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ser educacional gente criando o futuro Presidente do Conse lho de Administ ração Janguiê Diniz Direto r-presidente Jânyo Diniz Diretoria Executiva de Ensino Adria no Azevedo Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz Diretoria d e Ensino a Distância Enzo Moreira Autoria Leonardo Vin icius Paixão Dac io lo Projeto Gráfico e Capa DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qual idade, Edição de Texto, Design lnstruc iona l, Edi ção de Arte. Diagramação. Design Gráfico e Rev isão. © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254. Santo Amaro Recife-PE -CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autor ia, sa lvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsab ilidade da auto r ia a em issão de conceitos. Nenhuma parte desta p ubli cação poderá ser reprod uzida por qua lquer meio ou forma sem autor ização. A v io lação dos d ireitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.0 9.610/98 e punido pelo art igo 184 do Código Pena l. Imagens de ícones/capa: © Sh utterst ock SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 2 09/12/2020 17,50 06 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 3 1 ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. 1 CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. 1 CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. 1 CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. 1 DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. 1 EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. 1 EXPLICANDO Expllcaçao, eluc1daçao sobre uma palavra ou expressao específica da área de conhecimento trabalhada. 09/12/2020 17,50 06 Unidade 1 - Barras sujeitas à torção pura Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Análise do comportamento de barras de seção circular sujeitas à torção pura ........... 13 Ângulo de torção em barras de seção circulares ......................... ............................ 19 Elementos estaticamente indeterminados submetidos a momento torçor ...... ..... 21 Dimensionamento de barras de seção arbitrárias sujeitas à torção ......................... 23 Tubos de paredes finas submetidos à torção ................................................ ............. 28 Analogia de membrana ...................................................................... .. .......................... 32 Sintetizando ........................................................................................................................... 39 Referências bibliográficas ................................................................................................. 40 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ l.indd 4 09/12/2020 17,50 06 Unidade 2 - Deflexão em vigas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 42 Deflexão de vigas: linha elástica ...................................................................................... 43 Equações diferenciais da curva de deflexão ......... ........................ ... ......................... 46 Método da integração da linha elástica .................. .................................................... 51 Vigas estaticamente indeterminadas ............................................................................... 57 Método da integração ....................... .......................................... ............ ... .. .. ....... .. ...... 60 Método da superposição de efeitos ........... ............. ..... ......................... ...................... 64 Sintetizando ........................................................................................................................... 68 Referências bibliográficas ................................................................................................. 69 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ l.indd 5 09/12/2020 17,50 06 Unidade 3 - Flexão e flambagem Objetivos da unidade ........................................................................................................... 71 Flexão oblíqua e composta ................................................................................................ 72 Flexão nas estruturas ................... .............. .... ............ .................. .......... .. .. ........... ......... 72 Flexão oblíqua ................................ ...... ............ ............ ..... ......................... ..... .. ............... 76 Flexão normal composta .............. .. .. .. ........................ .............. .... .. .... .. .. ......... ......... ...... 79 Flambagem e dimensionamento de peças comprimidas ............................................. 81 Fórmula de Euler .................................................... ............ .... .. ............ .......... .. .. .. ............ 86 Sintetizando ........................................................................................................................... 92 Referências bibliográficas ................................................................................................. 93 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ l.indd 6 09/12/2020 17,50 06 Unidade 4 - Transformação da tensão e deformação Objetivos da unidade ........................................................................................................... 95 Análise dos estados planos de tensão e deformação ................................................... 96 Círculo de Mohr ............................................................................. .......... ... .. .. ............... 103 Estado plano de deformações ...................... .. ........... .. ............................ .. .. .. .. .. .......... 106 Dimensionamento de peças sujeitas a carregamento alternado ............................. 109 Análise de elementos sujeitos a carregamentos combinados .... .......... ...... .. ........ 111 Aplicação dos teoremas de energia de deformação .............................. .................... 114 Métodos de energia para diferentes esforços internos ............ .. .. .. ....... .. .. ............ 117 Sintetizando ......................................................................................................................... 122 Referências bibliográficas ............................................................................................... 123 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ l.indd 7 09/12/2020 17,5007 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 8 09/12/2020 17,5007 A compreensão do comportamento mecânico das estruturas é uma eta- pa fundamental no desenvolvimento técnico e profissional do engenheiro. Ao projetarmos as estruturas, estamos dando forma e concretizando os sonhos e necessidades de alguém. Por isso, precisamos projetar de forma responsável e sustentável, usando o conhecimento das técnicas e comportamentos físicos envolvidos nos proble- mas que nos forem apresentados durante o projeto. Este material foi desenvolvido para possibilitar seu contato com os princi- pais tópicos de mecânica dos sólidos, a fim de, também, instigá-lo a se aprofun- dar nessa ciência, fundamental para a concretização das estruturas. Durante seus estudos, você será apresentado a diferentes comportamen- tos dos elementos das estruturas, decorrentes das distintas formas de solicita- ção estrutural, vinculações, mecanismos de instabilização e falha. Também iráconhecer as principais hipóteses simplificadoras, teoremas e equacionamen- tos associados à análise estrutural. Com os conhecimentos adquiridos, será possível identif icar as solicitações e esforços empregados nos elementos, o que se constitui como uma primeira etapa de dimensionamento para qualquer sistema estrutural. Adiante, a partir do estudo em disciplinas específicas de dimensionamento de sistemas estrutu- rais, será possível correlacionar as solicitações com as propriedades resisten- tes dos elementos de seu sistema. Bons estudos! RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 9 09/12/2020 17,5007 O professor Leonardo Vinícius Pai- xão Daciolo é mestre em engenharia civil, na área de concentração de es- truturas e geotecnia, pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar (2020), é engenheiro civil com ênfase em siste- mas construtivos, também pela UFSCar (2017) e técnico em edificações pelo Centro Paula Souza - CEETEPS (2012). É professor de engenharia civil no ensi- no superior e realiza atividades de pes- quisa, ensino e extensão. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6917885391614752 Dedico este trabalho à minha família, aos amigos e aos professores que me acompanharam e possibilitaram esta concretização. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA • SER_ENGCIV _RMA_UN!Dl.indd 10 09/12/2020 17:50:07 SER_ENGCIV _RMA_UN!Dl.indd 11 UNIDADE ~ ~ ser educacional 09/12/2020 17,50,26 1 Objetivos da unidade • Compreender o comportamento mecânico de elementos estruturais sujeitos a esforços torcionais; e Identificar deslocamentos, rotações, empenamentos de seções decorrentes de momento torçor; • Quantificaras tensões cisalhantes máximas e ângulos de torção desses elementos. Tópicos de estudo Análise do comportamento de barras de seção circular sujeitas à torção pura Ângulo de torção em barras de seção circulares Elementos estaticamente inde- terminados submetidos a mo- mento torçor • Dimensionamento de barras de seção arbitrárias sujeitas à torção Tubos de paredes finas subme- tidos à torção Analogia de membrana RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 12 09/12/2020 17,50 26 O .. Análise do comportamento de barras de seção circular sujeitas à torção pura Nesta unidade, vamos compreender melhor um novo tipo de solicita- ção estrutural: o momento torçor, também denominado torque. O torque está presente em diferentes aplicações cotidianas, seja no manuseio de uma chave de fenda, no funcionamento de um eixo de transmissão, em esforços em elementos configurados em grelha, no mastro de embarca- ções e em muitos outros casos em que forças de torção surgem tentando rotacionar os elementos. Na Figura 1 temos um exemplo ilustrativo do comportamento de bar- ras circulares submetidas à torção. Na Figura 1a, podemos observar uma mulher exercitando os músculos com uma barra de torção flexível (equipa- mento fisioterapêutico). Inicialmente, este elemento cilíndrico está em re- pouso e, após a incidência de torção (Figura 1b), podemos visualizar uma rotação nas arestas de seu entorno: Figura 1. Barra elástica circular submetida à torção. Fonte: Shutterstock. Acesso em 24/9/2020. (Adaptado). Alguns questionamentos surgem após esta observação: como quantificar este esforço torçor? Qual a rotação que a barra irá sofrer? Ela irá se romper? Como sua seção ficará deformada? Como este comportamento é considerado nas estruturas? Vamos estudar todos estes aspectos, iniciando pela base: de onde vem este momento torçor. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. SER_ENGCIV_RMA_UN!Dl.indd 13 09/12/2020 17,50,46 Uma força irá originar um momento torçor quando tender a deformar a seção transversal no próprio plano da seção, ou seja, perpendicularmente ao seu eixo. Em uma definição mais formal, podemos dizer que um momen- to torçor é originário da soma de todos os momentos que atuam no plano YZ (perpendicular ao eixo do elemento), de forma que sua resultante ten- de a rotacionar a seção transversal em torno do seu eixo, conforme pode ser visualizado na Figura 2a. As tensões que ocorrem na seção transversal, decorrentes dos esforços de torção, são tensões cisalhantes, cuja atuação pode ocasionar tensões de tração e compressão ao longo do elemento, po- dendo levá-lo a ruptura (Figura 2b): a) z b) T "\. 45° Trinca Oo'--() Figura 2. Esforças de tarçãa: (a) atuação da mamenta tarçar; (b) ruptura par tarçãa. Fonte: GERE, 2003, p. 143-159; FEC. Acessa em: 2/8/2020. (Adaptada). Para prosseguir com as análises deste tipo de esforço, precisamos padronizar nossas convenções de sinais. Um corpo cuja seção tende a rotacionar no sent ido horário apresenta um torque negativo, enquanto um corpo cuja seção tende a rota- cionar no sentido anti-horário, apresenta torque positivo. Podemos aplicar uma regra prática para a identificação desta convenção: a regra da mão direta. Esta regra é aplicada esticando o polegar na direção do eixo da seção e orientando os demais dedos na direção de rotação causada pela aplicação das for- ças do sistema. Quando este alinhamento dos dedos resultar em um polegar saindo da seção, teremos a situação de momento torçor positivo, enquanto uma resultante na qual o polegar tenda a entrar na seção indicará um momento negativo. Pratique esta regra com a Figura 2a e perceba que otoqueserá negativo para a estrutura em questão, enquanto na Figura 2bteremos uma situação de torque positivo. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 14 09/12/2020 17,50 46 Agora, vamos analisar o comportamento de barras circulares sujeitas a este esforço por apresentarem algumas propriedades geométricas especiais, mot ivo pelo qual são amplamente utilizadas. Para desenvolver a formulação de torção em barras circulares, tomemos, inicialmente, uma barra de comprimento L, ilus- trada na Figura 3: T' Figura 3. Barra de seçâo circular submetida à torçâo. Fonte: BEER et ai., 2015, p. 152. Quando aplicamos um momento torçor de intensidade T nesta barra, su rgi- rá um esforço interno para equilibrá-lo T'. Internamente, tomando-se um ele- mento na seção transversal, podemos identificar a força atuante neste ponto (dF), que atua a uma distância p do centro da seção transversal, de forma que: Jp dF= T (1) Expressa o equilíbrio entre o momento torçor aplicado e os esforços internos. Esta força, infinitesimal, atua em uma área infinitesimal (dA), ocasionando uma tensão de cisalhamento. Podemos, então, realizar uma mudança de variá- vel em nossa integral, obtendo: Jp (r dA) = T (2) Como as tensões de cisalhamento não ocorrem somente em um plano (Figura 4a), ao aplicarmos o momento torçor, visualizamos uma tendência ao desli- zamento, que ocorrem em planos longitu- dinais e transversais. No caso de barras circulares, as seções transversais planas permanecerão planas e indeformadas após a ação do momento torçor (Figura 4b). RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 15 09/12/2020 17,50 46 Considerando uma barra de seção circular e comprimento L (Figura 4c), podemos observar uma rotação da barra após a aplicação do momento tor- çor (Figura 4d), cujo ângulo é definido como cf:,. Este ângulo é deno- minado ângulo de torção e, para pequenos valores de rotação, pode ser considerado diretamente e linearmente proporcional ao momento torçor aplicado. Aro- tação das seções da barra ocorre em diferen- tes ângulos ao longo do eixo da barra, contu- do sem deformar sua seção, uma vez que as barras são axissimétricas. O máximo ângulo de rotação acontece na excentricidade da barra. A) ~ 1 . . . . . .. . . . . . . . . .. 1 ", ···7-· · -!.. ~: ··-=---. Centro da barra •• •• •• • •••••• T Figura 4. Barra circular submetida à torção: (a) atuação da tensão cisalhante; (b) rotação das seções transversais; (e) elemento antes daaplicação da tarçar; (d) ângulo de tarçâa. Fonte: BEER et ai., 2015, p. 155-156. (Adaptado). SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 16 EXPLICANDO Uma geometria axissimétrica ocorre quando o elemento pode ser obtido por meio de uma seção transversal que contém um eixo de revolução, ou seja, ele se tornará sim étrico em relação ao eixo em qualquer corte longitudinal que o contenha. Para estes elementos, podemos trabalhar geometricamente em coordenadas cilíndricas, o que geralmente simplifi- ca as formulações. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 09/12/2020 17,50 47 b) Secção transversal z • 1 1 1 1 Eixo de revolução : ~ 1 Ponto (r, z, 9) l Figura S. Elemento axissimétrica: (a) seção de revolução; (b) coordenadas cilmdricas. Fonte: RODRIGUES, 2009, p. 2. (Adaptada). Em uma barra circular, as deformações de cisalhamento variam linear- mente através da distância radial r, sendo nula a deformação no eixo da barra e máxima na superfície externa (GERE, 2003, p. 139). Para tensões de cisalhamento abaixo da tensão de escoamento do material da barra, o material encontra-se na fase elástica. Nesta fase, as tensões são proporcio- nais às deformações elásticas e o material retorna a sua configuração inicial cessada a aplicação das cargas. Neste regime, podemos utilizar o módulo de elasticidade transversal do material (G) para relacionar a tensão de ci- salhamento desenvolvida com as deformações angulares de cisalhamen- to (y). A determinação da tensão de cisalhamento média desenvolvida na seção transversal pode ser feita pela expressão: r = !E... (3) j Sendo p a distância do ponto da seção transversal ao centro da . seção (Figura 6a). A tensão de cisalhamento máxima irá se desenvolver na maior distância da seção transver- sal, com relação ao seu centro, que ocorre na borda do elemento (raio máximo). Para tubos circulares (se- ções circulares vazadas), as distribuições de tensão con - tinuam semelhantes às seções cheias, ressalvando a inexistência de ten - sões na parte onde não existe material e as tensões não nulas, já no in ício do trecho contínuo (Figura 6b). RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 17 09/12/2020 17,50 47 a) b) p r, p Figura 6. Distribuiçâo das tensões na seção transversal circular: (a) seção sólida; (b) seção tubular. Fonte: BEER et ai., 2015, p. 160. (Adaptado). A tensão de cisalhamento é inversamente proporcional ao momento polar de inércia U), que pode ser entendido como uma resistência geométrica à rotação. Repare que esta grandeza é diferente da grandeza momento de inér- cia, que se relaciona a uma resistência à flexão. O momento polar de inércia para uma seção circular (cheia) de raio r pode ser determinado por: 1 J = 2 nr4 (4) Para seções circulares vazadas, cujo raio externo é R e o interno é r, a ex- pressão do momento polar de inércia é: J - n(R4 - r4) (5) - 512 O momento polar de inércia()) fornece uma indicação da resistência ao giro da seção transversal. Este é um momento de segunda ordem (integral de área) obtido em coordenadas polares, ou seja, na distância radial (p) de um ponto da seção a um ponto de referência (O): Jo = lp2dA (6) Geralmente escolhemos a origem como o centroide (momento est ático de uma área). A depender da geometria da seção transversal de uma es- trutura, teremos diferentes expressões de determinação do seu momento polar de inércia. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 18 09/12/2020 17,50 47 • Ângulo de torção em barras de seção circulares Além de determinar a distribuição de tensões (e, consequentemente, de de- formações) na seção transversal, podemos determinar o ângulo de torção ao qual o elemento foi submetido (Figura 4d). Definimos como razão de torção (8) a relação entre o ângulo de torção e a distância da seção em relação ao víncu lo estrutural (x), ao longo do eixo da barra. Esta relação nos permite obter o ângu lo de torção por unidade de comprimento (em radianos): 8 - d<f> - T(x) (7) - dx - G(x)j(x) Considerando o comprimento total da barra L, na situação gera l, o ângulo de torção total da barra (<t>) é definido como: Jl T(x) <t> = G(x)j(x) dx (8) o Usualmente, quando utilizamos um material homogêneo, de seção geomé- trica constante e solicitação constante (por trechos), os termos variáveis saem do integrando, de forma que podemos multiplicar a razão de torção para obter o ângulo de torção total da barra(</>), em radianos: e= .li... (9) Gj ASSISTA Você pode visualizar os parâmetros que foram apresenta- dos, por meio do vídeo (legendado) Understanding torsion, do canal The Efficient Engineer. No vídeo, também é possível ver as premissas e propriedades de axissimetria de barras circulares. A convenção de sinais do ângulo de torção segue a regra da mão di reita, anteriormente mencionada, em que rotações horárias possuem convenção ne- gativa, enquanto rotações anti -horárias possuem convenção positiva. O termo GJ é definido como rigidez de torção da barra. Observe que, quanto maior esta relação, menor será o ângulo de torção que o elemento apresenta- rá. Em determinadas aplicações, é interessante, também, determinar o torque RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 19 09/12/2020 17,50 48 necessário para produzir uma unidade de rotação do elemento. Neste cenário, definimos a relação (GJ)IL como a rigidez de torção linear da barra (k 7 ), conside- rada uma constante para a análise estrutural nestas aplicações. Caso o eixo seja constituído por uma associação de barras, ou ainda, possua a presença de torques múltiplos, podemos aplicar as equações anteriores (mu- nindo-nos da convenção de sinais) em cada trecho de torque constante. Para situações em que o torque ou a seção varia, faz-se necessária a integração das respectivas funções de esforços e geometria. As determinações de tensão cisalhante e ângulo de torção consideram as premissas do princípio de Saint-Venant, em que desprezamos deformações localizadas que podem ocorrer em decorrência da aplicação dos momentos fletores. O princípio de Saint-Venant é amplamente utilizado em mecânica das estruturas, sobretudo por possibilitar uma simplificação de análise, ao de- sassociar efeitos locais de efeitos gerais. O princípio afirma que a tensão e a deformação produzidas em um corpo em pontos suficientemente distantes da região de apli- cação da carga externa serão as mesmas que as produzidas por qualquer outro carregamento externo aplicado que tenha ames- ma resultante estaticamente equivalente e que seja aplicado ao corpo dentro da mesma região (sic} (HIBBELER, 2019, p. 106). Observamos que as determinações de tensão, deformação e torção dependem de características geométricas da seção (como o momento polar de inércia), da mag- nitude dos esforços e das características constitutivas do material (módulos de elas- ticidade e níveis de tensões). Quando não se dispuser de resultados de ensaios e informações específicas acerca do módulo de elasticidade transversal, usualmente se utiliza a relação entre os módulos obtidas da teoria da elasticidade: E G = 2(1 + u) (1 O) Em que E é o módulo de elasticidade linear eu é o coeficiente de Poisson do material. Dessa forma, o dimensionamento usual dos elementos perpassa, inicialmente, a escolha dos materiais estruturas (sistema construtivo), a identificação das ações e o dimensionamento geométrico das seções, sendo esta última a principal variável de alteração nos projetos. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 20 09/12/2020 17,50 48 Exemplo 1 Determinar a máxima tensão cisalhante que ocorre em uma barra de seção circular de diâmetro 50 mm, submetida a um momento torçor de 2,6 kN.m. A barra possui comprimento de 1 me módulo de elasticidade transversal de 80 GP a. Determine também o ângulo de torção atuante na barra.Resolução 1 Inicialmente, procede-se com a determinação do momento polar de inércia (equação (4)), adequando as unidades das variáveis (para metros, neste caso): 4 1 1 (0,050) J=-m4 =-rr -- =614·10·7 m4 2 2 2 ' ( 11) Determinado o valor de}, podemos utiliza r a equação (3) para obter a ten- são de cisalhamento máxima na seção, que ocorre quando a distância do ponto coincide com o raio da seção: = Tr = 2' 6 . 0,025 105863 kP = 105 9 MP (12) r J 6, 14 . 70-1 a ' a O ângulo de torção pode ser determinado por meio da equação (9): TL 2,6 · 1 ,1-. ------,----~ = 0,0529 rad = 3,03º (13) .,, = GJ = (80 · 106)(6,14 · 10·7) • Elementos estaticamente indeterminados submetidos a momento torçor Em muitas situações da engenharia, podemos observar a ocorrência de barras submetidas a momento torçor, mas vinculadas em suas extremidades. Quando a aplicação das equações de equilíbrio (translacional e rotacional) não são suficientes para a determinação dos esforços do elemento, estamos em uma situação de indeterminação estática: o número de incógnitas do problema é superior ao número de equações básicas de resolução. Nestes casos, deve- mos utilizar os conhecimentos adquiridos para a utilização de equações adi- cionais, de forma que este sistema matemático se torne passível de resolução. Equações que podem ser utilizadas nestes casos são de compatibilidade: relações físicas que delimitam ou especificam as condições do problema em questão. Caso o eixo possua extremidades (pontos A e B) simultaneamente engastadas, este vínculo estrutural restringirá os deslocamentos nestas extre- RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 21 09/12/2020 17,50 49 midades, onde podemos constatar que os ângulos de rotação serão nulos. Ma- tematicamente, escrevemos as seguintes equações de compat ibilidade para o problema em questão: A) B) Figura 7. Barra de seção circular estaticamente indeterminada: (a) faces engastadas; (b) esquema de corpo livre; (e) análise de esforços internos. Fonte: HIBBELER, 2019, p. 191. (Adaptado). Como elucida Hibbeler (2019), o próximo passo para a resolução destas indeterminações é a utilização de uma relação entre carga-deslocamento, ou seja, uma equação que permita relacionar as indeterminações das equações de equilíbrio com as equações de compatibilidade, tal qual a equação (9). Exemplo 2 Considere a barra estaticamente indeterminada da Figura 7, com diâmetro de 50 mm. A barra possui comprimento de 3 m e 2 m, respectivamente aos trechos AC e CB. O momento torçor possui intensidade de 300 N.m e o mó- dulo de elasticidade transversal do material é 70 GPa. Determine as reações nas extremidades. Resolução 2 Inicialmente, construímos um diagrama de corpo livre semelhante ao da Figura 7b. Aplicando a equação de equilíbrio de momentos (com a convenção de sinais), obtemos: RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 22 09/12/2020 17,50 49 Agora utilizaremos a equação (14) para relacionar o tor- que com o deslocamento. Observe que o ângulo de rotação total (nulo) é obtido pela soma das rotações nos trechos AC e CB. Quando analisamos o diagrama de corpo livre, também verificamos que os esforços internos no ponto C giram em sentidos contrários (para que a resultante seja nula): TA LAC TB LCB cf>AIB = cf>Ac + cf:ice ➔ 0 = ---w--0 (16) TB LCB 2T ➔ TA LAC - TB LCB =o ➔ TA= -L-= _ B AC 3 Substituindo na equação anterior, podemos resolver o sistema: 2T 300 -_a - T 8 =O ➔ T 8 = 180 N.m (17) 3 300 - ~ - 180 =O ➔ ~= 120 N.m (18) • Dimensionamento de barras de seção arbitrárias sujei- tas à torção Até o momento, analisamos o comportamento de barras circu lares sub- metidas a esforços de torção, mas o que acontece quando temos uma se- ção não circular? Marquises, lajes submetidas em balanço, grelhas sujeitas a carregamentos verticais e algumas estruturas metálicas (como outdoors sujeitos a esforços oriundos do vento) são alguns dos muitos exemplos de ocorrência de momento torçor em seções usualmente não circulares (se- ções retangulares, seções metálicas 1, T, C, U). Observamos que por sua axissimetria, as seções transversais ci rculares permaneciam planas mesmo após a aplicação da solicitação estrutural. Agora, vamos analisar o que acontece em barras de seção não circular. Observe a Figura 8a, em que uma barra prismática é submetida a um mo- mento torçor. Como a seção transversal não é simétr ica em relação ao seu eixo (axissimétrica), a aplicação do torque fará com que aconteça uma alte- ração na geometria da seção do elemento estrutural causado pela to rção, de forma que esta barra tenderá a abaular ou entortar (Figura 8b). Neste RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 23 09/12/2020 17,50 49 caso, as expressões anteriores não podem ser utilizadas para a determi- nação do comportamento mecânico do elemento estrutura. Então, como poderemos proceder? Não deformado Figura 8. Distribuição das tensões na seção transversal circular: (a) seção sólida; (b) seção tubular. Fonte: HIBBELER, 2019, p. 197. Como ilustram Beer et ai. (2015), convido você a realizar este experi- mento: em uma borracha retangular, desenhe pequenos quadrados ao longo das faces, arestas e quinas do elemento. Agora, submeta esta bor- racha a uma torção e observe como as deformações nestes quadrados se darão. É possível verificar que os vértices das faces exteriores tendem a permanecer inalteradas, assim como as arestas longitudinais da borracha. Se não ocorreu deformação, podemos concluir que não ocorreram ten- sões nestes pontos. Diferentemente de quadrados desenhados ao longo do corpo da borracha, que apresentam distorção em seu comportamento, indicando que tensões cisalhantes originárias do momento torçor estão atuando nestes elementos. A análise da teoria da elasticidade para elementos de seção não circular é complexa e foge ao escopo da proposta dessa unidade. É possível utilizar alguns resultados conhecidos para identificarmos a máxima tensão cisalhante que ocor- re em algumas seções típicas (Quadro 1). • RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. SER_ENGCIV _RMA_UN!Dl.indd 24 09/12/2020 17,50,51 QUADRO 1. EXPRESSÕES PARA A DETERMINAÇÃO DA MÁXIMA TENSÃO CISALHANTE E ÂNGULO DE TORÇÃO PARA SEÇÕES PARTICULARES. ~ Forma da seção tranversal Quadrada Triângulo equilátero Elipse Fonte: HIBBELER, 2019, p. 198. 4,81 T a' 20 r a' 0 1, 10 n a'G 46 n a'G (a'+ li')Tl rra'b'G Repare que a máxima tensão cisalhante oriunda do torque ocorre em um elemento da borda da seção transversal, e não nos vértices da seção. No Quadro 1, também podemos determinar o ângulo de torção para diferentes seções de barras não circulares. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 25 09/12/2020 17,50,52 Estendendo os resultados obtidos, podemos constatar que a seção mais efi- ciente é a circular, pois a distribuição de tensões e os valores máximos de tensão cisalhante são os menores quando comparados a outras geometrias; além disso, também apresentam os menores ângulos de torção (HIBBELER, 2019). Apesar de não serem as seções mais eficientes, as seções retangulares tam- bém são altamente empregadas na engenharia civil, por questões de modula- ção e construção, principalmente na construção deformas para a concretagem destes elementos (pilares e vigas, por exemplo). Timoshenko e Goodier (1970) analisaram seções retangula res uniformes submetidas ao momento torçor puro, obtendo os resultados que serão exi- bidos. Sendo Lo comprimento de uma barra prismática de seção retangular, de lados a e b, respectivamente correspondentes à maior e menor dimensão do elemento, podemos determinar a máxima tensão cisalhante que ocorre na linha de centro da face maior da barra (dentro do regime elástico), por meio da equação (19). Utilizandoa equação (20) também é possível determinar o ângulo de torção nestas barras: T r _ = -- (19) max c 1 ab2 TL cf> =-- (20) e ab3 G 2 Repare que as equações (19) e (20) dependem das variáveis c 1 e c 2 , que são coeficientes de torção obtidos em função da forma dos elementos, con- forme Tabela 1: TABELA 1. COEFICIENTES DE TORÇÃO PARA BARRAS RETANGULARES ~ 0,208 0,1406 0,219 0,1661 0,231 0,1958 0,246 0,229 0,258 0,249 RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJLindd 26 09/12/2020 17,50,52 0,267 0,263 0,282 0,281 0,291 0,291 ( 1 - 0,630 ~ ) ( 1 -0.630 n ---- ----3 3 0,333 0,333 Fonte: BEE R et ai., 2015, p. 207. (Adaptada). Exemplo 3 A seção transversal de uma viga retangular de concreto possui dimensões de 40 cm por 20 cm. Sabendo que o módulo de elasticidade transversal é 10 GPa, o torque aplicado é 100 kN.m e o comprimento é de 5 m, determine a máxima tensão cisalhante atuante na seção e o ângulo de torção ao qual ela está submetida. Caso a seção duplicasse sua altura, quais seriam os novos valores de tensão cisalhante e ângulo de torção atuantes na estrutura? Dica: 10 GPa = 1000 kN/cm 2• Resolução 3 Como a seção transversal é retangular, precisamos determinar os coef icien- tes de torção (Tabela 1 ). Utilizando a razão da maior dimensão pela menor di- mensão da seção, obtemos: .2... = 40 = 2 (21) b 20 Pela Tabela 1, obtemos os coeficientes c 1 = 0,246 e c 2 = 0,229. A partir destes coeficientes, a determinação da tensão máxima de cisalhamento pode ser rea- lizada pela equação 19, enquanto o ângulo de torção pela equação (20): r _ = _ T_ = 100 · 100 kN max C 1 ab2 0,246 · 40 · 202 = 2' 54 = cm2 = 25A MPa (22) </> TL = __ l_0_0_· _l0_0_·_5_00 __ = 0,068 rad = 3,91º (23) = c 2 ab3 G 0,229 · 40 · 203 · 1000 Considerando uma viga com o dobro de altura, a razão entre as dimensões será de ~ = ~~ = 4. Para este valor, os coeficientes de torção serão c1 = 0,282, c2 = 0,281. Desta forma, os novos esforços serão: RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 27 09/12/2020 17,50,53 T 700 · 700 kN rmáx = -c1_a_b_2 = 0,282. 80. 202 = 1, 11 cm2 = 11, 1 MPa (24) <p = TL = __ t_O_O_· _70_0_·_5_00 __ = 0,028 rad = 1,59º (25) c 2 ab3 G 0,287 • 80 • 203 • 7000 Tubos de paredes finas submetidos à torção Vamos abordar um caso particular de seções fechadas submetidas ao mo- mento torçor: tubos de paredes finas. Elementos compostos por tubos com paredes de pequena espessura costu- mam compor estruturas leves, uma vez que o tubo é vazado (não possui mate- rial internamente) e o material do ele- • mento é executado de forma que a seção transversal seja fina. Estes tubos cons- tituem elementos de fuselagem de avião e algumas estruturas metálicas, por exemplo, em que a eficiência do elemento deve ser associada ao seu baixo peso. Do ponto de vista de análise estrutural, quando lidamos com tubos de pa- redes finas, podemos simplificar a distribuição de tensões ao longo da seção transversal, de forma que a baixa espessura faz com que a tensão de cisalha- mento média seja mais representativa do que as distribuições de cisalhamento pontuais, uma vez que se confundem. Tomemos como exemplo um elemento de uma seção tubular delgada (pa- redes finas), sujeito ao momento torçor. Como o elemento está em equilíbrio, podemos afirmar que a resultante das forças cisalhantes que atuam sobre ele é nula. As forças cisalhantes são obtidas pelo produto da tensão de cisalhamento pela área de atuação. Por sua vez, a área de atuação é um retângulo de altura correspondente à espessura em cada face, de comprimento (não nulo) corres- pondente ao trecho seccionado L\x e área resultante deste produto (Figura 9a). Realizando o equilíbrio do elemento, podemos escrever: FA = FB (26) [A (tAL\x) = [B (tBL\x) (27) [A tA = [B tB (28) RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. SER_ENGCIV _RMA_UN!Dl.indd 28 09/12/2020 17,50,55 A) () Figura 9. Determinação das tensões em seções delgadas fechadas: (a) elemento em equilíbrio; (b) momento torçor; (e) área média. Fonte: HIBBELER, 2019, p. 200. (Adaptado). RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 29 09/12/2020 17,50,55 Isso nos informa que o produto da tensão cisalhante média pela respectiva espessura da face é a mesma para quaisquer que sejam as faces escolhidas, uma vez que as faces A e B foram arbitrárias. Neste sentido, podemos afirmar que este produto é constante ao longo da seção transversal. Este resultado importante recebe a denominação de fluxo de cisalhamento. O termo fluxo é usado como analogia direta à vazão de água em canais retangulares de largura te profundidade constante. Repare que, nesta analogia, a vazão q nos canais permanece a mesma, independente do ponto analisado. O que se alte- ra nessa interpretação hidráulica é a velocida- de, que depende da largura do ponto ana- lisado. Com estas premissas, podemos, então, estender as observações e afirmar que o fluxo de cisalhamento nestas seções delgadas é constante e resultado do produto da tensão cisalhante média pela espessura da seção transversal. q = [méd t (29) Repare que, pelo resultado anterior, a maior tensão de cisalhamento deve ocorrer na região de menor espessura da seção transversal, para que o valor do fluxo de cisalhamento se mantenha constante. Para deter- minarmos a relação entre o fluxo de cisalhamento e o torque aplicado na seção, podemos considerar um pequeno elemento da seção transversal, que possuirá espessura te comprimento ds. A área deste elemento é nu- mericamente igual ao produto t ds, resultando em uma parcela infinitesi- mal de força igual a: dF = rméd dA = rméd (t ds) = q ds (30) q = dF (31) ds Neste sentido, interpretamos o flu xo de cisa lhament o como a taxa de variação da força ci sa lhante por unidade de comprimento ao longo da se- ção transversal. Este diferencial de força causará um diferencial de mo- mento torçor dT em relação a um ponto O (Figura 9b), cujo braço de ala - vanca (distância perpendicular) denominaremos p: RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 30 09/12/2020 17,50,55 dT = p dF = p (q ds) (32) dT pq (33) ds T = <j p q ds (34) Repare que, em nossa equação, a integração deve ser realizada em torno da seção transversal, configurando uma integral de linha. Como o fluxo de cisa- lhamento é constante na seção, podemos retirá-lo do integrando da equação, resultando em: T = q <f, p ds = rméd t<jp ds (35) O integrando restante pode ser simplificado considerando a área dope- queno triângulo formado pelo eixo do elemento infin itesimal apresentado na Figura 9b (onde a resultante dF é aplicada). Ao se percorrer toda a seção transversal, podemos determinar o momento torçor pela expressão: T = r méd t <j p ds = rméd t (2Améj (36) T rméd = ~ (37) med Na expressão anterior, Amédé correspondente à área média obtida pela linha de centro da seção transversal (Figura 9c). Dessa forma, na determinação de tensões cisalhantes decorrentes de momento torçor aplicado a t ubos delga- dos, devemos, inicialmente, determinar a geometria correspondente ao con- torno da linha central da espessura do tubo, para, posteriormente, determinar sua magnitude por meio da equação X. O ângulo de torção pode ser determina- do por meio de métodos de energia, cuja expressão será apresentada a título de curiosidade, constituindo-se equivalente a: (38) Exemplo 4 Considere uma seção quadrada tubular, de aresta 100 mm, cuja espessura é 10 mm. A barra possui comprimento de 200 cm e está sujeita a uma tensão de cisalhamento máxima de 20 MPa. Determine o momento torçor atuante e o ângulo de torção desta barra, considerando G = 50 GP a. Resolução 4 Observe que a barra em questão pode ser compreendida como um ele- mento tubular delgado. Desta maneira, podemos utilizar aequação (37) para RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 31 09/12/2020 17,50,56 determinar o torque atuante. Para tanto, precisamos determinar, inicialmente, a área média obtida pela linha de centro da seção tubular. Como temos uma se- ção quadrada de lado 100 mm e a espessura é de 10 mm, a linha de centro dista 5 mm de cada borda da seção. A área média resultante tem formato quadrado, de lado 100 - (2 · 5) = 90 mm (39), resultando em: Améd = 0,090 · 0,090 = 0,0081 m2 (40) T T rméd= 2 A ➔20·103= 2·0,01·0,0081 ➔ T=3,24kN.m (41) t méd Para a determinação do ângulo de torção, devemos de- terminar a integral de linha em relação à linha de centro. Como nossa espessura é constante, podemos ret irá-la do integrando, resultando em uma integral de linha entorno das arestas do quadrado: p.1.. ds = .1..p ds =-1-( Í 9dx + Í 9dx +Í 9dx +Í 9dx) = - 1- '4. 90 (42) t t 10 Jo Jo Jo Jo 10 ff ds = -lõ-4 · 90 = 36 (adimensional) (43) cj) = 4G ~ mé,)2 f f ds 4 . 50 . 37;;. ·(i,oo81)2 · 36 = 0,0178 rad = 1,02º (4 4) Dessa forma, aplicando a teoria de tubos delgados, concluímos que o torque atuante na seção é de 3,24 kN.m, correspondendo a um ângulo de torção de 1,02ª. Analogia de membrana Até o momento, discutimos sobre aná li ses de elementos circulares e não circulares de geometria parti- cular e tubulares delgados submetidos aos esforços torcionais. Mas no seu cotidiano, certamente você j á deve ter se depara- do com seções estruturais abertas como em elementos de estruturas metálicas, tais quais ilustradas na Figura 10: •• RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 32 09/12/2020 17,50,56 Figura 10. Exemplos de diferentes seções transversais de perfis metálicos. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/9/2020. A geometria desta tipologia estrutural visa potencializar características geomé- tricas das seções transversais, visando menor consumo de material para a constru- ção destes perfis. É comum a ocorrência de diferentes perfis estruturais, como C, T, L e 1, que são perfis abertos. O que pode acontecer com o comportamento de seções com essas características? O momento torçor, apesar de geralmente se constituir de solicitações secundá- rias nos elementos estruturais, pode se tornar em esforços predominantes, além de se combinar com outras solicitações (principalmente flexão), ocasionando falhas por mecanismos de rupturas especiais. Em seções finas de paredes abertas, pode- mos visualizar fenômenos de instabilidade por flambagem lateral por torção (FLT) e flambagem lateral da alma (FLA), decorrentes da associação a outras solicitações com o momento torçor. O torque submetido fará com que suas seções girem em torno do próprio eixo (Figura 11), provocando empenamento e instabilização: y X I Figura 11. Perfis metálicos I submetidos à torção. Fonte: LIMA, [s. d.]. (Adaptado). RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. SER_ENGCIV _RMA_UN!Dl.indd 33 09/12/2020 17,5U6 A determinação do fluxo de cisalhamento para estes elementos setor- na mais complexa, especialmente quando consideramos a seção t ransver- sal como resultado da associação de diferentes retângulos. No caso mais geral da torção, as seções não-circulares, abertas e fe- chadas, não se mantêm planas mediante aplicação do esforço torçor, por conta de a tensão cisalhante ser t angent e aos pontos da seção transver- sal. A depender das condições de simetria e de equil íbrio do elemento, por vezes, podemos tirar algumas conclusões particulares, como apresen- tadas anteriormente. Contudo, quando consideramos os demais casos, a teorização do comportamento físico-mecânico se torna complexa, muitas vezes sendo realizadas analogias para seu entendimento. As analogias entre fenômenos físicos são correlações realizadas entre modelos numéricos que possuem a mesma forma, mesmo que possuam grandezas físicas diferentes. A analogia hidrodinâmica de fluxo, realizada no estudo de tubos delgados, é um exemplo desta correlação. Uma alternativa para abordar estes problemas, consiste na analogia de membrana, que estabelece correlações entre a d istribuição de ten- sões cisalhante s de um elemento submetido à torção e o com- portamento de uma membrana elást ica, de mesma forma da seção transversal, submetida à pressão constante (Fi- gura 12a). Por serem mais simples, as equações da membrana podem ser utilizadas para resolver o proble- ma da torção em uma seção de forma- to arbitrário aberta ou fechada. CURIOSIDADE A teoria da analogia de membrana foi proposta por Prandtl, em 1903. Segundo esta teoria, foi possível realizar uma analogia entre as equações diferenciais que regem os probl emas de torção uniforme 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 34 e uma membrana elástica linear que sofre pressão uniforme. Desta forma, é possível determinar o comportamento da peça submetida à torção a partir dos resultados de experimentos e observações com o comportamento da membrana, o qual é mais simples de ser analisado. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 09/12/2020 17,51 16 A) Forma da ST Contorno da ST B) Curvas de nível C) Retangular Circular Membrana sob pressão Cortes transversais Delgada fechada Deformada cortes transversais ...... ,: ---.. ..... ..... ,' Tensões tangenciais Delgada aberta Figura 12. Analogia de membrana (momento torçor): (a) ensaio com membrana elástica; (b) resultados comparativos entre a membrana e a distribuição de tensões cisalhantes; (e) comportamento da membrana para diferentes seções. Fonte: NETO; COSTA. 2016. (Adaptado). A equação diferencial da deformação elástica da membrana possui ames- ma forma que a função de distribuição de tensões da seção t ransversal (Figu- ra 12b). Considerando p como a pressão uniforme aplicada à membrana, F as torças tangenciais que atuam sobre o contorno da membrana, G o módulo de elasticidade transversal do material da barra e e a razão de torção (ângulo de torção da peça por unidade de comprimento), podemos definir a rotação por unidade de comprimento em função da relação entre a pressão na membrana e as tensões superficiais nesta membrana por meio da equação (45): ..E....2Ge (45) F RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 35 09/12/2020 17,51 17 Como retrata Timoshenko (1957, p. 272), satisfeitas as condições de correla- ção entre os modelos (Figura 12c), podemos validar três relações entre o com- portamento da membrana e a distribuição de tensões do elemento: • A tangente da curva de nível em qualquer ponto se relaciona diretamente à direção da tensão cisalhante correspondente ao mesmo ponto da seção trans- versal (Figura 12b); • A inclinação máxima em qualquer ponto da membrana corresponde à ten- são de cisalhamento do mesmo ponto na seção transversal (Figura 12b); • O momento torçor aplicado sobre a seção é numericamente igual ao dobro do volume compreendido entre a superfície deformada da membrana e o plano de seu contorno. A declividade (inclinação) da membrana, em cada ponto, associada à tensão de cisalhamento, devido à torção, pode ser obtida pela relação: au r = an (46) Enquanto o volume da membrana associado ao torque (momento de tor- ção) é relacionado por meio de: T = 2 Vmembrana (47) Por meio da analogia da membrana, seções abertas de paredes finas podem ser entendidas como associação de elementos retangulares (eventualmente alguns do- brados), que podem estar submetidos à concentração de tensões em seus cantos (Fi- gura 14). Com as devidas adequações, esta analogia também é amplamente utilizada para seções tubulares e celulares, muito comuns em fuselagem de veículos, aviões, se- ções de pontes e outros elementos estruturais mais complexos, submetidos à torção: lt· 7J o (1ft íl Figura 13. Analogia de membrana aplicada em seções delgadas abertas. Fonte: BEER et ai., 2015, p. 208. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAISAPLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 36 09/12/2020 17,51 18 Um caso especial da analogia de membrana acontece quando consideramos se- ções retangulares abertas de paredes finas, ou associações destes elementos. Para que um elemento retangular seja considerado delgado, sua largura deve ser muito superior à espessura, sendo usual o emprego de dez vezes de razão de diferença. Nestes casos, podemos simplificar as expressões com resultados conhecidos. Con- siderando o regime elástico linear, solicitação de torção pura e seção transversal constituída por associação de elementos retangulares delgados, a máxima tensão de cisalhamento atuante na seção é dada por: T (48) Conforme salienta Neto e Costa (2016), sendo Wt o módulo elástico resis- tente à torção do material. Este parâmetro pode ser determinado para o caso de associação de n elementos delgados retangulares como: 1 "'n Wt=-L b.t.2 (49) 3 /a/ 1 1 Neste caso, o ângulo de torção pode ser obtido de forma semelhante, como a equação (9): (50) Contudo precisamos considerar um momento polar de inércia total da se- ção de n elementos retangulares de parede fina: Exemplos Considere um perfil estrutural W 150 x 13,0, com 5 m de comprimento. Em uma lista de propriedades de perfis, você poderá consultar que se trata de um perfil estilo 1, com duas mesas (placas horizontais), largura 100 mm e espessura 4,9 mm, e uma alma (chapa vertical) de espessura 4,3 mm com largura 138 mm. Considerando um momento torçor de 100 N.m e um módulo de elasticidade transversal de 77 GPa, de- termine a máxima tensão cisalhante atuante na seção transversal. Resolução 5 Repare que a seção transversal pode ser ana lisada por uma associação de retângulos delgados, sendo possível utilizar as equações (48) e (49) para a de- terminação das variáveis de interesse. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 37 09/12/2020 17,51 18 Considerando os elementos retangulares delgados, podemos determinar o módulo elástico resistente à torção através da contribuição individual de cada elemento (equação (49)): 1 Iº 1 I3 W = - b. t2 = - b. t 2 = 1. (100 • 4,92 • 2 + 138 • 4,32) 2451,21 mm3 (52) t 3 1=1 1 1 3 1= 1 1 1 3 Wt = 2451,21 mm3 = 2,45 • 10·6 m3 (53) A máxima tensão cisalhante na seção transversal pode ser determinada pela equação (48), considerando o módulo elástico resistente à torção equivalente: T 100 Tmáx = W = 2,45 . 10 .6 = 40,8 MPa (54) t RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 38 09/12/2020 17,51 19 Sintetizando • Nesta unidade, você pôde conhecer os principais aspectos relacionados a ele- mentos de barra sujeitos à torção. Analisamos, inicialmente, barras de seção circu- lares, onde as propriedades de axissimetria conferiram uma particularidade nas deformações de sua seção transversal, possibilitando um equacionamento direto deste problema (para níveis de tensão em regime elástico). Para barras de seção não circular, observamos que o comportamento de em- penamento da seção dificulta a definição da distribuição de tensão cisalhante. Neste cenário, foram apresentadas formulações para casos particulares, sobretu- do, para seções retangulares. Uma tipologia específica de seções fechadas delgadas (paredes finas) possibi- litou a formulação simplificada da tensão cisalhante máxima, utilizando uma ana- logia de fluxo cisalhante. Tratando-se de analogias, vimos também que o emprego da analogia de membrana possibilita a simplificação da determinação dos parâ- metros mecânicos para diferentes seções transversais. Dessa forma, percebemos que o estudo da torção em análise estrutural é am- plo e não se esgota apenas nos tópicos anteriores, ficando um convite ao aprofun- damento destes conhecimentos nesta ciência de resistência dos materiais. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJl.indd 39 09/12/2020 17,51 19 Referências bibliográficas • BEER, F. P. et ai. Mecânica dos materiais. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. GERE,J. M. Mecânica dos materiais. 1. ed. São Paulo: Thomson, 2003. HIBBELER, R. C. 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Tópicos de estudo • Deflexão em vigas: linha elástica Equações diferenciais da curva de deflexão Método da integração da linha elástica Vigas estaticamente indeterminadas Método da integração Método da superposição de efeitos SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 42 RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 09/12/2020 17,38 01 O Deflexão de vigas: linha elástica •• Nesta unidade nos aprofundaremos em deflexões de vigas. Como sabe- mos, vigas são elementos estruturais muito presentes em estruturas (Figura 1). Em geral, esses elementos apresentam uma dimensão preponderante às demais, sendo muitas vezes simplificados por elementos lineares no projeto de análises estruturais. Quanto ao carregamento, é predominante o esforço de flexão oriundo principalmente dos carregamentos perpendiculares ao eixo do elemento. É justamente nesse cenário que daremos início aos nossos estudos. EXEMPLIFICANDO Vigas são elementos estruturais lineares (em que uma dimensão é pre- ponderante às demais), sujeitas a carregamentos perpendiculares ao seu eixo, característicos de esforços de flexão. De acordo com o seu sistema de vinculação, podemos ter diferentes classificações de vigas, como as apoiadas, biapoiadas, engastadas, etc. Figura 1. Vigas de uma estrutura de ponte. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/09/2020. A resistência dos materiais estuda a relação entre as tensões e deforma- ções atuantes nos elementos, sobretudo para fins estruturais. Dessa forma, o projeto de vigas deverá prever uma configuração de materiais, vinculações e geometria que possa resistir às ações impostas aos elementos durante a vida útil do sistema estrutural. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. SER_ENGCIV _RMA_UNID2.indd 43 09/12/2020 17,38,23 Contudo, além dos limites de ruptura (limite de colapso) e escoamento (limi- te último de projeto), a estrutura também deve ser compatível com o desem- penho esperado durante as conduçõesde uso (limites de serviço), sobretudo quando às deformações são iniciadas. A natureza dos corpos flexíveis é de se deformarem a partir das tensões por eles sofridas. Um dos parâmetros que governam a magnitude dessa de- formação é o módulo de elasticidade do material (E), que configura uma ca- racterística intrínseca ao tipo de material empregado ao elemento estrutural. Usualmente, o valor desse módulo corresponde à inclinação (taxa de variação) do trecho linear de uma curva tensão-deformação (Figura 2), geralmente re- sultado de um ensaio de tração/compressão feito nos elementos estruturais. " Liga de aço temperada recosida (A709) Aço de baixa liga de alta resistência (A992) Aço carbono (A36) Ferro puro '----------------- [ Figura 2. Exemplo de curvas tensão-deformação. Fonte: BEER et ai., 2011, p. 76. Além das condições dos materiais, a geometria do elemento frente ao tipo de carregamento também influencia na magnitude dos deslocamentos, que podem resultar nas deformações atuantes. Imagine uma viga de concreto (ma- ciça), como retratada na Figura 3. Caso um mesmo carregamento seja aplicado em uma viga de seção transversal 20 x 40 cm e 20 x 80 cm (de mesmo compri - mento), qual viga você espera que se deforme/desloque mais? RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 44 09/12/2020 17,38 23 Figura 3. Vigas de concreto são presentes em muitas estruturas usuais. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 15/09/2020. Intuitivamente, você deve ter imaginado a viga que se deformaria mais rápi- do seria a de 20 x 40 cm, e, se o fez, está correto(a), pois a primeira viga possui um menor momento de inércia comparada à segunda. O momento de inércia é uma característica geométrica da seção transversal de um elemento estru- tural, relacionada à "dificuldade" de se alterar a movimentação/deformação/ deslocamento de um corpo, neste caso, o deslocamento oriundo da flexão. O estudo das deformações em estruturas é essencial, uma vez que as aná- lises e os projetos estruturais demandam conhecimento das magnitudes de tensões e deformações para que possamos atender a níveis normativos acei- táveis na construção dessas estruturas. Por exemplo, em projetos de máqui- nas e equipamentos mecânicos, grandes deflexões podem causar vibrações ou danificar o funcionamento desses objetos. Já em construções, como pontes e edificações, as condições de servicibilidade podem inviabilizar ou causardes- conforto aos usuários. EXPLICANDO O estado limite de serviço (em inglês, serviceability limit state criterion) são condições limites que uma estrutura deve atender, permanecendo funcional e garantindo seu desempenho em condições de solicitações usuais (rotineiras), livre de desconfortos, problemas estruturais, interfe- rências em outros subsistemas e problemas de utilização aos usuários. Dessa forma, desvendaremos os conceitos, os procedimentos de cálculo e o comportamento da deflexão dos elementos de vigas. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. SER_ENGCIV _RMA_UNID2.indd 45 09/12/2020 17,38,40 Equações diferenciais da curva de deflexão Iniciaremos nossa discussão de- finindo o conceito de deflexão, que usualmente é simbolizada pela letra v ou y, e representa o deslocamento vertical (direção y) de um ponto do eixo da viga decorrente dos esforços internos ao qual ela está sujeita. Considere, então, uma viga engas- tada em balanço, sujeita a um carre- gamento pontual vertical em sua ex- tremidade livre, conforme ilustrado na Figura 4. É intuitivo e razoável supor 1~-------~ que cada ponto da viga apresentará valores diferentes de deslocamento vertical. Além disso, repare que além do ponto transladar, a viga também apresenta uma rotação (deslocamento angular). Vamos compreender como isso ocorre. Está centrada, no eixo da viga, uma reta ima- ginária (ilustrando um plano), que denomina- mos superfície neutra. A superfície neutra se refere à posição inicial do eixo da se- ção transversal e longitudinal antes da aplicação de carregamentos (Figura 5). Nesta unidade, analisaremos apenas a po- sição dessa superfície no sentido longitudinal. •• Consideremos que essa linha longitudinal representa o comportamento médio da seção, de forma que a deformação dessa linha represente a deformação do elemento estrutural. Por esse motivo, chamamos essa linha de linha elásti- ca, ou seja, o lugar geométrico que descreve a posição dos pontos das seções transversais ao longo do elemento estrutural. Assim, através da linha elástica poderemos determinar o deslocamento vertical e a rotação da viga. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. SER_EN GCIV _RMA_ UNID2.indd 46 09/12/2020 17:38:43 o • r B A t::::::::::::::::::::::::::::...---X .. 1(-----L------ B P, = ao X Figura 4. Deflexão e curvatura em vigas em balanço. Fonte: BE ER et ai., 2011, p. 550. o Seção vertical, longitudinal (plano de • simetria) I \ I \ Seção transversal y I \ p I \ p-y I \,~ Linha neutra I y I ' A I K y A' -- 0 B' o Figura 5. Deflexão da viga. Fonte: BE ER e colaboradores, 2011, p. 234. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 47 09/12/2020 17,38 43 A deformação da viga pode ser medida pela curvatura da linha elástica. Ini- cialmente, a linha que era reta sofrerá uma deformação e tenderá a apresentar uma geometria circular, tornando-se um arco de circunferência. A curvatura é uma medida geométrica que pode ser medida pelo inverso do raio de curvatura, sim- bolizado pela letra grega p. No regime elástico linear, as deformações são dire- tamente proporcionais às tensões aplicadas, de modo que, utilizando o módulo elasticidade do material (f) e o momento de inércia da seção(/), podemos relacio- nar a curvatura com os esforços internos (momento fletor) e as propriedades do material. O produto f/ representa a rigidez à flexão do material, uma vez que está relacionado à tendência à restrição de fletir do elemento estrutural. M(x) p E/ (1) ASSISTA Imagine que você está dirigindo um carro ao longo do contorno da curva em questão. O raio de uma ci rcunfe- rência resultante que o veículo traçaria, caso o volante fosse travado, é definido (informalmente) por raio de cur- vatura; a curvatura, por sua vez, é o inverso desse raio. Por outro lado, a curvatura, por ser uma propriedade geométrica de uma curva, pode ser também descrita algebricamente. Para isso, utilizaremos o cál- culo diferencial e integral através da relação: d2y dx2 (2) p Essa expressão fornece com precisão o valor da curvatura de uma curva. Agora podemos simplif icá-la, uma vez que, nas aplicações de engenharia, as deformações tendem a ser controladas em pequena magnitude, de forma que a derivada da deformação vertical em relação à posição 1x apresente um mó- dulo muito pequeno. Além disso, esse valor ao quadrado é desprezível frente à unidade, o que torna a equação algébrica da curvatura simplif icada: ..!.._ = d2y (3) p dx2 RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 48 09/12/2020 17,38 43 Dessa forma, relacionando a expressão da curvatura referente aos esforços internos com a expressão algébrica diferencial, obtemos a equação diferencial da linha elástica (y): d2y M(x) --=-- dx2 E/ (4) A resolução dessa equação diferencial de segunda ordem retorna à f unção y(x) referente à configuração dos deslocamentos verticais da linha neutra após a aplicação do carregamento, ou seja, a equação da linha elástica. Em muitas aplicações, o produto E/ é constante, uma vez que os parâmetros o são. Assim, quando esses parâmetros variarem ao longo do eixo , deve-se proceder com a integração da expressão como um todo. A primeira integração dessa equação diferencial resulta na rotação (giro) da linha elástica em cada ponto ao longo da estrutura, uma vez que representa a inclinação ou a taxa de variação do deslocamentovertical: dy - = 8(x) (5) dx Da mesma forma, caso prosseguíssemos com as derivações em relação à x na equação diferencial de segunda ordem da linha elástica, você recordaria que a primeira derivada do mo- mento fletor é o esforço cortante, enquanto a segunda derivada é o carregamento. Dessa forma, considerando a rigidez à flexão constante no elemento, poderemos sintetizar as equações diferenciais da linha elástica, por meio das seguintes expressões: Deflexão = y(x) dy = 8(x) dx d2y M(x) dx2 E/ d3y V(x) dx3 E/ d4y = _ q(x) dx4 E/ (6) (7) (8) (9) (10) Para a análise das deflexões, também é necessário estipular algumas con- venções de sinais, exibidas na Figura 6. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 49 09/12/2020 17,38 43 o +w +V +V Convenção de sinal positiva e v Linha elástica d8 dvI +v •I dx ~ X +x V G Linha elástica d8 i dv +v x--------------------t ~ dx -MI•- +x Figura 6. Convenções de sinais. Fonte: HIBBELER, 2018, p. 507. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 50 09/12/2020 17,38 43 Método da integração da linha elástica A partir do desenvolvimento das equações 6 a 1 O, a obtenção da linha elástica pode ser resolvida por su- cessivas integrações dessas relações. Recordando os conceitos de cálculo, você deve se lembrar que, sempre que prosseguimos com uma integração, é necessário adicionar uma constante de integração, uma vez que existe uma família de funções cuja derivada resul- ta no integrando do nosso problema. Mas, se existe uma família de equa- ções, como identificar a resolução para nossa estrutura? Como calcular o valor dessa(s) constante(s)? •• É justamente nesse aspecto que utilizaremos nossos conhecimentos físi- cos acerca de nosso problema mecânico, utilizando suas particularidades, ou melhor, suas condições de contorno. No caso da deflexão de vigas, as condi- ções de contorno relacionam-se aos pontos particulares, dos quais sabemos determinados valores/propriedades de funções. É comum prosseguirmos com a equação 8, que necessita apenas de duas integrações sucessivas para deter- minar a linha elástica, cuja condição de contorno é definida a partir do tipo de vinculação da estrutura. Por exemplo, recordando nossa viga engastada, podemos expressar que, no ponto de engastamento, seu deslocamento vertical é nulo, da mesma forma que sua rotação é nula. Assim, as condições de contorno para o caso isostático de vigas, resumem-se aos seguintes cenários: • Viga engastada: restrição de deslocamento vertical e rotação no engaste; • Viga (bi)apoiada: restrição de deslocamento vertical nos apoios. Agora, aplicaremos esses conceitos na obtenção da linha elástica de uma viga engastada, sujeita a um carregamento pontual em sua extremidade, como representada na Figura 7. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. SER_EN GCIV _RMA_ UNID2.indd 51 09/12/2020 17:38:45 p L A B Figura 7. Viga engastada com carregamento ponrual. Considerando as equações de equilíbrio que governam esta estrutura, temos que: 'i.Fx = O➔HA = O (11) í..F =O➔V = P y A í..MA =O➔M = PL (12) (13) Realizando um corte nessa estrutura e analisando os esforços internos pelo método das equações, verificamos que a equação do esforço momento fletor é equivalente a: M(x) = Px - PL (14) Dessa forma, uma vez obtida a expressão do momento fletor, podemos de- terminar a equação da linha elástica aplicando o método da integração: d2y M(x) dx2 E/ (15) Considerando E/ constante, podemos prosseguir com as sucessivas integra- ções, obtendo: - = 8(x) = --- dx = - Px - Pldx = - - - Plx + e dy JPx - PL 1 J 1 [Px2 ] dx E/ E/ E/ 2 1 (16) y(x)=J-1-(Px2 -P/x+c )dx =-1-[Px1 - Plx2 + cx + c ] E/ 2 1 E/ 6 2 r· 2 (17) Sendo c1 e c2 constantes de integração, sua definição é possibilitada através da aplicação das condições de contorno da estrutura em questão. Tratando-se de engaste, podemos equacionar: RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 52 09/12/2020 17,38 46 1 [p-02 ] 8(x=O)=O ➔ - ---PL ·O+c =O ➔ C =O E/ 2 1 1 (18) 1 [P·03 P-02 ] y(x= O) =O ➔- ----- +O ·O+ e = O ➔ c =O EI 6 2 2 2 (19) Desta forma, a equação da linha elástica para essa estrutura, será: 1 [Px 3 PLx 2 ] p [ ] y(x) = E/ 6 --2- = 6EI X3 - 3Lx2 (20) Repare que o deslocamento máximo dessa viga ocorrerá na extremidade livre, correspondente a uma distância x = L do engaste. Caso a carga aplicada fosse de 10 kN, o comprimento da viga de 6 metros e a rigidez E/fosse de 30000 kN.m2, pode- ríamos determinar o valor específico da deflexão máxima, sendo igual a: y(x}= 10 [63 -3·6·62]=0,024m (21) 6·30000 Realizemos outro exemplo: consideremos agora uma viga biapoiada sub- metida a um momento uniforme em seu comprimento (Figura 8). Assim, va- mos determinar a equação da linha elástica para esta estrutura. M L A 8 Figura 8. Viga biapoiada sujeita a um momento fletar. Considerando as equações de equilíbrio, temos que: M M H = O· V = - - · V = - A'A L ' ª L (22) RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 53 09/12/2020 17,38 46 O momento fletor interno, obtido a partir do método das equações para a análise da seção, é dado por: Mx M(x)=- - L (23) Aplicando o método da integração e realizando duas integrações sucessi- vas, obtemos: dy = 8(x) = _1 [- Mx2 + e] dx E/ 2L 1 (24) 7 [ Mx 3 ] y(x)=- ---+cx+c E/ 6L 1 2 (25) Repare que as constantes de integração podem ser obtidas com as condi- ções de contorno de vínculos do primeiro/segundo gênero (apoios): Y(x = O) = O ➔ - 1 - [- M · 01 + e · O + e ] = O ➔ e = O E/ 6L i 2 2 (26) 7 [ M· L3 ] ML Y(x = L) = O ➔ - ---+ e · L + O =O ➔ e = - E/ 6L 1 1 6 (27) :.y(x) = ;, [- ~t + :L x ]=- 6~L [x1 + L2x] (28) Podemos estimar o deslocamento vertical no meio da viga substituindo os valores das ações e propriedades da estrutura. Por exemplo, sendo a rigidez à flexão 30000 kN.m 2, o momento aplicado no valor de 700 kN.m e o comprimento da viga de 6 m, a deflexão no centro da viga será: 700 y(x) =-----[33 + 62 • 3] = 0,0125m 6 · 30000 · 6 (29) É conveniente deixarmos em evi- dência a constante 1/EI, uma vez que este parâmetro é fixo para materiais homogêneos e isotrópicos. Além dis- so, existem soluções fechadas e tabe- ladas para diferentes configurações de carregamento, que podem ser utiliza- das diretamente (observando sempre a convenção de sinais), tal qual apre- sentada na Tabela 1. SER_ENGCIV _RMA_UNID2.indd 54 RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. 09/12/2020 17,38,49 0 ... 0 ... 0 ... 0 ... .... .... .... J l l > g;, m .. .. .. > :-" e m -r, ii ,- m ~. o e m :s C'I > VI --1 =i:i' ;::; > VI RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA. SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 55 09/12/2020 17,38,53 RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 56 09/12/2020 17,38,56 •• Vigas estaticamente indeterminadas Caro estudante, nesta seção vamos nos aprofundar no conhecimento do comportamento das vigas estaticamente indeterminadas. Você já reparou na estrutura das pontes? Em alguns sistemas construtivos, como o apresentado na Figura 9, em todo o corpo da ponte percebemos o tabuleiro (plataforma) apoiado sobre vigas de grandes comprimentos. Figura 9. Vigas de uma estrutura de ponte. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 18/09/2020. Decorrente de sua extensão, as vigas necessitam de diferentes apoios para controlar sua deformação e aumentar a rigidez global da estrutura. Você se recorda dos esforços de flexão em que as vigas estão sujeitas? Convido você a fazer este pequeno experimento com uma régua: segure uma régua em ambas as extremidades, posicionando-a na direção horizontal. Peça para outra pes- soa suavemente aplicar uma força perpendicular ao plano da régua e observe a deformaçãoresultante. Agora repita o mesmo processo, mas segurando a régua alguns centímetros antes do final da extremidade. Prossiga com esse experimento, variando a distância de apoio e o material da régua. O que você observou nesse experimento? RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA - SER_ENGCIV _RMA_UNID2.indd 57 09/12/2020 17:39:31 Certamente, ficou fácil visualizar que, quanto menor a distância dos apoios, menor a deformação da régua. Esse é um dos princípios que utilizamos para controlar a deformação em vigas de grande extensão. Seja em pontes, na es- trutura de edificações, sistemas de cobertura ou maquinário industr ial, pode- mos observar a presença de vigas com múltiplos apoios. O controle das defor- mações é fundamental para assegurar o desempenho estrutural (evitando a ruptura) e as condições de utilização do sistema (conhecidas como limites de serviço ou servicibilidade). Definimos um elemento estaticamente indeterminado quando sua confi- guração estrutural apresenta mais incógnitas do que equações de equilíbrio estático, tornando o sistema de equações associado impossível de resolução, o que é o caso apresentado na Figura 10. Em nossa estrutura exemplo, a viga sob o tabuleiro é contínua e possui múltiplos apoios, configurando vinculações do primeiro (eventualmente segundo) gênero, superiores às equações de equi- líbrio estático no plano: í..F = o X í..F = o y 'i..M 0 =O (30) (31) (32) Nesse cenário, devemos prover equações adicionais para determinarmos a solução desse sistema. Uma alternativa é a utilização de equações de com- patibilidade e condições de contorno que descrevam a particularidade mecâ- nica do nosso problema, como a determinação dos deslocamentos em pontos estratégicos do elemento estrutural. Isto acontece porque mesmo que tenha- mos uma variedade de carregamentos e solicitações no elemento estrutural, devemos ter a compatibilidade física de seus deslocamentos, uma vez que o elemento permanece íntegro e contínuo em sua deformação (nos regimes de análise antes da tensão de escoamento). Condições de contorno típicas são as restrições de deslocamento (translação ou rotação) em vinculações, como indicadas na Tabela 2. Além das equações de compatibilidade, faz-se necessá- rio o uso de relações de carga/deslocamento, que são equações que relacionam as forças (tensões) aos des- locamentos (deformações), interligando todo repertó- rio de relações físico-matemáticas. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 58 09/12/2020 17,39,31 Quando o elemento estrutural possui mais reações de apoio que o neces- sário para mantê-lo em equilíbrio, dizemos que as reações sobressalentes são redundâncias do equilíbrio mecânico. Além disso, denominamos graus de li- berdade o número de incógnitas que não podem ser determinadas com as equações de equilíbrio estático, ou seja, a diferença entre o número total de incógnitas (reações) e o número de equações de equilíbrio disponíveis. Para o caso de análise no plano, em uma situação de viga biengastada, temos seis incógnitas a serem definidas (correspondente às vinculações dos engastes), enquanto temos três equações disponíveis (conforme equações 29 a 31). Para esse exemplo, teremos três graus de liberdade, representados na Tabela 2. TABELA 2. TIPOS DE VÍNCULOS ESTRUTURAIS ~ - ========;;;;;, Simbologia Graus de liberdade Reações Fonte: BENTO, 2003, n.p. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 59 09/12/2020 17,39,33 A resolução dos problemas de vigas estaticamente indeterminadas pode ser determinada através de diferentes métodos de determinação das equa- ções de compatibilidade, baseados na determinação das expressões de defor- mação do eixo da viga. •• Método da integração O primeiro método que estudaremos para solucionar problemas de inde- terminação estática é o método da integração. Recordando que a curvatura da linha de deformação vertical da viga (linha elástica) pode ser relacionada algebricamente com a função momento fletor (esforço interno) da viga, pode- mos obter a equação da linha elástica por sucessivas integrações. A equação 32 ilustra essa relação, considerando uma rigidez à flexão (E/) constante: d2y = M(x) dx2 E/ (33) A curvatura é a entidade física que representa a taxa de variação da rotação (deslocamento angular) da linha elástica, de forma que: dy J M(x) -= -~ (3~ dx E/ Por sua vez, a rotação representa a taxa de variação do deslocamento vertical: dy = 8(x) dx y= J 8(x)dx+c (35) (36) O método da integração, como o próprio nome sugere, é aplicado me- diante a determinação da função do momento fletor, integrando sucessiva- mente e determinando as con stantes de integração em relação às cond ições de contorno (sobretudo de vinculações) da estrutura. Dessa forma, pode- mos relacionar essas novas equações às equações de equilíbrio estático, resolvendo as indeterminações. Para visualizar melhor o método, consideremos uma viga engastada e simplesmente apoiada, de comprimento L, que está sujeita à ação de um momento puro MO (Figura 10). Observe que, para esse problema, t emos um grau de liberdade. RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 60 09/12/2020 17,39,33 MO A 8 Figura 10. Viga engastada indeterminada cam momento aplicado. Considerando as equações de equilíbrio, temos que: 'i..Fx =O ➔ HA = O (37) í..Fy = O ➔ VA = - VR (38) 'I.M8 =O ➔ MA+ M0 - Vi= O ➔ MA= Vi - M0 (39) Como estamos diante de uma viga estaticamente indeterminada, não con- seguimos determinar diretamente as reações de apoio. Assim, empregaremos o método da integração para providenciar mais equações para a análise. Para tanto, devemos analisar a função momento fletor, que pode ser obtida através do diagrama de corpo livre: 'I.M5 =O ➔ M + MA - VAx =O ➔ M = VAx - MA d2y M(x) d2y VAX - MA -- =-- ➔ --= dx2 E/ dx2 E/ (40) (41) Considerando constante o termo E/ e prosseguindo com a primeira integra- ção, obteremos a função de inclinação da linha elástica: dy 5vx-M - = 8(x) = A A dx dx E/ (42) dy = 8(x) =J-1 [ VA x2 - M x + e ] dx E/ 2 A 1 (43) y(x) = f ;, [ ~A X2 -MAX+ c1] dx (44) 1 [ V M ] Y(x) = - ....L x3 - --2 x2 + e x + e E/ 6 2 1 2 (45) RES ISTÊNCIA DOS MATERIAIS APLICADA . 1 SER_ENGCIV _RMA_UNIJJ2.indd 61 09/12/2020 17,39,33 As incógnitas referentes às constantes de integração podem ser determ ina- das quando utilizamos condições de contorno adequadas. Repare que no pon- to A, onde x vale O, temos restrição de rotação e deslocamento vertical. Dessa observação, podemos retornar às equações 42 e 44, determinando: B(x = O) = O ➔ - 1- [~ 02 - M · O + e ] = O ➔ e = O E/ 2 A 1 1 (46) 1 [ V M ] y(x = O) =O ➔ - ....:i 03 -....! 02 + O ·O+ c 2 ➔ e = O E/ 6 2 2 (47) Dessa forma, a equação da linha elástica resume-se à equação 47: 1 [ VA MA ] y(x) = - - 01--x E/ 6 2 2 (48) A equação da linha elástica contém as variáveis de reação as quais necessi- tamos determinar no problema da viga. Contudo, utilizá-la diretamente intro- duziria a variável de deslocamento vertical y(x). Para contornar esse problema, utilizaremos mais uma condição de contorno, no caso, o deslocamento vertical do apoio B, que é nulo, para a distância igual ao comprimento do vão. 1 [V M ] V M y(x = L) = O ➔ - ....:i L 3 - ....! L2 = O ➔ ....:i L3 - ....! L2 = O E/ 6 2 6 2 (49) Substituindo a equação 48 pela equação 38, podemos determinar a reação vertical no ponto A: VA L3_(Vi-MJ L2=0 ➔ V = 3Mo 6 2 A 2L (50) Retornando na equação 38, agora podemos determinar a reação de momen- to no engastamento, bem como a reação vertical no apoio B pela equação 37. ( 3M0 ) M0 M =V L-M ➔ M = -- L-M ➔ M = - A A o A 2L o A 2 3M 0 V =-V ➔ V=--- A B B 2L (51) (52) Dessa forma, a equação da linha elástica pode ser determinada substituin- do as reações de apoio na expressão
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