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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA Unidade 3 Fundamentos do Pensamento Sociológico CEO DAVID LIRA STEPHEN BARROS DIRETORA EDITORIAL ALESSANDRA FERREIRA GERENTE EDITORIAL LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS PROJETO GRÁFICO TIAGO DA ROCHA AUTORIA SILVIA CRISTINA DA SILVA 4 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 A U TO RI A Silvia Cristina da Silva Olá. Sou CEO na empresa Modular Criativo - produtora de conteúdos didáticos; Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pelo Centro Universitário de Ensino Octávio Bastos, UNIFEOB; Mestre Interdisciplinar em Educação, Ambiente e Sociedade das Faculdades Associadas de Ensino - UNIFAE, atuando na linha de pesquisa em Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. Participação discente em Seminários e Palestras no Mestrado Acadêmico em Análise do Discurso na Universidade Federal de Buenos Aires; Especialista em Docência no Ensino Superior e em Direito e Educação (FCE). Atua como Consultora Jurídica e Fiscal e Investigadora de Antecedentes para o exterior (México e Argentina), Docente, Tutora e Conteudista para cursos de graduação e pós-graduação, Elaboradora de Questões para Concursos Públicos, Redatora, Tradutora e Intérprete da Língua Espanhola e Portuguesa, Degravadora e Transcritora de áudios e textos. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! 5SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 ÍC O N ES 6 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 SU M Á RI O Revoluções sociológicas nos séculos XVIII e XIX .................... 9 A era das revoluções: um panorama das transformações do século XVIII e XIX ........................................................................................................................... 9 A sociologia e as revoluções: interpretações e perspectivas .................... 14 Implicações Socioculturais das Revoluções dos Séculos XVIII e XIX ......... 18 Conhecimento científico sociológico ................................... 25 A Ciência da Sociedade: Fundamentos e Métodos do Conhecimento Científico Sociológico .......................................................................................25 Aplicação do Conhecimento Científico Sociológico na Análise de Fenômenos Sociais ............................................................................................30 Desafios e Limitações do Conhecimento Científico Sociológico ............... 35 Auguste Comte e Émile Durkheim ........................................ 41 Auguste Comte: o pensador do Positivismo na Sociologia ...................... 41 Émile Durkheim: fundamentos da sociologia como ciência ...................... 48 Críticas e debates sobre o Positivismo e sua influência na produção do conhecimento sociológico ...............................................................................54 Pressupostos teóricos e metodologias da Sociologia .......... 58 Pressupostos teóricos fundamentais da Sociologia: estruturalismo, interacionismo simbólico e conflito ...............................................................58 Metodologias de pesquisa Sociológica: qualitativa, quantitativa e mistas ...................................................................................................................63 Aplicação dos pressupostos teóricos e metodológicos da Sociologia na análise de desigualdades sociais e transformações ................................... 66 7SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 A PR ES EN TA ÇÃ O Seja bem-vindo à Unidade 3 de Sociologia e Antropologia. Nesta etapa de nossa jornada, vamos mergulhar nas origens e nos princípios fundamentais do pensamento sociológico, um campo fascinante de estudo que transformou, profundamente, nossa compreensão do mundo e de nós mesmos como seres sociais. Nosso primeiro capítulo vai conduzi-lo através das revoluções sociológicas dos séculos XVIII e XIX, um período crucial de transformação social e intelectual que pavimentou o caminho para o desenvolvimento da sociologia como disciplina científica. Exploraremos as grandes mudanças sociais e as ideias revolucionárias que marcaram esse período e como moldaram o pensamento sociológico moderno. No segundo capítulo, abordaremos o conhecimento científico sociológico, focando a metodologia e a prática da pesquisa sociológica. Discutiremos o que torna a sociologia uma ciência e como os sociólogos usam métodos científicos para estudar a sociedade. Em seguida, no terceiro capítulo, destacaremos duas figuras fundamentais para o desenvolvimento da sociologia: Auguste Comte e Émile Durkheim. Analisaremos suas principais teorias e contribuições para a disciplina e o impacto duradouro de suas ideias no campo da sociologia. Por fim, no quarto capítulo, exploraremos os pressupostos teóricos e as metodologias da sociologia. Vamos abordar as principais correntes de pensamento sociológico e as várias abordagens metodológicas que os sociólogos utilizam em sua prática de pesquisa. Por meio deste estudo, esperamos que você desenvolva uma compreensão mais profunda e crítica das dinâmicas sociais, das desigualdades e das transformações na sociedade. Prepare- se para um fascinante mergulho no mundo da sociologia. Vamos, juntos, nessa jornada de descoberta e aprendizado. Avante! 8 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 O BJ ET IV O S Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos. 1. Definir e aplicar os conceitos e as perspectivas sociológicas no estudo das revoluções científicas, políticas e econômicas dos séculos XVIII e XIX, bem como as implicações socioculturais desses processos históricos. 2. Discernir sobre os métodos e conceitos do conhecimento científico sociológico para aplicá-los na análise de fenômenos sociais. 3. Compreender, criticamente, os precursores da sociologia, como Auguste Comte e Émile Durkheim, para refletir sobre as críticas e os debates em torno do positivismo e sua influência na produção do conhecimento sociológico. 4. Aplicar os pressupostos teóricos e metodológicos da sociologia na análise de fenômenos sociais para uma discussão mais aprofundada das dinâmicas sociais, das desigualdades e das transformações na sociedade. 9SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Revoluções sociológicas nos séculos XVIII e XIX OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funciona a intersecção entre a sociologia e as revoluções científicas, políticas e econômicas dos séculos XVIII e XIX. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, particularmente se você trabalha ou pretende trabalhar em campos que requerem uma compreensão profunda das dinâmicas sociais e históricas, como a educação, o serviço social, a política e o jornalismo. As pessoas que tentaram analisar os eventos históricos e suas implicações socioculturais sem a devida instrução tiveram problemas ao não conseguir compreender, plenamente, as complexidades e as nuances desses processos. Sem um entendimento adequado das perspectivas sociológicas, torna- se difícil analisar os impactos e as ramificações duradouras dessas revoluções históricas. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! A era das revoluções: um panorama das transformações do século XVIII e XIX Os séculos XVIII e XIX foram marcados por intensas transformações que redefiniram a organização da sociedade, da economia e da política em escala global. Essa foi a “Era das Revoluções”, um período de transição que, segundo Hobsbawm (2009), moldou o mundo como o conhecemos hoje. 10 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 As revoluções científicas desseassim como a ênfase na análise dos fenômenos sociais em termos de causas e consequências, ainda são temas relevantes nas discussões sociológicas atuais. Além disso, Comte e Durkheim nos lembram da importância de se considerar a sociedade como objeto de estudo, compreendendo estruturas, normas e valores, bem como a influência dos processos sociais em ações e comportamentos individuais. Suas contribuições permitem a reflexão crítica sobre os fundamentos da sociologia e sobre como o conhecimento científico sociológico pode auxiliar na compreensão e na transformação da realidade social. 56 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Portanto, ao reconhecer a relevância de Comte e Durkheim, somos incentivados a aprofundar nossa compreensão sobre as teorias e as metodologias da sociologia, ampliando, assim, nosso repertório intelectual e crítico para analisar os fenômenos sociais e contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que Auguste Comte e Émile Durkheim são dois dos precursores fundamentais da sociologia cujas contribuições são essenciais para compreender a formação e o desenvolvimento dessa disciplina científica. Comte, com sua abordagem positivista, trouxe a proposta de uma sociologia baseada em leis e no método científico, buscando estabelecer uma ciência social que pudesse explicar e prever os fenômenos sociais. Por sua vez, Durkheim contribuiu para a consolidação da sociologia como uma disciplina autônoma, desenvolvendo conceitos-chave e um método sociológico rigoroso baseado na análise dos fatos sociais e em uma perspectiva objetiva. Além disso, ao refletir sobre o positivismo e sua influência na produção do conhecimento sociológico, pudemos compreender as críticas e os debates em torno dessa abordagem. Questionamentos sobre a objetividade absoluta, a consideração dos aspectos subjetivos da realidade social e a influência das estruturas sociais nas ações individuais são elementos importantes nesse contexto. 57SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Ao estudar os precursores da sociologia e refletir sobre o positivismo, torna-se possível compreender, criticamente, as bases teóricas e metodológicas dessa disciplina e perceber que as ideias de Comte e Durkheim ainda provocam debates e desafios no campo sociológico contemporâneo. Agora que você assimilou as principais ideias e os debates deste capítulo, está preparado para aprofundar seus conhecimentos na área e contribuir para o desenvolvimento de uma sociologia crítica, reflexiva e comprometida com a compreensão e a transformação da sociedade. Vamos em frente, pois ainda há muito a aprender e descobrir sobre os fundamentos do pensamento sociológico! 58 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Pressupostos teóricos e metodologias da Sociologia OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funcionam os pressupostos teóricos e metodológicos da sociologia. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, seja você um cientista social, um trabalhador do setor público, um jornalista, um líder comunitário ou qualquer outro profissional que necessite entender e analisar as dinâmicas da sociedade. As pessoas que tentaram compreender e analisar fenômenos sociais complexos, desigualdades e transformações na sociedade sem a devida instrução tiveram problemas ao negligenciar o impacto das estruturas sociais, a importância da construção de significados na interação social e o papel do conflito na formação e na mudança da sociedade. Além disso, muitas vezes, não sabiam como coletar e interpretar dados de forma eficaz ou como aplicar teorias sociológicas na prática. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Pressupostos teóricos fundamentais da Sociologia: estruturalismo, interacionismo simbólico e conflito A sociologia, enquanto disciplina, apresenta uma variedade de pressupostos teóricos, sendo que cada um oferece uma lente distinta através da qual podemos entender e analisar a sociedade. Neste capítulo, vamos explorar três das abordagens teóricas mais influentes na sociologia: o estruturalismo, o interacionismo simbólico e a teoria do conflito. 59SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 O estruturalismo, como argumenta Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia, é centrado na ideia de que a sociedade é maior do que a soma de suas partes e que as estruturas sociais têm um papel central em moldar o comportamento humano (DURKHEIM, 2013). Segundo essa perspectiva, os fenômenos sociais devem ser analisados não apenas em relação aos indivíduos, mas também no contexto das estruturas sociais mais amplas. Já o interacionismo simbólico, derivado, em grande parte, do trabalho de George Herbert Mead, sugere que a interação social e a construção de significados são cruciais para entendermos a sociedade (MEAD, 1934). Esse enfoque coloca uma ênfase especial na maneira como as pessoas interpretam e dão sentido ao mundo ao seu redor. Por último, a Teoria do Conflito, influenciada pelo trabalho de Karl Marx, vê a sociedade como um campo de luta por recursos e poder (MARX; ENGELS, 2012). Essa teoria argumenta que as desigualdades e os conflitos são inerentes à sociedade e são fatores-chave na condução da mudança social. Essas três perspectivas, apesar de diferentes, são todas essenciais para a compreensão dos fenômenos sociais. Ao longo deste capítulo, vamos explorar, mais a fundo, cada uma dessas teorias, seus pressupostos, suas aplicações e suas limitações. 60 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 O Estruturalismo O estruturalismo é uma abordagem teórica que se originou no início do século XX e que tem sido influente em várias disciplinas, incluindo a antropologia, a psicologia e a sociologia. Na sociologia, o estruturalismo é, muitas vezes, associado ao trabalho de Émile Durkheim, que argumentava que as estruturas sociais exercem uma forte influência sobre o comportamento individual (DURKHEIM, 2013). Durkheim enfatizava a ideia de que a sociedade é maior do que a soma de suas partes, ou seja, os comportamentos e as ações individuais só podem ser compreendidos dentro do contexto das estruturas sociais mais amplas. Ele considerava as sociedades sistemas de inter-relações funcionais entre diferentes partes, que chamava de «fatos sociais» (DURKHEIM, 2011). Os fatos sociais, segundo Durkheim, são maneiras coletivas de agir, pensar e sentir externas ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo, o qual se impõe ao indivíduo. A visão estruturalista sustenta que as estruturas sociais, como instituições, normas e valores, desempenham um papel crucial na formação da sociedade. As estruturas sociais, na visão de Durkheim, são como “moldes” que canalizam o comportamento e o pensamento dos indivíduos em determinadas direções (DURKHEIM, 2013). No entanto, a perspectiva estruturalista tem sido alvo de críticas. Alguns sociólogos argumentam que pode negligenciar a capacidade dos indivíduos de agir e pensar de maneira independente das estruturas sociais. Além disso, o estruturalismo pode ser criticado por sua tendência de ver a sociedade como um sistema estável e harmonioso, subestimando, potencialmente, os conflitos sociais e a mudança social (GIDDENS, 2005). 61SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Ao explorar a abordagem estruturalista, é crucial lembrar que, embora as estruturas sociais sejam importantes, não são as únicas forças que moldam a sociedade. O Interacionismo Simbólico Diferentemente do estruturalismo, que se concentra nas estruturas sociais, o interacionismo simbólico se concentra nas interações entre os indivíduos e na maneira como usam símbolos para criar significado.Essa perspectiva foi influenciada pelos trabalhos de George Herbert Mead, que argumentava que a realidade social é criada e modificada por meio da interação social (MEAD, 1934). O interacionismo simbólico se baseia na ideia de que as pessoas agem em relação às coisas com base nos significados que essas coisas têm para si. Esses significados são derivados e modificados pela interação social. Na prática, isso significa que os indivíduos interpretam o mundo ao seu redor e agem de acordo com essa interpretação. O mundo social, portanto, é visto como algo em constantes construção e negociação (BLUMER, 1969). NOTA Um dos principais conceitos no interacionismo simbólico é o «eu», que Mead via como um objeto social formado e reformado por meio da interação com outros. De acordo com Mead, o “eu” não é inato, mas é desenvolvido por meio de um processo de interação social que envolve a interpretação de gestos e a tomada de perspectiva dos outros (MEAD, 1934). Apesar de sua relevância, o interacionismo simbólico também recebe críticas. Alguns argumentam que essa perspectiva pode dar excessivo peso ao indivíduo e à interação social, negligenciando o papel das estruturas sociais. Além disso, 62 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 como aponta Giddens (2005), a perspectiva pode negligenciar o poder desigual na sociedade, uma vez que se concentra na negociação de significados em um nível individual. Ao considerar o interacionismo simbólico, é importante lembrar que, embora a interação social e a construção de significados sejam cruciais, são apenas uma parte da imagem. A Teoria do Conflito Diferentemente das duas abordagens anteriore,s que se concentraram nas estruturas sociais e nas interações individuais, a teoria do conflito, muitas vezes associada ao trabalho de Karl Marx, enxerga a sociedade a partir do prisma do conflito e da desigualdade. Na visão de Marx, a sociedade é composta por grupos que têm interesses divergentes e estão, constantemente, em luta pelo poder e pelos recursos (MARX; ENGELS, 2012). Marx argumentava que a economia era a base da sociedade e que todas as outras estruturas sociais, como a política, a religião e a cultura, eram moldadas por isso. Sustentava que a sociedade estava dividida em duas classes principais: a burguesia, que detinha os meios de produção, e o proletariado, que vendia sua força de trabalho. Marx acreditava que essa divisão de classes era a principal fonte de conflito na sociedade (MARX; ENGELS, 2012). IMPORTANTE A teoria do conflito enfatiza que a desigualdade e o conflito não são anomalias, mas, sim, componentes fundamentais e inevitáveis da sociedade. Instiga-nos a considerar como o poder é distribuído na sociedade e quem se beneficia da situação atual (COSER, 1956). No entanto, a teoria do conflito também tem suas críticas. Alguns argumentam que pode ser focada, excessivamente, em 63SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 conflitos e em desigualdades, negligenciando a cooperação e a harmonia que podem existir na sociedade. Além disso, a teoria do conflito pode ser criticada por ser determinista economicamente, dando pouca atenção aos outros fatores que podem influenciar o comportamento humano (GIDDENS, 2005). É fundamental lembrar, contudo, que cada uma dessas abordagens - estruturalismo, interacionismo simbólico e teoria do conflito - oferece uma visão valiosa da sociedade. Compreender todas nos permite ter uma visão mais completa dos fenômenos sociais. Metodologias de pesquisa Sociológica: qualitativa, quantitativa e mistas As metodologias de pesquisa sociológica são essenciais para entender e analisar os fenômenos sociais. A escolha da metodologia depende do tipo de questão de pesquisa e do fenômeno social estudado. Existem, basicamente, três tipos de metodologias de pesquisa sociológica: qualitativa, quantitativa e mista (CRESWELL, 2010). Metodologia quantitativa: a pesquisa quantitativa é a abordagem tradicional nas ciências sociais. Foca a coleta de dados numéricos, que são analisados por meio de estatísticas. O objetivo dessa abordagem é quantificar as relações entre variáveis e, muitas vezes, fazer previsões baseadas nessas relações (BABBIE, 2016). Exemplos de técnicas de pesquisa quantitativa incluem pesquisas, experimentos e análise de dados secundários. Metodologia qualitativa: a pesquisa qualitativa, por outro lado, é mais interpretativa. Busca entender os fenômenos 64 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 sociais em profundidade, explorando a perspectiva dos partici- pantes e a complexidade das situações sociais. Diferentemente da pesquisa quantitativa, a pesquisa qualitativa se concentra em palavras e observações, em vez de números. Exemplos de técni- cas de pesquisa qualitativa incluem entrevistas em profundida- de, grupos focais e observação participante (DENZIN; LINCOLN, 2011). Metodologias mistas: as metodologias mistas combinam elementos das pesquisas qualitativas e quantitativas. São úteis, particularmente, quando um pesquisador quer explorar um fenômeno social em profundidade, mas também quer quantificar algumas de suas características. As metodologias mistas permitem aos pesquisadores tirar o melhor de ambos os métodos, proporcionando uma compreensão mais completa dos fenômenos sociais (JOHNSON; ONWUEGBUZIE, 2004). Na sociologia, não existe uma metodologia “melhor” ou “pior”. Cada metodologia tem suas forças e limitações, e a escolha da metodologia mais adequada deve ser guiada pelo tipo de questão de pesquisa e pelo fenômeno social estudado. A pesquisa sociológica é uma ferramenta poderosa para entender o mundo social e suas complexidades, e as metodologias de pesquisa são uma parte fundamental desse processo. A Escolha da Metodologia de Pesquisa A escolha da metodologia de pesquisa em sociologia é um passo fundamental na investigação científica e deve ser pensada cuidadosamente. Essa escolha depende de uma variedade de fatores, incluindo a natureza do fenômeno social a ser estudado, os objetivos da pesquisa, as questões de pesquisa propostas, a disponibilidade de recursos e os contextos cultural e social em que a pesquisa está inserida (BABBIE, 2016). 65SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Primeiramente, a natureza do fenômeno social a ser estudado tem um impacto significativo na escolha da metodologia. Por exemplo, se o objetivo da pesquisa é entender a distribuição e a prevalência de um fenômeno social (como a pobreza) em uma população, a pesquisa quantitativa pode ser a mais adequada. Por outro lado, se a pesquisa visa a entender as experiências vividas e as percepções dos indivíduos sobre um fenômeno social, a metodologia qualitativa pode ser mais apropriada (DENZIN; LINCOLN, 2011). Além disso, a disponibilidade de recursos também é uma consideração importante. A pesquisa quantitativa, por exemplo, pode exigir mais recursos para a coleta e a análise de dados, enquanto a pesquisa qualitativa pode ser mais demorada e exigir um envolvimento mais profundo do pesquisador com os participantes (CRESWELL, 2010). Além disso, é importante lembrar que a pesquisa sociológica não ocorre em um vácuo, mas está inserida em contextos culturais e sociais. Portanto, a escolha da metodologia também deve levar em conta a adequação cultural e social da pesquisa (MAYS; POPE, 1995). Por fim, a escolha da metodologia de pesquisa deve estar alinhada com os objetivos da pesquisa. Se o objetivo é explorar um novo fenômeno social, uma abordagem qualitativa pode ser mais apropriada. Se o objetivo é testar uma hipótese ou teoria, uma abordagem quantitativa ou mista pode ser mais adequada (JOHNSON; ONWUEGBUZIE, 2004). 66 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Aplicação dos pressupostos teóricos e metodológicos da Sociologia na análise de desigualdades sociais e transformações Os pressupostos teóricos e metodológicos da sociologia desempenham um papel essencial na compreensão e na análisedas desigualdades sociais e das transformações na sociedade. Fornecem as ferramentas necessárias para analisar as relações sociais e os padrões de estratificação, assim como as mudanças e os conflitos que ocorrem nesses contextos (GIDDENS, 2012). O estruturalismo, por exemplo, permite aos sociólogos compreender como as estruturas sociais, como a classe social, o gênero e a raça, influenciam as oportunidades e os resultados dos indivíduos. Por exemplo, ao aplicar a perspectiva estruturalista à análise das desigualdades de gênero no mercado de trabalho, os sociólogos podem identificar como as normas e as políticas sociais impactam, diferentemente, homens e mulheres (SCOTT, 1986). O interacionismo simbólico, por outro lado, concentra-se na construção e na interpretação dos significados na interação social. Ao aplicar essa perspectiva à análise das desigualdades raciais, por exemplo, os sociólogos podem investigar como as percepções e os estereótipos raciais são construídos e perpetuados na interação social (GOFFMAN, 1963). Por fim, a teoria do conflito ajuda os sociólogos a entender como o poder e os recursos são distribuídos e disputados na sociedade. Essa teoria é útil, particularmente, para analisar as desigualdades de classe e a luta por direitos sociais e econômicos (MARX; ENGELS, 1848). 67SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Em termos de metodologia, a escolha entre abordagens qualitativas, quantitativas ou mistas dependerá do objetivo específico da análise. Por exemplo, a pesquisa quantitativa pode ser útil para medir a extensão das desigualdades sociais, enquanto a pesquisa qualitativa pode ser mais adequada para explorar as experiências vividas de desigualdade (CRESWELL, 2010). Os pressupostos teóricos da sociologia, como o estruturalismo, o interacionismo simbólico e a teoria do conflito, fornecem as ferramentas analíticas necessárias para entender e explicar as complexidades dos fenômenos sociais. Cada uma dessas abordagens oferece uma perspectiva única para desvendar as intricadas relações sociais e os padrões de estratificação e mudança na sociedade. O estruturalismo permite a análise de como as estruturas sociais influenciam as oportunidades e os resultados dos indivíduos, ao passo que o interacionismo simbólico nos auxilia na compreensão da construção e na interpretação de significados na interação social. A teoria do conflito, por sua vez, fornece uma lente poderosa para a análise das desigualdades de poder e recursos na sociedade. Além disso, as metodologias de pesquisa sociológica, incluindo as abordagens qualitativas, quantitativas e mistas, são essenciais para a condução de investigações rigorosas e para a produção de conhecimentos válidos e confiáveis sobre a sociedade. A escolha da metodologia adequada depende de vários fatores, como o objetivo da pesquisa, a natureza do fenômeno social a ser estudado e o contexto cultural e social em que a pesquisa está inserida. No geral, os pressupostos teóricos e as metodologias da sociologia são fundamentais para a análise profunda e a 68 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 compreensão das desigualdades sociais e das transformações na sociedade. Fornecem o alicerce para a construção de uma compreensão sólida e crítica dos fenômenos sociais, o que é essencial para a promoção de uma sociedade mais justa e equitativa. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que os pressupostos teóricos fundamentais da sociologia, incluindo o estruturalismo, o interacionismo simbólico e a teoria do conflito, são essenciais para entender as complexidades dos fenômenos sociais. Dão-nos as lentes para analisar as estruturas sociais; a construção e a interpretação de significados na interação social; e a distribuição e a disputa de poder e de recursos na sociedade. Além disso, você deve ter compreendido que as metodologias de pesquisa sociológica, sejam qualitativas, quantitativas ou mistas, são ferramentas indispensáveis para a investigação sociológica. Permitem uma análise rigorosa dos fenômenos sociais, cada um com suas particularidades, sendo a escolha entre os métodos dependente do objetivo da análise. 69SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Por fim, você deve ter percebido como esses pressupostos teóricos e metodológicos podem ser aplicados à análise das desigualdades sociais e das transformações na sociedade. Fornecem o alicerce para uma compreensão mais profunda e crítica das dinâmicas sociais, possibilitando uma visão mais aprofundada das desigualdades e transformações na sociedade. Esperamos que, agora, você esteja mais bem equipado para aplicar esses conceitos e ferramentas em sua futura prática sociológica. Esse conhecimento será uma peça fundamental na sua capacidade de analisar e compreender a sociedade de uma forma mais crítica e reflexiva. Lembre-se que a sociologia é uma ferramenta poderosa para a compreensão do mundo ao nosso redor, e você tem algumas das chaves mais importantes para utilizá-la. Avante! 70 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 ARRIGHI, G. O longo século XX. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. BABBIE, E. The practice of social research. [S. l.]: Cengage Learning, 2016. BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011. BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 24 ed. Petrópolis: Vozes, 2004. BLUMER, H. Symbolic Interactionism: perspective and method. [S. l.]: University of California Press, 1969. BOURDIEU, P. Distinction: a social critique of the judgement of taste. [S. l.]: Routledge, 1984. 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Revoluções sociológicas nos séculos xviii e xix A era das revoluções: um panorama das transformações do século xviii e xix A sociologia e as revoluções: interpretações e perspectivas Implicações Socioculturais das Revoluções dos Séculos XVIII e XIX Conhecimento científico sociológico A Ciência da Sociedade: Fundamentos e Métodos do Conhecimento Científico Sociológico Aplicação do Conhecimento Científico Sociológico na Análise de Fenômenos Sociais Desafios e Limitações do Conhecimento Científico Sociológico Auguste comte e émile durkheim Auguste Comte: o pensador do Positivismo na Sociologia Émile Durkheim: fundamentos da sociologia como ciência Críticas e debates sobre o Positivismo e sua influência na produção do conhecimento sociológico Pressupostos teóricos e metodologias da Sociologia Pressupostos teóricos fundamentais da Sociologia: estruturalismo, interacionismo simbólico e conflito Metodologias de pesquisa Sociológica: qualitativa, quantitativa e mistas Aplicação dos pressupostos teóricos e metodológicos da Sociologia na análise de desigualdades sociais e transformaçõesperíodo, marcadas pela ascensão da ciência moderna e da tecnologia, trouxeram inovações que impactaram, fortemente, a produção e a forma como a sociedade se organizava. A Revolução Industrial, por exemplo, foi um marco dessa era, trazendo transformações profundas em vários aspectos da vida social (MOKYR, 2010). Do ponto de vista político, a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos simbolizam a ruptura com o Antigo Regime, dando início ao modelo político baseado nos ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, como aponta Alexis de Tocqueville (2007) em sua análise desses processos revolucionários. Na esfera econômica, o surgimento do capitalismo industrial e a expansão do comércio internacional foram essenciais para a formação do mundo contemporâneo (ARRIGHI, 1996). Esse período viu o nascimento de uma organização do trabalho e da produção que ainda ressoa atualmente. Essas transformações, apesar de ocorrerem em diferentes esferas, não foram isoladas. Como aponta Wallerstein (2006), estavam interligadas e foram determinantes para a formação do sistema-mundo moderno. 11SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Revoluções Científicas As revoluções científicas dos séculos XVIII e XIX marcaram uma mudança radical na maneira como o conhecimento era percebido e utilizado, impulsionando o progresso tecnológico e trazendo impactos significativos para a sociedade. Um exemplo emblemático dessas revoluções científicas é a Revolução Industrial, que ocorreu, inicialmente, na Inglaterra e se espalhou por toda a Europa e a América do Norte. Essa revolução, marcada por inovações tecnológicas, como a máquina a vapor e a tecelagem mecânica, foi crucial para a transformação das sociedades agrárias em industrializadas (MOKYR, 2010). IMPORTANTE As consequências dessas inovações foram profundas, trazendo mudanças radicais na produção e na estrutura social. A Revolução Industrial inaugurou a era do maquinário, substituindo o trabalho manual por processos mecânicos e promovendo o surgimento de uma nova classe trabalhadora, a dos proletários (HOBSBAWM, 2009). Nesse sentido, Kuhn (2006) argumenta que as revoluções científicas não são apenas uma questão de progresso técnico, mas também têm profundas implicações socioculturais. São momentos de ruptura que redefinem nosso entendimento do mundo e modificam nossa percepção da realidade. Em suma, as revoluções científicas dos séculos XVIII e XIX não apenas promoveram o avanço tecnológico, mas também reestruturaram a sociedade, criando uma nova ordem social, política e econômica. 12 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Revoluções Políticas As revoluções políticas dos séculos XVIII e XIX marcaram uma importante ruptura com o Antigo Regime e lançaram as bases para as formas de governo que conhecemos hoje. Dentre essas, a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos destacam-se como momentos-chave que transformaram as estruturas políticas e redefiniram as relações entre o Estado e os cidadãos. Figura 3.1 – Revoluções políticas Fonte: Freepik. A Revolução Francesa, ocorrida em 1789, é apontada, frequentemente, como o ponto de partida da Era Contemporânea (HOBSBAWM, 2009). Esse movimento derrubou a monarquia absolutista francesa, proclamou a República e estabeleceu os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Segundo Tocqueville (2007), a Revolução Francesa representou o fim do Antigo Regime e o início de uma nova ordem social e política, baseada na soberania popular e na participação cidadã. 13SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Por outro lado, a Independência dos Estados Unidos, em 1776, marcou o nascimento da primeira grande República do mundo moderno. Essa revolução foi impulsionada pelos ideais iluministas e estabeleceu um novo modelo de governo, baseado na separação de Poderes e na garantia de direitos fundamentais (WOOD, 1993). As revoluções políticas dos séculos XVIII e XIX não apenas mudaram a forma de governo, mas também alteraram o modo como as sociedades entendiam a política e os direitos humanos. Como Skocpol (1979) observa, essas revoluções desempenharam um papel fundamental na formação do mundo moderno, estabelecendo os princípios que guiam a política e a sociedade contemporâneas. Revoluções Econômicas As revoluções econômicas dos séculos XVIII e XIX trouxeram mudanças significativas na maneira como a produção e o comércio foram organizados, originando a economia capitalista que conhecemos hoje. Em particular, a Revolução Industrial do século XVIII na Inglaterra e, subsequentemente, em outras partes da Europa e da América transformou, radicalmente, a economia global (MOKYR, 2010). A Revolução Industrial permitiu um aumento sem precedentes na produção de mercadorias, impulsionada pelo desenvolvimento de novas tecnologias, a mecanização da produção, a utilização de novas fontes de energia e a crescente especialização do trabalho. Essas mudanças conduziram ao surgimento do capitalismo industrial, uma forma de economia que estava centrada na produção em massa e no consumo em larga escala (HOBSBAWM, 2009). 14 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 NOTA A expansão do comércio internacional também foi um elemento fundamental nesse período. Impulsionado pela colonização e pela exploração de novos territórios, o comércio global tornou-se uma força motriz da economia mundial, gerando riqueza, mas também desigualdades (ARRIGHI, 1996). Nessa conjuntura, Polanyi (2000) destaca o surgimento do “mercado auto-regulável”, uma inovação que redefiniu as relações econômicas. Esse sistema, baseado no livre comércio e na concorrência, veio acompanhado de uma série de desafios sociais, como a desigualdade e a exploração da classe trabalhadora. Em suma, as revoluções econômicas dos séculos XVIII e XIX estabeleceram as bases do capitalismo moderno, com suas potencialidades e contradições. A sociologia e as revoluções: interpretações e perspectivas As revoluções dos séculos XVIII e XIX desempenharam um papel crucial na formação da sociologia como uma disciplina acadêmica. Diante das rápidas transformações sociais, polí- ticas e econômicas desse período, surgiu a necessidade de compreender essas mudanças e seus impactos na sociedade. Desse contexto, emergiu a sociologia, com a missão de decifrar os mecanismos e os processos que estruturam as sociedades humanas (GIDDENS, 2005). A sociologia oferece várias lentes através das quais podemos analisar e compreender as revoluções. Karl Marx, por exemplo, viu, nas revoluções, a expressão do conflito de classes e o motor do progresso histórico. Para ele, a Revolução Industrial, 15SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 com a emergência da classe operária, foi um momento decisivo no desenvolvimento do capitalismo e na luta pela emancipação dos trabalhadores (BOTTOMORE, 1988). Max Weber, por outro lado, concentrou-se nas crescentes racionalização e burocratização das sociedades ocidentais. Para Weber, a Revolução Industrial e a ascensão do capitalismo eram sintomas do processo de “desencantamento do mundo”, de acordo com o qual a racionalidade instrumental vinha substituindo formas tradicionais e carismáticas de autoridade (GIDDENS, 2005). Emile Durkheim, em contrapartida, estava interessado, particularmente, na manutenção da coesão social em meio a tais transformações. Durkheim acreditava que, apesar do individualismo crescente e da divisão do trabalho associados ao capitalismo industrial, uma nova forma de solidariedade, baseada na interdependência, estava emergindo (LUKES, 2013). Essas interpretações, ainda que divergentes em muitos aspectos, compartilham o interesse de entender as revoluções como momentos de ruptura e transformação. Continuam a fornecer insights valiosos para a análise sociológica das revoluções contemporâneas e futuras. 16 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 A Era das Revoluções e a Gênese daSociologia A Era das Revoluções, nos século XVIII e XIX, marcada por transformações radicais na política, na economia e na ciência, criou um terreno fértil para a emergência da sociologia como uma disciplina acadêmica. Diante das rápidas modernização, urbanização e industrialização, surgiu uma necessidade urgente de entender as mudanças em curso e seus impactos na vida social (GIDDENS, 2005). Nesse contexto, os pais fundadores da sociologia, como Auguste Comte, Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber, buscaram desenvolver uma ciência que pudesse explicar as complexidades da vida social moderna. Viam a sociologia não apenas como uma disciplina que documenta e analisa a mudança social, mas também como uma ferramenta que pode ajudar a orientar a sociedade em meio a essas transformações (HARALAMBOS; HOLBORN, 2008). Comte, por exemplo, viu na sociologia a “rainha das ciências”, uma disciplina que poderia unir todas as outras ciências e fornecer um entendimento abrangente da sociedade. Para Comte, a sociologia tinha o papel crucial de orientar a sociedade em meio à desordem causada pelas revoluções (LEVY, 1995). Da mesma forma, Durkheim viu a sociologia como uma maneira de entender e controlar os problemas sociais emergentes, como o suicídio, que acreditava serem causados pelo rápido processo de modernização (LUKES, 2013). Nesse sentido, a sociologia surgiu, diretamente, da Era das Revoluções, com os objetivos explícitos de entender as novas formas de vida social que estavam emergindo e de lidar com desafios e crises que essas mudanças traziam. 17SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Interpretações Sociológicas das Revoluções As revoluções têm sido de grande interesse para os sociólogos desde o início da disciplina. Na verdade, a sociologia nasceu, em grande medida, em resposta às revoluções do século XIX e ao impacto dessas mudanças na sociedade. Cada um dos principais pensadores sociológicos oferece uma perspectiva única sobre a natureza e o impacto das revoluções (GIDDENS, 2005). Karl Marx é, talvez, o sociólogo mais associado ao estudo das revoluções. Para Marx, as revoluções são a manifestação do conflito de classes e o motor da história. Argumentou que a Revolução Industrial do século XIX, com a emergência do proletariado, foi um momento decisivo no desenvolvimento do capitalismo e na luta pela emancipação dos trabalhadores (BOTTOMORE, 1988). Max Weber, por outro lado, deu menos ênfase às revoluções em sua obra, focando mais as transformações graduais e contínuas na organização social e na dominação. No entanto, sua análise da racionalização e da burocratização oferece uma visão perspicaz das mudanças que acompanharam a Revolução Industrial (GIDDENS, 2005). Já Émile Durkheim estava menos interessado em revoluções per se do que em entender como a coesão social poderia ser mantida em tempos de rápidas mudanças sociais. Viu a transição de uma solidariedade mecânica para uma solidariedade orgânica, impulsionada pela divisão do trabalho como um fenômeno fundamental da modernidade (LUKES, 2013). 18 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Essas diferentes interpretações oferecem uma variedade de ferramentas para compreender as revoluções e seus impactos na sociedade, tanto em seus momentos de crise quanto em seus efeitos duradouros. Implicações Socioculturais das Revoluções dos Séculos XVIII e XIX As revoluções dos séculos XVIII e XIX tiveram uma influência considerável não apenas nos aspectos econômicos, políticos e científicos da sociedade, mas também moldaram, profundamente, a cultura e as interações sociais. As implicações socioculturais dessas revoluções continuam a ser sentidas na contemporaneidade, estabelecendo uma ligação fundamental entre o passado revolucionário e o presente. As implicações socioculturais podem ser entendidas como as mudanças nas formas de vida, nas relações sociais, nas ideologias e nos comportamentos que ocorrem como resultado de alterações na estrutura da sociedade (GIDDENS, 2005). Durante os séculos XVIII e XIX, a sociedade experimentou uma série de revoluções científicas, políticas e econômicas, cada uma das quais contribuiu para transformar o mundo de maneira inédita e irreversível. 19SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Revoluções Científicas e Implicações Socioculturais As revoluções científicas dos séculos XVIII e XIX, marcadas por transformações significativas no conhecimento e na compreensão do mundo natural, tiveram implicações profundas na sociedade e na cultura. A Revolução Copernicana, por exemplo, promoveu uma mudança radical na cosmologia ao posicionar o Sol, em vez da Terra, no centro do Universo (KOYRÉ, 1984). Essa nova perspectiva desafiou as visões religiosas e filosóficas predominantes da época, desencadeando questionamentos e debates que ultrapassaram o âmbito da ciência. O mesmo pode ser dito da Revolução Darwiniana, que introduziu a teoria da evolução das espécies por meio da seleção natural. A ideia de que as espécies, inclusive o ser humano, não são imutáveis, mas resultados de um longo processo de evolução, provocou uma reviravolta na compreensão do ser humano sobre si mesmo e seu lugar no universo (RUSE, 1979). As revoluções científicas, portanto, tiveram um papel crucial na moldagem de novas formas de pensar e de entender o mundo, gerando mudanças socioculturais profundas. Por meio do questionamento de crenças estabelecidas, promoveram a secularização do pensamento, o estímulo ao ceticismo e ao debate intelectual, bem como a valorização da experimentação e da evidência empírica. 20 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Revoluções Políticas e Implicações Socioculturais As revoluções políticas dos séculos XVIII e XIX também tiveram consequências socioculturais significativas. Tomemos, por exemplo, a Revolução Francesa, de 1789, um marco na história. Ao pôr fim ao absolutismo monárquico e inaugurar a era da democracia moderna, a Revolução Francesa teve impactos profundos não apenas na política, mas também na cultura e na sociedade (SOBOUL, 2005). A Revolução Francesa introduziu os conceitos de igualdade, liberdade e fraternidade, que se tornaram a base para as democracias modernas. Esses conceitos desafiaram o sistema de privilégios baseado no nascimento, propondo um sistema em que todos são considerados iguais perante a lei. A revolução também promoveu uma ruptura cultural ao substituir o calendário gregoriano por um calendário revolucionário, em uma tentativa de romper com o passado e iniciar uma nova era (HUNT, 2004). Essas revoluções políticas ajudaram a moldar a cultura e a sociedade modernas não apenas por meio das mudanças diretas que impuseram, mas também por meio de ideias e valores que disseminaram. Promoveram as ideias de que o povo tem o direito de governar a si mesmo e de que todas as pessoas são iguais em dignidade e direitos, conceitos que continuam a influenciar o mundo contemporâneo. 21SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Revoluções Econômicas e Implicações Socioculturais Os séculos XVIII e XIX foram, também, palco de revoluções econômicas significativas, com implicações socioculturais profundas. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, no século XVIII, é um exemplo notório. Essa revolução transformou, profundamente, as estruturas econômicas, sociais e culturais, modificando desde o processo produtivo até as formas de relacionamento social (HOBSBAWM, 1996). A Revolução Industrial marcou a transição de uma economia agrária e artesanal para uma economia industrial e capitalista. O advento de novas tecnologias e a mecanização da produção geraram um aumento significativo na produtividade e no crescimento econômico. No entanto, essas mudanças também desencadearam desigualdades sociais e econômicas, à medida que os proprietários de fábricas e indústrias acumulavam riqueza, enquanto muitos trabalhadores enfrentavam condições de vida e trabalho precárias(MORE, 2000). Culturalmente, a Revolução Industrial influenciou a formação da sociedade urbana e de uma nova classe social: o proletariado. As cidades industrializadas se tornaram o epicentro de transformações socioculturais, dando origem a novas formas de organização social e política, bem como a novas formas de lazer e consumo (THOMPSON, 1987). 22 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Perspectiva Sociológica sobre as Implicações das Revoluções A perspectiva sociológica nos permite entender as implicações das revoluções dos séculos XVIII e XIX de uma maneira mais aprofundada e holística. Ao analisar as revoluções não apenas como eventos políticos, econômicos e científicos, mas também como processos socioculturais, a sociologia fornece um quadro mais rico e matizado de compreensão desses fenômenos (GIDDENS, 2005). A sociologia, desde suas origens, tem estado engajada, profundamente, no estudo das revoluções e de suas consequências. Por exemplo, Karl Marx analisou a Revolução Industrial e suas implicações socioculturais, argumentando que as revoluções econômicas e tecnológicas levaram a uma profunda transformação da sociedade, dando origem a uma nova estrutura de classes - a burguesia e o proletariado - e a novas formas de conflito social (MARX; ENGELS, 2012). Da mesma forma, Max Weber examinou as implicações culturais das revoluções, argumentando que a ascensão do capitalismo e da racionalização foi influenciada, em parte, por transformações religiosas e ideológicas, particularmente a ética protestante (WEBER, 2004). IMPORTANTE A perspectiva sociológica, portanto, ajuda-nos a entender como as revoluções moldaram não apenas a política, a economia e a ciência, mas também a sociedade e a cultura e como essas mudanças continuam a influenciar o mundo contemporâneo. 23SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 A Era das Revoluções, nos séculos XVIII e XIX, foi um momento crucial para a formação da sociedade contemporânea. A transição do Antigo Regime para o moderno, impulsionada por revoluções científicas, políticas e econômicas, transformou, profundamente, a organização e o entendimento da vida social. As implicações socioculturais dessas transformações foram vastas, desde a redefinição das relações de trabalho até a emergência de novas identidades e modos de vida. Nesse contexto turbulento, a sociologia emergiu como uma disciplina essencial para entender e navegar pelas mudanças sociais em curso. Pioneiros como Comte, Durkheim, Marx e Weber buscaram compreender as complexidades da vida social moderna e suas transformações. Utilizaram a sociologia como ferramenta para decifrar os efeitos das revoluções, propondo novas maneiras de interpretar e moldar a realidade social. As revoluções sociológicas dos séculos XVIII e XIX, portanto, não apenas moldaram a sociedade, como também geraram uma nova ciência dedicada a compreender a natureza da mudança social. O legado dessas revoluções continua presente nas estruturas e concepções contemporâneas de sociedade, política e economia, assim como na própria sociologia, que mantém seu compromisso com a compreensão e o enfrentamento dos desafios da vida social moderna. Portanto, a análise da Era das Revoluções e suas implicações oferece uma visão crucial para entendermos a formação da sociedade moderna e a gênese da sociologia, ressaltando a importância de se estudarem as revoluções para compreendermos a dinâmica da vida social e as complexidades do mundo em que vivemos. 24 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a Era das Revoluções marcou um período de intensas transformações nos séculos XVIII e XIX, desencadeando uma série de mudanças nas esferas científica, política e econômica. Essas revoluções definiram um novo curso para a humanidade, reestruturando não apenas as sociedades em si, mas também a forma como entendemos e interagimos com o mundo. Aprendemos que a sociologia desempenhou um papel crucial na interpretação e na compreensão dessas mudanças. Os teóricos da sociologia, como Comte, Durkheim, Marx e Weber, buscaram entender as complexidades da vida social moderna, transformadas por essas revoluções. Analisaram os fenômenos emergentes desse período turbulento e aplicaram conceitos e perspectivas sociológicas para decifrar os efeitos dessas revoluções. Exploramos, também, as implicações socioculturais dessas revoluções, que redefiniram as relações de trabalho, a organização política, a ciência, a economia e a cultura. Produziram mudanças duradouras e significativas na forma como vivemos e entendemos o mundo. Portanto, entender essas revoluções é essencial para compreender a formação da sociedade moderna e a gênese da sociologia. Ao estudar esses eventos, estamos mais preparados para entender e navegar pelas complexidades da vida social e das transformações contínuas que nos cercam. O estudo dessas revoluções é uma ferramenta vital para entender o passado, interpretar o presente e moldar o futuro. 25SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Conhecimento científico sociológico OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funciona o conhecimento científico sociológico. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, seja como sociólogo, pesquisador, professor ou em qualquer área que exija uma compreensão profunda dos fenômenos sociais. As pessoas que tentaram analisar e interpretar fenômenos sociais sem a devida instrução, muitas vezes, tiveram problemas ao não considerar a complexidade dos fenômenos sociais, ao negligenciar os múltiplos fatores que contribuem para o comportamento humano ou ao se basear apenas em suposições e preconceitos pessoais. A compreensão e a aplicação adequadas do conhecimento científico sociológico podem ajudar a superar esses desafios, fornecendo ferramentas robustas e testadas para a análise de questões sociais complexas. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! A Ciência da Sociedade: Fundamentos e Métodos do Conhecimento Científico Sociológico No estudo dos fenômenos sociais, a sociologia desempenha um papel fundamental, buscando compreender as dinâmicas complexas que orientam a vida em sociedade. A sociologia é uma disciplina científica que se destaca por sua abordagem sistemática e crítica para a investigação do mundo social. Auguste Comte, o pai da sociologia, propôs essa 26 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 disciplina como a “ciência da sociedade”, o estudo científico do comportamento humano em grupo (ARAÚJO, 2015). Comte acreditava que a sociologia poderia fornecer conhecimentos necessários para a construção de uma sociedade melhor, e essa crença reflete o núcleo fundamental da sociologia: uma busca pelo entendimento aprofundado da sociedade para, eventualmente, melhorá-la. Desde então, uma variedade de perspectivas teóricas e metodológicas emergiu, cada uma com sua maneira particular de abordar os fenômenos sociais (GIDDENS, 2005). A sociologia emprega uma gama diversificada de métodos em seu escrutínio da sociedade, desde pesquisas quantitativas, que buscam identificar padrões em grandes conjuntos de dados, até estudos de caso e observações qualitativas, que buscam uma compreensão mais profunda dos processos sociais específicos (BABBIE, 2016). O conhecimento científico sociológico, portanto, não é apenas uma coleta de fatos sobre a sociedade, mas uma maneira de pensar, criticamente, sobre o mundo ao nosso redor. É uma ferramenta que nos permite questionar as suposições cotidianas, explorar a estrutura social subjacente e procurar maneiras de criar mudanças sociais positivas (MILLS, 1959). Ao longo deste subtítulo, vamos explorar a base da sociologiacomo ciência, os métodos que utiliza para investigar o mundo social e como o conhecimento científico sociológico é aplicado para entender e abordar os fenômenos sociais. 27SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Métodos da Sociologia A sociologia utiliza uma variedade de métodos para investigar e compreender a sociedade e o comportamento humano. Esses métodos estão orientados, fundamentalmente, para a compreensão das complexidades e nuances da vida social, a fim de responder a perguntas profundas sobre a natureza e a estrutura da sociedade (GIDDENS, 2005). Figura 3.2 – Métodos da sociologia Fonte: Freepik. O método quantitativo, por exemplo, envolve a coleta de dados numéricos e a aplicação de técnicas estatísticas para identificar padrões e tendências. Esse método é útil, particularmente, quando se lida com grandes conjuntos de dados, como censos nacionais, e pode ajudar a identificar correlações e causalidades em fenômenos sociais complexos (BABBIE, 2016). 28 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Por outro lado, o método qualitativo foca a interpretação de textos, discursos e práticas sociais para obter uma compreensão mais profunda das experiências humanas e da significação social. Esse método, frequentemente associado a entrevistas em profundidade, observação participante e estudo de caso, oferece insights valiosos sobre os contextos e processos sociais (DENZIN; LINCOLN, 2011). Além disso, a sociologia também faz uso de métodos mistos, combinando abordagens quantitativas e qualitativas para obter uma visão mais completa dos fenômenos sociais (JOHNSON; ONWUEGBUZIE, 2004). É importante destacar que, independentemente do método escolhido, os sociólogos estão atentos aos princípios éticos em sua pesquisa, respeitando à privacidade e à dignidade dos participantes do estudo (MERTON, 1972). A variedade e a complexidade dos métodos sociológicos refletem a diversidade e a complexidade da sociedade que buscam estudar. 29SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Aplicação do conhecimento cientifico sociológico A aplicação do conhecimento científico sociológico é crucial para compreender, interpretar e responder a diversas questões que permeiam nossa sociedade. Por meio de seus métodos, a sociologia oferece ferramentas valiosas para analisar desde questões individuais até complexas dinâmicas de grupo e fenômenos sociais em larga escala (GIDDENS, 2005). No âmbito público, o conhecimento sociológico é fundamental para a elaboração de políticas sociais efetivas. A compreensão de comportamentos, atitudes e estruturas sociais permite aos formuladores de políticas identificar e responder a questões sociais complexas de maneira mais eficaz (BABBIE, 2016). Por exemplo, o conhecimento sociológico pode auxiliar na criação de políticas de educação mais inclusivas e eficazes, compreendendo melhor as barreiras socioeconômicas, culturais e raciais que podem afetar o desempenho e o acesso dos alunos (BOURDIEU, 1984). Do mesmo modo, pode orientar a implementação de políticas de saúde pública, ao entender como a classe social, a etnia e o gênero podem influenciar as atitudes e os comportamentos de saúde (MARMOT, 2005). Além disso, o conhecimento sociológico também é aplicado na esfera privada. No ambiente corporativo, por exemplo, pode contribuir para a gestão de recursos humanos, melhorando a compreensão das dinâmicas de grupo e das relações de trabalho e promovendo um ambiente de trabalho mais harmonioso e produtivo (PERROW, 1986). 30 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Em síntese, a aplicação do conhecimento sociológico é essencial para compreender e responder aos desafios que enfrentamos como sociedade. Fornece um quadro de referência robusto e rigoroso para analisar e interpretar a complexidade do mundo social em que vivemos. Aplicação do Conhecimento Científico Sociológico na Análise de Fenômenos Sociais A aplicação do conhecimento científico sociológico é uma ferramenta poderosa na análise de fenômenos sociais. A sociologia, como ciência social, usa várias metodologias e técnicas para explorar, entender e explicar as dinâmicas da sociedade humana, oferecendo uma compreensão aprofundada de estruturas, funções, mudanças e desafios das sociedades (GIDDENS, 2005). O estudo de fenômenos sociais através da lente sociológica permite identificação de padrões e tendências, análise de interações e relações sociais e compreensão das forças estruturais que moldam a vida social. Também ajuda a contextualizar os fenômenos sociais, mostrando como são influenciados por fatores históricos, culturais, políticos e econômicos (BURAWOY, 2013). 31SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 EXPLICANDO MELHOR Por exemplo, a sociologia pode ser aplicada na análise do fenômeno da pobreza. Por meio do uso de métodos quantitativos e qualitativos, os sociólogos podem investigar causas e consequências da pobreza, examinando fatores como desigualdade de renda, acesso a oportunidades, padrões de emprego e políticas sociais. Esse tipo de análise pode, então, informar a formulação de políticas públicas e intervenções para enfrentar a pobreza (BABBIE, 2016). Da mesma forma, a sociologia pode ser usada para analisar fenômenos sociais complexos, como a globalização. Os sociólogos podem examinar como a globalização afeta as relações sociais, culturais e econômicas, investigando questões como migração, desigualdade global, mudança cultural e conflito (GIDDENS, 2005). Em suma, a aplicação do conhecimento científico sociológico fornece uma maneira sistemática e rigorosa de entender e analisar os fenômenos sociais que moldam nosso mundo. Definição de fenômenos sociais Os fenômenos sociais constituem uma área central de estudo para a sociologia. Durkheim, um dos pioneiros do pensamento sociológico, definiu fenômenos sociais como “maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, e que possuem um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem” (DURKHEIM, 1989, p. 13). Em outras palavras, fenômenos sociais são padrões de comportamento coletivos na natureza, influenciando e sendo influenciados pela sociedade. 32 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Exemplos de fenômenos sociais podem variar desde padrões de comportamento, como normas e costumes, até instituições sociais, como a família, a religião e o Estado. Além disso, fenômenos sociais também podem se manifestar em eventos e movimentos mais amplos, como revoluções, migrações e globalização (GIDDENS, 2005). A chave para entender fenômenos sociais é a interação. Segundo Berger e Luckmann (2004), os fenômenos sociais são construídos e mantidos por meio das interações humanas. Por isso, para estudá-los, é fundamental considerar não apenas os comportamentos individuais, mas também as estruturas sociais nas quais os indivíduos estão inseridos. Ao analisar fenômenos sociais, os sociólogos buscam compreender os padrões subjacentes que os estruturam, bem como suas origens, desenvolvimento e impactos sobre a sociedade. Esse entendimento fornece um importante quadro para interpretar o mundo social e entender como pode mudar ao longo do tempo (BURAWOY, 2005). 33SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Importância do conhecimento científico sociológico na análise de fenômenos sociais O conhecimento científico sociológico é vital na análise de fenômenos sociais devido à sua capacidade de fornecer uma visão aprofundada e objetiva dos complexos padrões de interação social. Esse tipo de análise não é possível apenas com o senso comum ou observações casuais; exige uma compreensão sólida das teorias sociológicas e das técnicas de pesquisa empírica (LAKATOS; MARCONI, 2001). Os sociólogos usam uma variedade de métodos, desde estudos quantitativos, que examinam grandes conjuntos de dados, até estudos qualitativos, que buscam uma compreensão profunda das experiências individuais. Esses métodos permitem aos pesquisadoresidentificar padrões sociais, investigar suas causas e explorar suas consequências (GIDDENS, 2005). O conhecimento científico sociológico é importante, particularmente, em um mundo cada vez mais interconectado e diversificado. Fornece as ferramentas necessárias para compreender questões complexas, como desigualdade, conflito social, mudança cultural e transformação institucional. Ao fazê- lo, a sociologia pode ajudar a informar políticas públicas, orientar ações sociais e contribuir para maiores compreensão e tolerância entre diferentes grupos sociais (BURAWOY, 2005). Além disso, a análise sociológica também é valiosa para os indivíduos. Ao entender como a sociedade funciona, os indivíduos podem melhor navegar em suas vidas pessoais e profissionais. Podem entender como as estruturas sociais afetam suas oportunidades e escolhas e se tornar mais conscientes de sua posição dentro da sociedade (BERGER, 1963). 34 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Metodologias para a análise de fenômenos sociais A análise de fenômenos sociais requer um conjunto robusto de metodologias que se adaptem à complexidade intrínseca da vida social. As estratégias metodológicas na sociologia variam de acordo com a natureza do fenômeno social estudado e as perguntas de pesquisa específicas a que o pesquisador deseja responder (BRYMAN, 2012). Os métodos quantitativos, por exemplo, são utilizados quando o objetivo é desvendar padrões de comportamento, tendências ou relações entre variáveis em grandes grupos de pessoas. Tais métodos incluem o uso de estatísticas, pesquisas e experimentos controlados. Fornecem um panorama geral de uma situação ou de um grupo, permitindo inferências com base em medidas numéricas (COHEN et al., 2007). Os métodos qualitativos, por outro lado, são empregados quando o objetivo é compreender experiências, significados e contextos que constituem a vida social. Podem envolver entrevistas em profundidade, observação participante, análise de discurso, entre outros. Oferecem um olhar detalhado e rico sobre a vida das pessoas e dos grupos, levando em consideração a complexidade das interações humanas (DENZIN; LINCOLN, 2011). Cada método tem suas forças e limitações, e, muitas vezes, é benéfico combinar abordagens quantitativas e qualitativas para obter uma compreensão mais completa de um fenômeno social. Isso é referido como pesquisa de métodos mistos (JOHNSON; ONWUEGBUZIE, 2004). 35SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Além disso, uma análise sociológica eficaz dos fenômenos sociais também requer uma compreensão firme das teorias sociológicas, que fornecem as lentes através das quais os dados são interpretados. A teoria e a metodologia trabalham juntas para construir um quadro analítico que possa explicar os padrões observados na sociedade (SWEDBERG, 2014). Desafios e Limitações do Conhecimento Científico Sociológico A aplicação do conhecimento científico sociológico não está isenta de desafios e limitações. Assim como em todas as ciências, a prática da sociologia também enfrenta obstáculos e contratempos. Aprender a reconhecê-los e a contorná-los é fundamental para o bom desempenho e a eficácia de nossa análise sociológica (BERGER, 2011). Além das questões metodológicas, os desafios na pesquisa sociológica podem variar de questões éticas na realização de estudos a dificuldades em estabelecer relações de causa e efeito em ciências sociais. Como afirmou Bourdieu (1999), o mundo social é um laboratório sem paredes e em constante mutação, o que torna a replicação de estudos um desafio. Ademais, o conhecimento científico sociológico tem limitações. A subjetividade inerente à vida social, o impacto do viés do pesquisador e a impossibilidade de abarcar todas as complexidades da sociedade em um único estudo são algumas dessas limitações (GIDDENS, 2010). No entanto, desafios e limitações não devem ser vistos como barreiras intransponíveis, mas, sim, como aspectos a serem levados em conta durante a realização de nossas pesquisas. Na 36 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 verdade, reconhecê-los e enfrentá-los é uma parte fundamental do ofício do sociólogo. Limitações do conhecimento científico sociológico As limitações do conhecimento científico sociológico são um aspecto importante a se considerar em qualquer investigação. Apesar de seu poder explicativo e descritivo, a sociologia não é capaz de abordar, completamente, todos os aspectos da realidade social, devido à complexidade e à diversidade da vida humana (GIDDENS, 2010). Um aspecto fundamental das limitações da sociologia é a subjetividade intrínseca à vida social. A interpretação dos fenômenos sociais é influenciada, frequentemente, por perspectivas e valores pessoais, tornando difícil alcançar uma “objetividade” absoluta (BERGER, 2011). Outra limitação relevante é a dificuldade de estabelecer relações causais claras e inequívocas na sociedade. Em contraste com as ciências naturais, em cujo âmbito experimentos controlados são possíveis, os sociólogos raramente podem manipular as condições sociais para observar seus efeitos. Consequentemente, a confirmação de teorias sociológicas pode ser mais desafiadora, e as conclusões podem ser mais provisórias (BAUMAN, 2011). Por último, a sociologia enfrenta o desafio do viés do pesquisador. Apesar de esforços para manter a neutralidade, as crenças e os valores pessoais do pesquisador podem influenciar a escolha do tópico, a formulação das perguntas de pesquisa, a interpretação dos dados e a apresentação dos resultados (MILLS, 2009). 37SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Reconhecer essas limitações não minimiza o valor do conhecimento sociológico, mas ajuda a contextualizá-lo e a entender sua natureza relativa e parcial. Superando desafios e limitações Superar os desafios e as limitações inerentes ao conhecimento sociológico exige uma abordagem reflexiva e crítica, tanto da parte dos pesquisadores quanto dos leitores da pesquisa sociológica (GIDDENS, 2010). Um primeiro passo importante é o reconhecimento explícito das limitações. Admitir as dificuldades inerentes ao estudo da sociedade pode evitar a excessiva confiança nas conclusões e promover uma atitude de abertura a novas ideias e evidências (BERGER, 2011). Outra estratégia útil é a utilização de métodos de pesquisa diversificados. Combinar métodos quantitativos e qualitativos, por exemplo, pode ajudar a superar limitações associadas a cada um e proporcionar uma visão mais completa dos fenômenos sociais (BAUMAN, 2011). A reflexão sobre a posição e os valores do pesquisador também é crucial. Ser consciente de possíveis vieses e buscar manter a neutralidade podem ajudar a minimizar suas influências na pesquisa (MILLS, 2009). Por fim, a prática de uma sociologia pública, que busque dialogar com uma audiência mais ampla e contribuir para o debate público, pode ajudar a superar as limitações da sociologia acadêmica tradicional, ampliando seu impacto e sua relevância social (BURAWOY, 2005). 38 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Neste subtítulo, exploramos a complexidade e a riqueza do conhecimento científico sociológico, bem como seus desafios e limitações. Reconhecemos que, embora a sociologia seja uma disciplina acadêmica rigorosa baseada em métodos científicos, também é uma ciência da sociedade, sujeita a uma série de desafios e limitações inerentes à natureza do seu objeto de estudo. Mesmo diante dessas limitações, a sociologia tem ferramentas para lidar com isso por meio da reflexão crítica, da diversificação dos métodos de pesquisa, da consciência do pesquisador sobre seus próprios vieses e da prática de uma sociologia pública. Compreender a sociologia como um campo de conhecimento científico é fundamental para entender a natureza de seus métodos, a amplitude de suas aplicações e a relevância de seu objeto de estudo: a sociedade. A compreensão desses aspectos é essencial para quepossamos aplicar o conhecimento sociológico, de maneira eficaz, na análise de fenômenos sociais. Da mesma forma, o reconhecimento de desafios e limitações do conhecimento sociológico nos ajuda a evitar armadilhas comuns e a aprimorar nossas análises. Dessa forma, o conhecimento científico sociológico se destaca não apenas como uma ferramenta para a compreensão da realidade social, mas também como uma prática crítica que questiona, desafia e busca entender, de forma mais profunda, a complexidade da vida social. 39SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a sociologia, como ciência da sociedade, baseia- se em fundamentos e métodos sólidos que permitem um estudo sistemático e rigoroso dos fenômenos sociais. Identificamos que a sociologia utiliza uma série de métodos, como pesquisa de opinião, estudos de caso e análise de conteúdo, para coletar e analisar dados que ajudam a lançar luz sobre os variados aspectos da vida social. Você deve ter entendido, também, que a aplicação do conhecimento científico sociológico é de vital importância na análise de fenômenos sociais. Por meio de seus métodos e conceitos, a sociologia nos permite entender e interpretar fenômenos sociais complexos, desde processos de socialização até grandes movimentos sociais e mudanças culturais. A sociologia fornece as ferramentas para examinar de perto as complexidades da vida social e para compreender como as sociedades e os indivíduos se influenciam mutuamente. No entanto, também salientamos que o conhecimento científico sociológico enfrenta desafios e limitações. Devido à complexidade inerente ao comportamento humano e às sociedades, a sociologia precisa, constantemente, adaptar-se e evoluir para lidar com essa variabilidade. Os fenômenos sociais são multifacetados e estão sujeitos a inúmeras influências, tornando sua análise um desafio. 40 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 No entanto, os sociólogos continuam a buscar novas formas de superar esses desafios e de melhorar a eficácia e a precisão de suas pesquisas. Com todas essas informações, esperamos que você esteja agora mais bem equipado para discernir métodos e conceitos do conhecimento científico sociológico e para aplicá-los na análise de fenômenos sociais. Acima de tudo, esperamos que você tenha encontrado, neste capítulo, um convite para observar a sociedade com um olhar mais questionador e crítico, o verdadeiro espírito da sociologia. 41SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Auguste Comte e Émile Durkheim OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funcionam as ideias centrais de Auguste Comte e Émile Durkheim, dois precursores fundamentais da Sociologia. Essa compreensão é crucial para o exercício de sua profissão, especialmente se você está interessado em compreender as complexidades dos fenômenos sociais e a gênese do pensamento sociológico. As pessoas que tentaram navegar pelas complexidades da sociologia sem uma sólida compreensão das teorias desses pensadores, muitas vezes, encontraram problemas para interpretar, corretamente, os fenômenos sociais. Além disso, entender as críticas e os debates em torno do positivismo é fundamental para compreender a diversidade e a evolução do pensamento sociológico. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Auguste Comte: o pensador do Positivismo na Sociologia Auguste Comte, filósofo francês do século XIX, é reconhecido como um dos pensadores mais influentes no desenvolvimento da sociologia. Sua abordagem sistemática e seu compromisso com a aplicação de métodos científicos na compreensão da sociedade renderam-lhe o título de fundador do positivismo, uma corrente de pensamento que busca aplicar as leis do método científico às questões sociais. Comte buscou criar uma ciência da sociedade que pudesse explicar e prever os fenômenos sociais, estabelecendo as bases para a disciplina sociológica como a conhecemos hoje. 42 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Figura 3.3 – Auguste Comte Fonte: Wikimedia Commons. “O positivismo de Comte, como uma perspectiva científica para estudar a sociedade, visava transcender os debates filosóficos abstratos e se concentrar no estudo empírico e sistemático dos fenômenos sociais” (GIDDENS, 2005, p. 142). Ao abordar Auguste Comte, adentramos o pensamento de um dos principais teóricos que moldaram o campo da sociologia. Comte foi um pensador proeminente do século XIX cujas contribuições tiveram um impacto significativo na forma como entendemos a disciplina sociológica hoje. Seu trabalho é central para a compreensão do positivismo, uma corrente filosófica que teve uma influência marcante no desenvolvimento da sociologia. Comte nasceu em 1798, na França, em um período de mudanças sociais, políticas e científicas. Testemunhou as transformações decorrentes da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, que moldaram sua visão de mundo e suas 43SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 preocupações em relação à ordem social e ao progresso humano. Influenciado por esses eventos históricos, Comte desenvolveu o positivismo como uma abordagem científica para compreender a sociedade. O positivismo, proposto por Comte, defende que o conhecimento deve ser baseado em fatos observáveis e na aplicação de métodos científicos. Segundo Comte, a sociologia deveria seguir os mesmos princípios das ciências naturais, buscando leis gerais que pudessem explicar e prever os fenômenos sociais. Acreditava que a sociologia poderia desempenhar um papel fundamental na organização e no progresso da sociedade. Comte deixou um legado duradouro na sociologia, sendo reconhecido como o pai fundador da disciplina. Suas ideias influenciaram outros teóricos importantes, como Émile Durkheim, e ajudaram a estabelecer a sociologia como uma ciência autônoma. No entanto, é importante destacar que o positivismo de Comte também recebeu críticas e enfrentou limitações em sua aplicação prática. Ao explorar o pensamento de Auguste Comte, é essencial considerar a riqueza e a complexidade de suas ideias, bem como suas implicações na formação do conhecimento sociológico. O estudo de suas obras e de seus debates é fundamental para uma compreensão mais profunda das origens e dos fundamentos da sociologia. 44 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 O Positivismo de Comte O positivismo de Auguste Comte é uma corrente filosófica e epistemológica que exerceu grande influência no pensamento sociológico e científico do século XIX. Comte acreditava que o conhecimento deveria ser baseado em fatos observáveis e na aplicação de métodos científicos rigorosos. Defendia a ideia de que a Sociologia deveria seguir os mesmos princípios das ciências naturais, buscando leis gerais que pudessem explicar os fenômenos sociais. Segundo Comte, o objetivo da sociologia é analisar a sociedade e compreender as leis que a regem, a fim de promover o progresso social e a ordem. Via a sociologia como uma ciência positiva que se baseia em dados empíricos e que busca identificar regularidades e padrões nas relações sociais. Nesse sentido, propôs a utilização do método científico para investigar os fenômenos sociais e estabelecer leis sociais. Uma das principais contribuições do positivismo de Comte foi a ênfase na objetividade e na neutralidade científica. Ele defendia que o conhecimento sociológico deveria ser isento de juízos de valor e influências subjetivas, buscando uma análise imparcial da realidade social. Essa visão positivista da sociologia teve um impacto duradouro na disciplina, influenciando teóricos posteriores. No entanto, é importante ressaltar que o positivismo de Comte também recebeu críticas aolongo do tempo. Muitos questionaram sua crença na possibilidade de encontrar leis universais que se aplicam a todas as sociedades e culturas. Além disso, o positivismo foi criticado por sua visão determinista e simplificadora da realidade social, que negligenciava a complexidade e a diversidade das experiências humanas. 45SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Apesar das críticas, o positivismo de Comte deixou um legado importante para o desenvolvimento da sociologia. Suas ideias influenciaram a formação da disciplina e estimularam o debate sobre a natureza do conhecimento sociológico. O positivismo continuou a exercer influência no pensamento sociológico, mesmo que de maneiras diversas e com abordagens críticas. A influência do Pensamento de Comte na Sociologia A influência do pensamento de Auguste Comte na sociologia é inegável. Suas ideias positivistas sobre a aplicação do método científico na análise dos fenômenos sociais tiveram um impacto significativo no desenvolvimento da disciplina. Comte acreditava que a sociologia poderia fornecer um conhecimento objetivo e sistemático sobre a sociedade, baseado em observações e leis gerais. Uma das principais contribuições de Comte foi a criação do termo “sociologia” para designar essa nova ciência social. Ele considerava a Sociologia a disciplina mãe das ciências sociais, unindo os conhecimentos de diferentes áreas para compreender a sociedade em sua totalidade. Essa concepção ampla da sociologia influenciou a forma como a disciplina se desenvolveu posteriormente. Além disso, a ênfase de Comte na busca por leis sociais e na objetividade científica influenciou a metodologia sociológica. Ele defendia a importância da coleta de dados empíricos, da análise estatística e da utilização de métodos científicos rigorosos na investigação dos fenômenos sociais. Essa abordagem metodológica positivista deixou um legado importante para a sociologia, influenciando teóricos posteriores. 46 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 No entanto, é importante ressaltar que a influência de Comte na Sociologia não foi unânime. Muitos sociólogos posteriores criticaram suas concepções deterministas e simplificadoras da sociedade. Argumentaram que as leis sociais propostas por Comte não poderiam ser aplicadas universalmente, considerando a diversidade e a complexidade das sociedades humanas. Apesar das críticas, a influência do pensamento de Comte pode ser observada em diversas correntes e teorias sociológicas. Autores como Émile Durkheim e Herbert Spencer foram influenciados por suas ideias positivistas, adaptando-as às suas próprias teorias sociológicas. Ainda hoje, os conceitos e métodos propostos por Comte continuam sendo discutidos e debatidos no campo da sociologia. Críticas ao positivismo de Comte Apesar da influência significativa de Auguste Comte na Sociologia, seu positivismo também foi alvo de críticas por parte de diversos teóricos ao longo da história. Essas críticas se concentraram em diferentes aspectos do positivismo de Comte, questionando sua visão determinista da sociedade e sua ênfase excessiva na objetividade científica. Uma das críticas mais comuns ao positivismo de Comte é a sua concepção determinista da sociedade. Autores como Karl Marx argumentaram que as leis sociais propostas por Comte não consideravam, adequadamente, a influência dos conflitos de classe e das relações de poder na dinâmica social. Para Marx, a luta de classes e as contradições sociais desempenham um papel fundamental na transformação da sociedade, o que vai além das leis gerais propostas pelo positivismo. 47SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Outra crítica ao positivismo de Comte está relacionada à sua ênfase na objetividade científica. Alguns teóricos argumentam que essa busca pela objetividade leva a uma neutralidade ingênua, ignorando o papel do pesquisador e sua posição social na produção do conhecimento. Essa crítica ressalta a importância de considerar o contexto social, histórico e político em que a pesquisa sociológica é realizada. Ademais, críticas foram feitas às supostas neutralidade e universalidade das leis sociais propostas pelo positivismo. Muitos teóricos argumentam que as leis sociais são construções sociais e históricas, variando de acordo com o contexto cultural e as relações de poder. Nesse sentido, as críticas ao positivismo destacam a necessidade de uma abordagem mais contextualizada e crítica na análise dos fenômenos sociais. É importante ressaltar que essas críticas não invalidam, completamente, as contribuições de Comte para a sociologia. Seu pensamento positivista trouxe importantes reflexões sobre a aplicação do método científico na análise social e estimulou o desenvolvimento da disciplina. No entanto, as críticas levantadas mostram a importância de uma abordagem mais plural e crítica na compreensão dos fenômenos sociais. 48 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Émile Durkheim: fundamentos da sociologia como ciência Émile Durkheim é reconhecido como um dos principais fundadores da sociologia como ciência. Sua contribuição teórica e metodológica foi fundamental para estabelecer a disciplina e influenciou, profundamente, o desenvolvimento da sociologia contemporânea. Durkheim viveu em uma época marcada por profundas transformações sociais e intelectuais, quando a busca por explicações racionais e científicas para os fenômenos sociais ganhava cada vez mais espaço. Nesse contexto, Durkheim se destacou por sua abordagem científica e sistemática, que buscava compreender a sociedade como um objeto de estudo passível de análise objetiva e rigorosa. Figura 3.4 - Émile Durkheim Fonte: Wikimedia Commons. 49SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Durkheim acreditava que a sociologia deveria se basear em fatos sociais, entendidos como formas de comportamento, pensamento e sentimento que são exteriores aos indivíduos e exercem controle sobre eles. Segundo Durkheim, os fatos sociais têm uma existência própria e independente das vontades individuais, e seu estudo demanda um método específico que permita observá-los e analisá-los de maneira científica. Para Durkheim, a solidariedade social é um dos conceitos centrais para compreender a coesão da sociedade. Distinguiu dois tipos de solidariedade: a mecânica, que caracteriza as sociedades tradicionais, cujos indivíduos compartilham valores e crenças semelhantes; e a orgânica, presente nas sociedades modernas, cuja interdependência funcional entre os indivíduos é essencial para seu funcionamento como um todo. Durkheim também desenvolveu o conceito de consciência coletiva, que representa o conjunto de crenças e valores compartilhados pelos membros de uma sociedade. Segundo ele, a consciência coletiva exerce um papel fundamental na regulação do comportamento social, estabelecendo normas e valores que orientam as ações individuais. 50 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Conceitos-chave desenvolvidos por Durkheim Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia como ciência, desenvolveu diversos conceitos-chave para o entendimento da dinâmica social. Suas contribuições teóricas ainda são discutidas e aplicadas, amplamente, nos estudos sociológicos contemporâneos. Um dos conceitos centrais propostos por Durkheim é o de fato social. Durkheim define o fato social como “maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se impõem” (DURKHEIM, 1895, p. 16). Os fatos sociais são realidades objetivas que existem independentemente dos indivíduos e exercem influência sobre eles. Representam normas, valores, crenças e práticas compartilhados pela sociedade. Outro conceito-chave desenvolvido por Durkheim é o de solidariedade social. Durkheim identifica dois tipos de solidariedade: a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica. A solidariedade mecânica é característica das sociedades tradicionais,cujos indivíduos são integrados, fortemente, por meio de semelhanças culturais e pela conformidade às normas coletivas. Já a solidariedade orgânica é encontrada nas sociedades modernas, cuja interdependência entre os indivíduos é baseada na divisão do trabalho e na complementaridade das funções sociais. Além disso, Durkheim desenvolveu o conceito de consciência coletiva. A consciência coletiva representa o conjunto de crenças, valores e ideias compartilhados por membros de uma sociedade. Desempenha um papel importante na regulação do comportamento individual e na coesão social. Durkheim 51SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 argumenta que a consciência coletiva é transmitida aos indivíduos por meio da educação e da socialização, moldando suas percepções e orientando suas ações. Durkheim também abordou a questão do suicídio em seu trabalho clássico O suicídio: um estudo sociológico (DURKHEIM, 1897). Demonstrou que o suicídio não é apenas um fenômeno individual, mas também está relacionado a fatores sociais. Durkheim identificou quatro tipos de suicídio: egoísta, altruísta, anômico e fatalista, cada um correspondendo a diferentes padrões de integração e regulação social. Os conceitos desenvolvidos por Durkheim são fundamentais para a compreensão da sociedade e da dinâmica social. Permitem analisar os processos de integração social, as formas de solidariedade, a influência dos fatos sociais sobre os indivíduos e a importância da consciência coletiva na vida em sociedade. Método sociológico utilizado por Durkheim em suas pesquisas sociológicas Émile Durkheim, considerado um dos pioneiros da sociologia, contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento do método sociológico. Defendeu a ideia de que a sociologia deveria ser uma ciência positiva, baseada em observação empírica e em análise sistemática dos fenômenos sociais. Durkheim utilizou o método comparativo em suas pesquisas sociológicas, buscando identificar semelhanças e diferenças entre diferentes sociedades e grupos sociais. Acreditava que a comparação permitia a identificação de padrões 52 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 e regularidades sociais, auxiliando na compreensão das causas e consequências dos fenômenos sociais. Outro aspecto importante do método utilizado por Durkheim foi a ênfase na coleta e na análise de dados quantitativos. Defendeu a utilização de estatísticas e dados numéricos como uma forma de objetivar a pesquisa sociológica e permitir a mensuração dos fenômenos sociais. IMPORTANTE Durkheim também enfatizou a importância da objetividade e da neutralidade do pesquisador. Defendia que o sociólogo deveria se distanciar de seus próprios valores e preconceitos pessoais, buscando uma análise imparcial e científica dos fenômenos sociais. Para Durkheim, a pesquisa sociológica deveria ter, como objetivo principal, o estudo dos fatos sociais, entendidos como realidades exteriores ao indivíduo, sobre o qual exercem poder de coerção. Propôs que os fatos sociais deveriam ser tratados como coisas passíveis de serem observadas, analisadas e explicadas de forma científica. Contribuições de Durkheim para a sociologia Émile Durkheim foi um dos principais teóricos da sociologia e deixou valiosas contribuições para o campo. Suas ideias revolucionaram a forma como entendemos e estudamos a sociedade. Durkheim acreditava que a sociedade era uma entidade distinta dos indivíduos que a compunham e que poderia ser objeto de estudo científico. 53SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Uma de suas principais contribuições foi a concepção de que os fatos sociais têm uma existência objetiva e independente dos indivíduos. Durkheim definiu os fatos sociais como “maneiras coletivas de agir, pensar e sentir, exteriores aos indivíduos, e dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se impõem a eles” (DURKHEIM, 1895, p. 7). Essa concepção permitiu a construção de uma sociologia que investiga padrões e regularidades presentes nas estruturas sociais. Outra importante contribuição de Durkheim foi a teoria da solidariedade social. Ele identificou dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica. A solidariedade mecânica caracteriza-se pela coesão social baseada na semelhança e na homogeneidade dos indivíduos. Já a solidariedade orgânica está relacionada à interdependência e à divisão do trabalho na sociedade moderna. Essa teoria ajudou a entender as bases da coesão social em diferentes tipos de sociedade. Durkheim também explorou o papel da religião na sociedade. Argumentava que a religião desempenhava um papel fundamental na manutenção da coesão social, pois promovia a solidariedade e o senso de pertencimento coletivo. Sua obra As formas elementares da vida religiosa (1912) é um marco nessa área de estudo. Suas contribuições teóricas e metodológicas foram fundamentais para a consolidação da sociologia como ciência e para o desenvolvimento de uma abordagem científica para o estudo dos fenômenos sociais. Durkheim enfatizou a importância da objetividade, da coleta de dados empíricos e da análise estatística na pesquisa sociológica. 54 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 Críticas e debates sobre o Positivismo e sua influência na produção do conhecimento sociológico O positivismo, corrente filosófica que fundamentou o pensamento de Auguste Comte, teve uma influência significativa no desenvolvimento da sociologia como ciência. No entanto, ao longo do tempo, surgiram críticas e debates em relação ao positivismo e sua influência na produção do conhecimento sociológico. Uma das críticas mais frequentes ao positivismo é a sua tendência ao objetivismo e à neutralidade. Segundo essa visão crítica, o positivismo desconsidera a subjetividade dos indivíduos e sua influência na construção da realidade social. Para esses críticos, a sociologia deveria levar em conta experiências, valores e perspectivas dos atores sociais em suas análises. Outra crítica ao positivismo está relacionada à sua ênfase no método científico e na busca por leis universais. Essa abordagem tende a generalizar os fenômenos sociais, desconsiderando a diversidade e a complexidade das situações sociais concretas. Além disso, alguns argumentam que o positivismo privilegia o estudo de aspectos estruturais e funcionais da sociedade, deixando de lado a compreensão de significados e interpretações individuais. No campo do debate sobre a influência do positivismo na produção do conhecimento sociológico, destacam-se as críticas à ideia de neutralidade científica. Essas críticas apontam para a impossibilidade de uma pesquisa social isenta de valores e interesses políticos. A produção do conhecimento sociológico é 55SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 3 influenciada por perspectivas teóricas, preconceitos e escolhas metodológicas, o que coloca em questão a objetividade absoluta. Diante dessas críticas, alguns teóricos têm buscado superar as limitações do positivismo e desenvolver abordagens alternativas na sociologia. Entre essas, destacam- se a fenomenologia, a teoria crítica, o construtivismo social e a sociologia interpretativa. Essas abordagens enfatizam a importância da subjetividade, da reflexividade e da interpretação na compreensão dos fenômenos sociais. Com base nas discussões sobre Auguste Comte e Émile Durkheim, podemos concluir que ambos são fundamentais para a compreensão do desenvolvimento da sociologia como ciência. O pensamento de Comte, com sua abordagem positivista, trouxe a proposta de uma sociologia baseada em leis e no método científico. Por sua vez, Durkheim contribuiu para a consolidação da sociologia como disciplina autônoma, estabelecendo conceitos- chave e desenvolvendo um método sociológico rigoroso. A relevância de Comte e Durkheim reside no fato de que suas ideias continuam a influenciar e provocar debates na sociologia contemporânea. As críticas ao positivismo e à objetividade absoluta,