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HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 3 SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 05 10 17 24 36 45 52 61 71 78 89 95 101 109 116 CICLO HIDROLÓGICO BACIA HIDROGRÁFICA BALANÇO HÍDRICO PRECIPITAÇÃO (PARTE 1) PRECIPITAÇÃO (PARTE 2) INFILTRAÇÃO EVAPOTRANSPIRAÇÃO ESCOAMENTO SUPERFICIAL HIDROGRAMA UNITÁRIO PREVISÃO DE VAZÕES TRANSPORTE DE SEDIMENTOS CONTROLE DE ENCHENTES REGULARIZAÇÃO DE VAZÕES BARRAGENS CANAIS HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 INTRODUÇÃO Hidrologia é a ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência, circulação, distribuição espacial, suas propriedades físicas e químicas e sua relação com o ambiente, inclusive com os seres vivos. A Hidrologia é, portanto, o estudo da água na superfície terrestre, no solo e no subsolo. Podemos tratar e Hidrologia como uma das ciências da engenharia, a qual tem muitos aspectos em comum com a meteorologia, geologia, geografia, agronomia, engenharia e a ecologia, e que utiliza como base os conhecimentos de hidráulica, física, química, biologia e estatística. Os problemas relacionados à água geralmente requerem um enfoque multidisciplinar, segundo o qual diversos especialistas contribuem em suas áreas para entender a situação e alcançar a melhor alternativa, sob determinados critérios. Os estudos hidrológicos geralmente envolvem técnicas originárias ou desenvolvidas a partir de conceitos de outras áreas, os quais serão apresentados neste livro, e que o profissional que lida com a Hidrologia deve estar familiarizado, ser capaz de aplicá-las e entender seus resultados. Neste livro serão abordados, também, alguns conceitos de obras hidráulicas. Com o domínio da disciplina de Hidrologia, é possível estudar intervenções na bacia hidrográfica e no ciclo hidrológico, pois os impactos destas ações refletem num dos recursos naturais mais importantes para a sobrevivência do homem na Terra: a água. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 AULA 1 CICLO HIDROLÓGICO O ciclo hidrológico é o conceito central da Hidrologia, conforme mostrado na Figura 1.1. A energia solar aquece ar, solo e águas superficiais, resultando na evaporação da água e no movimento das massas de ar. O vapor de água aglutina-se, formando nuvens. Em determinadas condições, o vapor d’água condensado, e aglutinado na forma de nuvens, pode retornar à superfície terrestre como precipitação. A evaporação da água dos oceanos é a principal fonte de vapor no ciclo hidrológico, no entanto, a evaporação de água dos solos, dos rios e lagos e a transpiração da vegetação são também contribuintes. A precipitação que atinge a superfície terrestre pode infiltrar no solo ou escoar superficialmente até atingir um curso d’água. A parcela da água que infiltra umedece o solo, alimenta os aquíferos e cria o fluxo de água subterrâneo. Em escala global, considera-se que o ciclo hidrológico é fechado. A água sofre alterações de qualidade ao longo das diferentes etapas do ciclo hidrológico. A água salgada do mar é transformada em água doce pelo processo de evaporação. A água doce que infiltra no solo, por sua vez, dissolve os sais presentes no solo, e os carrega através dos rios até os oceanos. O mesmo acontece com um grande número de outras substâncias dissolvidas e em suspensão. Figura 1 - Ciclo Hidrológico Fonte: Santos (2021) HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 1.1 COMPONENTES DO CICLO HIDROLÓGICO De maneira sucinta, o ciclo hidrológico pode ser descrito da seguinte forma: • Ocorre evaporação da água dos oceanos e formação do vapor de água; • Sob determinadas condições, o vapor precipita na forma de chuva, neve, granizo, etc (precipitação); • Parte da precipitação não chega nem a atingir a superfície terrestre, sendo evaporada; • Parte da precipitação atinge diretamente a superfície de lagos e oceanos, retornando posteriormente para a atmosfera na forma de vapor; • Parte da precipitação atinge a superfície terrestre, desta parcela: • parte é interceptada pela cobertura vegetal (interceptação), de onde parte evapora e parte acaba escorrendo até o solo; • parte infiltra sub-superficialmente (infiltração), e desta: parte escoa até corpos d’água próximos, como rios e lagos (escoamento subsuperficial); parte infiltrada percola atingindo os aquíferos (percolação), que escoam lentamente até rios e lagos (escoamento subterrâneo); • parte escoará superficialmente (escoamento superficial), sendo retida em depressões do solo, sofrendo infiltração, evaporação ou sendo absorvida pela vegetação. O “restante” do escoamento superficial segue para rios, lagos e oceanos, governada pela gravidade; • a vegetação, que retém água das depressões do solo e infiltrações, elimina vapor d’água para a atmosfera (transpiração), através do processo de fotossíntese; O termo normalmente empregado para denotar a evaporação associada à transpiração da vegetação é a evapotranspiração. • a água que alcança os rios, seja por escoamento superficial, sub superficial ou subterrâneo, ou mesmo precipitação direta, segue para lagos e oceanos, governada pela gravidade. É importante ressaltar que a evaporação está presente em quase todas as etapas do ciclo, e que o ciclo hidrológico não apresenta um começo nem um fim, já que a água está em movimento contínuo. Apesar de haver algumas divergências quanto aos valores estimados por diferentes autores, convém comentar que cerca de 383.000 km³ de água evaporam por ano dos oceanos (WUNDT, 1953, apud ESTEVES, 1988). Isso equivaleria à retirada de uma camada de 106 cm de espessura dos oceanos por ano. Desse total evaporado, estima-se que 75% retornem diretamente aos oceanos sob a forma de precipitação, enquanto os 25% restantes precipitam sobre os continentes. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 Esteves (1988) revela que a composição química da precipitação oceânica difere nitidamente da continental, particularmente no que diz respeito à concentração de íons como Na+, Mg2+ e Cl-, a qual é maior na precipitação oceânica. A princípio, as etapas de precipitação e evaporação são consideradas as mais importantes dentro do ciclo hidrológico, em termos de volume de água movimentado. Todavia, à medida que se diminui a escala de análise, as demais fases do ciclo se tornam muito importantes. Pode-se tomar como exemplo a análise de uma determinada área de dezenas de hectares, nesse caso, a interceptação, infiltração, percolação e escoamento superficial são bastante relevantes para entendimento dos processos hidrológicos. 1.3 IMPACTOS SOBRE O CICLO HIDROLÓGICO O ciclo hidrológico é condicionado pelas características locais, tais como o clima, relevo, tipo de solo, uso e ocupação do solo, geologia, tipode cobertura vegetal, rede hidrográfica, etc. • A interceptação em uma floresta nativa é superior à de áreas agrícolas ou de pastagens; • O solo tipo argiloso é pouco permeável, portanto, a infiltração ocorre em menor taxa comparada à que ocorre em arenoso, o qual é mais permeável. Em áreas pavimentadas, por sua vez, praticamente não ocorre infiltração; • Uma vez que o escoamento superficial tem como força motriz a ação da gravidade, em superfícies íngremes há maior tendência de escoamento e menor de retenção da água nas depressões do solo, havendo escoamentos mais rápidos do que aqueles que ocorrem em terrenos planos, nos quais há maior tendência ao acúmulo de água e infiltração. A ação antrópica decorre em sensíveis alterações do ciclo hidrológico, pois é da natureza humana modificar o meio em que vive, de modo a adaptá-lo às suas necessidades. Os rios represados modificam o regime de escoamento superficial, aumentam a evaporação e elevam o nível das águas subterrâneas (lençol freático), além de outras consequências sobre a biota aquática. A impermeabilização do solo aumenta a ocorrência de alagamentos, pois é reduzida a parcela de infiltração, decorrendo em aumento do escoamento superficial. O desmatamento diminui a interceptação, deixando os solos expostos à ação das gotas de chuva e do escoamento superficial, que erodem o solo e carreiam nutrientes e sedimentos para rios e lagos. O efeito da substituição da cobertura natural do solo pela urbanização sobre o ciclo hidrológico é exemplificado na Figura 1.2. No exemplo, com diferentes percentuais de HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 impermeabilização da superfície, são observados relevantes impactos no escoamento superficial . Figura 1.2 - Ilustração do efeito da urbanização sobre o ciclo hidrológico Fonte: Livingston; Mccarron (1992) Adaptado A ação antrópica interfere no ciclo hidrológico e tem profundos impactos sobre o meio ambiente, a saber: poluição e contaminação das águas superficiais e subterrâneas, em função do lançamento inadequado de efluentes sanitários industriais e agrícolas; ocupação de áreas de várzea, as quais têm função de planícies de inundação nos eventos de cheia; alteração no clima; desmatamento, queimadas e desertificação; interferência nos ecossistemas naturais devido à introdução de espécies exóticas, entre outros (Tabela 1.1). Como demonstrado, é inerente ao Engenheiro conhecer os impactos que a ação antrópica pode causar sobre o meio, de forma a reduzir e mitigar os efeitos negativos de seus projetos e obras. O ciclo hidrológico deve ser compreendido com profundidade, HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 pois trata de um dos recursos naturais mais importantes para a sobrevivência e subsistência do ser humano na Terra, uma vez que se interrelaciona como todos os demais ciclos biogeoquímicos. Atividade humana Impacto nos ecossistemas aquáticos Valores/serviços em risco Construção de represas Alteração do fluxo dos rios, transporte de nutrientes e sedimentos, interferência na migração e reprodução de peixes Habitats, pesca comercial e esportiva, deltas e suas economias Construção de diques e canais Destruição da conexão do rio com as áreas inundáveis Fertilidade natural das várzeas e controle das enchentes Alteração do canal natural dos rios Danos ecológicos dos rios. Modificação do fluxo dos rios. Habitats, pesca comercial e esportiva. Produção de hidroeletricidade e transporte. Drenagem de áreas alagadas Eliminação de um componente fundamental dos ecossistemas aquáticos Biodiversidade. Funções naturais de filtragem e reciclagem de nutrientes. Habitats para peixes e aves aquáticas. Desmatamento/uso do solo Mudanças no padrão de drenagem. Inibição da recarga natural dos aquíferos, aumento da sedimentação Qualidade e quantidade da água. Pesca comercial. Biodiversidade e controle de enchentes. Poluição não controlada Prejuízo da qualidade da água Suprimento de água. Custos de tratamento. Pesca comercial. Biodiversidade. Saúde humana. Remoção excessiva da biomassa Diminuição dos recursos vivos e da biodiversidade Pesca comercial e esportiva. Ciclos naturais dos organismos. Introdução de espécies exóticas Supressão das espécies nativas. Alteração dos ciclos de nutrientes e ciclos biológicos. Habitats, pesca comercial. Biodiversidade natural e estoques genéticos. Poluição do ar (chuva ácida) Perturbação da composição química de rios e lagos. Pesca comercial. Biota aquática. Recreação. Saúde humana. Agricultura. Mudanças globais no clima Alterações drásticas nos volumes dos recursos hídricos, dos padrões de distribuição da precipitação e evaporação. Risco de enchentes. Suprimentos de água. Transportes. Produção de energia elétrica. Produção agrícola. Pesca. Crescimento da população e padrão de consumo Aumento na pressão para construção de hidrelétricas, da poluição da água, da acidificação de rios e lagos. Modificação do ciclo hidrológico. Praticamente todas as atividades econômicas que dependem dos recursos hídricos e ecossistemas aquáticos. Tabela 1.1 – Atividades humanas e seus impactos sobre os recursos hídricos Fonte: Adaptado de Tundisi (2000) HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 AULA 2 BACIA HIDROGRÁFICA 2.1. DEFINIÇÃO Bacia hidrográfica é uma superfície compreendida por um conjunto de terras, por onde corre um rio principal e seus afluentes, incluindo cabeceiras, ou nascentes, divisores d’ água, cursos d’água principais, afluentes, subafluentes, entre outros (Figura 2.1). A água escoa dos pontos altos em direção aos mais baixos e o terreno da bacia é gerado pelo desgaste que a água exerce sobre o relevo de determinada área, podendo resultar em diversas formas: vales – depressões nas montanhas, planícies mais ou menos largas, maior ou menor quantidade de nascentes (VIEIRA, 2006). Figura 2.1 - Bacia Hidrográfica genérica Fonte: Matias (2021) Para Tucci (2012), a definição de bacia se estende para uma área de captação natural da água de precipitação que converge o escoamento para um único ponto de saída. Entendendo que, a bacia hidrográfica é composta de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 resultar em um leito único no seu exutório. Da mesma forma, Silva (1995) refere-se à bacia hidrográfica como uma compartimentação geográfica natural delimitada por divisores de água, drenada superficialmente por um curso d’água principal e seus afluentes. Quando a bacia hidrográfica é adotada como unidade de gestão dos recursos hídricos, é definido um espaço geográfico a fim de auxiliar o planejamento regional, controlar o aproveitamento dos usos da água na região, proteger e conservar as fontes de captação nas partes altas da bacia e discutir com diferentes pessoas e setores as soluções para os conflitos (VIEIRA, 2006). É necessário destacar que a bacia hidrográfica está relacionada ao espaço físico e não político, isso faz com que fronteiras entre municípios, estados, ou até mesmo países, não interfira na delimitação da área de uma bacia. As diferentes utilizações dos recursos hídricos e sua necessidade vital para o homem faz com que ocorra uma exploração prejudicial destes recursos que podem gerar graves problemas ambientais ao longo do tempo, visto que a necessidade de utilização destes recursos pode resultar em uma ação não planejada, favorecendo a degradação do meio ambiente. Com base nesta premissa, os estudos relacionados à caracterização fisiográfica em bacias hidrográficas, apresentam-se com um papel fundamental, a fim de tornar a utilização destes recursos em uma ação consciente dosrecursos naturais. Para caracterização fisiográfica de uma bacia hidrográfica entende-se que são todos aqueles dados que podem ser extraídos de mapas, fotografias aéreas e imagens de satélite. Basicamente são áreas, comprimentos, declividades e coberturas do solo medidas diretamente ou expressas por índices mais utilizados (TUCCI, 2012). Os principais impactos produzidos por alterações no uso e na cobertura do solo em bacias são: a diminuição da capacidade de infiltração, o aumento do escoamento superficial e, consequentemente, dos processos erosivos, a diminuição da cota do leito dos rios e, portanto, o aumento de cheias e inundações (GROVE et al., 1998). 2.2 CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA O processo de caracterização fisiográfica consiste na determinação de uma série de fatores como: área de drenagem, fator de forma, coeficiente de compacidade, sistema de drenagem, ordem dos canais (HORTON, 1945), densidade de drenagem, extensão média do escoamento superficial. A obtenção das características fisiográficas de uma HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 bacia podem ser obtidas através de imagens de satélite, fotografias aéreas e mapas de hidrografia. Para Moura (2008) a caracterização fisiográfica e o conhecimento dos dados de vazões, permite o maior planejamento e controle sobre obras de engenharia, que resulta na adequada utilização dos recursos hídricos. A determinação das características fisiográficas se apresenta de forma quantitativa, sendo que Alves e Castro (2003) concluem que os resultados obtidos desta determinação possibilitam a qualificação das alterações ambientais presentes nas bacias. Área de drenagem: elemento base dos cálculos seguintes e corresponde à medida em projeção horizontal, considerando toda a área localizada entre os divisores de água (Andrade et al. 2008). A área de drenagem determina a potencialidade hídrica de uma bacia hidrográfica pois o seu valor multiplicado pela lâmina da chuva precipitada define o volume de água recebida pela bacia (TUCCI, 2012). Formato da bacia: para a determinação do formato da bacia, é necessária a obtenção de dois outros fatores: Coeficiente de compacidade (Kc): Esse fator relaciona o perímetro de uma bacia e a circunferência de área igual presente na respectiva bacia, quanto mais irregular a forma da bacia hidrográfica, maior será esse índice (CARVALHO et al., 2009). Seu cálculo utiliza a seguinte expressão: Kc = 0,28. P____ Onde: Kc = coeficiente de compacidade (adimensional); P = perímetro (km); A = área (km²). Fator forma (Kf): o Fator Forma (Kf) é determinado através da razão entre a largura média da bacia e o seu comprimento axial. Andrade et al. (2008) complementam que esse fator é obtido com a medição do comprimento desde a desembocadura até a cabeceira da bacia. O cálculo desse fator é determinado pela equação: Kf= A__ L2 Onde: Kf = Fator de Forma (adimensional); A = Área (km²); L = Comprimento do eixo principal (km). HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 Índice de circularidade (Ic): Esse índice possui uma variação de acordo com o formato da bacia. Tende para unidade em bacias circulares e diminui em bacias com formatos alongados. Segundo Andrade et al. (2008), esse índice relaciona o perímetro da bacia e a sua área. A determinação desse fator utiliza a seguinte equação: Ic= (12,57∙A)__________ P2 Em que: Ic = índice de circularidade (adimensional); A = área de drenagem (m²); P = perímetro (m). Sistema de drenagem: o sistema de drenagem é formado pelo rio principal e seus tributários. A compreensão da estrutura do sistema de drenagem permite a avaliação do tempo que a água leva para deixar a bacia hidrográfica. Entre os parâmetros empregados na avaliação do sistema de drenagem, destaca-se: ordem dos cursos d’água, densidade de drenagem e extensão média do escoamento superficial. Ordem dos cursos d’água: este parâmetro diz respeito à classificação do grau de ramificações e/ou bifurcações observados na bacia hidrográfica. A classificação de ordenamento dos cursos mais utilizada é a proposta por Horton (1945) e modificada por Strahler (1957). Densidade de drenagem: a densidade de drenagem (Dd) representa a eficiência de drenagem da bacia hidrográfica. Sua determinação consiste numa relação entre o comprimento total dos cursos d’água e a área de drenagem. O parâmetro é obtido através da equação: Dd= Rd___ A Em que: Dd = é a densidade de drenagem (km/km²); Rd = rede de drenagem (km); A= é a área da bacia (km²). Extensão média do escoamento superficial (l): esse parâmetro relaciona a distância média que a água proveniente das precipitações, teria que escoar sobre a bacia em linha reta do ponto onde ocorreu a sua queda até o ponto mais próximo do leito de qualquer curso d’água. Para facilitar a obtenção do parâmetro, a bacia é modificada para forma de retângulo com uma mesma área, no qual, o lado maior é a soma dos HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 comprimentos da bacia (VILLELA; MATTOS, 1975). Sua obtenção é ocasionada através da equação: l= A_____ (4∙L) Em que: A = área (km²); L = Comprimento do rio principal (km). 2.3. TEMPO DE CONCENTRAÇÃO O tempo de concentração pode ser definido como o tempo necessário para que toda a bacia contribua para o escoamento superficial em uma seção considerada. De forma simplificada, é o tempo que leva uma gota de água mais distante, até o trecho considerado na bacia, ou seu exutório (FENDRICH, 2008). Sendo assim, devido à urbanização, quanto maior a impermeabilização das áreas, menor será o tempo de concentração da bacia (REZENDE; ARAUJO, 2015). Segundo Tomaz (2002) existem somente três maneiras para a água ser transportada em uma bacia, que são: escoamento superficial, escoamento em tubos e escoamento em canais incluso sarjetas. As fórmulas para determinar o tempo de concentração têm como fatores de cálculo, de modo geral, as características morfométricas da bacia hidrográfica como área, comprimento do talvegue, rugosidade do córrego ou canal e a declividade. Para o cálculo do tempo de concentração existem diferentes equações, que para a avaliação do seu critério de uso devem ser considerados fatores como a amostragem de bacias para a elaboração da equação, localidade do estudo, que influencia a taxa de infiltração e permeabilidade do solo, e o ano do estudo, que é verificado para poder selecionar as equações adaptadas que fornecem maior abrangência para os cálculos do que suas equações originais. As recomendações para a utilização de determinada equação variam conforme a extensão da Bacia, região em que ela está localizada e deve ser escolhida a partir de uma avaliação criteriosa, como afirmam Souza e Sobreira (2017), a determinação do tc ocorre através de fórmulas empíricas, podendo ocorrer imprecisões e incertezas por não considerar a variabilidade espacial e temporal da bacia. Entre as diferentes fórmulas para a determinação, este estudo avaliará a utilização dos métodos de Kirpich (1940), Ven Te Chow (adaptado por Wilken, 1978), Témez (1978), Doodge (1956) e Giandotti (1953), que serão apresentadas a seguir. A equação de Kirpich (1940) onde inicialmente foi desenvolvida, segundo Moreira, (2005) para a correção de ajuste de parâmetros nos tempos de percurso (tp) baseando- HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 se na diferença, em horas, entre os picos observados e calculados na equação de Doodge é descrita como: tc = 57∙( L3__ H )0,385 Em que: tc = tempo de concentração (min); L = extensão do talvegue (km); H = diferença de nível entre o ponto mais afastado e o considerado (m). A equação de Kirpich (1940) foi elaborada a partir de medições de seis ou sete bacias norte americanas, com resultados que recomendam sua utilização parabacias com áreas inferiores à 0,45 km², declividade média menor que 0,3 m/m e comprimento do eixo principal com limite de 1,2 km (SILVEIRA, 2005). Outra equação utilizada que será avaliada sua possível utilização para as bacias de estudo é a equação de Ven Te Chow adaptado por Wilken (1978): tC=52,64∙( L__ √I )0,64 Em que: tc = tempo de concentração (min); L = extensão do talvegue principal (km); I = declividade da bacia(m). A equação de tempo de concentração de Ven Te Chow (1978) foi elaborada a partir de estudos em vinte bacias norte-americanas, em área rural, sendo estimado que a sua utilização se estende a bacias de área de 1,1 a 19 km² (SILVEIRA, 2005). O valor do tempo de concentração de uma bacia, de acordo com Témez (1978), é a função dos recursos morfológicos e se estima adequadamente através da seguinte fórmula: tc=0,3( L____ I0,25 )0,76 Em que: tc = tempo de concentração (horas); L = comprimento do talvegue principal (km); I = declividade média equivalente (%). De acordo com Souza e Sobreira (2017) é a função mais apropriada para bacias naturais de área de até 3.000 km². Este método leva em consideração o comprimento do talvegue principal e declividade média equivalente. O método de Doodge é descrito da seguinte maneira: tc=21,88A 0,41 S-0,17 Em que: tc = tempo de concentração (minutos); A = área da bacia (km²); S = declividade do talvegue principal (m/m). O método de Doodge (TUCCI, 1998) foi determinado a partir de dados de dez bacias em áreas rurais, na Irlanda, com áreas entre 140 e 930 km², supondo parâmetros para HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 as melhores condições de escoamento em canais. Este método leva em consideração somente a área da bacia hidrográfica e a declividade do talvegue principal. O método de Giandotti (1953) foi recomendado no Regulamento de Pequenas Barragens de Terra editado em 1973, em Portugal, sendo normalmente utilizado em bacias com áreas superiores a 300 km² (SOUZA; SOBREIRA, 2017), em outras literaturas variando para bacias maiores que 170 km². As bacias que foram utilizadas para a elaboração desta equação, eram localizadas em região montanhosa na Itália. tc= 4 +1,5L____________ 0,8 Em que: tc = tempo de concentração (horas); A = área da bacia (km²); L = comprimento do talvegue principal (km); Hm = altura média da bacia (metros) = Altitude média – Altitude mínima. Rodrigues et al. (2008) afirmam que as características físicas de uma bacia possuem importante papel nos processos do ciclo hidrológico, influenciando na infiltração e na quantidade de água produzida como deflúvio, a evapotranspiração, o escoamento superficial e subsuperficial, pois a remoção da vegetação em um ambiente florestal leva, consequentemente, a processos erosivos, gerando degradação do ambiente, e que arrisca a propagação para áreas adjacentes. Macedo et al. (2010) afirmam que com o conhecimento das características físicas é possível determinar o desenvolvimento do escoamento superficial em uma determinada área, o que possibilita a formulação de medidas para o controle de enchentes, caso a bacia seja suscetível a esse tipo de evento. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 AULA 3 BALANÇO HÍDRICO 3.1 BALANÇO HÍDRICO/EQUAÇÃO FUNDAMENTAL As estratégias operacionais para sistemas de aproveitamentos hídricos de projetos requerem a investigação acerca das transformações do ciclo hidrológico ocorridas dentro de regiões de interesse pré-estabelecidas, as quais devem ser contabilizadas através da equação do balanço hídrico, também denominada balanço de massa, ou equação fundamental, que pode ser expressa na forma: ΔS___ Δt =Qe-Qs sendo: ΔS = variação de armazenamento hídrico (volume); Δt = variação de tempo; Qe = afluência hídrica (descarga); e Qs = efluência hídrica (descarga). Na maioria dos problemas práticos de Hidrologia, adotam-se simplificações de maneira a considerar apenas os processos mais relevantes do ciclo hidrológico, cuja análise se restringe a uma pequena porção da superfície terrestre. Dessa forma, as componentes a serem representadas na equação de balanço hídrico dependem dos limites físicos estabelecidos e as grandezas representativas de tais componentes devem ser empregadas em unidades compatíveis, sejam elas volumes (m³), descargas (m³/s) ou lâminas (mm). O balanço hídrico deve ser realizado para um determinado volume de controle, sendo necessária, portanto, a delimitação de área e limites superior e inferior, dependendo dos objetivos para os quais ele é realizado. Embora outros componentes possam vir a fazer parte do balanço hídrico, definem-se a seguir as principais componentes geralmente consideradas para alguns outros casos específicos de balanço hídrico. Balanço hídrico da água na superfície do terreno HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 O esquema da Figura 3.1 oferece indicações dos componentes do balanço hídrico da água na superfície do terreno. Figura 3.1 - Componentes do balanço hídrico superficial Fonte: o autor A equação do balanço hídrico pode então ser escrita como: ΔS=P-(E+I+ES+INT) sendo: ΔS = variação do armazenamento na superfície do terreno; P = precipitação; INT = interceptação (geralmente considerada irrelevante); E = evaporação; I = infiltração; e ES = escoamento superficial. 3.1.2. Balanço hídrico subsuperficial Considerando-se o balanço hídrico da água no solo, em nível subsuperficial, ou seja, que ocorre em uma camada de solo imediatamente abaixo da superfície do terreno, as componentes constantes da Figura 3.2 podem ser consideradas. Figura 3.2 - Componentes do balanço hídrico subsuperficial Fonte: o autor HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 Assim, a equação do balanço hídrico pode ser expressa por: ΔV=I-(ET+G) sendo: ΔV = variação do armazenamento no solo; I = infiltração; ET = evapotranspiração; e G = infiltração profunda. A evapotranspiração ou evaporação total (ET) compreende a evaporação propriamente dita (a partir de superfícies líquidas, de rios e lagos, cobertas por gelo e do solo) e a evaporação resultante da transpiração dos seres vivos (vegetais). 3.1.3. Balanço hídrico subterrâneo Considerando-se a infiltração profunda, pode-se dizer que a variação do armazenamento da água nos aquíferos (ΔG) pode ser expressa por: ΔG=G-(EB) sendo: ΔG = Variação do armazenamento no aquífero; G = Infiltração profunda; EB = Escoamento de base, ou seja, contribuição do aqüífero para as vazões nos álveos dos rios. Nota-se que o balanço hídrico subterrâneo de áreas vegetadas cujas culturas atingem o lençol ou a franja capilar deve ser realizado de maneira diferenciada, uma vez que nesse caso específico a evapotranspiração pode utilizar o lençol como fonte de abastecimento. 3.2. EQUAÇÃO DE BALANÇO HÍDRICO GERAL Geralmente, para propósitos práticos, admite-se que, para um ciclo completo estabelecido, a variação do armazenamento seja pouco significativa para todas as situações anteriores. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 Entendendo-se, ainda, que os balanços hídricos anteriores foram realizados para as diversas camadas do solo e subsolo, a soma das equações de balanço superficial, subsuperficial e subterrâneo conduz à equação de balanço hídrico geral, na forma: ΔS+ΔV+ΔG=P-(INT+E+T+ES+EB) 3.3. BALANÇO HÍDRICO DE LONGO PRAZO PARA BACIAS DE GRANDES RIOS O balanço hídrico para grandes rios toma por base a área de drenagem que abriga o curso d’água principal e seus afluentes, ou seja, a sua bacia hidrográfica. Em geral é utilizado para avaliar a disponibilidade hídrica para determinado uso e é calculado na escala anual, na qual se pode considerar a variação do armazenamento de umidade desprezível. 0=P-(INT+E+T+ES+EB)Neste equacionamento, a interceptação irá retornar para a atmosfera na forma de evapotranspiração, e o escoamento de base corresponde apenas a uma pequena parcela do escoamento superficial. 0=P-ET-ES P=ET+ES Exemplo 3.1: Em uma bacia hidrográfica de 1.000 km2 de área de drenagem o total precipitado em um dado ano foi de 1.326 mm. Avalie a evapotranspiração na bacia neste ano, considerando que a sua vazão específica média anual foi de 14,3 L/s/km2. Resolução: ET=P-Q ET=P- Q__ A Δt ET=P-q∙Δt ET=1326 (mm/ano)-14,3 ( L__ s____ km2)∙(365∙864000) ET=1326 (mm/ano)-450964800( 10-3 m3/ano___________ 106 m² ) ET=1326 (mm/ano)-0,4509648(m/ano) ET=1326 (mm/ano)-450,9648(mm/ano) ET=875 mm/ano ET/P= 875_____ 1326 =0,66=66% HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Verifique que a evapotranspiração (ET) corresponde a 66% do total precipitado na bacia hidrográfica. Exemplo 3.2: Considere uma bacia com 10 hectares onde o total anual precipitado médio é de 1.300 mm e a vazão média na seção exutória é de 16 L/s.km². Nesta bacia, pretende-se implantar um lago, inundando 1/3 da área total da bacia. Supondo que a evaporação direta no reservatório é estimada em 1.150 mm/ano, calcule o decréscimo percentual na vazão média. OBS: 1 km2 = 100 ha. Resolução: Antes da construção do reservatório: Antes da construção do reservatório os componentes do balanço hídrico podem ser postos em conformidade com o esquema da Figura 3.3: Figura 3.3 Componentes do balanço hídrico após a criação do reservatório A aplicação da equação do balanço hídrico conduz a: mm/ano795,4ET A t.QP A t.Q.AVET t.QP.AET.A /sm16.10Qq.AQ ssP s 34 ss == ∆ −= ∆− =⇒ ∆−= =⇒= − Note que a evapotranspiração (ET) corresponde, portanto, a 61% do total precipitado na bacia hidrográfica. Definindo-se E como a evaporação a partir da superfície líquida, e admitindo-se que os componentes do balanço anteriores à construção do reservatório não sofram alterações significativas, após a construção do reservatório os componentes do balanço hídrico são aqueles apresentados no esquema da Figura 3.4. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 %23,4.100 Q QQ(%)ÄQ /sm12,25.10 Ät E.(1/3.A)ET.(2/3.A)P.AQ E.(1/3.A)ET.(2/3.A)P.At.Q 1/3A,AL como s ss s 34 s s −= −′ =∴ = −− =′⇒ −−=∆′ = − Figura 3.4 Componentes do balanço hídrico após a criação do reservatório. Houve, portanto, uma redução de 23,4% da vazão na seção de saída da bacia. 3.4. BALANÇO HÍDRICO DE CURTO PRAZO PARA CORPOS D’ÁGUA O balanço hídrico de curto prazo para corpos d’água é usado para prever as consequências de afluências e retiradas hídricas do corpo d’água. Geralmente, considera curtos períodos de tempo, para os quais a variação do armazenamento na superfície do terreno (ΔS) deve ser levado em conta. São exemplos a passagem de uma onda de cheia e a reconstituição de vazões afluentes naturais a sistemas de aproveitamentos hídricos dotados de reservatórios. O registro de sequências temporais de vazões em diversos pontos de um curso d’água é muitas vezes necessário para a modelagem do processo de sucessão de vazões e realização de previsões futuras. Entretanto, a partir do instante em que aproveitamentos hídricos (reservatórios, retiradas hídricas, irrigação, etc.) são construídos ao longo dos cursos d’água, a avaliação das afluências naturais, denominada reconstituição, só é possível através do balanço hídrico. Observe a Figura 3.5, correspondente ao balanço hídrico realizado na base diária para os reservatórios do Sudeste/Centro Oeste do Brasil (bacias do Tietê, Paranapanema, Paraná e Paraíba do Sul), onde se pode constatar que a reconstituição das afluências naturais depende do conhecimento dos dados operacionais das usinas hidrelétricas em operação ao longo dos cursos d’água. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 Figura 3.5 Afluências e defluências - valores verificados em 31/05/2004 nas usinas do Sudeste/Centro Oeste do Brasil Fonte: adaptado da ONS (2004). Exemplo 3.3: Cada reservatório existente ao longo de um curso d’água possui área de drenagem diferente, crescente de montante para jusante, de tal forma que é possível avaliar a afluência incremental associada a cada reservatório do sistema, por exemplo. Deseja-se conhecer as afluências incrementais aos reservatórios de Bariri e Ibitinga, ambos pertencentes ao complexo sistema hidrelétrico do Rio Tietê, para o dia 30/5/2004, conforme indica a Figura 1.10. Resolução: Observando-se que as afluências dos reservatórios de Bariri e Ibitinga são fortemente influenciadas pela operação dos reservatórios de montante, no caso, Barra Bonita e Bariri, respectivamente, pode-se inferir que as afluências incrementais para Bariri e Ibitinga correspondem a: 65(=539-474) e 192(=731-539) m3/s, respectivamente. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 AULA 4 PRECIPITAÇÃO (PARTE 1) 4.1 INTRODUÇÃO Denomina-se precipitação toda forma de água da atmosfera que atinge a superfície, seja na forma de chuva, granizo, neve, orvalho, neblina ou geada. O mais relevante vetor de entrada de água na bacia hidrográfica é a precipitação. Como consequência, é através dos dados de precipitação que é verificada a viabilidade do abastecimento público e irrigação, bem como analisada a necessidade de obras para controle de inundações, erosão do solo etc. Trata-se, portanto, de umas das informações mais importantes no dimensionamento de obras hidráulicas. A temperatura do ar atmosférico varia de acordo com a altitude, apresentando baixas temperaturas em grandes altitudes e temperatura relativamente alta próxima à superfície terrestre. O processo de formação das nuvens está associado ao movimento ascensional do vapor d’água. Ao longo da ascensão, a temperatura do ar vai diminuindo até que o vapor passe a condensar. A quantidade de água que pode ser contida em um determinado volume, sem que ocorra condensação, é maior para o ar quente do que para o ar frio. O vapor se condensa na forma de pequenas gotas, as quais permanecem suspensas no ar em função da turbulência atmosférica. Com o aumento do aporte de umidade na atmosfera, as pequenas gotas passam a se aglutinar e, uma vez que tenham atingido tamanho e peso suficiente para vencer a turbulência atmosférica, precipitam em direção à superfície da Terra. 4.2 TIPOS DE CHUVAS A maneira como ocorre e a causa da ascensão do ar úmido são consideradas para diferenciar os principais tipos de chuva, a saber: convectivas (I), frontais (II) e orográficas (III) (Figura 4.1). HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 Figura 4.1 – Tipos de chuva segundo a origem do processo de formação das nuvens Fonte: Blog Observatório Histórico Geográfico (2021) 4.2.1 Chuvas convectivas As chuvas convectivas ocorrem pelo aquecimento de massas de ar relativamente pequenas, que estão em contato direto com a superfície quente dos continentes e oceanos, sob equilíbrio instável. A quebra desse equilíbrio promove a rápida ascensão da massa de ar quente, as quais, nos níveis mais altos da atmosfera encontram baixas temperaturas e condensam, formando nuvens. As chuvas convectivas são caracterizadas pela alta intensidade e pela curta duração, além ocorrem, em geral, em uma região concentrada, sobre áreas relativamente pequenas. No Brasil, há uma predominância de chuvas convectivas, especialmente nas regiões tropicais (TUCCI, 2012). Os processos convectivos produzem chuvas de grande intensidade e de duração relativamente curta. Problemas de inundação em áreas urbanas estão, muitas vezes, relacionados às chuvas convectivas. 4.2.2 Chuvas frontais ou ciclônicas As chuvas frontais ocorrem quando se encontram duas grandes massas de ar, de diferenteumidade e temperatura. Na frente (superfície de contato) entre as duas massas, o ar mais quente, o qual é mais leve e úmido, geralmente é empurrado para cima, onde encontra temperaturas mais baixas, o que resulta na condensação do vapor. As massas de ar que formam as chuvas frontais têm centenas de quilômetros de extensão e movimentam-se de forma relativamente lenta, por esse motivo, as chuvas frontais são caracterizadas pela longa duração e por atingirem grandes extensões (TUCCI, 2012). HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Chuvas frontais apresentam, em geral, duração longa e intensidade relativamente baixa. Nos casos de frentes estacionárias, a precipitação pode incidir sobre a mesma região durante vários dias seguidos. 4.2.2 Chuvas orográficas As chuvas orográficas ocorrem em regiões com grandes obstáculos do relevo, como cordilheiras ou serras muito altas, que impedem a passagem de ventos quentes e úmidos, os quais sopram do mar, obrigando o ar a subir adiabaticamente. Nas grandes altitudes, a umidade do ar se condensa, formando nuvens junto aos picos da serra, locais em que chove com muita frequência. As chuvas orográficas ocorrem em muitas regiões do mundo, e no Brasil são especialmente importantes ao longo da Serra do Mar (TUCCI, 2012). 4.2. DADOS PLUVIOMÉTRICOS O estudo das precipitações se baseia na compreensão de algumas variáveis que a caracterizam: altura pluviométrica, intensidade, duração e frequência. A altura pluviométrica corresponde à espessura média da lâmina de água que cobriria a região atingida pela precipitação, caso esta região fosse plana, impermeável e o exutório fosse fechado. Em geral, a unidade de medição da altura pluviométrica é o milímetro de chuva. Duração é o período de ocorrência da precipitação, o qual é medido em minutos ou horas. Intensidade é a razão entre a altura precipitada e a duração da chuva, expressa em mm/h ou mm/min. Frequência é o número de ocorrências de precipitações com altura pluviométrica igual ou superior a um determinado evento considerado. Chuvas com elevada altura pluviométrica têm frequência baixa, ou seja, ocorrem raramente. Isso é facilmente verificável quando se avalia o número de vezes que ocorrem eventos extremos de precipitação. Por outro lado, chuvas de baixa altura pluviométrica são mais comuns. Para avaliar eventos extremos como chuvas de elevada altura pluviométrica, emprega-se a variável tempo de retorno (Tr), a qual é expressa em anos. O tempo de retorno representa a janela temporal média em que um determinado evento de precipitação é igualado ou superado. Por exemplo, uma chuva com altura pluviométrica que corresponde ao tempo de retorno de 25 anos é igualada ou superada em média pelo menos uma vez em janelas temporais de 25 anos. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 O tempo de retorno é também expresso como o inverso da probabilidade de ocorrência de um determinado evento, em um ano qualquer. Por exemplo, uma chuva com 20 mm de altura pluviométrica em um dia é igualada ou superada apenas 1 vez a cada 10 anos. Neste caso, seu tempo de retorno é de 10 anos, e a probabilidade de ocorrer um dia com chuva igual ou superior a 20 mm em um ano qualquer é de 10%, ou seja: Tr = 1__ P ou 1____ f(%) 4.3 MEDIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO Os instrumentos mais usados na medição das precipitações são o pluviômetro e o pluviógrafo. Ambos medem a altura pluviométrica, porém, o pluviógrafo se presta também a medir a intensidade da precipitação. O pluviômetro é basicamente composto por um recipiente metálico com um funil no topo (Figura 4.2), dispõe também de uma proveta graduada. Esse instrumento armazena a água da chuva e, fazendo-se a leitura da proveta, tem-se a lâmina precipitada (P). Normalmente, a leitura é feita diariamente, às 7 h da manhã, por um operador. Dessa forma, com o pluviômetro é medida a precipitação ocorrida nas últimas 24 horas, desde a última leitura. Os dados diários são anotados manualmente por um operador em uma caderneta. Figura 4.2 - Pluviômetro profissional Fonte: Unity Instrumentos (2021) HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 O outro instrumento utilizado para registrar a precipitação é o pluviógrafo. Este difere do pluviômetro basicamente por possuir um mecanismo de registro automático da precipitação, gerando informações mais discretizadas ao longo do tempo, isto é, informações em intervalos de tempo menores. Os pluviógrafos antigos utilizavam um braço mecânico para traçar um gráfico em papel milimetrado com os valores precipitados (Figura 4.3). Os pluviógrafos atuais, por sua vez, armazenam os dados de precipitação em meio magnético ou transmitem, em tempo real, os dados para centrais de controle remotas. Figura 4.3 - Pluviógrafo com mecanismo de registro em papel graduado Fonte: Studart (2003) O acionamento do mecanismo de registro, tanto em papel milimetrado como em meio magnético, pode ser feito por meio de três tipos básicos de sensores: • cubas basculantes (ou canecos), cujo enchimento e esvaziamento é responsável pelo registro dos dados; • reservatório com sifão, sendo a variação do nível no reservatório responsável pela flutuação de uma pena que registra os dados e o esvaziamento ocorre quando o nível da água no interior do reservatório é suficiente para vencer o sifão; • e balança com mola, onde o peso da água acumulada desloca a balança para baixo, conforme ocorrem as precipitações. O pluviógrafo permite, portanto, a obtenção de informações discretizadas ao longo do tempo, com maior precisão e sem a necessidade de operação manual constante. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 4.4 ANÁLISE DE DADOS DE PRECIPITAÇÃO Um posto pluviométrico é instalado e mantido com o objetivo de obter uma série ininterrupta de dados de precipitação ao longo dos anos. Todavia, é comum a ocorrência de problemas mecânicos ou de operação, de forma que normalmente há períodos sem registros das precipitações ou com falhas nas observações. Falhas são compreendidas como dados de altura pluviométrica cujos valores são incoerentes, quando comparados à série total de dados, ou demonstram ser erros grosseiros. Elas podem ser detectadas por meio de análise visual simples, ou após o processamento dos dados hidrológicos. As falhas humanas não são incomuns, podendo ocorrer devido ao preenchimento errado da caderneta pelo operador, ou também pode ocorrer que o operador não visite a estação e acabe por estimar um valor para leitura. Não obstante, as falhas podem também ter origem em problemas mecânicos no sensor ou no registrador do instrumento. Isto posto, é comum e razoável que as séries históricas de precipitação contenham falhas, as quais devem ser identificadas e excluídas. 4.4.1 Preenchimento de falhas O preenchimento de falhas em séries de dados de precipitação tem como objetivo torná-las contínuas para posterior interpretação e eventual extrapolação dos dados. Para essa operação, podem ser empregados os métodos da ponderação regional, regressão linear ou a combinação de ambos. a) Método da ponderação regional Neste método é estimada a precipitação em um determinado posto onde foi detectada uma falha na série histórica de dados, considerando-a proporcional às precipitações em postos vizinhos. O fator de proporcionalidade, neste caso, é uma função da precipitação média nos postos adjacentes e no próprio posto com falha. São selecionados, ao menos, três postos vizinhos àquele com falha, os quais devem estar localizados em regiões climatologicamente semelhantes ao posto com falha. Considerando que haja falhas na série de dados de um posto X, e considerando que há séries de dados completas nos postos A, B e C, os quais são adjacentes ao HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICASPROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 posto X, e estão situados em regiões de clima semelhante, as falhas detectadas na série de dados da estação X podem ser preenchidas pela seguinte equação: PX = 1__ 3 ( PA___ PAm + PB___ PBm + PC___ PCm ) PXm Em que: PXm, PAm, PBm e PCm são as precipitações médias nos postos X, A, B e C, respectivamente; PX é a precipitação no posto X a determinar; PA, PB e PC são as precipitações nos postos A, B e C, respectivamente, no intervalo de tempo referente àquele da precipitação no posto X a determinar. Devido à grande variabilidade temporal e espacial da precipitação, o método da ponderação regional não é recomendado para correções em séries de dados diários, sendo normalmente empregado para correções em séries mensais ou anuais. 4.4.2 Análise de consistência Para séries históricas de precipitação sem falhas é conveniente analisar a consistência desses dados. O objetivo dessa análise é avaliar a homogeneidade das informações entre postos pluviométricos adjacentes. Em uma análise preliminar, os dados podem parecer coerentes entre si, mesmo assim, é possível que haja inconsistência nas informações dos totais precipitados, seja por questões como troca de operador, troca de equipamento, condições da instalação, etc. Uma vez identificada a inconsistência dos dados, é necessário interpretar as causas dessa inconsistência e verificar se podem ser corrigidas. Pode-se recalcular as falhas corrigidas, bem como buscar detectar outras falhas não identificadas inicialmente. A detecção de inconsistências, em geral, é realizada através dos métodos da Dupla Massa e do Vetor Regional. b) Método da Dupla Massa Este é um método simples, desenvolvido pelo U.S. Geological Survey (TUCCI, 2012), o qual consiste em traçar em um gráfico os totais acumulados de precipitação do posto a consistir (posto cuja consistência se quer analisar) versus os totais acumulados de um posto base de comparação. Se os pontos de tal gráfico se alinharem em uma reta aproximada, isso indica uma proporcionalidade entre os dados dos dois postos em questão, como ilustra a Figura 4.4-A. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 Figura 4.4 – Exemplos de análise de consistência Fonte: o autor Pode ocorrer que os pontos se alinhem em duas retas de inclinação distintas (Figura 4.4-b). Isso decorre de uma mudança de tendência no posto a consistir (posto Y), eventualmente causada por erros sistemáticos (troca de operador), alterações climáticas significativas (Emergência Climática), etc. Pontos alinhados em retas de mesma declividade (paralelas) (Figura 4.4-c) ocorrem, sobretudo, quando há erros de transcrição dos dados, seja pelo operador ou durante o processamento dos dados. Na Figura 4.4-d os pontos estão dispersos, sem nenhuma tendência evidente. Neste caso, os postos avaliados apresentam regimes pluviométricos distintos e, portanto, não é adequado usá-los em conjunto para estudos hidrológicos. 4.5 ANÁLISE DE FREQUÊNCIA DOS TOTAIS PRECIPITADOS A frequência dos totais precipitados pode ser analisada segundo diferentes aspectos, uma delas consiste em verificar a frequência com a qual os eventos ocorreram historicamente, tendo como base os dados observados disponíveis. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 Neste método bastante simples, chamado método empírico, os dados são dispostos em ordem decrescente, e é atribuído a eles um número de ordem (m) – m = 1 para o maior valor, m = 2 para o segundo maior valor, e assim sucessivamente até o menor valor disponível, representado por n, que é o tamanho da série de dados. A frequência percentual ou probabilidade de ocorrência pode ser determinada pelo método Califórnia ou pelo método Kimball. f= m__ n Método Califórnia f= m____ n+1 Método Kimball Em que f representa a frequência com que o valor da precipitação de ordem m foi igualado ou superado, tendo como fonte de informações apenas a série de dados disponível. Nota-se, portanto, que esse método tem suas limitações, uma vez que não leva em conta a grande variabilidade temporal e espacial das precipitações, bem como está limitado à previsão de precipitações com tempo retorno inferiores ou iguais à n+1. Para previsões de eventos de precipitação com maior precisão, com tempos de retorno superiores à n+1, há técnicas baseadas em modelos estatísticos probabilísticos. 4.6 PRECIPITAÇÃO MÉDIA EM UMA BACIA Os postos pluviométricos registram a precipitação pontual. Em função da variabilidade espacial e temporal da precipitação, as medições em postos adjacentes podem ser bastante distintas. Para estudos hidrológicos a respeito de uma bacia hidrográfica é necessário compreender o regime pluviométrico da região. Uma forma de incorporar as medições pontuais entre postos é determinar a precipitação média. A precipitação média em uma bacia é compreendida como a lâmina de água de altura uniforme sobre toda a sua área. Trata-se, naturalmente, de uma abstração teórica, pois a precipitação não ocorre de forma uniforme em toda a superfície da bacia. Com base nos dados disponíveis dos postos pluviométricos da bacia hidrográfica ou em regiões próximas, é possível estimar a precipitação média empregando o método aritmético, o método de Thiessen ou o método das isoietas. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 4.6.1 Método aritmético Esse método consiste em calcular a precipitação média a partir da média aritmética das precipitações em postos selecionados. Desta forma, supondo que haja os dados dos postos A, B, C e D, a precipitação média na bacia da Figura 4.5 pode ser estimada como: Pm= PA+PB+PC+PD______________ 4 Em que PA, PB, PC, PD, são as precipitações nos postos A, B, C e D, respectivamente, e Pm é a precipitação média na bacia. Figura 4.5 - Postos com dados disponíveis para estimativa da precipitação média da bacia do exemplo Fonte: o autor Esse método não considera a localização geográfica dos postos, relativamente à bacia. Ademais, a precipitação no posto A tem o mesmo fator de ponderação (peso) da precipitação medida em B na estimativa da precipitação média. Ou seja, é atribuída a mesma ponderação a todos os postos, independentemente da sua área de influência. 4.6.2 Método de Thiessen No método de Thiessen a precipitação média é determinada incorporando um fator de ponderação a cada uma das estações empregadas no cálculo, em função de HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 suas áreas de influência. A partir da disposição espacial dos postos, são traçados os polígonos de Thiessen, os quais definem a área de influência de cada posto. Considerando quatro postos com informação disponível (postos A, B, C e D), a precipitação média estimada por esse método é: Pm= AA∙PA+AB∙PB+AC∙PC+AD∙PD_________________________ A Em que: PA, PB, PC, PD são as precipitações nos postos A, B, C e D, respectivamente; AA, AB, AC, AD são as áreas de influência dos postos A, B, C e D; Pm é a precipitação média na bacia; A é a área da bacia que, no caso, corresponde à soma das áreas AA, AB, AC, AD. Para o traçado dos polígonos de Thiessen, os postos são unidos por segmentos retos formando um polígono fechado (Figura 4.6-b); em seguida, são traçadas retas perpendiculares aos segmentos que unem os postos, em seu ponto médio (Figura 4.6- c); as retas perpendiculares são, então, prolongadas até se interseccionarem, definindo os polígonos de Thiessen e as áreas de influência de cada posto na bacia (Figura 4.7). Figura 4.6 - Exemplo do traçado dos polígonos de Thiessen, para estimativa da precipitação média na bacia, com base nos dados dos postos A, B, C e D. Fonte: o autor HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA| 35 Figura 4.7 - Definição dos polígonos de Thiessen e das áreas de influência dos postos A, B, C e D para estimativa da precipitação média na bacia do exemplo Fonte: o autor HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 AULA 5 PRECIPITAÇÃO (PARTE 2) A estimativa da precipitação é fundamental para o dimensionamento de obras hidráulicas, seja para a previsão de disponibilidade hídrica para usos múltiplos, ou para a determinação da capacidade de reservação e condução de água que as obras de drenagem devem apresentar. Neste capítulo, discutiremos metodologias para previsão dos totais anuais de precipitação, que refletem a disponibilidade de água numa determinada região, e a previsão de chuvas intensas, que repercute nas vazões de drenagem superficial. 5.1 CHUVAS ANUAIS A chuva média anual e sua variabilidade sazonal são importantes variáveis no estudo de recursos hídricos. O total de chuva precipitado ao longo de um ano repercute fortemente no tipo de vegetação existente na bacia e nas atividades humanas que podem ser exercidas na região. Toma-se como exemplo o Sul do Brasil, onde chove aproximadamente 1300 mm por ano, em média; na Amazônia chove mais de 2000 mm por ano, enquanto na região do Semiárido do Nordeste há áreas com menos de 600 mm de chuva por ano. A Figura 5.1 apresenta um histograma de frequências de chuvas anuais de um posto genérico A, no período de 1942 a 2001. A chuva média neste período é de 1433 mm, mas observa-se que ocorreu um ano com chuva inferior a 700 mm, e um ano com chuva superior a 2300 mm. A distribuição de frequência da Figura 5.1 é, aproximadamente, gaussiana (semelhante à distribuição Normal). Conhecendo o desvio padrão das chuvas e considerando que a distribuição é normal, é possível estimar que 68% dos anos apresentam precipitações entre a média menos um desvio padrão e a média mais um desvio padrão. Da mesma forma, pode-se considerar que 95% dos anos apresentam chuvas entre a média menos duas vezes o desvio padrão e a média mais duas vezes o desvio padrão. O desvio padrão da chuva anual no posto pluviométrico da Figura 5.1 é de 296,1 mm. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 Figura 5.1 - Histograma de frequência de chuvas no Posto A Fonte: o autor EXEMPLO 1 O quadro abaixo apresenta os totais anuais precipitados na cidade B, no período de 1949-1963: ANO P (mm) 1949 1185 1950 1205 1951 1630 1952 1386 1953 2165 1954 1234 1955 1267 1956 1432 1957 1683 1958 1408 1959 1167 1960 1197 1961 1730 1962 1462 1963 1470 HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 a. Qual a estimativa da probabilidade e do tempo de recorrência de se ter uma precipitação total inferior a 1000 mm em um ano qualquer? A área total abaixo da curva Z, vale 1. Sendo 0,5 para cada lado da origem. Analisando a tabela que apresenta a área da curva Z, verifica-se que a área entre a origem (Z = 0) e (Z = -1,62) é 0,4474, conforme pode ser verificado a seguir. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 Tabela 5.1 - Tabela Z de Distribuição Normal. Fonte: https://proeducacional.com/ead/curso-cga-modulo-i/capitulos/capitulo-4/aulas/distribuicao-de-probabilidades-distribuicao-normal/ Como procuramos a área antes da abscissa (Z=-1,62), basta calcularmos: HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 Ou seja, a probabilidade de ocorrer uma precipitação anual acumulada inferior a 1000 mm é 5,26%. O período de retorno será: b. Determinar a precipitação que ocorrerá, pelo menos, uma vez a cada 100 anos. Consultando as tabelas da curva Z, verifica-se que a área de 0,49 é obtida em Z=2,33 HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 5.2 CHUVAS INTENSAS As chuvas intensas são as causas das cheias, as quais decorrem em prejuízos quando os rios transbordam e inundam casas, ruas, estradas, escolas, podendo destruir plantações, edifícios, pontes etc. e interrompendo o tráfego. As cheias podem trazer também sérios prejuízos à saúde pública ao disseminar doenças de veiculação hídrica. É evidente, portanto, o interesse pelo conhecimento detalhado de chuvas máximas no projeto de estruturas hidráulicas como bueiros, pontes, canais e vertedores. A questão fundamental na análise de frequência de chuvas máximas é: Calcular a precipitação P que incide sobre uma área A em uma duração D, dada uma probabilidade de ocorrência em um ano qualquer. A forma de relacionar quase todas estas variáveis é a curva de Intensidade – Duração – Frequência (curva IDF). As curvas de intensidade-duração e frequência (IDF) são obtidas por meio da análise estatística de longas séries de dados pluviométricos. O desenvolvimento da equação IDF se baseia na seleção das maiores precipitações de uma duração escolhida (ex: 5 minutos), em cada ano da série. À série de tamanho N (número de anos) é ajustada uma distribuição de frequência que representa a distribuição dos valores observados. O procedimento é repetido para diferentes durações de chuva (5 min; 10 min; 1 h; 12 h; 24 h; 2 dia; 5 dias) e os resultados são expressos na forma de gráfico ou equação, com a relação das três variáveis: Intensidade, Duração e Frequência (ou tempo de retorno). Na Figura 5.2 é apresentado o conjunto de curvas IDF obtido pela análise dos dados de um pluviógrafo da estação genérica E. Cada uma das curvas representa um Tempo de Retorno; no eixo das abscissas estão representadas as durações da precipitação e no eixo das ordenadas são expressas as intensidades. Nota-se que quanto menor a duração do evento de precipitação, maior a intensidade da chuva (denominador da curva IDF). Da mesma forma, quanto maior o Tempo de Retorno, maior a intensidade da chuva (numerador da curva IDF). Por exemplo, a chuva de 30 minutos de duração com tempo de retorno de 50 anos tem uma intensidade de 100 mm/h. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 Figura 5.2 – Curva IDF na estação E Fonte: o autor As curvas IDF podem ser expressas matematicamente pela equação: Em que: i = intensidade da precipitação (mm/h) t = duração da precipitação (min) Tr = período de retorno (anos) K, a, b e C – constantes de ajuste locais, obtidas pelo ajuste dos dados. As curvas IDF são diferentes em diferentes locais. Dessa forma, a curva IDF da estação E, vale para a região próxima a ela. Não dispomos de longas séries de dados pluviométricos em todas as cidades brasileiras, dessa forma, muitas vezes, é necessário considerar que a curva IDF de um local é válida para uma grande região do entorno. No Brasil existem estudos de chuvas intensas com curvas IDF para a maioria das capitais dos Estados e para algumas cidades do interior, apenas. Na Tabela 5.1 são apresentados os coeficientes para algumas cidades do estado de São Paulo. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 Tabela 5.1 – Coeficientes para a equação de chuvas intensas para diversos municípios do estado de São Paulo Fonte: PLUVIO 2.1 EXEMPLO 2 Estimar a intensidade de precipitação para uma chuva com 5 minutos e período de retorno de 10 anos, para os municípios de Araraquara, Botucatu e Garça. Solução: Araraquara: HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 Botucatu: Garça: Nota-se que, mesmo aplicando o mesmo tempo de retorno (Tr) e mesmo tempo de duração da precipitação (t), as intensidades das precipitações calculadas são muito diferentes entre as cidades avaliadas no exercício. Portanto, a escolha da IDF deve ser feita com cautela quando se objetiva dimensionar uma estrutura hidráulica. EXEMPLO 3 Determine o tempo deretorno (Tr) para que a chuva de projeto, cuja duração é 10 minutos, não ultrapasse 100 mm/h na cidade de Ubatuba/SP. Ubatuba: HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 AULA 6 INFILTRAÇÃO Na Engenharia Civil, a infiltração ganha destaque ao representar a parcela da precipitação que irá penetrar no solo e, portanto, não gerará escoamento superficial direto. Ademais, contribui para o abastecimento dos aquíferos. Neste capítulo, estudaremos o processo de transporte da água através da superfície do solo. 6.1 ASPECTOS GERAIS O processo de infiltração pode ser definido como a passagem de água da superfície para o interior do solo, dependendo essencialmente da quantidade de água disponível para infiltrar, da natureza do solo e do estado da sua superfície, e das quantidades iniciais de ar e água presentes no interior do solo. Pode-se considerar o solo compreendido em duas zonas, a saber: zona de aeração e a zona de saturação (Figura 6.1). Figura 6.1 - Zonas de aeração e de saturação no solo Fonte: o autor A zona de aeração é caracterizada por vazios de solo parcialmente ocupados por água, o que varia conforme a ocorrência de precipitação, características do solo etc. Por ser a camada de contato com a superfície, a água presente nesta zona sofre ação da evaporação e é também absorvida pelas raízes das plantas, sendo eliminada depois pela transpiração, em função da fotossíntese. Ocorre também a ascensão da HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 água devido ao efeito de capilaridade, no entanto, conforme os vazios do solo vão sendo ocupados pela água, esta tende a romper as forças capilares e se deslocar verticalmente para baixo, sob ação da gravidade. A zona de saturação, por sua vez, é caracterizada por vazios de solo totalmente ocupados por água, isto é, pela saturação do solo. Esta camada constitui as águas subterrâneas, sendo válida a distribuição hidrostática de pressões (pressão varia linearmente na vertical conforme a altura da camada saturada acima) e ocorre o escoamento sob ação da gravidade. Também ocorre ascensão da água da zona de saturação para a zona de aeração, por efeito da capilaridade. O movimento da água em meio poroso é descrito pela equação de Darcy. Em 1856, Henry Darcy desenvolveu esta relação matemática realizando experimentos com areia, e concluiu que o fluxo de água através de um meio poroso é proporcional ao gradiente hidráulico. Em que Q é o fluxo de água (m³/s); A é a área (m²) que é o fluxo de água por unidade de área (m/s); K é a condutividade hidráulica (m/s); h é a carga hidráulica (m) e x a distância percorrida pelo escoamento (m). A condutividade hidráulica K é fortemente dependente do tipo de material poroso. Assim, o valor de K para solos arenosos é próximo de 20 cm/h. Para solos siltosos este valor cai para 1,3 cm/h, e em solos argilosos este valor cai ainda mais para 0,06 cm/h. Portanto, os solos arenosos conduzem mais facilmente a água que os solos argilosos, e a infiltração e a percolação da água no solo são mais intensas e rápidas nos solos arenosos que nos solos argilosos. 6.1.1 Grandezas características A caracterização da infiltração envolve essencialmente a capacidade de infiltração e a taxa de infiltração, grandezas que facilmente podem ser confundidas entre si, mas que denotam aspectos bem distintos. A capacidade de infiltração pode ser definida como a quantidade máxima de água que um solo pode absorver, por unidade de tempo e por unidade de área. Ou seja, a capacidade de infiltração representa o potencial do solo em absorver água, naquele HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 instante, sob tais condições. A taxa de infiltração, por sua vez, representa a taxa efetiva com que está ocorrendo, naquele instante, a infiltração no solo. Percebe-se, então, que: taxa de infiltração ≤ capacidade de infiltração A infiltração só ocorrerá em uma taxa igual à capacidade de infiltração quando a intensidade da precipitação for superior à capacidade, ou seja, quando a água disponível para infiltrar for superior à capacidade do solo em absorvê-la. 6.1.2 Perfil de umidade do solo No início de uma precipitação, as camadas superiores do solo vão se umedecendo de cima para baixo. Nesse instante, o perfil típico da umidade do solo é aquele mostrado na Figura 2-a, no qual a umidade é maior próximo à superfície e diminui à medida que se percorre o solo para baixo. Continuando o aporte de água, a tendência é a saturação de toda a profundidade do solo. A precipitação, em geral, é capaz de saturar apenas as camadas mais superficiais do solo. Ao término da precipitação ocorre uma redistribuição da umidade no interior do solo. A umidade das camadas mais superficiais tende a descer para camadas mais profundas Concomitantemente, parte da água também evapora ou é absorvida pela vegetação. Como resultado, o perfil de umidade é invertido quando comparado ao início da precipitação, nota-se maior umidade do solo nas camadas mais inferiores do solo (Figura 2-b). Figura 5.2 - Perfis de umidade do solo: (a) transcorrido algum tempo do início da precipitação; (b) e algum tempo depois de cessar a precipitação. Fonte: o autor HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 6.1.3 Evolução da capacidade de infiltração durante a precipitação Supondo uma precipitação de intensidade menor do que a capacidade de infiltração do solo, para as condições em que ele se encontrava. Nesse caso, o aporte de água é menor do que a capacidade que o solo tem de absorver água, portanto, toda a precipitação irá se infiltrar. Tem-se que, nesse instante de tempo, está ocorrendo uma taxa de infiltração inferior à capacidade de infiltração do solo. À medida que a água infiltra no solo, este vai se umedecendo e, consequentemente, vai perdendo capacidade de infiltração. Com a continuidade da precipitação, é alcançado um estágio no qual a capacidade de infiltração é reduzida a ponto de se igualar à precipitação. Nesse caso, a quantidade de água absorvida é tamanha, que a taxa com que o solo é capaz de absorver água torna-se numericamente igual à intensidade da precipitação. Caso a condição acima seja observada e a precipitação continue, haverá a formação de escoamento superficial, devido ao excesso de água não infiltrado que se acumula na superfície. Nessa situação, a taxa e a capacidade de infiltração são numericamente iguais. Não havendo mais precipitação, o aporte de água é interrompido e não haverá infiltração. Logo, a taxa de infiltração é nula, enquanto a capacidade de infiltração cresce, à medida que a água tende a descer para as camadas mais profundas ou ser evaporada/absorvida pela vegetação na parte mais superficial. Ocorrendo nova precipitação, o processo se desenvolverá novamente. Na Figura 6.3 é apresentada a curva típica da capacidade de infiltração ao longo do tempo de desenvolvimento de uma precipitação. Nesta curva, a capacidade de infiltração é máxima no início da precipitação (com valor Io) e vai decaindo com o tempo, tendendo assintoticamente a um valor constante, que é a capacidade de infiltração do solo saturado (Is). HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 Figura 6.3 - Curva de infiltração típica Fonte: o autor Para a estimativa da infiltração foram desenvolvidas várias equações empíricas, como a equação de Horton, por exemplo, desenvolvida a partir de experimentos de campo: Em que: f = taxa de infiltração num instante qualquer (ou no instante t) (mm/h). fc = taxa de infiltração final (capacidade de infiltração na condição de saturação) (mm/h). fo = taxa de infiltração inicial (valor de f para t=0); taxa de infiltração quando o solo está seco (mm/h). t = tempo (horas ou minutos).k = constante de decaimento da infiltração (deve ser determinado a partir de medições no campo). Tal equação representa o decaimento da taxa de infiltração ao longo do tempo, sendo válida para uma precipitação sempre superior à capacidade de infiltração (TUCCI, 2012). Tucci, Porto e Barros (1995) apresentam alguns valores de referência para determinados tipos de solo (Tabelas 6.1). Sendo os solos do tipo A = arenosos profundos com pouca argila; B = Arenoso menos profundo que A e com permeabilidade acima da média; C = Solo com teor acima da média de argila e; D = Solo com argila expansiva e pouco profundo. Parâmetro Solo A Solo B Solo C Solo D fo 250 200 130 80 fc 25 13 7 3 k 2 2 2 2 Tabela 6.1 - Valores dos parâmetros fo e fc (em mm/h) e k de acordo com o tipo de solo Fonte: Tucci, Porto e Barros (1995) HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50 EXEMPLO 1 Usando a equação de Horton, encontre a taxa de infiltração de água em um solo do tipo argila expansiva e pouco profundo (D), no tempo de 30 minutos. Solo tipo D: fo = 80 fc = 3 k = 2 t = 30 min = 0,5 h 6.2 FATORES INTERVENIENTES NO PROCESSO DE INFILTRAÇÃO Diversos fatores interferem no processo de infiltração, a saber: • tipo de solo: porosidade, granulometria, estrutura da superfície granular e arranjo das partículas do solo influenciam na capacidade do solo em absorver e reter água. Além da facilidade ou dificuldade que ao escoamento intergranular imposto pelo tipo de solo, a superfície do grânulo impõe capilaridade em maior ou menor grau, devido à tensão superficial; • umidade do solo: quanto mais água já houver nos interstícios do solo, menor sua capacidade de absorver um novo aporte de água; • grau de compactação do solo: solos mais compactados, seja pelo tráfego de veículos e animais, e ou intemperismo e ação metamórfica, tendem a ser mais impermeáveis, pois o distanciamento intergranular é maior, logo, o espaço disponível para o escoamento e absorção de água é menor; • cobertura vegetal: a vegetação impõe obstáculos ao escoamento superficial, favorecendo a infiltração. Ademais, as raízes absorvem parcela da água na camada de aeração, agilizando o processo de aumento da capacidade de infiltração; HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51 • temperatura: o fator temperatura influi por alterar a viscosidade da água, sendo mais fácil a infiltração para uma menor viscosidade (capacidade de infiltração nos meses frios < capacidade nos meses quentes); • precipitação: a absorção de água pelo solo é função da quantidade de água disponível para infiltrar. Logo, a intensidade, duração e o volume total precipitado são determinantes nesse processo. Tendo em vista os fatores enumerados anteriormente, percebe-se que a capacidade de infiltração em uma bacia hidrográfica varia espacialmente, uma vez que apresenta áreas com diferentes tipos de solo, com diferentes estados de compactação e de umidade, áreas de cobertura da vegetação variáveis, etc. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52 AULA 7 EVAPOTRANSPIRAÇÃO Compreende-se como evapotranspiração a soma da evaporação e transpiração vegetal. Ambos são processos de transporte da superfície terrestre para a atmosfera na forma de vapor. São fundamentais para a compressão da disponibilidade hídrica nas diferentes regiões do planeta, bem como na manutenção da temperatura da Terra. Neste capítulo, estudaremos esses dois processos que são vetores que podem receber maior ou menor destaque, a depender do porte da obra hidráulica a ser projetada. Por exemplo, as perdas de água que ocorrem nos reservatórios das usinas hidrelétricas ou reservatórios que regularizam a vazão para as usinas podem ser muito relevantes. 7.1 INTRODUÇÃO No ciclo hidrológico, o retorno da água para a atmosfera ocorre por meio do processo da evapotranspiração. Esse processo restou mal compreendido até o início do século XVIII, quando Sir Edmond Halley comprovou que a água evaporada da superfície terrestre era suficiente para abastecer os rios, na forma de precipitação. A evapotranspiração é o conjunto de dois processos: evaporação (processo físico) e transpiração (processo fisiológico). Evaporação é o processo físico de transporte da água na fase líquida (lagos, rios, reservatórios, poças, e gotas de orvalho) para a atmosfera na forma de vapor. A umidade do solo (água presente nos espaços intergranulares) é também transferida para a atmosfera por evaporação. No entanto, é mais comum neste caso o transporte por meio de transpiração. A transpiração, por sua vez, está ligada à fotossíntese. Um processo que começa pela retirada da água do solo pelas raízes das plantas, transporte através do caule e folhas até a passagem da água para a atmosfera através dos estômatos, na forma de vapor. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53 7.1 EVAPORAÇÃO A evaporação ocorre quando a água passa da fase líquida para a fase gasosa. As moléculas de todas as substâncias que não estão na temperatura de 0 K (zero Kelvin ou zero absoluto) estão em constante movimento, seja no estado líquido ou gasoso. No caso das moléculas de água, algumas delas dispõe de energia suficiente para romper a barreira da superfície, deixando a massa líquida e passando para a atmosfera, enquanto outras moléculas de água, inicialmente na forma de vapor, retornam ao líquido, fazendo o caminho inverso, devido à alguma perda de energia. A evaporação ocorre quando a taxa de moléculas que deixam a massa líquida é maior do que a que taxa que retorna. As moléculas de água no estado líquido estão relativamente unidas por forças de atração intermolecular. No vapor, as moléculas estão muito mais afastadas do que na água líquida, e a força intermolecular é inferior. No processo de evaporação é exigida grande quantidade de energia para realizar o trabalho de afastar as moléculas entre si, as quais estão ligadas por forças intermoleculares. A quantidade de energia que uma molécula de água no estado líquido precisa para romper a superfície e evaporar é chamada calor latente de evaporação. O calor latente de evaporação pode ser dado por unidade de massa de água, conforme equação abaixo: Em que Ts é a temperatura da superfície da água em °C. O processo de evaporação, portanto, exige um aporte mínimo de energia, o qual, na natureza, é provido pela radiação solar. O ar atmosférico é composto por diferentes gases, em diferentes percentuais, dentre os quais, o vapor d’água. A quantidade máxima de vapor d’água que um determinado volume de ar pode conter é expressa pela pressão de saturação, diretamente proporcional a uma concentração de saturação. Pressão e concentração de saturação variam de acordo com a temperatura (Figura 6.1). Quando a pressão (e concentração) de vapor em um determinado volume excedem a pressão de saturação, esse vapor condensa e a água retorna para a fase líquida. Mesmo que o aporte de energia ao sistema prossiga agitando as moléculas de água, a taxa de evaporação não irá aumentar. Portanto, para ocorrer a evaporação são necessárias duas condições: 1. Aporte de energia para a água que se encontra na fase líquida e; 2. Pressão de vapor abaixo da pressão de saturação. HIDROLOGIA E OBRAS HIDRÁULICAS PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54 A umidade relativa do ar corresponde ao conteúdo de vapor d’água em um determinado volume de ar em relação ao conteúdo de vapor que esse volume de ar teria na condição de saturação (função da temperatura). Assim, ar com umidade relativa de 100% está saturado de vapor, e ar com umidade relativa de 0% está completamente isento de vapor. Em que UR é a umidade relativa; w é a massa de vapor pela massa de ar e ws é a massa de vapor por massa de ar no ponto de saturação.
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