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Hanseníase ● Moléstia ou mal de Hansen (termo pejorativo é lepra), doença infectocontagiosa, granulomatosa, crônica e incapacitante ● De notificação compulsória e investigação obrigatória no BR ● Etiologia ○ causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), é o bacilo de Hansen ○ parasita intracitoplasmático que infecta principalmente macrófagos e células de schwann (célula glial, de suporte do SNP) pelas quais tem tropismo gerando distúrbios de sensibilidade, perda de suor, espessamento dos nervos, distúrbios motores e de trofismo que podem gerar deformidades ○ esse bacilo tem replicação extremamente lenta e é de difícil cultura em laboratório ○ a infecção pode levar à cura espontânea em 70% dos casos de infecção subclínica ou progredir para diversas formas clínicas em 30% dos casos ● Fisiopatologia ○ infecta prioritariamente pele, mucosas, órgãos internos (testículos, ossos, baço, fígado, etc.), olhos, gânglios ○ evolui tipicamente do tegumento para gânglios e depois ocorre a disseminação ○ patogenicidade e manifestação clínica dependem da resposta imunitária do hospedeiro, que provavelmente é inata ● Epidemiologia ○ endêmica em muitas áreas subdesenvolvidas como américa do sul, ásia e áfrica ○ BR em segunda posição de casos, sendo eles mais prevalentes no N, CO e NE ○ pode afetar qualquer etnia, idade e sexo ● Transmissão ○ transmissão aérea ○ o principal transmissor é o ser humano pelo contágio direto, íntimo e prolongado ○ bacilo penetra principalmente pela mucosa nasal (vias aéreas) e, raramente, por pele lesada ○ alta infectividade e baixa patogenicidade ○ incubação de 2 a 5-7 anos ○ tatus e macacos são hospedeiros naturais do bacilo ● Classificação ○ conforme as formas principais com base na resposta imunológica ■ virchowiana (LL ou VV): resposta predominante Th2 humoral, imunidade humoral aumentada (IgA, IgG, IgM, anticorpos antinucleares) e anergia celular (mitsuda negativo sem formar granuloma contra antígenos do bacilo, falta de resposta imune celular mediada por linfócitos T) e baciloscopia positiva (com muitos bacilos devido a falta de imunidade celular robusta, pode causar manifestações clínicas disseminadas) ● manifestações clínicas disseminadas com infiltrações difusas, nódulos e pápulas ■ tuberculoide (TT): Resposta predominantemente Th1 celular com imunidade celular hipersensível (mitsuda positivo) e imunidade humoral normal. Baciloscopia negativa (poucos ou nenhum bacilo detectado) ○ conforme as manifestações clínicas e patológicas da doença ■ tuberculoide: um polo do espectro da doença, forte resposta imune celular do hospedeiro ao bacilo ■ virchowiana: outro polo da doença, resposta imune celular é deprimida e a humoral é predominante ■ dimorfa: entre os dois polos e com características clínicas e imunológicas instáveis e variáveis, com presença de bacilos ○ categorizar em contexto de pesquisa, baseado em aspectos clínicos, histológicos e imunológicos para definir espectros da doença e estágios ■ tuberculóide polar (TT): polo de alta resistência imune celular, tipo estável, com forte imunidade mediada por células e resposta Th1. Caracterizada por granulomas com lise de BAAR ■ borderline tuberculoide (BT) ou dimorfa tuberculoide (DT): forma que se inclina para polo tuberculoide ■ borderline borderline (BB) ou dimorfa dimorfa (DD):forma intermediária dentro do grupo dimorfo ■ borderline lepromatosa (BL) ou dimorfa virchowiana (BV): forma dimorfa que se inclina pra polo virchowiano ■ lepromatosa polar (LL) ou virchowiana polar (VV): polo de baixa resistência imune celular, tipo estável, com imunidade humoral predominante e resposta Th2 e produção de anticorpos que não conseguem lisar o BAAR ● tipos polares são considerados estáveis em termo de resposta imune ● tipos interpolar são instáveis com imunidade humoral e celular variável ● polo tubreculóide com imunidade Th1 e expressão de IL 2 e interferon gama ● polo virchowiano com imunidade Th1 com expressão de IL 4 e 10 ● TT tem menos bacilos e LL mais bacilos ○ classificação operacional MS/OMS baseada em características clínicas e número de lesões ■ paucibacilar (PB): uma lesão cutânea ou de 2 a 5 lesões, sendo elas bem desenhadas, bem definidas e de distribuição assimétrica. Baciloscopia negativa. Inclui forma indeterminada e tuberculoide ■ multibacilar (MB): mais de 5 lesões cutâneas, sendo elas mais infiltradas, com limites difusos e simétricos. Baciloscopia positiva. Inclui formas virchowianas e dimorfas ● Formas clínicas e manifestações cutâneas ○ a classificação de madrid é baseada em diferenciação de formas clínicas e tem 4: indeterminada, dimorfa, tuberculoide e virchowiana ○ forma indeterminada (MHI): manchas mais claras que a pele normal (hipocrômicas ou eritemato-hipocrômicas); lesões cutâneas e mucosas com hipo ou anestesia, alopécia e diminuição do suor, sem comprometimento de troncos nervosos nem grau de incapacidade nesta fase. Diagnóstico diferencial por lesão cicatricial, nervo hipocrômico e pitiríase alba. Na fase, onde lesões são muito inervadas, pode não apresentar hipoestesias clássicas, sendo útil o teste de histamina (tríplice reação de lewis) ○ Polo tuberculoide (TT): lesões bem delimitadas, eritemato-hipocrômicas e poucas, anestesias pela destruição das terminações nervosas da pele pelos linfócitos que tentam destruir bacilos nos nervos periféricos. Pode apresentar alopecia e suor diminuído. Necessita teste de sensibilidade ou histamina. Baciloscopia negativa ○ Hanseníase nodular da infância (nódulo de MHTT): em criança com contato de forma virchowiana (contato da pele de crianças com bacilos de parente próximo). Diagnóstico diferencial com sarcoidose e granuloma anular ○ polo virchowiano (VV/LL): ■ forma virchowiana com pápulas, nódulos, placas de limites mal definidos sendo muitas, assimétricas e generalizadas e infiltrações. Geralmente poupa o couro cabeludo e pode apresentar fácies leoninas (infiltração da face associada a madarose ciliar e superciliar com cabelos normais) e lepra bonita (infiltração difusa, comum no méxico). As lesões cutâneas são numerosas e simétricas, a sensibilidade pode não estar afetada no início, mas com evolução ocorrem neuropatias periféricas em bota ou luva bilateralmente. Baciloscopia fortemente positiva com muitos bacilos e globias ■ formas dimorfas:lesão semelhante às formas TT eVV, podendo ser muitas e assimétricas, placas com limites externos mal definidos e internos bem definidos, características de queijo suiço. Lesões avermelhadas elevadas, mal delimitadas, com centro irregular e esburacado, podendo ser anestésicas ou hipoetésicas. Pode haver espessamento do nervo fibular superficial. Baciloscopia positiva com muitos bacilos ○ hanseníase dimorfa ● Alterações neurológicas: ○ afeta profundamente o SNP ○ distúrbios de sensibilidade (térmica, tátil e dolorosa) ○ diminuição do suor ○ nervos espessados (palpáveis) ○ distúrbios de trofismo como mal perfurante plantar, amiotrofias e reabsorção óssea ○ distúrbios motores como mão simiesca, garra cubital, mão caída (abscesso de nervo), nervo facial afetado (ectrópico, assimetria palpebral) ○ aumento da inflamação com dor nos nervos periféricos ○ nervos mais comprometidos são cubital, ciático poplíteo externo, tibial posterior, auricular ○ nervo radial e mediano raramente comprometidos ● Reações hansênicas (leprorreações) ○ episódios agudos inflamatórios que ocorrem na hanseníase, caracterizado por ruptura do equilíbrio entre bacilo e hospedeiro, podendo ser desencadeadas por estresse, medicação específica, doenças intercorrentes, menstruação, gestação, parto ou insuficiência suprarrenal. ○ devem ser tratadas mas o tratamento da hanseníase deve ser mantido ■ tipo 1/ reação adversa: mais comum em formas dimorfas. Com aumento do eritema e edema das lesões existentes e surgimento de novas lesões.Pode ser reação de melhora ou, raramente, de piora. Tratamento com corticosteroides. Tipo reação reversa mediada por imunidade celular, lesões cutâneas agudas e neuropatia piora. Uso de prednisona ■ tipo 2/ eritema nodoso hansênico ENH: mais comum em formas dimorfas e virchowianas, com nódulos eritematosos, ulcerados ou não, principalmente em membros inferiores, mas também em outros locais. Pode ocorrer necrose (especialmente na lepra bonita), podendo ser grave e até mortal. Tratamento com talidomida (contraindicadas em idade fértil por ser teratogênica), corticosteroides ou clofazimina (imunomoduladoras). Mediada por imunidade humoral/ imunocomplexos. Principal achado dermatológico são eritemas nodosos (como é mediada por imunocomplexos/ humoral causa também orquite e glomerulite, tratamento com talidomida, tomar cuidado em mulheres em fase reprodutiva) ■ hanseníase tuberculoide reacional: ocorre nas formas tuberculoides, com edema e aumento do eritema da lesão tuberculoide ● Diagnóstico ○ essencialmente clínico ■ lesão dermatológica com alteração de sensibilidade, acometimento de nervo periférico e baciloscopia positiva ○ provas clínicas: ■ testes de sensibilidade térmica, tátil e dolorosa ■ prova da histamina a 1:1000 (ausência de halo reflexo neurológico) ■ pilocarpina a 1% com avaliação do suor ■ palpação de nervos periféricos (especialmente os mais superficiais) à procura de espessamento ● Exames laboratoriais ○ baciloscopia ■ Pesquisa de BAAR em esfregaço de lesões cutâneas, avalia o índice baciloscópico em cruzes e o índice morfológico. Positivo em formas multibacilares e negativa em paucibacilares ■ positivou a baciloscopia é multibacilar, tende a ser tipo dimorfa e virchowiana (mais de 5 lesões) ■ a baciloscopia negativa tende a ser hanseníase indeterminada e tuberculoide, são chamadas de paucibacilar ■ principais locais de coleta de amostras são lóbulos da orelha, cotovelos e lesão cutânea ○ reação sorológica ■ pesquisa de anticorpos anti-glico-lipidio fenólico 1 (PGL-1), útil para contractantes ○ reação de mitsuda (lepromina ou mitsuda) ■ mostra que o paciente teve contato com o bacilo da hanseníase ■ teste intradérmico com leitura em 28 dias ■ não é prova diagnóstica, mas é útil para classificar formas clínicas indicando a capacidade de formação de granuloma (resposta imune celular) ○ teste de sensibilidade ■ feito com monofilamento de semmes-weinstein, apenas para teste de sensibilidade ○ exame histopatológico ■ forma indeterminada: processo inflamatório crônico (linfócitos e histiócitos), inespecíficos, perivascular e perineural. Valioso, com BAAR negativo ■ forma tuberculoide: granuloma tuberculoide, com BAAR negativo ■ forma virchowiana: células de virchow com macrófagos vacuolizados com gordura, incapazes de lesar bacilos, ricos em BAAR positivo ■ formas dimorfas: apresentam granulomas tuberculoides e células de virchow com BAAR positivo ■ mostra conglomerados de bacilos ● Diagnóstico diferencial ○ varia conforme a forma clínica ■ forma indeterminada: manchas hipocrômicas ■ forma tuberculoide: lesões tipo placa ■ forma virchowiana: lesões variadas com nódulos, placas e infiltrações ■ quadro neurológico: lesões de nervos periféricos e deformidades nas extremidades ● Tratamento ○ baseado na politerapia (multidrogaterapia - MDT) preconizada pela OMS ■ paucibacilar (PB): rifampicina 600mg (dose supervisionada 1x/mês)+dapsona 100mg (supervisionada 1x/mês)/ Duração de 6 cartels ou 6 doses sob supervisão em até 9 meses ■ multibacilar (MB): rifampicina 600 mg (2 cápsulas de 300mg supervisionada 1x/mês)+dapsona 100mg (supervisionada 1x/mês)+dapsona 100mg/dia (em casa)+ clofazimina 300 mg (3 cápsulas de 100mg, 1x/mês)+ clofazimina 50 mg/dia (em casa). Duração 12 cartelas ou 12 doses sob supervisão em até 18 meses ■ outras drogas: ofloxacina, minociclina, claritromicina. Pode-se considerar imunoterapia ■ tratamento não muda em gestantes e HIV+, continua rifampicina+dapsona+clofazimina, variando conforme o número de lesões ou baciloscopia (paucibacilar ou multibacilar) ■ A rifampicina é antibiótico bactericida que age inibindo RNA polimerase dependente de DNA das bactérias, se liga a subunidade beta da RNA polimerase que é essencial para transcrição do DNA bacteriano em RNAm. Sem essa produção, a célula bacteriana não consegue sintetizar proteínas essenciais para sua sobrevivência e multiplicação e ocorre a morte dela ■ o paciente que esquece de tomar as medicações não precisa reiniciar o tratamento pois tem até 9 meses para completar o tratamento, caso tenha a forma paucibacilar e 18 meses caso tenha a multibacilar ○ efeitos colaterais ■ rifampicina: farmacodermias leves e graves como SSJ/NET, efeitos renais, hepáticos, hematológicos, interações medicamentosas ■ dapsona: anemia hemolítica, meta-hemoglobinemia, efeitos renais, hepáticos, farmacodermias graves SSJ/NET, DRESS ■ clofazimina: pigmentação da pele e intestino (pode ser grave), xerose ○ tratamento das reações: ■ sem interromper o tratamento da hanseníase ● tipo1: corticosteroides ● tipo 2: talidomida, corticosteroides, clofazimina (imunomodeladoras) ● Prevenção ○ exame e acompanhamento de contactantes ○ vacina BCG para contactantes em duas doses ■ assintomáticos 1 dose de BCG ■ 2 cicatrizes de BCG não fazer a vacina ● Critérios para alta por cura ○ após o cumprimento do número de doses preconizadas e a regularidade do tratamento ○ evidenciada pela contínua melhora clínica nos anos posteriores e pela queda baciloscopia