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Apostila Curso de atualização do novo CPC

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Gontijo Freitas
 Advogados Associados S/S
Curso: O Novo Código de Processo Civil
Professor: Fredie Didier
Aula nº 1 	
Introdução
Em primeiro ligar, importante ressaltar que o presente curso busca tornar possível o estudo de todas as mudanças trazidas pelo novo CPC (Lei 13.015/15), que prevê um sistema bem diferente daquele previsto pelo CPC de 1973. Em verdade, trata-se de uma lei que não só reforma o antigo sistema, mas elabora um novo. Normas novas, sistema novo. Não adianta olhar para o NCPC com base no repertório que tínhamos em 1973. É claro que não se apaga a história e também o conhecimento não surge do zero. O acúmulo histórico do CPC/73 é levado, assim, como conhecimento prévio necessário para o estudo dos novos conceitos processuais. 
Serão analisadas todas as mudanças relevantes do NCPC do início ao fim, de modo que os temas da dinâmica processual antiga ainda aplicáveis nesse novo sistema não serão abordados (ex: petição inicial, jurisdição; etc). Será explicado, pois, somente o que mudou com o NCPC.
Serão examinadas essas mudanças ao tempo em que ainda não existe doutrina suficiente e sólida sobre essas novas questões. Apesar disso, já existe atualmente um repertório doutrinário interessante nos enunciados produzidos pelo Fórum Permanente dos Processualistas Civis, encontro que se realiza semestralmente, sendo que, nos três primeiros encontros, foram produzidos mais de 300 enunciados sobre o novo CPC. Uma vez que tais enunciados são aprovados por unanimidade, tem-se que eles funcionam como uma pauta doutrinária inicial para a compreensão do novo CPC, de maneira que o estudo de seu conteúdo faz-se necessário para a aquisição de uma mentalidade alinhada a esse novo diploma processual.
Feitas essas considerações, segue adiante o primeiro assunto a ser abordado:
Tópico nº1 - Normas Fundamentais do Processo Civil tal como regulado pelo novo CPC
Cria-se uma categoria normativa inovadora: das normas fundamentais do Processo Civil. O capítulo 1 contém 12 artigos, de modo que não exaurem o conteúdo sobre as normas fundamentais. Assim, esse rol não é exaustivo, havendo previsão dessas normas também em outros sistemas, tais como na Constituição Federal, que prevê o devido processo legal e a proibição da prova ilícita. Há, também, exemplos de normas fundamentais espalhadas em outros artigos do novo CPC.
Esses 12 primeiros artigos consagram regras e princípios. As normas fundamentais processuais têm esse rótulo exatamente porque consagrarem regras ou princípios. Explicando melhor, há uma equivocada tendência de achar que toda norma fundamental é um princípio. Porém, há normas fundamentais que são regras (ex: as decisões devem de ser motivadas). Isso é uma regra, mas não é um princípio (obs: ver diferença entre regras e princípios em Direito Constitucional). Por isso o nome normas fundamentais do processo civil e não princípios fundamentais do processo civil. 
Dito isso, necessário analisar os artigos que trazem certa novidade na dinâmica processual:
Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
Esse artigo 1º faz previsão de seu discurso por uma maneira simbólica: não é possível compreender o Processo Civil sem antes analisar a Constituição Federal. As disposições do novo CPC devem ser interpretadas à luz da Constituição Federal. Percebam que é artigo 1º não por acaso. Deixa claro que um CPC produzido atualmente não pode se desvencilhar e não pode ser interpretado de maneira incompatível com a Constituição Federal. O problema é que, do ponto de vista simbólico, o novo CPC é muito bom. Agora, do ponto de vista normativo, ele diz uma obviedade: as normas infraconstitucionais devem ser interpretadas à luz da Constituição. 
Pergunta-se: vem um artigo infraconstitucional para dizer que todas as normas processuais devem ser interpretadas à luz da Constituição. E se, por ventura, o juiz aplicar o CPC contrariamente à Constituição? Caberá RESP por ter violado uma norma infraconstitucional ou caberá RE por violar norma constitucional? Para Didier, a violação é da Constituição. O artigo 1º apenas enuncia uma norma constitucional. Trata-se de um clone de uma norma constitucional. É como se a lei repetisse o texto da Constituição. Uma lei que repete um texto constitucional não o transforma em norma legal. Assim, esse artigo 1º tem um caráter simbólico muito forte, de sorte que, uma vez violado o seu conteúdo normativo, não se faz possível o uso do Recurso Especial, mas sim do Recurso Extraordinário. 
Para que se perceba a importância desse tema, bem como para compreendê-lo melhor, interessante a análise do texto do art. 3º:
Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. 
Não se trata de novidade alguma. Da mesma forma que o artigo 1º, é uma repetição do que a Constituição diz. Se alguém violar o princípio da inafastabilidade, viola a Constituição, porque esse artigo 3º é uma simples repetição da Constituição. Quando a lei é o clone normativo da Constituição, o recurso cabível é, por conclusão, o Recurso Extraordinário.
Examinemos agora o §2º do art 3º. Trata-se de novidade normativa fundamental: 
Artigo 3º, § 2º: “ O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos”.
Trata-se de norma nova cuja previsão é a do princípio de promoção pelo Estado da solução por autocomposição. O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. O Estado deve atuar para que as partes promovam seus conflitos consensualmente. É uma verdadeira política pública de solução dos conflitos. É uma nova norma fundamental processual. Ele consagra a resolução 125/10 do CNJ, que regulamentava esse tema. Agora, essa disposição tem respaldo de um dispositivo de lei que consagra a solução amigável dos conflitos.
O §3º consagra a mesma linha de pensamento: 
Art. 3º (...)§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.
O estímulo por autocomposição deve ser promovido não só pelo Estado, mas também por advogados, juízes, defensores públicos e membros do MP. Todo o novo CPC é estruturado nesse sentido. No sentido de estimular a autocomposição. Pela primeira vez, temos uma lei que disciplina com exaustão a mediação e a conciliação. Mediação e conciliação estão exaustivamente regradas pelo novo CPC. Agora, o primeiro ato do processo, após da petição de inicial, é marcar uma audiência de conciliação. Antes mesmo da apresentação da resposta do réu. O novo CPC estimula que as partes se autocomponham, dispensando o pagamento de custas, se houver transação. Podem as partes, inclusive, incluir no acordo outras lides e outras pessoas. É um princípio novo de estímulo da autocomposição.
Aula de nº 2
Continuação do estudo das normas fundamentais (1º tópico):
Analisemos o art. 4º:
Art. 4º As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.
Dele, você extrai normas conhecidas, bem como normas novas. O artigo 4º possui três partes:
1ª) As partes têm direito de obter em prazo razoável: consagração da duração razoável do processo. O novo CPC apenas ratifica isso.
2ª) A solução integral do mérito: as partes têm direito à solução de mérito. Ora, um direito à solução de mérito decorre de um princípio novo, que é necessário desenvolver: princípio da primazia da decisão de mérito.. Em que consiste esse princípio? O objetivo desse princípio é deixar claro que a solução de mérito é prioritária em relação à solução que não é de mérito. Basta observar o artigo 139, IX, do novo CPC:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposiçõesdeste Código, incumbindo-lhe:
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais;
É dever do juiz de determinar a correção dos vícios processuais. Com isso, impede que o processo seja extinto sem resolução do mérito.
Outros exemplos desse princípio expresso no novo CPC:
 o artigo que cuida dos poderes do relator de um recurso: O relator, se verificar algum defeito sanável (ex: falta de preparo), deverá pedir a emenda do recurso, pois vigora, no novo sistema, o princípio do julgamento do mérito. 
O juiz não pode indeferir a petição inicial sem antes determinar que o autor a emende. Isso está expresso no novo CPC.
A apelação contra qualquer sentença que extinga o processo sem exame do mérito tem juízo de retratação. Por quê? Exatamente por permitir que o juiz possa reconsiderar e possa julgar o mérito. Se o juiz extinguiu sem exame do mérito, permite a retratação, para que ele possa analisar se pode julgar o mérito. 
O artigo 1028, §3º, do novo CPC: “O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave”.
O STF e o STJ poderão desconsiderar um defeito dos recursos, exceto a tempestividade. Esse dispositivo é um marco na concretização do princípio da primazia do mérito. Esse princípio é tão importante que foi reproduzido na Lei 13015/14, que cuida dos recursos repetitivos no âmbito trabalhista. Ela foi produzida com base no novo CPC. Grande parte dos textos dessa nova Lei é importada do então projeto do novo CPC. 
Obs: quanto ao princípio da primazia do mérito, Didier sempre entendeu existir. No curso dele, ele dizia que era um princípio expresso no âmbito coletivo. No processo individual, ele já o defendia há muito tempo também. Agora, a redação é muito clara e concretização dele ao longo do novo CPC é mais clara ainda.
3ª) Incluindo a atividade satisfativa: consagra-se o princípio da efetividade do processo. Qual a novidade disso? Pela primeira vez na nossa história, temos um artigo que expressamente diz isso. Nunca houve um dispositivo normativo que consagrasse expressamente o princípio da efetividade. Quem quer desenvolver o princípio da efetividade poderá fazê-lo com base no artigo 4º. Antes ele era retirado do devido processo legal. 
Outro ponto a ser destacado dentro do tema “normas fundamentais” é o art. 7º:
Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
A primeira parte do artigo 7º fala do princípio da igualdade processual. É um princípio antigo, embora tenha sido dissecado pelo refreido artigo. O problema é o trecho final, que diz: “compete ao juiz zelar pelo efetivo contraditório”. Surge aí uma norma fundamental nova, que impõe ao juiz o dever de zelar pelo efetivo contraditório. O que significa isso? É um dos mistérios do novo CPC. É um dispositivo muito aberto e dá margem aos juízes agirem com certa parcialidade. Didier destaca dois exemplos da possibilidade/impossibilidade de aplicação do referido contexto normativo:
1º) Fredie acha que é possível, com base nessa previsão, que o juiz nomeie um curador especial para os casos atípicos em que ele se revele necessário. Ex: A parte foi à audiência, mas o advogado não foi. Daí, o juiz poderá nomear um defensor público ou advogado dativo para ser curador especial, a fim de que o contraditório não seja violado. É a nomeação de curador especial para hipóteses atípicas.
2º) O juiz não pode destituir um advogado que ele repute fraco. Daí, o juiz não poderia, sob pretexto de zelar pelo efetivo contraditório, nomear outro advogado.
Noutro aspecto, o juiz, para garantir o contraditório, pode dilatar os prazos processuais. Há previsão no artigo 139, VI, do Novo CPC, para tanto:
Art. 139 O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...)
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito”
Há previsão expressa e inédita do juiz dilatar os prazos processuais, a fim de respeitar efetivamente o contraditório. Pensem que o autor tenha juntado 10.000 documentos. Daí, o prazo de 15 dias para o réu se defender é absolutamente insignificante. Assim, o juiz poderá dilatar os prazos processuais, dizendo, por exemplo, que o réu, você poderá contestar em 45 dias. 
Outro exemplo da garantia do contraditório: acórdão do mensalão. O processo tinha milhares de páginas. Não tinha sentido entrar com embargos em 5 dias. Daí, o STF concedeu o prazo de 10 dias, em função dessa interpretação de respeito ao contraditório. Fica, porém, um alerta. Essa dilatação de prazo não pode ser feita depois que o prazo acabou. O juiz tem de dilatar os prazos antes de o prazo começar a correr. Essa foi a conclusão dos processualistas no Fórum permanente de processualistas civis, que é a conclusão 129:
“(art. 139, parágrafo único) A autorização legal para ampliação de prazos pelo juiz não se presta a afastar preclusão temporal já consumada. (Grupo: Negócios Processuais)”.
Aula 3 – Continuação do 1º tópico: normas fundamentais do NCPC
Façamos a análise do art. 5º: 
Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa- fé.
O artigo 5º consagra o princípio da boa-fé processual, como um dos pilares do novo CPC. Ora, antes desse artigo 5º, a doutrina tinha que extrair o princípio da boa-fé do princípio do devido processo legal. Antes, não tinha no CPC um enunciado que deixasse claro esse princípio. Ele, que já era um consequência do devido processo legal, passa a ter previsão expressa no novo CPC.
Noutro aspecto, atente-se ao seguinte excerto: “Aquele que de qualquer forma participa do processo”: a redação é assim, exatamente para deixar claro que o princípio da boa-fé se dirige a todos os sujeitos do processo, inclusive o juiz, perito, advogado, testemunha etc. Essa redação é cópia da redação do CPC suiço, traduzido para o português. O princípio da boa-fé se dirige a toda e qualquer sujeito processual.
Vamos dissecar esse princípio. A primeira coisa para compreender esse princípio é a seguinte: Não se pode confundir boa-fé objetiva e boa-fé subjetiva. Boa-fé subjetiva é um fato da vida. O fato de alguém acreditar que está agindo licitamente. É ter a crença de que seu comportamento é lícito. É um fato que muitas vezes é levado em consideração pelo legislador. Ex: Na posse de boa-fé, o possuidor tem direito aos frutos. A boa-fé é um fato apto a gerar consequências jurídicas. 
Por outro lado, o que é a boa-fé objetiva? Não é um fato. É uma norma, mais precisamente um princípio. É o princípio segundo o qual os comportamentos humanos devem estar pautados de acordo com um padrão ético de conduta. Não tem nada a ver com a crença do sujeito. Pouco importa se o sujeito está de boa-fé íntima. A boa fé objetiva impõe comportamentos considerados objetivamente como devidos. A boa fé objetiva é o princípio da boa-fé considerado abstratamente. Não se pode falar, todavia, em princípio da boa-fé subjetiva, pois não é uma norma, mas, como dito, é um fato da vida. 
O artigo 5º consagra a boa-fé objetiva processual incidente sobre qualquer sujeito do processo, como o juiz, as partes e o advogado. Esse artigo 5º é o exemplo de uma cláusula geral processual. O que significa isso? Significa que se trata de um dispositivo normativo construído de maneira indeterminada tanto em relação à sua hipótese normativa, como em relação à sua consequência normativa. Assim, a hipótese e o consequente são indeterminados. Quando a gente lê o artigo 5º, a gente não sabe ao certo a qual comportamento ele se refere, além de não dizer o que acontece se por ventura o comportamento nãofor conforme a boa-fé. Por isso, é uma cláusula geral, necessitando de ser concretizado na prática. 
Os tribunais vão ter que começar a definir padrões do que são os comportamentos de acordo com a boa-fé. Ao longo da história, se considerarmos os últimos 100 anos de consagração do princípio da boa-fé no direito estrangeiro, veremos que o princípio da boa-fé já foi concretizado em, no mínimo, quatro grupos de situações:
1ª) O princípio da boa-fé torna ilícita qualquer conduta de má-fé. Qualquer conduta dolosa é considerada ilícita pela incidência do princípio da boa-fé. É como se houvesse uma previsão geral de ilicitude em razão do dolo. Qualquer conduta processual dolosa é considerada ilícita, tendo em vista o princípio da boa-fé. Ex: Um amigo de Fredie advogando num processo trabalhista chegou à conclusão de que o acordo seria o melhor caminho a ser seguido. Então fizeram um acordo por e-mail. O problema é que o acordo foi entabulado durante o prazo recursal da sentença. O processo e transitou em julgado. Então, a outra parte desistiu do acordo. Assim, Fredie orientou que esse comportamento da outra parte é doloso, ferindo o princípio da boa-fé, devendo requerer a devolução do prazo recursal.
2ª) Abuso do direito no Processo é considerado ilícito, por violar a boa-fé. Qualquer abuso do direito no processo passará a ser considerado de forma muito clara como um comportamento ilícito. Daí, por ser ilícito, não pode ser aceito. É como se houvesse uma proibição geral para o abuso do direito no processo. Exemplo: Imaginem que o autor tem o direito de negar a sucessão processual do réu pelo adquirente de coisa litigiosa. Se um terceiro adquire coisa litigiosa, pode entrar no lugar do réu. Para que o terceiro entre no lugar do réu, é preciso de que o autor consinta. Imaginem que, porém, que ele negue esse consentimento de maneira não fundamentada e desarrazoada. Isso é intolerável. Ele até poderia negar, mas esse direito não pode ser exercido de maneira abusiva, porque viola o princípio da boa-fé.
3ª) Comportamento contraditório: se eu pratico um ato e esse meu ato gera em outra pessoa a expectativa de que eu manterei uma coerência na minha atuação e se eu, porventura, vier a frustrar isso, eu estarei comportando contraditoriamente, o que é contrário à boa-fé. É aquilo que, no direito civil, se chama de proibição do venire contra factum proprium. Proibição de comportamento contraditório às próprias atitudes. Exemplo: executado oferece um bem para ser penhorado. Depois, alega a impenhorabilidade do bem.
4º) Supressio processual: Supressio é a perda de um direito pelo fato de não ter exercido esse direito por um tempo tal que gerou na outra parte a expectativa de que ele mais seria exercido. Ocorre, então, a surpressio desse direito. É possível falar de supressio no processo. Exemplo: Imagine-se que um processo irregular, desde o começo, tramitou durante 10 anos e o juiz nada disse. Pelo silêncio do juiz, gerou em todos a expectativa de que o processo estava regular. Como juiz se submete ao princípio da boa-fé, ele sofreu a supressio. É um comportamento ilícito do juiz se ele decide anular o processo.
Além dessas quatro concretizações do princípio da boa-fé, temos outras: deveres de cooperação e função hermenêutica. Quanto a esse último, o princípio da boa-fé exerce um papel hermenêutico muito importante, visto que orienta a interpretação da postulação e da decisão. Essas situações serão aprofundadas mais adiante.
Aula 4 – Normas Fundamentais do Novo CPC (continuação)
Será falada uma das grandes novidades trazidas pelo novo CPC. Antes de discorrer sobre ele, necessário uma digressão. O direito ao contraditório garante às partes o poder de se manifestar sobre qualquer questão que seja relevante para a solução da causa, mesmo que seja uma questão que o juízo conheça sem provocação (ex officio). Ex: inconstitucionalidade da lei, incompetência absoluta, decadência legal, etc.
Qualquer questão levada a juízo deve ser submetida ao diálogo do processo. Essa exigência evita decisões surpresa, não sendo as partes surpreendidas com uma decisão fundamentada em questão que não puderam se manifestar. Fala-se que essa exigência decorre do dever de consulta. O juiz tem o dever de consultar as partes sobre questão da qual elas não se manifestarem. Se eu sou juiz e estou para julgar uma causa, e eu percebo que a lei é inconstitucional e ninguém havia suscitado isso, eu tenho, diante disso, de intimar as partes para que se manifestem sobre uma suposta inconstitucionalidade. Isso não é prejulgamento.
Exemplo: um desembargador viu que a apelação era intempestiva e ninguém tinha suscitado durante o processo. As partes foram ouvidas quanto a essa intempestividade. Ambas disseram que o recurso era tempestivo, tendo em vista que, naquela localidade, havia um feriado local e ninguém tinha ficado sabendo disso. Estabelece-se, assim, o diálogo, para evitar decisões surpresa. Essa exigência foi consagrada na Lei de Execução Fiscal, que expressamente diz que o juiz da execução fiscal pode conhecer de ofício da prescrição. Mas, antes de decidir com base nela, tem que ouvir a Fazenda Pública em particular. É a concretização, pelo novo CPC, do dever de consulta, o direito de não ter uma decisão surpresa. 
Assim, tem-se que:
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
Estamos diante da consagração do dever de consulta e da proibição de decisão surpresa. O artigo 10 não é um artigo que enuncia o princípio do contraditório. Esse artigo enuncia uma regra pela qual o juiz deve ouvir as partes, isto é, a regra do dever de consulta. Essa regra concretiza o princípio do contraditório, sendo uma das suas formas de manifestação. Essa regra é tão importante, que foi repetida em alguns dispositivos do novo CPC. Vejamos o artigo 493, do novo CPC:
Art. 493 - Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá- lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão.
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.
É a consagração do dever de consulta. Outro artigo que merece análise nesse sentido é o artigo 933:
Art. 933. Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida, ou a existência de questão apreciável de ofício ainda não examinada, que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as partes para que se manifestem no prazo de cinco dias.
§ 1º Se a constatação ocorrer durante a sessão de julgamento, este será imediatamente suspenso a fim de que as partes se manifestem especificamente.
§ 2º Se a constatação se der em vista dos autos, deverá o juiz que a solicitou encaminhá-los ao relator, que tomará as providências previstas no caput e, em seguida, solicitará a inclusão do feito em pauta para prosseguimento do julgamento, com submissão integral da nova questão aos julgadores.
O artigo 933 do novo CPC é consagração do artigo 10 nos Tribunais. É uma disciplina de como concretizar o dever de consulta no âmbito dos Tribunais. Se essa regra for descumprida, gera nulidade da decisão por violação do contraditório. Outro artigo relacionado ao art. 10 é o parágrafo único do art. 926, que cuida da formação dos precedentes:
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucionale do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
§ 1º Os juízes e os tribunais observarã o disposto no art. 10 e no art. 487, § 1o, quando decidirem com fundamento neste artigo.
O artigo 10 deve ser aplicado não só quando o juiz decide, mas no momento da formação do precedente. O novo CPC exige que a formação do precedente seja muito cuidadosa. Todos os fundamentos do precedente devem ser submetidos ao contraditório, para conseguir maior legitimidade nesse processo. Esse artigo 10 é um ícone do novo CPC. 
Agora analisemos o art. 9º:
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida. 
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 309, incisos II e III;
III - à decisão prevista no art. 700.
Esse artigo consagra o princípio do contraditório se a decisão for a favor de uma das partes, sem que uma delas tenha sido ouvida. O que não é possível é decisão contra uma das partes sem a sua oitiva. É por isso que o novo CPC admite uma improcedência liminar. É uma rejeição da petição inicial liminar que vai julgar a favor do réu sem ouvi-lo. A apelação contra sentença que julga liminarmente o pedido permite retratação, principalmente se o autor provar que a fundamentação do juiz não foi suscitada na petição incial. 
Sucede que o Parágrafo único, do artigo 9º, do novo CPC traz exceções à essa regra. Não precisa de ouvir a parte antes se a decisão é provisória. Se a decisão é provisória, não há necessidade de ouvir a parte contrária. Exemplos: tutela de provisória (o ncpc chama a tutela antecipada de tutela provisória); tutela de evidência; ação monitória. São casos em que o juiz pode decidir contra o réu sem ouvi-lo antes. O Parágrafo único, do artigo 9º, não é o único exemplo disso. Ex: liminar possessória é um clássico caso de tutela provisória liminar (sem oitiva do réu); liminar de despejo; liminar em MS. 
Conclusão: o artigo 7º, parte final (compete ao juiz zelar pelo efetivo contraditório); artigo 9º, artigo 10: esses TRÊS pedaços formam um núcleo sobre o contraditório. 
Aula 5 – Normas Fundamentais (continuação do tópico de nº1)
Analisemos o art. 7º:
Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Consagra a primeira parte do artigo a igualdade processual. O novo CPC vai além. Ele disciplina a igualdade. Generaliza o princípio da igualdade no processo. O princípio da igualdade no processo exige a observância de quatro aspectos:
1º) Imparcialidade do juiz: é um dever que decorre do princípio da igualdade.
2º) Igualdade no acesso à justiça: Não pode haver discriminação por raça, por crença, por orientação sexual ao acesso à justiça.
3º) a igualdade se revela nos momentos em que se reduz as dificuldades do acesso à justiça: ex: dificuldade financeira você reduz com as regras da gratuidade de justiça. O sistema de gratuidade de justiça é outro. Foi substancialmente alterado no novo CPC. Outro exemplo importante de redução da desigualdade: poder-se-á sustentar oralmente no STJ via videoconferência sem ter que ir a Brasília. 
4º) Dificuldade de comunicação: Os mudos ou surdos têm dificuldade de se comunicar, o que pode repercutir no processo. Pela primeira vez, o novo CPC prevê a utilização da língua brasileira de sinais (libras) para pessoas surdas e mudas, sendo uma forma de tratar essas pessoas no processo.
Por fim, a igualdade se revela pela seguinte assertiva: as partes devem receber o mesmo tratamento (devem receber as mesmas informações durante o processo – paridade de informações). 
O novo CPC não cria só o artigo 7º, que é uma cláusula geral de igualdade, como ele traz várias concretizações da igualdade. Assim, são outros exemplos dessa cláusula:
a) Regra da tramitação prioritária: Art. 1048, do novo CPC:
Art. 1048. Terão prioridade de tramitação em qualquer juízo ou tribunal os procedimentos judiciais:
I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei no 7.713, de 22 de dezembro de 1988;
II - regulados pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990.
§ 1º A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpridas.
§ 2º Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o regime de tramitação prioritária.
§ 3º Concedida a prioridade, essa não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite ou companheiro em união estável.
§ 4º A tramitação prioritária independe de deferimento pelo órgão jurisdicional e deverá ser imediatamente concedida diante da prova da condição de beneficiário.
O tempo do processo de uma pessoa com doença grave é bem diferente do tempo de uma pessoa sadia, por isso a novidade. Os casos de levantamento de FGTS (lei 7713/88 – art. 6º) para doenças graves são utilizados aqui para definir doença grave. Esse rol também abrange as pessoas abrangidas pelo ECA. Os Parágrafos trazem o procedimento para concessão da prioridade. O juiz, preenchidos os pressupostos, não tem como negar a prioridade. O juiz só pode negar a prioridade se não encaixar nas hipóteses de prioridade.
O artigo 7º consagra uma cláusula geral de igualdade, que exerce influência em diversos artigos.
Durante a tramitação na CD, a bancada parlamentar que tem com objetivo de proteger as pessoas com deficiência atuou diretamente no novo CPC. Várias demonstrações de cuidado com as pessoas com deficiência, desde o linguajar, como regras singelas. Na interdição, havia um dispositivo que dizia: O juiz interrogará o inteditando. Porém, foi mudado para o seguinte: O juiz entrevistará o interditando. Isso demonstra o tratamento das pessoas com deficiência com dignidade.
Vamos à análise do art. 8º do CPC
Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Para Fredie, esse dispositivo é uma verdadeira mixórdia (mistura), tendo em vista a sua confusão textual. Daí, Fredie sugere dividi-lo em 3 partes:
1ª) Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum: Essa primeira parte é a reprodução quase literal de um dispositivo da LINDB (Lei de introdução às regras do Direito Brasileiro). Foi um dispositivo pensando para uma época ditatorial. É um dispositivo muito antigo, que foi trazido pelo novo CPC.
2ª) resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade: é o legislador do novo CPC dizendo que está atualizado. Dignidade da pessoa humana pode ter uma dimensão processual. Porém, a dimensão processual dela se confunde com o devido processo legal. É inegável que a experiência da dignidade da pessoa humana fez com que uma série de dispositivos ao longo do novo CPC fosse pensada como forma de tutelar a dignidade da pessoa humana. Aparece aqui para iluminar a interpretação do novo CPC. O novo CPC traz uma série de regras tendentes a concretizar a dignidade da pessoa humana, tais como:
Língua brasileira de sinais é uma regra (já mencionado acima).
Regra grande de bens impenhoráveis: O executado tem direito a um patrimônio mínimo.
Regra de prioritária de processos para pessoas com doenças gravesHumanização da interdição. Terá uma aula só para ela, porque a interdição foi muito mudada.
É um dos únicos artigos de lei que se refira expressamente à dignidade da pessoa humana, proporcionalidade e razoabilidade. A lei de processo administrativo só se refere à proporcionalidade.
3ª) a legalidade, a publicidade e a eficiência - Todos se lembram do artigo 37, da Constituição Federal. É o artigo que cuida dos princípios do Direito Administrativo. O que isso tem a ver com o processo?
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
O legislador se inspirou no artigo 37, da Constituição Federal, para colocar na parte final do artigo 8º do novo CPC. Só que o novo CPC não menciona a moralidade e a impessoalidade. Isso porque a impessoalidade no âmbito do processo já é o juiz natural. Já a moralidade, no âmbito do direito administrativo, confunde-se com boa-fé. Por isso, não foram mencionados no dispositivo a impessoalidade e a moralidade. 
A legalidade no novo CPC tem uma sutileza. A LINDB fala em: “ao aplicar a lei” e o novo CPC fala em “ordenamento jurídico”. Ora, a lei não é a única fonte de direito, havendo outras fontes normativas. Daí porque o novo CPC pegou o texto da LINDB e o corrigiu. Antes, na década de 40, a lei era a única fonte do direito e substituiu isso por ordenamento jurídico. Para deixar claro que o juiz aplica o direito como um todo e não apenas a lei. O legislador menciona princípio da legalidade como se a lei fosse a única fonte do direito. Esse novo CPC ajuda na reconstrução do que seja princípio da legalidade. 
Assim, o princípio da legalidade não comprrende só a lei, mas também é composto pela Constituição, pelas resoluções do CNJ, CNMP, precedentes judiciais. Os precedentes judiciais no novo CPC têm força obrigatória, compondo o direito, ao lado da lei, da CF/88, das normas administrativas, contratos. O princípio da legalidade tem que ser repensado. É princípio de respeito ao direito e não apenas respeito à lei. E o próprio art. 8º deixa isso claro ao mencionar o termo “ordenamento”.
Aula 6 – Normas Fundamentais (continuação do tópico nº 1)
Princípio da eficiência do processo: Em que consiste o princípio da eficiência aplicado ao processo? O princípio da eficiência pode ser uma norma de direito administrativo. Repercute no Poder Judiciário como entidade administrativa. O princípio da eficiência como norma de direito processual recai sobre o juiz enquanto administrador de um processo. Não é o Poder Judiciário como ente administrativo. É uma atividade administrativa relacionada a um processo. 
Recai na figura do juiz como administrador de um determinado processo, observando a eficiência. Observar a eficiência é, de um lado, obter o máximo de uma finalidade com o mínimo de recursos. Da mesma forma, é preciso atingir essa finalidade da melhor forma possível. Percebe-se, assim, uma relação entre o princípio da eficiência e o velho e bom princípio da economia processual. Em que medida eles se distinguem? O princípio da eficiência é o velho princípio da economia processual com outro nome e remodelado. Muda-se o nome de um princípio tão antigo por duas razões:
1ª) Mudança de nome por opção legislativa, visto que começa pela previsão constitucional.
2ª) Mudando o nome para eficiência traz junto toda carga que já existe no direito administrativo no sentido de impor ao juiz um dever de gerir bem o processo, de acordo com as boas práticas da administração. Eficiência é a nova modelagem do princípio da economia processual. Isso faz com que os juízes apliquem as melhores técnicas de administração. Não é por acaso que os magistrados recebem curso de gestão. O Brasil tem um problema sério de gestão de causas repetitivas. 
Como eu aplico isso na prática? Em primeiro lugar, o princípio da eficiência vai servir como princípio de interpretação das leis processuais. Vai entrar como balanceamento dos diversos princípios. O valor eficiência será colocado no bolo, a ser ponderado. A partir do princípio da eficiência, é possível o juiz fazer adequações atípicas no processo. Promover ajustes no processo, sem previsão legal. Parece muito claro a possibilidade de reunir processos, mesmo que não sejam conexos, se por acaso eles precisarem de uma mesma prova pericial (não há conexão legal, somente uma conexão probatória). O princípio da eficiência serve para esse tipo de interpretação. 
Qual é a diferença entre eficiência e efetividade? Eficiência tem a ver com gestão, com administração de recursos humanos e financeiros. Efetividade tem a ver com resultado. O processo pode ter sido efetivo, sem ter sido eficiente (ex: estádios da copa do mundo). O processo entregou o resultado, mas foi muito caro. Não há como dizer que o processo foi eficiente sem efetividade. Um processo inefetivo não pode ser considerado eficiente.
O art. 12 traz uma nova norma fundamental, qual seja, a regra de respeito à ordem cronológica de conclusão.
Art. 12. Os juízes e os tribunais deverão obedecer atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão.
§ 1º A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores.
§ 2º Estão excluídos da regra do caput:
I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido;
II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos;
III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas;
IV - as decisões proferidas com base nos arts. 483 e 931; V 􏰀 o julgamento de embargos de declaração;
VI - o julgamento de agravo interno;
VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça;
VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal;
IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada.
§ 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusões entre as preferências legais.
§ 4º Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1º, o requerimento formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência.
§ 5º Decidido o requerimento previsto no § 4o, o processo retornará à mesma posição em que anteriormente se encontrava na lista.
§ 6º Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1º ou, conforme o caso, no § 3º, o processo:
I - que tiver sua sentença ou acordão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de diligência ou de complementação da instrução;
II - quando ocorrer a hipótese do art. 1.039, inciso II.
Cria-se a regra de respeito à ordem cronológica de conclusão. Agora, juízes e tribunais deverão julgar de acordo com a conclusão da cronologia do processo. A conclusão será pública, para permitir a fiscalização. Vem prestigiar o princípio da igualdade. Impedir favorecimentos. De outro lado, prestigiar a duração razoável do processo. Se o processo está concluso há muito tempo, devem ser julgados primeiro.
Essa regra somente se aplica às sentenças ou decisões finais. Ou seja, para decisões interlocutórias e acórdãos interlocutórios, não há que respeitar a ordem cronológica dos processos. Ainda, têm que lembrar o seguinte: Há algumas exceções a essa regra. Há casos em que se permite que o juiz decida fora da ordem cronológica de conclusão, casos esses listados no §2º do referido artigo:
I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido;Lembrar que a improcedência liminar é decisão de mérito
II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos;
O juiz não precisa respeitar a ordem cronológica se ele aplicar a tese firmada em julgamento de causas repetitivas.
III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; 
O incidente de resolução de demandas repetitivas e o julgamento de recursos repetitivos devem ser julgados independentemente de ordem de conclusão. Passam na frente de tudo, mesmo que ele não seja o primeiro na ordem de conclusão. É dar preferência ao julgamento dos casos repetitivos.
IV - as decisões proferidas com base nos arts. 483 e 931; 
Os casos de extinção do processo sem exame de mérito (indeferimento da inicial, extinção por desistência ou por abandono) e casos de julgamento monocrático de relator.
V - o julgamento de embargos de declaração; 
Se o juiz sentenciou e houve embargos, não há de respeitar a ordem cronológica só porque houve o manejo desse recurso.
VI - o julgamento de agravo interno;
VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; 
O propósito aqui é prestigiar as metas do CNJ (ex: julgar processos de 2005).
VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal; 
Caso o juiz tenha competência mista, os processos criminais não precisam observar a ordem cronológica.
IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada. 
É uma forma de encerrar a lista de exceções. Sempre que o caso concreto há urgência, pode quebrar a fila da ordem de conclusão. Mal aplicado esse inciso, pode acabar com a cronologia (obs: possibilidade de flexibilização ilegítima).
§ 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusões entre as preferências legais.
É preciso estabelecer uma lista própria de cronologia entre as preferências legais. Mais ou menos o que é feito com os precatórios comuns e alimentares (art. 100 da CF) 
§ 4º Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1º, o requerimento formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência.
O processo está concluso. Uma parte entra com um requerimento para tirar da conclusão. Porém, isso não tira o processo da lista.
§ 5º Decidido o requerimento previsto no § 4o, o processo retornará à mesma posição em que anteriormente se encontrava na lista.
§ 6º Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1º ou, conforme o caso, no § 3º, o processo:
I - que tiver sua sentença ou acordão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de diligência ou de complementação da instrução;
A sentença anulada por tribunal, volta pro primeiro lugar da fila.
II - quando ocorrer a hipótese do art. 1.039, inciso II (cuida da aplicação da tese firmada em recurso repetitivo).
Para arrematar o art. 12, necessários a análise de dois artigos conexos:
Art. 153. O escrivão ou chefe de secretaria atederá, preferencialmente, à ordem cronológica de recebimento para publicação e efetivação dos pronunciamentos judiciais.
§ 1º A lista de processos recebidos deverá ser disponibilizada, de forma permanente, para consulta pública.
§ 2º Estão excluídos da regra do caput:
I - os atos urgentes, assim reconhecidos pelo juiz no pronunciamento judicial a ser efetivado;
II - as preferências legais.
§ 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica de recebimento entre os atos urgentes e as preferências legais.
§ 4º A parte que se considerar preterida na ordem cronológica poderá reclamar, nos próprios autos, ao juiz da causa, que requisitará informações ao servidor, a serem prestadas no prazo de dois dias.
§ 5º Constatada a preterição, o juiz determinará o imediato cumprimento do ato e a instauração de processo administrativo disciplinar contra o servidor.
Há de ter a observância da cronologia no cartório judicial. O §4º, do artigo 139, do novo CPC estabelece um procedimento da preterição. Suscita uma dúvida: E se o juiz preterir? Para Fredie, não poderá ser invalidada essa sentença por isso. O prejudicado é um terceiro, e não alguma das partes. Daí caberá conseqüência disciplinar para o juiz. Todavia, o desrespeito à ordem cronológica pode ser utilizado como fundamento de suspeição do juiz. Constatada a suspeição, o ato poderá ser invalidado. 
Art. 1045. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
§ 5º A primeira lista de processos para julgamento em ordem cronológica observará a antiguidade da distribuição entre os já conclusos na data da entrada em vigor deste Código.
Quando o novo CPC entrar em vigor, vai se pegar todos os processos conclusos e organizá-los pela ordem de distribuição. Pegam-se todos os processos conclusos e organizam-se os processos pela ordem de distribuição.
Outra norma fundamental que merece ser analiada, mas que não está nos 12 primeiros artigos do novo CP,: é o princípio do respeito ao autoregramento da vontade no processo. Esse princípio quer dizer que o processo, para ser considerado devido, não pode ser um ambiente hostil ao exercício da liberdade. O poder de autoregular-se é um poder inerente à liberdade. O processo tem que ser um ambiente de exercício da autonomia privada. O processo não pode conter restrições irrazoáveis ao exercício de autoregramento. O processo tem que ser um ambiente propício para exercício da liberdade. 
É claro que a autonomia privada é exercida com mais limites do que é exercida no âmbito extrajudicial. A regra é a liberdade, o autoregramento. É claro que há restrições, mas tais restrições partem da presmissa de que a regra é a liberdade. Esse princípio está espalhado ao longo de todo o Código. 
Vai mostrar algumas demonstrações de que esse novo CPC é estruturado com base no princípio:
1ª) O novo CPC prevê um estímulo a autocomposição. 
2ª) audiência de tentativa de conciliação logo no início.
3ª) permite-se homologação judicial de acordo de qualquer natureza.
4ª) no acordo processual, posso incluir outros sujeitos e outras lides.
5ª) o novo CPC consagra uma cláusula geral de negociação geral. Permite que as partes formulem qualquer acordo sobre o processo. É uma das maiores novidades do novo CPC. 
O novo CPC prevê uma série de negócios processuais típicos: calendário processual, convenção sobre ônus da prova, saneamento consensual, escolha consensual de perito, mudança convencional de audiência, escolha convencional do tipo de liquidação, o novo CPC dedica um capítulo inteiro sobre mediação e conciliação, o novo CPC consagra a arbitragem como meio jurisdicional, princípio da cooperação, que está intimamente relacionado à valorização da participação das partes no processo. 
Não há como pensar no novo CPC sem partir da premissa de que ele é um Código que prestigia a manifestação de vontade das partes. Um processo devido é um ambiente propício de manifestação de vontade das partes. É um pilar do novo CPC.
Outro tópico a ser analisado se trata de uma regra antiga, que precisa ser reexaminada: artigo 2º, do novo CPC.
Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei.
A novidade é implícita. Uma das possíveis exceções ao impulso oficial é o acordo entre as partes para modular isso. Daí, o impulso oficial tem que ser repensado em razão do princípio do autoregramento da vontade das partes. Um caso clássico de exemplo de exceção do artigo 2º era o de que o inventário pode ser começado de ofício. Essa clássica regra não existe mais.
Ademais, essa regra do impulso oficial não impede que a parte autora desistada causa, como sempre lhe foi permitido. 
Aula 7 – Normas fundamentais (continuação do tópico de nº 1)
Princípio da Cooperação:
Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
O princípio da cooperação tem por objetivo de transformar o processo em um ambiente cooperativo. Significa transformar o processo em uma comunidade de trabalho, em que vigore a lealdade e o equilíbrio entre os sujeitos do processo. Os sujeitos do processo ficam na mesma posição, de forma equilibrada. Nessa linha, está também o juiz e as partes. O objetivo do princípio da cooperação é estabelecer um modelo de processo cooperativo. 
Ficam entre dois extremos: de um lado, um modelo em que haja preponderância da figura do juiz, que é o modelo publicista, que conduz o processo de forma ativa e também decide. É aquela ideia do juiz ter muitos poderes, a despeito das partes. De outro extremo, é o processo adversarial, em que a proeminência é das partes. A condução do processo é tarefa das partes e o juiz cabe somente decidir. O princípio da cooperação vem no meio termo. Impõe que os sujeitos do processo dialoguem. Entre eles, haja equilíbrio durante a tramitação do processo. Essa tramitação do processo se dê com lealdade. O princípio da cooperação é corolário do princípio da boa-fé. O princípio da cooperação vem logo depois da boa-fé. Se a gente quiser buscar a origem remota do princípio da cooperação, vai encontrar do desenvolvimento na cláusula geral de boa-fé do direito alemão. 
A boa-fé gera deveres de cooperação. Nos estudos de direito civil, são os deveres anexos da boa-fé. O desenvolvimento do princípio da boa-fé processual gerou os deveres de cooperação processual, que são deveres de todos os sujeitos do processos, das partes e do juiz. Por isso, o novo CPC diz que os sujeitos do processo devem cooperar entre si. Cooperar é agir em conformidade com os deveres decorrente da boa-fé. São deveres objetivos. Deveres de não atrapalhar. São deveres de não transformar o processo em um ambiente de guerra, hostil. Tem por objetivo transformar o processo em um ambiente de diálogo e equilíbrio.
 Cada um tem suas idéias, suas intenções. O palco da luta, que é o processo, tem que ser um palco bom. Tem que ser um ambiente propício para que a briga se estabeleça de acordo com ética, com regras que permitam que a solução final seja rápida e justa. Tem por objetivo transformar o processo em um ambiente propício a um diálogo profundo e equilibrado, além de leal. É exatamente que os deveres da cooperação pretendem.
O princípio da cooperação geram para o juiz alguns deveres:
a) Dever de consulta: é um dever inerente a um processo cooperativo. Transforma o processo em um ambiente cooperativo, ambiente de diálogo, equilibrado. Vou dialogar para que o processo seja o melhor ambiente possível. Com isso, melhora a qualidade do debate. Está expressamente previsto no novo CPC.
b) Dever de prevenção: é um dever geral decorrente do princípio da cooperação. O juiz tem o dever de apontar as falhas do processo. O juiz tem o dever de previnir as partes e de apontar o defeito processual, dizendo como deve ser corrigido. O artigo 6º diz que o juiz tem o dever de que haja uma decisão de mérito justa e efetiva, evitando uma decisão sem julgamento do mérito.
c) Dever de esclarecimento: revela-se de duas formas:
1ª) dever de dar decisões claras.
2ª) dever de pedir esclarecimento da parte se ele não compreender a postulação. Se a parte não esclarecer, ele indefere. Ele não pode, de plano, indeferir o pedido.
Há quem defenda um quarto dever, que seria o dever, por parte do juiz, de auxílio na remoção de obstáculos formais ou de mérito: é um dever muito consagrado no direito alemão e austríaco. Fredie entende que não há dever geral do juiz ser auxiliar das partes. O máximo que o juiz pode fazer é zelar pelo contraditório. No Brasil, a postulação é por advogado e por Defensor Público, não podendo o juiz interferir nisso (possível exceção: juizados especiais e justiça do trabalho).
Já há muita coisa escrita sobre o princípio da cooperação no Brasil, porque todos defendiam o princípio da cooperação antes do artigo 6º. O artigo 6º define o modelo de processo: não é publicista, nem liberal. Cooperação e autoregramento estão intimamente ligados. 
Tópico nº2 : Norma processual (temas gerais)
O novo CPC tem vacatio de 1 ano, entendendo o STJ que, pela LC 95, o dia de vigência deve ser considerado como o dia 18 de março de 2016. O novo CPC se aplica, subsidiariamente, ao Processo do Trabalho, Processo Administrativo e Processo Eleitoral. Muitas das novidades do novo CPC serão incorporadas no Processo do Trabalho.
Exemplo de aplicação do novo CPC em outras áreas: o novo diploma processual traz a possibilidade da distribuição dinâmica do ônus da prova. Por isso, seria possível a distribuição dinâmica do ônus da prova no processo administrativo. 
Noutro aspecto, o novo CPC elimina o procedimento sumário, ficando somente o procedimento comum, que não mais se chamará ordinário. O fim do procedimento sumário gera um problema: e as causas de rito sumário que estiverem em andamento? Continuam pelo rito sumário até a sentença. 
Ademais, muitas leis extravagantes faziam referência ao procedimento sumário: Lei de usucapião especial, Lei da Ação discriminatória. Remetiam a um procedimento que não existe mais. Todas as remissões feitas ao procedimento sumário feitas na legislação extravagante consideram-se como remissões feitas ao procedimento comum. 
O novo CPC tem muitas novidades. Agora, o novo CPC tem também muitas pseudonovidades. São os textos novos que consagram normas já existentes. Trata-se de texto novo de norma antiga, que não é norma nova. 
Por exemplo, o artigo 10 estabelece o dever de consulta. Decorre do contraditório. O dever de consulta vale no CPC de 73. Só que o novo CPC coloca um texto novo para ele. É uma pseudonovidade. Coloca em texto uma norma que já existia. Pseudonovidades continuam valendo. O dever de consulta já é aplicado antes da vigência do novo CPC. Nem tudo que sai do novo CPC é novo, podendo ser aplicado desde já.
Por fim, necessária a análise do artigo 14:
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas (direitos processuais) consolidadas sob a vigência da norma revogada.
Todas as normas processuais vão se aplicar aos processos em andamento. Como o processo é um conjunto de atos, os atos a praticar serão afetados pela norma nova. Os atos praticados naquele processo são atos jurídicos perfeitos e, como tais, não são afetados pela norma nova. Do mesmo modo, as situações jurídicas são os direitos. Direitos processuais já consolidados não podem ser afetados pela lei nova. Ex: o Novo CPC reduz de prazo em quádruplo para o prazo em dobro para os entes públicos. Se o novo CPC começa a viger durante o prazo em curso, o poder público poderá contestar em quádruplo. Se já há direito a um recurso consolidado, que foi extinto pelo novo CPC, o novo CPC não poderá afetar isso. 
Aula nº 8 - Tópico nº 3 - Competência
Mudanças do novo CPC na parte de competência:
Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.
Mudança da perpetuação da jurisdição. Regra de perpetuação é aquela que diz o seguinte: a causa deve se perpetuar naquele juízo. Fatos supervenientes não vão alterar a competência onde a causa está. O artigo 43, do novo CPC, destaca duas mudanças sobre a data dessa estabilização: 
1ª) a do registro onde não houver mais de uma vara.
2ª) distribuição da petição inicial: onde houver mais de uma vara.
No sistema do CPC/73 a data de fixação da competência é a data da propositurada Ação. A data da propositura da ação, no novo CPC, é a data da do protocolo. A fixação da competência se dá pela data do registro ou pela data da distribuição. Data do protocolo é a data em que a Ação é proposta. 
O CPC/73 falava na parte final dizia: alterarem competência em razão da matéria ou da hierarquia. Matéria e hierarquia são espécies de competência absoluta. Assim, no novo CPC, qualquer mudança de competência absoluta é fator de quebra da perpetuação da jurisdição. O Novo CPC encampa essa mudança, que já era trazida pela doutrina.
Outra mudança ocorrida pelo novo CPC se dá na cumulação de pedidos:
Artigo 45, § 1º Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação seja de competência do juízo junto ao qual foi proposta a ação.
§ 2º Na hipótese do § 1º, o juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos em razão da incompetência para apreciar qualquer deles, não apreciará o mérito daquele em que exista interesse da União, suas entidades autárquicas ou empresas públicas.
Se há cumulação de pedidos, um pedido para o qual a JF é competente e outro para o qual a JF não é competente, o juiz deve não admitir a cumulação e processar apenas o pedido para o qual ele é competente. Ele não vai remeter os autos. O autor que trate de formular o pedido no juízo competente.
Outra mudança é que o novo CPC consagra a súmula 224 do STJ. Trata-se de súmula antiga que regulava as relações entre Justiça Estadual e Federal. 
Artigo 45, § 3º O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for excluído do processo.
Súmula 224, do STJ: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.”
Imagine que um Juiz Estadual receba um pedido para o qual ele tenha competência. Vem a União e pede para intervir no processo. O Juiz estadual não pode fazer nada. Tem que remeter o processo para o JF. Se não for caso de intervenção da União, o juiz federal deverá restituir o processo e não suscitar conflito. 
Outra novidade: competência para as ações de inventário.
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente o foro de situação dos bens imóveis (o cpc de 73 falava em bens em geral); havendo bens imóveis em foros diferentes, é competente qualquer destes; não havendo bens imóveis, é competente o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
Houve a menção da partilha extrajudicial que não existia no CPC/73. Há uma gradação e esclarecimento que o CPC/73 não fazia, o que é feito no Parágrafo único, do artigo 48. 
Outra mudança:
Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União; sendo esta a demandada, poderá a ação ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.
É a reprodução de um texto da Constituição.
Art. 52. As causas em que Estado ou o Distrito Federal for autor serão propostas no foro de domicílio do réu; sendo réu o Estado ou o Distrito Federal, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado.
Esse artigo é novidade, visto que é um espelho do texto constitucional. 
Outra mudança: O artigo 100 do CPC de 73 traz diversas regras de competência territorial. É o equivalente do artigo 53, do novo CPC. Ele atualiza o artigo 100, do CPC/73 e traz três novidades:
Art. 53. É competente o foro:
I -- de domicílio do guardião de filho incapaz, para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento, reconhecimento ou dissolução de união estável; caso não haja filho incapaz, a competência será do foro de último domicílio do casal; se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal, será competente o foro de domicílio do réu; 
Antes, dizia que o foro era do domicílio da mulher, partindo do pressuposto que a mulher estava no ponto de vista inferior em relação ao marido. Agora, a regra é propor no domicílio do guardião. Se a guarda for compartilhada, a regra é no domicílio do réu, porque ambos são guardiães. Atualmente a guarda compartilhada é a regra. Se não houver filho incapaz, a competência será no último domicílio do casal. Se nenhum dos membros do casal residir no último domicílio, será no foro do domicílio do réu. A preferência é a proteção do incapaz e não do cônjuge ou do companheiro.
 
III - do lugar:
e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto;
Se um idoso vai a juízo para garantir um direito exclusivo como idoso, garantido como idoso, tem a garantia de propor a Ação onde ele mora. É uma regra de competência relativa. É um benefício e não uma imposição. Só vale para as Ações individuais. Ações coletivas seguem a regra do estatuto do idoso, que, apesar de dizer ser a mesma absoluta pelo domicílio do idoso, entende-se que a competência é a do local ou do fato que causou a ação. Com essa regra, o artigo 80, do Estatuto do IDOSO, só se aplica às causas coletivas relativas aos idosos. Para as causas individuais, aplica-se o artigo 53, III, e.
f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício;
O foro da sede onde está o cartório é competente para as Ações de reparação de dano praticados pelo cartorários. Não existia regra semelhante.
Outra mudança: conexão e na continência: artigos 55 e 57 do novo CPC. Quanto à conexão:
Art. 55. Reputam-se conexas duas ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
§ 1º Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado.
Houve uma mudança técnica, tirando objeto, colocando pedido. O trecho final do §1º é a consagração da súmula 235 do STJ.
Súmual 235: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.
Ainda sobre conexão (art. 55, §2º):
§ 2º Aplica-se o disposto no caput:
I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico;
II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.
Se houver conexão entre Ação de conhecimento e Ação de execução, tem que ser reunidas. Ademais, tem-se a previsão da conexão do §3º do art. 55:
§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididas separadamente, mesmo sem conexão entre eles.
Cria-se, aqui, um outro caso de conexão, que é a conexão por prejudicialidade. Já era admitida pela jurisprudência e pela doutrina. O conceito de conexão do CPC/73 era insuficiente. Era preciso pensar outros casos de conexão. O objetivo foi não ter discussão se tem ou não conexão. Encerram-se, pois, 40 anos de discussão.
Sobre a continência, vejamos o art. 57:
Art. 57. Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, o processo relativo à ação contida será extinto sem resolução de mérito; caso contrário, as ações serão necessariamente reunidas.
Conceito de continência: mesmas partes, mesma causa de pedir, mas o pedido de um abrange o da outra. Eu proponho a Ação maior primeiro. Proponho a Ação menor depois. A menor se extingue. Se eu proponho uma Ação menor primeiro e a maior depois ela se reúnem. Nem sempre a continência vai gerar reuniãodos processos. A continência só vai gerar reunião dos processos se a causa maior for ajuizada depois. 
Sobre a prevenção, tem-se que as causas conexas devem ser reunidas no juízo prevento. No CPC/73, existem dois critérios de prevenção: 1) Despacho inicial: na mesma competência territorial; 2) citação válida: se as causas conexas estiverem em competências territoriais distintas. 
O novo CPC unificou as causas de prevenção no artigo 59, só havendo um critério de determinação do juízo prevento: 
Art. 59. O registro ou distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.
O mesmo fato que gera a perpetuação gera a prevenção.
Outra mudança do novo CPC quanto à competência: Foro de eleição. Duas mudanças significativas, sendo elas:
1ª mudança:
Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação.
§ 1o Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional exclusiva previstas neste Capítulo.
§ 2º Aplicam-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1o a 4o.
O foro de eleição internacional não viola a legislação brasileira, exceto nas hipóteses de competência internacional exclusiva.
2ª mudança: houve a disciplina do foro de eleição abusivo. Essa disciplina está nos §§3º e 4º do artigo 63, do novo CPC.
§ 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz se abusiva, hipótese em que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu.
§ 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão.
Fala-se de foro de eleição em qualquer contrato, diferente do CPC/73, que falava só contrato de adesão. Antes da citação, o juiz pode considerar a cláusula de eleição de foro. Se o réu foi citado e não alegou a abusividade, haverá preclusão e nada mais se poderá fazer. 
Por fim, seguem adiante outras mudanças pontuais acerca da competência processual ocorridas no novo CPC:
a) a incompetência, qualquer que seja ela, vai ser alegada na contestação. Antes, no CPC/73, a incompetência relativa era alegada na exceção de incompetência.
b) qualquer alegação de incompetência pode ser feita no domicílio do réu, e não só a relativa, como no CPC de 73.
c) O CPC/15 deixa claro que o MP, fiscal da ordem jurídica, vai poder alegar incompetência relativa, mas somente nos casos em que ele intervier. 
d) A incompetência absoluta não implica nulidade automática do ato decisório, como faz o CPC de 73. Preserva-se a decisão do juiz absolutamente incompetente. Cabe ao juiz que assumir o processo o que fazer com a decisão do juiz absolutamente incompetente. Isso porque aposta-se na preservação do processo.
e) O CPC/15 deixa claro que a decisão sobre competência deve ser feita imediatamente pelo juiz. O juiz não pode esperar para decidir sobre competência. A decisão do juiz sobre competência tende a ser uma decisão interlocutória. Contra as decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento nas hipóteses que ele lista e as decisões sobre competência não estão na lista. Qual é o recurso cabível? Para Fredie, o rol das hipóteses de cabimento é taxativo, mas nada impede a interpretação por analogia. A decisão sobre competência é agravável, porque essa lista diz expressamente o seguinte: decisão que rejeita alegação de convenção de arbitragem é agravável por agravo de instrumento. É uma decisão essencialmente sobre competência. Daí, situação que rejeita alegação de incompetência cabe agravo de instrumento. 
f) O MP não intervirá em qualquer conflito de competência. Só intervirá em conflito em que atuar. Deixa-se claro que o juiz que não aceitar o processo declinado por outro deve suscitar o conflito. O novo CPC deixa claro que o relator do conflito de competência pode julgar monocraticamente em algumas hipóteses:
Artigo 954, Parágrafo único. O relator poderá julgar de plano o conflito de competência quando sua decisão se fundar em:
I - súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
II - tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência.
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