )5( (Si) Li/Si 540 - 560 3500 0,0057 560 - 580 2400 0,0083 580 - 600 860 0,0233 600 - 620 920 0,0217 620 - 640 560 0,0357 640 - 660 400 0,0500 660 - 680 1200 0,0167 680 - 700 1060 0,0189 700 - 720 650 0,0308 720 - 740 300 0,0667 740 - 760 260 0,0769 760 - 780 240 0,0833 TOTAL 6) O que é declividade equivalente constante? Determinar essa declividade para o perfil do curso d’água apresentado a seguir. Cotas (m) Distância (m) Distância (Li) (km) Distância Acumulada (km) Declividade por Segmento (Di) )5( (Si) Li/Si 660 - 680 5800 680 - 700 500 700 - 720 3375 720 - 740 5000 740 - 760 750 760 - 780 1200 780 - 800 350 800 - 820 350 820 - 840 880 840 - 860 950 TOTAL 7) (Questão 18 Prova de Hidrologia Concurso CPRM 2002 - Certo ou Errado) a) (item 1) Em um mapa feito na escala 1:25.000, a planimetria acusou o valor de 4.163 cm2 para a área de uma bacia hidrográfica, e foram totalizados os seguintes comprimentos dos cursos d’água na bacia. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 31 Hidrologia Agosto/2006 Ordem do Curso D’água Comprimento (cm) 1 904 2 380 3 160 4 82 5 17 Em face desses dados, é correto afirmar que a densidade de drenagem dessa bacia está no intervalo entre 1,4 e 1,6 km/km2. b) (item 4) Os cursos d’água intermitentes são aqueles em que ocorre escoamento apenas durante e logo após eventos de precipitação; já os efêmeros são cursos d’água em que há escoamento o ano todo. 8) (Questão 03 Prova de Hidrologia Concurso ANA 2002 - Certo ou Errado). a) (item 1) Em uma bacia hidrográfica, todos os pontos de maior altitude no interior da bacia pertencem ao divisor d’água. b) (item 5) O tempo de concentração de uma seção de uma bacia hidrográfica corresponde à duração da trajetória da partícula de água que demore mais tempo para atingir a seção. 9) (Questão 19 Prova de Hidrologia Concurso ANA 2002- Certo ou Errado). a) (item 1) O reflorestamento das encostas de uma bacia hidrográfica tende a aumentar o tempo de concentração da bacia. Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 32 Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 33 CAPÍTULO 4. PRECIPITAÇÃO 4.1. Definição Entende-se por precipitação a água proveniente do vapor de água da atmosfera depositada na superfície terrestre sob qualquer forma: chuva, granizo, neblina, neve, orvalho ou geada. Representa o elo de ligação entre os demais fenômenos hidrológicos e fenômeno do escoamento superficial, sendo este último o que mais interessa ao engenheiro. 4.2. Formação das Precipitações Elementos necessários a formação: - umidade atmosférica : (devido à evapotranspiração); - mecanismo de resfriamento do ar : (ascensão do ar úmido): quanto mais frio o ar, menor sua capacidade de suportar água em forma de vapor, o que culmina com a sua condensação. Pode-se dizer que o ar se resfria na razão de 1oC por 100 m, até atingir a condição de saturação; - presença de núcleos higroscópios; - mecanismo de crescimento das gotas: • coalescência: processo de crescimento devido ao choque de gotas pequenas originando outra maior; • difusão de vapor: condensação do vapor d’água sobre a superfície de uma gota pequena. Para que ocorra o resfriamento do ar úmido, há necessidade de sua ascensão, que pode ser devida aos seguintes fatores: ação frontal de massas de ar; convecção térmica; e relevo. A maneira com que o ar úmido ascende caracteriza o tipo de precipitação. Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 34 4.3. Tipos de Precipitação 4.3.1. Precipitações ciclônicas Estão associadas com o movimento de massas de ar de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão. Essas diferenças de pressões são causadas por aquecimento desigual da superfície terrestre. Podem ser classificadas como frontal ou não frontal. a) Frontal: tipo mais comum, resulta da ascensão do ar quente sobreo ar frio na zona de contato entre duas massas de ar de características diferentes. Se a massa de ar se move de tal forma que o ar frio é substituído por ar mais quente, a frente é conhecida como frente quente, e se por outro lado, o ar quente é substituído por ar frio, a frente é fria. A Figura 14 ilustra um corte vertical através de uma superfície frontal. b) Não Frontal: é resultado de uma baixa barométrica, neste caso o ar é elevado em conseqüência de uma convergência horizontal em áreas de baixa pressão. As precipitações ciclônicas são de longa duração e apresentam intensidades de baixa a moderada, espalhando-se por grandes áreas. Por isso são importantes, principalmente no desenvolvimento e manejo de projetos em grandes bacias hidrográficas. Figura 14 - Seção vertical de uma superfície frontal. Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 35 4.3.2. Precipitações Convectivas São típicas das regiões tropicais. O aquecimento desigual da superfície terrestre provoca o aparecimento de camadas de ar com densidades diferentes, o que gera uma estratificação térmica da atmosfera em equilíbrio instável. Se esse equilíbrio, por qualquer motivo (vento, superaquecimento), for quebrado, provoca uma ascensão brusca e violenta do ar menos denso, capaz de atingir grandes altitudes (Figura 15). As precipitações convectivas são de grande intensidade e curta duração, concentradas em pequenas áreas (chuvas de verão). São importantes para projetos em pequenas bacias. Figura 15 – Chuva de convecção. Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 36 4.3.3 Precipitações Orográficas Resultam da ascensão mecânica de correntes de ar úmido horizontal sobre barreiras naturais, tais como montanhas (Figura 16). As precipitações da Serra do Mar são exemplos típicos. Figura 16 – Chuvas Orográficas. 4.4. Medições das Precipitações Expressa-se a quantidade de chuva (h) pela altura de água caída e acumulada sobre uma superfície plana e impermeável. Ela é avaliada por meio de medidas executadas em pontos previamente escolhidos, utilizando-se aparelhos denominados pluviômetros (Figura 17) ou pluviógrafos (Figura 18), conforme sejam simples receptáculos da água precipitada ou registrem essas alturas no decorrer do tempo. As medidas realizadas nos pluviômetros são periódicas , geralmente em intervalos de 24 horas (sempre às 7 da manhã). As grandezas características são: a) Altura pluviométrica: lâmina d’água precipitada sobre uma área. As medidas realizadas nos pluviômetros são expressas em mm; b) Intensidade de precipitação: é a relação entre a altura pluviométrica e a duração da precipitação expressa, geralmente em mm.h-1 ou mm.min-1; Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 37 c) Duração: período de tempo contado desde o início até o fim da precipitação (h ou min). Existem várias marcas de pluviômetros em uso no Brasil. Os mais comuns são o Ville de Paris, com uma superfície receptora de 400 cm2, e o Ville de Paris modificado, com uma área receptora de 500 cm2. Uma lâmina de 1mm corresponde a: 400 . 0,1 = 40 cm3 = 40 mL. Os pluviógrafos, cujos registros permitem o estudo da relação intensidade- duração-frequência tão importantes para projetos de galerias pluviais e de enchentes em pequenas bacias hidrográficas, possuem uma superfície receptora de 200 cm2. O modelo mais usado no Brasil é o de sifão de fabricação Fuess. Um exemplo de pluviograma é mostrado na Figura 19. Figura 17 – Pluviômetro. Figura 18 – Pluviógrafo. Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 38 Figura 19 – Exemplo de um pluviograma. Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 39 4.5. Análise de Consistência 4.5.1. Preenchimento de falhas Muitas observações pluviométricas apresentam falhas em seus registros devido à ausência do observador ou por defeitos no aparelho. Entretanto, como há necessidade de se trabalhar com dados contínuos, essas falhas devem ser preenchidas. Existem vários métodos para se processar o preenchimento: a) Regressão Linear: explica o comportamento de uma variável em função de outra. PB = a + b. PA A estima a precipitação no posto B a partir do valor de precipitação no posto A. Os coeficientes da equação linear (a e b) podem ser estimados plotando- se os valores de precipitação de dois postos em um papel milimetrado ou com a utilização do método dos mínimos quadrados. b) Média Aritmética dos postos vizinhos (Métodos das Médias Aritméticas). )PPP( n 1 P CBAX ++= Esses dois métodos só devem ser utilizados em regiões hidrologicamente homogêneas, isto é, quando as precipitações normais anuais dos postos não diferirem entre si em mais de 10%. Para isso devem ser consideradas séries históricas de no mínimo 30 anos. Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 40 c) Método das razões dos valores normais (Métodos das Médias Ponderadas). Um método bastante utilizado para se fazer esta estimativa tem como base os registros pluviométricos de três estações localizadas o mais próximo possível da estação que apresenta falha nos dados de precipitação. Designando por X a estação que apresenta falha e por A, B e C as estações vizinhas, pode-se determinar Px da estação X pela média ponderada do registro das três estações vizinhas, onde os pesos são as razões entre as precipitações normais anuais: )P N NP N NP N N( n 1P C C X B B X A A X X ++= em que: N é a precipitação normal anual e n é o número de estações pluviométricas. 4.6. Precipitação Média Sobre uma Bacia A altura média de precipitação em uma área específica é necessária em muitos tipos de problemas hidrológicos, notadamente na determinação do balanço hídrico de uma bacia hidrográfica, cujo estudo pode ser feito com base em um temporal isolado, com base em totais anuais, etc. Existem três métodos para essa determinação: o método aritmético, o método de Thiessem e o método das Isoietas. 4.6.1. Método Aritmético É o método mais simples e consiste em se determinar a média aritmética entre as quantidades medidas na área. Esse método só apresenta boa estimativa se os aparelhos forem distribuídos uniformemente e a área for plana ou de relevo muito suave. É necessário também que a média efetuada em cada aparelho individualmente varie pouco em relação à média. A seguir (Figura 20), é mostrado um exemplo. Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. LeonardoDuarte Batista da Silva 41 • • • • • • • • • • Figura 20 – Bacia hidrográfica com postos pluviométricos. mm52,151 5 1,2180,1654,1258,883,160Pm =++++= 4.6.2. Método de Thiessem Esse método subdivide a área da bacia em áreas delimitadas por retas unindo os pontos das estações, dando origem a vários triângulos. Traçando perpendiculares aos lados de cada triângulo, obtêm-se vários polígonos que encerram, cada um, apenas um posto de observação. Admite-se que cada posto seja representativo daquela área onde a altura precipitada é tida como constante. Cada estação recebe um peso pela área que representa em relação à área total da bacia. Se os polígonos abrangem áreas externas à bacia, essas porções devem ser eliminadas no cálculo. Se a área total é A e as áreas parciais A1, A2, A3, etc., com respectivamente as alturas precipitadas P1, P2, P3, etc., a precipitação média é: A PA...PAPAPAPm nn332211 ++++= A Figura 21 representa os polígonos do método de Thiessem na área e os dados da tabela abaixo representam um exemplo de cálculo com as precipitações observadas e as áreas de influência de cada posto de observação: 88,5 76,0 64,4 88,8 125,4 165,0 218,1 160,3 173,7 137,1 Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 42 A B Figura 21 - Ilustração dos polígonos do Método de Thiessem (A e B). (1) (2) (3) (4) Precipitações Observadas Área do Polígono km2 Percentagem da área total Precipitação ponderada (1) x (3) 68,0 0,7 0,01 0,68 50,4 12,0 0,19 9,57 83,2 10,9 0,18 14,97 115,6 12,0 0,19 21,96 99,5 2,0 0,03 2,98 150,0 9,2 0,15 22,50 180,3 8,2 0,13 23,44 208,1 7,6 0,12 24,97 TOTAL 62,6 100 121,07 ∑ == mm07,1214ColunaPm Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 43 O método de Thiessem apesar de ser mais preciso que o aritmético, também apresenta limitações, pois não considera as influências orográficas; ele simplesmente admite uma variação linear da precipitação entre as estações e designa cada porção da área para estação mais próxima. 4.6.3 Método das Isoietas No mapa da área (Figura 22) são traçadas as isoietas ou curvas que unem pontos de igual precipitação. Na construção das isoietas, o analista deve considerar os efeitos orográficos e a morfologia do temporal, de modo que o mapa final represente um modelo de precipitação mais real do que o que poderia ser obtido de medidas isoladas. Em seguida calculam-se as áreas parciais contidas entre duas isoietas sucessivas e a precipitação média em cada área parcial, que é determinada fazendo-se a média dos valores de duas isoietas. Usualmente se adota a média dos índices de suas isoietas sucessivas. A precipitação média da bacia é dada pela equação: A PA...PAPAPAPm nn332211 ++++= Exemplo: Figura 22 – Traçado das isoietas na bacia em estudo. Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 44 Isoietas Área entre as isoietas (km2) Precipitação (mm) (2) x (3) 25 - 30 - - - 30 - 35 1,9 34,5 66 35 - 40 10,6 37,5 398 40 - 45 10,2 42,5 434 45 - 50 6,0 47,5 285 50 - 55 15,0 52,5 788 55 - 60 8,4 57,5 483 60 - 65 4,7 62,0 291 56,8 2.745 mm3,48 8,56 745.2Pm == Este método é considerado o mais preciso par avaliar a precipitação média em uma área. Entretanto, a sua precisão depende altamente da habilidade do analista. Se for usado uma interpolação linear entre as estações para o traçado das isolinhas, o resultado será o mesmo daquele obtido com o método de Thiessem. 4.7. Freqüência de Totais Precipitados O conhecimento das características das precipitações apresenta grande interesse de ordem técnica por sua freqüente aplicação nos projetos hidráulicos. Nos projetos de obras hidráulicas, as dimensões são determinadas em função de considerações de ordem econômica, portanto, corre-se o risco de que a estrutura venha a falhar durante a sua vida útil. É necessário, então, se conhecer este risco. Para isso analisam-se estatisticamente as observações realizadas nos postos hidrométricos, verificando-se com que freqüência elas assumiram cada magnitude. Em seguida, pode-se avaliar as probabilidades teóricas. O objetivo deste estudo é, portanto, associar a magnitude do evento com a sua freqüência de ocorrência. Isto é básico para o dimensionamento de estruturas hidráulicas em função da segurança que as mesmas devam ter. A freqüência pode ser definida por: Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 45 sobservaçõedenúmero socorrênciadenúmeroF = Os valores amostrais (experimentais) � F Os valores da população (universo) � P Como exemplo: a probabilidade de jogarmos uma moeda e sair cara ou coroa é de 50%. Entretanto, se a moeda foi lançada 10 vezes e saiu 4 caras e 6 coroas, as freqüências são de 40% e 60%, respectivamente. A freqüência é uma estimativa da probabilidade e, de um modo geral, será mais utilizada quanto maior for o número de ocorrência. Para se estimar a freqüência para os valores máximos, os dados observados devem ser classificados em ordem decrescente e a cada um atribui-se o seu número de ordem. Para valores mínimos, fazer o inverso. A freqüência com que foi igualado ou superado um evento de ordem m é: 1n mFou n mF + == que são denominados Métodos da Califórnia e de Kimbal, respectivamente. Nas expressões, n é o número de anos de observação. Considerando a freqüência como uma boa estimativa da probabilidade teórica (P) e definindo o tempo de recorrência ou período de retorno (T) como sendo o período de tempo médio (medido em anos) em que um determinado evento deve ser igualado ou superado pelo menos uma vez, tem-se a seguinte relação: m 1nTou P 1Tou F 1T +=== Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 46 Inversamente, a probabilidade de NÃO ser igualado ou de não ocorrer é P’ = 1 - P, isso porque as únicas possibilidades são de que ele ocorra ou não dentro de um ano qualquer e assim: P1 1T − = Considere os seguintes valores: 45, 90, 35, 25, 20, 50, 60, 65, 70, 80. As freqüências observadas para estes valores estão apresentadas na tabela seguinte. Com os dados desta tabela pode-se fazer várias observações: - considerando Kimbal, podemos concluir que a probabilidade (freqüência) de ocorrer uma precipitação maior ou igual a 90 mm.dia-1 é de 9,0% e que, em média, ela ocorre uma vez a cada 11,1 anos; - a probabilidade (freqüência) de ocorrer um valor de precipitação menor que 60 mm.dia-1 é de 55,0%. no ordem (m) valor F (California) (%) T Cal. F (Kimbal) (%) T K 1 90 10 10 9 11,1 2 80 20 5 18 5,5 3 70 30 3,3 27 3,7 4 65 40 2,5 36 2,8 5 60 50 2,0 45 2,2 6 50 60 1,7 54 1,8 7 45 70 1,4 63 1,6 8 35 80 1,3 72 1,4 9 25 90 1,181 1,2 10 20 100 1,0 90 1,1 Para períodos de recorrência bem menores que o número de anos de observação, o valor encontrado para F pode dar um boa idéia do valor real de P, mas para grandes períodos de recorrência, a repartição de freqüências deve ser ajustada a uma lei de probabilidade teórica de modo a permitir um cálculo mais correto da probabilidade. Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 47 4.7.1. Séries Históricas As séries originais possuem todos os dados registrados. Se os eventos extremos são de maior interesse, então o valor máximo do evento em cada ano é selecionado e assim é ordenada uma série de amostras. Essa série é denominada série de máximos anuais. Entretanto, essa série ignora o 2o, 3o, etc., maiores eventos de um ano que por sua vez podem até superar o valor máximo de outros anos da série. Em outros estudos, em que apenas interessam valores superiores a um certo nível, toma-se um valor de precipitação intensa como valor base e assim todos os valores superiores são ordenados numa série chamada série de duração parcial ou simplesmente série parcial. E ainda existem as séries de totais anuais, onde são somadas todas as precipitações ocorridas durante o ano em determinado posto pluviométrico. Ex.: precipitação diária: 30 anos de observação. - série original: 30 * 365 = 10.950 valores; - série anual: 30 valores (máximos ou mínimos); - série parcial: a) deve-se estabelecer um valor de referência: precipitações acima de 50 mm/dia; b) série constituída dos n (número de anos) maiores valores (máx.) ou menores (min) valores. 4.7.2. Freqüência versus Valor A distribuição geral que associa a freqüência a um valor (magnitude) é atribuída a Ven te Chow: S.KPP TT += em que: PT = valor da variável (precipitação) associado à freqüência T; Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 48 P = média aritmética da amostra; S = desvio padrão da amostra; e KT = coeficiente de freqüência. É função de dois fatores: T e da distribuição de probabilidade. Em se tratando de séries de totais anuais, é comum se utilizar a distribuição de Gauss (normal), e para séries de valores extremos anuais, a distribuição de Gumbel fornece melhores resultados e é de uso generalizado em hidrologia. 4.7.2.1. Distribuição Normal ou de Gauss É uma distribuição simétrica, sendo empregada para condições aleatórias como as precipitações totais anuais. Ao contrário, as precipitações máximas e mínimas seguem distribuições assimétricas. Algumas propriedades importantes da distribuição normal: a) apresenta simetria em relação à média P < P P > P b) freqüência acumulada P <= P F <= 50% P >= P F >= 50% Se “x” é uma variável aleatória contínua, dizemos que “x” tem uma distribuição normal se sua função densidade de probabilidade é dada por: P F= 50% Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 49 ∞<<∞− pi = σ −− x ;e . 2 1)x(f 22 2)xx( Na função acima, − − − =σ = ∑ ∑ = = )padrãodesvio( 1n )xx( )média( n x x n 1i 2 n 1i i Para uma variável aleatória contínua, a probabilidade é dada pela área abaixo da curva da função - ∫ ∞− = a dx).x(f)x(P . Entretanto, a integração é trabalhosa, sendo mais prático usar valores da integração que já se encontram tabelados. Caso fosse utilizada a função tal como ela já foi definida, seria necessária uma tabela para cada valor de média e desvio padrão. Para que seja possível o uso de apenas uma tabela, utiliza-se o artifício de se transformar a distribuição normal, obtendo-se a distribuição normal padrão ou reduzida: ;xxZ σ − = dz .e 2 1)z(P z 2 2 z ∫ ∞− − pi = OBS. - Esta integral não tem solução analítica. Para seu cálculo pode-se utilizar tabelas estatísticas que fornece P(z) em função da área sob a curva normal de distribuição e o valor de Z (anexo 1). - A função probabilidade é tabelada para associar a variável reduzida e freqüência. - Na distribuição normal se trabalha com valores ordenados na ordem crescente; - O cálculo de T se faz por 1/P=1/F para F<0,5 (mínimo) e por 1/(1-P) = 1/(1-F) para F >= 0,5 (máximo). Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 50 Problemas: a) conhecida a freqüência, estimar o valor da variável a ela associada; e b) conhecido o valor, estimar a freqüência. 4.7.2.2. Distribuição de Gumbel Também conhecida como distribuição de eventos extremos ou de Ficher- Tippett e é aplicada a eventos extremos, em séries anuais. Quando for de interesse estudar os valores máximos prováveis de um fenômeno, a série anual deve conter os valores máximos observados em cada ano, ordenados no sentido decrescente, que é o caso das precipitações e vazões máximas. Quando for de interesse estudar os valores mínimos prováveis de um fenômeno, a série deverá conter os valores mínimos de cada ano, ordenados de forma crescente; este é o caso das vazões mínimas. Esta distribuição assume que os valores de X são limitados apenas no sentido positivo; a parte superior da distribuição X, ou seja, a parte que trata dos valores máximos menos freqüentes é do tipo exponencial, a função tem a seguinte forma: γ− − −= ee1´P em que: γ é a variável reduzida da distribuição Gumbel. Entende-se por P’, a probabilidade de que o valor extremo seja igual ou superior a um certo valor XT. Então, (1 – P’), será a probabilidade de que o valor 0 1 -1 Hidrologia Agosto/2006 Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista da Silva 51 extremo seja inferior a XT. O período de retorno do valor XT, ou seja, o número de anos necessários para que o valor máximo iguale ou supere XT é obtido por: ´P 1T = (P ≥ PT) sendo PT a precipitação de freqüência conhecida. Substituindo a equação anterior na função de probabilidade, o período de retorno (T) pode ser estimado da seguinte forma: γ− − − = ee1 1T A variável γ é a variável reduzida e o seu valor é deduzido tomando duas vezes o logaritmo neperiano na função de probabilidade. O resultado final desta operação é: )] T 11ln(ln[ −−−=γ Empregando-se esta distribuição, as freqüências teóricas podem ser calculadas a partir da média e o desvio padrão da série de valores máximos. Desta forma: n n x S KeK.SXX γ−γ=+= em que X = é o valor extremo com período de retorno T; X = é a média dos valores extremos; Sx = desvio padrão dos valores extremos; n = número de valores extremos da série; γ = variável reduzida; Hidrologia
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