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RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA Resistência dos M ateriais Aplicada RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA (Resistência dos Materiais Aplicada a Engenharia Civil) Leonardo Vinícius Paixão Daciolo Leonardo Vinícius Paixão Daciolo GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro A compreensão do comportamento mecânico das estruturas é uma etapa fundamental no desenvolvimento técnico e pro� ssional do engenheiro. Ao projetarmos as estrutu- ras, estamos dando forma e concretizando os sonhos e necessidades de alguém. Por isso, precisamos projetar de forma responsável e sustentável, usando o conheci- mento das técnicas e comportamentos físicos envolvidos nos problemas que nos forem apresentados durante o projeto. Este material foi desenvolvido para possibilitar seu contato com os principais tópicos de mecânica dos sólidos, a � m de, também, instigá-lo a se aprofundar nessa ciência, fundamental para a concretização das estruturas. Durante seus estudos, você será apresentado a diferentes comportamentos dos ele- mentos das estruturas, decorrentes das distintas formas de solicitação estrutural, vin- culações, mecanismos de instabilização e falha. Também irá conhecer as principais hi- póteses simpli� cadoras, teoremas e equacionamentos associados à análise estrutural. Com os conhecimentos adquiridos, será possível identi� car as solicitações e esforços empregados nos elementos, o que se constitui como uma primeira etapa de dimensio- namento para qualquer sistema estrutural. Adiante, a partir do estudo em disciplinas especí� cas de dimensionamento de sistemas estruturais, será possível correlacionar as solicitações com as propriedades resistentes dos elementos de seu sistema. SER_ENGCIV_RMA_Capa.indd 1,3 09/12/2020 17:35:48 © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Leonardo Vinícius Paixão Daciolo DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 2 09/12/2020 17:50:06 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 3 09/12/2020 17:50:06 Unidade 1 - Barras sujeitas à torção pura Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Análise do comportamento de barras de seção circular sujeitas à torção pura ........... 13 Ângulo de torção em barras de seção circulares ..................................................... 19 Elementos estaticamente indeterminados submetidos a momento torçor ........... 21 Dimensionamento de barras de seção arbitrárias sujeitas à torção ......................... 23 Tubos de paredes finas submetidos à torção ............................................................. 28 Analogia de membrana .................................................................................................. 32 Sintetizando ........................................................................................................................... 39 Referências bibliográficas ................................................................................................. 40 Sumário SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 4 09/12/2020 17:50:06 Sumário Unidade 2 - Deflexão em vigas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 42 Deflexão de vigas: linha elástica ...................................................................................... 43 Equações diferenciais da curva de deflexão ............................................................. 46 Método da integração da linha elástica ...................................................................... 51 Vigas estaticamente indeterminadas ............................................................................... 57 Método da integração ................................................................................................... 60 Método da superposição de efeitos ............................................................................ 64 Sintetizando ........................................................................................................................... 68 Referências bibliográficas ................................................................................................. 69 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 5 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 5 09/12/2020 17:50:06 Sumário Unidade 3 - Flexão e flambagem Objetivos da unidade ........................................................................................................... 71 Flexão oblíqua e composta ................................................................................................ 72 Flexão nas estruturas ..................................................................................................... 72 Flexão oblíqua .................................................................................................................. 76 Flexão normal composta ................................................................................................ 79 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas ............................................. 81 Fórmula de Euler .............................................................................................................. 86 Sintetizando ........................................................................................................................... 92 Referências bibliográficas ................................................................................................. 93 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 6 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 6 09/12/2020 17:50:06 Sumário Unidade 4 - Transformação da tensão e deformação Objetivos da unidade ........................................................................................................... 95 Análise dos estados planos de tensão e deformação ................................................... 96 Círculo de Mohr ............................................................................................................. 103 Estado plano de deformações ..................................................................................... 106 Dimensionamento de peças sujeitas a carregamento alternado ............................. 109 Análise de elementos sujeitos a carregamentos combinados .............................. 111 Aplicação+ c2 = 0 → c2 = 0y(x = 0) = 0 → 1 EI (26) Repare que as constantes de integração podem ser obtidas com as condi- ções de contorno de vínculos do primeiro/segundo gênero (apoios): M · L3 6L – + c1 · L + 0 = 0 → c1 =y(x = L) = 0 → 1 EI ML 6 (27) O momento fletor interno, obtido a partir do método das equações para a análise da seção, é dado por: Mx L M(x) = – (23) RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 54 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 54 09/12/2020 17:38:49 V iga e carregam ento Linha elástica D efl exão m áxim a Inclinação e extrem idade Equação da linha elástica L P 1 L y xy m áx O PL 3 3EI – PL 2 2EI – P6EI y = (x 3 – 3Lx 2) L w 2 L y xy m áx O w L 4 8EI – w L 3 6EI – w24EI y = (x 4 – 4Lx 3 + 6L 2x 2) M 3 L y xy m áx O M L 2 2EI - M LEI - M2EI y = - x 2 P L L 12 4 L 12 L y x y m áx O PL 3 48EI – PL 2 16EI ± 12 Para x ≤ L: P 48EI y = (4x 3 – 3L 2x) 12 L P w O L L yO xm áx L PLPL 3 3EI m áx w L – 4 8EI 8EI 34 y L 2 M O L L yO y m áx 1 L 2 M L 2EI x m áx 2EI PL – PL 3 48EI 48EI PL2EI 2EI y = w L 3 P y = 6EI 6EI 6EI 6EI (x 3 (x 3 (x – 3Lx – 3Lx – 3Lx 2 – 3Lx 2 – 3Lx y = w24EI 24EI (x(x – 4Lx – 4Lx + 6L + 6L x 2 x 2 x ) 2) 2 M L M LEI PL ± y = - 16EI M y = - 16EI 2EI 2EI x 2 Para Para x ≤ 1 x ≤ y = 2 L P y = 48EI 48EI (4x – 3L – 3L x) TABELA 1. DEFLEXÃO DE VIGAS TÍPICAS RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 55 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 55 09/12/2020 17:38:53 V iga e carregam ento Linha elástica D efl exão m áxim a Inclinação e extrem idade Equação da linha elástica P L a A B b 5 L y a A B b xy m áx x m Para a > b: Pb(L 2 – b 2) 3/2 – 3EIL 9 ax m = L 2 – b 2 3 Pb(L 2 – b 2) 6EIL θ A = – Pa(L 2 – a 2) 6EIL θ B = + Para x b Pb(L – a > b Pb(L 2 – b – b 9 ) 3/2 3EIL ax 3EIL m = L 2 – b – b θ x 3 5w L L 7 1 L 2 M L B m áx y L 384EI 384EI y m áx M L 9 3EIL 3EIL θθ A = – Pb(L Pb(L 2 – b θ – b 2 6EIL Pa(L = + ) 6EIL Pa(L – a – a 2) 2) 2 6EIL Para Para xelástica) pode ser relacionada algebricamente com a função momento fl etor (esforço interno) da viga, pode- mos obter a equação da linha elástica por sucessivas integrações. A equação 32 ilustra essa relação, considerando uma rigidez à fl exão (EI) constante: (33) M(x) EI = d2y dx2 A curvatura é a entidade física que representa a taxa de variação da rotação (deslocamento angular) da linha elástica, de forma que: (34) dy dx M(x) EI ∫ dx= Por sua vez, a rotação representa a taxa de variação do deslocamento vertical: (35) dy dx = θ(x) y = θ(x) dx + c ∫ (36) O método da integração, como o próprio nome sugere, é aplicado me- diante a determinação da função do momento fl etor, integrando sucessiva- mente e determinando as constantes de integração em relação às condições de contorno (sobretudo de vinculações) da estrutura. Dessa forma, pode- mos relacionar essas novas equações às equações de equilíbrio estático, resolvendo as indeterminações. Para visualizar melhor o método, consideremos uma viga engastada e simplesmente apoiada, de comprimento L, que está sujeita à ação de um momento puro M0 (Figura 10). Observe que, para esse problema, temos um grau de liberdade. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 60 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 60 09/12/2020 17:39:33 A L B M0 Figura 10. Viga engastada indeterminada com momento aplicado. Considerando as equações de equilíbrio, temos que: ΣFx = 0 → HA = 0 (37) Como estamos diante de uma viga estaticamente indeterminada, não con- seguimos determinar diretamente as reações de apoio. Assim, empregaremos o método da integração para providenciar mais equações para a análise. Para tanto, devemos analisar a função momento fletor, que pode ser obtida através do diagrama de corpo livre: Considerando constante o termo EI e prosseguindo com a primeira integra- ção, obteremos a função de inclinação da linha elástica: ΣFy = 0 → VA = – VR (38) ΣMB = 0 → MA + M0 – VAL = 0 → MA = VAL – M0 (39) ΣMS = 0 → M + MA – VAx = 0 → M = VAx – MA (40) (41) M(x) EI = d2y dx2 d2y dx2 VAX – MA EI → = (42)dx dy dx = θ(x) = ∫ VAX – MA EI dy dx = θ(x) = x2 – MAx + c1 1 EI VA 2 ∫ (43) 1 EI y(x) = x2 – MAx + c1 dx VA 2 ∫ (44) (45) 1 EI y(x) = x3 – VA 6 MA 2 x² + c1x + c2 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 61 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 61 09/12/2020 17:39:33 As incógnitas referentes às constantes de integração podem ser determina- das quando utilizamos condições de contorno adequadas. Repare que no pon- to A, onde x vale 0, temos restrição de rotação e deslocamento vertical. Dessa observação, podemos retornar às equações 42 e 44, determinando: (46) 1 EI VA 2 θ(x = 0) = 0 → 02 – MA · 0 + c1 = 0 → c1 = 0 (47) 1 EI VA 6 MA 2 y(x = 0) = 0 → 02 + 0 · 0 + c203 – → c2 = 0 (49) 1 EI VA 6 VA 6 MA 2 MA 2 y(x = L) = 0 → L2 L2 = 0L3 – L3 – = 0 → (48) 1 EI VA 6 MA 2 y(x) = x203 – Dessa forma, a equação da linha elástica resume-se à equação 47: A equação da linha elástica contém as variáveis de reação as quais necessi- tamos determinar no problema da viga. Contudo, utilizá-la diretamente intro- duziria a variável de deslocamento vertical y(x). Para contornar esse problema, utilizaremos mais uma condição de contorno, no caso, o deslocamento vertical do apoio B, que é nulo, para a distância igual ao comprimento do vão. Substituindo a equação 48 pela equação 38, podemos determinar a reação vertical no ponto A: VA 6 L3 – (VAL – M0) 2 L2 = 0 → VA = 3M0 2L (50) Retornando na equação 38, agora podemos determinar a reação de momen- to no engastamento, bem como a reação vertical no apoio B pela equação 37. MA = VAL – M0 → MA = L – M0 → MA = 3M0 2L M0 2 (51) 3M0 2L VA = – VB → VB = – (52) Dessa forma, a equação da linha elástica pode ser determinada substituin- do as reações de apoio na expressão geral da equação 44: 1 EI 1 6 1 2 3M0 2L M0 4EI M0 2 x3 L y(x) = x3 – – x2 x2 = (53) Consideremos a mesma estrutura, mas agora carregada uniformemente com uma carga distribuída de intensidade q, conforme Figura 11. Vamos determinar RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 62 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 62 09/12/2020 17:39:34 os novos valores das reações dos apoios e a equação da linha elástica, decorren- tes da nova distribuição de esforços: ΣFx = 0 → HA = 0 (54) ΣFy = 0 → VA = qL– VB (55) (56)ΣMB = 0 → MA = – qL2 2 + VAL (57)ΣMS = 0 → M = – qx2 2 + VAx + MA Figura 11. Viga engastada indeterminada sujeita a carregamento distribuído. Considerando o equilíbrio do corpo livre, a função de momento fletor é obtida por: As funções de inclinação e da linha elástica são obtidas através de integra- ção, conforme equações 57 a 58. Assim, aplicando as condições de contorno, conforme realizado previamente, obtemos: 1 EI θ(x) = + + VAx2 2 MAx– qx3 6 (58) 1 EI y(x) = + + VAx3 6 – qx4 24 mAx2 2 (59) Logo, através da resolução do sistema de equações, obtemos os seguintes valores para as reações: q L A B MA = qL2 8 VA = 5qL 8 VB = 3qL 8 (60) (61) 1 EI y(x) = + +– qx4 24 5qLx3 48 qL2x2 16 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 63 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 63 09/12/2020 17:39:36 Repare que, como não especifi camos valores, essa é uma equação geral para a linha elástica e para as reações em vigas nessa confi guração. Dessa forma, a partir da determinação de carregamentos e propriedades dos materiais, podemos substituir seus respectivos valores para determinar a magnitude das reações e defl exões ao longo da viga. Em particular, é interes- sante a avaliação dos pontos de defl exão máxima, a fi m de verifi carmos se a estrutura atende aos requisitos normativos. Método da superposição de efeitos Como se pode observar, o método de integração fornece a equação da linha elástica em cada trecho. Contudo, a depender da função do momento fl etor, o método pode se tornar complexo e moroso em sua resolução. Assim, quando uma viga apresenta vários carregamentos distintos, é necessária a determina- ção das funções de momento fl etor correspondentes em cada trecho, para ser realizada a compatibilização de deslocamentos. EXEMPLIFICANDO Uma condição de contorno de compatibilidade (de deslocamentos) é uma condição que assegura uma relação física de continuidade do material. Por exemplo, para um mesmo ponto da viga, sua defl exão é única. Dessa forma, as defl exões calculadas imediatamente à esquerda (com a equação elástica equivalente ao trecho) e à direita (também com sua respectiva equação) devem convergir para o mesmo resultado. Assim, garantimos a continuidade física da viga, uma vez que consideramos o regime elástico (sem ruptura física). Uma vez que as estruturas analisadas se encontrem em regime de pequenas deformações e deslocamentos, e em um regime de deformações elástico-linea- res, podemos utilizar o método da superposição de efeitos nas estruturas. Essas premissas possibilitam analisar a estrutura submetida às diferentes ações de forma que o resultado de todos esses carregamentos possam ser entendidos como uma composição (soma) da mesma estrutura submetida aos diferentes carregamentos individuais. Dessa forma, substituímos um problema complexo (de múltiplos carregamos e incógnitas) por uma decomposição em diferentes carregamentos na mesma estrutura, somando seus efeitos individuais e aplican- do as condições de contorno e continuidade/compatibilidade adequadas. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 64 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 64 09/12/2020 17:39:36 Para entender melhor a aplicação desse método, retornemos ao problema solucionado no tópico anterior (Figura 12). Vamos solucioná-lo agora por meio do método da superposição de efeitos. A viga em questão pode ser decomposta em duas situações superpostas: uma viga engastada sujeita a um carregamento uniforme distribuído e uma viga engastada sujeita a uma carga pontual,referente à reação de apoio VB, conforme a Figura 12. Figura 12. Superposição de esforços do exemplo. Aplicando o método da superposição, recorrendo às equações de cada car- regamento apresentadas na Tabela 1, percebemos que estamos diante das situações um e dois. Essas tabelas são muito úteis para agilizar resoluções, uma vez que, se identificarmos o carregamento correspondente (adequado), poderemos utilizar os resultados prontos de seus respectivos efeitos (deflexão, rotação, diagramas de esforços, por exemplo). A L q B A L VB B RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 65 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 65 09/12/2020 17:39:37 Analisando o carregamento distribuído (situação dois), a equação da linha elástica calculada no trecho de apoio (ponto B) será: y(x) = – q 24EI [x4 – 4Lx3 + 6L2L2x2] (62) y(x) = q 6EI [x3 – 3Lx2] (64) y(x = L) = – q 24EI qL4 8EI [L4 – 4LL3 + 6L2L2] = – (63) y(x = L) = –VB 6EI VBL3 3EI [L3 – 3LL2] = (65) y(x = L) = – qL4 8EI VBL3 3EI + (66) Analogamente, determinamos a deflexão no ponto B, agora considerando um carregamento pontual (correspondente à reação), atentando-se ao sinal do carregamento, que será negativo nesse caso (contrário à convenção da fórmula). Dessa forma, a deflexão total no ponto B, considerando o método de super- posição de efeitos, é determinada somando ambas as parcelas: A partir da equação anterior, podemos determinar a reação vertical no pon- to B, recordando sobre uma importante condição de contorno: a restrição de deslocamento vertical causada pelo vínculo do primeiro gênero. Dessa forma, a expressão deve resultar em uma deflexão nula: y(x = L) = – qL4 8EI VBL3 3EI + (67) qL4 8EI VBL3 3EI = (68) (69) 3qL 8 VB = O que corresponde exatamente ao resultado obtido pelo método de inte- gração. Assim, a partir da determinação desta redundância, torna-se possível a determinação das demais reações, uma vez que teríamos o mesmo número de equações de equilíbrio e incógnitas de reações. Agora, refaçamos o exemplo 1 (Figura 10) com o mesmo princípio da super- posição. A situação estrutural pode ser decomposta nos casos um e três (con- forme Figura 13). Na equação da deflexão obtida na Tabela 1 determinamos a RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 66 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 66 09/12/2020 17:39:37 Observe que esses resultados convergiram. Isto deve ocorrer, uma vez que estamos calculando o mesmo problema físico. parcela de deslocamento correspondente a uma carga pontual (reação) aplicada verticalmente em um engaste (equação 69). A equação da viga com momento fletor aplicado é analisada segundo o comprimento total da viga (L), através de: Figura 13. Superposição de esforços. A B M0 L A B VB L Recordando da condição de restrição de deslocamento causado pelo víncu- lo, sabemos que a condição de contorno permite determinar o valor da reação em B: y(x = L) = – L2 M 2EI (70) y(x = L) = – L2 + = 0 M 2EI VBL3 3EI (71) VB = 3M 2L (72) RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 67 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 67 09/12/2020 17:39:38 Sintetizando Nesta unidade você pôde compreender melhor um aspecto essencial na análise estrutural: as deformações verticais em vigas. Analisamos inicialmente a teoria das deformações verticais (deflexões) causadas pelos esforços inter- nos de momento fletor, em que verificamos como os deslocamentos da linha neutra da viga podem representar o comportamento de toda a estrutura. Com essa análise, entendemos o comportamento da linha elástica e como podemos obter seus valores de deslocamento em diferentes pontos de interesse. Com o método da integração, por sua vez, foi possível determinar as equações da linha elástica mediante sucessivas integrações e condições de contorno pré-es- tabelecidas, sobretudo para condições de carregamento mais simples. Já para o método da superposição de efeitos, realizamos decomposições de carrega- mentos mais complexas em situações mais simples, de forma a compatibilizar os efeitos finais com as contribuições individuais desses carregamentos. Além disso, também aprendemos a solucionar situações de vinculação in- determinadas, decorrentes de redundâncias de incógnitas, utilizando valores/ funções de deslocamento como equações adicionais. Por fim, todo o processo de obtenção e análise de deslocamento sempre é realizado para garantir a se- gurança, qualidade e servicibilidade das estruturas, de forma a fazer com que elas atendam ao desempenho esperado, de acordo com sua função durante sua vida útil. Nesse ponto, fica o convite para o aprofundamento nos estudos desses tópicos tão essenciais para a Engenharia! RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 68 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 68 09/12/2020 17:39:38 Referências bibliográficas BEER, F.P. et al. Mecânica dos materiais. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. BENTO, D. A. Fundamentos de resistência dos materiais. Projeto Integra- dor I – Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina, Gerência Educacional Metal Mecânica, Florianópolis, mar. 2003. Disponível em: . Acesso em: 16 nov. 2020. CHANGING Radius of Convergence. Postado por 3Blue1BrownClips. (0min. 10s.). son. color. port. ou leg. Disponível em: . Acesso em: 16 nov. 2020. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 10. ed. São Paulo: Pearson Prenttice Hall, 2018. 768 p. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 69 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 69 09/12/2020 17:39:38 FLEXÃO E FLAMBAGEM 3 UNIDADE SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 70 09/12/2020 17:38:38 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender o comportamento mecânico de vigas estruturais submetidas a esforços de flexão oblíqua e composta; Compreender fenômenos de instabilidade decorrentes de flambagem em colunas; Avaliar como configurações estruturais interferem nos esforços internos de vigas e colunas. Flexão oblíqua e composta Flexão nas estruturas Flexão oblíqua Flexão normal composta Flambagem e dimensionamen- to de peças comprimidas Fórmula de Euler RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 71 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 71 09/12/2020 17:38:38 Flexão oblíqua e composta Nesta unidade, nos aprofundaremos em tópicos essenciais no projeto de estruturas. Mas, antes de detalhar esse assunto, torna-se necessário realizar um questionamento: o que há em comum entre uma viga de um edifício, uma pessoa levantando um supino na academia, um sargento (grampo) pressionan- do peças de madeira e uma perna de mesa feita de madeira? Pode parecer estranho, mas esses elementos estão todos sujeitos a um mesmo tipo funda- mental de esforço: a fl exão (Figura 1). Flexão nas estruturas A fl exão é um tipo de solicitação estrutural na qual existe um momento in- terno aplicado atuante na seção do elemento estrutural. É importante ressaltar que um momento pode ser representado por um binário de forças. Em outras palavras, esse esforço fará com que parte da seção esteja sob a ação de esforços compressivos, enquanto outra parte, sob esforços de tração (Figura 2). Figura 1. Vigas sob efeito de fl exão. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/11/2020. Critério de falha de von Mises [MPa] Isso posto, a partir do conceito de um esforço de fl exão, vamos, nessa se- ção, retomar os principais aspectos desse assunto. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 72 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 72 09/12/2020 17:38:41 EXPLICANDO O binário de forças é constituído por um sistema de duas forças aplicadas na mesma intensidade e direção, mas com sentidos opostos. As linhas de ação estão situadas a uma distância d entre elas. Assim, todo binário pode representar um momento equivalente, uma vez que o momento do binário é resultado do produto da intensidade de uma força pela distância d. Figura 2. Efeito do momento (binário de forças) na seção. Fonte: BEERet al., 2011, p. 230. y τxydA σxdA y z z x τxzdA y M z x A fl exão merece atenção especial nos projetos, posto que é um dos esforços predominantes que pode levar à ruptura de elementos. Além disso, mesmo que o elemento não seja levado à ruína, esse esforço pode interferir nas condições de desempenho da estrutura, analisadas segundo os estados limites de serviço. EXPLICANDO O estado limite de serviço (em inglês, serviceability limit state criterion) são condições limites que uma estrutura deve atender ao permanecer funcional e garantir seu desempenho em condições de solicitação usuais (rotineiras), não causando desconforto, problemas estruturais, interferên- cia em outros subsistemas e problemas de utilização aos usuários. Nos exemplos elucidados, podemos identifi car esforços de fl exão em todos os elementos. Na vida de uma estrutura, os carregamentos perpendiculares ao eixo longitudina, bem como a existência de momentos fl etores aplicados, RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 73 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 73 09/12/2020 17:38:41 farão com que surjam momentos internos, presentes no diagrama de esforços solicitantes internos. No caso da pessoa levantando um supino, as cargas presentes nas extremi- dades da barra devido ao peso das anilhas resultarão em momentos fl etores na barra – neste caso, os braços sustentando a barra são os apoios estrutu- rais. Já para o sargento (grampo), a força aplicada no contato com a madeira, decorrente da pressão imposta para o travamento da peça, resultará em um momento presente na seção transversal do sargento, visto que a carga pontual está aplicada externamente à seção do corpo do grampo. Por fi m, as vigas de madeira que recebem os carregamentos da mesa, cada qual em uma direção, serão travadas/pregadas junto à perna de madeira da mesa, em que, a depender da ligação (travamento), poderão transmitir os esfor- ços de momento fl etor para esse pilarete, cada um em sua respectiva direção. Todos os exemplos constituem uma amostra das inúmeras estruturas e si- tuações em que esforços de fl exão estão presentes. Caso você tenha se aten- tado, apesar de todos os exemplos envolverem a fl exão, cada um apresenta solicitações e origem de esforços de fl exão diferentes. Este fato nos leva a or- ganizar e classifi car o tipo de esforço de fl exão conforme determinadas carac- terísticas, como pode ser observado na Tabela 1. Classifi cação quanto aos esforços atuantes na seção analisada Classifi cação quanto à orientação do plano de atuação do carregamento Pura Normal (reta) Oblíqua (assimétrica)Simples Composta PuraPura SimplesSimplesSimples CompostaCompostaComposta NormalNormal (reta)(reta) Oblíqua (assimétrica)Oblíqua (assimétrica)Oblíqua (assimétrica)Oblíqua (assimétrica)Oblíqua (assimétrica)Oblíqua (assimétrica)Oblíqua (assimétrica) TABELA 1. CLASSIFICAÇÃO DOS ESFORÇOS DE FLEXÃO NAS ESTRUTURAS Conforme apresentado na Tabela 1, cada tipo de fl exão apresenta uma par- ticularidade. Quando analisamos os esforços presentes na seção, podemos es- tar em uma condição de fl exão pura, em que somente o momento fl etor está atuando na seção. É o caso do trecho da barra de supino, localizado entre os apoios (mãos levantadas que seguram a barra). Convido você a desenhar os es- forços internos através do método das equações, realizando um corte nessa RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 74 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 74 09/12/2020 17:38:42 seção para verificar esse fato. A flexão pura é rara de ser observada na prática, mas serve de ponto de partida para análises mais refinadas das estruturas. A viga estrutural ilustrada anteriormente é um exemplo de flexão simples, em que, além do momento fletor, também atuam na seção esforços cortantes, oriundos dos carregamentos perpendiculares presentes ao longo da viga. Já o sargento (grampo) e o pilarete de madeira são ótimos exemplos de flexão composta. Nesse tipo de flexão, atuam também os esforços de tração ou com- pressão normais ao elemento, denominados flexo-tração e flexo-compressão, respectivamente. Esta análise demanda uma atenção especial, uma vez que a distribuição de esforços pode ser afetada significativamente. Com relação ao plano de atuação do momento fletor, poderemos ter mo- mentos aplicados em planos de simetria ou não, considerando também a inci- dência de vários momentos incidindo com orientações diferentes, o que irá ge- rar uma resultante que, geralmente, atuará fora de planos de simetria. Quando isso ocorrer, estaremos diante de cenários de flexão assimétrica. Isso posto, inicialmente exploraremos de forma mais detalhada as flexões oblíquas e compostas. Mas antes de adentrarmos essa temática, torna-se ne- cessário recapitular os principais resultados da flexão normal pura. Através da Figura 2, recordamos que, no caso da flexão pura, há apenas um momento atuante, cuja incidência se dá em torno do eixo z. Dessa forma, as resultantes de momento nos demais eixos são nulas, enquanto que o valor deste momento atuante na seção é equivalente a: M = –yσxdA (1) Com o auxílio da determinação das deformações em regime elástico linear, podemos determinar a expressão da tensão normal, obtendo uma nova equa- ção do momento fletor da seção: (2)y²dAM = σm c Na Equação 2, σm representa a tensão normal máxima presente na seção e que ocorre em suas extremidades, sendo c a distância entre a extremidade do elemento e o eixo horizontal que passa por seu centroide. Caso tenha se aten- tado, a integral destacada na Equação 2 corresponde ao momento de inércia em relação ao eixo horizontal da seção. Dessa maneira, a tensão normal máxi- ma da seção tem módulo igual a: RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 75 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 75 09/12/2020 17:38:42 (3)σm = Mc I Lembrando que o sinal de c depende da posição da fi bra do elemento em rela- ção ao eixo horizontal que passa no centroide. De forma semelhante, a tensão ao longo da seção vertical é obtida pela equação da fl exão pura em regime elástico: (4)σx = My I Através da Equação 4, percebe-se que a tensão normal apresenta variação linear ao longo da seção transversal, sendo nula na linha neutra, que possui a propriedade de se confi gurar como um ponto de mudança no comportamento tensão/deformação do elemento, e sua posição é obtida como o centroide do elemento para a fl exão pura normal em regime elástico linear. Observamos também que, para um momento positivo, as fi - bras superiores estarão comprimidas, ao passo que as inferio- res tracionadas. Este comportamento é inverso para momentos negativos, fato que justifi ca a alocação de barras metálicas em regiões diferentes em elementos de concreto armado, uma vez que são realizadas de acordo com a região traciona- da do elemento. Flexão oblíqua Quando desenvolvemos expressões analíticas, é comum e necessário o emprego de simplifi cações e hipóteses de cálculo, as quais devemos conhecer para aplicar adequadamente seus resultados, expressões e ábacos de cálculo. No caso da fl exão, a expressão comentada anteriormente, esta foi desenvol- vida considerando-se que o momento resultante de cálculo atua em um eixo perpendicular à linha neutra, que também é um eixo de simetria da estrutura. Este fato é muito presente em vigas de concreto armado, cuja seção é retangu- lar, vigas-caixão e mesmo para algumas seções de vigas metálicas. Agora, observe a Figura 3, na qual identifi camos algumas outras seções de vigas metálicas. Verifi que que, em torno do eixo vertical, nem todos elementos apresentam simetria, como é o caso da seção “C”, “U”, “L”. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 76 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 76 09/12/2020 17:38:42 Figura 3. Exemplos de seções de vigas metálicas. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/11/ 2020. Outra situação que diverge das hipóteses simplifi cadas consiste, por exem- plo, em um pilar estrutural que recebe vigas em diferentes eixos. Cadaviga está sujeita a carregamentos perpendiculares a seu eixo, o que gerará esforços cortantes e de momentos fl etores. De acordo com o arranjo estrutural da peça, esses esforços poderão ser transmitidos para seus apoios ou não. No caso de estruturas de concreto armado, moldadas in locu, a ligação das barras de aço e a concretagem fazem com que existam momentos fl etores atuando nesses vínculos. Desprezando possíveis falhas geométricas e consi- derando carregamentos centrados (ausência de momento torçor), o momento fl etor atuará na mesma direção do eixo de cada viga. Dessa forma, o pilar esta- rá sujeito a momentos atuantes em diferentes eixos, ocasionando uma resul- tante que atuará fora e em um eixo distinto dos eixos de simetria do elemento. Para visualizar esse fato, não é necessário ir muito longe; imagine uma mesa: possivelmente, os pilaretes que compõem sua estrutura estão sujeitos a vigas que aplicarão momentos fl etores em diferentes eixos dessa estrutura, conforme ilustrado na Figura 4. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 77 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 77 09/12/2020 17:38:44 Figura 4. Flexão oblíqua na estrutura de uma mesa. Fonte: PALIGA, 2014, p. 19. Figura 5. Exemplos de fl exão assimétrica. Fonte: HIBBELER, 2018, p. 269. Projeção da mesa Detalhe do pé da mesa Planta Viga Viga Viga Viga Corte Corte Pilar Pilar MF MFyy xx Plano do momento fl etor Viga Pé Seja por assimetria da geometria do elemento estrutural ou pela direção de atuação do momento resultante não coincidir com a direção dos eixos princi- pais de inércia do elemento (Figura 5), estaremos diante de uma fl exão oblí- qua, também denominada fl exão assimétrica. Assim, estudaremos os casos de fl exão pura oblíqua como uma introdução a esse conceito. y y z z z y x x M M M A análise quantitativa do comportamento da fl exão da seção transversal se baseia na determinação dos eixos principais de inércia da seção transversal. Quando analisamos a seção segundo seus eixos principais de inércia, a direção do eixo em que atua o momento da seção transversal coincidirá com a linha neutra dessa seção. Toda seção possui eixos principais de inércia não necessa- riamente coincidentes com os eixos coordenados, devendo sua determinação ser a primeira etapa para as análises de fl exão oblíqua. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 78 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 78 09/12/2020 17:38:46 No caso geral de fl exão oblíqua, teremos uma seção transversal (não neces- sariamente simétrica) sujeita a um momento fl etor de direção distinta a seus eixos principais de inércia. Nesse caso, podemos decompor esse momento fl etor em duas componentes colineares aos eixos principais de inércia. Esse procedimento pode ser realizado devido ao fato de que, nas condições de pe- quenas deformações e regime elástico-linear, é possível aplicar o princípio da superposição de efeitos. Dessa forma, a tensão normal (orientada segundo o eixo x) de um ele- mento da seção transversal será composta por uma parcela decorrente do momento fl etor em relação ao eixo principal de inércia y (My), e outra do mo- mento fl etor em relação ao eixo principal de inércia z (Mz). Dessa forma, as contribuições de cada fl exão em torno dos eixos principais são determinadas, respectivamente, por: (5)σx = – Myz Iy Mzy Iz O sinal de cada parcela dependerá da orientação do momento fl etor. Uma regra prática é: ao rotacionarmos o eixo de interesse e o alinharmos em rela- ção à orientação horizontal, um momento fl etor positivo comprime as fi bras superiores e traciona as inferiores da seção analisada. Dessa forma, pensando nos eixos coordenados, as fi bras superiores serão comprimidas e as inferiores tracionadas segundo o momento positivo Mz; ao passo que as fi bras à direita serão comprimidas e as à esquerda serão tracionadas segundo o momento My. A defi nição fi nal das regiões de tração e compressão dependerá da magnitude das tensões geradas por cada momento fl etor. Geometricamente, podemos estabelecer uma relação entre o ângulo de in- clinação da linha neutra e o ângulo de incidência do momento fl etor, segundo os eixos coordenados: (6)tg ∮ = tg θ Iz Iy Flexão normal composta Como visto anteriormente, a fl exão composta ocorre quando há esforços normais e de fl exão atuando simultaneamente na seção transversal do ele- mento, ocorrência que é mais comum do que se pode imaginar. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 79 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 79 09/12/2020 17:38:46 Um elemento em destaque, no qual majoritariamente há a presença de flexão composta, é o pilar. Pilares de estruturas monolíticas funcionam como engastes das vigas, de forma a receber os esforços atuantes nas seções; além disso, o esforço cortante do apoio da viga torna-se esforço normal no pilar. Em estruturas de vinculação do segundo gênero o momento não é transmitido da viga para o pilar. Isso significa que, nesses casos, não teremos uma flexão com- posta? Não necessariamente, visto que há mais uma importante variável para considerar: a excentricidade. A excentricidade de uma carga é definida como a distância da linha de ação desse carregamento em relação ao eixo da estrutura. Esta definição soa familiar justamente por assim determinar-se um momento fletor: um esforço causado em decorrência do produto da distância de uma carga em relação a um ponto. Dessa forma, uma carga excêntrica sempre gerará momentos no que diz respeito aos eixos coordenados (ou eixos principais de inércia) de uma seção (Figura 6a). Em relação ao que pode causar uma excentricidade na carga, inicialmente, idealizamos muitas situações reais de carregamentos e elementos. Na prática, imperfeições geométricas dos elementos se mostram presentes, sobretudo naqueles sem rigor industrial. Além disso, os carregamentos não são perfei- tamente alinhados e aplicados nos eixos de vigas e pilares, por exemplo. Para acrescentar, também devemos considerar carregamentos adicionais decorren- tes de novos esforços a partir da deformação dos elementos (efeito de segun- da ordem). Tais aspectos são alguns exemplos de como as cargas analisadas devem ser consideradas, sobretudo com relação às excentricidades de cálculo, uma vez que gerarão esforços adicionais nas estruturas. Independentemente da causa da excentricidade, sua existência gerará esforços adicionais na seção transversal, alterando sua distribuição interna. Através do Princípio de Saint-Venant, podemos transladar a força normal, mo- vendo-a de seu ponto de aplicação para o eixo da peça; dessa forma, obtere- mos esforços normais causados por ela (Figura 6b). Ao fazer isso, precisamos adicionar também o(s) momento(s) causado(s) pela posição inicial da carga em relação aos eixos da seção. Dessa forma, toda força excêntrica é substituída por um sistema equivalente de força centrada e momentos fletores. Para os limites habituais de deslocamento e deformação (pequenos) no regime elástico-linear, podemos considerar a superposição de efeitos na seção transversal. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 80 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 80 09/12/2020 17:38:46 Dessa forma, as tensões às quais cada elemento infinitesimal da seção estará sujei- to serão a resultante de uma parcela causada pelo esforço normal (tração ou com- pressão) mais o efeito causado pelo esforço de flexão (que já aprendemos a deter- minar). Sendo assim, para a excentricidade em relação a um eixo principal de inércia (z) teremos apenas um momento fletor atuante (Mz), sendo a expressão obtida por: (7)σx = –P A Mzy Iz A distribuição de tensões será deslocada no sentido do esforço normal, que, sen- do constante na seção transversal, poderemos ter cenários em que toda a seção estará sob tração, outros em que toda a seção estará sob compressão, ou, ainda, ou- tros em que haverá flexão na seção (tração e compressão), a depender da magnitude dessa soma. Neste cenário, é possívelque haja situações nas quais a linha neutra será transladada na seção transversal, podendo até situar-se fora dela. No caso geral, teremos um cenário de flexão composta oblíqua em que haverá três parcelas de influência na determinação das tensões atuantes nos elementos da seção transversal (Figura 6c). Cada parcela deverá ser tomada segun- do as convenções de sinais referentes à orientação dos eixos e esforços. A formulação geral é apre- sentada na Equação 8: (8)σx = ± ±P A Mzy Iz Myz Iy Figura 6. Flexão composta oblíqua: (a) carregamento aplicado; (b) sistema equivalente; (c) diagrama de esforços na seção e linha neutra. Fonte: BEER et al., 2011, p. 295. (Adaptado). z A B C D y 120 mm (a) 35 mm 4,80 kN 80 mm x xz A B C D y (b) Mz = 120 N • m Mx = 192 N • m P = 4,80 kN A GB H C + 0,375 MPa - 2,625 MPa - 1,375 MPa + 1,625 MPa (c) Linha neutra RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 81 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 81 09/12/2020 17:38:46 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas Ao analisar o comportamento de elementos lineares, devemos garantir as condições de equilíbrio (forças, momentos) e compatibilidade das tensões e de- formações, sobretudo em estados limites (últimos e de serviço). Dessa forma, a estrutura deve atender aos requisitos estruturais e de desempenho em sua vida útil. Contudo, existe ainda uma terceira condição de análise, relacionada princi- palmente às confi gurações geométricas mediante o campo de forças ao qual as estruturas (sobretudo lineares) estão sujeitas: as condições de estabilidade. Para ilustrar uma dessas condições, pode-se realizar esse pequeno experi- mento demonstrativo: tome em suas mãos uma régua composta por um material mais fl exível, como o plástico. Em sequência, segure-a com a palma de suas mãos, de forma que a régua esteja na direção vertical (como um pilar). Aplique uma ligei- ra força de compressão e observe o comportamento do elemento linear. Certamente, você perceberá uma tendência desse elemento deslocar seu eixo na direção horizontal, o que é um exemplo típico de instabilidade, que analisare- mos posteriormente. Caso você continuasse a compressão, o que ocorreria? Tal- vez o elemento se rompesse ou escapasse de suas mãos, posto que, nessas con- dições, ele relaciona-se a vínculos de primeiro gênero – simplesmente apoiados. Este experimento nos leva a questionar: por que esse fenômeno ocorre? Como as condições de força afetam essa instabilidade? As condições de apoio apresentam alguma relação com esse deslocamento? Como isso se aplica a nossas estruturas? Para iniciar o diálogo acerca do estudo da instabilidade, é necessário primeira- mente retomar a defi nição de equilíbrio mecânico dos materiais. Um elemento es- tará na condição de equilíbrio quando a resultante das forças, os momentos a ele sujeitos, é nula. Contudo, podemos ter diferentes naturezas de equilíbrio ao analisar o comportamento de um corpo mediante pequenas perturbações. Na Fi- gura 7, observamos uma esfera mediante três cenários distintos; mas, em todos es- tes, ela se encontra na condição de equilí- brio. O que aconteceria em cada um caso um pequeno deslocamento ocorresse? Figura 7. Tipos de equilíbrio de um elemento. Fonte: DUTRA, 2019, p.5. Instável Indiferente Estável RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 82 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 82 09/12/2020 17:38:47 No primeiro cenário, uma pequena perturbação acarretaria instabilidade e cessão do equilíbrio, o que definimos como equilíbrio instável. No segun- do caso, uma pequena perturbação causaria um pequeno rolamento com posterior equilíbrio em uma nova configuração, categorizando o equilíbrio indiferente. Já no terceiro estado, o corpo voltaria à sua posição inicial após a perturbação, mantendo-se em equilíbrio novamente, cujo estado é deno- minado equilíbrio estável. Pequenas perturbações podem ocorrer ao longo da vida útil de uma es- trutura: sobrecargas inesperadas, ações da natureza, imperfeições construti- vas, combinação de eventos, entre outras; e é dever do engenheiro prever o maior número de cenários prováveis de incidência nas estruturas. No entanto, sempre existirão condições de imprevisibilidade ou excepcionais. Cabe a este, então, garantir que a estrutura apresente condições de redistribuição de es- forços e manutenção de equilíbrio estável, a fim de que tais perturbações não aumentem o risco de falhas e rupturas dos elementos. Um caso especial de instabilidade é a flambagem, que consiste na insta- bilidade ocasionada por forças compressivas em elementos lineares (colunas, pilares, estacas, entre outros), ocasio- nando deflexão lateral. Cabe ressaltar que esta verificação é fundamental no projeto estrutural. Um pilar, por exem- plo, pode ser dimensionado para aten- der requisitos de tensão e deformação máximos, mas deve também atender aos requisitos de estabilidade para que o fenômeno de flambagem não comprometa sua integridade estrutu- ral, como apresentado na Figura 8. Durante o experimento anterior- mente proposto, você certamente ob- servou que o efeito de instabilidade se iniciou após um determinado valor de carga compressiva aplicada. Para entender se esse comportamento está sempre presente, consideraremos um sistema como o da Figura 9. Figura 8. Montante com flambagem global. Fonte: CARDOSO et al., 2008, p. 215. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 83 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 83 09/12/2020 17:38:51 Como é possível observar, o sistema é composto por duas barras de mesmo comprimento, vinculadas segundo uma configuração isostática. A barra supe- rior é apoiada lateralmente (primeiro gênero) e recebe a aplicação de uma car- ga P, e sua extremidade liga-se através de uma rótula na barra inferior, permi- tindo o giro do elemento. A barra inferior possui uma extremidade rotulada na outra barra e também está vinculada, mas com restrições de deslocamentos verticais e horizontais (vínculo do segundo gênero). O ponto rotulado é ligado a uma mola, cuja constante elástica é k. Na situação inicial, o sistema está perfeitamente alinhado e comprimido, de for- ma que não há movimentação lateral. Contudo, ao aplicarmos uma pequena per- turbação lateral (movimentar a rótula, por exemplo), o sistema pode retornar à sua posição inicial ou se afastar desta, a depender da resultante das forças e momentos envolvidos. Repare que a mola exerce uma resistência contrária ao movimento do deslocamento horizontal, a qual será tanto maior conforme for maior sua rigidez k. A pequena perturbação lateral promoverá também uma pequena rotação θ nas extremidades, de forma que a deflexão da mola pode ser aproximada pela multiplicação do ângulo pelo comprimento da barra, uma vez que algumas pro- priedades trigonométricas se confundem com o próprio valor do ângulo para pequenos valores de θ. Figura 9. Compreensão do fenômeno da flambagem. Fonte: HIBBELER, 2018, p. 570. (a) L 2 A k k A P P Ptg 0 Ptg 0 A P P (b) (c) L 2 L 2 L 20 0 Δ = 0( )L 2 0 0 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 84 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 84 09/12/2020 17:39:30 Realizando o equilíbrio entre o momento causado pela carga axial e o momen- to causado pela força de resistência da mola, chegamos à seguinte expressão: (9)K(2∆θ) – P ∆θ = 0sen ∆θ = 0 ≅ K(2 ∆θ) – PL 2 L 2 ∆θ = 0L 22K – P (10) Observe que a expressão anterior é satisfeita de dois modos: o primeiro, quando ∆θ = 0, ou seja, quando a estrutura está perfeitamente reta com uma carga centrada perfeitamente alinhada. Este é um dos motivos da importância de um adequado controle de execução, embora tal perfeição seja complexa e praticamente inalcançável. O segundo modo é garantindo que a expressão entre parênteses seja nula, o que nos leva à seguinte relação: (11)2k – P = 0 → P =L 2 4k L O valor de carga P que satisfaz a condição de equilíbrio, ou seja, o valor limi- te referente a um equilíbrioindiferente é denominado carga crítica (Pcr). Nessa condição limite, qualquer pequena perturbação não fará com que a estrutura retorne à configuração inicial e nem se afastará mais ainda dela. (12)P = Pcr = 4k L Agora, para valores P maiores que a condição limite (Pcr), observamos uma condição de instabilidade (equilíbrio instável), visto que a mola continuará a se deformar. Em nossa estrutura, isso corresponde à ocorrência da flambagem. (13)P > Pcr = 4k L Por fim, para valores de carga P menores que a carga crítica, a estrutura retorna- rá à sua configuração inicial, caracterizando um cenário de equilíbrio estável. Nesse cenário, a força desenvolvida pela mola será maior que as forças instabilizadoras. (14)PFigura 11. Lef = KL (28) RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 89 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 89 09/12/2020 17:39:31 P P P P L = Le Le = 2 L Le = 0,5 L Le = 0,7 L L L L Extremidades apoiadas por pinos Uma extremidade engastada e a outra livre Extremidades engastadas Extremidades engastadas e apoiadas por pino K = 1 K = 2 K = 0,5 K = 0,7 Figura 11. Comprimentos efetivos de flambagem para diferentes vinculações. Fonte: HIBBELER, 2018, p. 577. (Adaptado). Desta forma, um pilar engastado e livre apresentará comprimento efetivo de flambagem equivalente ao dobro de seu comprimento, sendo mais propenso à ocorrência de flambagem com uma carga crítica menor. A fórmula de Euler pode então ser estendida, considerando-se o respectivo comprimento efetivo de flambagem: (29)→ σcr =Pcr = π2EAr2 Lef 2 π2E λ2 ef Como cada eixo do elemento poderá apresentar um raio de giração e/ou comprimento de flambagem distinto, poderemos ter diferentes índices de esbel- tez segundo as direções de análise. Dessa forma, as verificações estruturais de- mandam a análise das duas direções, sendo mais crítica a que apresentar maior RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 90 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 90 09/12/2020 17:39:31 esbeltez. É comum no arranjo estrutural, sobretudo de elementos metálicos (co- mumente esbeltos), a alocação de travamentos no sentido de menor inércia das seções, assim como representado na Figura 12. As diagonais metálicas servem de apoio para o pilar na direção de menor inércia, diminuindo seu comprimento de flambagem. Repare também que na direção de maior inércia não existem travamentos, de forma que seu comprimento de flambagem será maior. Figura 12. Estrutura metálica. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/11/2020. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 91 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 91 09/12/2020 17:39:35 Sintetizando Nesta unidade, você pôde compreender melhor novos aspectos da análi- se estrutural relacionados aos projetos de vigas e pilares. Inicialmente, relem- bramos conceitos importantes relacionados à flexão, observando onde esses esforços podem ser encontrados em nosso cotidiano. Foi possível retomar os esforços internos (de tração e compressão) que um esforço fletor pode causar na seção transversal, bem como seus efeitos na estrutura. Ademais, conhecemos novos tipos de flexão, como a flexão oblíqua, que se origina quando a resultante dos momentos fletores atua em um eixo distinto dos eixos principais de inércia. Vimos também a flexão composta, muito presente em pilares, cuja seção está sujeita à força normal e a momentos fletores, o que afeta significativamente a distribuição dos esforços e orientação da linha neutra. Em seguida, exploramos o conceito de carga crítica de colunas e como efei- tos de segunda ordem podem ser prejudiciais para a estabilidade de elemen- tos. Analisamos as formulações e adequações de cálculo para a verificação de flambagem em diferentes vinculações. Por fim, destacamos que estes e muitos outros conceitos aprendidos neste curso podem e devem ser aprofundados. Analisar com conhecimento e atenção os esforços atuantes nas seções é fun- damental para a integridade e qualidade dos projetos estruturais. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 92 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 92 09/12/2020 17:39:35 Referências bibliográficas BEER, F. P. et al. Mecânica dos materiais. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. 799 p. CARDOSO et al. Inspeção de ponte ferroviária metálica: verificação da capaci- dade de carga da “Ponte da Barra” em Ouro Preto/MG. Rev. Esc. Minas, Ouro Preto, v. 61, n. 2, p. 211-218, 2008. DUTRA, N. T. Metodologia de análise de equilíbrio e estabilidade de platafor- mas de petróleo considerando os esforços nas linhas de ancoragem e nos risers com a variação do offset da unidade. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Naval) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. GERE, J. M. Mecânica dos materiais. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. 698 p. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 10. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2018. 768 p. PALIGA, A. Notas de aula do curso de resistência dos materiais II, 2014, (capítulo 3 – Flexão). 2014. Universidade Federal de Pelotas. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2020. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 93 SER_ENGCIV_RMA_UNID3.indd 93 09/12/2020 17:39:35 TRANSFORMAÇÃO DA TENSÃO E DEFORMAÇÃO 4 UNIDADE SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 94 09/12/2020 17:39:07 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Transformar as componentes de tensão e deformação associadas a um determinado sistema de coordenadas planas em componentes associados a outro sistema diferente; A partir da análise de carregamentos, determinar orientações e magnitudes referentes às máximas e mínimas tensões normais e cisalhantes nos elementos; Analisar as estruturas a partir de métodos de energia, visando identificar componentes de tensões normais e cisalhantes nos elementos. Análise dos estados planos de tensão e deformação Círculo de Mohr Estado plano de deformações Dimensionamento de peças sujeitas a carregamento alternado Análise de elementos sujeitos a carregamentos combinados Aplicação dos teoremas de energia de deformação Métodos de energia para diferentes esforços internos RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 95 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 95 09/12/2020 17:39:08 Análise dos estados planos de tensão e deformação Estado plano de tensões Nesta unidade, nos aprofundaremos nas análises de tensões e deforma- ções de elementos estruturais. Você já reparou em alguma estrutura fi ssu- rada? É interessante observar que a orientação das fi ssuras não ocorre ne- cessariamente na mesma direção, apesar de haver direções preferenciais, o que pode ser notado na peça de madeira fi ssurada da Figura 1. Por que será que isso ocorre? Figura 1. Fissuras em peça de madeira. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 15/11/2020. Até o momento de sua jornada, você certamente já aprendeu a analisar elementos estruturais sujeitos a diferentes carregamentos, determinando os esforços solicitantes internos: momento fl etor, força normal, força cortante, momento torçor. Também estudou que cada tipo de esforço gera solicitações nas fi bras (infi nitesimais) dos elementos, traduzindo-as em tensões normais e cisalhantes. Além disso, já percebeu que a magnitude das tensões normais e cisalhantes varia de acordo com o ponto de análise da seção transversal. Aqui, cabe a refl exão: aprendemos a determinar os valores máximos de ten- RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 96 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 96 09/12/2020 17:39:32 são atuantes num dado ponto da seção, mas será que as componentes dessa tensão (tensão normal e cisalhamento) podem apresentar valores maiores que esses na seção? Quando pensamos em dimensionamento de uma estrutura, devemos garan- tir sua integridade física de forma a determinar intervalos seguros para esfor- ços atuantes com base nos limites de resistência dos materiais. Esse passo só é possível quando conseguimos quantificar a magnitude das tensões que atuam no elemento. Para tanto, vamos retomar o conceito de componentes de tensão. A tensão é a entidade física definida como o limite da razão entre a força atuante em uma determinada área infinitesimal (que tende a zero). Toda tensão pode ser expressa em componentes, a partir de um sistema de coordenadas. É conveniente, para uma análise infinitesimal, tomar as componentes tais como componentes normais e tangenciais ao elemento de análise. As componentes de tensão normais às faces do elemento são as tensões normais, enquanto as componentes paralelas às faces, denominamos de tensões cisalhantes. Dessa forma, num sistema tridimensional, um elemento da estrutura estará sujeito a três componentes de tensão respectivas a cada face,conforme Figura 2. σz σx σy τzy τxy τyz τzx τxz X y τyx Z 4 5 6 1 2 3 Figura 2. Estado de tensões em elemento infinitesimal. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 97 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 97 09/12/2020 17:39:32 Esse comportamento caracteriza um estado triplo de tensões (ETT). As tensões aplicadas no corpo podem ser analisadas em termos de tensões mé- dias do elemento, decorrente dos infinitésimos das faces. Pode-se exigir equilí- brio de forças nessa configuração, com relação aos três eixos coordenados do sistema cartesiano: ΣMx = 0 ΣMx = 0 ⇒ τyz = τzy (1) (5) (6) (7) (8) (2) (3) (4) Face 1: +σydxdz . τyzdxdz . dy dz 2 Face 4: -σydxdz . dz 2 Face 5: +σzdxdy . dy 2 Face 2: -σzdxdz . τyzdxdz . dz dy 2 Face 3: -τxydxdy . dy dy 2 τxzdydz . dz 2 Repetindo o mesmo processo, podemos também fazer o equilíbrio de mo- mentos em torno dos eixos y e z, obtendo, assim, que: ΣMy = 0τxz = τzx (9) ΣMz =0τxy = τyx (10) Dessa maneira, o tensor de tensões que inicialmente se caracterizava por nove termos pode ser descrito por seis termos, uma vez que tensões cisalhan- tes entre faces adjacentes possuem mesmo módulo e sentido (Teorema de Cauchy). Segundo o Teorema de Cauchy, recordamos que as tensões cisalhan- Face 6: +τxydydz . dy 2 τxzdydz . dz 2 - RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 98 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 98 09/12/2020 17:39:32 tes que convergem ou divergem de uma aresta necessi- tam ter a mesma magnitude para garantir o equilíbrio do elemento (condição de análise). Sendo assim, são ne- cessários seis componentes de tensão para definir o estado de tensão de um corpo (tridimensional). Essas componentes ficam condicionadas aos eixos coordenados de referência, de forma que, para um outro sistema de eixos, as componentes iniciais são decompostas em novas tensões normais e tensões cisalhantes (decomposição de vetores). Portanto, para outros eixos coordenados, podem existir novas configurações de valores de tensão nor- mal e cisalhante, conseguindo ser superiores às iniciais, a depender da configuração do problema. Devemos destacar que a solicitação física da tensão é a mesma para o ele- mento infinitesimal, independentemente da escolha do sistema de coordena- das. Contudo, a descrição numérica dos valores das componentes fica condi- cionada à orientação desse sistema. Uma analogia (intuitiva, mas resguardada das devidas proporções) é imaginar o território brasileiro como espaço físico. Se pensássemos em analisar segundo estados federativos, teríamos uma divi- são e quantidade de estados, mas podemos também analisar segundo muni- cípios, obtendo outra divisão e quantidade de elementos, embora o território seja o mesmo em ambos os casos. A discussão de componentes de tensão fundamenta a teoria por trás de softwares de análise pelo método dos elementos finitos, por exemplo. Mas nem todas as análises precisam ser tridimensionais. Em muitos cenários da en- genharia, nossos problemas podem ser simplificados configurando o estado plano de tensões (EPT). Conseguimos simplificar um problema considerando estado plano de ten- sões quando as tensões atuantes em duas das direções são preponderantes à terceira, de forma que essa última pode ser desprezada. Para esses casos, o estado triplo de tensões apresentado na Figura 2 pode ser sintetizado em um estado plano de tensões, conforme ilustrado na Figura 3a. No estado plano de tensões, teremos três componentes distintas de tensão atuando no elemento: σx, σy e τxy. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 99 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 99 09/12/2020 17:39:33 Figura 3. Estado plano de tensões: (a) orientação de eixos coordenados; (b) rotação de eixos (plano qualquer). Fonte: Beer e colaboradores, 2011, p. 444. Como falado anteriormente, repare que, em um sistema de eixos rotacio- nados (ou seja, num plano qualquer que intercepta o corpo) teremos novas magnitudes de tensões normais e cisalhantes, referentes a essa nova orien- tação dos eixos, embora caracterizem o mesmo problema físico (Figura 3b). A determinação das tensões atuantes em um plano qualquer do elemento infinitesimal é realizada aplicando uma transformação linear entre os espa- ços vetoriais referentes aos eixos coordenados (Figura 4a). Em outras pala- vras, podemos analisar as tensões atuantes em eixos perpendiculares e para- lelos ao plano rotacionado. Consideremos que, no novo plano de interesse, o sistema de coordenadas estará rotacionado com uma angulação θ, de forma que convencionamos que esse valor será positivo quando a rotação for anti- -horária, e negativo quando for horária. (a) Q y x z σy σx τxy (b) z’ = z Q y’ y0 0 σy’ τx’y’ σx’ x x’ RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 100 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 100 09/12/2020 17:39:33 (b) x yy’ x’ σx (ΔA cos θ) τx’y’ ΔA σx’ ΔA σy (ΔA sen θ) τxy (ΔA cos θ) τxy (ΔA sen θ) θ Figura 4. Tensões em planos quaisquer de um elemento infinitesimal: (a) plano de interesse; (b) equilíbrio do corpo nessa configuração. Fonte: Beer e colaboradores, 2011, p.446. A partir do equilíbrio do elemento seccionado e considerando esse plano de interesse (Figura 4b), podemos determinar os valores da tensão normal e ten- são cisalhante nesse plano utilizando as Equações (11) e (12), respectivamente: σθ = σx’ = cos(2θ) + τxysen(2θ)+ σx + σy σx - σy 2 2 (11) τθ = τx’y’ = sen(2θ) + τxycos(2θ) σx - σy 2 (12) A tensão normal em um plano perpendicular ao plano rotacionado, ou seja, num plano de rotação θ+90°, é alcançada substituindo esse valor de ângulo na Equação (11), obtendo: (a) ΔA cos θ ΔA z x yy’ x’ ΔA sen θ θ θ RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 101 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 101 09/12/2020 17:39:33 Uma propriedade fundamental do estado de tensões é a determinação de invariantes de tensão. A primeira invariante de tensões (I1) tem relação com a soma das tensões normais correspondentes aos eixos perpendiculares, cujo valor é constante e independe do sistema de coordenadas. Repare que, ao so- marmos as Equações (11) e (13), obtemos: σθ+90° = σxy’ = cos(2θ) + τxysen(2θ)+ σx + σy σx - σy 2 2 (13) σθ + σθ+90° = σx’ + σy’ = σx + σy = constante = I1 (14) Até aqui, aprendemos a determinar as tensões atuantes em um plano qual- quer do EPT e vimos que, a depender da orientação desse plano, poderemos ter tensões maiores ou menores. Parece intuitivo supor que existirão planos de máximas e mínimas tensões, não é mesmo? Pois bem, para determinarmos esses planos, podemos realizar uma otimização (derivada) em relação ao ân- gulo θ em busca dos pontos máximos e mínimos da tensão normal. Os ângulos θp que possibilitam a ocorrência desses valores máximos de tensões normais são denominados planos principais de tensão e conseguem ser obtidos por meio da Equação (15). Repare que está escrito “planos” (ou seja, no plural), pois haverá dois planos que apresentam esse valor de tangente. tg(2θp ) = 2τxy σx - σy (15) Quando utilizamos os valores desses planos nas Equações (11) e (12), po- demos determinar os valores das máximas tensões normais atuantes no ele- mento. Essas tensões são denominadas tensões principais. Nos planos em que ocorrem as tensões principais (maiores e menores tensões normais dentre todos os possíveis planos), a tensão cisalhante é nula. Essa é uma importante propriedade do estado de tensões, uma vez que se o nosso elemento de inte- resse está sujeito à tensão normal e cisalhante, esse estado de tensões ainda não apresentará os máximos valores que ele está sujeito em outras orienta- ções de eixos. Ou seja, os critérios de análise de resistência para avaliar a mag- nitude das solicitações utilizam as tensões principais para seu cômputo. Uma vez compreendida a importância da determinação da orientação e magnitude das tensões principais, esses valores podem ser calculados pela RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 102 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd102 09/12/2020 17:39:33 Equação (16). O sinal positivo antes da raiz indicará a tensão principal máxi- ma, representada por σmáx, enquanto a tensão principal mínima é obtida pela subtração, sendo representada por σmín. Na Equação (17), representa-se mate- maticamente que nos planos em que acontecem tensões principais a tensão cisalhante será nula. τθp = 0 (17) (16) σx + σy σx - σy + τxy 2 2 2 2 σmáx,mín = ± De forma semelhante, podemos determinar os planos (θc) em que a tensão cisalhante será máxima: tg(2θp ) = 2τxy σx - σy (18) A magnitude da tensão cisalhante máxima é fornecida pela Equação (19). Em ambos os planos de cisalhamento máximo ocorrerá a mesma magnitude de tensão cisalhante, diferenciando-os apenas pelo sentido do vetor (posi- tivo e negativo). Além disso, diferentemente do caso anterior, nos planos de tensão cisalhante máxima ocorrem tensões normais médias, obtidas pela Equação (20). τmáx = σx - σy + τxy 2 2 2 (19) σx + σy 2 (20)σméd = Círculo de Mohr Na seção anterior, aprendemos a determinar analiticamente as tensões que atuam em um plano qualquer num elemento infi nitesimal sujeito a um EPT (Figura 5a). As Equações (11) e (12) são equações paramétricas (dependem do parâmetro θ). Ao removermos a parametrização, obtemos a expressão combi- nada apresentada na Equação (21): RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 103 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 103 09/12/2020 17:39:33 (B) σmáx σmín (σx - σy) X(σx’ - τxy) Y(σy’ + τxy) 1 2 O τ τxy C B A 20p Figura 5. Círculo de Mohr para EPT: (a) plano de interesse; (b) representação gráfica do círculo. Fonte: Beer e colabo- radores, 2011, p.457. σx + σy σx - σy 2 2 2 2 2σx' - + τx’ y = + τxy 2 (21) Observe que, na primeira parcela, a fração representa a tensão normal mé- dia do elemento. Além disso, chamando o segundo membro da equação de R2, a equação pode ser reescrita como a equação geral de um círculo, cujas coor- denadas do centro são (σméd,R): (22)2(σx' - σméd ) 2τx’ y = R2 Decorrente dessa analogia geométrica, um estado de tensões de um corpo consegue ser representado por meio do Círculo de Mohr (Figura 5b). O Círculo de Mohr foi e ainda é muito útil para a determinação das componentes de ten- (A) y x σy σmáx σmáx σmín b a σmínσx θp τxy O RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 104 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 104 09/12/2020 17:39:33 são em diferentes planos, sobretudo por conta da quantidade de trabalho des- pendida para calcular orientações em diferentes ângulos (principalmente sem ferramentas de cálculo). Apesar das expressões analíticas apresentadas, o uso do Círculo de Mohr é uma importante ferramenta didática e de compreensão rápida do comportamento do estado de tensões dos elementos. CURIOSIDADE O Círculo de Mohr é uma representação do estado de tensões de um corpo, sendo introduzido pelo engenheiro alemão Otto Mohr (1835-1918)� Por intermédio dessa analogia, é possível determinar geometricamente as componentes de tensão atuantes em diferentes orientações� Para o esta- do plano de tensões, a terminologia mais adequada seria de circunferên- cia (apenas o contorno), embora seja muito comum utilizar o termo círculo mesmo assim (geralmente dizemos “Círculo de Mohr para o EPT”)� O Círculo de Mohr representa o estado de tensões presentes em todos os possíveis planos de análise para um elemento da estrutura. Cada ponto per- tencente à circunferência corresponde a um estado de tensões, sendo suas coordenadas os módulos de tensão normal e cisalhante atuantes nesse ele- mento, respectivamente. As tensões principais do elemento ocorrem nos pon- tos que interceptam o eixo x, ou seja, quando a tensão cisalhante é nula. É fácil perceber que esses pontos correspondem ao maior e menor valor de tensão normal atuante. Observe que a máxima tensão cisalhante possui módulo nu- mericamente igual ao raio da circunferência, enquanto o centro da mesma é equivalente à tensão normal média do elemento. Como uma rotação de intensidade θ no plano de análise corresponde a uma rotação de 2θ em relação ao centro do círculo, podemos concluir que pontos diametralmente opostos correspondem a estados de tensão perpendiculares. ASSISTA Você pode conferir visualmente as etapas de construção e análise do Círculo de Mohr pelo vídeo (em inglês) 08�2 Mohr’s circle for plane stress transformation, do canal “Introductory Engineering Mechanics”, disponível na inter- net� Esse assunto possui muitos materiais e vídeos abertos para acompanhar� RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 105 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 105 09/12/2020 17:39:34 Estado plano de deformações Da mesma maneira que temos estados de tensões em um corpo, também podemos analisar os estados de deformação nos quais ele se encontra. Antes de apresentarmos as expressões dessas análises, vamos retomar alguns con- ceitos fundamentais na determinação das deformações. A Figura 6 exibe um corpo que está sujeito a diferentes componentes de deformação. Essas com- ponentes podem ser resultantes de carregamentos (forças, momentos, impac- to) ou ainda variações térmicas. Figura 6. Estado de deformações de um corpo: (a) corpo analisado; (b) elemento não deformado; (c) elemento defor- mado. Fonte: Hibbeler, 2018, p.59. x z y (a) (b) (c) π 2 π 2 π 2 π 2 π 2 π 2 ( - Yxy ) ( - Yyz ) ( - Yxz ) (1 + εx) ∆x (1 + εx) ∆y (1 + εx) ∆z Δz Δy Elemento não deformado Elemento deformado Δx RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 106 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 106 09/12/2020 17:39:34 A deformação de cada face do elemento infinitesimal é governada por duas componentes: a deformação normal (ϵ) e a deformação cisalhante (γ). A de- formação normal atua normalmente as faces do elemento, promovendo efei- tos de dilatação ou compressão das mesmas, alterando seu volume. A defor- mação cisalhante atua paralela às faces, promovendo alteração na forma do elemento, ou seja, distorção. No estado plano de deformações (EPD), teremos duas componentes de deformações normais (ϵx,ϵy) e uma componente de deformação cisalhante (γxy) atuando nos elementos. De forma semelhante ao EPT, podemos determinar componentes de deformação em diferentes planos e orientações, por meio das equações: (23) 2 2 cos(2θ) + sen(2θ)ϵθ = ϵx’ = ϵx + ϵy ϵx - ϵy- γxy 2 (24) 2 2 cos(2θ)sen(2θ) + γx’y’ ϵx - ϵy γxyγθ 22 = = (25)2 2 cos(2θ) + sen(2θ) ϵx + ϵy ϵx - ϵy- γxy 2 ϵθ+90° = ϵxy’ = Analogamente, podem ser determinadas as deformações normais máximas e seus respectivos planos de incidência, além das deformações cisalhantes má- ximas e seu plano de ocorrência: ϵx + ϵy ϵx - ϵy 2 2 2 2 ϵmáx,mín = ± + (26) γxy 2 ϵx - ϵy 2 2 2 = + (28) γxy γmáx 22 ϵx - ϵy (27) γxytg(2θp ) = ϵx - ϵy (29) γxy tg(2θc ) = - (30)ϵméd = 2 ϵx + ϵy RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 107 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 107 09/12/2020 17:39:36 Relembrando: planos principais são planos de máxima ocorrência do pa- râmetro de tensão/deformação normal, em que também ocorrem tensões/ deformações cisalhantes nulas. Dessa maneira, podemos ainda obter as com- ponentes de deformação mediante o Círculo de Mohr para o EPD. Nesse caso, a abscissa apresenta a deformação normal e a ordenada a metade da deforma- ção cisalhante atuante no elemento, como ilustrado na Figura 7. Figura 7. Círculo de Mohr para EPD: (a) plano de interesse; (b) representação gráfica do círculo. Fonte: Beer e colabo- radores, 2011, p.493. Por fim, é possível realizar uma comparação entre tensões planas e defor- mações planas (Quadro 1). Cabe ressaltar que um estado plano de tensões não implica um estado plano de deformações. No EPT, as tensões em uma direção podem ser desprezíveis, o que não necessariamente anula suas deformações nessa direção. Da mesma forma, no EPD, as deformações em uma direção são desprezíveis, mas pode haver tensões desenvolvidas nessa direção. y Δs (a) x Δs (1+∈mín) Δ s (1+∈máx) b a 0p 0p BOdos teoremas de energia de deformação .................................................. 114 Métodos de energia para diferentes esforços internos ......................................... 117 Sintetizando ......................................................................................................................... 122 Referências bibliográficas ............................................................................................... 123 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 7 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 7 09/12/2020 17:50:07 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 8 09/12/2020 17:50:07 A compreensão do comportamento mecânico das estruturas é uma eta- pa fundamental no desenvolvimento técnico e profi ssional do engenheiro. Ao projetarmos as estruturas, estamos dando forma e concretizando os sonhos e necessidades de alguém. Por isso, precisamos projetar de forma responsável e sustentável, usando o conhecimento das técnicas e comportamentos físicos envolvidos nos proble- mas que nos forem apresentados durante o projeto. Este material foi desenvolvido para possibilitar seu contato com os princi- pais tópicos de mecânica dos sólidos, a fi m de, também, instigá-lo a se aprofun- dar nessa ciência, fundamental para a concretização das estruturas. Durante seus estudos, você será apresentado a diferentes comportamen- tos dos elementos das estruturas, decorrentes das distintas formas de solicita- ção estrutural, vinculações, mecanismos de instabilização e falha. Também irá conhecer as principais hipóteses simplifi cadoras, teoremas e equacionamen- tos associados à análise estrutural. Com os conhecimentos adquiridos, será possível identifi car as solicitações e esforços empregados nos elementos, o que se constitui como uma primeira etapa de dimensionamento para qualquer sistema estrutural. Adiante, a partir do estudo em disciplinas específi cas de dimensionamento de sistemas estrutu- rais, será possível correlacionar as solicitações com as propriedades resisten- tes dos elementos de seu sistema. Bons estudos! RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 9 Apresentação SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 9 09/12/2020 17:50:07 Dedico este trabalho à minha família, aos amigos e aos professores que me acompanharam e possibilitaram esta concretização. O professor Leonardo Vinícius Pai- xão Daciolo é mestre em engenharia civil, na área de concentração de es- truturas e geotecnia, pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (2020), é engenheiro civil com ênfase em siste- mas construtivos, também pela UFSCar (2017) e técnico em edifi cações pelo Centro Paula Souza – CEETEPS (2012). É professor de engenharia civil no ensi- no superior e realiza atividades de pes- quisa, ensino e extensão. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6917885391614752 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 10 O autor SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 10 09/12/2020 17:50:07 BARRAS SUJEITAS À TORÇÃO PURA 1 UNIDADE SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 11 09/12/2020 17:50:26 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender o comportamento mecânico de elementos estruturais sujeitos a esforços torcionais; Identificar deslocamentos, rotações, empenamentos de seções decorrentes de momento torçor; Quantificar as tensões cisalhantes máximas e ângulos de torção desses elementos. Análise do comportamento de barras de seção circular sujeitas à torção pura Ângulo de torção em barras de seção circulares Elementos estaticamente inde- terminados submetidos a mo- mento torçor Dimensionamento de barras de seção arbitrárias sujeitas à torção Tubos de paredes finas subme- tidos à torção Analogia de membrana RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 12 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 12 09/12/2020 17:50:26 Análise do comportamento de barras de seção circular sujeitas à torção pura Nesta unidade, vamos compreender melhor um novo tipo de solicita- ção estrutural: o momento torçor, também denominado torque. O torque está presente em diferentes aplicações cotidianas, seja no manuseio de uma chave de fenda, no funcionamento de um eixo de transmissão, em esforços em elementos configurados em grelha, no mastro de embarca- ções e em muitos outros casos em que forças de torção surgem tentando rotacionar os elementos. Na Figura 1 temos um exemplo ilustrativo do comportamento de bar- ras circulares submetidas à torção. Na Figura 1a, podemos observar uma mulher exercitando os músculos com uma barra de torção flexível (equipa- mento fisioterapêutico). Inicialmente, este elemento cilíndrico está em re- pouso e, após a incidência de torção (Figura 1b), podemos visualizar uma rotação nas arestas de seu entorno: BA Figura 1. Barra elástica circular submetida à torção. Fonte: Shutterstock. Acesso em 24/9/2020. (Adaptado). Alguns questionamentos surgem após esta observação: como quantifi car este esforço torçor? Qual a rotação que a barra irá sofrer? Ela irá se romper? Como sua seção fi cará deformada? Como este comportamento é considerado nas estruturas? Vamos estudar todos estes aspectos, iniciando pela base: de onde vem este momento torçor. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 13 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 13 09/12/2020 17:50:46 Uma força irá originar um momento torçor quando tender a deformar a seção transversal no próprio plano da seção, ou seja, perpendicularmente ao seu eixo. Em uma defi nição mais formal, podemos dizer que um momen- to torçor é originário da soma de todos os momentos que atuam no plano YZ (perpendicular ao eixo do elemento), de forma que sua resultante ten- de a rotacionar a seção transversal em torno do seu eixo, conforme pode ser visualizado na Figura 2a. As tensões que ocorrem na seção transversal, decorrentes dos esforços de torção, são tensões cisalhantes, cuja atuação pode ocasionar tensões de tração e compressão ao longo do elemento, po- dendo levá-lo a ruptura (Figura 2b): a) X Y Z b) 45º Trinca T T T T Figura 2. Esforços de torção: (a) atuação do momento torçor; (b) ruptura por torção. Fonte: GERE, 2003, p. 143-159; FEC. Acesso em: 2/8/2020. (Adaptado). Para prosseguir com as análises deste tipo de esforço, precisamos padronizar nossas convenções de sinais. Um corpo cuja seção tende a rotacionar no sentido horário apresenta um torque negativo, enquanto um corpo cuja seção tende a rota- cionar no sentido anti-horário, apresenta torque positivo. Podemos aplicar uma regra prática para a identifi cação desta convenção: a regra da mão direta. Esta regra é aplicada esticando o polegar na direção do eixo da seção e orientando os demais dedos na direção de rotação causada pela aplicação das for- ças do sistema. Quando este alinhamento dos dedos resultar em um polegar saindo da seção, teremos a situação de momento torçor positivo, enquanto uma resultante na qual o polegar tenda a entrar na seção indicará um momento negativo. Pratique esta regra com a Figura 2a e perceba que o toque será negativo para a estrutura em questão, enquanto na Figura 2b teremos uma situação de torque positivo. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 14 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 14 09/12/2020 17:50:46 Agora, vamos analisar o comportamento de barras circulares sujeitas a este esforço por apresentarem algumas propriedades geométricas especiais, motivo pelo qual são amplamente utilizadas. Para desenvolver a formulação de torção em barras circulares, tomemos, inicialmente, uma barra de comprimento L, ilus- trada na Figura 3: B A T’ T C Figura 3. Barra de seção circular submetida à torção. Fonte: BEER et al., 2015, p. 152. Quando aplicamos um momento torçor de intensidade T nesta barra, surgi- rá um esforço interno para equilibrá-lo T’. Internamente, tomando-se um ele- mento na seção transversal, podemos identifi car a força atuante neste ponto (dF ), que atua a uma distância ρ do centro da seção transversal, de forma que: ∫ρ dF = T (1) Expressa o equilíbrio entre o momento torçor aplicadoX Y E D C A (b) ∈mín ∈méd ∈máx ∈ ymáx (no plano) y 20p 1 2 1 2 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 108 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 108 09/12/2020 17:39:37 Tensão plana Deformação plana Tensões σz = 0 τxz = 0 τyz = 0 σx, σy, e τxz podem ter valores não-nulos τxz = 0 τyz = 0 σx, σy, σz e τxy podem ter valores não-nulos Deformação Yxy = 0 Yyz = 0 ϵx, ϵy, ϵz e Yxy podem ter valores não- -nulos ϵz = 0 Yxz = 0 Yyz = 0 ϵx, ϵy e Yxy podem ter valores não-nulos σ = 0 = 0 x xz = 0 y, e = 0 τ podem ter valores τ podem ter valores = 0 podem ter valores não-nulos podem ter valores não-nulos podem ter valores não-nulos ϵ podem ter valores não-nulos Yxy = 0 Y ϵ podem ter valores = 0 Y ϵ e Y = 0 Y e Y yz = 0 podem ter valores não- τ σ podem ter valores não- = 0 σ podem ter valores não- -nulos = 0 σ e τ podem ter valores não- -nulos yz = 0 e τ podem ter valores não- -nulos = 0 podem ter valores não-nulos podem ter valores não- podem ter valores não-nulos podem ter valores não- podem ter valores não-nulos podem ter valores não-nulos z = 0 Yxz = 0 Yyz = 0z = 0 Yxz = 0 Yyz = 0z ϵ podem ter valores = 0 Yxz = 0 Yyz = 0 ϵ e Y podem ter valores = 0 Yxz = 0 Yyz = 0 e Y = 0 Yxz = 0 Yyz = 0 xy podem ter valores não-nulos = 0 Yxz = 0 Yyz = 0 podem ter valores não-nulos = 0 Yxz = 0 Yyz = 0 podem ter valores não-nulos = 0 Yxz = 0 Yyz = 0 podem ter valores não-nulos podem ter valores não-nulos podem ter valores não-nulos podem ter valores não-nulos podem ter valores não-nulos podem ter valores não-nulos QUADRO 1. TENSÃO PLANA E DEFORMAÇÃO PLANTA Fonte: Gere, 2003, p.384. Dimensionamento de peças sujeitas a carregamento alternado Determinação das tensões oriundas de diferentes carregamentos Neste ponto da disciplina, você certamente deve ter notado como as es- truturas podem estar sujeitas a diferentes carregamentos. E isso é comum em nosso cotidiano. Imagine, por exemplo, um helicóptero: o eixo que compõe a estrutura da hélice estará sujeito ao momento torçor decorrente do movimen- to da mesma, além de força normal decorrente do peso do helicóptero. Outro RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 109 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 109 09/12/2020 17:39:44 exemplo nítido da existência de ações combinadas é em outdoor, como o da Figura 8. Figura 8. Outdoor sujeito a diferentes carregamentos. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/11/2020. No outdoor da Figura 8, percebemos que a estrutura do pilar estará su- jeita ao esforço normal, flexão, esforço cisalhante e torção, uma vez que teremos carregamentos normais e perpendiculares à seção transversal, de- correntes do peso próprio e vento. Outros exemplos que ilustram a existên- cia de diferentes carregamentos combinados são guindastes, elementos de máquinas, estruturas de edifícios, pontes etc. Até o momento, temos anali- sado sempre carregamentos isolados, mas como combinar todos os efeitos de carregamentos diferentes? Considerando o Princípio de Saint-Venant e que os materiais estarão su- jeitos ao regime elástico-linear e a pequenas deformações, podemos analisar esses carregamentos de forma isolada e combinar seus efeitos nas estruturas. Tal método também é conhecido como método da superposição de efeitos e apresenta bons resultados para as estruturas habituais. Em outras palavras, cada esforço interno deve ser analisado segundo seus respectivos métodos analíticos, determinando as respectivas componentes de tensões decorrentes de seus efeitos nas estruturas. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 110 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 110 09/12/2020 17:39:45 Sabemos que, para esforços normais a uma seção, a tensão resultante será uma tensão normal, proporcional à razão entre a força atuante e área da seção transversal, tal qual a Equação (31): (31)σ = A N Já para esforços de fl exão da seção transversal em elementos retos, consi- derando que os efeitos de cortante são desprezíveis nesses casos, a solicitação nas fi bras da seção analisada será de tensões normais, dependentes da distân- cia a linha neutra e momento de inércia da seção, como na Equação (32): (32)σ = I My Para esforços cortantes, o efeito da força de cisalhamento gerará uma ten- são cisalhante cuja intensidade depende (além da força cortante) do momento estático da seção, da espessura do elemento e do momento de inércia. A Equa- ção (33) apresenta essa expressão: (33)τméd = It VQ Já esforços de torção, oriundos de momentos torçores, ocasionarão ten- sões cisalhantes cuja distribuição é dependente da geometria da seção trans- versal. Para eixos circulares maciços e tubulares, a tensão cisalhante é depen- dente linearmente da distância entre o ponto de análise e o centro da seção, além do momento de inércia polar da mesma, como na Equação (34): (34)τméd = J Tρ Análise de elementos sujeitos a carregamentos combinados Como visto na seção anterior, diferentes esforços geram tensões normais e cisalhantes na seção transversal, cujo cômputo pode ser realizado por meio do método da superposição, desde que respeitadas as premissas desse método. Nesse sentido, cada elemento da seção transversal apresenta valores específi - cos de tensões, cuja distribuição ao longo da estrutura deve ser analisada a fi m de se determinar valores críticos de esforços. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 111 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 111 09/12/2020 17:39:46 DICA Pontos críticos de análise são pontos em que as tensões atuantes apre- sentam valores máximos ou então valores limites de análise� Decorrentes das combinações de carregamentos, diferentes pontos podem exibir níveis críticos� Para isso, a localização desses pontos é feita observando pontos candidatos com potencial para desenvolvimento de tensões eleva- das, de acordo com os conhecimentos de distribuição de tensões referen- tes ao tipo de esforço e geometria da seção transversal� Além disso, estudamos que as componentes de tensões normais e cisa- lhantes são dependentes do sistema de coordenadas analisado, de forma que podem existir direções nos elementos infinitesimais que apresentem valores máximos superiores aos analisados. Para auxiliar na análise dos carregamentos combinados, é apresentada uma sequência de etapas úteis para a avaliação estrutural (GERE, 2003; HIB- BELER, 2018): 1. Selecione o ponto da estrutura de interesse de análise. É comum obser- var seções que apresentem esforços máximos, como momentos fletores. 2. Por meio do uso das expressões adequadas, determine as componentes de tensão resultantes de cada carregamento/esforço atuante na estrutura nes- sa seção. 3. Selecione pontos de interesse (potenciais pontos críticos). Combine com- ponentes de tensão de mesmo efeito na seção transversal, agrupando-as em tensões normais e tensões cisalhantes. 4. Nesses pontos, determine as tensões principais e cisalhantes máximas, por intermédio dos métodos de transformação de tensões planas. 5. Escolha um critério para verificar a solicitação máxima e comparar com níveis de resistência dos materiais. Essa comparação também pode ser feita utilizando fatores de segurança, coeficientes ponderadores, dentre outros. 6. Avalie deformações nesse elemento, para verificar se o mesmo atende a critérios preestabelecidos. 7. Prossiga essa análise considerando pontos adicionais na estrutura. Exemplo 1 Considere que um helicóptero exerce uma força de tração F = 150 kN so- bre o eixo circular maciço de sustentação da hélice. Esse eixo também está sujeito a um momento torçor de 3 kN·m. Considerando que o eixo apresen- RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA112 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 112 09/12/2020 17:39:46 ta 60 mm, determine as tensões principais e de cisalhamento máximo que ocorrem no eixo. Resolução Inicialmente, determinemos a área da seção transversal do elemento: (35)A = 2,83 × 10-3 m4= 4 4 πD2 π(0,060)2 Para o esforço normal, sabemos que a distribuição de tensões é homo- gênea em toda a seção circular. Já para o momento torçor, sabemos que o ponto que mais estará solicitado são pontos mais distantes ao centro da seção, ou seja, na circunferência da mesma. Considerando um ponto pertencente a essa circunferência, a tensão ci- salhante será: 2 (36)τ = = 70736 kPa = 70,74 MPa= J Tρ π0,0304 3 × 0,030 Já a tensão normal atuante no elemento será: (37)σ = = 53052 kPa = 53,05 MPa= A 2,83 × 10-3 N 150 Note que nessa configuração estrutural, teremos apenas solicitação normal no eixo y, sendo a solicitação no eixo x nula. F F T T τxy τxy σy σy Figura 9. Configuração estrutural. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 113 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 113 09/12/2020 17:39:47 As tensões principais serão: 2 (38)0 + 53.05 0 + 53.05 + 70,742 2 2 σmáx,mín = ± (39)σmáx = 102,1 MPa; σmín = -49 MPa A tensão cisalhante máxima será: (40)0 + 53.05 + 70,742 = 75,6 MPa 2 2 τmáx, = Você também pode obter as orientações em que ocorrem essas tensões utilizando as Equações (15) e (18). Aplicação dos teoremas de energia de deformação Trabalho e energia de deformação Para começarmos nosso diálogo acerca desta seção, vamos analisar uma situação corriqueira, conforme a Figura 10. Essa imagem ilustra uma atleta momentos antes de realizar um salto ornamental. Para tanto, ela sobe na estrutura do trampolim, desloca-se até a sua extremidade livre, prepa- ra-se e impulsiona seus pés para dar um salto inicial. Esse salto permite que seu corpo (pés) impacte a estrutura do trampolim, deformando-se até atingir um ápice, e o mesmo retornará a sua posição inicial, fazendo com que a atleta seja arremessada e possa concluir, assim, o salto, uma vez que atingiu o impulso necessário para isso. Você reparou na descrição do processo desse salto? Nesse ponto, cabe a refl exão: quais os processos físicos envolvidos nessa deformação da estrutura (trampolim)? Note que a atleta representa uma carga pontual dinâmica que atua numa estrutura fl exível, originando uma deformação. Essa estrutura armazena tal energia e possibilita sua transferência (elástica) novamente para a atleta. Figura 10. Salto ornamental e métodos de energia. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 20/11/2020. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 114 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 114 09/12/2020 17:39:48 Todo esse aspecto retrata a chave central de discussão deste capítulo: os métodos de energia. Os métodos de energia são uma ferramenta de análise de problemas estruturais, sobretudo os tangentes a deflexões e deformações dos elementos. A modelagem de problemas físicos por meio de equações de energia possibilita simplificar algumas análises, bem como descrever de forma geral os mecanismos físicos que atuam nas estruturas. Mediante esses métodos, podemos calcular tensões e deformações dos ele- mentos, considerando a energia interna de deformação causada pelos car- regamentos estáticos e dinâmicos. Antes de nos aprofundarmos nessas questões, vamos nos atentar às de- finições de trabalho e energia de deformação. Dizemos que uma força (P) realiza trabalho (U) quando a estrutura sofre um deslocamento diferencial (dx) na mesma direção da força. Em termos algébricos, o trabalho pode ser expresso pela Equação (41), em que ∆ representa o deslocamento total cau- sado pela força. A força P não precisa ser necessariamente aplicada de maneira instan- tânea. Considere na Figura 11a uma força normal P que é aplicada sobre (41)P dxU = ∆ 0 uma barra. À medida que incrementamos essa força de 0 (valor inicial) até P (valor total da força), observaremos um deslocamento que também é incre- mentado, partindo de 0, até seu valor total ∆. Observe que, da mesma maneira, uma nova carga P’ pode ser aplicada à estrutura, posteriormente à carga P. Essa nova carga também realizará trabalho, contudo, com uma nova magnitude, visto que o deslocamento ∆’ será diferente (Figura 11b). Na Figura 11c, está representado o diagrama força x deslocamento da barra analisada. Repare que estão ilustrados os incrementos gradativos das forças apli- cadas até gerarem seu valor pleno. O trabalho gera- do por essas forças é numericamente equivalente à área sob essa curva (observe a Equação (41)). RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 115 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 115 09/12/2020 17:39:48 Δ P P P’ Δ Δ’ P P’ F x Δ Δ’ (a) (b) (c) Figura 11. Trabalho e energia de deformação: (a) carga normal inicial; (b) incremento posterior de uma nova carga; (c) diagrama de energia de deformação. Fonte: Hibbeler, 2018, p. 622. Podemos então analisar que, no primeiro momento, em que apenas a primeira carga P estava sendo aplicada, o trabalho dessa carga é equiva- lente à área triangular em cinza claro do diagrama, numericamente igual a: (42)P∆U P,1 = 2 1 (43)P’∆’U P’,2 = 2 1 Por sua vez, o trabalho realizado pela carga P nesse segundo momento será equivalente à área retangular (cinza) da Figura 11c, uma vez que essa carga permaneceu na estrutura e continuará realizando trabalho. (44)P∆'U P,2 = Agora, consideremos outro cenário: um momento aplicado à estrutura. O deslocamento provocado pelo momento uma rotação. Dessa maneira, a defi- nição de trabalho realizado por um momento é referente ao produto de seu módulo pelo deslocamento angular por ele provocado (Equação (45)). Da mes- ma maneira, as analogias para aplicação de momentos posteriores a esses e também do gráfico de momento x deslocamento angular permanecem válidas. (45)M dθU = ∆ 0 Já no segundo instante, quando a carga P’ é aplicada, essa carga realizará um trabalho correspondente à região triangular cinza escuro, cujo módulo será: RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 116 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 116 09/12/2020 17:39:49 Repare que o trabalho fi ca condicionado à confi guração e ordem de aplicação das cargas na estrutura. Esses conceitos são a base para iniciarmos os métodos de energia, cujo escopo não se limita às noções iniciais tratadas neste livro. E, por falar em energia, o trabalho que o carregamento provoca durante seu incremento armazena um tipo particular de energia na estrutura: a energia de deformação. Dessa maneira, a energia de deformação armazenada mediante a realização do trabalho feito pelos carregamentos é numericamente igual às Equações (41), para carga pontual, e (45), para momento fl etor. Considerando uma barra de área transversal A e comprimento L, podemos dividir a energia de deformação por seu volume V, obtendo a densidade de deformação: (46) ∆ ϵ ∆ 0 0 0= = =u = V A L U P dx ∫ P dx σxdϵx Observe que a Equação (46) é numericamente igual à área sob o diagrama tensão x deformação específi ca do material, considerando variações no eixo x. Considerando a área total sob o gráfi co, ou seja, toda a densidade de energia de deformação armazenada entre o início do carregamento (0) e a deformação específi ca na ruptura (ϵR), obteremos uma importante propriedade dos mate- riais: o módulo de tenacidade. Métodos de energia para diferentes esforços internos Trabalho e energia de deformação A Equação (46), exibida anteriormente, apresenta uma relação entre a den- sidade de energia de deformação e a tensão/deformação dos elementos. Re- cordando a Lei de Hooke, que relaciona para os trechos elásticos-lineares a tensão-deformação dos materiais por meio do módulo de elasticidade, pode- mos desenvolver: (47) ϵ ϵ 0 0 = = =u = V 2 2E U σxdϵx Eϵxdϵx = Eϵx 2 σx 2 Assim, observamos que a densidade de energia de deformação é pro- porcional à tensão normal atuante no ponto de interesse (corresponden- te a um nívelespecífico de deformação). Nesse sentido, podemos relacio- nar densidades de energias com o cálculo de tensões e deformações. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 117 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 117 09/12/2020 17:39:49 EXEMPLIFICANDO Um ponto de interesse particular é a determinação da densidade de ener- gia de deformação correspondente à tensão de escoamento do material (σE)� Esse valor é denominado módulo de resiliência do material� Fisica- mente, corresponde à energia de deformação por unidade de volume que o material conseguirá absorver sem entrar em regime de escoamento� Considerando agora a taxa de variação entre a energia de deformação e a variação do material, a Equação (47) também pode ser reescrita como: (48)=u = dU = U =→ → dV dV dV 2E 2E 2E dU σx 2σx 2 σx 2 A Equação (48) representa a energia de deformação elástica armazena- da na estrutura. Sua resolução pode ser construída determinando a função correspondente à tensão normal atuante na estrutura, bem como realizando mudanças de variáveis de integração convenientes. Para esforços normais centrados, observamos que: A P (49) L 0 U = dV = dx(A dx) = 2E 2AE2E 2σx 2 p21 Se os integrandos forem constantes (seção transversal, propriedades elás- ticas e carregamento), podemos simplificar em: (50)U = 2AE p2L (51) L 0 U = dV = dx 2E 2EI σx 2 M2 De forma análoga, conseguimos determinar a energia de deformação elás- tica mediante esforços de flexão: Quando analisamos um material sujeito a tensões cisalhantes, é possível definir energias de deformação elásticas associadas às deformações cisalhan- tes do corpo, cujo procedimento é semelhante ao apresentado (adequando as variáveis ao caso de cisalhamento). (52)U = dV 2G 2 τxy RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 118 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 118 09/12/2020 17:39:50 Para esforços cortantes, a determinação da energia de deformação elás- tica é um pouco mais complexa, decorrente da necessidade da integração da tensão cisalhante que depende de momentos estáticos da posição da seção de análise – a leitura das obras de Beer e colaboradores (2011) e Hibbeler (2018) fica como sugestão complementar. Por fim, de forma a determinação para o caso de esforço de torção em eixos circulares, podemos utilizar a Equação (53): (53) L 0 U = dV dx = 2G 2GJ 2GJ T2 T2L2 τxy A determinação da energia de deformação é essencial para a aplicação de mé- todos de energia. Aqui, aprenderemos a usar uma simplificação do método do Teorema de Clapeyron para a determinação de deslocamentos em elementos sujeitos a uma única carga pontual aplicada ou um único momento fletor aplicado. A ressalva desse método é que só é possível determinar os deslocamentos no ponto de aplicação do carregamento. A premissa do método se baseia em igualar a energia externa (oriunda do trabalho do carregamento) com a energia interna (oriunda da deformação elástica), ou seja, considerar a conservação da energia. (54)Ue = Ui Dessa maneira, um carregamento normal aplicado a um nó de um sistema de treliças originará um deslocamento deste nó, que poderá ser obtido por meio da relação entre energia externa (trabalho dessa força) e interna (energia de deformação dessa força): (55)∑P∆ = 2 2AiEi 1 Ni 2 Li i = 1 n De maneira semelhante, uma viga sujeita a um momento fletor apresenta- rá um deslocamento angular que pode ser determinado igualando o trabalho desse momento com a energia de deformação elástica da flexão da viga: (56) L 0 Mθ = dx2 2EI M21 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 119 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 119 09/12/2020 17:39:51 Exemplo 2 Determine o deslocamento que uma carga de 50 kN aplicada no nó livre da treliça provocará na estrutura. Considere o material com módulo de elasticida- de de 200 GPa e seção circular plena de 20 mm. 8.00 m 10.00 m6. 00 m 50 .0 k N Figura 12. Exemplo 2. Resolução Inicialmente, determinemos a área da seção transversal dos elementos: (57)=A = = 3,14 × 10-4 m4 44 π(0,020)2πD2 Por meio de métodos de análise de nós ou ainda de seccionamento, pode- mos determinar os esforços internos presentes nos elementos (de tração ou compressão), sintetizados em kN: RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 120 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 120 09/12/2020 17:39:51 66.7 -83.3 50 .0 Figura 13. Exemplo 2 O deslocamento no ponto de aplicação da carga pode ser obtido por: 25∆ = = 0,955= 125664125664 119980 ∆ = = 0,038 m= 38 mm 25 0,995 (66,72 × 8 + 502 × 6 + (-83,3)2 × 10) ∑50∆ = 2 2(3,14 × 10-4)(200 × 106) 11 Ni 2 Li i = 1 n (58)∑P∆ = 2 2AiEi 1 Ni 2 Li i = 1 n ° RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 121 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 121 09/12/2020 17:39:52 Sintetizando Nesta unidade, você pôde conhecer e compreender novos métodos de aná- lise de tensões e deformações nas estruturas. No primeiro momento, anali- sou-se o estado de tensões que um elemento infinitesimal está submetido. Foi possível identificar como as componentes de tensões são dependentes da orientação da análise. Esse fato possibilitou identificarmos as tensões princi- pais e cisalhantes máximas, conhecendo as orientações que as representam. Além disso, a construção do Círculo de Mohr se apresentou como uma alterna- tiva gráfica para a compreensão dos estados planos de tensão e deformação dos elementos. Falando em deformação, verificamos que as componentes de defor- mação normal e cisalhante também são afetadas com a orientação das análises. Avançando na análise estrutural, tornou-se possível construir estados de tensão para carregamentos combinados, de forma a analisar pelo método da superposição de efeitos as contribuições de cada carregamento no estado de tensões dos elementos da seção transversal. Por fim, uma nova metodologia de análise foi apresentada: os conceitos de energia de deformação. Conhecemos como determinar as energias de defor- mação elástica para diferentes carregamentos, além de possibilitar o cálculo de deformações pontuais em sistemas simplificados, por meio da conservação da energia. Encerramos aqui as discussões principais, contudo, sem esgotar- mos a vastidão de tópicos e conteúdos acerca desses assuntos. Fica o convite para que você, estudante, aprofunde-se cada mais nessa ciência tão importante e necessária: a mecânica dos materiais. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 122 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 122 09/12/2020 17:39:52 Referências bibliográficas 08.2 MOHR’S circle for plane stress transformation. Postado por Introductory Engineering Mechanics. (12min. 57s.). Disponível em: . Acesso em: 01 dez. 2020. BEER, F. P.; JOHNSTON JR., E. R.; DEWOLF, J. T.; MAZUREK, D. F. Mecânica dos ma- teriais. 5. ed. Porto Alegre: Amgh, 2011, 799 p. GERE, J. M. Mecânica dos materiais. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003, 698 p. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 10. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2018, 768 p. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 123 SER_ENGCIV_RMA_UNID4.indd 123 09/12/2020 17:39:52 SER_ENGCIV_RMA_UNID1 SER_ENGCIV_RMA_UNID2 SER_ENGCIV_RMA_UNID3 SER_ENGCIV_RMA_UNID4e os esforços internos. Esta força, infi nitesimal, atua em uma área infi nitesimal (dA), ocasionando uma tensão de cisalhamento. Podemos, então, realizar uma mudança de variá- vel em nossa integral, obtendo: ∫ρ (τ dA) = T (2) Como as tensões de cisalhamento não ocorrem somente em um plano (Figura 4a), ao aplicarmos o momento torçor, visualizamos uma tendência ao desli- zamento, que ocorrem em planos longitu- dinais e transversais. No caso de barras circulares, as seções transversais planas permanecerão planas e indeformadas após a ação do momento torçor (Figura 4b). RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 15 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 15 09/12/2020 17:50:46 Considerando uma barra de seção circular e comprimento L (Figura 4c), podemos observar uma rotação da barra após a aplicação do momento tor- çor (Figura 4d), cujo ângulo é definido como ϕ. Este ângulo é deno- minado ângulo de torção e, para pequenos valores de rotação, pode ser considerado diretamente e linearmente proporcional ao momento torçor aplicado. A ro- tação das seções da barra ocorre em diferen- tes ângulos ao longo do eixo da barra, contu- do sem deformar sua seção, uma vez que as barras são axissimétricas. O máximo ângulo de rotação acontece na excentricidade da barra. Centro da barra B B A A Φ A’ A) C) D) L B) T’ T T τ Figura 4. Barra circular submetida à torção: (a) atuação da tensão cisalhante; (b) rotação das seções transversais; (c) elemento antes da aplicação do torçor; (d) ângulo de torção. Fonte: BEER et al., 2015, p. 155-156. (Adaptado). EXPLICANDO Uma geometria axissimétrica ocorre quando o elemento pode ser obtido por meio de uma seção transversal que contém um eixo de revolução, ou seja, ele se tornará simétrico em relação ao eixo em qualquer corte longitudinal que o contenha. Para estes elementos, podemos trabalhar geometricamente em coordenadas cilíndricas, o que geralmente simplifi- ca as formulações. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 16 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 16 09/12/2020 17:50:47 Eixo de revolução Eixo de revolução Ponto (r, z, θ) Secção transversal b)a) θ z z r r Figura 5. Elemento axissimétrico: (a) seção de revolução; (b) coordenadas cilíndricas. Fonte: RODRIGUES, 2009, p. 2. (Adaptado). Em uma barra circular, as deformações de cisalhamento variam linear- mente através da distância radial r, sendo nula a deformação no eixo da barra e máxima na superfície externa (GERE, 2003, p. 139). Para tensões de cisalhamento abaixo da tensão de escoamento do material da barra, o material encontra-se na fase elástica. Nesta fase, as tensões são proporcio- nais às deformações elásticas e o material retorna a sua configuração inicial cessada a aplicação das cargas. Neste regime, podemos utilizar o módulo de elasticidade transversal do material (G) para relacionar a tensão de ci- salhamento desenvolvida com as deformações angulares de cisalhamen- to (γ). A determinação da tensão de cisalhamento média desenvolvida na seção transversal pode ser feita pela expressão: τ = (3) Tρ J Sendo ρ a distância do ponto da seção transversal ao centro da seção (Figura 6a). A tensão de cisalhamento máxima irá se desenvolver na maior distância da seção transver- sal, com relação ao seu centro, que ocorre na borda do elemento (raio máximo). Para tubos circulares (se- ções circulares vazadas), as distribuições de tensão con- tinuam semelhantes às seções cheias, ressalvando a inexistência de ten- sões na parte onde não existe material e as tensões não nulas, já no início do trecho contínuo (Figura 6b). RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 17 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 17 09/12/2020 17:50:47 O τ ρr a) τmáx O τ ρr2r1 b) τmáx τmín Figura 6. Distribuição das tensões na seção transversal circular: (a) seção sólida; (b) seção tubular. Fonte: BEER et al., 2015, p. 160. (Adaptado). A tensão de cisalhamento é inversamente proporcional ao momento polar de inércia ( J), que pode ser entendido como uma resistência geométrica à rotação. Repare que esta grandeza é diferente da grandeza momento de inér- cia, que se relaciona a uma resistência à flexão. O momento polar de inércia para uma seção circular (cheia) de raio r pode ser determinado por: J = πr4 (4) 1 2 Para seções circulares vazadas, cujo raio externo é R e o interno é r, a ex- pressão do momento polar de inércia é: J = (5)π(R4 - r4) 512 O momento polar de inércia ( J) fornece uma indicação da resistência ao giro da seção transversal. Este é um momento de segunda ordem (integral de área) obtido em coordenadas polares, ou seja, na distância radial (ρ) de um ponto da seção a um ponto de referência (O): JO = ρ2dA (6)∫ A Geralmente escolhemos a origem como o centroide (momento estático de uma área). A depender da geometria da seção transversal de uma es- trutura, teremos diferentes expressões de determinação do seu momento polar de inércia. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 18 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 18 09/12/2020 17:50:47 Ângulo de torção em barras de seção circulares Além de determinar a distribuição de tensões (e, consequentemente, de de- formações) na seção transversal, podemos determinar o ângulo de torção ao qual o elemento foi submetido (Figura 4d). Defi nimos como razão de torção (θ) a relação entre o ângulo de torção e a distância da seção em relação ao vínculo estrutural (x), ao longo do eixo da barra. Esta relação nos permite obter o ângulo de torção por unidade de comprimento (em radianos): θ = = (7) dϕ dx T(x) G(x)J(x) Considerando o comprimento total da barra L, na situação geral, o ângulo de torção total da barra (ϕ) é defi nido como: ϕ = (8)dx T(x) G(x)J(x)∫ L 0 Usualmente, quando utilizamos um material homogêneo, de seção geomé- trica constante e solicitação constante (por trechos), os termos variáveis saem do integrando, de forma que podemos multiplicar a razão de torção para obter o ângulo de torção total da barra (ϕ), em radianos: θ = (9)TL GJ ASSISTA Você pode visualizar os parâmetros que foram apresenta- dos, por meio do vídeo (legendado) Understanding torsion, do canal The Effi cient Engineer. No vídeo, também é possível ver as premissas e propriedades de axissimetria de barras circulares. A convenção de sinais do ângulo de torção segue a regra da mão direita, anteriormente mencionada, em que rotações horárias possuem convenção ne- gativa, enquanto rotações anti-horárias possuem convenção positiva. O termo GJ é defi nido como rigidez de torção da barra. Observe que, quanto maior esta relação, menor será o ângulo de torção que o elemento apresenta- rá. Em determinadas aplicações, é interessante, também, determinar o torque RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 19 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 19 09/12/2020 17:50:48 necessário para produzir uma unidade de rotação do elemento. Neste cenário, definimos a relação (GJ)/L como a rigidez de torção linear da barra (kT), conside- rada uma constante para a análise estrutural nestas aplicações. Caso o eixo seja constituído por uma associação de barras, ou ainda, possua a presença de torques múltiplos, podemos aplicar as equações anteriores (mu- nindo-nos da convenção de sinais) em cada trecho de torque constante. Para situações em que o torque ou a seção varia, faz-se necessária a integração das respectivas funções de esforços e geometria. As determinações de tensão cisalhante e ângulo de torção consideram as premissas do princípio de Saint-Venant, em que desprezamos deformações localizadas que podem ocorrer em decorrência da aplicação dos momentos fletores. O princípio de Saint-Venant é amplamente utilizado em mecânica das estruturas, sobretudo por possibilitar uma simplificação de análise, ao de- sassociar efeitos locais de efeitos gerais. O princípio afirma que a tensão e a deformação produzidas em um corpo em pontos suficientemente distantes da região de apli- cação da carga externa serão as mesmas que as produzidaspor qualquer outro carregamento externo aplicado que tenha a mes- ma resultante estaticamente equivalente e que seja aplicado ao corpo dentro da mesma região (sic) (HIBBELER, 2019, p. 106). Observamos que as determinações de tensão, deformação e torção dependem de características geométricas da seção (como o momento polar de inércia), da mag- nitude dos esforços e das características constitutivas do material (módulos de elas- ticidade e níveis de tensões). Quando não se dispuser de resultados de ensaios e informações específicas acerca do módulo de elasticidade transversal, usualmente se utiliza a relação entre os módulos obtidas da teoria da elasticidade: G = (10)E 2(1 + υ) Em que E é o módulo de elasticidade linear e υ é o coeficiente de Poisson do material. Dessa forma, o dimensionamento usual dos elementos perpassa, inicialmente, a escolha dos materiais estruturas (sistema construtivo), a identificação das ações e o dimensionamento geométrico das seções, sendo esta última a principal variável de alteração nos projetos. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 20 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 20 09/12/2020 17:50:48 Exemplo 1 Determinar a máxima tensão cisalhante que ocorre em uma barra de seção circular de diâmetro 50 mm, submetida a um momento torçor de 2,6 kN.m. A barra possui comprimento de 1 m e módulo de elasticidade transversal de 80 GPa. Determine também o ângulo de torção atuante na barra. Resolução 1 Inicialmente, procede-se com a determinação do momento polar de inércia (equação (4)), adequando as unidades das variáveis (para metros, neste caso): 1 1 0,050( )2 2 2 4 J = πr4 π = 6,14 ∙ 10-7 m4= (11) Determinado o valor de J, podemos utilizar a equação (3) para obter a ten- são de cisalhamento máxima na seção, que ocorre quando a distância do ponto coincide com o raio da seção: Tr J τ = 105863 kPa = 105,9 MPa 2,6 ∙ 0,025 6,14 ∙ 10-7= (12) O ângulo de torção pode ser determinado por meio da equação (9): = 0,0529 rad = 3,03° 2,6 ∙ 1 (80 ∙ 106)(6,14 ∙ 10-7)ϕ = TL GJ = (13) Elementos estaticamente indeterminados submetidos a momento torçor Em muitas situações da engenharia, podemos observar a ocorrência de barras submetidas a momento torçor, mas vinculadas em suas extremidades. Quando a aplicação das equações de equilíbrio (translacional e rotacional) não são sufi cientes para a determinação dos esforços do elemento, estamos em uma situação de indeterminação estática: o número de incógnitas do problema é superior ao número de equações básicas de resolução. Nestes casos, deve- mos utilizar os conhecimentos adquiridos para a utilização de equações adi- cionais, de forma que este sistema matemático se torne passível de resolução. Equações que podem ser utilizadas nestes casos são de compatibilidade: relações físicas que delimitam ou especifi cam as condições do problema em questão. Caso o eixo possua extremidades (pontos A e B) simultaneamente engastadas, este vínculo estrutural restringirá os deslocamentos nestas extre- RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 21 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 21 09/12/2020 17:50:49 midades, onde podemos constatar que os ângulos de rotação serão nulos. Ma- tematicamente, escrevemos as seguintes equações de compatibilidade para o problema em questão: ϕA|B = 0 ϕA|B = ϕAC + ϕCB (14) TA TA TA A A) B) C) m n B C TB TB TB T T Figura 7. Barra de seção circular estaticamente indeterminada: (a) faces engastadas; (b) esquema de corpo livre; (c) análise de esforços internos. Fonte: HIBBELER, 2019, p. 191. (Adaptado). Como elucida Hibbeler (2019), o próximo passo para a resolução destas indeterminações é a utilização de uma relação entre carga-deslocamento, ou seja, uma equação que permita relacionar as indeterminações das equações de equilíbrio com as equações de compatibilidade, tal qual a equação (9). Exemplo 2 Considere a barra estaticamente indeterminada da Figura 7, com diâmetro de 50 mm. A barra possui comprimento de 3 m e 2 m, respectivamente aos trechos AC e CB. O momento torçor possui intensidade de 300 N.m e o mó- dulo de elasticidade transversal do material é 70 GPa. Determine as reações nas extremidades. Resolução 2 Inicialmente, construímos um diagrama de corpo livre semelhante ao da Figura 7b. Aplicando a equação de equilíbrio de momentos (com a convenção de sinais), obtemos: 300 - TA - TB = 0 N.m (15) RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 22 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 22 09/12/2020 17:50:49 Agora utilizaremos a equação (14) para relacionar o tor- que com o deslocamento. Observe que o ângulo de rotação total (nulo) é obtido pela soma das rotações nos trechos AC e CB. Quando analisamos o diagrama de corpo livre, também verifi camos que os esforços internos no ponto C giram em sentidos contrários (para que a resultante seja nula): 3 2TB=LAC TB LCB→ TA LAC - TB LCB = 0 → TA = GJ TB LCBϕA|B = ϕAC + ϕCB → 0 = GJ TA LAC - (16) Substituindo na equação anterior, podemos resolver o sistema: 300 - 3 2TB - TB = 0 → TB = 180 N.m (17) 300 - TA - 180 = 0 → TA = 120 N.m (18) Dimensionamento de barras de seção arbitrárias sujei- tas à torção Até o momento, analisamos o comportamento de barras circulares sub- metidas a esforços de torção, mas o que acontece quando temos uma se- ção não circular? Marquises, lajes submetidas em balanço, grelhas sujeitas a carregamentos verticais e algumas estruturas metálicas (como outdoors sujeitos a esforços oriundos do vento) são alguns dos muitos exemplos de ocorrência de momento torçor em seções usualmente não circulares (se- ções retangulares, seções metálicas I, T, C, U). Observamos que por sua axissimetria, as seções transversais circulares permaneciam planas mesmo após a aplicação da solicitação estrutural. Agora, vamos analisar o que acontece em barras de seção não circular. Observe a Figura 8a, em que uma barra prismática é submetida a um mo- mento torçor. Como a seção transversal não é simétrica em relação ao seu eixo (axissimétrica), a aplicação do torque fará com que aconteça uma alte- ração na geometria da seção do elemento estrutural causado pela torção, de forma que esta barra tenderá a abaular ou entortar (Figura 8b). Neste RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 23 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 23 09/12/2020 17:50:49 caso, as expressões anteriores não podem ser utilizadas para a determi- nação do comportamento mecânico do elemento estrutura. Então, como poderemos proceder? Não deformado T T Deformado Figura 8. Distribuição das tensões na seção transversal circular: (a) seção sólida; (b) seção tubular. Fonte: HIBBELER, 2019, p. 197. Como ilustram Beer et al. (2015), convido você a realizar este experi- mento: em uma borracha retangular, desenhe pequenos quadrados ao longo das faces, arestas e quinas do elemento. Agora, submeta esta bor- racha a uma torção e observe como as deformações nestes quadrados se darão. É possível verificar que os vértices das faces exteriores tendem a permanecer inalteradas, assim como as arestas longitudinais da borracha. Se não ocorreu deformação, podemos concluir que não ocorreram ten- sões nestes pontos. Diferentemente de quadrados desenhados ao longo do corpo da borracha, que apresentam distorção em seu comportamento, indicando que tensões cisalhantes originárias do momento torçor estão atuando nestes elementos. A análise da teoria da elasticidade para elementos de seção não circular é complexa e foge ao escopo da proposta dessa unidade. É possível utilizar alguns resultados conhecidos para identificarmos a máxima tensão cisalhante que ocor- re em algumas seções típicas (Quadro 1). RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 24 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 24 09/12/2020 17:50:51 Fonte: HIBBELER, 2019, p. 198. Repare que a máxima tensão cisalhante oriunda do torque ocorre em um elemento da borda da seção transversal, e não nos vértices da seção. No Quadro 1, tambémpodemos determinar o ângulo de torção para diferentes seções de barras não circulares. QUADRO 1. EXPRESSÕES PARA A DETERMINAÇÃO DA MÁXIMA TENSÃO CISALHANTE E ÂNGULO DE TORÇÃO PARA SEÇÕES PARTICULARES. Forma da seção tranversal τmáx Ø Quadrada a a Elipse Triângulo equilátero a a a 4,81 T a³ 7,10 TL a4G 20 T a³ 46 TL a4G 2 T πab2 (a² + b²)TL πa3b3G b b a a RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 25 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 25 09/12/2020 17:50:52 Estendendo os resultados obtidos, podemos constatar que a seção mais efi - ciente é a circular, pois a distribuição de tensões e os valores máximos de tensão cisalhante são os menores quando comparados a outras geometrias; além disso, também apresentam os menores ângulos de torção (HIBBELER, 2019). Apesar de não serem as seções mais efi cientes, as seções retangulares tam- bém são altamente empregadas na engenharia civil, por questões de modula- ção e construção, principalmente na construção de formas para a concretagem destes elementos (pilares e vigas, por exemplo). Timoshenko e Goodier (1970) analisaram seções retangulares uniformes submetidas ao momento torçor puro, obtendo os resultados que serão exi- bidos. Sendo L o comprimento de uma barra prismática de seção retangular, de lados a e b, respectivamente correspondentes à maior e menor dimensão do elemento, podemos determinar a máxima tensão cisalhante que ocorre na linha de centro da face maior da barra (dentro do regime elástico), por meio da equação (19). Utilizando a equação (20) também é possível determinar o ângulo de torção nestas barras: τmáx = c1 ab2 T (19) ϕ = c2 ab3 G TL (20) Repare que as equações (19) e (20) dependem das variáveis c1 e c2, que são coefi cientes de torção obtidos em função da forma dos elementos, con- forme Tabela 1: a ⁄ b c1 c2 1,0 0,208 0,1406 1,2 0,219 0,1661 1,5 0,231 0,1958 2,0 0,246 0,229 2,5 0,258 0,249 1,0 1,2 1,5 2,02,0 2,52,5 0,2080,208 0,2190,219 0,231 0,2460,246 0,2580,258 0,14060,14060,1406 0,16610,1661 0,19580,1958 0,2290,229 0,2490,249 TABELA 1. COEFICIENTES DE TORÇÃO PARA BARRAS RETANGULARES RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 26 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 26 09/12/2020 17:50:52 3,0 0,267 0,263 4,0 0,282 0,281 5,0 0,291 0,291 ≥ 5 3 1 - 0,630( )a b 3 1 - 0,630( )a b ∞ 0,333 0,333 3,0 4,04,0 5,05,0 ≥ 5 0,267 ∞ 0,267 0,2820,282 0,2910,291 (1 - 0,630(1 - 0,630 3 1 - 0,630 a )b 0,263 0,333 0,263 0,333 0,2810,281 0,2910,291 (1 - 0,6301 - 0,630 3 )a b ) 0,3330,333 Fonte: BEER et al., 2015, p. 207. (Adaptado). Exemplo 3 A seção transversal de uma viga retangular de concreto possui dimensões de 40 cm por 20 cm. Sabendo que o módulo de elasticidade transversal é 10 GPa, o torque aplicado é 100 kN.m e o comprimento é de 5 m, determine a máxima tensão cisalhante atuante na seção e o ângulo de torção ao qual ela está submetida. Caso a seção duplicasse sua altura, quais seriam os novos valores de tensão cisalhante e ângulo de torção atuantes na estrutura? Dica: 10 GPa = 1000 kN/cm². Resolução 3 Como a seção transversal é retangular, precisamos determinar os coefi cien- tes de torção (Tabela 1). Utilizando a razão da maior dimensão pela menor di- mensão da seção, obtemos: = b a 20 40 (21)= 2 Pela Tabela 1, obtemos os coefi cientes c1 = 0,246 e c2 = 0,229. A partir destes coefi cientes, a determinação da tensão máxima de cisalhamento pode ser rea- lizada pela equação 19, enquanto o ângulo de torção pela equação (20): =τmáx = c1 ab2 T cm² kN 0,246 ∙ 40 ∙ 202 100 ∙ 100 (22)= 25,4 MPa= 2,54 = ϕ = c2 ab3 G TL = 0,229 ∙ 40 ∙ 203 ∙ 1000 100 ∙ 100 ∙ 500 (23)= 0,068 rad = 3,91° Considerando uma viga com o dobro de altura, a razão entre as dimensões será de = b a 20 80 = 4. Para este valor, os coefi cientes de torção serão c1 = 0,282, c2 = 0,281. Desta forma, os novos esforços serão: RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 27 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 27 09/12/2020 17:50:53 τmáx = c1 ab2 T = 0,282 ∙ 80 ∙ 202 100 ∙ 100 (24)= 11,1 MPa cm² kN= 1,11 (25)ϕ = c2 ab3 G TL = 0,281 ∙ 80 ∙ 203 ∙ 1000 100 ∙ 100 ∙ 500 = 0,028 rad = 1,59° Tubos de paredes finas submetidos à torção Vamos abordar um caso particular de seções fechadas submetidas ao mo- mento torçor: tubos de paredes fi nas. Elementos compostos por tubos com paredes de pequena espessura costu- mam compor estruturas leves, uma vez que o tubo é vazado (não possui mate- rial internamente) e o material do ele- mento é executado de forma que a seção transversal seja fi na. Estes tubos cons- tituem elementos de fuselagem de avião e algumas estruturas metálicas, por exemplo, em que a efi ciência do elemento deve ser associada ao seu baixo peso. Do ponto de vista de análise estrutural, quando lidamos com tubos de pa- redes fi nas, podemos simplifi car a distribuição de tensões ao longo da seção transversal, de forma que a baixa espessura faz com que a tensão de cisalha- mento média seja mais representativa do que as distribuições de cisalhamento pontuais, uma vez que se confundem. Tomemos como exemplo um elemento de uma seção tubular delgada (pa- redes fi nas), sujeito ao momento torçor. Como o elemento está em equilíbrio, podemos afi rmar que a resultante das forças cisalhantes que atuam sobre ele é nula. As forças cisalhantes são obtidas pelo produto da tensão de cisalhamento pela área de atuação. Por sua vez, a área de atuação é um retângulo de altura correspondente à espessura em cada face, de comprimento (não nulo) corres- pondente ao trecho seccionado ∆x e área resultante deste produto (Figura 9a). Realizando o equilíbrio do elemento, podemos escrever: FA = FB (26) τA (tA ∆x) = τB (tB ∆x) (27) τA tA = τB tB (28) RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 28 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 28 09/12/2020 17:50:55 tA tA tA tB tB tB dx A) B) C) A B s Am h T dF ds t x O Figura 9. Determinação das tensões em seções delgadas fechadas: (a) elemento em equilíbrio; (b) momento torçor; (c) área média. Fonte: HIBBELER, 2019, p. 200. (Adaptado). RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 29 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 29 09/12/2020 17:50:55 Isso nos informa que o produto da tensão cisalhante média pela respectiva espessura da face é a mesma para quaisquer que sejam as faces escolhidas, uma vez que as faces A e B foram arbitrárias. Neste sentido, podemos afirmar que este produto é constante ao longo da seção transversal. Este resultado importante recebe a denominação de fluxo de cisalhamento. O termo fluxo é usado como analogia direta à vazão de água em canais retangulares de largura t e profundidade constante. Repare que, nesta analogia, a vazão q nos canais permanece a mesma, independente do ponto analisado. O que se alte- ra nessa interpretação hidráulica é a velocida- de, que depende da largura do ponto ana- lisado. Com estas premissas, podemos, então, estender as observações e afirmar que o fluxo de cisalhamento nestas seções delgadas é constante e resultado do produto da tensão cisalhante média pela espessura da seção transversal. q = τméd t (29) Repare que, pelo resultado anterior, a maior tensão de cisalhamento deve ocorrer na região de menor espessura da seção transversal, para que o valor do fluxo de cisalhamento se mantenha constante. Para deter- minarmos a relação entre o fluxo de cisalhamento e o torque aplicado na seção, podemos considerar um pequeno elemento da seção transversal, que possuirá espessura t e comprimento ds. A área deste elemento é nu- mericamente igual ao produto t ds, resultando em uma parcela infinitesi- mal de força igual a: dF = τméd dA = τméd (t ds) = q ds (30) (31)q = ds dF Neste sentido, interpretamos o fluxo de cisalhamento como a taxa de variação da força cisalhante por unidade de comprimento ao longo da se- ção transversal. Este diferencial de força causará um diferencial de mo- mento torçor dT em relaçãoa um ponto O (Figura 9b), cujo braço de ala- vanca (distância perpendicular) denominaremos p: RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 30 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 30 09/12/2020 17:50:55 dT = p dF = p (q ds) (32) (33)pq ds dT T = ∮ p q ds (34) Repare que, em nossa equação, a integração deve ser realizada em torno da seção transversal, configurando uma integral de linha. Como o fluxo de cisa- lhamento é constante na seção, podemos retirá-lo do integrando da equação, resultando em: T = q ∮ p ds = τméd t∮p ds (35) O integrando restante pode ser simplificado considerando a área do pe- queno triângulo formado pelo eixo do elemento infinitesimal apresentado na Figura 9b (onde a resultante dF é aplicada). Ao se percorrer toda a seção transversal, podemos determinar o momento torçor pela expressão: T = τméd t ∮ p ds = τméd t (2Améd) (36) (37)τméd = 2t Améd T Na expressão anterior, Améd é correspondente à área média obtida pela linha de centro da seção transversal (Figura 9c). Dessa forma, na determinação de tensões cisalhantes decorrentes de momento torçor aplicado a tubos delga- dos, devemos, inicialmente, determinar a geometria correspondente ao con- torno da linha central da espessura do tubo, para, posteriormente, determinar sua magnitude por meio da equação X. O ângulo de torção pode ser determina- do por meio de métodos de energia, cuja expressão será apresentada a título de curiosidade, constituindo-se equivalente a: (38)ϕ = 1 t ds∮4G (Améd) 2 TL Exemplo 4 Considere uma seção quadrada tubular, de aresta 100 mm, cuja espessura é 10 mm. A barra possui comprimento de 200 cm e está sujeita a uma tensão de cisalhamento máxima de 20 MPa. Determine o momento torçor atuante e o ângulo de torção desta barra, considerando G = 50 GPa. Resolução 4 Observe que a barra em questão pode ser compreendida como um ele- mento tubular delgado. Desta maneira, podemos utilizar a equação (37) para RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 31 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 31 09/12/2020 17:50:56 determinar o torque atuante. Para tanto, precisamos determinar, inicialmente, a área média obtida pela linha de centro da seção tubular. Como temos uma se- ção quadrada de lado 100 mm e a espessura é de 10 mm, a linha de centro dista 5 mm de cada borda da seção. A área média resultante tem formato quadrado, de lado 100 - (2 ∙ 5) = 90 mm (39), resultando em: Améd = 0,090 ∙ 0,090 = 0,0081 m² (40) (41)τméd = → T = 3,24 kN.m→ 20 ∙ 103 = T 2 ∙ 0,01 ∙ 0,00812t Améd T Para a determinação do ângulo de torção, devemos de- terminar a integral de linha em relação à linha de centro. Como nossa espessura é constante, podemos retirá-la do integrando, resultando em uma integral de linha entorno das arestas do quadrado: ∮ ds = t 1 (42)dx + dx + dx + dx∫ ∫ ∫ ∫( )90 90 90 90 0 0 0 0 ∙ 4 ∙ 90= 1 10 1 10 ∮ ds =t 1 (43)∮ ds = t 1 1 10 4 ∙ 90 = 36 (adimensional) ds = (44)ϕ = ∮4G (Améd) 2 TL 4 ∙ 50 ∙ 106 ∙ (0,0081)2 3,24 ∙ 21 t ∙ 36 = 0,0178 rad = 1,02° Dessa forma, aplicando a teoria de tubos delgados, concluímos que o torque atuante na seção é de 3,24 kN.m, correspondendo a um ângulo de torção de 1,02°. Analogia de membrana Até o momento, discutimos sobre análises de elementos circulares e não circulares de geometria parti- cular e tubulares delgados submetidos aos esforços torcionais. Mas no seu cotidiano, certamente você já deve ter se depara- do com seções estruturais abertas como em elementos de estruturas metálicas, tais quais ilustradas na Figura 10: RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 32 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 32 09/12/2020 17:50:56 Figura 10. Exemplos de diferentes seções transversais de perfis metálicos. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/9/2020. A geometria desta tipologia estrutural visa potencializar características geomé- tricas das seções transversais, visando menor consumo de material para a constru- ção destes perfis. É comum a ocorrência de diferentes perfis estruturais, como C, T, L e I, que são perfis abertos. O que pode acontecer com o comportamento de seções com essas características? O momento torçor, apesar de geralmente se constituir de solicitações secundá- rias nos elementos estruturais, pode se tornar em esforços predominantes, além de se combinar com outras solicitações (principalmente flexão), ocasionando falhas por mecanismos de rupturas especiais. Em seções finas de paredes abertas, pode- mos visualizar fenômenos de instabilidade por flambagem lateral por torção (FLT) e flambagem lateral da alma (FLA), decorrentes da associação a outras solicitações com o momento torçor. O torque submetido fará com que suas seções girem em torno do próprio eixo (Figura 11), provocando empenamento e instabilização: y θ x Figura 11. Perfis metálicos I submetidos à torção. Fonte: LIMA, [s. d.]. (Adaptado). RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 33 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 33 09/12/2020 17:51:16 A determinação do fluxo de cisalhamento para estes elementos se tor- na mais complexa, especialmente quando consideramos a seção transver- sal como resultado da associação de diferentes retângulos. No caso mais geral da torção, as seções não-circulares, abertas e fe- chadas, não se mantêm planas mediante aplicação do esforço torçor, por conta de a tensão cisalhante ser tangente aos pontos da seção transver- sal. A depender das condições de simetria e de equilíbrio do elemento, por vezes, podemos tirar algumas conclusões particulares, como apresen- tadas anteriormente. Contudo, quando consideramos os demais casos, a teorização do comportamento físico-mecânico se torna complexa, muitas vezes sendo realizadas analogias para seu entendimento. As analogias entre fenômenos físicos são correlações realizadas entre modelos numéricos que possuem a mesma forma, mesmo que possuam grandezas físicas diferentes. A analogia hidrodinâmica de fluxo, realizada no estudo de tubos delgados, é um exemplo desta correlação. Uma alternativa para abordar estes problemas, consiste na analogia de membrana, que estabelece correlações entre a distribuição de ten- sões cisalhantes de um elemento submetido à torção e o com- portamento de uma membrana elástica, de mesma forma da seção transversal, submetida à pressão constante (Fi- gura 12a). Por serem mais simples, as equações da membrana podem ser utilizadas para resolver o proble- ma da torção em uma seção de forma- to arbitrário aberta ou fechada. CURIOSIDADE A teoria da analogia de membrana foi proposta por Prandtl, em 1903. Segundo esta teoria, foi possível realizar uma analogia entre as equações diferenciais que regem os problemas de torção uniforme e uma membrana elástica linear que sofre pressão uniforme. Desta forma, é possível determinar o comportamento da peça submetida à torção a partir dos resultados de experimentos e observações com o comportamento da membrana, o qual é mais simples de ser analisado. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 34 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 34 09/12/2020 17:51:16 Forma da STA) B) C) B C A Membrana elástica Troca de sinal τA τC τB Curvas de nível Retangular Delgada fechada Delgada abertaCircular Cortes transversais Tensões tangenciais Contorno da ST Membrana sob pressão P Deformada cortes transversais Figura 12. Analogia de membrana (momento torçor): (a) ensaio com membrana elástica; (b) resultados comparativos entre a membrana e a distribuição de tensões cisalhantes; (c) comportamento da membrana para diferentes seções. Fonte: NETO; COSTA, 2016. (Adaptado). A equação diferencial da deformação elástica da membrana possui a mes- ma forma que a função de distribuição de tensões da seção transversal (Figu- ra 12b). Considerando p como a pressão uniforme aplicada à membrana, F as torças tangenciais que atuam sobre o contorno da membrana, G o módulo de elasticidade transversal do material da barra e θ a razão de torção (ângulo de torção dapeça por unidade de comprimento), podemos definir a rotação por unidade de comprimento em função da relação entre a pressão na membrana e as tensões superficiais nesta membrana por meio da equação (45): 2Gθ (45) F p RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 35 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 35 09/12/2020 17:51:17 Como retrata Timoshenko (1957, p. 272), satisfeitas as condições de correla- ção entre os modelos (Figura 12c), podemos validar três relações entre o com- portamento da membrana e a distribuição de tensões do elemento: • A tangente da curva de nível em qualquer ponto se relaciona diretamente à direção da tensão cisalhante correspondente ao mesmo ponto da seção trans- versal (Figura 12b); • A inclinação máxima em qualquer ponto da membrana corresponde à ten- são de cisalhamento do mesmo ponto na seção transversal (Figura 12b); • O momento torçor aplicado sobre a seção é numericamente igual ao dobro do volume compreendido entre a superfície deformada da membrana e o plano de seu contorno. A declividade (inclinação) da membrana, em cada ponto, associada à tensão de cisalhamento, devido à torção, pode ser obtida pela relação: (46)τ = ∂u ∂n Enquanto o volume da membrana associado ao torque (momento de tor- ção) é relacionado por meio de: T = 2Vmembrana (47) Por meio da analogia da membrana, seções abertas de paredes finas podem ser entendidas como associação de elementos retangulares (eventualmente alguns do- brados), que podem estar submetidos à concentração de tensões em seus cantos (Fi- gura 14). Com as devidas adequações, esta analogia também é amplamente utilizada para seções tubulares e celulares, muito comuns em fuselagem de veículos, aviões, se- ções de pontes e outros elementos estruturais mais complexos, submetidos à torção: a a ab b b Figura 13. Analogia de membrana aplicada em seções delgadas abertas. Fonte: BEER et al., 2015, p. 208. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 36 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 36 09/12/2020 17:51:18 Um caso especial da analogia de membrana acontece quando consideramos se- ções retangulares abertas de paredes finas, ou associações destes elementos. Para que um elemento retangular seja considerado delgado, sua largura deve ser muito superior à espessura, sendo usual o emprego de dez vezes de razão de diferença. Nestes casos, podemos simplificar as expressões com resultados conhecidos. Con- siderando o regime elástico linear, solicitação de torção pura e seção transversal constituída por associação de elementos retangulares delgados, a máxima tensão de cisalhamento atuante na seção é dada por: (48)τmáx = T Wt Conforme salienta Neto e Costa (2016), sendo Wt o módulo elástico resis- tente à torção do material. Este parâmetro pode ser determinado para o caso de associação de n elementos delgados retangulares como: (49)bi ti 2∑n i = 1 Wt = 1 3 Neste caso, o ângulo de torção pode ser obtido de forma semelhante, como a equação (9): (50)ϕ = TL GJT Contudo precisamos considerar um momento polar de inércia total da se- ção de n elementos retangulares de parede fina: (51)bi t∑n i = 1 JT = 1 3 i 3 Exemplo 5 Considere um perfil estrutural W 150 x 13,0, com 5 m de comprimento. Em uma lista de propriedades de perfis, você poderá consultar que se trata de um perfil estilo I, com duas mesas (placas horizontais), largura 100 mm e espessura 4,9 mm, e uma alma (chapa vertical) de espessura 4,3 mm com largura 138 mm. Considerando um momento torçor de 100 N.m e um módulo de elasticidade transversal de 77 GPa, de- termine a máxima tensão cisalhante atuante na seção transversal. Resolução 5 Repare que a seção transversal pode ser analisada por uma associação de retângulos delgados, sendo possível utilizar as equações (48) e (49) para a de- terminação das variáveis de interesse. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 37 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 37 09/12/2020 17:51:18 Considerando os elementos retangulares delgados, podemos determinar o módulo elástico resistente à torção através da contribuição individual de cada elemento (equação (49)): (52)Wt = 1 3 bi ti ∑n i = 1 2 = 1 3bi ti ∑3 i = 1 1 3 2 = (100 ∙ 4,92 ∙ 2 + 138 ∙ 4,32) 2451,21 mm³ Wt = 2451,21 mm3 = 2,45 ∙ 10-6 m3 (53) A máxima tensão cisalhante na seção transversal pode ser determinada pela equação (48), considerando o módulo elástico resistente à torção equivalente: (54)τmáx = = = 40,8 MPaT Wt 100 2,45 ∙ 10 -6 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 38 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 38 09/12/2020 17:51:19 Sintetizando Nesta unidade, você pôde conhecer os principais aspectos relacionados a ele- mentos de barra sujeitos à torção. Analisamos, inicialmente, barras de seção circu- lares, onde as propriedades de axissimetria conferiram uma particularidade nas deformações de sua seção transversal, possibilitando um equacionamento direto deste problema (para níveis de tensão em regime elástico). Para barras de seção não circular, observamos que o comportamento de em- penamento da seção dificulta a definição da distribuição de tensão cisalhante. Neste cenário, foram apresentadas formulações para casos particulares, sobretu- do, para seções retangulares. Uma tipologia específica de seções fechadas delgadas (paredes finas) possibi- litou a formulação simplificada da tensão cisalhante máxima, utilizando uma ana- logia de fluxo cisalhante. Tratando-se de analogias, vimos também que o emprego da analogia de membrana possibilita a simplificação da determinação dos parâ- metros mecânicos para diferentes seções transversais. Dessa forma, percebemos que o estudo da torção em análise estrutural é am- plo e não se esgota apenas nos tópicos anteriores, ficando um convite ao aprofun- damento destes conhecimentos nesta ciência de resistência dos materiais. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 39 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 39 09/12/2020 17:51:19 Referências bibliográficas BEER, F. P. et al. Mecânica dos materiais. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. GERE, J. M. Mecânica dos materiais. 1. ed. São Paulo: Thomson, 2003. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 10. ed. São Paulo: Pearson, 2019. LIMA, L. R. O. Torção. [s. d.]. 66 f. Notas de aula do programa de pós-gradua- ção em engenharia civil - Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro, [s. d]. Disponível em: . Acesso em: 5 ago. 2020. NETO, E. S. A.; COSTA, H. B. Tensões tangenciais na torção uniforme. 2016. 20 f. Notas de aula - Escola Politécnica da USP, Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, 2016. Disponível em: . Acesso em: 1 ago. 2020. RODRIGUES, C. Y. C. Análise de estruturas axissimétricas: aplicação a reser- vatórios circulares. 2009. [s. f.]. Dissertação de Mestrado (Engenharia Civil) – Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2009. TIMOSHENKO, S. P. Resistência dos materiais. Madrid: Espasa-Calpe, 1957. TIMOSHENKO, S. P.; GOODIER, J. N. Theory of elasticity. 3. ed. Nova York: Mc- Graw-Hill, 1970. UNDERSTANDING torsion. Postado por The Efficient Engineer. (10min. 14s.). son. color. leg. Disponível em: . Acesso em: 24 set. 2020. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 40 SER_ENGCIV_RMA_UNID1.indd 40 09/12/2020 17:51:19 DEFLEXÃO EM VIGAS 2 UNIDADE SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 41 09/12/2020 17:38:01 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender o comportamento mecânico de vigas estruturais submetidas a esforços de flexão; Identificar os deslocamentos, a rotação e a equação da linha elástica para diferentes carregamentos e vinculações; Solucionar problemas de indeterminações decorrentes de redundâncias de vinculações, utilizando informações de deslocamentos e rotaçõesda viga. Deflexão em vigas: linha elástica Equações diferenciais da curva de deflexão Método da integração da linha elástica Vigas estaticamente indeterminadas Método da integração Método da superposição de efeitos RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 42 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 42 09/12/2020 17:38:01 Deflexão de vigas: linha elástica Nesta unidade nos aprofundaremos em defl exões de vigas. Como sabe- mos, vigas são elementos estruturais muito presentes em estruturas (Figura 1). Em geral, esses elementos apresentam uma dimensão preponderante às demais, sendo muitas vezes simplifi cados por elementos lineares no projeto de análises estruturais. Quanto ao carregamento, é predominante o esforço de fl exão oriundo principalmente dos carregamentos perpendiculares ao eixo do elemento. É justamente nesse cenário que daremos início aos nossos estudos. EXEMPLIFICANDO Vigas são elementos estruturais lineares (em que uma dimensão é pre- ponderante às demais), sujeitas a carregamentos perpendiculares ao seu eixo, característicos de esforços de fl exão. De acordo com o seu sistema de vinculação, podemos ter diferentes classifi cações de vigas, como as apoiadas, biapoiadas, engastadas, etc. Figura 1. Vigas de uma estrutura de ponte. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/09/2020. A resistência dos materiais estuda a relação entre as tensões e deforma- ções atuantes nos elementos, sobretudo para fi ns estruturais. Dessa forma, o projeto de vigas deverá prever uma confi guração de materiais, vinculações e geometria que possa resistir às ações impostas aos elementos durante a vida útil do sistema estrutural. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 43 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 43 09/12/2020 17:38:23 Contudo, além dos limites de ruptura (limite de colapso) e escoamento (limi- te último de projeto), a estrutura também deve ser compatível com o desem- penho esperado durante as conduções de uso (limites de serviço), sobretudo quando às deformações são iniciadas. A natureza dos corpos flexíveis é de se deformarem a partir das tensões por eles sofridas. Um dos parâmetros que governam a magnitude dessa de- formação é o módulo de elasticidade do material (E), que configura uma ca- racterística intrínseca ao tipo de material empregado ao elemento estrutural. Usualmente, o valor desse módulo corresponde à inclinação (taxa de variação) do trecho linear de uma curva tensão-deformação (Figura 2), geralmente re- sultado de um ensaio de tração/compressão feito nos elementos estruturais. Figura 2. Exemplo de curvas tensão-deformação. Fonte: BEER et al., 2011, p. 76. Além das condições dos materiais, a geometria do elemento frente ao tipo de carregamento também influencia na magnitude dos deslocamentos, que podem resultar nas deformações atuantes. Imagine uma viga de concreto (ma- ciça), como retratada na Figura 3. Caso um mesmo carregamento seja aplicado em uma viga de seção transversal 20 x 40 cm e 20 x 80 cm (de mesmo compri- mento), qual viga você espera que se deforme/desloque mais? Liga de aço temperada recosida (A709) Aço de baixa liga de alta resistência (A992) Aço carbono (A36) Ferro puro σ Э RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 44 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 44 09/12/2020 17:38:23 Figura 3. Vigas de concreto são presentes em muitas estruturas usuais. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 15/09/2020. Intuitivamente, você deve ter imaginado a viga que se deformaria mais rápi- do seria a de 20 x 40 cm, e, se o fez, está correto(a), pois a primeira viga possui um menor momento de inércia comparada à segunda. O momento de inércia é uma característica geométrica da seção transversal de um elemento estru- tural, relacionada à “dificuldade” de se alterar a movimentação/deformação/ deslocamento de um corpo, neste caso, o deslocamento oriundo da flexão. O estudo das deformações em estruturas é essencial, uma vez que as aná- lises e os projetos estruturais demandam conhecimento das magnitudes de tensões e deformações para que possamos atender a níveis normativos acei- táveis na construção dessas estruturas. Por exemplo, em projetos de máqui- nas e equipamentos mecânicos, grandes deflexões podem causar vibrações ou danificar o funcionamento desses objetos. Já em construções, como pontes e edificações, as condições de servicibilidade podem inviabilizar ou causar des- conforto aos usuários. EXPLICANDO O estado limite de serviço (em inglês, serviceability limit state criterion) são condições limites que uma estrutura deve atender, permanecendo funcional e garantindo seu desempenho em condições de solicitações usuais (rotineiras), livre de desconfortos, problemas estruturais, interfe- rências em outros subsistemas e problemas de utilização aos usuários. Dessa forma, desvendaremos os conceitos, os procedimentos de cálculo e o comportamento da deflexão dos elementos de vigas. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 45 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 45 09/12/2020 17:38:40 Equações diferenciais da curva de deflexão Iniciaremos nossa discussão de- fi nindo o conceito de defl exão, que usualmente é simbolizada pela letra ν ou y, e representa o deslocamento vertical (direção y) de um ponto do eixo da viga decorrente dos esforços internos ao qual ela está sujeita. Considere, então, uma viga engas- tada em balanço, sujeita a um carre- gamento pontual vertical em sua ex- tremidade livre, conforme ilustrado na Figura 4. É intuitivo e razoável supor que cada ponto da viga apresentará valores diferentes de deslocamento vertical. Além disso, repare que além do ponto transladar, a viga também apresenta uma rotação (deslocamento angular). Vamos compreender como isso ocorre. Está centrada, no eixo da viga, uma reta ima- ginária (ilustrando um plano), que denomina- mos superfície neutra. A superfície neutra se refere à posição inicial do eixo da se- ção transversal e longitudinal antes da aplicação de carregamentos (Figura 5). Nesta unidade, analisaremos apenas a po- sição dessa superfície no sentido longitudinal. Consideremos que essa linha longitudinal representa o comportamento médio da seção, de forma que a deformação dessa linha represente a deformação do elemento estrutural. Por esse motivo, chamamos essa linha de linha elásti- ca, ou seja, o lugar geométrico que descreve a posição dos pontos das seções transversais ao longo do elemento estrutural. Assim, através da linha elástica poderemos determinar o deslocamento vertical e a rotação da viga. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 46 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 46 09/12/2020 17:38:43 Figura 4. Deflexão e curvatura em vigas em balanço. Fonte: BEER et al., 2011, p. 550. Figura 5. Deflexão da viga. Fonte: BEER e colaboradores, 2011, p. 234. A B P A B X L P X A ρA = ∞ ρB B B y O y c z Linha neutra Seção transversal A C θ y ρ ρ – y y A J D A’ B E B’ K O x Seção vertical, longitudinal (plano de simetria) RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 47 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 47 09/12/2020 17:38:43 A deformação da viga pode ser medida pela curvatura da linha elástica. Ini- cialmente, a linha que era reta sofrerá uma deformação e tenderá a apresentar uma geometria circular, tornando-se um arco de circunferência. A curvatura é uma medida geométrica que pode ser medida pelo inverso do raio de curvatura, sim- bolizado pela letra grega ρ. No regime elástico linear, as deformações são dire- tamente proporcionais às tensões aplicadas, de modo que, utilizando o módulo elasticidade do material (E) e o momento de inércia da seção (I), podemos relacio- nar a curvatura com os esforços internos (momento fletor) e as propriedades do material. O produto EI representa a rigidez à flexão do material, uma vez que está relacionado à tendência à restrição de fletir do elemento estrutural. ASSISTA Imagine que você está dirigindo um carro ao longo do contorno da curva em questão. O raio de uma circunfe-rência resultante que o veículo traçaria, caso o volante fosse travado, é definido (informalmente) por raio de cur- vatura; a curvatura, por sua vez, é o inverso desse raio. 1 ρ M(x) EI = (1) Por outro lado, a curvatura, por ser uma propriedade geométrica de uma curva, pode ser também descrita algebricamente. Para isso, utilizaremos o cál- culo diferencial e integral através da relação: (2)1 ρ = d2y dx2 1 + dy dx 3 2 2 (3)1 ρ = d2y dx2 Essa expressão fornece com precisão o valor da curvatura de uma curva. Agora podemos simplificá-la, uma vez que, nas aplicações de engenharia, as deformações tendem a ser controladas em pequena magnitude, de forma que a derivada da deformação vertical em relação à posição dy dx apresente um mó- dulo muito pequeno. Além disso, esse valor ao quadrado é desprezível frente à unidade, o que torna a equação algébrica da curvatura simplificada: RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 48 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 48 09/12/2020 17:38:43 Dessa forma, relacionando a expressão da curvatura referente aos esforços internos com a expressão algébrica diferencial, obtemos a equação diferencial da linha elástica (y): (4) M(x) EI = d2y dx2 A resolução dessa equação diferencial de segunda ordem retorna à função y(x) referente à configuração dos deslocamentos verticais da linha neutra após a aplicação do carregamento, ou seja, a equação da linha elástica. Em muitas aplicações, o produto EI é constante, uma vez que os parâmetros o são. Assim, quando esses parâmetros variarem ao longo do eixo , deve-se proceder com a integração da expressão como um todo. A primeira integração dessa equação diferencial resulta na rotação (giro) da linha elástica em cada ponto ao longo da estrutura, uma vez que representa a inclinação ou a taxa de variação do deslocamento vertical: Deflexão = y(x) (6) (5) dy dx = θ(x) Da mesma forma, caso prosseguíssemos com as derivações em relação à x na equação diferencial de segunda ordem da linha elástica, você recordaria que a primeira derivada do mo- mento fletor é o esforço cortante, enquanto a segunda derivada é o carregamento. Dessa forma, considerando a rigidez à flexão constante no elemento, poderemos sintetizar as equações diferenciais da linha elástica, por meio das seguintes expressões: (7) dy dx = θ(x) (8) M(x) EI = d2y dx2 (9) V(x) EI = d3y dx3 (10) q(x) EI = - d4y dx4 Para a análise das deflexões, também é necessário estipular algumas con- venções de sinais, exibidas na Figura 6. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 49 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 49 09/12/2020 17:38:43 Convenção de sinal positiva +V +M +M +w +V Linha elástica v ds dv +v +x dx x dθ +θ Linha elástica v ds dv +v +xdx x dθ +θ Figura 6. Convenções de sinais. Fonte: HIBBELER, 2018, p. 507. A B C RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 50 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 50 09/12/2020 17:38:43 Método da integração da linha elástica A partir do desenvolvimento das equações 6 a 10, a obtenção da linha elástica pode ser resolvida por su- cessivas integrações dessas relações. Recordando os conceitos de cálculo, você deve se lembrar que, sempre que prosseguimos com uma integração, é necessário adicionar uma constante de integração, uma vez que existe uma família de funções cuja derivada resul- ta no integrando do nosso problema. Mas, se existe uma família de equa- ções, como identifi car a resolução para nossa estrutura? Como calcular o valor dessa(s) constante(s)? É justamente nesse aspecto que utilizaremos nossos conhecimentos físi- cos acerca de nosso problema mecânico, utilizando suas particularidades, ou melhor, suas condições de contorno. No caso da defl exão de vigas, as condi- ções de contorno relacionam-se aos pontos particulares, dos quais sabemos determinados valores/propriedades de funções. É comum prosseguirmos com a equação 8, que necessita apenas de duas integrações sucessivas para deter- minar a linha elástica, cuja condição de contorno é defi nida a partir do tipo de vinculação da estrutura. Por exemplo, recordando nossa viga engastada, podemos expressar que, no ponto de engastamento, seu deslocamento vertical é nulo, da mesma forma que sua rotação é nula. Assim, as condições de contorno para o caso isostático de vigas, resumem-se aos seguintes cenários: • Viga engastada: restrição de deslocamento vertical e rotação no engaste; • Viga (bi)apoiada: restrição de deslocamento vertical nos apoios. Agora, aplicaremos esses conceitos na obtenção da linha elástica de uma viga engastada, sujeita a um carregamento pontual em sua extremidade, como representada na Figura 7. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 51 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 51 09/12/2020 17:38:45 Considerando as equações de equilíbrio que governam esta estrutura, temos que: ΣFx = 0→HA = 0 (11) ΣFy = 0→VA = P (12) ΣMA = 0→M = PL (13) M(x) = Px – PL (14) Realizando um corte nessa estrutura e analisando os esforços internos pelo método das equações, verificamos que a equação do esforço momento fletor é equivalente a: Dessa forma, uma vez obtida a expressão do momento fletor, podemos de- terminar a equação da linha elástica aplicando o método da integração: (15) M(x) EI = d2y dx2 Considerando EI constante, podemos prosseguir com as sucessivas integra- ções, obtendo: dy dx = θ(x) = 1 EI 1 EI Px2 2 Px – PL EI ∫ ∫dx = Px – PLdx = – Plx + c1 (16) 1 EI 1 EI y(x) = dx = ∫ Px2 2 – Plx + c1 Px3 6 Plx2 2 – + c1x + c2 (17) Sendo c1 e c2 constantes de integração, sua definição é possibilitada através da aplicação das condições de contorno da estrutura em questão. Tratando-se de engaste, podemos equacionar: Figura 7. Viga engastada com carregamento pontual. A B P L RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 52 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 52 09/12/2020 17:38:46 Realizemos outro exemplo: consideremos agora uma viga biapoiada sub- metida a um momento uniforme em seu comprimento (Figura 8). Assim, va- mos determinar a equação da linha elástica para esta estrutura. A L B M Figura 8. Viga biapoiada sujeita a um momento fletor. Considerando as equações de equilíbrio, temos que: (22)HA = 0; VA = – VB =; M L M L Desta forma, a equação da linha elástica para essa estrutura, será: Px3 6 PLx2 2 P 6EI y(x) = = X3 – 3Lx2– 1 EI (20) Repare que o deslocamento máximo dessa viga ocorrerá na extremidade livre, correspondente a uma distância x = L do engaste. Caso a carga aplicada fosse de 10 kN, o comprimento da viga de 6 metros e a rigidez EI fosse de 30000 kN.m², pode- ríamos determinar o valor específico da deflexão máxima, sendo igual a: 10 6 · 30000 y(x) = = 0,024 m63 – 3 · 6 · 62 (21) θ(x = 0) = 0 → = 0 → c1 = 0 1 EI PL · 0 + c1– P · 02 2 (18) y(x = 0) = 0 → = 0 → c2 = 0 1 EI + 0 · 0 + c2– P · 03 6 P · 02 2 (19) RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA 53 SER_ENGCIV_RMA_UNID2.indd 53 09/12/2020 17:38:46 Podemos estimar o deslocamento vertical no meio da viga substituindo os valores das ações e propriedades da estrutura. Por exemplo, sendo a rigidez à flexão 30000 kN.m², o momento aplicado no valor de 100 kN.m e o comprimento da viga de 6 m, a deflexão no centro da viga será: Mx3 6L ML 6 – + x = –∴ y(x) = 1 EI M 6EIL x3 + L2x (28) É conveniente deixarmos em evi- dência a constante 1/EI, uma vez que este parâmetro é fixo para materiais homogêneos e isotrópicos. Além dis- so, existem soluções fechadas e tabe- ladas para diferentes configurações de carregamento, que podem ser utiliza- das diretamente (observando sempre a convenção de sinais), tal qual apre- sentada na Tabela 1. 100 6 · 30000 · 6 y(x) = – [33 + 62 · 3] = 0,0125m (29) Aplicando o método da integração e realizando duas integrações sucessi- vas, obtemos: dy dx = θ(x) = Mx2 2L – + c1 1 EI (24) y(x) = Mx3 6L – + c1x + c2 1 EI (25) M · 03 6L – + c1 · 0