Prévia do material em texto
gente criando o futuro DIREITO EMPRESARIAL Organizadora Livia Regina de Figueiredo DIREITO EMPRESARIAL Organizadora Livia Regina de Figueiredo Direito Em presarial GRUPO SER EDUCACIONAL C M Y CM MY CY CMY K Direito Empresarial eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 1eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 1 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 © by Editora Telesapiens Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora Telesapiens. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Bibliotecário responsável: Nelson Oliveira da Silva – CRB 10/854) F475d Figueiredo, Livia Regina de. Direito empresarial[recurso eletrônico]/ Livia Regina de Figueiredo. – Recife: Telesapiens, 2020. 232 p. : pdf ISBN: 978-65-86073-03-4 1. Direito empresarial I. Título. CDU 347.72 eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 2eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 2 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial Fundador e Presidente do Conselho de Administração: Janguê Diniz Diretor-Presidente: Jânyo Diniz Diretor de Inovação e Serviços: Joaldo Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria de Ensino a Distância: Enzo Moreira Créditos Institucionais Todos os direitos reservados 2020 by Telesapiens eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 3eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 3 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Olá. Meu nome é Livia Regina de Figueiredo. Sou Bacharel em Direito, Pós-graduada em Magistério Superior em Direito, cursei Mestrado em Direito e Desenvolvimento e, atualmente, curso o Doutorado em Direito Privado na Universidade de Salamanca, na Espanha. Advogo desde 1989 e há alguns anos presto serviços para grandes grupos econômicos na área de medicamentos e alimentos. Amo advogar e sou apaixonada pela docência. Também gosto muito de compartilhar minha experiência com aqueles que estão iniciando suas vidas profissionais. Em razão da minha experiência e qualificação fui convidada pela Editora Telesapiens para integrar o seu elenco de autores independentes e me sinto muito honrada com esse convite. Estou feliz por ajudá-lo nesta fase de estudo e trabalho. Tenho certeza de que o seu esforço e empenho nos estudos lhe trará muito sucesso. A AUTORA LIVIA REGINA DE FIGUEIREDO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 4eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 4 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 ICONOGRÁFICOS Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem significam: OBJETIVO Breve descrição do objetivo de aprendizagem; + OBSERVAÇÃO Uma nota explicativa sobre o que acaba de ser dito; CITAÇÃO Parte retirada de um texto; RESUMINDO Uma síntese das últimas abordagens; TESTANDO Sugestão de práticas ou exercícios para fixação do conteúdo; DEFINIÇÃO Definição de um conceito; IMPORTANTE O conteúdo em destaque precisa ser priorizado; ACESSE Links úteis para fixação do conteúdo; DICA Um atalho para resolver algo que foi introduzido no conteúdo; SAIBA MAIS Informações adicionais sobre o conteúdo e temas afins; +++ EXPLICANDO DIFERENTE Um jeito diferente e mais simples de explicar o que acaba de ser explicado; SOLUÇÃO Resolução passo a passo de um problema ou exercício; EXEMPLO Explicação do conteúdo ou conceito partindo de um caso prático; CURIOSIDADE Indicação de curiosidades e fatos para reflexão sobre o tema em estudo; PALAVRA DO AUTOR Uma opinião pessoal e particular do autor da obra; REFLITA O texto destacado deve ser alvo de reflexão. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 5eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 5 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 SUMÁRIO UNIDADE 01 Personificação das sociedades, contrato e registro mercantil .12 A união das pessoas com um fim comum ......................... 12 Pessoa jurídica ................................................................. 14 Sociedade e empresa ......................................................... 16 Elementos essenciais do contrato ..................................... 17 Registros mercantis ......................................................... 23 Importância dos registros mercantis .................................. 23 Atos constitutivos ............................................................. 24 Concretização do registro mercantil .................................. 25 Trâmite dos registros – controle e fiscalização .................. 27 Do sigilo ........................................................................... 35 O significado do sigilo ...................................................... 35 Nome empresarial ............................................................. 38 Estabelecimento empresarial ............................................. 42 Microempresas e empresas de pequeno porte ................ 43 eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 6eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 6 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Compreendendo o significado das microempresas e empresas de pequeno porte ............................................................... 44 Sociedades simples e sociedades empresárias .................. 46 Sociedades não personificadas .......................................... 48 UNIDADE 02 Teoria geral do direito empresarial ................................ 54 Sociedades Empresárias .................................................... 54 Classificação quanto à sua natureza ............................ 54 Sociedade unipessoal ................................................. 60 Sociedade limitada entre cônjuges ............................. 64 Capacidade jurídica empresarial ................................... 67 Capacidade civil empresarial ............................................ 67 O Capital social e a sua integralização ........................... 75 O significado do capital social ......................................... 75 Alterações Contratuais e o Registro das Modificações ...... 78 Administração e representação social ............................ 80 O significado da administração ......................................... 80 Lucros e perdas ................................................................. 82 eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 7eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 7 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direitos e obrigações dos sócios ....................................... 83 Relações jurídicas e sociais ............................................... 85 UNIDADE 03 Dissolução da sociedade ................................................. 92 Dissolução das sociedades ................................................ 92 Transformação .................................................................. 93 Incorporação ..................................................................... 94 Fusão ................................................................................ 95 Cisão ................................................................................. 96 Direito de terceiros ........................................................... 97 Regras para a dissolução da sociedade .............................. 99 Dissolução Parcial da Sociedade .............................. 102 Dissolução total da sociedade ..................................105 Liquidação das sociedades .............................................. 106 Desconsideração da personalidade jurídica ..................111 A desconsideração da pessoa jurídica ...............................111 Recuperação de empresas ............................................. 115 Lei de Recuperação e Falência de Empresas ................... 115 eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 8eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 8 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Pessoas jurídicas na lei 11.101/2005 - LRF ..................... 117 Aspectos processuais relevantes da LRF ......................... 120 Comitê de credores ......................................................... 124 Assembleia-geral de credores .......................................... 125 Recuperação judicial ....................................................... 126 Microempresas e empresas de pequeno porte .................. 133 Falência .......................................................................... 135 Compreendendo o significado da falência ...................... 135 UNIDADE 04 Sociedades empresárias ................................................ 142 Da sociedade comercial à sociedade empresária .............. 142 Sociedades personificadas ............................................. 147 Classificação das sociedades personificadas .................... 147 Sociedades simples .................................................. 148 Sociedade limitada ................................................... 150 Sociedade em nome coletivo .................................... 156 Sociedade em comandita simples ............................. 160 Sociedades personificadas por ações ............................ 165 eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 9eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 9 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Sociedades anônimas ...................................................... 165 Das ações ................................................................. 173 Constituição das Sociedades Anônimas .................... 179 Valores mobiliários .................................................. 183 Capital social ........................................................... 185 Administração social ................................................ 187 Direitos e deveres dos acionistas .............................. 195 Demonstrações contábeis e partilha do lucro e prejuízos .200 Dissolução da sociedade anônima ............................ 203 Sociedade em comandita por ações ................................. 206 Sociedades cooperativas ................................................ 208 O nascimento do cooperativismo ................................... 208 eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 10eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 10 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial 11 UNIDADE 01 INTRODUÇÃO AO DIREITO EMPRESARIAL eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 11eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 11 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial12 INTRODUÇÃO Você sabia que a área do direito empresarial é uma das mais importantes demandas na atual realidade brasileira e mundial? O empreendedorismo é cada vez mais incentivado nos países ocidentais e a iniciativa privada não pode prescindir de advogados especializados no Direito Empresarial. Cada vez mais, grandes escritórios e empresas buscam advogados especializados para assessoria na área, que também remunera bem esses especialistas. Nesta unidade estudaremos sobre a sociedade empresária e os empresários, os atos constitutivos e o registro das sociedades e, por fim, os direitos e obrigações das pessoas jurídicas. Tenho certeza de que você amará essa introdução dos meandros do Direito Empresarial. Vamos começar? eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 12eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 12 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial 13 OBJETIVOS 1 2 3 4 Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 01 – Teoria Geral do Direito Empresarial. Nesta unidade, o nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das seguintes competências profissionais: Compreender o empresário individual e a sociedade empresária; Conhecer os requisitos e as razões legais para o registro mercantil; Entender os trâmites para os registros; Entender a razão dos procedimentos simplificados para micro e pequenos empresários. Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 13eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 13 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial14 Personificação das sociedades, contrato e registro mercantil A união das pessoas com um fim comum Os interesses sociais têm sua base na assunção de obrigações, cujas fontes estão na lei, nas declarações unilaterais de vontade, nos contratos e nos atos ilícitos. A lei é classicamente definida como norma escrita emanada de um poder competente e é base para as relações sociais, por força do art. 5°, inciso II, da Constituição Federal, que reza: “ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei”. OBJETIVO Neste capítulo você aprenderá como se formam as sociedades e quais as exigências legais para os registros mercantis, lembrando que podem nominar as relações jurídicas empresariais como Direito Empresarial, termo preferido pelos civilistas, ou como Direito Comercial, termo contido na Constituição Federal. Além disso, o Código Civil de 2002 revogou apenas a parte geral do Código Comercial de 1850, seguindo vigente a parte especial. Conhecer as exigências legais para a formação e desempenho das sociedades, bem como a importância dos registros e os riscos da sua ausência, é importante para que você entenda, posteriormente as características de cada uma das espécies de sociedades e seu papel no nicho de mercado que ocupam. E então, motivado para desenvolver essa competência e vencer? Vamos lá? eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 14eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 14 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial 15 As declarações unilaterais de vontade obrigam apenas aqueles que as firmam. Subdividem-se em unilaterais, quando as obrigações são apenas de quem firma o documento, a exemplo do doador ou do emitente de um cheque, e bilaterais ou plurilaterais, quando as obrigações são mútuas, como no caso dos contratos. Os contratos são negócios jurídicos bilaterais ou plurilaterais que obrigam dois ou mais contratantes, cuja vontade converge para a concretização de interesses comuns. Quanto aos seus efeitos estes podem ser unilaterais pois se obrigam apenas uma das partes, ou bilaterais, pois se obrigam duas ou mais partes. Atos ilícitos ou antijurídicos são faculdades de agir direcionadas para a infração às leis penais ou civis, que podem ou não resultar em danos e no consequente dever de ressarcir a lesão. Ao longo da história, as pessoas uniram esforços para produzir e comercializar mais e melhor, obtendo maiores lucros, inicialmente reunidas em pequenos grupos familiares. Com a Revolução Industrial, expandiram essa união e formaram sociedades empresarias, que por sua vez evoluíram para as atuais pequenas, médias e grandes empresas com atuação em todos os segmentos econômicos. Essa diversidade e quantidade de sociedades comerciais precisaram ser regulamentadas para exercerem a função social que lhes é designada pela Constituição Federal. Dessa forma, de 1850a 2003, quando entrou em vigência o Código Civil de 2002, as relações empresariais foram regulamentadas no Brasil pelo Código Comercial. Nos dias atuais, o Direito Empresarial está regulamentado no Código Civil de 2002, que define as regras gerais para a constituição e gestão das sociedades empresárias e não empresárias. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 15eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 15 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial16 Porém, o Código Comercial não foi integralmente revogado. A parte especial segue vigente e regulamenta o comércio marítimo, as quebras e falências. Pessoa jurídica Acreditamos que você já tenha ouvido falar no termo Pessoa Jurídica (PJ). Vejamos o que a ciência jurídica diz sobre isso. Pessoa Jurídica é um termo extremamente amplo, que abrange tanto organizações da área pública como da área privada. Pode referir-se a órgãos públicos, autarquias, empresas e fundações públicas, e empresas privadas de qualquer porte. A Pessoa Jurídica é definida como uma entidade criada nos termos da lei, com finalidade específica, dotada de personalidade jurídica própria e independente dos seus representantes legais, detentora de honra subjetiva (pode sofrer dano moral), que se subdivide em pessoa jurídica de direito público, interno ou externo, e de direito privado (art. 40, CC). Vejamos a seguir a sua subdivisão. a. Pessoas jurídicas de direito público externo: são os Estados dotados de soberania, como: os Estados Unidos, a França, a China, a Argentina, dentre outros, além dos organismos internacionais dotados de personalidade jurídica regida pelo direito internacional público, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) etc. (art. 42, CC). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 16eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 16 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial 17 Figura 1 – Logotipo da ONU Fonte:Pixabay Você sabe o que é a ONU? A ONU é uma organização intergovernamental criada para promover a cooperação internacional. b. Pessoas jurídicas de direito público interno: considera- se a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios – lembrando que na atual organização estatal não temos territórios –, os municípios, as autarquias (INSS, agências reguladoras, etc.), as associações públicas (consórcios públicos, Lei nº 11.107/2005), as fundações públicas, e todas aquelas a que a lei conferir este status (art. 41, CC). Todas as pessoas jurídicas de direito público interno são criadas por lei, que estabelece se elas submeter-se-ão ao regime público ou ao regime privado do Código Civil. São também civilmente responsáveis pelos atos praticados pelos seus agentes, que resultarem em danos a eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 17eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 17 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial18 terceiros, ressalvado o direito regressivo contra os causadores do dano em caso de culpa ou dolo (art. 43, CC). c. Pessoa jurídica de direito privado: são pessoas jurídicas constituídas com base no princípio da liberdade e da autonomia privada, fundadas em relações e interesses particulares, com objetivo lucrativo ou filantrópico, criadas a partir dos registros dos seus atos constitutivos nas Juntas Comerciais ou nos Cartórios do Registro Civil das Pessoas Jurídicas. São pessoas de direito privado as associações, as sociedades, as fundações, as organizações religiosas, os partidos políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada. Com base nos recursos utilizados para a sua constituição, as empresas privadas podem ter caráter público, se o capital em sua maior parte vier do Poder Público, ou privado, se o capital em sua maior parte vier de fonte privada (art. 44, CC). No tópico a seguir apresentaremos os conceitos de sociedade e empresa. Vejamos. Sociedade e empresa Ao longo dos seus estudos você deve ter aprendido o conceito de sociedade e o que os autores da área das ciências sociais tem a dizer a esse respeito. Também deve ter estudado as características atribuídas pelos estudiosos com relação a sociedade. Então, para você, qual o conceito de sociedade? Ao responder a indagação anterior é comum falarmos que a sociedade é composta por pessoas que possuem por objetivo o bem comum. E o que significa empresa? Pois bem, a sociedade e a empresa não são institutos sinônimos. Agora, vejamos o que a ciência jurídica tem a nos dizer sobre isso. A sociedade é a forma jurídica resultante da união de uma ou mais pessoas que objetivam alcançar um fim comum. Em uma sociedade prevalecem os interesses dos sócios, mas é a lei que regulamenta as suas obrigações, a sua estrutura interna e a eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 18eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 18 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial 19 responsabilidade civil perante terceiros. O Código Civil divide as sociedades entre empresárias e não empresárias ou simples. Já a empresa é a atividade econômica. Para a caracterização da empresa o importante é a forma “como” a atividade econômica é desenvolvida. Por esta razão ela é mais abrangente que a sociedade, pois envolve os interesses dos sócios e de terceiros, como empregados, consumidores, fornecedores, Fisco etc. A sociedade pode existir sem que haja uma empresa, da mesma forma que uma empresa pode existir sem que haja uma sociedade. Exemplos disso são o MEI, o Empresário Individual e a EIRELI, nos quais não há sócios e centram na pessoa de um único indivíduo os direitos e obrigações empresariais; e as sociedades simples, ou não empresariais, que exercem atividades voltadas para a produção de bens e serviços. Um outro ponto importante refere-se ao contrato. Abordaremos a seguir a sua definição e os seus elementos essenciais. Elementos essenciais do contrato Muitos de nós já assinamos um contrato de aluguel de um imóvel, um contrato de prestação de serviços ou até mesmo um contrato de franquia. Mas o que seria um contrato? Qual a sua importância? Para que serve um contrato? Ao longo desse tópico iremos responder aos questionamentos anteriores. Os contratos podem ser definidos como um acordo entre duas ou mais pessoas, de caráter patrimonial, fundado na boa- fé e na função social, que tem por finalidade regulamentar e delimitar interesses comuns, de acordo com o estabelecido na ordem jurídica brasileira, e por objetivo a aquisição, alteração e extinção de direitos em proveito econômico das partes. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 19eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 19 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial20 São princípios formadores do contrato: a. Autonomia da vontade: é a exteriorização de vontade das pessoas físicas e jurídicas na prática de atos jurídicos, para determinar a sua forma, efeitos e conteúdo sempre que não contrariem as leis, a ordem pública e os bons costumes. Abrange todos os aspectos dos negócios jurídicos, inclusive as opções de contratar, distratar ou não contratar. b. Consensualismo: é a essência do contrato, o acordo mútuo acerca do seu objeto. Pode ser manifestado de forma verbal ou escrita, expressa ou tácita. Subdivide-se em: consensualismo puro quando se trata de acordo de vontades, tendo como exemplo o contrato de compra e venda (art. 482, CC); consensualismo real, quando além do acordo de vontades ocorre a tradição da coisa, tendo como exemplo o comodato (art. 579, CC) e o contrato de depósito (art. 627, CC). c. Obrigatoriedade ou forçaobrigatória: esse princípio é expresso no direito pelo brocardo latino pacta sunt servanda, ou seja, o que foi pactuado em contrato deve ser respeitado e cumprido pelas partes. É um princípio do liberalismo de que o contrato faz lei entre as partes. Esse princípio é relativizado pela cláusula rebus sic stantibus, ou seja, enquanto as condições contratadas não se alterarem criando ônus que torne difícil para qualquer das partes cumprir o acordado. É a chamada Teoria da Imprevisão. d. Relatividade dos efeitos: segundo esse princípio, os efeitos dos contratos só obrigam as partes contratante e contratada, vinculando-as ao objeto do contrato, e não atingem terceiros ou o seu patrimônio. e. Boa-fé: se traduz pela boa intenção, lealdade e confiança que deve nortear as partes contratantes desde a formação até a execução do contrato (arts. 113 e 422 do CC). A boa-fé contratual se subdivide em: objetiva - é um dever de conduta, de honestidade mútua que traduz pelo repeito de uma parte com eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 20eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 20 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial 21 relação à outra; subjetiva - é um valor interno, uma qualidade das partes de dizer aquilo em que acreditam e ter convicção no que dizem. f. Probidade: é o dever de honestidade, decoro, eticidade e lealdade contratual que deve nortear os atos das partes contratante e contratada durante toda a relação contratual. g. Equilíbrio econômico: o princípio do equilíbrio econômico decorre do princípio constitucional da igualdade substancial (art. 3°, III, CF) e se traduz por paridade, simetria nas prestações recíprocas contratadas, de forma a evitar que, diante de fatos concretos, uma das partes seja excessivamente onerada pelas obrigações contratadas, em detrimento do benefício ou lucro monetário muito superior da outra parte. Vantagens e encargos devem estar sempre em equilíbrio e em harmonia para as partes contratante e contratada. h. Função social: o princípio da função social do contrato decorre do princípio da solidariedade e está ligado não só à proteção dos interesses privados em favor do ser humano, mas à própria dignidade da pessoa humana (art. 421 e parágrafo único do art. 2.035, CC). É um conceito aberto que extrapola os interesses unicamente privados para abranger toda a sociedade e o seu bem-estar. Isso significa dizer que o contrato deve ser instrumento de progresso e pacificação social. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 21eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 21 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial22 Além do respeito e obediência aos princípios, a norma civil exige, para a validade dos negócios jurídicos que os agentes sejam capazes, que o objeto do contrato seja lícito, possível, determinado ou determinável, e que obedeça à forma prescrita ou não defesa em lei. A capacidade é uma qualidade mental do contratante para exercer os atos da vida civil. Está ligada à consciência do sujeito quanto ao ato em si e às consequências e responsabilidades que advêm das suas escolhas (art. 972, CC). Isso não significa que os incapazes ou os relativamente capazes não possam contratar. Os interditos (incapazes) ou curatelados (relativamente capazes) podem fazê-lo por meio de pessoas que os representem legalmente (art. 974, III). A Lei nº 13.146/2015, chamada Estatuto da Pessoa com Deficiência, por sua vez, tem por norte a plena integração na sociedade das pessoas com deficiência, estimulando a sua participação na economia nacional, na medida da sua capacidade física e mental, seja através de empregos públicos ou privados, seja participando como sócios ou cotistas em empresas, independente do seu porte. O objeto lícito, possível, determinado ou determinável: a. Licitude: se traduz por objeto que não esteja em desacordo com as leis; +++ EXPLICANDO DIFERENTE A lei relativiza o pacta sunt cervanda em prol da igualdade e da harmonia social, ordenando que o contrato seja um instrumento de progresso em favor da sociedade. Por isso, as cláusulas contratuais que ofendem a ordem pública e a dignidade da pessoa humana são nulas de pleno direito. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 22eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 22 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial 23 b. Possível: é sinônimo de viável, de objeto que possa ser concretizado. Ninguém pode contratar uma viagem de turismo para o sol, pois, por impossibilidade absoluta, é impossível concretizar o traslado e a estadia no sol. Mas alguém pode contratar uma viagem para a lua, pois existe tecnologia para isso, o que torna a impossibilidade relativa, dependente de condições externas para a concretização do objeto. Exemplo são as condições físicas do viajante, que durante os meses de preparação para a viagem passa de 70 Kg a 150 kg de massa corporal. O peso excessivo inviabiliza uma viagem ao espaço, mas, como a impossibilidade relativa está no plano das eficácias, isso pode ser revertido se o contratante emagrecer e voltar aos 70 Kg. c. Determinado ou determinável: determinado é o objeto que pode ser perfeitamente identificado e delimitado, como, por exemplo, uma casa e os limites do seu terreno. Determinável é um objeto que pode ser identificado no momento da assinatura do contrato em seus elementos mínimos, mas que será delimitado e melhor especificado no futuro. Um exemplo de determinável é a compra de uma unidade habitacional em regime de cooperativa, cujas unidades serão sorteadas entre os compradores depois do prédio pronto. Em resumo, são três os elementos essenciais do contrato: a res, o pretium e o consensum, ou seja, a coisa objeto do contrato, o preço e a livre vontade de contratar. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 23eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 23 29/07/2020 18:33:5829/07/2020 18:33:58 Direito Empresarial24 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Agora, para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você deve ter aprendido no capítulo o conceito de sociedade e empresa e viu o que a ciência jurídica tem a dizer sobre isso. Também lhe foi apresentado o conceito de contrato, sua finalidade e importância. O contrato é uma celebração entre duas ou mais pessoas com um propósito; seria um acordo entre duas ou mais vontades na conformidade da ordem. É um vínculo jurídico resguardado pela segurança jurídica. As empresas iniciam sua vida por meio de um contrato ou um estatuto, que deve ser levado a registro na Junta Comercial. A importância dos registros dos trâmites legais para aquisição de personalidade jurídica pelas empresas permite que elas negociem, recolham impostos e se desenvolvam no nicho de mercado onde desempenham as suas atividades. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 24eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 24 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 25 Registros mercantis Importância dos registros mercantis A partir da Revolução Industrial os atos negociais se diversificaram de tal modo que se tornou imprescindível para os Estados estabelecer uma forma de controle sobre as empresas responsáveis pela produção e circulação de bens e serviços, inicialmente para o recolhimento dos impostos e, no decorrer dos anos, na medida que a dignidade da pessoas humana passou a ser mais e mais valorada, também para facilitar a fiscalização das atividades, a segurança dos trabalhadores, o acatamento das leis trabalhistas, etc. Atualmente, os registros públicos mercantis são serviços públicos prestados por órgãos federais e estaduais paradar vida às pessoas jurídicas, guardar o histórico dos seus atos - do registro inicial à extinção -, e publicitar esses atos para conhecimento de toda a sociedade. Os registros mercantis e atividades afins estão regulamentados em Lei Especial, Lei nº 8.934/94, são obrigatórios em todo território nacional e devem ser feitos de forma sistêmica por órgãos federais, estaduais e distrital, com as seguintes finalidades: OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender a importância dos registros mercantis e dos atos constitutivos. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 25eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 25 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial26 “Art. 1°. (...) I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei; II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes; III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento.” O registro confere credibilidade aos atos empresariais, criando presunção relativa de verdade aos negócios jurídicos e aos atos negociais, protege o nome empresarial e os direitos da empresa frente à concorrência desleal, garante externalidades positivas para a sociedade ao reduzir riscos para quem negocia com as empresas e possibilita ao Estado administrar a tributação do sistema econômico. A única exceção à imposição legal do registro diz respeito à atividade rural. Mas, em que pese facultativo, uma vez efetuado o registro, o empresário rural equipara-se aos empresários para todos os efeitos legais (art. 971, CC). Atos constitutivos Ato constitutivo é o documento inicial para registro da vontade do empresário de constituir empresa. Regra geral é um Contrato Social ou, no caso da empresa individual, uma Declaração de Empresário, nos quais constará o tipo jurídico da empresa, o objetivo social, as regras para o funcionamento e a administração, os bens que integrarão o patrimônio da empresa, os direitos e obrigações dos sócios, a forma como se dará a dissolução da sociedade e a destinação final dos bens, etc. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 26eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 26 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 27 Os atos constitutivos são elaborados pelo próprio interessado ou pelos seus contadores e, posteriormente, levados a registro nos termos do Código Civil, Lei Complementar nº 123/2006, Lei nº 11.107/2005, Lei nº 8.934/1994, Lei nº 6.404/1976, dentre outros diplomas legais, dependendo da exigência legal para cada tipo empresarial. Concretização do registro mercantil Para o exercício do registro público, a Lei nº 8.934/94 criou o Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (SINREM), integrado pelo Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração, gestor central técnico, normativo e administrativo, e pelas Juntas Comerciais, órgãos locais que executam e administram os serviços registrais. O Código Civil também estabelece regras para os registros públicos de empresas mercantis, mas, em que pese a exigência do registro de empresário antes do início da atividade empresarial (art. 967, CC), esse ato é meramente declaratório frente à exigência legal do exercício profissional e habitual de atividades efetivamente empresariais para a constituição de empresário (art. 966, CC). Ou seja, mesmo que o empresário ou a sociedade não estejam registrados na Junta Comercial antes do início das suas atividades, ainda assim serão considerados empresário individual ou sociedade empresária, nos termos do Enunciado 198, do Conselho da Justiça Federal, muito embora sofram as consequências limitativas da falta do registro, como a impossibilidade de requerer recuperação judicial (art. 48, Lei 11.101/2005): Cada estado-membro da federação tem uma Junta Comercial, responsável por executar e administrar os registros empresariais. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 27eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 27 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial28 Para efetivar a inscrição o empresário deve atender também as formalidades legais do art. 968, do Código Civil, e protocolar um requerimento na Junta Comercial do estado onde exercerá suas atividades, no qual conste a sua qualificação completa (nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens), assinatura autógrafa ou digital, o capital da empresa, seu objeto e sede, e esteja visado por advogado, exigência da Lei 8.906/94, art. 1°, parágrafo 2°. Pelo fato das Juntas Comerciais integrarem a estrutura administrativa dos estados-membros, elas se submetem tecnicamente ao Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração, órgão central do Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (SINREM), que é federal, mas administrativamente segue as regras administrativas estatais. Por isso, não são raras as variantes protocolares e de prazos administrativos nas Juntas Comerciais dos diferentes estados-membros. Esse caráter híbrido interfere também na competência jurisdicional. A análise judicial dos atos técnicos do registro de empresa no Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração, órgão do SINREM, é de competência da Justiça Federal; já a dos atos administrativos de competência exclusivamente das Juntas Comerciais é de competência da Justiça Estadual (art. 8°, da Lei nº 8.934/1994). Filiais, sucursais ou agências abertas em estado diferente daquele no qual foi feito o registro da matriz devem ser registradas na Junta Comercial estadual mediante apresentação da inscrição originária. Estabelecimentos secundários, ainda que na mesma sede da matriz, também devem ser registrados (art. 969 e parágrafo único, CC). Para efeitos jurídicos: filial é um estabelecimento subordinado à matriz, mas que tem gestão própria; sucursal é um ponto de negócio acessório, subordinado à matriz administrativamente; agência é um estabelecimento que atua de forma intermediária em prestação de serviços. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 28eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 28 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 29 Para efeitos de competência jurisdicional territorial, a súmula 363 do Supremo Tribunal Federal estabelece que “a pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato”. Neste sentido também o art. 75, parágrafo 1°, do Código Civil: “tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados”. Porém, se no local da prática do ato ou do evento danoso não houver agência ou estabelecimento, a competência é do juízo da sede da empresa. A exceção à exigência do registro na Junta Comercial é o processo de abertura, registro, alteração e baixa das microempresas e empresas de pequeno porte, cujo trâmite é especial, simplificado e eletrônico, sendo possível a dispensa das informações relativas a estado civil e regime de bens, remessa de documentos e firma (art. 4°, parágrafo 1°, inciso I, Lei Complementar 123/2006, c/c o art. 468, parágrafo 4°, do CC). Trâmite dos registros – controle e fiscalização Nos termos do art. 8°, da Lei nº 8.934/1994, a competência das Juntas Comerciais é executiva e todos os seus atos devem ser publicitados através de publicação no Diário Oficial dos Estados ou do Distrito Federal, conforme o caso. Ou seja, cabe a ela executar os atos de registro dos empresáriosque se dividem em matrícula, cancelamento, arquivamento e autenticação (art. 32, Lei nº 8.934/1994). Conheça os termos a seguir: a. Matrícula: é o ato de registro nas Juntas Comerciais de profissionais específicos: leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais; eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 29eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 29 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial30 b. Cancelamento: é o ato de revogação do registro de matrícula. A inscrição do nome empresarial, a requerimento do interessado, será cancelada quando cessar o exercício da atividade empresária ou quando a sociedade for liquidada (art. 1.168, CC). c. Arquivamento: é o ato de registro nas Juntas Comerciais dos atos constitutivos do empresário individual e das sociedades empresárias. São arquivados: os documentos de constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas; os atos relativos a consórcio e grupo de sociedades anônimas (Lei nº 6.404/1976); os atos de empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil; as declarações de microempresa; os atos ou documentos legalmente atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, ou que interessem ao empresário e às empresas mercantis; d. Autenticação: é o ato de registro dos livros empresariais obrigatórios, destinados à escrituração contábil das empresas mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio. Esse é um pré-requisito de regularidade contábil e está previsto também no art. 1.181, do Código Civil. Como o objetivo primeiro do ato registral é a publicidade, antes de formalizado, ele não pode ser oposto a terceiros, exceto quando provado que este o conhecia. Porém, concretizado o registro, é vedado ao terceiro alegar desconhecimento (art. 1.154 e parágrafo único, CC). A proteção do nome empresarial é consequência automática dos atos de registro (art. 33, Lei 8.934/1994). Os seguintes órgãos integram as juntas comerciais: [...] a Presidência, como órgão diretivo e representativo; o Plenário, como órgão deliberativo superior; as Turmas, como órgãos deliberativos inferiores; a Secretaria Geral, como órgão administrativo; a Procuradoria, como órgão de fiscalização eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 30eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 30 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 31 e de consulta jurídica; e, a critério de cada uma, assessoria técnica constituída por advogados, economistas, contadores ou administradores de empresa. (art. 9°, Lei nº 8.934/1994) O plenário é composto por vogais e suplentes, formado por brasileiros natos ou naturalizados de conduta ilibada, em gozo dos direitos civis e políticos, quites com o serviço militar e com as obrigações eleitorais, nomeados pelos governos dos Estados e do Distrito Federal para mandatos de 04 anos, permitida uma recondução (art. 11 e 16, Lei nº 8.934/1994). Às Turmas, compostas por 03 vogais, cabe julgar originariamente os pedidos de registro, à Secretaria Geral cabe executar os serviços de registro e administração das Juntas Comerciais, e à Procuradoria cabe fiscalizar e promover o cumprimento das normas legais e executivas, oficiando interna e externamente em atos e feitos de natureza jurídica, inclusive judiciais (arts. 23 a 28, Lei nº 8.934/1994). Os interessados têm prazo de 30 dias corridos da assinatura dos documentos descritos no inciso II, do art. 32, da Lei nº 8.934/1994, para protocolar os documentos para arquivo na Junta Comercial, que serão decididos pelos vogais de forma singular em dois dias úteis, com efeitos ex tunc, ou seja, retroagindo à data da assinatura pelos sócios. Protocolado extemporaneamente, o efeito é ex nunc, ou seja, o arquivamento será decidido no mesmo prazo de dois dias úteis, mas a eficácia se dará a partir da data do despacho que o deferir (art. 36, Lei nº 8.934/1994). O Código Civil praticamente replica o art. 36, da Lei nº 8.934/1994, no art. 1.151, mas acrescenta no inciso 3°, norma de responsabilidade civil pela demora ou omissão do responsável por providenciar os registros: Art. 1.151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 31eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 31 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial32 de omissão ou demora, pelo sócio ou qualquer interessado. § 1° Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos. § 2 Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito a partir da data de sua concessão. § 3 As pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em caso de omissão ou demora. Alguns atos, pelo nível de complexidade envolvido no exame dos documentos e consequências advindas dos registros, são julgados de forma colegiada, no prazo de cinco dias úteis, o arquivamento dos atos de constituição das sociedades anônimas, atas de assembleias gerais, dentre outros atos sujeitos ao Registro Público, os atos de transformação, incorporação, fusão e cisão de empresas mercantis, e os atos de constituição e alterações de consórcio e de grupo de sociedades nos termos da Lei nº 6.404/1976, que dispões sobre as Sociedades por Ações, e, finalmente, o julgamento dos recursos interpostos contra decisões singulares dos vogais. Os prazos para recursos ao Plenário, sem efeito suspensivo, são de 10 dias úteis para o interessado. A Procuradoria, se não interpôs o recurso, é ouvida no mesmo prazo e, posteriormente, o feito julgado no prazo de 30 dias. Da decisão do Plenário cabe recurso ao Ministro da Economia, Indústria, Comercio Exterior e Serviços em última instância administrativa. Importante ressalvar que, na análise dos documentos levados ao registro, as juntas comerciais analisam tão somente os aspectos formais exigidos nas leis. O exame de mérito do eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 32eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 32 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 33 contido nos documentos, o acordado entre sócios ou decidido em reuniões de acionistas não é competência das Juntas Comerciais. Algumas empresas, além do registro nas juntas comerciais, precisam ter registros em outros órgãos. Exemplo são as empresas de auditoria, que devem se registrar também na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Como os assentamentos nas juntas comerciais são públicos, qualquer pessoa, sem necessidade de justificar razões, pode consultar os atos registrados e pedir certidões, pagando taxas administrativas (art. 29, Lei nº 8.934/1994). Para desburocratizar os registros das empresas, a Lei Complementar nº 123/2006, criou a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (REDESIM), regulamentada pela Lei nº 11.598/2007, que na atual estrutura administrativa federal está sob gestão do Ministério da Economia, Indústria, Comercio Exterior e Serviços, e simplificou os atos de registro, que hoje podem, em grande parte, tramitar pela internet, e diminuiu prazos nos processos administrativos. ACESSE Acesse a REDESIM no site http://bit.ly/31P29E9, para conferir como as atividades de registro foram desburocratizadas pelo uso da internet. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 33eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 33 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial34 Os empresários individuaisou sociedades empresárias devem manter um sistema de escrituração contábil que varia de acordo com a complexidade das atividades produtivas e negociais. Diz o Código Civil: Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. § 1 Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados. § 2 É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970. Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico. A escrituração é tão importante que a lei que regulamenta a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, tipifica como crime a falta de elaboração, escrituração ou autenticação do livro contábil diário, antes ou após a decretação judicial da falência, concessão da recuperação judicial ou homologação do plano de recuperação extrajudicial, com pena de detenção de um a dois anos e multa, se o fato não constituir crime mais grave (art. 178 e 180, Lei 11.101). O livro diário pode ser substituído por um sistema de eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 34eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 34 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 35 lançamento de fichas e pelo livro Balancetes Diários e Balanços (art. 1.185 e 1.186, CC). Pelo Código Civil, afora o Livro Diário, balanço patrimonial e do de resultado econômico, os demais livros “em tese” seriam opcionais e para controle interno das empresas, como livro-caixa, razão, estoque etc. Porém, os dados inseridos no livro diário precisam ser comprovados através de informações contidas nos livros auxiliares, tornando-os obrigatórios por conexão. Leis trabalhistas, previdenciárias e fiscais, por sua vez, também exigem escrituração em livros específicos que, entretanto, não são considerados legalmente livros empresariais. São exemplos: os leiloeiros, que devem ter os Livros de Registro Diário de Entradas, Diário de Saída, Contas Correntes, Protocolo, Diário de Leilões e Livro Talão, por forma de comando legal contido nos arts. 31 e 32 do Decreto 21.981/1932; as Sociedades Anônimas, que devem ter os Livros de Registro de Ações Nominativas, Transferência de Ações Nominativas, Registro de Partes Beneficiárias Nominativas, Atas das Assembleias Gerais, Presença dos Acionistas, Atas das Reuniões do Conselho de Administração e Atas e Pareceres do Conselho Fiscal, nos termos do art. 100, da Lei nº 6.404/1976. Para fins penais, os livros mercantis são equiparados a documentos públicos e sua falsificação, no todo ou em parte, também é tipificada como crime de falsificação de documento público, com pena de reclusão de dois a seis anos e multa (art. 297, § 2.º, do Código Penal). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 35eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 35 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial36 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Então vamos ao resumo dos assuntos tratados. Você deve ter aprendido sobre a importância do registro mercantil bem como os trâmites do registro e a sua fiscalização. Também aprendeu sobre as juntas comerciais o seu significado. Você certamente entendeu que as sociedades empresariais nascem da vontade dos sócios (affectio societatis) ou acionistas (interesse no capital) em torno de um objetivo comercial comum. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 36eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 36 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 37 Do sigilo O significado do sigilo Muitas empresas, especialmente as de grande porte, investem em pesquisas, têm produtos protegidos por regras de patentes, investem dinheiro de pessoas que não querem, até por segurança, para não ter os seus nomes divulgados, dentre muitas outras situações que não devem se tornadas públicas. Pensando nisso, o legislador estabeleceu, no art. 1.190 do Código Civil, que ressalvados os casos previstos em lei, para exibição e/ou publicidade obrigatórios: [...] nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei. À primeira vista este artigo passa a impressão de que as empresas estão blindadas contra as ordens judiciais para a exibição dos seus livros e análise por juízes, peritos, fiscais, procuradores e outros operadores do direito, mas não é bem assim. Afinal, nos termos do entendimento consagrado pelo Supremo Tribunal OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender o que significa o sigilo, o nome empresarial e o estabelecimento comercial. Isto será fundamental para o seu aprendizado e estudos na área. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 37eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 37 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial38 Federal, nenhuma norma é absoluta e nem deve ser interpretada de forma isolada do restante do ordenamento jurídico. O que a lei veda neste artigo é a arbitrariedade; a solicitação e exibição dos livros sem uma razão respaldada na lei, protegendo-os da mera curiosidade alheia. Sempre que houver previsão legal os livros devem ser apresentados e podem ser examinados, e o próprio Código Civil elenca algumas exceções, como no art. 1.191 e 1.193: Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência. Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais. (grifo nosso) Mas, a Lei também teve o cuidado de restringir o exame dos livros aquilo que interessar para o esclarecimento do problema levado a exame judicial (art. 1.191, parágrafo 1°, CC). Há uma exceção importante também no art. 195 e parágrafo único da Lei nº 5.172/1966, Código Tributário Nacional, que torna sem aplicação quaisquer normas que excluam ou limitem os exames de mercadorias, livros, arquivos, documentos, papeis e efeitos comerciais ou fiscais de todos os empresários, até à prescrição, determinando ainda a obrigatoriedade da guarda de todos os livros e documentos até a sua ocorrência. A Súmula 439 do Supremo Tribunal Federal, por sua vez, reconhece o direito fiscalizador do Estado e a obrigação de exibição dos livros com limites: “estão sujeitos à fiscalização eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 38eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 38 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 39 tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação”. O Código de Processo Civil autoriza o juiz a ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral ou parcial dos livros empresariais e documentos de arquivo nos casos de liquidação de sociedade, sucessãopor morte de sócio ou quando e como determinarem as leis, extraindo deles o que interessar ao litígio, inclusive reproduções autenticadas (arts. 420 e 421, Lei nº 13.105/2015). A mesma norma estabelece que a recusa de exibição de documentos não será admitida quando a parte tiver o dever legal de exibi-lo, quando o objetivo da exibição é constituir prova e quando o documento, pelo seu conteúdo, for comum às partes, podendo o juiz penalizar a recusa na apresentação com a pena de confissão ou adotar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias para obrigar a exibição do documento. A Lei das Sociedades Anônimas, Lei nº 6.404/1976, prevê a exibição dos livros: Art. 105. A exibição por inteiro dos livros da companhia pode ser ordenada judicialmente sempre que, a requerimento de acionistas que representem, pelo menos, 5% (cinco por cento) do capital social, sejam apontados atos violadores da lei ou do estatuto, ou haja fundada suspeita de graves irregularidades praticadas por qualquer dos órgãos da companhia. E há outras normas no mesmo sentido, ou seja, a vedação de exibição prevista no Código Civil é relativa ante à previsão em várias normas legais de exibição dos livros mercantis, especialmente para fins de fiscalização e prova judicial. Um questionamento doutrinário é se os livros auxiliares, não obrigatórios, também precisam ser exibidos. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 39eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 39 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial40 A resposta é sim. Desde que haja previsão legal para a exibição de documentos, ordem judicial ou requisição justificada do fisco, os livros auxiliares devem ser exibidos. Além disso, a escrituração contábil é indivisível, não fazendo diferença como valor probante se os livros são obrigatórios ou auxiliares (art. 419, CPC). Esse entendimento encontra respaldo também no art. 1.194 do Código Civil, que ordena ao empresário e à sociedade empresária a guarda adequada de toda a escrituração, correspondência e demais papeis concernentes à sua atividade até a ocorrência da prescrição ou da decadência. Os micro e pequenos empresários, inclusive rurais, são desobrigados de manter escrituração mercantil, mas não são desobrigados da guarda dos documentos comprobatórios de renda e despesas (Decreto-Lei nº 486/69, Lei Complementar nº 123/2006, Lei nº Complementar 48/84, Decreto nº 3.474/2000, Decreto nº 9.580/2018). Por fim, cabe ressaltar o valor probante dos documentos empresariais, reconhecidos expressamente nos arts. 417 e 419 do Código de Processo Civil: Art. 417. Os livros empresariais provam contra seu autor, sendo lícito ao empresário, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. Art. 418. Os livros empresariais que preencham os requisitos exigidos por lei provam a favor de seu autor no litígio entre empresários. Nome empresarial O nome empresarial, ainda denominado popularmente “razão social”, recebe proteção especial da lei, tanto por ter conteúdo econômico, como pela sua importância subjetiva eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 40eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 40 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 41 enquanto designação e individuação do exercício de empresa pelo empresário individual ou da sociedade empresária, e ainda por ter a capacidade de se tornar marca, designação que permite a pronta e imediata identificação da empresa, do produto ou serviço que oferece. Um exemplo clássico é a Coca-Cola Company, nome empresarial que se tornou marca de um dos refrigerantes mais consumidos no mundo, a Coca-Cola. O nome empresarial também desempenha papel de ordem objetiva ao espelhar o bom nome, a reputação, a fama do empresário individual ou da sociedade empresária. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos de proteção legal, a denominação das sociedades simples, associações e fundações (art. 1.155, parágrafo único, CC). É importante ressalvar que se aplica às pessoas jurídicas, no que couber, os direitos da personalidade (art. 52, CC). Sendo assim, o nome das pessoas jurídicas, independente da sua natureza pública ou privada, é direito personalíssimo, e por isso intransferível e inalienável, passível de ser atingido moralmente. Porém, não há impedimento legal de uso do nome pelo comprador em caso de venda da empresa. O Código Civil prevê ainda dois tipos de nomes empresariais: a firma, individual ou social, e a denominação (art. 1.155, CC). A firma individual é o nome do próprio empresário, utilizado, por exemplo, na designação do microempresário individual. A firma social é o nome de um ou mais sócios como, por exemplo, a que nomina sociedade de advogados. A firma pode também designar o ramo de atividade empresarial. Exemplo: Barros, Silva e Figueiredo Advogados Associados, Instituto Clara de Beleza, Cícero Romano Curso Jurídico etc. A denominação social, por sua vez, é o nome dado a uma empresa, que pode ser uma palavra à escolha dos sócios, ou uma expressão fantasia, acrescida ou não de expressão que caracterize eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 41eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 41 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial42 a sociedade. Os sócios podem escolher também o nome de uma pessoa física, sob sua responsabilidade exclusiva. Em caso de falecimento, exclusão ou retirada do sócio o seu nome deve ser excluído da firma social (art. 1.165, CC). De acordo com o tipo societário, o nome variará de acordo com a espécie e estrutura da sociedade a ser constituída. Exemplo: a sociedade anônima deve conter o S.A. no final do nome; e a sociedade limitada deve conter a expressão limitada ou LTDA também no final do nome. Cabe ressalvar o princípio da novidade do nome empresarial, inserido pelo legislador no art. 1.163 do Código Civil: Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir- se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga. Ou seja, é possível haver dois nomes empresariais idênticos, desde que a designação os distinga. Exemplo: Sol e Mar Restaurante Ltda. e Sol e Mar Cosméticos Ltda. Esta restrição, entretanto, está limitada ao âmbito estatal da Junta Comercial responsável pelo registro da inscrição do empresário ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou averbações no registro apropriado, exceto os casos de registro especial, cujo âmbito se estende a todo o território nacional (art. 1.166 e parágrafo único, CC). Por fim, uma inovação relevante trazida pelo Código Civil de 2002 é a imprescritibilidade da ação para anular a inscrição do nome empresarial decorrente de violação da lei ou do contrato (art. 1.167, CC). Isso não se pode dizer sobre o registro empresarial. O Código Civil estabelece o prazo decadencial de 03 (três) anos eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 42eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 42 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 43 para anular registros com defeitos nos atos constitutivos, no parágrafo único, do art. 45, do Código Civil: Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação desua inscrição no registro. O art. 116, da Lei de Registros Públicos, Lei nº 6.015/1973, coaduna com a Lei Civil quando proibe: O registro dos atos constitutivos de pessoas jurídicas, quando o seu objeto ou circunstâncias relevantes indiquem destino ou atividades ilícitos ou contrários, nocivos ou perigosos ao bem público, à segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública ou social, à moral e aos bons costumes. A proibição é abrangente e, em parte, de avaliação subjetiva, o que deixa a critério do Tabelião do Registro Civil das Pessoas Jurídica, num primeiro momento, a avaliação e a negativa do registro de atos constitutivos. Os interessados podem recorrer ao Judiciário para revisão da avaliação e recusa de registrar. Porém, se acaso o registro for realizado e, a posteriori, se constatar o defeito no ato constitutivo, o prazo para o pedido de anulação é de 03 (três) anos. Passado este prazo, prevalecerá o registro. Quanto à nulidade, ela está prevista na Lei de Registros Públicos, art. 216, para os registros feitos após a sentença de eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 43eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 43 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial44 abertura de falência ou do termo legal nele afixado. Se o registro for feito antes, não há nulidade. O Código Civil prevê a nulidade quando os atos constitutivos das associações desatenderem os incisos do art. 54, ou quando os atos forem simulados, nos termos do art. 167. Estabelecimento empresarial Nos termos do art 1.142 e 1.143, do Código Civil: Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. O estabelecimento comercial não é mais apenas o local onde o empresário exercia as suas atividades. Hoje ele engloba os bens materiais e imateriais, consumíveis, fungíveis e infungíveis utilizados pelo empresário para o desenvolvimento da sua atividade econômica. É um conjunto de bens e direitos que possibilita a concretização da atividade-fim do empresário. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 44eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 44 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 45 Microempresas e empresas de pequeno porte RESUMINDO Vamos recapitular o que aprendemos? Abordamos a importância do sigilo e do nome empresarial. Você também viu como é importante sabermos o significado desses conceitos para a área do direito empresarial. Então, o sigilo, o nome empresarial e o estabelecimento empresarial são importantes para distinguir as empresas nesse nicho, proteger suas atividades. Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funcionam as microempresas, as empresas de pequeno e a importância das duas em nossa economia. Você também terá acesso a informações referentes às características dessas empresas e as suas responsabilidades perante o Estado brasileiro. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 45eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 45 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial46 Compreendendo o significado das microempresas e empresas de pequeno porte As micro e pequenas empresas têm um papel fundamental na economia do país e na geração de mão de obra, sendo responsáveis por parte importante do Produto Interno Bruto Nacional anualmente. Muito se tem falado e abordado, na grande mídia em nosso país, acerca da importância das microempresas e empresas de pequeno porte para a nossa economia. Há inclusive programa de televisão no qual apresenta casos empreendedores, inovadores e de sucesso sobre esses tipos de empresas. A mídia também divulga as quantidades crescentes anuais dessas empresas que são abertas em nosso país. Em um país com um índice de desemprego crescente, tal cenário, nos últimos anos, tem feito com que pessoas que até então eram empregados de empresas passassem a ser empreendedores. Então, diante dessa nova realidade que nos apresenta, é fundamental conhecermos mais a fundo o que significam as microempresas e as empresas de pequeno porte. Você já ouvir falar ou conhece alguma microempresa? E empresa de pequeno porte? Já consumiu algum serviço oferecido por elas? Não sem razão, a Constituição Federal de 1988, no art. 179, estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, devem dispensar às micro e pequenas empresas tratamento especial, a serem definidos na lei infraconstitucional, e tratamento jurídico diferenciado e simplificado nas áreas administrativa, tributárias, previdenciárias e creditícias, com vistas à diminuição da burocracia e à facilitação de acesso ao crédito. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 46eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 46 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 47 No esteio do comando constitucional, os microempreen- dedores, o empresário rural e o pequeno empresário recebem tratamento especial em todo o processo de inscrição do empre- sário e facilitação para o cumprimento das obrigações empresa- riais tributárias e administrativas, melhor explicitadas nos arts. 968, parágrafo 4°, e 970, do Código Civil: Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha: (...) § 4. O processo de abertura, registro, alteração e baixa do microempreendedor individual de que trata o art. 18-A da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, bem como qualquer exigência para o início de seu funcionamento deverão ter trâmite especial e simplificado, preferentemente eletrônico, opcional para o empreendedor, na forma a ser disciplinada pelo Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios - CGSIM, de que trata o inciso III do art. 2 da mesma Lei. (Incluído pela Lei nº 12.470, de 2011) (...) 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. Coube à Lei Complementar nº 123/2006, o Estatuto Nacional da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, classificar quais são as micro e pequenas empresas, seleção que é feita por faixa de faturamento. Em 2019, o faturamento máximo por categoria foi definido da seguinte forma: eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 47eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 47 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial48 a. Microempreendedor Individual (MEI): Receita bruta anual de até R$ 81 mil; b. Microempresa: Receita bruta anual de até R$ 360 mil, exceto MEI. c. Empresa de Pequeno Porte (EPP): Receita bruta anual acima de R$ 360 mil até R$ 4,8 milhões. Sociedades simples e sociedades empresárias O Código Civil define como empresário “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (art. 966) para logo, no parágrafo único, definir que não é considerado empresário, ou seja, aquele que “exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”. O elemento de empresa, por sua vez, é o nível de complexidade organizacional exigida para desenvolvimento da atividade empresarial, entendimento majoritário que prevalece no STJ (EREsp 866.286/ES, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido,julgado em 29/09/2010, DJe 20/10/2010). Mas, há uma corrente minoritária que tem como um dos seus expoentes o civilista Sylvio Marcondes, que considera elemento de empresa tanto a complexidade da atividade e da estrutura para o seu desenvolvimento, como a existência de atividades paralelas também complexas no seu desempenho. Na sequência, no art. 967, o Código Civil expressamente define como sociedade empresária aquela “que tem por objetivo o exercício de atividade própria de empresário, sujeito a registro, e simples as demais”, excepcionando no parágrafo único que, “independentemente do seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações, e simples a cooperativa”. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 48eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 48 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 49 As sociedades empresárias devem ser registradas nas Juntas Comerciais dos estados, órgão responsável pela execução do registro público mercantil. As sociedades simples, não empresárias, discriminadas no Código Civil e também as cooperativas, por previsão expressa no art. 982 do Código Civil, são registradas no Cartório do Registro Civil de Pessoas Jurídicas, à exceção das sociedades de advogados, cujos atos constitutivos devem ser registrados na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) (art. 15, § 1º, Lei n. 8.906/94). O empresário rural, as microempresas e empresas de pequeno porte que podem escolher submeter-se ou não ao regime jurídico do empresário, se atenderem às exigências para o registro nas juntas comerciais (art. 971, CC). Como as sociedades simples não constituem empresa, não estão sujeitas à falência, à recuperação judicial ou extrajudicial previstas na Lei nº 11.101/2005. É importante ressalvar, porém, que apesar de não constituírem empresa, o “art. 997, inc. II, não exclui a possibilidade de sociedade simples utilizar firma ou razão social” (CJF. Enunciado 213. III Jornada de Direito Civil. Coordenador- Geral Min. Ruy Rosado de Aguiar. Referência Legislativa: Código Civil de 2002, Lei n. 10.406/2002, art. 997. Disponível em <https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/417>. Consulta em 26.08.2019) Relembrando: O Código Civil também excluiu as atividades intelectuais de natureza científica, literária ou científica do universo das atividades mercantis, independente de terem empregados ou colaboradores, por lhes faltar uma característica essencial às empresas: o elemento de organização dos fatores de produção. Entretanto, se este elemento estiver presente, a atividade intelectual caracteriza empresa. (parágrafo único, art. 966, CC). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 49eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 49 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial50 Finalmente, é importante ressalvar o Enunciado 476 do Conselho da Justiça Federal, que na V Jornada de Direito Civil pacificou as diferentes classificações empresariais que, no Brasil, não guardam harmonia entre a União e os Estados, e nem mesmo entre as áreas tributária e administrativa. Diz a ementa: Eventuais classificações conferidas pela lei tributária às sociedades não influem para sua caracterização como empresárias ou simples, especialmente no que se refere ao registro dos atos constitutivos e à submissão ou não aos dispositivos da Lei n. 11.101/2005 (BRASIL, CJF, s/d). Sociedades não personificadas As sociedades não personificadas são aquelas que não possuem registro, ou seja, não possuem personalidade jurídica. Figura 2 - Despersonalização Fonte: Pixabay eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 50eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 50 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 51 Subdividem-se em: a. Sociedade em Comum: são as sociedades que não tiveram os seus atos constitutivos registrados, chamadas também sociedades de fato ou irregulares. A existência desse tipo de sociedade só pode ser provada por documentos escritos. Os bens e dívidas compõem um patrimônio especial que pertencem equitativamente aos sócios, respondendo os bens “pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer” (art.986 a 990, CC). b. Sociedade em Conta de Participação: é uma sociedade informal, sem registro por interesse dos sócios, que são de dois tipos: o sócio ostensivo, que assume publicamente a gestão da sociedade e gere os negócios em seu nome individual, sob sua própria e exclusiva responsabilidade, atuando como empresário individual ou sociedade empresária; e o sócio participante ou oculto, que não aparece para terceiros, respondendo apenas ao sócio ostensivo (arts. 991 a 996, CC). Às vezes os sócios firmam um contrato informal, que gera efeitos apenas entre eles. Porém, considerando que tônica desse tipo de sociedade é a informalidade, a lei permite que o liame contratual seja provado por todos os meios de direito. O Enunciado 208, do Conselho da Justiça Federal, harmonizou o entendimento doutrinário acerca da obrigatoriedade de aplicação das normas do Código Civil nas atividades despersonalizadas, independente de serem próprias de empresário. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 51eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 51 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial52 RESUMINDO E então? Gostou do conteúdo? Aprendeu tudo sobre a Introdução nos temas do Direito Empresarial? Vamos relembrar? Abordamos as diferenças entre as microempresas e empresas de pequeno porte, as sociedades e empresárias, e as sociedades não personificadas. Agora você está preparado para seguir aprendendo mais e mais sobre o Direito Empresarial. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 52eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 52 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 53 UNIDADE 02 TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 53eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 53 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial54 A Teoria Geral do Direito Empresarial é de extrema importância para a compreensão dos aspectos jurídicos que abrangem sócios, empresários individuais e sociedades empresariais, sua estrutura jurídica, direitos e deveres, impedimentos e proibições para o exercício da atividade empresarial, etc. Da mesma forma a compreensão do capital social, sua integralização para a viabilização dos objetivos sociais e as regras legais para administração social são conhecimentos imprescindíveis para o estudante do Direito Empresarial e para o advogado. Esse conjunto de previsões legais é a base de toda a construção jurídica empresarial. Então, vamos estudar e refletir sobre estes conceitos e prescrições legais que se inserem na teoria geral do Direito Empresarial? Acho que irá gostar muito deste estudo e terá muito sucesso neste aprendizado. Bom estudo! INTRODUÇÃO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 54eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 54 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 55 1 2 3 4 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 – Teoria Geral do Direito Empresarial. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: OBJETIVOS Compreender a Teoria Geral do Direito Empresarial e sua importância; Identificar as regras jurídicas que norteiam o sócio, a sociedade empresária e o empresário individual, proibições e impedimentos para o exercício da atividade empresária;Identificar e compreender o capital social e a sua integralização, a administração e a representação social; Identificar e compreender os direitos e deveres dos sócios. Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 55eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 55 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial56 Teoria geral do direito empresarial Ao término deste capítulo você será capaz de identificar quais são as regras jurídicas que regem as relações sociais em geral. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO Sociedades Empresárias Classificação quanto à sua natureza Quanto à sua natureza, as sociedades empresárias se subdividem em sociedade de pessoas e de capital. Em que pese a inexistência de uma definição na letra da lei, essa distinção tem reflexos importantes na prática, especialmente quanto à alienação da participação societária, ações ou quotas, à dissolução das relações societárias por morte, e a penhora da participação empresarial por dívida particular do sócio. As sociedades são constituídas por quotas ou por ações, prevalecendo umas ou outras na constituição de sociedade por pessoas ou sociedades por capital. Por isso, atenção: não existem sociedades constituídas por quotas e por ações a um só tempo. A sociedade de pessoas é lastreada na affectio societatis, na confiança mútua entre os sócios na administração do negócio e no nível de contribuição individual que empenham para o sucesso do objeto social. Ou seja, o investimento pessoal dos sócios é imprescindível para o sucesso do negócio e, por isso, eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 56eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 56 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 57 a saída de um deles da sociedade assume aspecto de extrema relevância para os sócios remanescentes. Figura 1 - Confiança e empenho mútuo Fonte: Freepik É fácil identificar a sociedade de pessoas pelas “cláusulas de controle”, cláusulas contratuais rígidas que regulam a extinção da sociedade em caso de morte, retirada ou exclusão de algum sócio. São as Sociedades Simples puras, cujas regras de controle estão na lei, as Sociedades em Nome Coletivo, as Sociedades em Comandita Simples e as Cooperativas. As Sociedades em Conta de Participação, em razão do seu perfil jurídico, não se enquadram na classificação de sociedade de pessoas. Já na sociedade de capital inexiste a affectio societatis. O Norte é o sucesso na concretização do fim social com boa lucratividade para a empresa e os investidores. O que importa é o dinheiro, o aporte financeiro. O envolvimento pessoal dos sócios é dispensável, pois as atividades administrativas ficam a cargo de diretores e administradores altamente especializados. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 57eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 57 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial58 Por isso, se algum acionista quiser se retirar da sociedade pode vender, doar ou transferir suas ações sem problema algum e sem necessidade de consulta aos demais acionistas, já que as características pessoais, culturais e/ou econômicas do adquirente são irrelevantes para a administração societária. Quanto à penhorabilidade é preciso atenção ao tratamento jurídico diferente que a lei dá aos bens móveis, imóveis e semoventes que integram o patrimônio dos sócios e são garantia de obrigações, daquela dada às quotas de sociedade limitada, classificadas como direitos e não como bens. Aliado a isso, para diminuir custos operacionais, administrativos e tributários, bem como facilitar a transferência de patrimônio familiar ou sucessório, os brasileiros estão investindo mais em sociedades de participação ou holdings familiares, sem atividades produtivas ou comerciais, cujo fim social é apenas controlar outras sociedades ou administrar bens (Lei 6.404/1976, art. 2°, parágrafo 3°, c/c o parágrafo único do art. 1.053 do CC). Esse tipo de investimento altera a constituição patrimonial privada dos investidores, podendo impedir a garantia de dívidas através das quotas de capital e ser usado facilmente para blindar bens em divórcios, execuções cíveis, trabalhistas, fiscais e ambientais, criar dificuldades em disputas societárias, ocultar bens ilicitamente adquiridos, etc. O primeiro aspecto a considerar é a mudança da relação jurídica dos sócios com os seus bens. Uma vez integralizados, os bens deixam o patrimônio do sócio e passam a integrar a totalidade do capital social da empresa limitada que, por sua vez, tem autonomia patrimonial. Há uma clara alteração de status protetivo civil, do Direito das Coisas, que resguardava o bem individualmente considerado do sócio, para o Direito Societário que, por sua vez, integra o eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 58eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 58 29/07/2020 18:33:5929/07/2020 18:33:59 Direito Empresarial 59 Direito das Obrigações e separa direitos e obrigações dos sócios da titularidade das quotas empresariais. Ou seja, o direito à titularidade das quotas garante aos sócios o direito sobre uma fração do patrimônio total da empresa, protegido pelo Direito Societário, sem distinção do que cada sócio individualmente aportou à sociedade, no exercício da livre disposição dos seus bens, sob a égide do Direito das Coisas. Essa mudança de natureza patrimonial cria basicamente três efeitos sobre a titularidade das quotas: a. a administração do patrimônio da empresa passa a ser decisão dos sócios, nos termos do contrato social; b. é vedado ao Estado obstar o exercício desse direito dos sócios, que tem natureza personalíssima, por meio de constrição judicial, ou seja, por meio da penhora das quotas; c. o direito do sócio à fração das suas quotas tem natureza de crédito subordinado, ou seja, ele é credor da sociedade na porcentagem das suas quotas. Porém, a dívida da sociedade não pode ser paga em prejuízo dos demais sócios-credores e nem da própria sociedade. Um sócio não pode exigir o valor das suas quotas em prejuízo dos demais, exceto quando a empresa possuir recursos em caixa para pagar o valor da titularidade de todos os sócios sobre as suas respectivas quotas. Contabilmente, as dívidas dos sócios para com as empresas que não podem ser reclamadas são denominadas “passivo não exigível”. Quando extinta a sociedade, após pagamento dos terceiros credores, a universalidade dos bens da empresa é destinada a ressarcir todos os sócios-credores, na proporção da titularidade das quotas que cada um possui, independente do valor que integralizaram. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 59eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 59 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial60 Se um sócio integraliza R$500,00, outro R$300,00 e outro R$100,00, totalizando 900 cotas no valor de R$1,00 cada, e no contrato social elas são divididas igualmente em 300 cotas integralizadas para cada sócio, o ressarcimento será correspondente às 300 cotas integralizadas e não ao valor que cada um investiu na empresa. EXEMPLO Ficam claros, dessa maneira, os vínculos obrigacional e de garantia que afetam as relações entre sócios e sua titularidade sobre as quotas. Na prática essa transferência patrimonial e de status de proteção jurídica dificulta a investida do credor sobre o patrimônio integralizado pelos sócios a uma sociedade limitada. O Código Civil limita a possibilidade da penhora e autoriza liquidação das quotas se o credor provar a “insuficiência de outros bens do devedor”: Art. 1.026. O credor particular de sócio pode,na insuficiência de outros bens do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação. Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma do art. 1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após aquela liquidação. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 60eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 60 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 61 Há uma impropriedade no caput do artigo, pois o legislador chamou lucro ao que deveria ter denominado dividendos. Lucro é o bem resultante do exercício das atividades da empresa, a ela pertence e, não necessariamente, traduz disponibilidade de caixa. Não pode ser penhorado para pagar dívida particular dos sócios, sob pena de prejudicar as relações negociais da empresa com os seus próprios credores e quiçá a sua existência. O que o art. 1.026 autoriza, na realidade, é a penhora dos dividendos, a parte do lucro que caberá a cada sócio, ao final de cada exercício financeiro, e que ainda não foi distribuído. Esta é a ordem procedimental prevista no Código Civil para cobrir dívidas particulares dos sócios: primeiro penhora- se os bens dos sócios, excetos as quotas; se não houver bens pessoais, pode-se penhorar os dividendos que ainda não foram pagos; se também não houver dividendos, penhora-se a quota para fins de liquidação e posterior pagamento do credor. A quota penhorada não pode ser incorporada ao patrimônio do credor, sob pena de ferir a affectio societatis. O objetivo do legislador ao proteger a empresa dos encargos advindos das dívidas particulares dos sócios tem objetivo social e visa proteger os empregos e a geração de riquezas, salvaguardar a tributação, etc. O Código de Processo Civil, por sua vez, estabelece regras que possibilitam a mantença da sociedade pelos demais sócios do devedor quando parte das quotas são penhoradas (art. 861). O objetivo, reitere-se, é sempre preservar as atividades da empresa e sua função social. A exceção se aplica às sociedades anônimas. Como nelas inexiste a affectio societatis, as ações podem ser adjudicadas ao exequente ou alienadas em bolsa de valores (art. 861, parágrafo 2°). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 61eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 61 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial62 Após os investigadores da Lava Jato descobrirem que fraudadores do dinheiro público investiram em holding familiares para proteger patrimônio ilicitamente adquirido, as autoridades públicas passaram a ficar mais atentas a esse tipo de investimento. O STJ, no REsp 1.098.712, pacificou a desconsideração da pessoa jurídica sempre que for constatado “desvio da finalidade empresarial ou confusão patrimonial entre a sociedade e seus sócios”. Ou seja, constatada a fraude na constituição ou abuso na finalidade das holding familiares, seja para favorecer alguns herdeiros em detrimento de outros, prejudicar cônjuges em partilha de bens, recuperar bens e valores ilicitamente adquiridos, etc, aplica-se o art. 50 do Código Civil para afastar a personalidade jurídica para atingir bens particulares dos sócios. (art. 7°, Lei 13.874/2019, alterou o CC). Diz o artigo: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.. (Lei n° 13.784, de 2019). Sociedade unipessoal Como o próprio nome revela, a sociedade unipessoal é a constituída por um único sócio e pode ser de dois tipos: a Sociedade Subsidiária Integral e a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 62eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 62 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 63 a. A Sociedade Subsidiária Integral está regulamentada na Lei 6.404/1976. É uma forma de sociedade anônima permitida apenas para empresas brasileiras, constituída por escritura pública, por meio da aquisição de 100% das ações de outra empresa, ou pela incorporação de todas as ações do capital social ao patrimônio de outra companhia brasileira, para convertê-la em subsidiária integral. São cinco os requisitos legais para a constituição de uma Sociedade Subsidiária Integral (art. 251, Lei 6.404): 1. Só uma única pessoa jurídica 100% brasileira (constituída de acordo com as leis brasileiras, com sede e administração no Brasil), de qualquer tipo societário, pode constituir uma Subsidiária Integral ou controlá-la; 2. Pessoas físicas, associações e fundações não podem ser sócio único de uma Subsidiária Integral. Empresa estrangeira só pode participar na sua constituição de forma indireta, como um dos sócios da empresa brasileira constituidora. 3. A criação da Sociedade Subsidiária Integral é complexa e deve ser feita, obrigatoriamente, por meio de escritura pública, lavrada por tabelião do cartório de registro de notas, e registrada na Junta Comercial do Estado da sua sede. No caso da aquisição de ações de uma Subsidiária Integral não é preciso escritura pública. Basta a alteração do estatuto e o registro na Junta Comercial. 4. A forma societária deve ser a sociedade anônima por imposição legal. 5. A incorporação da totalidade das ações de uma Sociedade Subsidiária Integral (incorporada) eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 63eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 63 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial64 só pode ser feita por outra Sociedade Anônima (incorporadora), após submissão e deliberação favorável da assembleia-geral das duas companhias (art. 252, Lei 6.404). Em que pese mantenha a sua independência administrativa, a incorporada passa a ser subsidiária da incorporadora. Se uma sociedade anônima passa a ter apenas um sócio até a data da assembleia geral ordinária do ano seguinte, ela deve ser dissolvida (art. 206, I, “d”, Lei 6.404). As opções para evitar a dissolução são: a incorporação de outro sócio antes da data da assembleia geral, transformá-la numa Sociedade Subsidiária Integral se o sócio for empresa brasileira, ou ainda numa Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI. No caso das demais sociedades o prazo de dissolução é de 180 dias corridos (art. 1.033, IV, CC). IMPORTANTE b. A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI foi criada pela Lei 12.441/2011, no art. 980-A, que alterou o Código Civil com o objetivo de limitar a responsabilidade do empresário ao montante do capital da empresa e corrigir duas distorções antigas: uma ficção de Sociedade Ltda., no jargão jurídico a “sociedade faz de conta”, na qual o real empresário e administrador tinha a titularidade da quase totalidade das cotas integralizadas, não raro 99%, e o outro sócio, meramente figurativo, ficava com 1% das cotas; e a confusão na titularidade do capital integralizado quando a sociedade era formada por eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 64eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 64 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 65 dois sócios casados sob o regime da comunhão de bens. Hoje o Código Civil, no art. 977, proíbe a sociedade marital quando o regime de casamento for o de comunhão universal de bens ou de separação obrigatóriade bens por exigência legal. Nos termos do parágrafo 7°, do art. 980-A: Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude. (NR). No caso de morte do único sócio, o prazo para a substituição é de seis meses. Se outro sócio não assumir a empresa neste prazo ela deve ser dissolvida e os bens liquidados para partilha sucessória. A criação da EIRELI atendeu a um fim econômico-social ao permitir a legalização de empresas unipessoais e também a um fim administrativo-judicial, através da diminuição de ações judiciais envolvendo conflitos entre sócios de sociedades “faz de conta” e/ou brigas entre cônjuges, que se arrastavam por anos com prejuízo para os negócios empresariais, para a geração de empregos e renda. A EIRILI se assemelha muito ao Empresário Individual, mas são constituições empresariais diferentes. São três a principais diferenças: IMPORTANTE eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 65eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 65 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial66 1. Tributária: o empresário individual responde por uma carga tributária de 27,5% retida na fonte, enquanto a EIRELI tem um encargo tributário de 6,15% para pagar o Imposto de Renda e as contribuições sociais; 2. Autonomia Patrimonial: o empresário individual responde com os seus bens por prejuízos advindos das suas atividades. No caso da EIRELI o patrimônio da empresa é autônomo e limitado ao capital social máximo de cem vezes o salário mínimo, não responde pelas dívidas pessoais do sócio, não se comunica e nem se confunde com o patrimônio pessoal dele; 3. Responsabilidade Previdenciária: ao contratar um empresário individual, a empresa contratante responde pela contribuição previdenciária, o que não ocorre na contratação de uma EIRILI. Sociedade limitada entre cônjuges Na vigência do Código Civil de 1916 havia muita discussão doutrinária e divergência jurisprudencial sobre a legalidade na constituição de sociedade limitada tendo cônjuges como sócios, sob o argumento de fraude contra normas do direito de família, que foi pacificada por decisão do Supremo Tribunal Federal em 1989. Figura 2 - Aliança entre cônjuges Fonte: Freepik eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 66eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 66 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 67 O Código Civil, no art. 977, num retrocesso à conquista jurisprudencial, proibiu a sociedade limitada aos casados sob o regime da comunhão total de bens ou sob o regime obrigatório de separação de bens. Porém, não há óbice legal para que conviventes em união estável, independente do regime que porventura tenham acordaram no pacto de convivência - comunhão total, parcial ou separação de bens, e aos casados pelo regime parcial de bens e pela separação de bens por livre escolha dos nubentes, independente do acordado em pacto antenupcial sejam sócios em sociedade limitada. Na prática, porém, se mesmo com a proibição legal cônjuges, casados sob o regime da comunhão total ou separação total impositiva, registrarem sociedade limitada na qual são sócios, ambos respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais. Algumas obras fazem referência apenas a marido e mulher, mas essa qualificação, com lastro no sexo feminino e masculino, tal qual prevista no CC foi superada por decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu a existência de vários tipos de família e a possibilidade do casamento civil homossexual. Sendo assim, a proibição do art. 977 se estende também aos relacionamentos homoafetivos e plúrimos civilmente casados. Isso porque a proteção jurídica tem por foco não o sexo ou o número dos indivíduos casados, mas as consequências jurídicas advindas da confusão entre patrimônio empresarial e patrimônio pessoal na comunhão total e na separação total obrigatória de bens. IMPORTANTE eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 67eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 67 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial68 Por outro lado, a contrario sensu, o art. 977 deixa claro o direito personalíssimo, a legalidade e a liberdade de qualquer pessoa casada contratar sociedade com terceiros, adquirir ou alienar quotas ou ações independentes da outorga marital, respeitada a ressalva da integralização do capital por meio de transferência de bem imóvel (art. 1.647, I, CC). A sociedade bifronte se assenta em relações jurídicas diferentes, familiar e negocial, que gozam de proteção jurídica distinta. Somente no caso de contratação societária por motivo ilícito, comum a ambos sócios casados, ou para fraude a lei as relações jurídicas familiar e negocial podem se interconectar. (art. 166, III, c/c 106, VI, CC). E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido quais são as regras jurídicas que regem as relações sociais em geral. Como também aprendeu sobre a sociedade limitada entre cônjuges. RESUMINDO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 68eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 68 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 69 Capacidade jurídica empresarial Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a capacidade jurídica empresarial. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO Capacidade civil empresarial Capacidade civil empresarial é a qualidade daquele que reúne capacidade civil e inexistência de impedimentos legais para o exercício da atividade empresarial. Ou seja, são os indivíduos que, de acordo com a lei, não estão impedidos, temporária ou permanentemente, de exercer a atividade empresarial. A primeira delimitação para o exercício da atividade empresária está na restrição contida no art. 5°, inciso XIII, da Constituição Federal, sobre a qualificação profissional: “Art. 5°. XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.” A regra é o livre exercício de atividades laborais, mas algumas atividades empresárias exigem que seus sócios administradores tenham conhecimentos técnicos específicos, a exemplo da medicina, engenharia, veterinária, etc. A Constituição, o Código Civil e várias leis especiais esparsas contêm normas que proíbem ou impedem, no todo ou em parte, o exercício de atividade de empresário com o objetivo de proteção da coletividade, do bem público, da moralidade pública ou da segurança nacional. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 69eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 69 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial70 Diz o Código Civil: “Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos”. A vedação legal prevista no Código Civil, como regra geral, atinge o exercício da atividade de empresário e não a participação das pessoas em empresas como sócios ou acionistas sem poderes para gestão e representação, exceto por vedação expressa na CF ou em lei especial. IMPORTANTE Pela regra geral civil, podem ser empresários os maiores de 18 anos, no gozo dos seus direitos civis, e os maiores de 16 e menores de 18 anos emancipados e não legalmente impedidos. Menores e incapazes, mesmo em caso de incapacidade civil absoluta(art. 3°, CC) ou relativa (art. 4°, CC) podem ser sócios de sociedades simples ou empresárias, pois não estão impedidos de titular direitos e deveres. São apenas portadores de incapacidade para exercê-los por si, necessitando do auxílio de terceiros. Enquanto detentores de direitos e deveres, inexiste óbice legal para que menores e incapazes sejam titulares de cotas ou ações, desde que tenham o patrimônio pessoal preservado de riscos. Ou seja, eles podem herdar quotas ou ações, recebê- las por meio de doação, comprá-las ou participar da criação de uma sociedade, obviamente representados ou assistidos por apoiadores, tutores ou curadores, com a concordância dos demais sócios, mas não podem ter responsabilidade subsidiária eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 70eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 70 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 71 pelas obrigações sociais, já que o patrimônio que possuem deve ser totalmente preservado. Nesse diapasão, a lei estabelece que o menor ou o incapaz, representado ou assistido por tutores ou curadores pode continuar na empresa da qual era sócio quando capaz, por seus pais ou pelo autor de herança, mediante autorização judicial. Se estes forem legalmente impedidos de exercer a atividade de empresário, o juiz nomeará um ou mais gerentes, conforme a necessidade, o que, entretanto, não os exime do dever de proteger o patrimônio dos curatelados e tutelados e vigiar os atos dos gerentes, sob pena de responsabilidade. (art. 974 e seguintes, CC). A emancipação e a concessão ou revogação de autorização devem ser inscritas ou averbadas na Junta Comercial. (art. 976, CC). Figura 3 - Pessoas com deficiência Fonte: Freepik O Estatuto da Pessoa com Deficiência, por sua vez, espelha um grande avanço social ao reconhecer e estipular a inserção e a participação dos deficientes físicos e mentais na sociedade com acesso ao mercado de trabalho, inclusive ao empreendedorismo, respeitadas as suas limitações. Cabe ao SUS proporcionar meios para que os deficientes físicos e mentais possam empreender, por si ou com o auxílio dos seus apoiadores, tutores ou curadores. Menores e incapazes podem ser quotistas comanditários em nas sociedades em comandita simples e quotistas nas sociedades eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 71eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 71 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial72 limitadas, acionistas nas sociedades anônimas e acionista não dirigente nas sociedades em comandita por ações. As Juntas Comerciais vetavam a inscrição de menores e incapazes como empresário EIRELI, com base no art. 972-A do Código Civil, inserido em 2011, que exige o pleno gozo da capacidade civil para o exercício de atividades empresárias. Essa distorção administrativa ilegal foi sanada, em março de 2019, pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI, órgão do Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis do Comércio – SIREM, a quem cabe supervisionar, coordenar e orientar tecnicamente os órgãos responsáveis pelo registro de empresas mercantis e atividades afins, através da Instrução Normativa 55, ou IN DREI 55. A IN DREI 55 em especial, dentre outras que regulamentam administrativamente as sociedades, deve ser conhecida por aqueles que estudam o Direito Empresarial, pelo impacto direto que tem em outras áreas do Direito (Sucessório, Família, etc.). Ela pode ser encontrada neste link: http://bit.ly/2Po9VjS (Acesso em 06/02/2020). SAIBA MAIS Quanto aos indígenas e descendentes, a maioria está integrada à comunhão nacional e tem capacidade civil. São sujeitos de diretos e obrigações, como brasileiros natos, e podem exercer a atividade empresária amplamente, em todas as sociedades, com as restrições que se aplicam a quaisquer outros cidadãos. Somente aos indígenas não integrados à comunhão nacional, com exceção parcial para aqueles que tenham eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 72eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 72 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 73 consciência e conhecimento dos atos praticados e da extensão dos seus efeitos, desde que não lhes sejam prejudiciais, são aplicadas as normas de proteção estatal previstas no Estatuto do Indígena e demais normas assistenciais. (art. 231, CF, Lei 6.001/1973, Decreto 5.051/2004 - promulgou Convenção 169 da OIT). Os índios também podem requerer judicialmente a sua liberação do regime tutelar estatal e serem investidos na plenitude da capacidade civil ao completarem 21 anos, se conhecerem a língua portuguesa, possuírem habilitação para o exercício de atividade útil e razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional. (art. 9°, Lei 6.001/1973). Mas, inexiste impedimento legal, a exemplo do que se aplica aos menores e incapazes, para que sejam sócios ou acionistas em quaisquer sociedades, com eventuais restrições para as atividades de administração. Há indivíduos, porém, independente de possuírem capacidade civil, que são proibidos ou impedidos por lei de exercerem a atividade de empresário. São legalmente proibidos de exercer a atividade de empresário: a. O Presidente da República, ministros, governadores, prefeitos e ocupantes de cargos comissionados (art. 17, inciso X, Lei 8.112/90). b. Magistrados federais e estaduais (art. 33, inciso I, Lei Complementar n° 35/1979). c. Membros do Ministério Público da União (Federal, do Trabalho, Militar, do Distrito Federal e Territórios) e dos estados (art. 44, inciso III, Lei n° 8.625/1993). d. O falido enquanto não for reabilitado legalmente (art. 102, Lei n° 11.101/2005). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 73eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 73 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial74 e. O leiloeiro (art. 36, a, 1°, 2° e 3°, Decreto 21.981/1932). f. O médico, para o exercício simultâneo da farmácia e vice-versa. (art. 16, h, Decreto 20.931/1932). g. O português com autorização de residência, com relação às empresas de telecomunicações. (art. 222, CF). h. Brasileiros naturalizados há menos de dez anos e empresas com sede no estrangeiro não podem ser proprietários, principais acionistas e empresas jornalística e de radiodifusão de sons e/ou de sons e imagens e pessoas. (art. 222, CF). São legalmente impedidos de exercer a administração de sociedade limitada as pessoas indicadas expressamente parágrafo primeiro, do art.1.011, do Código Civil: § 1. Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação. São também impedidos de gerir ou administrar as sociedades limitadas, por leis especiais: a. o brasileiro naturalizado há menos de 10 anos em empresa jornalística e de radiodifusão sonora e radiodifusão de sons e imagens (art. 222, CF); b. o estrangeiro sem autorização de residência que permita o exercício de atividade remunerada no país. (parágrafo 1°, art. 13, c/c art. 30, Lei 13.445/2017); eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 74eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 74 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 75 c. o residente fronteiriço sem autorização legal para o exercício de atividades da vida civil. (art. 23, Lei 13.445/2017); d. os estrangeiros na faixa de fronteira (150 Km de largura). Somentepessoas físicas ou empresa individual brasileira podem explorar estabelecimento ou indústria que interesse à Segurança Nacional e que se dedique à pesquisa, lavra e exploração de recursos minerais, exceto os usados na construção civil, e colonização e loteamento rurais. (art 3°, inciso III, da Lei 6.634/1979); e. Os funcionários públicos quanto ao comércio e exercício de gerência ou administração de sociedades privadas, exceto quando a participação se der em conselhos administrativos e fiscais de empresas e entidades nas quais a União tenha participação no capital social e em sociedade cooperativa constituída para prestar serviços a seus membros. Inexiste impedimento legal para que sejam acionistas, cotistas ou comanditários. (Lei 8.112, art. 117 e parágrafo único, inciso I); f. Os militares da ativa (art. 29, Lei 6.880/1980); g. Senadores, deputados e vereadores, a partir da posse, possuem impedimento parcial. Não podem exercer atividade remunerada, nem serem proprietários, controladores ou diretores de empresa que mantenha contrato com pessoa de direito público. (art. 54, inciso II, a, CF). Finalmente, no caso de incapacidade superveniente, nas sociedades de pessoas, nas quais está presente a affectio societatis e o intuitu personae ou princípio da pessoalidade, é possível a exclusão do sócio interdito ou curatelado, por decisão da maioria dos demais sócios, decretada por sentença judicial, eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 75eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 75 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial76 em processo no qual intervenha obrigatoriamente o Ministério Público, sob pena de nulidade, para garantia de proteção integral dos direitos do interdito ou curatelado. (art. 130, CC). Deferido o pedido de exclusão dá-se a liquidação das quotas (art. 1.031, CC). Esta regra, porém, não se aplica às sociedades intuitu pecuniae nas quais a importância do capital se sobrepõe, como as sociedades anônimas, em razão da livre cambiariedade dos títulos. E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos o que vimos. Você deve ter aprendido sobre a capacidade jurídica empresarial e a sua importância. RESUMINDO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 76eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 76 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 77 O Capital social e a sua integralização Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona o capital social. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO O significado do capital social O capital social é dividido em parcelas denominadas quotas, atribuídas a cada um dos sócios de acordo com valor dos bens investidos per se, para composição do capital social, ou em percentual livremente acordado entre eles, e individualizadas obrigatoriamente no contrato social. A divisão em quotas é importante na distribuição de lucros e resultados, nos termos Código Civil: Art. 1.007. Salvo estipulação contratual em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas. Elas também são um divisor de águas nas decisões negociais, uma vez que as deliberações são tomadas por maioria de votos, segundo o valor das quotas de cada sócio. (art. 1.010, CC). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 77eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 77 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial78 Patrimônio e capital social não são sinônimos. O Código Civil define patrimônio no art. 91, nos seguintes termos: “constituiu uma universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico”. Esse conceito aplica-se a pessoas físicas e jurídicas e abarca o patrimônio material, aquilo que pode ser valorado economicamente. Direitos personalíssimos como crença, honra, intimidade, habilidades, saberes, e outros não aferíveis economicamente, não são patrimônio empresarial. IMPORTANTE Nessa mesma linha de pensamento, pode-se dizer que: o patrimônio empresarial é o conjunto de bens de uma sociedade, passíveis de serem valorados economicamente, e, neste universo, está contido o capital social (ativos e passivos); e que o capital social integralizado é um fundo originário indicado e detalhado no contrato social, constituído pelos bens, crédito e/ou dinheiro, disponibilizados pelos sócios para possibilitar o desenvolvimento inicial das atividades empresariais, passível de ser alterado para permitir o desenvolvimento e expansão do negócio ou torná-lo mais modesto (art. 968, III e 997, III, c/c 981, CC). A distribuição do lucro pode ser feita como bem acordarem os sócios, mas cláusulas que dispensem algum deles de contribuir para o capital social com bens, crédito e/ou dinheiro são nulas de pleno direito. Isso tende a mudar. A sociedade e o mundo dos negócios estão em constante evolução, e o desenvolvimento tecnológico não para de trazer novas formações jurídicas e conflitos para o direito analisar e resolver. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 78eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 78 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 79 Com a ampliação das startups, por exemplo, há empreendedores adotando práticas de bootstrapping, ou contribuição para o capital social com serviços. O problema é que apenas nas sociedades simples a contribuição para o capital social somente com serviços é legal. Nas sociedades empresárias os sócios precisam obrigatoriamente, por força de lei, aportar bens econômicos para a formação do capital social. A tecnologia está rompendo práticas empresariais enraizadas no tempo sem que as normas legais as acompanhem. A prática do bootstrapping remete à velha ficção contratual da “sociedade faz de conta” nas antigas sociedades limitadas. Os sócios iniciam as startups “dividindo” o capital social no contrato social quando, na prática, uns aportam bens e aportam outros serviços. Mas, de alguma forma, a lei terá que solucionar isso, ou voltaremos às seculares práticas comerciais costumeiras, ainda hoje muito usadas no mercado internacional. Enquanto as leis não mudam, os sócios devem indicar no contrato social, em moeda corrente, o valor total do capital investido na sociedade, o valor subscrito por cada sócio, o tempo e modo como os bens serão integralizados à sociedade. A integralização pode se dar no ato da constituição da empresa ou posteriormente, mas o contrato deve conter cláusula especificando o valor de mercado de cada bem ou serviço e como se dará a incorporação, se em dinheiro, transferência de bens ou créditos ou prestação de serviços. Não há impedimento legal para que terceiros disponibilizem bens para a integralização no nome de algum sócio, seja através de doações, de fomentos, de mútuo, etc. Os serviços, porém, se dão intuitu personae. Na falta de previsão contratual sobre como se dará a integralização, a exequibilidade é imediata. (art. 134 c/c 331 e 1.001, CC). Porém, a constituição do sócio devedor em mora só eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 79eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 79 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial80 se dará após notificação. Ao valor a ser devolvido na integralidade se somará perdas e danos, sendo facultativo aos demais sócios a exclusão do sócio remisso. (art. 1.004, CC). Alterações Contratuaise o Registro das Modificações Empresas são criadas para ter vida longa e gerar lucros por muitos anos. Como o mercado muda e as aspirações, desejos e capacidade de trabalho dos sócios variam no tempo, não são raras as alterações nos contratos sociais para adequá-los a modificações estratégicas ou no quadro societário, mas que não necessariamente implicam mudanças na personalidade jurídica da empresa. Todas as alterações sociais, com ou sem mudanças na personalidade jurídica, devem ser levadas a registro na Junta Comercial. Uma alteração no nome empresarial, elemento que integra os atos constitutivos das sociedades, por exemplo, não caracteriza alteração na personalidade jurídica da empresa, mas modificação em um dos elementos essenciais contidos no contrato social. Precisa ser registrada na Junta Comercial. (art. 1.155 c/c 997, inciso II e 1.054, CC). Mudanças no quadro societário são necessárias quando sócios saem ou entram na sociedade, ou há transferência de quotas entre os sócios, aplicando-se, no que couber, as determinações contidas nos artigos 1.031 e 1.032, do Código Civil. As mudanças mais usuais são: alterações de endereços, dentro de um mesmo município ou entre estados, de atividade, de quadro societário, mudança no capital e nas cláusulas contratuais, no enquadramento da empresa, migração entre tipos societários (MEI, Empresário Individual, Sociedade Limitada ou Eireli) ou aditamentos em razão de eventuais correções cadastrais na Receita Federal por equívocos nos atos de constituição. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 80eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 80 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 81 Há duas formas de alteração contratual: simples, através de um adendo ao contrato social; e consolidada, que reúne num único documento todas as alterações feitas ao longo da atividade empresarial, compondo um contrato social novo, independente dos anteriores. E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido a importância do capital social e da sua integralização, bem como as consequências advindas da sua falta. RESUMINDO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 81eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 81 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial82 Administração e representação social Ao término deste capítulo você será capaz de entender como deve se dar a administração social, nos termos da lei, o lucro e as perdas, os direitos e deveres dos sócios para com seus pares, o Estado e stakeholders E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO O significado da administração A administração, a cargo de um ou mais sócios, ou de terceiros contratados com essa finalidade, é o meio pelo qual os sócios viabilizam administrativamente a concretização do objetivo social. A designação do administrador ou administradores pode ser feita no próprio contrato social ou em documento à parte, mas sempre na forma escrita, com a delimitação de deveres e responsabilidades. Se a for feita à parte, é preciso averbar o documento à margem da inscrição da sociedade na Junta Comercial antes da prática de quaisquer atos de gestão, sob pena de responsabilidade do administrador, pessoal e solidária para com a sociedade. (art. 1.012, CC). É recomendável também, mas não obrigatório, que os sócios definam a forma de remoção e nomeação de novos administradores no próprio contato social, como forma de evitar conflitos no decorrer da vida da empresa. Sobre a revogabilidade de poderes, diz o Código Civil: eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 82eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 82 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 83 Art. 1.019. São irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios. Parágrafo único. São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio. Nomeado, cabe ao administrador, sócio ou não, a responsabilidade de praticar todos os atos necessários à gestão do negócio, exceto a decisão de oneração e venda de imóveis, exclusiva dos sócios, com o mesmo cuidado e diligência que dispensaria aos seus próprios interesses, aplicando-se-lhe, no que couber, as regras do mandato e os impedimentos do parágrafo 1°, do art. 1.011. Em caso de uso dos bens sociais em proveito próprio ou de terceiros, o administrador terá que restituí-los à sociedade, pagar o equivalente com todos os lucros resultantes, e ressarcir todos os prejuízos na sua integralidade. (art. 1.017, CC). O poder de administrar, quando previsto em contrato, não retira dos sócios o direito de participação nas deliberações, com prevalência da maioria absoluta nas decisões – metade mais um -, segundo o valor das cotas individualmente consideradas. Os sócios também podem impugnar as decisões uns dos outros. (art. 1.010 c/c art. 1.013, parágrafo 1°, CC). O excesso na administração, porém, somente poderá ser oposto a terceiros no caso das hipóteses discriminadas nos incisos do art. 1.015, do Código Civil: “I. se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade; II. provando-se que era conhecida do terceiro; III. tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.” eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 83eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 83 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial84 Se o contrato social for omisso, a administração ficará separadamente a cargo de cada um dos sócios. E, se houver competência conjunta de vários administradores determinada em contrato, todos devem participar das decisões, exceto em caso de urgência e possibilidade de dano grave ou irreparável. (art. 1.014, CC). Em caso de empate, os conflitos entre os sócios devem ser dirimidos judicialmente. E, se algum sócio votar em benefício próprio contrariando interesses da sociedade, responderá também por perdas e danos. Todos os cuidados do legislador quanto às regras de nomeação, remoção e administração das sociedades têm por objetivo publicitar e dar transparência à gestão empresarial, preservando os interesses de sócios, administradores e stakeholders interessados em estabelecer relações negociais com a empresa. Lucros e perdas O contrato social deverá especificar a participação dos sócios nos lucros e nas perdas decorrentes da prática do objetivo social da empresa, na proporção das suas respectivas quotas. Qualquer estipulação em contrário é nula de pleno direito. (art. 1.008, CC). A única exceção parcial aplica-se ao sócio prestador de serviços, pois as perdas não podem atingir o valor da sua força laboral e os direitos dela decorrentes, com base no art. 6° da Constituição Federal. Apesar de não participar nas perdas, a participação do sócio prestador de serviços, se convencionada em contrato, também é diferenciada e ele lucra na proporção da média do valor das quotas que compõem o capital social. (art. 1.007, CC). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 84eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 84 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 85 Silente o contrato social, o usual na prática comercial é a distribuição de lucros e prejuízos na proporção das quotas sociais de cada um dos sócios. Como nas relações civis é dado ao individuo fazer tudo o que a lei não proíbe, os sócios podem acordar outras formasde divisão de lucro e perdas, desde as cláusulas não sejam abusivas, pois isso ensejaria nulidade. (art. 187 c/c art. 166, VII, CC). Direitos e obrigações dos sócios Antes de se falar em direitos e obrigações é bom relembrar a diferença entre sócio, sociedade empresária e empresário individual. a. Sócio: é a pessoa física que reúne condições legais para ser empresário. Seu patrimônio não se confunde com da sociedade, em que pese contribua para a formação do patrimônio dela. b. Sociedade empresária: é a pessoa jurídica que atuará no mercado para concretizar o objetivo social, a atividade econômica organizada para produção ou serviços. Tem patrimônio próprio, desvinculado do dos sócios que a compõem. A responsabilidade patrimonial dos sócios é subsidiária à da sociedade, na medida das cotas que possuem. c. Empresário Individual: é uma pessoa física que atua como titular único do seu próprio negócio, um empreendedor único, sem sócios. Seu patrimônio pessoal responde, em sua totalidade, pelo risco do empreendimento. Há responsabilidade direta. Os direitos e obrigações dos sócios, em linhas gerais, estão elencados nos arts. 1.001 a 1.009 do Código Civil. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 85eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 85 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial86 A primeira obrigação dos sócios é registrar o contrato social na Junta Comercial e integralizar o capital social no prazo contratual, sob pena de responsabilidade civil e/ou exclusão da sociedade, em até 30 dias após notificado. Do registro e integralização decorrem todos os direitos dos sócios, pessoais e patrimoniais, assim como os seus deveres para com a sociedade. Os sócios têm direito ao lucro na proporção de suas quotas, não havendo impedimento legal para a distribuição de dividendos de forma diversa. No caso do sócio que contribui com serviços os dividendos são pagos pela média do montante distribuído aos demais. Entretanto, lucro é direito eventual, dependente de fatos incertos como o desempenho da empresa no mercado, qualidade da produção ou dos serviços, etc. Os sócios têm também o direito de participar na administração da sociedade, direta ou indiretamente, na extensão das suas quotas, e de fiscalizar os administradores. As obrigações iniciam com o contrato social, se outra data não for acordada entre os sócios, e terminam com a liquidação da sociedade e a extinção das responsabilidades sociais. Os sócios também têm a obrigação de bem cumprir as suas funções na administração da sociedade, não podendo ser substituídos sem o consentimento dos demais. Alterado o contrato, o sócio que cede as suas ações fica responsável solidariamente, por dois anos, pelas obrigações que tinha enquanto integrava a sociedade, a contar da averbação da modificação contratual. O sócio pode transferir o domínio, a posse ou o uso das suas quotas sociais sob pena de evicção. Nas transferências de crédito fica responsável pela solvência do devedor. Quando a contribuição do sócio se dá em serviços, no todo ou em parte, exceto por acordo entre os sócios, não pode ser empregado de terceiros, estranhos à sociedade, sob pena de perder o seu lucro e/ou ser excluído da sociedade. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 86eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 86 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 87 Finalmente, a prática de atos ilícitos, como geração de lucros fictícios, resulta em responsabilidade civil solidária dos sócios administradores que cometeram o ato e dos sócios que, conhecendo a ilicitude, dela tiraram proveito. Relações jurídicas e sociais Firmado o contrato, concretiza-se a relação jurídica entre os sócios na data da assinatura ou outra que tenha sido acordada, nascendo o direito de intervenção nas decisões societárias. (1.001, CC) Intervenção esta que pode se dar tanto pelo princípio da decisão majoritária, quanto por regras acordadas entre os sócios e estabelecidas no contrato social. Com o registro na Junta Comercial estabelece-se a relação entre os sócios e o administrador, entre a sociedade e o Estado, e têm início relações jurídicas com stakeholders na praça de comércio na qual a sociedade está inserida, necessária à viabilização do seu objeto social. Cabe ao administrador gerir a sociedade sob a fiscalização dos sócios que, a qualquer momento podem opinar e votar sobre interesses da sociedade, ou pedir a sua exclusão, acaso não atenda às regras pré-estabelecidas entre os sócios para a gestão interna. Os sócios insatisfeitos, minoritários ou não, poderão mover ação judicial contra o administrador e contra decisões dos sócios majoritários, em seu próprio nome, arcando pessoalmente com os custos judiciais (custas, honorários de advogados e peritos, etc.), mas, se houver condenação, os benefícios decorrentes do pedido vestibular, como perdas e danos, reverterão para a sociedade. O dissenso entre sócios, independente da proporção das suas quotas, também pode ser levado a exame judicial, especialmente considerando que o descumprimento das regras contratadas para a sociedade pode impactar negativamente no eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 87eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 87 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial88 patrimônio particular dos sócios. É o caso da não integralização do capital (art. 1.004 c/c 1.058, CC) segundo as regras e prazos acordados, que pode causar levar a sociedade a dificuldades econômicas e até mesmo inviabilizar a sua própria existência. Da mesma forma, a obrigações decorrentes da pessoalidade não podem deixar de serem cumpridas pelo sócio que a ela se obrigou, sob pena indenização pelos prejuízos que vier a causar à sociedade. Nas sociedades em que os sócios são investidores e não há empenho pessoal em serviços, a obrigação consiste em se fazerem presentes nas deliberações societárias, fisicamente ou através de procuradores com poderes para decidir e votar. (art. 115 a 120 e 653 a 692, CC). Sendo assim, a proibição de substituição do sócio – e também do administrador -, no exercício das suas funções humanas sem o consentimento dos demais, só se aplica às sociedades nas quais é possível a pessoalidade no desenvolvimento do objetivo social e não nas deliberações societárias características das sociedades por ações. O exercício dos direitos sociais é interna corporis, englobando assembleias e votações. Ou seja, a proibição do art. 1.002, do Código Civil está direcionada às funções sociais e não aos direitos sociais. Na sociedade intuito personae os sócios não têm o direito de transferir as suas quotas para terceiros sem autorização dos demais sócios, sob pena da transferência não ter efeitos jurídicos. (art. 1.003, CC) Mas, na realidade, isso seria muito difícil, já que todos - sócio retirante, sócio entrante e demais sócios -, precisam assinar as alterações contratuais e levá-las a registro. Nas sociedades limitadas, não há necessidade de unanimidade para o consentimento. Qualquer sócio com mais de 25% das ações pode opor-se à entrada de novos sócios, inter eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 88eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 88 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 89 vivos ou causa mortis, na ausência de regras pré-estabelecidas no contrato social, nos termos do art. 1.057 do Código Civil que reza: Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social. Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive para osfins do parágrafo único do art. 1.003, a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes. Por outro lado, é preciso respeitar o direito de recesso do sócio que quer se retirar da sociedade, direito esse que não pode ser obstado pelos demais sócios em razão do impacto que tem no patrimônio daquele que quer ceder as suas quotas. A exceção seria apenas a contratação da sociedade por tempo certo. Na ausência de consenso entre os sócios sobre a cessão de quotas e a retirada, a via judicial é o caminho. Concretizado o fim do vínculo societário, persistem por dois anos os deveres subsidiários para com as obrigações assumidas ao tempo da sociedade. As obrigações jurídicas entre os sócios terminam com a liquidação da sociedade. (art. 1.001, CC). A publicidade da liquidação ocorre com o registro na Junta Comercial, mas as obrigações subsidiárias da sociedade, fiscais, trabalhistas, consumeristas, de sigilo ou segredo, etc., persistem no tempo, sejam para com o administrador, o Estado ou terceiros, até o cumprimento, a prescrição ou a decadência. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 89eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 89 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial90 E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você certamente aprendeu a classificar as sociedades empresárias quanto à sua natureza, a reconhecer as características da sociedade unipessoal, da sociedade entre cônjuges e as peculiaridades sobre a capacidade jurídica empresarial. Aprendeu sobre o capital social e a importância da sua integralização para a composição do ativo empresarial e para o desenvolvimento das atividades de empresa. Por fim, aprendeu sobre as alterações contratuais possíveis e sobre a necessidade do registro dessa modificações, para que gere efeitos entre os sócios e perante terceiros; sobre a importância de uma boa administração para uma longa vida empresarial, com lucratividade e boa partilha de dividendos; os lucros e as perdas e suas consequências para a pessoa jurídica, sócios e terceiros; os direitos e obrigações dos sócios entre si e para com terceiros; e , finalmente, sobre as relações jurídicas e sociais da empresa. Agora você está preparado e entende as regras gerais que norteiam o Direito Empresarial. RESUMINDO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 90eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 90 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 91 UNIDADE 03 DISSOLUÇÃO DAS SOCIEDADES eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 91eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 91 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial92 São várias as formas de dissolução das sociedades, mas todas elas têm impacto para sócios, credores e no nicho de mercado no qual estão inseridas. As sociedades podem ser transformadas, incorporadas, fundidas, ou cindidas, dissolvidas total ou parcialmente. A extinção total ou parcial das pessoas jurídicas, a morte de sócios ou a retirada de um sócio da sociedade, ou até mesmo pela falência são exemplos de situações com impacto patrimonial para os sócios, que regra geral são precedidas da fase de liquidação, que pode ser judicial ou extrajudicial. Da mesma forma a recuperação das empresas em dificuldade, que pode ser judicial ou extrajudicial, com impacto no patrimônio particular dos sócios quando decretada a falência. Todas essas possibilidades estão inseridas num universo de possibilidades legais interessantíssimas e muito importantes para os advogados que pretendem trabalhar para pessoas jurídicas ou que venham a ser sócios de uma empresa jurídica ou de um escritório de advocacia. Vamos estudar e refletir sobre os conceitos do Direito Empresarial e as previsões legais para diferentes situações que podem surgir durante a vida das sociedades? Esses são temas apaixonantes. Acho que você irá gostar muito deste estudo e terá muito sucesso nesse aprendizado. Bom estudo! INTRODUÇÃO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 92eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 92 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 93 1 2 3 4 Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 3. Nesta unidade, o nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das seguintes competências profissionais: OBJETIVOS Compreender as alterações nos diferentes tipos empresariais; Identificar as consequências jurídicas nas mudanças societárias; Identificar e compreender a recuperação judicial e extrajudicial; Compreender a falência e suas consequências. Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 93eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 93 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial94 Dissolução da sociedade Dissolução das sociedades O início de uma sociedade tem viés positivo de gênese, nascimento, início da affectio societatis, empenho dos sócios em torno de um objetivo comum, esperança de bons negócios e de lucratividade, etc. O fim de uma sociedade, por sua vez, tem viés contrário, negativo, de morte, encerramento de atividades, fim da affectio societatis, afastamento dos sócios por desinteresse pelo objetivo que era comum ou pela mudança de interesses, e, não raro, conflito entre as partes, dentre outros. Por isso, popularmente se diz que o início de uma sociedade equivale ao casamento, momento em que tudo são flores, e o fim de uma sociedade empresarial equivale a um divórcio, o ponto de ruptura de uma relação com desgastes e/ou prejuízos reiterados ao longo do tempo. A exceção é para as sociedades com propósito específico, que têm tempo de vida pré-determinado e cuja dissolução se dá por força do contratualmente acordado. Mas, seja pelo afastamento de um sócio, continuando a sociedade com os demais ou com um novo sócio, seja pelo fim da empresa e liquidação da sociedade pela vontade dos sócios OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender todos os aspectos e tipos de alterações societárias, suas peculiaridades e consequências. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 94eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 94 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial 95 ou acionistas, ou ainda pela incorporação por outra empresa ou pela falência, todas as situações de ruptura empresária têm implicações fiscais e jurídicas importantes. Porém, entre o nascimento e a dissolução de uma empresa várias modificações podem ocorrer na sua constituição social. Chamadas operações societárias, essas modificações são a transformação, a incorporação, a fusão e a cisão, previstas no Capítulo XVIII, da Lei de Sociedades Anônimas. Transformação A transformação ocorre quando uma sociedade passa de um tipo societário para outro. Essa modificação ou alteração independe da dissolução e liquidação das sociedades e deve ser feita de acordo com as regras estabelecidas na lei para constituição e registro da nova sociedade. (art. 220, Lei 6.404/76 e 1.113, CC). Na falta de previsão contratual ou estatutária, é imperiosa a autorização de todos os sócios ou da maioria dos acionistas. Porém, havendo previsão contratual nas sociedades onde a affectio societatis esteja presente, o sócio dissidente pode retirar- se da sociedade, aplicando-se, no que couber, as regras do art. 1.031 do Código Civil. (art. 1.114, CC). Também há casos em que a transformação é obrigatóriapor lei. É o caso do MEI que atinge faturamento bruto acima do excedente de 20% sobre o faturamento legal permitido - R$81.000,00 em 2019, totalizando R$97.200,00 -, contrata mais de um funcionário, soma mais um sócio, abre filial ou outra empresa no nome empresário responsável, ou passa a exercer atividades não permitidas. Em qualquer dessas hipóteses a MEI deve ser desenquadrada e transformada em microempresa. Da mesma forma, a Microempresa que em 2019 alcançar faturamento anual superior a R$360.000,00 deve ser transformada em Empresa de Pequeno Porte. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 95eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 95 29/07/2020 18:34:0029/07/2020 18:34:00 Direito Empresarial96 Independente do enquadramento da empresa, porém, o direito dos credores nunca é afetado pela transformação. (art. 222, Lei 6.404/76, e art. 1.115, CC). Incorporação A incorporação é um fenômeno de concentração empresarial característico do capitalismo, que pode ocorrer entre quaisquer tipos de empresas. E são muitas as razões que levam sociedades exploradoras de um mesmo segmento industrial ou comercial a se fundirem: conquista de novos nichos de mercado, melhoria na logística de distribuição, aumento da competitividade, domínio de novas tecnologias, etc. Esse instituto é definido no art. 116, do CC, como a absorção de uma ou várias sociedades por outra, que as “sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos tipos”. A Lei 6.404/76, por sua vez, no art. 227, a define como “a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações”. Ou seja, na incorporação há uma obsorção total da incorporada pela incorporadora, que assume todas as obrigações, direitos, ativo e passivo. Os credores de ambas empresas não são prejudicados, pois a incorporadora, ao integrar a estrutura da integrada na sua totalidade e integrá-la no seu patrimônio, assume também a obrigação de pagar todas as dívidas. Mas, atenção as regras são diferentes para as sociedades de pessoas e as sociedades de capital. Na primeira, a deliberação de incorporar ou ser incorporada emana da vontade da maioria dos sócios, que estabelece as bases da operação e o projeto de reforma do ato constitutivo (art. 1.117 e 1.118, CC). Na segunda, incorporadora e incorporada devem aprovar a incorporação em assembleia geral, as bases da operação e o projeto de reforma eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 96eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 96 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 97 do ato constitutivo, levando tudo a registro na Junta Comercial. (art. 135 e 136 c/c 223, Lei 6.404/76). Concluídos os atos da integração, a sociedade de pessoa declarará extinta a incorporada, e promoverá a respectiva averbação no registro próprio. As sociedades de capital abertas deverão ser sucedidas por sociedades também de capital aberto, negociando novas ações conforme as regras da Comissão de Valores Mobiliários, no prazo máximo de 120 dias a contar da assembleia-geral que aprovou a operação, sob pena de reembolsar os acionistas que quiserem deixar a empresa no valor das suas ações (art. 45 c/c parágrafos 3° e 4°, e art. 223, Lei 6.404/76). Fusão Na fusão, duas ou mais sociedades empresariais se fundem, são extintas, e uma nova empresa é formada congregando direitos e obrigações, passivo e ativo das empresas fundidas. (art. 1.119, CC, e art. 228, Lei 6.404/76). A exemplo do que ocorre na incorporação, nas sociedades de capital a fusão também deve ser aprovada em assembleia geral, de todas as empresas interessadas, pelo consenso da maioria dos acionistas com direito a voto. As regras gerais da fusão no Código Civil, praticamente replicam as regras estabelecidas na Lei das Sociedades Anônimas. Diz o art. 1.120, do Código Civil: Art. 1.120. A fusão será decidida, na forma estabelecida para os respectivos tipos, pelas sociedades que pretendam unir-se. § 1. Em reunião ou assembleia dos sócios de cada sociedade, deliberada a fusão e aprovado o projeto do ato constitutivo da nova sociedade, bem como o plano de distribuição do capital eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 97eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 97 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial98 social, serão nomeados os peritos para a avaliação do patrimônio da sociedade. § 2. Apresentados os laudos, os administradores convocarão reunião ou assembleia dos sócios para tomar conhecimento deles, decidindo sobre a constituição definitiva da nova sociedade. § 3. É vedado aos sócios votar o laudo de avaliação do patrimônio da sociedade de que façam parte.” Cisão Esta figura jurídica foi incorporada ao direito brasileiro, em 1976, pela Lei das Sociedades Anônimas, no art. 229, que também define o instituto. Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão. Nesta forma de sucessão empresarial, apenas quando todo o patrimônio da empresa cindida é absorvido por outras ocorre a extinção. Os direitos e obrigações da empresa cindida são divididos da seguinte forma: a. Cisão total: cem por cento do patrimônio é incorporado a duas ou mais empresas, a serem criadas ou já existentes, sendo irrelevante em qualquer dos casos o tipo empresarial. Neste caso a empresa cindida é extinta e as sucessoras assumem a totalidade dos direitos e obrigações; b. Cisão parcial: neste caso o patrimônio da empresa cindida é desmembrado e parte dele é transferido para uma ou mais empresas incorporadoras, já existentes ou a serem criadas, eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 98eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 98 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 99 sendo irrelevante o tipo social de umas e outras. A empresa cindida não é extinta. Mas, como o seu patrimônio é transferido para terceiro, o seu capital é reduzido. Os direitos e obrigações são divididos entre as partes. Direito de terceiros Os credores que se sentirem prejudicados podem requerer a anulação dos atos autorizadores da incorporação, fusão ou cisão no prazo de 90 dias após a publicação. O art. 232, da Lei 6.404/76, que fixa prazo de 60 dias para o pleito de anulação das fusões, incorporações e cisões foi parcialmente revogado pelo Código Civil, que prevê prazo mais benéfico, de 90 dias para a ação anulatória. Este prazo é decadencial. Impetrada a ação de anulação dos atos de fusão, incorporação ou cisão, os demandados podem consignar judicialmente os valores reclamados, caso em que restará prejudicado o pedido anulatório pelo cumprimento da obrigação. Quanto aos direitos trabalhistas, em nenhuma das formas haverá rescisão de contratos de trabalho como consequência imediata das mudanças societárias. O comum é que, no decorrer ou logo após concluída a transição, as empresas ofereçam aos empregados planos de IMPORTANTE Atenção: é importante não confundir diminuição do capital da cindida com diminuição do seu valor de mercado. Afastar parte do patrimônio com pouca ou nenhuma lucratividade pode, ao contrário, valorizar a cindida no nicho de mercado ela que ocupa. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 99eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 99 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial100 demissão voluntária. O excedente da mão de obra que não adere aos planos é demitido ao longo dos dois anos seguintes,em razão de reorganização administrativa e extinção de postos de trabalho. Isso, porém, não ilide a obrigação trabalhista subsidiária dos sócios e empresas remanescentes ou novas, de todos os tipos societários, e solidária entre os sócios em caso de fraude. O empregador que sucede o anterior, por força de lei, precisa garantir aos empregados todos os direitos laborais vigentes no momento da sucessão, inclusive as previstas em acordos ou convenções coletivas do trabalho. Neste sentido os arts. 10 e 448 c/c os arts 10-A e 448-A da Consolidação das Leis do Trabalho: Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados. Art. 10-A. O sócio retirante responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da sociedade relativas ao período em que figurou como sócio, somente em ações ajuizadas até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, observada a seguinte ordem de preferência: II - os sócios atuais; III - os sócios retirantes. Parágrafo único. O sócio retirante responderá solidariamente com os demais quando ficar comprovada fraude na alteração societária decorrente da modificação do contrato. Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 100eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 100 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 101 Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e 448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor. Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada fraude na transferência. Finalmente, em caso de fiança locatícia prestada pelos sócios para a própria sociedade, ou pela sociedade para terceiros, a exoneração das obrigações só ocorre após a notificação dos locadores. (art.39, Lei 8.245/91, c/c 835 do CC/2002). Regras para a dissolução da sociedade Em sentido amplo, a dissolução de uma sociedade é genericamente definida como o fim da personalidade jurídica de uma sociedade empresária, e, em sentido estrito, pela assinatura do documento de encerramento pelos sócios ou acionistas, ou pelo trânsito em julgado da sentença de anulação dos atos de constituição ou de falência ordenando o encerramento. São duas as formas de dissolução empresarial: parcial e total. Mas a perda da personalidade jurídica só ocorre após a liquidação, com a extinção, etapas imediatamente posteriores aos atos de dissolução. A liquidação é a fase de realização do ativo, quitação do passivo, partilha ou transferência do saldo para sócios ou acionistas. A extinção é o réquiem, o ato final dos sócios ou acionistas para desfazer os vínculos humanos e materiais que integravam a sociedade, concretizado pela assinatura do distrato ou inclusão do ato de vontade na ata da assembleia para dissolução da empresa. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 101eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 101 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial102 No instrumento de dissolução deve constar a nomeação de um liquidante, para proceder aos atos de liquidação e, a final, de extinção da sociedade. A inobservância desses atos tem implicações diretas quanto ao direito de terceiros, em especial nas execuções fiscais e não-fiscais. Nos termos da Súmula 435, do Superior Tribunal de Justiça: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente. Entende a jurisprudência majoritária e pacífica do STJ ser obrigação dos gestores a manutenção dos cadastros atualizados das empresas, desde uma simples mudança de endereço até as informações contábeis mais relevantes e/ou complexas. A regularidade dos registros das empresas nas Juntas Comerciais, especialmente no caso de dissolução das sociedades, parcial ou total, tem por objetivo demonstrar que a resolução foi feita de acordo com os ritos e as formalidades legais, ou seja, através da regular liquidação da sociedade e pagamento dos credores na ordem de preferência ou de acordo com a Lei 11.101/2005, se houver falência. (arts. 1.033 à 1.038, e arts. 1.102 a 1.112, CC). Não existe “dissolução irregular de sociedade” sob aspecto estritamente legal. O STJ, na súmula 435, reconhece, por presunção, uma situação fática irregular caracterizada como ilícito civil que, por sua vez, tem reflexos jurídicos. Ou seja, quando há inobservância de lei, a consequência direta e imediata é o cometimento de um ilícito com consequências para o infrator. A desobediência a norma cogente civil caracteriza um eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 102eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 102 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 103 ilícito civil ensejador de responsabilidade civil, sem prejuízo de eventuais reflexos penais, tributários e/ou administrativos. Nessa linha de pensamento do STJ, pouco importa se os débitos são fiscais ou não-fiscais, pois diante do ilícito se aplica o brocardo “Ubi eadem ratio ibi eadem legis dispositio” (Onde existe a mesma razão, aí se aplica o mesmo dispositivo legal). A responsabilidade dos sócios para com a quitação dos débitos da sociedade independe de dolo, sendo suficiente a culpa. (art. 135, III, CTN, c/c art. 10, Dec. 3.078/19 e art. 158, Lei 6.404/78). Quanto ao regime, o de constituição das sociedades determina também o da dissolução, nos termos o art. 472, do Código Civil. São dois: a. Contratual: as sociedades constituídas pela vontade dos sócios, através de um contrato social, são dissolvidas também contratualmente, por meio de um distrato social; b. Institucional: a dissolução das sociedades criadas por meio institucional ou estatutário é feita em assembleia-geral, através da aprovação dos acionistas que possuam no mínimo metade das ações com direito a voto, se quorum superior não for exigido no estatuto de empresa que não tenha ações negociadas em bolsa ou no mercado de balcão. Quanto à dissolução das sociedades anônimas, ela pode se dar judicial ou extrajudicialmente, nas seguintes circunstâncias: (art. 206, Lei 6.404/76) a. De pleno direito: Acontece à revelia da vontade das partes: pela previsão do tempo de vida da empresa no contrato ou estatuto; por deliberação da assembleia geral; pela existência de único acionista nas datas das assembleias-gerais com interregno de um ano; e pela extinção por imposição ou previsão legal. b. Por decisão judicial: esta forma se dá através sempre através de sentença transitada em julgado. Exemplos são a ação eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 103eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 103 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial104 anulatória de constituição da empresa, que pode ser impetrada por qualquer acionista prejudicado; decisão que reconheça o não preenchimento da finalidade da empresa em ação proposta por no mínimo 5% dos acionistas; ou ainda em decisão que decrete a falência. c. Por decisão de autoridade administrativa: é possível mediante previsão legal pela inobservância de exigência legais administrativas: exemplos são a não renovação ou cassação de alvará, a interdição de estabelecimento comercial ou industrial pelos bombeiros ou pela segurança civil; a proibição do exercício da atividade empresarial no local onde está a empresa está estabelecida, etc. Dissolução Parcial da SociedadeA dissolução parcial da sociedade, também denominada resolução parcial, não extingue a sociedade. Após a saída do sócio retirante, ela segue ativa com os sócios remanescentes ou com a entrada de novos sócios. As quotas pertencentes ao sócio retirante são liquidadas e o valor patrimonial correspondente é entregue a ele ou, conforme o caso, a seus herdeiros, curador ou tutor. A consequência imediata da dissolução parcial é a diminuição do patrimônio da empresa, decorrente da redução do capital social, o que pode ser evitado se os sócios remanescentes optarem por integralizar valor equivalente ao capital liquidado ou por admitir um novo sócio que integralize o capital dissolvido. Atenção: Com o novo Código de Processo Civil, Lei 13.105/2015, as datas de resolução parcial da sociedade passaram a ser aquelas estabelecidas no art. 605 e não mais a data do registro na Junta Comercial, inclusive para o cálculo do interregno de dois anos de responsabilidade do sócio. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 104eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 104 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 105 Diz o CPC: Art. 605. A data da resolução da sociedade será: I - no caso de falecimento do sócio, a do óbito; II - na retirada imotivada, o sexagésimo dia seguinte ao do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio retirante; III - no recesso, o dia do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio dissidente; IV - na retirada por justa causa de sociedade por prazo determinado e na exclusão judicial de sócio, a do trânsito em julgado da decisão que dissolver a sociedade; e V - na exclusão extrajudicial, a data da assembleia ou da reunião de sócios que a tiver deliberado. A dissolução parcial é possível nos seguintes casos: a. Morte de sócio: a resolução neste caso depende do acordado no contrato social (art. 1.028, I, CC). São três as opções: a sociedade pode ser dissolvida, liquidada e as quotas divididas entre os sócios remanescentes e os herdeiros do sócio morto (art. 1.028, II, CC); as quotas pertencentes ao sócio morto são liquidadas e o dinheiro entregue aos herdeiros (art. 1.028, caput, CC), prosseguindo a sociedade com os sócios remanescentes; ou a transferência das quotas do sócio morto para os herdeiros, que o substituirão na sociedade (art. 1.028, III, CC). b. Direito de retirada: O Código Civil reguarda o princípio da liberdade das convenções, segundo o qual as pessoas são livres para contratar e distratar, sem a necessidade do consentimento dos demais sócios. (art. 1.029, CC, c/c 599, CPC) O sócio que pretende retirar-se de uma sociedade por prazo indeterminado deve notificar os demais sócios com antecedência de 60 dias. Como esta notificação precisa ser inequívoca, o melhor é fazê-la por notificação extrajudicial, em Cartório de Títulos e Documentos. No caso da sociedade por prazo determinado, o afastamento de sócio só pode ocorrer por sentença judicial que eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 105eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 105 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial106 reconheça a justa causa como mote para o distrato. As causas mais comuns são: a quebra da affectio societatis, a incompatibilidade de objetivos e ideias, o desentendimento grave e a insatisfação por descumprimento do acordado. A decisão judicial que autoriza o afastamento do sócio por justa causa tanto pode ser liminar, se presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, como definitiva, após transitada em julgado. Nada impede, porém, a opção dos sócios pela dissolução total da sociedade (parágrafo único, art. 1.029, CC). Isso acontece, não raro, quando o sócio retirante é o responsável pela administração societária ou é o único com a capacitação técnica exigida para a sua existência. O sócio que sai também pode ceder suas quotas a terceiros, a título oneroso ou gratuito, mas, nesse caso, não há dissolução parcial da sociedade, e sim em alienação ou doação. c. Exclusão ou Expulsão de sócio: Somente por sentença judicial, em ação impetrada pela maioria dos sócios, é possível excluir ou expulsar um deles, provando-se o cometimento de falta grave no cumprimento das suas obrigações ou incapacidade superveniente do retirante. (art. 1.030, CC). É possível o afastamento liminar do sócio das atividades societárias até decisão final, em tutela de urgência, quando presentes o fumus boni iuri e o periculum in mora. Neste caso, no exame e deferimento do pedido liminar, o juiz leva em consideração os princípios da preservação e da função social da empresa. (art. 1.085, CC). Como a lei não define falta grave, o leque de possibilidades é muito amplo. As mais comuns são: fraude, desvio de caixa, uso mal-intencionado dos recursos da empresa e dos clientes, conduta desleal, descumprimento das obrigações societárias, uso do nome da empresa e dos recursos societários para fins ilícitos, interesses próprios ou de terceiros, etc. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 106eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 106 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 107 Dissolução total da sociedade A dissolução total da sociedade resulta no fim da personalidade empresária pelo rompimento definitivo dos vínculos contratuais. Uma das possibilidades é o fim do ciclo de vida da empresa contratualmente estabelecido, quando opera de pleno direito. O legislador, entretanto, com base nos princípios da preservação da empresa e da função social, estabeleceu, como exceção, a vigência por prazo indeterminado na inércia dos sócios, pela falta de liquidação da sociedade. Neste caso, a sociedade ainda poderá ser extinta, total ou parcialmente extinta, mas somente nas demais hipóteses previstas em lei e não mais pelo vencimento do prazo de vida estabelecido no contrato. (art. 1.033, CC). Além do prazo contratual, pode-se dissolver totalmente uma sociedade: por consenso dos sócios, deliberação por maioria absoluta, falta de pluralidade de sócios por mais de 180 dias, por extinção ou não renovação da autorização do Estado para funcionar (caso de bancos, seguradoras, determinação da defesa civil, etc.). IMPORTANTE Não se dissolve a sociedade por falta de pluralidade de sócios se o sócio remanescente, dentro do prazo de 180 dias, registrar na Junta Comercial pedido de transformação da sociedade para empresário individual ou empresa individual de responsabilidade limitada – EIRELI. (parágrafo único, art. 1.033, CC). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 107eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 107 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial108 Outras possibilidades para a dissolução são o trânsito em julgado de ação que julga procedente pedido de anulação da constituição societária, reconhece o exaurimento do seu fim social – exemplo são as Sociedade de Propósito Específico – SPE -, ou da sua inexequibilidade (art. 1.034, CC). A lei permite, expressamente, a possibilidade de inserção de outros motivos para a resolução das sociedades nos documentos constitutivos, a critério dos sócios, mas cada caso será examinado individualmente pelo Judiciário. (art. 135, CC). Finalmente, a sociedade pode ser totalmente dissolvida pela decretação judicial de falência. (arts. 1.044 e 1.087, CC, c/c, Lei 11.101/2005). Liquidação das sociedades Encerrada a fase de dissolução, inicia-se a fase de liquidação das sociedades que, por sua vez, antecede a extinção da pessoa jurídica. Ela pode ser definida como uma sequência de atos e providências legais e administrativas a serem tomadas pelo liquidante nomeado, com o objetivo de realizar o ativo, ou seja, converter em dinheiro tudo o que for possível, quitar o passivo e dividiro eventual saldo entre os sócios e acionistas. Nesta fase todas as negociações da sociedade são suspensas, à exceção das iniciadas antes da dissolução, que devem ser obrigatoriamente ultimadas. A liquidação pode ser: a. Extrajudicial (voluntária, consensual ou amigável): ocorre quando, no ato da dissolução, em comum acordo, os sócios nomeiam o liquidante e estabelecem as regras para os trâmites da liquidação. OBS: Este acordo é imutável e perene, e só pode ser alterado excepcionalmente por consenso unânime eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 108eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 108 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 109 entre as partes ou por anulação judicial, provada a existência de vício de consentimento, simulação, etc. b. Judicial: se a dissolução for feita judicialmente, a liquidação também deve ser judicial. E, ainda quando feita extrajudicialmente, na falta de consenso entre os sócios sobre a nomeação do liquidante e/ou sobre as regras da liquidação, a via judicial é o caminho. Conforme as regras previstas na Lei de Falências, a liquidação judicial é sempre feita pelo procedimento comum. (parágrafo 3°, arts. 1.046 e 318, CPC, c/c art. 1.111, CC). No decorrer do processo de liquidação, o juiz convocará e presidirá reunião ou assembleia, sempre que necessário, resolvendo sumariamente as questões suscitadas. As atas, autenticadas, serão apensadas ao processo judicial. (1.112, CC). Para manter a transparência e preservar o direito de terceiros, o liquidante usará a denominação social acrescida do termo “em liquidação”. (art. 212, Lei 6.404/76). Quanto ao liquidante, ele só é obrigatório nos casos de dissolução total da sociedade. Nas dissoluções parciais é comum o próprio contador da empresa, assistido por outro da confiança do sócio retirante, proceder a liquidação. Ele pode ser definido como um profissional contratado pela sociedade a ser dissolvida ou nomeado pelo juiz para, de forma isenta, administrar o processo de liquidação, eventualmente cumulando a administração da sociedade, até a extinção, levantando balanços, arrecadando ativos, quitando passivos e, a final, partilhando o saldo entre os sócios, depositando os valores em conta judicial, etc. Pode ser pessoa estranha à sociedade ou um dos sócios, mas a sua atuação não configura mandato. Os poderes que necessita para a prática dos atos de liquidação vêm da lei, como transigir, receber e dar quitação, alienar bens móveis ou imóveis, dentre outros. Esses poderes também são limitados eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 109eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 109 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial110 pela própria lei, que impede o liquidante de gravar de ônus reais móveis ou imóveis, contrair dívidas em nome da sociedade sem autorização no contrato social ou nas regras estabelecidas para a liquidação, pelos sócios ou pelo juiz, excetuando a contratação de empréstimos bancários indispensáveis para o pagamento de obrigações inadiáveis. (art. 1.105, CC). A isenção e a liberdade no desenvolvimento do trabalho são essenciais para que o liquidante possa tomar as melhores decisões patrimoniais. As obrigações e responsabilidades dos liquidantes são equiparados às dos administradores da sociedade liquidanda (art. 1.104, CC), e seus deveres estão elencadas no art. 1.103, do Código Civil, que, entretanto, não são exaustivos. Reza o art. 1.103, do Código Civil. Art. 1.103. Constituem deveres do liquidante: I - averbar e publicar a ata, sentença ou instrumento de dissolução da sociedade; II - arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer que estejam; III - proceder, nos quinze dias seguintes ao da sua investidura e com a assistência, sempre que possível, dos administradores, à elaboração do inventário e do balanço geral do ativo e do passivo; IV - ultimar os negócios da sociedade, realizar o ativo, pagar o passivo e partilhar o remanescente entre os sócios ou acionistas; V - exigir dos quotistas, quando insuficiente o ativo à solução do passivo, a integralização de suas quotas e, se for o caso, as quantias necessárias, nos limites da responsabilidade de cada um e proporcionalmente à respectiva participação nas eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 110eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 110 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 111 perdas, repartindo-se, entre os sócios solventes e na mesma proporção, o devido pelo insolvente; VI - convocar assembleia dos quotistas, cada seis meses, para apresentar relatório e balanço do estado da liquidação, prestando conta dos atos praticados durante o semestre, ou sempre que necessário; VII - confessar a falência da sociedade e pedir concordata, de acordo com as formalidades prescritas para o tipo de sociedade liquidanda; VIII - finda a liquidação, apresentar aos sócios o relatório da liquidação e as suas contas finais; IX - averbar a ata da reunião ou da assembleia, ou o instrumento firmado pelos sócios, que considerar encerrada a liquidação. Parágrafo único. Em todos os atos, documentos ou publicações, o liquidante empregará a firma ou denominação social sempre seguida da cláusula “em liquidação” e de sua assinatura individual, com a declaração de sua qualidade. Sobre a remuneração do liquidante, quando a contratação é privada, não há maiores problemas, pois prevalece o acordo entre os interessados. Porém, no caso da nomeação judicial, como inexiste previsão legal para a remuneração desse profissional, aplica-se, por analogia, a remuneração do administrador judicial fixada na Lei de Recuperação e Falências – LRF (Lei 11.101/2005). Neste diapasão, a remuneração do liquidante, na liquidação judicial, não ultrapassa 5% do valor da venda dos bens da sociedade, reduzindo para 2% no caso das Microempresas - ME e das Empresas de Pequeno Porte – EPP. (art. 24, LRF). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 111eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 111 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial112 Entretanto, como o trabalho do liquidante, mesmo nomeado judicialmente é de natureza privada, o percentual inicialmente arbitrado pelo juiz pode ser impugnado pelas partes ou ser objeto de negociação e acordo entre partes e liquidante, posteriormente homologado pelo juiz. A remuneração arbitrada em porcentagem sobre o valor arrecadado tem por objetivo estimular o liquidante a obter melhor preço pelos bens. Quanto melhor ele vende, maior a sua remuneração. Finalmente, é obrigação do liquidante prestar contas e responder pelos atos que praticou perante sócios, credores e Juízo. (arts. 154 e 155, LRF, c/c 217, Lei 6.404/76). Aprovadas as contas em assembleia-geral ou por aceitação dos sócios, na liquidação extrajudicial, a fase de liquidação é dada por encerrada, a sociedade declarada extinta por distrato ou na ata da assembleia-geral, documentos que devem ser levados a registro na Junta Comercial. Na liquidação judicial é observada a lei processual (art. 1.111, CC). Em resumo, o juiz julga as contas e a liquidação e, estando tudo de acordo com a lei, sentencia a extinção da sociedade, oficiando a Junta Comercial. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que os aspectos e tipos de alterações societárias, suas peculiaridades e consequências. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 112eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 112 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 113 Desconsideraçãoda personalidade jurídica A desconsideração da pessoa jurídica Esse instituto sofreu profunda mudança com a recente Lei 13.874, sancionada em 20 de setembro de 2019, que alterou vários artigos do Código Civil e outras leis que regulamentam o Direito Empresarial. A desconsideração da pessoa jurídica, também denominada de desconsideração da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, segue sendo uma medida judicial extrema, que atinge os bens particulares dos sócios e administradores para o pagamento de credores da sociedade, prejudicados pelo abuso da personalidade jurídica, praticado com desvio de finalidade ou confusão patrimonial. (art. 50, CC). Esta é a nova redação do art. 50 do Código Civil: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a personalidade jurídica. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 113eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 113 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial114 obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. § 1° Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. § 2° Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice- versa; II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. § 3° O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. § 4° A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. § 5° Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. Houve uma preocupação do legislador em delimitar a responsabilidade e, consequentemente, os bens particulares dos sócios e administradores que podem ser atingidos pela desconsideração, condicionando-a ao benefício direto ou eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 114eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 114 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 115 indireto do abuso da personalidade jurídica. Ou seja, os sócios e administradores que não tenham se beneficiado do abuso estão naturalmente excluídos e seus bens particulares não podem ser atingidos para o pagamento de dívidas da sociedade. Pela redação anterior, o simples fato de ser sócio de sociedade fraudadora autorizava o perdimento de bens para indenização dos prejudicados. Também restaram definidos e bem delimitados o abuso de finalidade e a confusão patrimonial, assim como os casos em que a personalidade jurídica não pode ser desconsiderada. A atual definição legal do desvio de finalidade é utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e/ou praticar atos ilícitos de qualquer natureza. Para a caracterização da confusão patrimonial, por sua vez, é preciso haver a ausência real de separação dos bens dos sócios e administradores dos bens da pessoa jurídica e prática reiterada de atos que indiquem confusão de obrigações dos particulares e da empresa, transferência de ativos que não IMPORTANTE A Medida Provisória n° 881/2019, previa expressamente a necessidade da conduta dolosa para configuração do abuso da personalidade, o que foi suprimido na Lei n° 13.874 sancionada. Mas essa supressão é irrelevante, pois o texto da lei exige o propósito, ou seja, o dolo, a vontade livre e consciente de praticar o ato abusivo e obter o resultado danoso. A culpa, caracterizada pela negligência, imprudência ou imperícia, não autoriza a desconsideração da pessoa jurídica. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 115eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 115 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial116 configurem dividendos, e a prática de outros atos que deixem clara a ausência de autonomia patrimonial da pessoa jurídica. A lei também desautoriza a desconsideração da pessoa jurídica pelo simples fato de as empresas integrarem grupo econômico, limitando a responsabilidade àquelas que real e efetivamente tenham se beneficiado do abuso da personalidade. Tampouco autoriza a desconsideração da pessoa jurídica a simples alteração de finalidade da atividade econômica das empresas ou a expansão das atividades empresariais. O objetivo da alteração na lei foi dar segurança jurídica aos sócios e administradores, especificando de forma clara como e de que forma os seus bens pessoais podem ser atingidos para pagamento de dívidas da sociedade. Porém, por outro lado, tornou mais difícil para os credores fazer a prova das condutas abusivas das empresas. A jurisprudência, nos próximos anos, se encarregará de equacionar a atual hipossuficiência dos credores frente às empresas que praticam condutas abusivas. Processualmente, a desconsideração da pessoa jurídica deve ser pleiteada através de incidente processual, inclusive nos juizados especiais, à exceção de quando o pedido for feito na inicial. (arts. 133 a 137 e 1.062, CPC). RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você deve ter aprendido sobre o funcionamento da personalidade jurídica. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 116eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 116 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 117 Recuperação de empresas Lei de Recuperação e Falência de Empresas A Lei de Recuperação e Falência de Empresas, Lei 11.101/2005, é uma norma eclética, pois reúne no seu texto diretrizes administrativas, civis, processuais e penais, com o objetivo de disciplinar recuperações extrajudiciais e judiciais, e também a falência do empresário individual e da sociedade empresária, lastreada no princípio da preservação da empresa e da sua função social, com norte na proteção da atividade econômica através da valorização do trabalho humano e da livre iniciativa, aliando preservação dos empregos e justiça social à recompensa do lucro e saúde da economia nacional, nos termos do art. 170, da Constituição Federal. OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender sobre a recuperação de empresas. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 117eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 117 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial118 Nesta linha também o art. 47, da Lei 11.101/2005: Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dostrabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Crises empresariais patrimoniais, econômicas ou financeiras podem ter várias razões: má administração, desentendimento entre sócios, fenômenos naturais, concorrência desleal, falta ou excesso de insumos, diminuição do consumo, atraso tecnológico, linha de produção ultrapassada, dentre outros. O objetivo primeiro da Lei 11.101, é ajudar as empresas a sanar essas crises para que possam continuar atuando no mercado, restringindo a falência aos casos de real impossibilidade de recomposição dos ativos empresariais. Caracteriza-se crise econômica quando a empresa não vende produtos e serviços em quantidade que lhe permita pagar os seus custos, ensejando inadimplemento eventual, ou seja, incapacidade de cumprir obrigações líquidas e certas nos prazos corretos. A crise financeira é mais grave e ocorre quando o fluxo de caixa é insuficiente para o pagamento das obrigações empresariais, caracterizando iliquidez e incapacidade provisória do devedor para cumprir as obrigações, em que pese a empresa possua ativo em quantidade suficiente para quitar dívidas vencidas e vincendas. A crise patrimonial, por sua vez é muito grave e ocorre quando o ativo da empresa é inferior ao seu passivo, ou seja, quando há insolvência, incapacidade definitiva para o pagamento eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 118eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 118 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 119 das obrigações, pela falta de bens e direitos suficientes para cobri-las. Atenção: A insolvência civil é a incapacidade econômica e financeira de pessoa física para pagar dúvidas por ela contraídas e que superam os seus ganhos e o seu patrimônio disponível ou penhorável. Ao fim do processo a pessoa física pode se recuperar e tornar-se solvente ou, persistindo a inadimplência, ser declarada definitivamente insolvente por sentença judicial. Por força do art. 1.052 do CPC/2015, até a edição de lei especial que regulamente o tema, a insolvência civil continua sendo processada e julgada de acordo com os arts. 758 a 786-A do CPC/1939. O endurecimento da desconsideração da pessoa jurídica pela Lei 13.874/2019, que também aumentou a rigidez na separação patrimonial das empresas e dos empresários, limitando responsabilidades, tem por objetivo incentivar o empreendedorismo. O empresário pode empenhar-se mais e melhor para recuperar a sua empresa sabendo que o seu patrimônio pessoal não só responderá pelas dividas societárias se provado o abuso de finalidade e a confusão patrimonial. Pessoas jurídicas na lei 11.101/2005 - LRF Todas as pessoas jurídicas que desenvolvem atividades empresariais estão sob a égide da Lei de Recuperação e Falência de Empresas, excetuando as elencadas no art. 2°, em rol não exaustivo, já que há outras pessoas jurídicas não sujeitas à falência por previsão no Código Civil e em leis especiais. Diz o art. 2°, da Lei 11.101/2005: Art. 2° Esta Lei não se aplica a: I – empresa pública e sociedade de economia mista; eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 119eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 119 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial120 II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. Relembrando, o parágrafo único, do art. 966, do Código Civil, especifica que não são empresários “quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”. Para fins falimentares, porém, é irrelevante que o empresário individual ou a sociedade empresária estejam regularmente registrados na Junta Comercial. Ou seja, as sociedades não personificadas, e mesmo aquelas com alguma irregularidade registral, podem ter a sua falência decretada. O que a lei lhes veda é o pleito de autofalência, de recuperação judicial ou de falência de outro empresário do qual sejam credores, pois para isso precisam atender às exigências dos arts. 105 e 106, c/c art. 97, da Lei 11.101/2005. Só as empresas regularmente registradas na Junta Comercial alcançam essas benesses legais. As atividades rurais, por sua vez, só estão sujeitas à recuperação judicial e à falência se o trabalhador rural optar por fazer a sua inscrição na Junta Comercial e se equiparar à sociedade empresária (arts. 971 e 984, CC). Nada impede, porém, que o trabalhador rural devedor pleiteie a declaração judicial da sua insolvência civil. Entretanto, seja por desconhecimento da lei, seja pelo preconceito em se autodeclarar devedor, ou ainda pelo alto custo processual, a insolvência civil raramente é utilizada pelas pessoas físicas devedores, em que pese possa ser uma medida extremamente benéfica, por lhes dar tempo e condições eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 120eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 120 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 121 favoráveis para renegociar dívidas, preservar o seu patrimônio e recuperar sua saúde financeira. Com relação às cooperativas em geral, há um aparente vácuo legal no que diz respeito à possibilidade da recuperação judicial ou extrajudicial, já que o instituto não existia em 1976, quando sancionada a Lei 5.764, que define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas e dá outras providências. E é aparente porque, mesmo há muitos anos, o legislador se preocupou em proteger e ajudar as cooperativas em dificuldade econômica-financeira a se recuperar, em razão da sua importância social. As cooperativas de crédito, nos termos do art. 2°, não estão sob a égide da Lei 11.101/2005, pois todas as instituições que têm natureza jurídica de instituição financeira, não-bancária, se submetem diretamente à Lei 6.024/74, que trata da intervenção e liquidação extrajudicial das instituições financeiras. A Lei de Falências é usada apenas subsidiariamente, na omissão da Lei 6.024/74. As cooperativas de crédito também estão sob fiscalização direta do Banco Central, nos termos do Decreto 2.321/1987, que prevê um regime de administração especial temporária, nas instituições financeiras publicas e privadas não federais, à guisa de recuperação. As cooperativas em geral, por sua vez, não estão sujeitas à falência por serem sociedades de pessoas, nos termos do art. 4°, da Lei 5.764/1971. Porém, é importante ressalvar que o art. 76, da Lei n. 5.764/71, prevê uma espécie de recuperação econômica para as cooperativas em geral. Após a publicação da ata da assembleia que autoriza a liquidação, com vistas à mantença da integridade do sistema cooperativo, a bem do interesse público e para facilitar uma eventual recuperação econômica, as cooperativas têm moratória de um ano, período no qual ficam suspensas todas as ações judiciais contra elas. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 121eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 121 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial122 Assim como no caso das cooperativas de crédito, a Lei de Recuperação e Falências não se aplica, in totum, às cooperativas em geral. Ela é usada apenas de forma subsidiaria, no silêncio da lei especial 5.764/71 e no que não afrontar as determinações expressas do legislador em normas que lhe digam respeito diretamente. Aspectos processuais relevantes da LRF A competência para o processo de recuperaçãojudicial ou da falência é do juízo da comarca estadual no qual está instalado o principal estabelecimento do devedor ou da filial que tenha sede no estrangeiro, que também fica prevento para quaisquer outros pedidos de recuperação judicial ou de falência, relacionados ao mesmo devedor. (art. 3° c/c parágrafo 8°, art. 6°, LRF). A exceção diz respeito à constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa, nos termos da Súmula 480, do STJ, in verbis: “O juízo da recuperação judicial não é competente para decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa.” Quanto ao curso do prazo prescricional, com o deferimento da recuperação judicial ele é suspenso, assim como todas as ações e execuções judiciais contra o devedor, à exceção das ações ilíquidas, das trabalhistas e das execuções fiscais, cujo trâmite, na fase de conhecimento, prossegue normalmente nas justiças especializadas (art. 6º e parágrafos 1º, 2º e 7º, LRF). A suspensão é de no máximo 180 dias, a contar do deferimento do processamento da recuperação e, após o seu decurso, os credores podem impetrar ou prosseguir com suas ações e execuções, independente de novo pronunciamento judicial. (parágrafo 4°, art. 6°, LRF). Atenção: O caput do art. 6° suspende a prescrição, não a interrompe. Na suspensão o prazo para e depois volta a correr eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 122eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 122 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 123 pelo tempo restante. Na interrupção o prazo para e na volta a contagem é reiniciada, como se nunca tivesse corrido antes. E, apenas para relembrar, a decadência, perda de um direito potestativo, não pode ser suspensa e nem interrompida. Os créditos alimentares, tanto trabalhistas como honorários advocatícios, devem ser habilitados na recuperação e na falência em concurso com os demais credores. Um credor individualmente considerado, em que pese a relevância da natureza jurídica da verba a que tem direito, não pode sobrepor-se a todos os interesses envolvidos no processo recuperatório ou falimentar. Por esta razão, as ações trabalhistas e outras que tenham caráter alimentar, apesar da proteção constitucional de que gozam, devem ser julgadas nas Justiças Especializadas e executadas no Juízo Universal Falimentar. A própria lei falimentar as coloca em patamar superior no momento do pagamento dos créditos. Imediatamente após a nomeação, o administrador judicial precisa providenciar um levantamento contábil de todos os créditos e débitos existentes contra o devedor, com base nos documentos apresentados pelos credores, livros contáveis, documentos comerciais e fiscais da empresa, etc. (art. 7°, LRF). O balanço deve ser publicado em edital, dando início ao prazo de 15 dias para os credores habilitarem eventuais créditos não indicados no edital ou apresentarem divergências sobre os créditos publicados, em documento no qual conste o nome e o endereço do credor, o valor do crédito, comprovantes, etc. (parágrafo 1°, art. 7°, c/c art. 9°, LRF). Apresentadas as habilitações e divergências, o administrador judicial deve publicar novo edital com a relação consolidada dos credores. (parágrafo 2°, art. 7°, LRF). Eventual omissão do Administrador pode ser sanada por determinação judicial. Mesmo após a publicação editalícia da relação consolidada de credores, a lei admite a habilitação de credores retardatários, eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 123eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 123 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial124 que, entretanto, não gozarão do direito a voto nas deliberações da assembleia-geral de credores na recuperação judicial, e sem terão direito a rateios na falência. (parágrafos 1° e 2°, art. 10, LRF). O Ministério Público, o próprio devedor e quaisquer credores, no prazo de 10 da publicação do edital de publicação da relação consolidada, podem impugnar a relação de credores alegando ilegitimidade, ausência de crédito, valores divergentes, prescrição, etc. (art. 8°, LRF). As impugnações são autuadas em autos apartados e apensas à ação principal. (parágrafo único, art. 13, LRF). Cabe ressalvar que, na recuperação judicial e na falência, o administrador judicial não representa credores, nem devedores. Ele é um auxiliar judicial, pessoa física ou jurídica da confiança do juiz, nomeado para conduzir os trâmites administrativos e fiscalizar a gestão na fase de recuperação, e efetivamente administrar o negócio na fase falencial, sozinho ou em concurso com auxiliares. (art. 21, LRF). Essa nomeação trás consigo deveres comuns ou não à recuperação e à falência. a. Comuns: enviar correspondência aos credores; fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados; dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos; exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações; etc. (art. 22, inciso I, letras “a” a “i”, LRF). b. Específicos na Recuperação Judicial: “fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial; requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação; apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 124eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 124 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 125 devedor; apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação.” (art. 22, inciso II, letras “a” a “d”). c. Específicos na Falência: avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores terão à sua disposição os livros e documentos do falido; examinar a escrituração do devedor; relacionar os processos e assumir a representação judicial da massa falida; receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que não for de interesse da massa; etc. (art. 22, inciso III, letras “a” a “r”). Incorrendo o administrador judicial em desobediência a qualquer obrigação legal ou desacato a ordem judicial, o juiz ordenará que seja intimado para, no prazo de 05 dias sanar a pendência. Decorrido o prazo in albis ou não atendida a pendência a contento, o administrador é destituído em decisão motivada e justificada e, preferencialmente, no mesmo despacho, o juiz “nomeará substituto para elaborar relatórios ou organizar as contas, explicitando as responsabilidades de seu antecessor”. (art. 23 e parágrafo único, LRF). O administrador também pode livremente renunciar ao cargo para o qual foi nomeado (parágrafo 3°, art. 24, c/c inciso III, art. 22, LRF), sem perda dos honorários até o momento da renúncia. A remuneração do administrador é fixada pelo juiz, inclusive quanto à periodicidade dos pagamentos, mas 40% somente são pagos após a apresentação das contas e do relatório final. (art. 24, c/c 24, LRF). É ônus do devedor ou da massa falida o pagamento o administrador judicial e das pessoas contratadas para ajudá-lo. (art. 25, LRF). Assim como na renúncia, na destituição o administrador recebe proporcionalmente ao trabalho realizado, exceto se houver inércia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 125eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 125 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial126 previstas na lei, quando perderá o direito a ela. (parágrafo 3°, art. 24, LRF). Comitê de credores O Comitê de Credores é um órgão facultativo, fiscalizatório e de representação dos credores na recuperação judicial e na falência, dotado de poderesdecisórios e remunerado com eventuais sobras de caixa. Ele é um colegiado composto por credores, com composição prevista no art. 26, da LRF. A formação do comitê supre a necessidade de convocação da universalidade de credores na tomada de decisões simples ou complexas. E, ainda que não haja sobra de caixa nem remuneração, isso não a escusa de total empenho no cumprimento das suas obrigações fiscalizatórias, sob pena de responsabilidade. São algumas atribuições do Comitê de Credores, em rol não exaustivo: fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial, zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei, comunicar ao juiz eventuais violações de direitos ou prejuízo aos interesses dos credores; etc. (art. 27, LRF). IMPORTANTE A remuneração do administrador judicial e dos seus auxiliares é crédito extraconcursal, ou seja, deve ser paga antes de qualquer outro pagamento a credores do falido. (art. 25, LRF). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 126eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 126 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 127 Não havendo comitê de credores, o administrador judicial, e na sua incompatibilidade o juiz, exercerão as atribuições a ele conferidas pela lei. (art. 28, LRF). Tão logo nomeados, administrador e membros do comitê de credores são intimados pessoalmente para assinarem, na sede do juízo, em 48 horas, um “termo de compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo e assumir todas as responsabilidades a ele inerentes”. (art. 33, LRF). Se o administrador não assinar no prazo, o juiz nomeará outro. (art. 34, LRF). No art. 30, da Lei 11.101, estão elencados os impedimentos para o exercício da função de administrador judicial e de membro do comitê de credores. O caput do art. 30, da LEF, não se aplica no caso de renúncia do administrador. Finalmente, cabe ressalvar que tanto o administrador judicial como os membros do comitê respondem pelos prejuízos que causarem no exercício das suas atividades por dolo ou culpa. (art. 32, LRF). Assembleia-geral de credores A assembleia de credores é um colegiado composto por credores trabalhistas, acidentários, com garantias reais, privilegiados (geral e especial), quirografários, subordinados, microempresa ou empresa de pequeno porte do devedor, para, soberanamente, cumprir as seguintes atribuições previstas no art. 35, da LRF. É vedado ao juiz mudar as decisões da assembleia, exceto nos casos comprovados de fraude ou violação de normas cogentes, com destaque para os preceitos de ordem pública. Quando necessário, o juiz convoca a assembleia-geral de credores por edital, com antecedência mínima de 15 dias, nele eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 127eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 127 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial128 fazendo constar local, hora e data da realização da assembleia, ordem do dia, etc. (art. 36, LRF). A assembleia é presidida pelo administrador judicial, que designará um secretário entre os presentes, e a instalará, em primeira convocação, “com a presença de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe, computados pelo valor, e, em segunda convocação, com qualquer número”. (caput e parágrafo 2°, art. 37, LRF). O voto de cada credor é proporcional ao seu crédito, exceto para a aprovação do plano de recuperação, quando os votos dos trabalhadores, microempresários e empresas de pequeno porte serão contabilizados unitariamente, sem importar o valor do crédito de cada um. (art.38 e parágrafo 2°, art. 45 c/c incisos I e IV, art 41, LRF). Podem participar na assembleia, mas sem direito a voto: os sócios do devedor, as sociedades coligadas e controladas, aquelas que tenham sócio ou acionista com participação superior a 10% (dez por cento) do capital social do devedor ou nas quais o devedor ou algum de seus sócios tenham participação superior a 10% (dez por cento) do capital social, cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, colateral até o 2º grau, ascendente ou descendente do devedor, de administrador, do sócio controlador, de membro dos conselhos consultivo, fiscal ou semelhantes da sociedade devedora, e a sociedade em que quaisquer dessas pessoas exerçam essas funções, podem participar na assembleia. (art. 43, LRF). Recuperação judicial Recuperação judicial é uma tentativa opcional, do empresário ou da sociedade empresária em estado pré-falencial, para restabelecer a sua saúde econômica-financeira através de uma ação judicial. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 128eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 128 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 129 Credores, trabalhadores, sindicatos e/ou governo não têm legitimidade para pleitear a recuperação judicial de empresas, ainda que possuam um maravilhoso e muito bem estruturado plano para reorganizá-las e tirá-las do estado pré-falecial. Este não é, inclusive, o caminho apropriado para todas as empresas, pois a reorganização administrativa e produtiva é cara e resulta inequivocamente em prejuízo parcial ou total para os credores. Como o repasse dos riscos associados a atrasos nos pagamentos é política monetária e de gestão financeira no Brasil, a recuperação judicial ou extrajudicial resulta em aumento de preços dos produtos e serviços, juros bancários, impostos, etc. A conta final é sempre paga pela sociedade em geral. Além disso, esse contínuo repassar de custos cria um círculo vicioso que prejudica pessoas físicas, empresários e sociedades empresárias no curto, médio e longo prazos. Diante desse quadro, somente o empresário ou sociedade empresária com real probabilidade de recuperação deve ter o pedido judicial deferido. Os demais devem requerer falência. As sociedades em comum, de economia mista, cooperativa ou simples não têm legitimidade para impetrar Ação de Recuperação Judicial justamente porque não podem ter a falência decretada. São também carentes de legitimidade as instituições financeiras, as integrantes do sistema de distribuição de títulos ou valores mobiliários no mercado de capitais e as corretoras de câmbio (art. 53, Lei 6.024/74), as seguradoras integrantes do Sistema Nacional de Seguros Privados (art.26, Decreto-lei n. 73/66) e as operadoras e seguradoras de planos privados de assistência à saúde (art. 23, Lei 9.656/98). Pode requerer a Recuperação Judicial o empresário ou sociedade empresária devedora que, no momento da distribuição da ação, contar com mais de dois anos de exercício da atividade eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 129eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 129 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial130 empresarial e que, cumulativamente: não seja falido, ou tenha falência anterior extinta por sentença transitada em julgado; não tenha pedido recuperação judicial, ou sendo microempresa ou empresa de pequeno porte não tenha obtido concessão de recuperação judicial com plano especial nos cinco anos anteriores à distribuição da ação; e, não ter sido condenada, nem ter administrador ou sócio controlador condenados por crimes falimentares. (art. 48, incisos I a IV, LRF). Ressalvada a preferência dos créditos extraconcursais discriminados no art. 84, da LRF (remunerações do administrador judicial e auxiliares, créditos pagos por credores da recuperanda, custas judiciais e extrajudiciais, obrigações resultantes de atos jurídicos válidos), o pagamento dos credores se dá na ordem estrita do art. 83 da LRF: trabalhistas até 150 salários mínimos por credor e acidentários, seguidos pela garantia real até o limite do bem gravado, tributários exceto multas, créditos com privilégio especial discriminados em lei (art. 964,CC, com direito de retenção, devidos a microempreendedores individuais e das microempresas e empresas de pequeno porte, etc.), créditos com privilégio geral (art. 965, CC, art. 65, LRF, e outros previstos em leis especiais), créditos quirografários, multas diversas e créditos subordinados. Cabe ao autor a demonstração inicial da viabilidade do cumprimento dessas obrigações e a condição posterior de prosseguimento do negócio, sob pena do plano de recuperação ser judicialmente recusado. O exame da viabilidade é feito pelo critério do risco, com base nos níveis do ativo e passivo da empresa, o seu porte econômico, o seu tempo de existência e a sua importância social no nicho de mercado que ocupa, em especial o número de mão de obra que emprega, sem prejuízo de outras características importantes e a serem consideradas caso a caso. Os meios de recuperação judicial da atividade econômica, ou seja, algumas providências financeiras, administrativas e eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 130eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 130 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 131 jurídicas possíveis, não exaustivas, estão elencadas no art. 50, da LRF. É ônus do administrador da sociedade empresária, ao impetrar a recuperação judicial, informar ao juiz os meios que escolheu e que julga aptos e eficazes à restauração econômica- financeira da recuperanda. O procedimento judicial da recuperação de empresas se divide em três fases muito bem demarcadas: a postulatória, a deliberativa e a executiva. a. Fase Postulatória: tem início com a distribuição da inicial da Ação de Recuperação Judicial pelo empresário ou pela sociedade empresária. Reiterando: só são legitimados a interpor Recuperação Judicial aqueles que podem legitimamente figurar no polo passivo de ação de falência. A recuperanda deve tornar imediatamente acessíveis aos credores suas demonstrações contábeis, a fim de que lhes seja possível verificar a sua real situação econômica, financeira e patrimonial. Também em atenção ao princípio da transparência e da boa-fé, a recuperanda deve, obrigatoriamente, instruir a petição inicial com os atos constitutivos, a procuração e os seguintes documentos: (art. 51, I a IX, LEF). Na falta ou incompletude de documentos o juiz pode dar prazo para que sejam disponibilizados. Decorrido o prazo in albis, o juiz extinguirá a ação sem resolução do mérito (art. 317, CPC). O autor não poderá propor novamente a ação sem pagar ou depositar em cartório as despesas e os honorários a que tiver sido condenado (art. 92, CPC). Se a inicial estiver instruída corretamente o juiz despachará ordenando o processamento do pedido de recuperação judicial, nomeará um administrador judicial da sua confiança, determinará vista ao Ministério Público, dispensará a apresentação de certidões negativas para o exercício das atividades empresariais eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 131eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 131 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial132 – exceto no caso de contratação com o Poder Público ou para o recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios -, determinará a entrega pela recuperanda de demonstrativos contáveis mensais durante todo o trâmite processual, ordenará a notificação por carta das Fazendas Federal, estaduais em todo o Brasil, e municipais onde o devedor tiver estabelecimentos e, finalmente, determinará a expedição de edital para publicitar o pedido de recuperação. Importante ressalvar que as ações com pedido de falência contra a recuperanda são suspensas pela simples alegação da existência da ação de recuperação em preliminar de contestação ou em petição simples, mas acompanhadas da prova de existência do processo de Recuperação Judicial (art. 95, LRF). Essa prova deve ser feita através de certidão do cartório do Juízo da Falência. Decisão concessiva da recuperação judicial não se confunde com o despacho inicial de processamento. Neste o juiz apenas verifica o pedido vestibular, a legitimidade ativa do autor, a regularidade da documentação que a instrui e dá início à ação recuperatória (art. 6° e 52, LRF). Aquela é própria da fase deliberatória e inicia com a aprovação do plano pelos credores reunidos em assembleia, seguida da concessão da recuperação por sentença judicial (arts. 57 e 58, caput) ou, excepcionalmente, pela concessão forçada da recuperação pelo juiz - Cram Down (parágrafo 1°, art. 58, LRF), configurando título executivo judicial impugnável pela via do Agravo de Instrumento (art. 59, parágrafos 1º e 2°). b. Fase Deliberatória: O mais importante nesta fase, que se inicia com a publicação do despacho de processamento, é a apresentação do plano no prazo de 60 dias e a verificação dos créditos, seguida da votação do plano de recuperação judicial pela assembleia de credores. Em que pese não seja garantia de recuperação da empresa, que sofre diversos fatores extra-autos como inflação, demanda eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 132eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 132 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 133 de mercado, fatores concorrenciais, etc., ou até mesmo a má gestão durante o processo, todo o trâmite da ação recuperatória, e a própria recuperação da empresa, depende da aprovação do plano, da sua consistência e viabilidade. Um plano inócuo é mera formalidade processual e não ajuda na recuperação judicial, resultando, a final, na falência da empresa com prejuízo para todos os credores. Além dos meios, há algumas diretrizes que devem ser obrigatoriamente observadas no plano: o pagamento do saldo de salários até cinco salários mínimos por trabalhador, vencidos na da data do pedido de recuperação, em até 30 dias, e a previsão do pagamento dos direitos trabalhistas vencidos no prazo de um ano; proposta de parcelamento de créditos fiscais (art. 155-A, CTN); alienação de bens gravados com hipoteca ou penhor, e a supressão ou substituição da garantia real após aprovação pelos credores, com ou sem voto do titular da garantia. Após a aprovação do plano pelos credores o juiz homologará a decisão. Porém, se houver votação expressiva, mas com quorum insuficiente, o juiz pode, discricionariamente, acatar – Cram Down - ou rejeitar o plano. O Cram Down, um instituto falencial similar ao Crem Down americano, parcialmente incorporado ao ordenamento pátrio, permite ao juiz ignorar a decisão de rejeição do plano de recuperação pela Assembleia-geral de Credores e, a um só tempo, lhe dá poderes para, discricionariamente, homologá-lo se estiver acorde com as determinações objetivas discriminadas nas leis cogentes. (parágrafo 1°, art. 58, LRF). Cram Down significa, literalmente, “empurrar o plano goela abaixo” da maior parte dos credores que integram a Assembleia- Geral e não concordam com o proposto pelo devedor para a recuperação. Em que pese possa parecer excessivamente impositivo, e até ditatorial, é um instituto útil, especialmente quando os eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 133eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 133 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial134 credores não se entendem e essa dissonância coloca em risco a eventual recuperação da sociedade empresária devedora, com prejuízo para o universo de credores e a sociedade em geral. Também discricionariamente ou em aceitação à Assembleia- Geral de Credores, o juiz pode recusar o plano e decretar a falência da parte autora. c. Fase Executória: esta fase inicia com a publicação da decisão de concessão da recuperação judicial, no Diário Oficial, e dura até dois anos, ou até que se cumpram as metas e obrigações previstas no plano. (art. 61, caput, LRF). Afase executória é o tempo da execução prática do plano de recuperação aprovado pelo Juízo, que somente pode ser alterado para mantença do reequilíbrio da condição econômica- financeira da recuperanda, por meio de aditamento votado pela assembleia de credores e homologado pelo juiz ou por Cram Down. A regra geral é de não alteração do plano e de obediência estrita aos meios e obrigações nele previstas. A alteração do plano no curso do processo é medida excepcional. Se a gestão da empresa se afastar do plano, a parte autora pode ter a falência decretada a pedido de qualquer um dos credores. (art. 61, parágrafo 1°, LRF). Decretada a falência, os credores são reconstituídos nos seus direitos e garantias, nos termos contratados, deduzidos valores recebidos a igual título, mantidos os atos válidos praticados no decorrer da recuperação judicial. (art. 61, parágrafo 2°, LRF). O empresário ou a sociedade empresária devedores mantém indelével a sua personalidade jurídica durante toda a fase executória, podendo contrair obrigações e titularizar créditos, mas não alienar ou onerar bens ou direitos, a menos que haja previsão no plano e essa alienação seja útil à recuperação. Na falta de previsão no plano, excepcionalmente, o juiz pode autorizar a venda após ouvir o comitê. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 134eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 134 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial 135 Em atenção ao princípio da publicidade e da moralidade, a recuperanda deve incluir no nome empresarial a expressão “em recuperação judicial” e usá-la durante toda a fase executória, sob pena de responsabilidade civil direta e pessoal do administrador. A fase executória se encerra pelo cumprimento do plano de recuperação no prazo de dois anos, pela manifestação de desistência do empresário ou da sociedade empresária, a qualquer tempo, sujeita à aprovação da assembleia de credores, ou ainda pela decretação da falência. Microempresas e empresas de pequeno porte A recuperação judicial da microempresa ou empresa de pequeno porte possui regras especiais em decorrência da pouca complexidade de que se reveste. A inicial deve conter declaração expressa de apresentação do Plano Especial no prazo legal, bem como ser instruída com livros e escrituração contábil simplificada. (par. 1°, art. 70, c/c 2°, art. 51, LRF). No Plano Especial da ME e da EPP deve constar, obrigatoriamente: (art. 71, LRF). a. eventual proposta de abatimento das dívidas; b. previsão do pagamento parcelado de todas elas, vencidas ou não até a data da distribuição da ação, para pagamento em 180 dias e em até 36 parcelas mensais iguais e sucessivas, com acréscimo de juros pela taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – SELIC; c. o reconhecimento expresso da necessidade de autorização do juiz para aumento de despesas ou contratação de novos empregados, após oitiva do administrador judicial e do Comitê de Credores. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 135eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 135 29/07/2020 18:34:0129/07/2020 18:34:01 Direito Empresarial136 Dívidas trabalhistas e fiscais não entram no plano especial e devem ser quitadas. A suspensão da prescrição alcança somente as ações e execuções discriminadas no plano especial (par. 2°, art. 71). Os credores podem objetar a proposta de parcelamento e, neste caso o juiz dará oportunidade ao autor para retificar o plano. (parágrafo único, art. 72, c/c art. 55, LRF). Na falta de retificação, o juiz decidirá o conflito. Porém, se mais da metade dos credores apresentarem objeções, a falência será decretada. Dada a singeleza do procedimento e do plano, a assembleia- geral de credores é dispensável. Em apertada síntese, o próprio juiz da causa examina o plano e, discricionariamente, após ouvir os credores, determina a sua retificação, se estiver em desconformidade com a lei, dá prazo para juntada de novos documentos e, a final, o homologa, dando início à fase executória, ou o rejeita, decretando de plano a falência da micro ou da pequena empresa. Homologado o plano, os efeitos imediatos da sentença homologatória são a suspensão das ações e execuções e a novação das obrigações nele discriminadas. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você deve ter aprendido sobre a recuperação judicial e extrajudicial. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 136eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 136 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 137 Falência Compreendendo o significado da falência A falência é o reconhecimento judicial da incapacidade da empresa em cumprir os seus compromissos econômico- financeiros, com o afastamento do devedor das atividades empresariais e o vencimento antecipado de todas as suas dívidas. Sobre isso, diz o art. 75, da LRF Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa. Parágrafo único. O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual. O início da falência se dá em duas etapas: a primeira, objetiva, consiste na arrecadação de todos os bens da falida, com exceção dos impenhoráveis, em seu conjunto denominados massa falida; e, a segunda, subjetiva, consiste na apuração e habilitação dos créditos. OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender o que significa a falência e as suas consequências. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 137eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 137 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial138 Em princípio, os efeitos da falência atingem somente o empresário ou a sociedade empresária falida. Mas a desconsideração da pessoa jurídica é possível, nos casos de desvio de finalidade ou confusão patrimonial (art. 50, CC). Decretada a falência, o administrador judicial segue gerindo a agora massa falida, permanecendo o juízo falimentar com a competência para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios da falida, com exceção das ações trabalhistas e acidentárias. O administrador judicial precisa obrigatoriamente ser intimado para proceder à defesa da massa falida em todas as ações judiciais em que ela figurar como ré, sob pena de nulidade (art. 76 e parágrafo único, LRF). São naturalmente considerados habilitados na falência os créditos remanescentes da recuperação judicial incluídos no quadro-geral de credores. (art. 80, LRF). IMPORTANTE Decretada a falência das sociedades empresárias com sócios solidaria ou ilimitadamente responsáveis, estes sócios também são decretados falidos e sofrem os mesmos efeitos jurídicos da sociedade empresária falida. Por isso devem ser citados no processo de falência para apresentar contestação. São considerados sócios falidos, inclusive os retirados voluntariamente ou excluídos da sociedade menos de 02 anos antes do arquivamento da alteração contratual na Junta Comercial: no caso das sociedades em nome coletivo, todos os sócios (art. 1039, CC); na sociedade por comandita simples, os sócios comanditados (art. 1.045, CC); na sociedade em comandita por ações, o acionista-diretor (art. 1.091, CC); e na sociedade em comum, ou sociedade irregular, todos os sócios (art. 990, CC). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 138eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial- Aberto.indd 138 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 139 Prescreve em dois anos, a partir do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência, a ação de responsabilidade pessoal contra os sócios de responsabilidade limitada, controladores e administradores da falida. RESUMINDO E então? Gostou do conteúdo? Aprendeu tudo sobre a Dissolução das Sociedades? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você certamente aprendeu que dissolução de uma sociedade é uma ruptura contratualmente acordada ou decretada por sentença judicial, mas que entre o nascimento e morte da sociedade empresária muitas modificações podem ocorrer na sua constituição social, como fusões, transformação, incorporação e cisão, e que tudo isso envolve direito de terceiros. Aprendeu que a dissolução de uma empresa não é algo simples, que é preciso liquidá-la e dividir ativos e passivos entre os sócios, e também que, em épocas de dificuldade, para evitar a falência é possível requerer judicialmente a recuperação judicial ou fazê-la extrajudicialmente. Aprendeu que as micro e pequenas empresas têm normas especiais para a sua recuperação. E, finalmente, aprendeu que se a empresa não conseguir se recuperar econômica- financeiramente é decretada judicialmente a sua falência. Agora você está preparado para seguir adiante e prender um pouco mais sobre o Direito Empresarial. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 139eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 139 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial140 eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 140eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 140 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 141 UNIDADE 04 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 141eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 141 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial142 Da sociedade comercial à sociedade empresarial, o direito evoluiu sob o ponto de vista regulatório, na medida em que cresceram as demandas mercadológicas e sociais. As relações comerciais passaram a exigir regulamentação que favorecesse a ampliação das praças de comércio, os comerciantes, os consumidores e o fisco. Hoje a legislação brasileira prevê os seguintes tipos de sociedades empresariais: a sociedade limitada, as sociedades em comandita simples e por ações, a sociedade em nome coletivo, e as sociedades por ações. Finalmente, temos as cooperativas, que exercem papel importante ao unir trabalhadores na conquista de nichos de mercado. Vamos estudar e refletir sobre as sociedades empresárias e as suas características, os deveres e direitos dos sócios e administradores? Esses são temas apaixonantes. Acho que você irá gostar muito deste estudo e terá muito sucesso nesse aprendizado. Bom estudo! INTRODUÇÃO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 142eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 142 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 143 1 2 3 4 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: OBJETIVOS Compreender a evolução dos tipos societários; Identificar os diferentes tipos societários; Identificar e compreender as responsabilidades e deveres dos sócios; Compreender as características inerentes a cada sociedade empresária. Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 143eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 143 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial144 Sociedades empresárias Ao término deste capítulo você vai conhecer as sociedades empresárias regulamentadas nas leis brasileiras, em especial a evolução da sociedade comercial para a sociedade empresária. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO Da sociedade comercial à sociedade empresária A sociedade com fins lucrativos, latu sensu, é tão antiga quanto a história da humanidade. Os primitivos se uniam para caçar, plantar e trocar, otimizando ganhos e aumentando as chances de sobrevivência dos grupos humanos, no exato brocardo “a união faz a força”, comunhão de esforços que foi sendo aprimorada, ampliada e sofisticada ao longo dos séculos. Paulatinamente, as regras costumeiras se somaram regras escritas, a exemplo do Códigos de Hamurabi, do Antigo Testamento e do direito grego (emporikái díkai – regras para o comércio terrestre). Guerras foram motivadas pelo comércio, como as Púnicas, entre 264 a 146 a.C., fruto do desejo de dominância dos romanos no mar Mediterrâneo, em que pese o direito romano situasse os bens no âmbito dos direitos civis, não havendo evidências de um direito comercial autônomo. Na idade média, em especial da metade do séc. XII até a segunda metade do séc. XVI, anos 1150 ao 1700, havia intenso comércio na Europa e Ásia, com destaque para as cidades eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 144eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 144 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 145 italianas, onde imperaram as corporações de ofício, associações que regulamentavam as atividades religiosas, econômicas ou político-sociais, e as corporações de comerciantes, associações que regulamentavam as atividades comerciais -, um avanço regulatório importante, considerando que as atividades eram desenvolvidas no modelo familiar, lastreadas na affectio societatis. Nesta mesma época, também com base no modelo familiar, Maias, Incas e Astecas, mantiveram intrincada e eficiente rede comercial, inclusive com transporte de mercadorias e pessoas entre o Atlântico e o Pacífico, especialmente nas áreas hoje ocupadas pela América Central e México. Entre 1760 e 1840, entretanto, o boom tecnológico da Revolução Industrial começou a mudar o modelo familiar para o modelo comercial focado na produção em série. Sob o império das ideias iluministas francesas do Estado Mínimo e do lassez fare (deixar fazer), movimento liberalista político-econômico, a iniciativa privada sobrepujou o regime estatal totalitarista e as sociedades comerciais adquiriram, definitivamente, vertente capitalista, com norte no lucro. No Brasil, a primeira Carta Régia promulgada por Don João VI em 28 de janeiro de 1808, quatro dias após aportar no Brasil, abriu os portos e inseriu a então Colônia no comércio exterior, dando início a um próspero período comercial. Em 1850, durante o reinado de Dom Pedro II, foi promulgado o Código Comercial de 1850, Lei n° 556, e decretado o Processo Comercial, Regulamento n° 737, normas que mudaram paradigmas legais, econômicos e sociais, sendo os mais importantes: a. Permissão para mulheres solteiras e viúvas exercerem o comércio em nome próprio, sem autorização de pais, filhos ou tutores, presumida tácita a autorização marital das casadas. Com os homens lutando em 41 guerras entre 1700 eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 145eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 145 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial146 e 1850, coube às mulheres assumir os estabelecimentos comerciais familiares, criar e manter filhos e agregados. A economia da Nação era dependente da força de trabalho feminina. b. Normatização de obrigações e prerrogativas: registro de empresas e atos comerciais no Registro do Comércio; exigência de escrituração fiscal; mínimo de 25 anos paraa corretagem, proibida a mulheres e estrangeiros; dilação da praça de comércio para além do estabelecimento físico; concorrência cambial para regulação de preços, etc.; c. Formalização de direitos e obrigações financeiras e civis para fins ou decorrentes de atos comerciais, com aplicação subsidiária das leis civis: mandato, contratos de mútuo e empréstimos, responsabilidade civil, empreitada, obras, locação mercantil, compra e venda, comissão, troca ou escambo, fiança, cartas de crédito e abonos, hipoteca e penhor mercantis e depósito mercantil; d. Regulamentação dos atos comerciais dos banqueiros e agentes de comércio: condutores de gêneros e transportes, trapicheiros e administradores de armazéns de depósito, feitores, guarda-livros e caixeiros, agentes de leilões e corretores; e. Reconhecimento e efetivação de diretos e obrigações dos sócios, constituição, funcionamento, dissolução, liquidação, extinção e quebra de companhias e sociedades comerciais de capital ou trabalho por quotas de participação, anônimas, em comandita, em nome coletivo ou com firma, de capital e indústria; f. Normatização dos títulos de crédito: letras de câmbio, notas promissórias e créditos mercantis; e g. Regulamentação do comércio marítimo. Um simples correr de olhos pelo Código Comercial, que reuniu regras e costumes já sedimentados, comprova práticas eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 146eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 146 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 147 comerciais intensas e a existência de vários tipos de sociedades empresariais no Brasil, por 152 anos lastreadas na honra, na verdade, no cumprimento da palavra empenhada e em muitas leis espaças que foram surgindo para suprir exigências comerciais e empresariais, até a entrada em vigência do Código Civil, em 11 de janeiro de 2003. Na segunda metade do século XX, o conceito de empresa mudou profundamente. Extrapolou a intermediação de mercadorias, no atacado ou no varejo, e atingiu status de atividade especializada, assentada em princípios técnicos, leis econômicas e concorrenciais, que se entrelaçam a outras ciências como administração de empresas, direito, psicologia, finanças, contabilidade, etc. No Brasil, o legislador constitucional optou por manter a autonomia do Direito Comercial, separando-o do Direito Civil ao tratar da competência exclusiva da União para legislar sobre essas matérias. (art. 22, I, CF). Por outro lado, ao assentar a atividade econômica e financeira na “valorização do trabalho humano e na livre iniciativa” como meio de “assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social” o legislador abandonou a Teoria do Ato de Comércio, focada no ato mercantil como centro das atividades societárias, e adotou a Teoria da Empresa, que regula holisticamente o exercício da atividade econômica empresarial. (art.170, CF). A doutrina majoritária adotou a denominação Direito Empresarial para destacar a Teoria da Empresa em substituição à antiga Teoria do Ato do Comércio. Porém, isso não significa a extinção do Direito Comercial e das leis esparsas que regulamentam a matéria. IMPORTANTE eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 147eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 147 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial148 Teoria do Ato do Comércio e Direito Comercial não são sinônimos. A segunda parte do Código Comercial, Lei 556/1850, que regulamenta o comércio marítimo segue vigente. Somente a primeira parte do Código Comercial foi revogada pelo atual Código Civil de 2002, e é hoje regida pela Teoria da Empresa. O próprio Código Civil prevê, no art. 2.037, que: Salvo disposição em contrário, aplicam-se aos empresários e sociedades empresárias as disposições de lei não revogadas por este Código, referentes a comerciantes, ou a sociedades comerciais, bem como a atividades mercantis. A adoção da Teoria da Empresa pelo Código Civil mudou profundamente os direitos e obrigações dos empresários e das sociedades empresárias, inclusive na sua relação com stakeholders, com outras ciências e com as externalidades - efeitos positivos e negativos das atividades comerciais sobre a sociedade em geral -, o bem estar social e, em última instância, a dignidade da pessoa humana. A empresa passou a ser vista como um fenômeno econômico-social, a partir de um perfil poliédrico composto pelo empresário, aquele que “exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (art. 966, CC), pela força produtiva organizada da empresa, pelo patrimônio empresarial (ativo e passivo) e pelo capital humano e seu perfil corporativo social. Em que pese transferida para o Código Civil, a atividade comercial-empresarial está prevista em título próprio, Parte Especial, Livro II, e é um conjunto regras específicas, dirigidas pontualmente para a disciplina da atividade comercial econômica. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 148eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 148 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 149 E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos apresentar o que vimos. Você deve ter aprendido como se deu a evolução da sociedade comercial para a empresária. Também foi apresentado aos aspectos históricos importantes dessa evolução. Por fim, soube quais as legislações nortearam as atividades comerciais em nosso país a partir do século XIX com Dom Pedro II até a adoção da Teoria da Empresa pelo Código Civil que mudou profundamente os direitos e obrigações dos empresários e das sociedades empresárias. RESUMINDO Sociedades personificadas Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona as sociedades personificadas e os tipos societários: sociedade limitada e sociedade em comandita simples. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO Classificação das sociedades personificadas As Sociedades personificadas são aquelas que possuem personalidade jurídica própria, independente dos sócios, acionistas ou cooperativados. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 149eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 149 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial150 Elas se subdividem em: Sociedade Simples Pura, Sociedade Limitada, Sociedade Anônima, Sociedade em Nome Coletivo, Sociedade em Comandita Simples, Sociedade em Comandita por Ações e Sociedade Cooperativa. Figura 1 Fonte: Pixabay Sociedades simples Na vigência do Código Civil de 1916, as Sociedades Simples – SS eram chamadas Sociedades Civis – SC. A expressão sociedade civil foi usada pela primeira vez por Adam Ferguson, na obra Ensaio sobre a História da Sociedade Civil, em 1767, para descrever a sociedade capitalista à época. Para Ferguson, a sociedade civil de pessoas deu origem às sociedades civis comerciais naturalmente, numa conjunção de talentos, vigor e sabedoria, tanto na arte da persuasão, como no exercício do poder. Hoje, a sociedade simples se diferencia das sociedades empresárias pela dependência intrínseca da atuação dos sócios para o exercício da atividade econômica. Em contraposição, na sociedade empresária prevalece a organização empresarial. Outra diferença importante é o tipo de registro ao qual estão legalmente submetidas. A sociedade simples tem os seus eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 150eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 150 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 151 atos constitutivos registrados no Registro Civil dasPessoas Jurídicas, enquanto a sociedade empresária tem os seus atos constitutivos registrados nas Juntas Comerciais. Os atos constitutivos de sucursais, filiais ou agências das sociedades simples estabelecidas na mesma circunscrição da sede, devem ser averbados junto ao seu registro. Se elas estiverem estabelecidas em circunscrição distinta da sede, os atos constitutivos devem ser registrados na circunscrição do Registro Civil das Pessoas Jurídicas onde estão fisicamente. Nos dois casos, o pedido deve estar acompanhado da prova de inscrição da sociedade originária. São registradas no Registro Civil as Pessoas Jurídicas discriminadas no art. 44, do Código Civil (associações, sociedades simples puras, fundações, organizações religiosas, partidos políticos e empresas individuais de responsabilidade limitada – EIRELI) e no art. 8°, da Lei 5.250/67 (jornais e periódicos, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e empresas agenciadoras de notícias). As sociedades simples se subdividem em: a. sociedade simples pura ou sociedade simples propriamente dita: são aquelas que não adotam nenhum tipo societário específico e seguem as regras dos arts. 997 a 1.038 do Código Civil. O tipo de responsabilidade subsidiária, nestas sociedades, é de livre escolha dos sócios, podendo ser limitada ou ilimitada, conforme declarado no ato constitutivo (inciso VIII, art. 997, CC). Se os sócios optam pela subsidiariedade, a responsabilidade é ilimitada. Ao revés, se optam pela inexistência de responsabilidade subsidiária, ela será limitada. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 151eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 151 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial152 Como a solidariedade advém da lei ou do contrato, essa escolha é prerrogativa dos sócios na ausência de previsão legal. b. sociedades de natureza simples: são aquelas que adotam algum tipo societário simples: sociedade limitada, sociedade em nome coletivo ou a sociedade em comandita simples. (art. 1.039 a 1.092, CC). Sociedade limitada Não há consenso entre os doutrinadores sobre o país de origem e nem a data de criação da Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada, como era denominada no século XIX. Em 1857, a Inglaterra regulou a “limited by guarantee”, que restringia a responsabilidade dos sócios à quantidade das ações que possuíam. A França, em 28 de maio de 1863, legalizou a societé à responsabilité limitée, e a Alemanha fez o mesmo em 20 de abril de 1892, ao promulgar a Lei Gsellschaften mit beschraenkter Haftung (Lei da Sociedade de Responsabilidade Limitada), modelos normativos imediata e amplamente adotados no meio comercial europeu e nas Américas. Esse tipo societário foi incorporado à legislação brasileira pelo Decreto 3.708/1919, e passou a ser o favorito dos empresários brasileiros pela contratualidade e pela limitação da responsabilidade dos sócios. Atualmente, a Sociedade Limitada está regulamentada nos artigos 1.052 a 1.087, do Código Civil, aplicando-se lhe subsidiariamente as regras das sociedades simples (art. 997 a 1.038, CC), a Lei das Sociedades Anônimas – LSA (Lei 6.404/1976), a analogia e outras normas esparsas. Exemplo são as regras de desempate nas decisões sociais por maioria. (parágrafo 2°, art. 1.010, CC) eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 152eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 152 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 153 Inexiste óbice legal para o uso da Lei das Sociedades Anônimas como legislação subsidiária, desde que os sócios incluam a opção no contrato social. Exemplo é o desempate nas decisões societárias com três ou mais sócios. Ao invés da solução por maioria de votos, regra da sociedade simples (art. 1.010, CC), pode-se aplicar as regras do parágrafo 2°, do art. 129, da LSA, c/c o inciso III, do art. 1.078, do Código Civil, que submete a divergência a uma nova assembleia, em até 60 dias e, persistindo discordância, ao Judiciário. A opção pela aplicação subsidiária das normas das sociedades simples ou das sociedades anônimas determina a regência supletiva (art. 1.053, CC). O problema é que essa escolha cria duas subespécies de sociedade limitada, uma regida pelas regras da sociedade simples e outra pelas regras da sociedade anônima, ambas com lacunas legais somente supridas pela aplicação subsidiária de outras normas ou pela analogia. Como a natureza da constituição determina a da dissolução, a sociedade limitada só pode ser dissolvida pelas regras do Código Civil, independente da escolha dos sócios quanto à legislação a ser aplicada subsidiariamente. (arts. 1.033 a 1.038 e 1.102 a 1.112, CC) Esse tipo societário pode ser definido como uma sociedade empresarial de natureza contratual, constituída por um ou mais sócios, com capital social divido em quotas, responsabilidade de cada sócio perante terceiros restrita ao valor das quotas por ele subscritas e solidária integral entre os sócios com relação à integralização do capital social, respeitado o direito de regresso. (art. 1.052 c/c art. 312, CC) Responsabilidade limitada, por sua vez, é a obrigação individual dos sócios de pagar, com o seu patrimônio pessoal passível de penhora e até o valor total das quotas por eles subscritas, as dívidas contraídas pela sociedade que excedam o ativo. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 153eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 153 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial154 Se a sociedade tiver passivo que ultrapasse o limite patrimonial penhorável dos sócios sobre as quotas subscritas, os credores amargam o prejuízo. Ou seja, se a limitação da responsabilidade salvaguarda o patrimônio pessoal dos sócios e estimula o empreendedorismo, também aumenta a exigência de garantias para segurança do investimento dos credores (aval, fiança, seguros, etc.), o que, a final, onera os produtos pela inserção da taxa de risco no preço. Os sócios só têm responsabilidade sobre o capital subscrito e não integralizado. Se o valor subscrito for totalmente integralizado em bens, os sócios não têm nenhuma responsabilidade sobre as dívidas da sociedade empresária e não respondem com o seu patrimônio pessoal. O prejuízo é totalmente suportado pelos credores. IMPORTANTE Excepcionam a limitação e impõem responsabilidade subsidiária integral dos sócios pelas obrigações societárias, independente da integralização: a fraude legal e contratual (art. 1.080, CC); a sociedade marital, inclusive se registrada em afronta ao art. 977, do Código Civil; o abuso da personalidade jurídica (art.50, CC); e, pelo sócio retirante, obrigações trabalhistas contraídas durante a sociedade até dois anos após a averbação da modificação contratual (art. 10-A, CLT), exceto se houver fraude na alteração, quando a responsabilidade é solidária (parágrafo único, art. 10-A, CLT). Na Sociedade Limitada, a administração pelos sócios independe de previsão contratual e é, costumeiramente e quase sempre, conjunta e consensual, caracterizada pela affectio societatis e pelo esforço mútuo, em que pese não haja eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 154eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 154 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 155 impedimento legal para o exercício da administração por não sócios, se nomeados e destituídos por decisão majoritária, com expressa autorização no contrato ou em aditamentos contratuais. Os administradores gerem a sociedade por prazo determinado ou indeterminado e devem ser nomeados no contrato ou aditamento social registrado na Junta Comercial, com estipulação expressa do início, fim ou interregno para o exercício dos atos de administração. Atos de condução, recondução e cessaçãodo exercício do cargo de administrador também devem ser registrados na Junta Comercial. Os atos de renúncia devem ser feitos por escrito e têm efeito imediato entre os sócios. Porém, perante terceiros só têm efeito após arquivados na Junta Comercial e publicados no Diário Oficial. Os atos de gestão e decisões administrativas são livres, exceto se houver formalidades previstas em lei, tais como: constituição, dissolução e liquidação das sociedades; operações societárias (transformação, incorporação, fusão, cisão e incorporação de ações); nomeação, remuneração e destituição de administradores; votação anual das contas; alteração do contrato social; expulsão de sócio (art. 1.085, CC), etc. Como o sócio com maior número de quotas subscritas, o denominado “sócio majoritário”, tem maior poder de decisão, a lei estabeleceu regras e quórum deliberativo para resguardar os interesses dos sócios com menor número de quotas, os “sócios minoritários”. São elas: a. unanimidade para designar administrador não sócio antes da integralização do capital e mínimo de dois terços após a integralização (art. 1.061, CC); b. dois terços para destituir administrador sócio nomeado no contrato social, no silêncio do contrato social (art. 1.063, § 1º, CC); eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 155eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 155 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial156 c. três quartos para mudar o capital social e para decidir sobre incorporação, fusão e dissolução da sociedade ou cessação do estado de liquidação (art. 1.076, I, c/c art. 1.071, V e VI, CC); d. mais da metade do capital social, para designar e substituir administrador sócio ou não sócio em ato separado do contrato social, destituir administradores, estabelecer a forma da sua remuneração na ausência de previsão contratual, e decidir sobre o pedido de recuperação judicial (art. 1.076, II, III, c/c art. 1.071, II a IV e VIII, CC); e. maioria dos sócios com mais de metade do capital, para expulsar sócio minoritário, se permitido no contrato social, exceto nas sociedades com até dois sócios (art. 1.085, CC); f. mais da metade dos presentes em assembleia ou reunião para aprovação das contas dos administradores, e para nomeação e destituição de liquidantes e/ou julgamento das suas contas (1.076, III, c/c art. 1.071, I e VII, CC). Nas sociedades com dois sócios é desnecessária a reunião para a exclusão de um deles. (parágrafo único, art. 1.085, CC) Tampouco é preciso assembleia ou reunião nas sociedades limitadas microempresárias ou de pequeno porte para deliberações administrativas, exceto no caso de expulsão de sócio minoritário quando é legalmente exigida e com quórum majoritário dos sócios detentores de mais da metade do capital social. (art. 70, LC 123/2006) A prestação de contas anual, com balanço contábil e resultados, é obrigatória para os administradores e deve ser apresentada aos sócios na forma prevista no contrato social ou em assembleia, no prazo máximo de quatro meses após o fim do exercício social. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 156eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 156 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 157 Exercício social é o período de 12 meses que serve de base para a elaboração dos demonstrativos contábeis, com a finalidade de apurar o resultado operacional e atualizar o patrimônio (ativo e passivo). Nas sociedades limitadas de grande porte é comum a inserção no contrato social de regras para a instalação e o funcionamento de um conselho fiscal, composto por no mínimo três membros efetivos e três suplentes, sócios ou não, escolhidos por maioria, conforme regras contratuais ou em assembleia, para dar confiabilidade à administração e facilitar a fiscalização das contas pelos sócios minoritários. São impedidos de participar no conselho fiscal cônjuges e parentes até terceiro grau, administradores e empregados da sociedade empresária, de filial ou estabelecimento por ela controlado, para a garantia de isenção na fiscalização das contas. Os sócios minoritários que discordarem da escolha dos membros fiscais escolhidos pela maioria, podem eleger separadamente um membro e um suplente, desde que juntos tenham, no mínimo, um quinto do capital social. Já os sócios com vinte por cento ou mais do capital social podem escolher individualmente um representante para o conselho fiscal. Os membros escolhidos pelos sócios minoritários somam- se aos escolhidos pelos sócios majoritários. O Conselho Fiscal, por sua vez, pode contratar contadores para auxiliar no exame dos livros contábeis, mas a remuneração do profissional deve ser aprovada em assembleia. As sociedades limitadas de grande porte devem manter a mesma escrituração contábil das sociedades anônimas. (parágrafo único, art. 3°, Lei n. 11.638/2007 c/c arts. 176 a 186, LSA). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 157eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 157 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial158 Sociedade em nome coletivo Também denominada sociedade ilimitada, sociedade de responsabilidade ilimitada ou sociedade geral, a sociedade em nome coletivo, como é expressamente nominada na lei brasileira, está regulamentada nos arts. 1.039 ao 1.044, do Código Civil. E, na falta de regras específicas, aplica-se a ela as regras gerais contidas nos arts. 997 ao 1.038, do Código Civil. Sua origem remonta à Idade Média, à região hoje ocupada pela Itália, e ao modelo essencialmente familiar, lastreado na affectio societatis. Herdeiros de grandes fortunas, para evitar a perda de valor dos bens do espólio pela divisão, os deixavam em uma espécie de condomínio comercial gerido por um dos sócios, responsável direto pela administração do negócio e/ou dos bens móveis, imóveis e semoventes, bem como pela divisão de lucros e perdas. Como sinal de identidade e sinônimo de honradez, confiabilidade e poder, bem como para publicitar a condição de empresa familiar, esse tipo de condomínio societário era designado pelo nome dos sócios ou da família (Antonio Pietro & José Pietro, Pietro & Filhos, etc.). Ao longo do tempo a característica familiar da Sociedade em Nome Coletivo mudou, passando a agregar pessoas estranhas ao núcleo íntimo dos sócios, unidas não pela affectio societatis, mas por um contrato social em prol unicamente de um objetivo econômico comum: o lucro. Hoje é um tipo empresarial raro, que deve desaparecer pelo desuso, sobretudo pela responsabilidade ilimitada. (art. 1.023 e 1.024, CC). Pela natureza personalíssima, somente pessoas físicas podem ser sócios neste tipo de sociedade empresária e os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas dívidas eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 158eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 158 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 159 da sociedade perante terceiros (art. 1.039, CC), em que pese inexista impedimento legal para que, por acordo unânime, os sócios delimitem a responsabilidade subsidiária de cada um com relação aos demais. Também é opção dos sócios o tipo de sociedade, simples, registrada no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, ou empresária, registrada na Junta Comercial. Essa escolha, porém, é muito importante, pois determina a forma pela qual a Sociedade em Nome Coletivo poderá ser dissolvida. Se simples, ela se dissolve por qualquer dos motivos contidos nos incisos do art. 1.033 do Código Civil. Se empresária ela pode ser extinta também pela falência, nos termos da Lei 11.101/2015. (art. 1.044, CC). O contrato social segue as regras gerais previstas no Código Civil: qualificação dos sócios e da própria sociedade, delimitação do capital, número, valor e forma de integralizaçãodas quotas sociais, direitos e obrigações dos sócios e do administrador, divisão de perdas e lucro (art. 997, CC), o nome social (art. 1.041, in fine, CC) e os limites para o uso da firma (art. 1.042, CC). Na condição de sociedade intuitu personae, a administração e a tomada de decisões administrativas são vedadas a terceiros e somente podem ser exercidas por um ou mais sócios, em conjunto ou separadamente, independente do percentual na participação societária, aplicando-se lhes as regras gerais da responsabilidade civil, o dever de prestar contas, a fiscalização dos atos pelos demais sócios, etc. Quanto à forma de exercício da administração, ela pode ser coletiva, conjunta, simultânea ou sucessiva, conforme queiram os sócios, mas, regra geral, na Sociedade em Nome Coletivo as decisões são tomadas coletivamente, prevalecendo a decisão da maioria. (art. 1.010, CC). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 159eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 159 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial160 A contratação de gerentes, para cuidar das atividades empresariais diárias rotineiras, na sede ou em outros estabelecimentos da sociedade é legalmente permitida. Quanto à cessão de quotas, a regra geral prevê a possibilidade por decisão unânime dos sócios. Mas não há óbice legal para inserção no contrato social de regras e condições para cessão e circulação das quotas, prevalecendo o avençado sobre a regra geral. Em que pese a Sociedade em Nome Coletivo seja uma sociedade simples, fundada na affectio societatis e com natureza personalíssima, na atualidade esses conceitos são vistos de forma ampla, como um dever comportamental lastreado nos princípios da boa-fé, da proporcionalidade e da razoabilidade, bem como na função social do contrato, assentado sob quatro pilares: a lei, o contrato social, os usos e costumes societários e a equidade. IMPORTANTE Sendo assim, a regra geral que regulamenta a atuação dos sócios (art. 1.002, CC) é mitigada pelos usos e costumes sociais que a sociedade em nome coletivo formalmente adotar. Quanto aos bens, ainda que a sociedade tenha patrimônio próprio totalmente integralizado, os sócios têm responsabilidade solidária ilimitada para com a sociedade e responsabilidade subsidiária entre eles (art. 1.039, CC). A desconsideração da pessoa jurídica é desnecessária na cobrança de dívidas desse tipo de sociedade em razão da responsabilidade ilimitada dos sócios, imediatamente substitutiva, e cujos bens penhoráveis podem ser alcançados eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 160eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 160 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 161 IMPORTANTE assim que comprovada a insuficiência de créditos da sociedade em ação de execução. (art. 1.023 e 1.024, CC). Qualquer sócio que honrar a dívida da sociedade terá direito de regresso contra a própria sociedade, pela totalidade do que pagou, e contra os demais sócios na proporção contratualmente avençada para a responsabilidade e a participação de cada um nas perdas. Perante terceiros a responsabilidade é sempre solidária e todos os sócios, inclusive os admitidos na sociedade após a constituição da dívida, são igualmente responsáveis pela obrigação. (art. 1.025, CC). A premissa da solidariedade perante terceiros, não se aplica na subsidiariedade. O sócio recém-admitido não é responsável, em eventual ação de regresso movida pelos sócios antigos para ressarcimento por quitação de dívida existente antes da sua integração na sociedade. Porém, se foi ele a quitá-la, poderá exigir a totalidade do que pagou dos demais sócios antigos. (art. 1.007, CC). O sócio que se retira da sociedade em dissolução parcial tem responsabilidade residual, exceto se morto, quando ela alcança o valor do espólio, já que a responsabilidade não se estende aos herdeiros. (art. 1.032, CC). Na insuficiência de bens da sociedade e dos sócios para a quitação das obrigações, o credor pode pedir a falência da sociedade em nome coletivo, se empresária, ou a declaração da insolvência, se simples. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 161eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 161 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial162 As quotas sociais podem ser objeto de penhora, desde que não haja prejuízo para a affectio societatis (art. 1.026 e parágrafo único, e art. 1.030, CC), mas é vedado ao credor particular de um dos sócios pedir a liquidação da quota do devedor antes da dissolução da sociedade, exceto em caso de prorrogação tácita ou contratual que tenha sido objeto de oposição pelo credor, aceita judicialmente no prazo dilatório de 90 dias. (art. 1.043 c/c art. 1.033, I, CC). Em decorrência da solidariedade, a falência ou a insolvência da sociedade empresária implica na falência ou insolvência também dos sócios. (art. 81, Lei 11.101/05). Falecido algum sócio, silente o contrato social aplica-se a regra geral do art. 1.028, do Código Civil. São impenhoráveis o único imóvel usado para residência do sócio e família (art. 1°, Lei 8.009/90) e os bens elencados no art. 833, do Código de Processo Civil, a saber. Sociedade em comandita simples Em latim, o presente ativo do verbo commendāre, infinitivo de commendō (ou comandare no latim vulgar) se traduz como empréstimo. As fontes e relatos históricos divergem, mas em linhas gerais a Sociedades em Comandita, Contrat de Command, ou contrato de encomendas, remonta às cidades italianas e ao comércio marítimo da Idade Média, nos séculos X e XI d.C. O Contrat de Command era uma espécie de contrato de parceria “criativa” para “driblar” uma proibição de cobrança de juros sobre empréstimos marítimos. O financiador-parceiro contribuía em dinheiro para cobrir custos da viagem e o capitão fornecia o navio para o transporte de bens de terceiros, com divisão do lucro do transporte no final das viagens. Em caso de perdas, o financiador respondia somente até o limite da sua eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 162eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 162 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 163 contribuição para a parceria ou, em parâmetros atuais, tinha responsabilidade limitada até o valor investido. Nos dias atuais, comanditar significa investir dinheiro, ou fundos, numa sociedade, simples ou empresária, sob a administração de terceiros. A sociedade em comandita simples está regulamentada nos arts. 1.045 a 1.051, do Código Civil. Havendo lacuna, aplicam- se as regras para as Sociedades em Nome Coletivo e para a Sociedade Simples, respectivamente. (art. 1.046 e 1.040, CC). Esta sociedade caracteriza-se pela dualidade de sócios: de um lado, um ou mais investidores “comanditários” que aplicam “comandita” (recursos), em fundos de uma sociedade em comandita; e, de outro lado, um ou mais administradores “comanditados”, que recebem a “comandita” com o dever de bem administrá-la. (1.045, CC). O sócio investidor-comanditário não pode ser administrador, mas pode ser constituído procurador pela sociedade, com poderes especiais e para fins específicos, ou seja, para resolver pendência determinada. (parágrafo único, art. 1.047, CC). O contrato social além de atender às exigências do art. 997, do Código Civil, deve conter expressamente a qualificação completa do comanditário, pessoa física ou jurídica, a sua condição de investidor responsável pela integralização da totalidade do capital, a qualificação do comanditado, obrigatoriamente pessoa física, e sua designação como administrador do capital e responsável pela gestão da sociedade. (art. 1.039, CC). O incapaz pode ser comanditário, pois os seus bens estão protegidos (art. 974, CC), mas não podem ser comanditados, já que lhesfalta capacidade civil para exercer os atos de administração obrigatórios. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 163eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 163 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial164 Qualquer alteração contratual deve aprovada pelos sócios unanimemente, exceto se houver previsão diversa no contrato social. (art. 999, CC). A administração simultânea de dois ou mais comanditados é permitida (art. 1.013, CC) e os seus direitos e obrigações são equivalentes aos dos sócios nas sociedades em nome coletivo. (parágrafo único, art. 1.046, CC). Os sócios comanditados que forem demandados por credores podem lançar mão do “benefício de ordem”, ou seja, podem pedir ao juiz que a constrição recaia primeiro sobre os bens da sociedade, e que, somente após comprovada nos autos da execução a insuficiência de bens societários suficientes para a quitação das obrigações, ela atinja os seus bens pessoais. Havendo mais de um sócio comanditado (administrador), o credor pode exigir o cumprimento das obrigações de qualquer deles, total ou parcialmente, respeitado o direito de regresso do sócio pagador contra os demais, na proporção das suas quotas ou conforme acordado no contrato social. (art. 1.045 c/c art. 1.023, e art. 1.039, CC). Sócios recém-admitidos também respondem solidariamente perante terceiros pelos débitos constituídos antes da sua entrada, mas pode reaver integralmente, dos demais sócios, em ação regressiva, o que pagou em nome da sociedade insolvente. (art. 1.025, CC). Na falta de quitação integral da obrigação é faculdade do credor pedir judicialmente a insolvência da sociedade simples, registrada no Cartório de Registro de Títulos e Documentos, ou a falência da sociedade empresária, com registro na Junta Comercial. IMPORTANTE eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 164eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 164 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 165 Como os bens dos sócios comanditários respondem limitadamente, a insolvência ou a falência não os alcançam enquanto pessoas físicas. Porém, a responsabilidade é ilimitada e a insolvência ou falência pessoal os alcança na falta de integralização completa do capital social subscrito, ressalvada a impenhorabilidade do único imóvel residência da família e os bens discriminados no art. 833 do CPC. Na dissolução parcial com retirada do sócio comanditário por morte, retirada motivada ou imotivada (art. 1.029, CC) ou exclusão do quadro societário (art. 1.030, CC), o sócio retirante ou seus herdeiros respondem pelas dívidas perante terceiros no limite do seu investimento. O sócio comanditado e seus herdeiros, porém, não se eximem da responsabilidade por obrigações anteriores à morte, retirada ou expulsão, pelo prazo decadencial de dois anos contados da averbação da alteração contratual. (art 1.048, CC) Como a responsabilidade é ilimitada, atinge a totalidade do patrimônio pessoal, inclusive os bens adquiridos após a retirada, ressalvados os bens impenhoráveis. Os herdeiros, entretanto, respondem apenas até o limite da herança, não se estendendo a solidariedade aos seus bens pessoais. (art. 1.792, CC). O comanditado também tem responsabilidade residual subsidiária, não extensiva aos herdeiros. (art. 1.032, CC). O princípio da boa-fé alcança o sócio comanditário, que não é obrigado a repor lucros recebidos de acordo com o balanço. Entretanto, na hipótese de fraude, somente ocorrerá nova distribuição de lucro após a reintegração do capital social. (art. 1.049, CC). Como a sociedade em comandita, simples ou empresária, é intuitu personae na falta de previsão contrária no contrato social, a transferência de quotas deve ter a concordância unânime dos sócios. (arts. 1.002 e 1.003 c/c 1.027 e 1.028, CC). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 165eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 165 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial166 Na sucessão hereditária, porém, a regra geral é a transferência das quotas dos sócios comanditários para os herdeiros. (art. 1.050, CC). A dissolução societária se dá pelas causas comuns (art. 1.044, CC) e quando há unicidade de categoria, ou seja, quando a sociedade passa a ter somente um sócio comanditário ou comanditado e não há recomposição societária no prazo de 180 dias exigidos em lei. (art. 1.051, inciso II, CC) Se restar apenas um sócio comanditário, impedido por lei de exercer atos de administração, caso do incapaz, a solução legal é a contratação de um administrador temporário para gerir a sociedade até a reconstituição societária. (art. 1.047 c/c art. 1.051, CC). Em ambos casos, causa comum ou unicidade societária, a transformação da sociedade é legalmente permitida. E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que entendeu como funciona as sociedades personificadas e os tipos societários: sociedade limitada e sociedade em comandita simples. Viu a classificação das sociedades personificadas e as suas subdivisões. Aprendeu os conceitos de cada uma delas e as legislações que norteiam tais sociedades. RESUMINDO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 166eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 166 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 167 Sociedades personifi cadas por ações Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona as sociedades anônimas. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO Figura 2 Fonte: Freepik Sociedades anônimas No universo das sociedades personifi cadas há um grupo que se destaca pela complexidade, tanto do ponto de vista legal, como administrativo. São as sociedades anônimas e as sociedades em comandita por ações. As Sociedades Anônimas foram criadas para dar suporte legal, fi nanceiro e logístico aos grandes investimentos nas colônias americanas, indianas e africanas. Eram empresas semipúblicas, que reuniam interesses e fi nanciamento de reis eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 167eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 167 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial168 e de particulares, para o exercício de atividades mercantis, transporte de mercadorias e recolhimento de impostos. A Companhia Unida das Índias Orientais, mais conhecida como Companhia Holandesa das Índias Orientais, criada em 1602, é a primeira sociedade anônima formalmente constituída de que se tem notícia. Essa Companhia, em 1.610, para arrecadar ativos, dividiu o seu capital em quotas, iguais e transferíveis, e vendeu parte delas a investidores. Pela primeira vez ao capital foi dada importância superior às pessoas detentoras das quotas representativas do capital social. Em 1621, foi criada a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, também chamada Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, no mesmo modelo de capital em quotas, para fazer concorrência ao comércio espanhol e português, inclusive escravocrata, brasileiro e caribenho. O cristãos-novos de Amsterdã – judeus recém convertidos ao cristianismo - investiram mais de 3 milhões de florins em quotas dessa nova empresa, contra apenas 36 mil florins investidos por judeus sionistas. O Código Mercantil Francês, de 1807, regulamentou as sociedades anônimas, diferenciando-as das sociedades por ações e das sociedades em comanditas por ações. Diz o Código Francês, in verbis: “Art. 19. A lei reconhece tres especies de sociedades mercantis: 1.a A sociedade de nomes collectivos. 2.a A sociedade em commandita. 3.a A sociedadeanônima. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 168eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 168 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial 169 Art. 29. A Sociedade Anonima não existe debaixo do nome dos socios, nem póde ser dirigida em nome de nenhum delles. Art. 30. He designada pelo objecto do seu comercio. Art. 31. He administrada por sócios, ou por pessoas que elles nomeião, para isso, assalariadas, ou gratuitamente. Art. 32. Os administradores não são responsáveis, senão da execução das ordens que recebem. Não contrahem, em razão do seu emprego, obrigação alguma pessoal, ou pecuniaria relativamente aos contractos da sociedade. Art. 33. Os socios não respondem por mais perda, além do emporte de seu interesse na sociedade. Art. 34. O capital da sociedade anonima se divide em acções, e mesmo em porções. Art 35. As acções pódem ser estabelecidas debaixo do título de pagar ao portador. Neste caso as operações se fazem pelo transferimento dos títulos. (...) Art. 40. As sociedades anonimas não podem ser feitas senão por contractos publicos. (...) Art. 45. O acto do governo que auctorisar as sociedades anonimas, devera ser afficxado com o contracto da sociedade durante o mesmo tempo.” O Código Mercantil francês serviu de base para as normas de muitos países, inclusive o Brasil, na regulamentação das sociedades anônimas. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 169eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 169 29/07/2020 18:34:0229/07/2020 18:34:02 Direito Empresarial170 A primeira sociedade anônima brasileira foi a Companhia Geral de Comércio do Brasil, criada em 1.649, com investimento dos reis portugueses e de cristãos-novos, para assumir o monopólio do comércio entre a colônia e Portugal, controlar o comércio escravocrata entre a África e Brasil, e fomentar agromanufatura no Nordeste, prejudicada pela dominação holandesa. Esta companhia foi sucedida pela Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão em 1.755, responsável pelo monopólio do comércio escravocrata e que, por sua vez, foi sucedida em 1.779, pela Companhia Geral das Capitanias de Pernambuco e Paraíba, cujo objetivo social era o negócio escravocrata e de açucareiro. Posteriormente, em 1.808, foi criada a sociedade anônima Banco do Brasil, nos dias atuais, o maior banco brasileiro. O primeiro ato regulatório das sociedades anônimas no Brasil foi o Decreto n° 575, promulgado em 10 de janeiro de 1849, que, no esteio do Código Mercantil francês, estabeleceu a necessidade de autorização do Poder Público para a criação, incorporação e aprovação dos seus estatutos. Logo depois, em 1850, também na mesma linha regulatória francesa, foi promulgado o Código Comercial Brasileiro, ainda vigente, mas modificado na sua primeira parte pelo atual Código Civil. De lá para cá e durante muitos anos, as empresas mais comuns no Brasil foram as sociedades anônimas e as sociedades limitadas. Esse tipo societário está regulamentado na Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, conhecida como Lei das Sociedades Anônimas – LSA, sendo o Código Civil usado subsidiariamente. (art. 1.089, CC). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 170eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 170 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 171 As sociedades anônimas podem ser definidas como sociedade empresária, independente do seu objeto ser uma atividade civil ou comercial, com capital divido em ações, negociadas ou não no mercado financeiro, segundo sejam de capital aberto ou fechado, e cujos sócios ou acionistas, determinados e identificados, têm responsabilidade limitada ao preço de emissão das ações não integralizadas que subscreveram ou adquiriram. (art. 982, parágrafo único, CC, c/c art. 1° e parágrafo primeiro, art. 2°, LSA). Sua denominação precisa indicar, obrigatoriamente, o objeto social, o nome do fundador acionista ou de pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa, acompanhada da expressão “sociedade anônima” ou “companhia”, por extenso ou abreviadamente. (art. 160, CC). As sociedades anônimas se subdividem em: a. Capital aberto: são sociedades empresariais com subscrição pública de valores mobiliários, ou seja, que negociam suas ações em bolsas de valores ou em mercados de balcão – fora das bolsas de valores -, arrecadando ativos através da venda de ações para o público investidor. A autorização da Comissão de Valores Mobiliários – CVM é exigência legal, prevista no art. 5°, da Lei 6.385/1976, para a negociação de ações em bolsa, mercado secundário para a venda e aquisição de valores mobiliários, ou mercado de balcão, também denominado Over-The-Counter, ou simplesmente OTC, mercado primário para compra, venda e distribuições de ações que não estão registradas em bolsa de valores. Operações em Bolsa ou em OTC são supervisionadas pelo Banco Central do Brasil e atuam sob as diretrizes do Conselho Monetário Nacional – CMN (Lei 4.595/1964). Considerando que a estabilidade do mercado é imprescindível para a economia nacional, a lei confere eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 171eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 171 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial172 legitimidade ao Ministério Público para, diante de irregularidades, de ofício ou a pedido da CVM, interpor Ação Civil Pública, preventiva ou satisfativa, com a finalidade de evitar prejuízos ou obter ressarcimento de danos sofridos por titulares de valores mobiliários e investidores. (Lei n. 7.913/1989). Porém, é vedado, por força de lei, obstar a livre circulação das ações de companhias abertas, sob qualquer justificativa ou circunstância, inclusive através da inserção de regras impeditivas nos estatutos. b. Capital fechado: são sociedades empresariais com subscrição privada de valores mobiliários, ou seja, cujas ações não são disponibilizadas para o mercado investidor, e cujos sócios são os únicos proprietários das ações e da empresa. Ao contrário das companhias de capital aberto, as de capital fechado podem estabelecer limites à livre circulação das suas ações, representativas do seu capital social, com a concordância expressa dos acionistas, desde que isso esteja previsto no estatuto, não impeça eventuais negociações, nem sujeite os acionistas minoritários ao arbítrio dos administradores ou à maioria dos acionistas. (art. 36, LSA). Por configurar uma sociedade de capital, nas sociedades anônimas a participação societária é livre para qualquer pessoa, física ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com exceção das restrições previstas no art. 222 e parágrafo primeiro da Constituição Federal. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 172eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 172 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 173 Sob o critério da nacionalidade as S.A são: (art. 300, LSA). a. Nacionais: pessoas jurídicas constituídas de acordo com as leis brasileiras, com sede e administração no Brasil, independente da nacionalidade e local de residência dos acionistas e da origem territorial do capital; b. Estrangeiras: pessoas jurídicas constituídas de acordo com leis estrangeiras, com sede e administração no exterior, sob a fiscalização de governo alienígena. Em que pese o art. 1.134, do Código Civil, cite expressamente sociedades anônimas, as empresas estrangeiras podem ser acionistas ou sócias em quaisquer empresas brasileiras, exceto as jornalísticas e de radiodifusão, privativas para brasileiros natos ou naturalizados, ou pessoas jurídicas brasileiras com sede no País. (art. 222 e parágrafo 1°, CF). A lei permite também que empresas estrangeiras se instalem no Brasil, inclusive as subsidiárias, desdeque obtenham autorização prévia do Poder Executivo, que ou não estabelecer condições, mediante comprovação da realização do capital declarado no contrato social ou no estatuto e apresentação dos seguintes documentos: (incisos I a VI, art. 1.134, CC). I - prova de se achar a sociedade constituída conforme a lei de seu país; II - inteiro teor do contrato ou do estatuto; III - relação dos membros de todos os órgãos da administração da sociedade, com nome, nacionalidade, profissão, domicílio e, salvo quanto a ações ao portador, o valor da participação de cada um no capital da sociedade; IV - cópia do ato que autorizou o funcionamento no Brasil e fixou o capital destinado às operações no território nacional; eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 173eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 173 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial174 V - prova de nomeação do representante no Brasil, com poderes expressos para aceitar as condições exigidas para a autorização; VI - último balanço. O parágrafo 2, do art. 1.134, do Código Civil exige que os documentos sejam autenticados, em conformidade “com a lei nacional da sociedade requerente, legalizados no consulado brasileiro da respectiva sede e acompanhados de tradução em vernáculo”. IMPORTANTE Mas, atenção: O Brasil é signatário da Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros, mais conhecida como Convenção de Apostila de Haia, firmada na cidade de Haia, Holanda, em 5 de outubro de 1961, e promulgada pelo Decreto 8.660/2016, vigente no Brasil desde 14 de agosto de 2016. Nos termos dessa Convenção, não se faz mais legalização consular nos 110 países signatários. Os documentos são apostilados, ou seja, registrados em Cartórios Públicos e arquivados num banco de dados comum, acessível aos notários de todos os países signatários. No portal do Itamaraty há informações relevantes sobre o apostilamento que estão nos seguintes endereços eletrônicos: < http://bit.ly/37oPXeI >, assim como na página web do Conselho Nacional de Justiça < http://bit.ly/38sUqOM >. A legalização consular ainda é exigida para países não signatários da Convenção de Apostila de Haia e, no Brasil, é feita pelo Ministério das Relações Exteriores, em qualquer das eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 174eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 174 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 175 suas representações. Para saber mais detalhes acesse o seguinte endereço eletrônico: < http://bit.ly/2Hk3r0J >. Sobre a tradução para o vernáculo, é preciso verificar se há reciprocidade entre o país emissor do documento e o Brasil. Se não houver reciprocidade, após apostilado ou consularizado - legalizado na Embaixada ou Consulado Brasileiro -, o documento deve ser traduzido no Brasil, por tradutor juramentado registrado na Junta Comercial do estado onde a empresa pretende se estabelecer. Das ações Ações são partes do capital social de uma empresa que, após integralizadas e disponibilizadas no mercado, deixam de expressar o capital empresarial inicial em razão da volatilidade do preço, sujeito às regras da oferta e da procura, à valorização ou desvalorização do produto ou serviço no mercado nacional e/ou internacional, às variações políticas, às intercorrências ambientais, dentre outros fatores. São bens patrimoniais móveis, passíveis de penhora e transferíveis a herdeiros, integram o quadro associativo de forma impositiva e não podem ser objeto de apuração de haveres de forma isolada, exceto se os interessados detiverem a maioria absoluta das ações com direito a voto. (art. 1.107 c/c 1.044., CC) . Do ponto de vista estritamente legal, as ações são nominativas ou escriturais, conforme a transferência de titularidade e previsão nos estatutos (art. 20, LSA): a. Nominativas: são ações documentadas em um certificado físico que atenda às seguintes exigências: (art. 24, LSA) eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 175eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 175 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial176 “Art. 24. Os certificados das ações serão escritos em vernáculo e conterão as seguintes declarações: I. denominação da companhia, sua sede e prazo de duração; II. o valor do capital social, a data do ato que o tiver fixado, o número de ações em que se divide e o valor nominal das ações, ou a declaração de que não têm valor nominal; III. nas companhias com capital autorizado, o limite da autorização, em número de ações ou valor do capital social; IV. o número de ações ordinárias e preferenciais das diversas classes, se houver, as vantagens ou preferências conferidas a cada classe e as limitações ou restrições a que as ações estiverem sujeitas; V. o número de ordem do certificado e da ação, e a espécie e classe a que pertence; VI. os direitos conferidos às partes beneficiárias, se houver; VII. a época e o lugar da reunião da assembleia- geral ordinária; VIII. a data da constituição da companhia e do arquivamento e publicação de seus atos constitutivos; IX. o nome do acionista; X. o débito do acionista e a época e o lugar de seu pagamento, se a ação não estiver integralizada; XI. a data da emissão do certificado e as assinaturas de dois diretores, ou do agente emissor de certificados (art. 27).” eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 176eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 176 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 177 b. Escriturais: são ações sem certificado individual, mantidas em contas de depósito no nome do titular da ação, e cuja circulação é feita através do lançamento da operação no Livro de Registro de Acionista, mantido pela instituição financeira depositária e não pela sociedade anônima. Ou seja, a transferência não se dá através de certificados em papel, mas por meio de transferência bancária, crédito ou débito de valores na conta do alienante e do adquirente, sob controle e responsabilidade das instituições financeiras administradoras das ações. Atenção: Após a Lei 8.021/1990, que dispõe sobre a identificação dos contribuintes para fins fiscais, não existem mais ações ao portador e ações endossáveis no Brasil. Os artigos da Lei 6.404/1976, que tratam das ações ao portador e endossáveis foram revogados total ou parcialmente. IMPORTANTE Como a lei brasileira não mais admite ações ao portador, a qualificação de todos os acionistas, sem exceção, deve constar no Livro de Registro de Ações Nominativas ou Livro de Registro de Acionista, conforme a mudança de titularidade se dê através da sociedade anônima ou da instituição financeira administradora. A lei permite e é muito comum as sociedades empresárias contratarem os serviços de uma instituição financeira autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM, denominada agente emissora de certificados, para escriturar e guardar o livro de Registro de Ações Nominativas. A propriedade das ações é presumida com a inscrição do nome do acionista no Livro de Registro de Ações Nominativas eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 177eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 177 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial178 ou pelo extrato fornecido pela empresa custodiante, proprietária fiduciária das ações, registrados na Junta Comercial. (art. 20, Lei 8.021/1990 c/c art. 31, LSA). Quanto ao valor, as ações classificam-se em: a. Nominal: resultado da divisão do valor do capital pelo número de ações. A critério dos acionistas, o valor nominal pode ou não ser incluído no Estatuto. Se não for incluído, o valor nominal é inexistente. Ao revés, se incluído, o valor nominal e o número das açõessó podem ser alterados se houver modificação no valor do capital social, valorização monetária, desdobramento, agrupamento ou cancelamento de ações. (art. 24, II c/c art. 12, LSA) b. Patrimonial: é obtido através da divisão do patrimônio líquido da empresa pelo número de ações que compõem o capital social e conhecido através do balanço contábil, ao fim de cada exercício social. É o valor a ser pago ao acionista em caso de liquidação da sociedade anônima ou amortização das ações quando retiradas total ou parcial do mercado, através de ”distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem redução do capital social, de quantias que lhes poderiam tocar em caso de liquidação da companhia”. (art. 44, LSA) c. De negociação: é o preço de venda que as ações alcançam no mercado a partir de fatores variáveis como perspectiva de lucro, desempenho empresarial, patrimônio líquido, macroeconomia, meio ambiente, consumo, etc. d. Valor econômico: é calculado por especialistas em avaliação de ativos e representa o capital racional, ou seja, o valor real de cada ação com base na probabilidade de renda real da sociedade anônima emissora. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 178eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 178 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 179 e. De emissão: é o preço, à vista ou parcelado, pago por quem subscreve uma ação, ou seja, compra uma parcela do ativo da sociedade anônima. O preço é estabelecido inicialmente no Estatuto e no decorrer da vida da empresa é atualizado pela assembleia geral, ou pelo conselho de administração se o reajuste decorrer de aumento do capital com emissão de novas ações. O preço de emissão jamais pode ser inferior ao valor nominal. Se a contribuição do subscritor for superior ao valor nominal, o ágio deve ser destinado à reserva de capital. (art. 13 c/c arts. 189 e 200, IV, LSA) E, se o preço de emissão resultar de aumento do capital social, após realizados no mínimo 3/4 (três quartos), a subscrição pode ser pública ou particular, proibida a diluição injustificada da participação dos antigos acionistas. (art. 170, parágrafo 1°, LSA). A diluição justificada, diminuição do patrimônio do sócio/ acionista pela redução do percentual de cotas sociais ou ações de propriedade dos sócios, é permitida sempre que a empresa necessitar de reforço de capital, cabendo aos acionistas suportá- la, ainda que represente perda patrimonial. Quanto ao tipo de valor mobiliário representativo de unidade social as ações dividem-se em: a. Ordinárias: são ações de emissão obrigatória que conferem direitos previstos em lei para todos os sócios. Como são regulamentadas em lei, o estatuto não precisa discipliná-las. b. Preferenciais: são ações que, por previsão estatutária, conferem direitos e privilégios diferenciados aos acionistas, nos termos do art. 17, da Lei das Sociedades Anônimas: eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 179eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 179 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial180 Além das vantagens elencadas no art. 17, os acionistas também podem votar separadamente para escolher um ou mais membros dos departamentos administrativos e para mudar o estatuto. (art. 18, LSA). As ações preferenciais sem direto a voto, ou com restrições a ele, não podem ultrapassar 50% das ações emitidas (parágrafo 2°, art. 15, LSA). c. De fruição: são ações substitutivas de ações integralmente amortizadas, ou seja, cujos acionistas receberam, a título de antecipação e sem redução do capital social, o que lhes caberia na liquidação da sociedade empresária. Esse pagamento é feito com eventuais reservas de caixa. Porém, eventualmente, as ações de fruição também podem sofrer restrições ou vantagens estatutárias, como perda do direito de voto, do dividendo preferencial – em eventual liquidação recebem depois das ações não amortizadas –, e da compensação corrigida monetariamente, na hipótese de reembolso. (art. 44, parágrafo 5º, LSA). As ações preferenciais e as ações ordinárias das companhias fechadas podem ser dividas em classes, de acordo com os direitos e restrições estatutárias. (art. 16, LSA). Porém, o mesmo não se aplica às ações ordinárias das companhias abertas, que não podem ser divididas em classes. (art. 15, § 1°, LSA). IMPORTANTE eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 180eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 180 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 181 Constituição das Sociedades Anônimas São duas as modalidades de constituição de uma sociedade anônima: por subscrição pública, com emissão de ações e participação de investidores, e por subscrição particular, ficando as ações com os sócios fundadores. a. A Constituição de uma sociedade anônima por subscrição pública é feita em três etapas: 1. Requisitos preliminares: subscrição de todas as ações por no mínimo duas pessoas, fixação do capital social no estatuto, realização imediata de no mínimo 10% (dez por cento) do preço das ações subscritas, com depósito também imediato, em dinheiro, no Banco do Brasil, outro banco ou seguradora autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários. (art. 80 e 81, LSA) Bancos e seguradoras devem fazer um depósito prévio mínimo de 50% (cinquenta por cento) do capital social. (art. 27, Lei 4.595/1964). Esse depósito prévio configura, na realidade, a contratação pelos sócios fundadores de uma instituição financeira intermediária, denominada Underwriting, para subscrever as ações, ou seja, assumir a titularidade das ações emitidas pela sociedade anônima e oferecê-las aos investidores. Concretizado o depósito e a contratação do Underwriting, os sócios têm seis meses para registrar a sociedade anônima. 2. Requisitos de Constituição: é a fase de subscrição pública, com registro da emissão das ações, elaboração do estatuto, prospecto. (arts. 82 a 93, LSA). Antes da constituição da sociedade anônima os sócios precisam providenciar o registro prévio da emissão de ações na Comissão de Valores Mobiliários, subscrição que só pode ser feita com a intermediação de uma instituição eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 181eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 181 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial182 financeira, e dos atos constitutivos, juntando: o projeto do estatuto social; a prova da contratação do banco que fará a captação dos investidores e do depósito prévio; o estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento – leia-se da empresa; e o prospecto, documento assinado pelos sócios fundadores, pelos primeiros acionistas, e pela Underwriting, com todos os detalhes sobre a sociedade anônima a ser constituída, inclusive expectativas, vantagens para acionistas investidores, objetivos, metas, valor do capital social inicial, etc. Nos termos da Lei 6.385/76: Art. 19. Nenhuma emissão pública de valores mobiliários será distribuída no mercado sem prévio registro na Comissão. § 1º - São atos de distribuição, sujeitos à norma deste artigo, a venda, promessa de venda, oferta à venda ou subscrição, assim como a aceitação de pedido de venda ou subscrição de valores mobiliários, quando os pratiquem a companhia emissora, seus fundadores ou as pessoas a ela equiparadas. § 2º - Equiparam-se à companhia emissora para os fins deste artigo: I - o seu acionista controlador e as pessoas por ela controladas; II - o coobrigado nos títulos; III - as instituições financeiras e demais sociedades a que se refere o Art. 15, inciso I; IV - quem quer que tenha subscrito valores da emissão, ou os tenha adquirido à companhia emissora, com o fim de os colocar no mercado. § 3º - Caracterizam a emissão pública: eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial- Aberto.indd 182eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 182 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 183 I - a utilização de listas ou boletins de venda ou subscrição, folhetos, prospectos ou anúncios destinados ao público; II - a procura de subscritores ou adquirentes para os títulos por meio de empregados, agentes ou corretores; III - a negociação feita em loja, escritório ou estabelecimento aberto ao público, ou com a utilização dos serviços públicos de comunicação. (...) No ato da subscrição, que é um ato irretratável, os sócios devem concretizar o pagamento da entrada e assinar a lista ou o boletim individual autenticado pela instituição financeira. Ato seguinte, os sócios fundadores devem convocar a primeira assembleia, promover a avaliação dos bens e, se for o caso (art.8º, LSA), deliberar sobre a constituição da companhia e nomear os primeiros administradores. 3. Providências Complementares: os atos, instruídos com os documentos exigidos para o registro público, são registrados na Junta Comercial e publicados no Diário Oficial nos 30 dias posteriores. (arts. 94 a 99, LSA). b. A constituição por subscrição particular é muito mais simples. Os sócios fundadores deliberam a criação da sociedade anônima numa assembleia de fundação com a assinatura imediata do estatuto por todos os subscritores, ou o fazem por escritura pública na qual conste a qualificação dos subscritores, as cláusulas estatutárias, a relação das ações subscritas e o valor pago por elas, o recibo do depósito da entrada de 10% ou 50%, conforme o caso, a transcrição do laudo de avaliação dos peritos se o capital social for integralizado em bens, e a nomeação dos primeiros administradores e fiscais. (art. 88, parágrafo 2°, LSA). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 183eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 183 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial184 Algumas regras são comuns às duas formas de constituição: a. exigência da escritura pública quando houver incorporação em bens imóveis na formação do capital social; (art. 89, LSA). b. possibilidade de representação do subscritor por procurador com poderes especiais, na assembleia de fundação ou no momento da assinatura da escritura pública; (art. 90, LSA). c. denominação da companhia acompanhada da expressão “em organização”, durante o processo de constituição; (art. 91, LSA). d. responsabilidade solidária dos fundadores e underwriting por prejuízos decorrentes de descumprimento da lei, por culpa ou dolo em atos anteriores à constituição (art. 92, parágrafo único, LSA); e. entrega dos livros, papéis e documentos de constituição da sociedade anônima para os primeiros administradores; (art. 93, LSA). f. registro e publicação dos atos constitutivos da empresa. (art. 94, LSA). Concluídas todas estas etapas, a sociedade anônima poderá iniciar as suas atividades e o administrador deve providenciar a mudança de titularidade dos bens móveis e imóveis. No caso de bens imóveis, a certidão dos atos constitutivos expedida pela Junta Comercial equivale à escritura pública e é suficiente para a mudança de propriedade no Cartório de Registro de Imóveis. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 184eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 184 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 185 Valores mobiliários Além dos bens subscritos no estatuto, ao longo da sua vida, as sociedades anônimas podem emitir títulos de investimento ou valores mobiliários, com o objetivo de levantar recursos. São valores mobiliários: a. Partes Beneficiárias: são títulos negociáveis, com duração de no máximo dez anos, determinada nos estatutos, sem valor nominal e estranhos ao capital social, passíveis de alienação ou atribuição onerosa para pagamento de prestação de serviços. Os credores não são e não têm os mesmos direitos dos acionistas, exceto o de fiscalização. O limite para o pagamento não pode ultrapassar um décimo do lucro e qualquer modificação nos estatutos para alteração ou modificação dos benefícios das partes beneficiárias precisa ser aprovado em assembleia, por no mínimo metade dos titulares. (arts. 46 a 51, LSA). As partes beneficiárias podem conter cláusula de conversibilidade em ações se a emissora constituir uma reserva especial para capitalização. A emissão desses títulos é proibida para as companhias abertas. b. Debêntures: são títulos de crédito representativos de empréstimo, mútuo com transferência de bens fungíveis, que a sociedade anônima realiza junto a terceiros, assegurando-lhes o direito de crédito contra ela, nas condições da escritura de emissão e do certificado, se expedido, nos quais conte: valor, índice de correção monetária, data do vencimento da obrigação, cláusula de conversibilidade em ações, etc. (arts. 52 a 74, LSA). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 185eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 185 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial186 Não podem ser agentes fiduciários: quem exerce função idêntica em outra emissão da mesma companhia; instituição financeira coligada à companhia emissora ou à entidade que subscreva a emissão; credores da sociedade emissora ou suas controladas; instituição financeira cujos administradores tenham interesse na sociedade emissora; e qualquer pessoa em situação de conflito de interesses pelo exercício da função. c. Bônus de Subscrição: são títulos de investimento que conferem aos credores o direito de subscrever ações da sociedade anônima emissora em aumento futuro de capital. (arts. 75 a 79, LSA) d. Nota Promissória: a oferta pública de distribuição de notas promissórias está regulamentada na Instrução CVM 566/2015. É valor mobiliário de curto prazo para captação de recursos, com regra geral para liquidação e resgate em dinheiro no prazo de até 360 dias da emissão, com uma única data de vencimento por série, e endosso em preto, com a expressão “sem garantia” informada no título. Como nas demais sociedades empresárias, o capital social da sociedade anônima pode ser integralizado em espécie ou em bens corpóreos ou incorpóreos, móveis, imóveis ou semoventes. A diferença é que, na Sociedade Anônima os bens devem ser avaliados em laudo firmado por três peritos ou por empresa especializada, no qual conste ampla e detalhada descrição dos bem e os critérios e elementos de comparação utilizados na avaliação, acompanhado dos documentos comprobatórios da propriedade, a fim de evitar fraudes. O laudo é analisado pela Assembleia-geral e, somente após aprovado, o bem pode ser integralizado. (art. 7° c/c art. 8°, LSA). Se pesar gravame sobre o bem e isso não ficar claro no laudo, presume-se transferida a propriedade para empresa. (art. 9°, LSA). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 186eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 186 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 187 Avaliadores e subscritores respondem solidariamente pelos danos que causarem por dolo ou culpa na avaliação dos bens. Porém, se os bens estiverem em condomínio, a responsabilidade pelos danos causados à empresa, acionistas e terceiros, é subsidiária. (parágrafo 6°, art. 8°, LSA). Como a Lei Especial prepondera sobre a Lei Geral, o parágrafo único, do art. 10, da Lei 6.404/1976, excepciona a regra geral do art. 296, do Código Civil, que isenta de responsabilidade civil o cedente na insolvência do devedor. Ou seja, nas sociedades anônimas, subscritores ou acionistas que contribuírem com bens para a formação do capital social respondem solidariamente com o vendedor. IMPORTANTE O mesmo ocorre em caso de endosso sem garantia ou proibitivo. Embora a regra geral não vincule o endossante como coobrigadoperante terceiros, nas sociedades anônimas a cláusula de endosso exoneratória, sem garantia, é sempre ineficaz e obriga o endossante perante terceiros, ainda que isso seja improvável, já que o certificado da integralização por transferência de crédito só é expedido após a realização. (art. 23, parágrafo 2°, LSA). A responsabilidade civil não exclui a responsabilidade penal, administrativa e/ou tributária. Capital social No decorrer da vida da sociedade anônima, o capital social pode ser aumentado ou diminuído e nem sempre pelo ingresso ou perda de recursos. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 187eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 187 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial188 Os aumentos podem se dar através de: a. Emissão de ações: a autorização da emissão de novas ações deve ser decidida e votada em assembleia- geral, assembleia-extraordinária ou pelo conselho de administração, desde que realizado, no mínimo, 3/4 do capital social, ou no limite do capital autorizado no estatuto. (art. 166, incisos I e II e IV, c/c art. 170, LSA). Se o estatuto fixar o capital autorizado, precisa indicar o órgão competente para autorizar a emissão das novas ações. (art. 168, LSA). Inexistindo permissão para a emissão de novas ações ou havendo esgotamento das possibilidades previstas no estatuto, ele pode ser reformado em assembleia extraordinária, com inserção de cláusula para fixação do capital autorizado e definição do órgão autorizador. (art. 166, inciso IV). b. Valores mobiliários ou título financeiro: é um título de propriedade ou de crédito, emitido pela conversão de debêntures ou partes beneficiárias conversíveis em ações, ou ainda pelo exercício de direitos conferidos por bônus de subscrição ou opção de compra. (art. 166, III, LSA). c. Capitalização de lucros e reservas: é a destinação de parte do lucro líquido ou das reservas para reforço do capital social, com ou sem emissão de ações, autorizada pela assembleia-geral ordinária. (art. 169, LSA). A redução do capital social é possível sempre que ele deixar de refletir a realidade financeira por prejuízos patrimoniais ou por superdimensionamento no valor das ações, mas carreia para a empresa o dever de restituir o preço do capital integralizado para eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 188eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 188 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 189 os acionistas ou diminuir o valor das ações não integralizadas ao montante das entradas. (arts. 173 e 174, LSA) Credores quirografários podem opor-se à diminuição do capital no prazo decadencial de 60 dias após a publicação da ata da assembleia ou da decisão que a aprovou. O arquivamento da ata na Junta Comercial fica condicionada à prova do pagamento ou depósito judicial do crédito devido a eles. (parágrafos 1° e 2°, art. 174, LSA). Se houver debêntures em circulação, o capital social somente poderá ser diminuído com a concordância da maioria dos debenturistas reunidos em assembleia especial. (parágrafo 3°, art. 174, LSA). Administração social A Lei 6.404/1976 estabelece, nos artigos 145 a 160, regras gerais para o exercício da administração societária e da direção, e denomina como órgãos societários a assembleia-geral, a diretoria, o conselho de administração e o conselho fiscal, sem prejuízo da liberdade estatutária de estabelecer outros para assessoramento ou execução do fim social. A assembleia geral é o órgão máximo da sociedade anônima, de caráter exclusivamente deliberativo, que reúne todos os acionistas com ou sem direito a voto. Os detentores de ações preferenciais nominativas têm voz nas assembleias, mas só podem votar na tomada de algumas decisões, como a constituição da sociedade anônima e a eleição em separado dos membros dos conselhos administrativo e fiscal, etc. (parágrafo único, art. 125, LSA). A Lei 6.404/1976 exige a realização da assembleia-geral, nos seguintes termos: eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 189eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 189 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial190 Art. 132. Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao término do exercício social, deverá haver 1 (uma) assembleia-geral para: I - tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações financeiras; II - deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de dividendos; III - eleger os administradores e os membros do conselho fiscal, quando for o caso; IV - aprovar a correção da expressão monetária do capital social (artigo 167). Quórum de instalação e quórum de deliberação são conceitos diferentes. O primeiro é um o número mínimo de acionistas para dar início às reuniões e o segundo o número mínimo necessário para decisões. Nem sempre o quórum de instalação é suficiente para as decisões societárias. IMPORTANTE Para a instalação da assembleia-geral, a lei exige, em primeira convocação, a presença de 1/4 dos acionistas com poder de voto (art. 125, LSA), ampliada para 2/3 se o objetivo for a reforma dos estatutos (art. 135, LSA) e, em segunda convocação, nos dois casos, qualquer número. Já para a deliberação, a lei exige maioria absoluta. Ou seja, metade mais um do total de ações com direito a voto, descontados os votos em branco (art. 129, LSA). O estatuto das sociedades eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 190eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 190 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 191 anônimas de capital fechado pode estabelecer quórum maior para a tomada de decisões. A exceção é o quórum qualificado do art. 136, que exige, no mínimo, a aprovação de metade do capital votante. Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo, das ações com direito a voto, se maior quórum não for exigido pelo estatuto da companhia cujas ações não estejam admitidas à negociação em bolsa ou no mercado de balcão, para deliberação sobre: I - criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações preferenciais existentes, sem guardar proporção com as demais classes de ações preferenciais, salvo se já previstos ou autorizados pelo estatuto; II - alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova classe mais favorecida; III - redução do dividendo obrigatório; IV - fusão da companhia, ou sua incorporação em outra; V - participação em grupo de sociedades (art. 265); VI - mudança do objeto da companhia; VII - cessação do estado de liquidação da companhia; VIII - criação de partes beneficiárias; IX - cisão da companhia; X - dissolução da companhia. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 191eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 191 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial192 § 1° Nos casos dos incisos I e II, a eficácia da deliberação depende de prévia aprovação ou da ratificação, em prazo improrrogável de um ano, por titulares de mais da metade de cada classe de ações preferenciais prejudicadas, reunidos em assembleia especial convocada pelos administradores e instalada com as formalidades desta Lei. § 2° A Comissão de Valores Mobiliários pode autorizar a redução do quórum previsto neste artigo no caso de companhia aberta com a propriedade das ações dispersa no mercado, e cujas 3 (três) últimas assembleias tenham sido realizadas com a presença de acionistas representando menos da metade das ações com direito a voto. Neste caso, a autorização da Comissão de Valores Mobiliários será mencionada nos avisos de convocação e a deliberação com quórum reduzido somentepoderá ser adotada em terceira convocação. § 3 O disposto no § 2o deste artigo aplica-se também às assembleias especiais de acionistas preferenciais de que trata o § 1°. § 4º Deverá constar da ata da assembleia-geral que deliberar sobre as matérias dos incisos I e II, se não houver prévia aprovação, que a deliberação só terá eficácia após a sua ratificação pela assembleia especial prevista no § 1°. Havendo empate, aplica-se o parágrafo 2°, do art. 129, da Lei 6.404/1976: § 2º No caso de empate, se o estatuto não estabelecer procedimento de arbitragem e não contiver norma diversa, a assembleia será convocada, com intervalo mínimo de 2 (dois) meses, para eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 192eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 192 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 193 votar a deliberação; se permanecer o empate e os acionistas não concordarem em cometer a decisão a um terceiro, caberá ao Poder Judiciário decidir, no interesse da companhia. Prescreve em 2 anos a ação para a anulação de deliberações da assembleia por vício de convocação ou de instalação, ou ainda por desprezo à lei ou às regras estatutárias, erro, dolo, fraude ou simulação (art. 286, LSA). O conselho de administração, composto por no mínimo 03 conselheiros com mandato de 03 anos, no máximo, é facultativo nas sociedades anônimas de capital fechado, mas obrigatório nas de capital aberto, capital autorizado e nas sociedades de economia mista, e divide com a assembleia-geral o poder deliberativo. (parágrafo 2°, art. 138, c/c art. 239, LSA). Cabe ao estatuto definir: um número fixo, ou o mínimo e o máximo de conselheiros, obrigatoriamente acionistas; a forma de escolha e substituição do presidente do conselho, pela assembleia ou pelo próprio conselho; as regras para a substituição dos conselheiros; o prazo de gestão, até o máximo de 3 anos, permitida a reeleição; as normas para convocação, instalação e funcionamento do conselho; e as regras para as deliberações. Os membros do conselho só podem ser destituídos pela assembleia-geral. E, no silêncio do estatuto, a lei exige que o conselho delibere sempre por maioria de votos. (art. 140 e 146, LSA). A diretoria é o órgão que representa legalmente a sociedade anônima e executa as resoluções da assembleia geral e do conselho de administração. Os cargos de direção só podem ser ocupados por acionistas eleitos pelo conselho de administração ou pela assembleia-geral, mas a lei permite que sejam ocupados por até 1/3 dos membros do conselho administrativo. Todos podem ser destituídos a qualquer tempo. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 193eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 193 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial194 Na falta de previsão estatutária, qualquer um dos diretores pode representar legalmente a sociedade e praticar os atos necessários ao seu funcionamento regular, inclusive nomear mandatários com objetivo e prazo determinados, exceto para a representação judicial. (art. 144, LSA). O estatuto deve prever: o número mínimo (acima de dois) e máximo de membros da diretoria; a duração do mandato até 03 anos, permitida a reeleição; a regras para a substituição dos diretores; suas competências e atribuições. (art. 143, LSA). É dever da diretoria, ao fim de cada exercício social, providenciar a escrituração mercantil e comprovar, pelas demonstrações financeiras contábeis, o patrimônio real da empresa e eventuais mutações. (art. 176, LSA). O conselho fiscal, composto por no mínimo 03 e no máximo 05 membros, acionistas ou não, com suplentes em igual número, todos eleitos pela assembleia-geral, tem a incumbência de fiscalizar os órgãos de administração. É órgão de instalação obrigatória, mas de funcionamento facultativo se houver previsão estatutária neste sentido. (art. 161 e art. 163, LSA), mas que pode ser tornada factual por proposta de qualquer acionista “com 0,1 (um décimo) das ações com direito a voto, ou 5% (cinco por cento) das ações sem direito a voto, e cada período de funcionamento terminará na primeira assembleia-geral ordinária após a sua instalação”. (parágrafo 2°, art. 161, LSA). Os membros do conselho fiscal têm os mesmos direitos e deveres dos administradores, mas não podem exercer concomitantemente nenhum cargo de administração. Cônjuges e parentes até terceiro grau dos administradores tampouco podem ser membros do conselho fiscal. (parágrafo 2°, art. 162). Os acionistas preferenciais sem direito a voto podem eleger separadamente um membro do conselho fiscal, direito estendido aos acionistas minoritários que representem dez por cento do capital votante. (art. 161, parágrafo 4°, LSA). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 194eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 194 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 195 São deveres legais dos diretores e administradores, sem prejuízo de outros previstos no estatuto: o Dever de diligência (art. 153 e 154, LSA); o Dever de lealdade (art. 155 a 157, LSA, e parágrafo 1°, inciso XI, art. 195, Lei 9.279/1996); e o Dever de informar (art. 157 a 159, LSA). A prescrição, na Lei 6.404/1976, se dá nos seguintes prazos e termos: Art. 287. Prescreve: I - em 1 (um) ano: a. a ação contra peritos e subscritores do capital, para deles haver reparação civil pela avaliação de bens, contado o prazo da publicação da ata da assembleia-geral que aprovar o laudo; b. a ação dos credores não pagos contra os acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da companhia. II - em 3 (três) anos: a. a ação para haver dividendos, contado o prazo da data em que tenham sido postos à disposição do acionista; b. a ação contra os fundadores, acionistas, administradores, liquidantes, fiscais ou sociedade de comando, para deles haver reparação civil por atos culposos ou dolosos, no caso de violação da lei, do estatuto ou da convenção de grupo, contado o prazo: 1. para os fundadores, da data da publicação dos atos constitutivos da companhia; 2. para os acionistas, administradores, fiscais e sociedades de comando, da data da publicação da ata que aprovar o balanço referente ao exercício em que a violação tenha ocorrido; eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 195eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 195 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial196 3. para os liquidantes, da data da publicação da ata da primeira assembleia-geral posterior à violação. c. a ação contra acionistas para restituição de dividendos recebidos de má-fé, contado o prazo da data da publicação da ata da assembleia-geral ordinária do exercício em que os dividendos tenham sido declarados; d. a ação contra os administradores ou titulares de partes beneficiárias para restituição das participações no lucro recebidas de má-fé, contado o prazo da data da publicação da ata da assembleia-geral ordinária do exercício em que as participações tenham sido pagas; e. a ação contra o agente fiduciário de debenturistas ou titulares de partes beneficiárias para dele haver reparação civil por atos culposos ou dolosos, no caso de violação da lei ou da escritura de emissão, a contar da publicação da ata da assembleia-geral que tiver tomado conhecimento da violação; f. a ação contra o violador do dever de sigilo de que trata o artigo 260 para dele haver reparação civil, a contar da data da publicação da oferta. g. a ação movida pelo acionista contra a companhia, qualquer que seja o seu fundamento. Além da responsabilidade civil e penal os administradores também respondem: administrativamente perante a Comissão de Valores Mobiliários – CVM por desrespeito ao dever de anonimato (art. 11, Lei 6.385/76); por danosao consumidor resultantes de má administração (art. 28, CDC); subsidiariamente pelas obrigações fiscais e trabalhistas; e, no caso das operadoras de eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 196eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 196 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 197 saúde, respondem também pelos danos causados por prestadores de serviço e fornecedores que infrinjam as leis consumeristas (art. 35-J, Lei 9.656/1998). Direitos e deveres dos acionistas Quanto aos acionistas, seu principal dever é pagar o preço de emissão das ações que subscreverem, na forma prevista no estatuto. (art. 106, LSA). O acionista em débito que por 03 vezes for notificado através de publicação na imprensa oficial para pagar no prazo mínimo de 30 dias e não o fizer, estará constituído automaticamente em mora, passando ao status de acionista remisso. O débito, acrescido de correção monetária, juros e multa de até 10%, nos termos da regulamentação estatutária, pode ser objeto de ação executória, servindo o boletim de subscrição como título executivo extrajudicial. Os comprovantes da publicação na imprensa oficial devem instruir a inicial. Outra opção, tanto para as companhias de capital aberto como para as de capital fechado, e mesmo após o ajuizamento da execução, é a venda das ações subscritas e não quitadas em Bolsa, em leilão especial. Quitado o débito, se houver saldo, ele é entregue ao ex-acionista. Se o remisso não possuir bens executáveis e a venda das ações em Bolsa resultar infrutífera, a sociedade anônima pode declarar a caducidade das ações com retenção da entrada, se tiver sido realizada, ou integralizá-las, pagando por elas com fundos ou reservas (exceto a legal), somando-as ao patrimônio social. A importância a ser paga ao acionista remisso equivale ao resultado obtido com a divisão do patrimônio líquido da sociedade, apurado no último balanço, pelo número de ações, facultado ao devedor pedir o levantamento de um balanço especial para apurar o valor atualizado e econômico das ações. (art. 45, LSA). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 197eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 197 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial198 Na falta de integralização das ações pela própria empresa, elas devem ser alienadas no prazo de um ano, sob pena de redução do capital. São direitos essenciais dos acionistas, previstos na Lei da S.A: Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleia- geral poderão privar o acionista dos direitos de: I - participar dos lucros sociais; II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação; III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais; IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172; V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei. § 1° As ações de cada classe conferirão iguais direitos aos seus titulares. § 2° Os meios, processos ou ações que a lei confere ao acionista para assegurar os seus direitos não podem ser elididos pelo estatuto ou pela assembleia-geral. § 3° O estatuto da sociedade pode estabelecer que as divergências entre os acionistas e a companhia, ou entre os acionistas controladores e os acionistas minoritários, poderão ser solucionadas mediante arbitragem, nos termos em que especificar. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 198eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 198 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 199 O direito de voto não é essencial e nem pode ser exercido por qualquer acionista. Porém, quando exercido, o voto deve ser livre e de boa-fé. O voto abusivo ou conflitante é expressamente vedado, sob pena de responsabilidade civil e penal. Voto abusivo é aquele que cause ou possa causar dano, ou favoreça a percepção de vantagem indevida para o próprio acionista ou para outrem, com prejuízo para a sociedade empresária ou outros acionistas. (art. 115, LSA) O voto conflitante, passível de anulação, sem prejuízo da responsabilidade civil, é todo aquele que coloca em xeque os interesses do acionista frente aos interesses da empresa. (parágrafo 1°, art. 115, LSA) Porém, não há impedimento legal para que os acionistas firmem livremente acordo de voto, protegido pelo anonimato e regido pela lei civil geral dos contratos, se o objeto da votação envolver o poder de controle, o exercício do direito de voto, a compra e venda de ações ou a preferência de aquisição, desde que eles sejam arquivados na empresa. (art. 118, LSA) A sociedade anônima não pode desatender os termos do acordo de voto, sob pena de ser impelida, judicialmente, a acatar a vontade contratual dos acionistas. Se no acordo houver previsão do direito de preferência, a empresa não tem legitimidade para compelir o contratante a respeitar o acordado e nem para registrar a venda de ações a terceiros. É o acionista preterido no direito de preferência quem tem legitimidade para pedir ao judiciário o cumprimento da avença. Quanto ao acionista controlador, a Lei 6.404/1976 o define como aquele que simultaneamente é titular permanente dos direitos de sócio com maioria dos votos nas deliberações eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 199eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 199 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial200 da assembleia-geral e poder para eleger a maioria dos administradores, e pode dirigir e orientar as atividades sociais e o funcionamento dos órgãos societários. (art. 116, LSA) O controlador responde pelo abuso do poder e pelos danos e prejuízos advindos do controle, nos seguintes termos: Art. 117. O acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder. § 1º São modalidades de exercício abusivo de poder: a. orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou lesivo ao interesse nacional, ou levá-la a favorecer outra sociedade, brasileira ou estrangeira, em prejuízo da participação dos acionistas minoritários nos lucros ou no acervo da companhia, ou da economia nacional; b. promover a liquidação de companhia próspera, ou a transformação, incorporação, fusão ou cisão da companhia, com o fim de obter, para si ou para outrem, vantagem indevida, em prejuízo dos demais acionistas, dos que trabalham na empresa ou dos investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia; c. promover alteração estatutária, emissão de valores mobiliários ou adoção de políticas ou decisões que não tenham por fim o interesse da companhia e visem a causar prejuízo a acionistas minoritários, aos que trabalham na empresa ou aos investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia; d. eleger administrador ou fiscal que sabe inapto, moral ou tecnicamente; eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 200eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 200 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 201 e. induzir, ou tentar induzir, administrador ou fiscal a praticar ato ilegal, ou, descumprindo seus deveres definidos nesta Lei e no estatuto, promover, contra o interesse da companhia, sua ratificação pela assembleia-geral; f. contratar com a companhia, diretamente ou através de outrem, ou de sociedade na qual tenha interesse, em condições de favorecimento ou não equitativas; g. aprovar ou fazer aprovar contas irregulares de administradores, por favorecimento pessoal, ou deixar de apurar denúncia que saiba ou devesse saber procedente, ou que justifique fundada suspeita de irregularidade. h. subscrever ações, para os fins do disposto no art. 170, com a realização embens estranhos ao objeto social da companhia. § 2º No caso da alínea e do § 1º, o administrador ou fiscal que praticar o ato ilegal responde solidariamente com o acionista controlador. § 3º O acionista controlador que exerce cargo de administrador ou fiscal tem também os deveres e responsabilidades próprios do cargo. Se a sociedade anônima for instituição financeira, o controlador responde solidariamente com os ex-administradores, por danos e prejuízos perante o Banco Central, se instaurado o regime de administração especial temporária (art. 15, Decreto- lei n. 2.321/1987), a liquidação extrajudicial ou a intervenção (Lei n. 9.447/1997). Incidem em idêntica responsabilidade o controlador de seguradora, de entidade de previdência privada aberta e de capitalização (Lei n. 10.190/2001). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 201eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 201 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial202 A lei 9.447/1997 regulamenta especificamente a responsabilidade solidária dos administradores das sociedades anônimas que forem instituições financeiras. A alienação das ações de controle das companhias abertas pode ser feita de forma direta ou indireta, em oferta pública e com autorização da Comissão de Valores Mobiliários – CVM. (art. 254-A, LSA) As sociedades anônimas que dependem de autorização estatal para a sua constituição só poderão ter o controle acionário alienado com autorização do órgão competente para aprovar o seu estatuto. (art. 255, LSA) Demonstrações contábeis e partilha do lucro e prejuízos Quanto às demonstrações contábeis das sociedades anônimas, a exemplo das sociedades limitadas, elas devem ser apresentadas aos acionistas e publicadas ao fim de cada exercício social, tanto para provar a real solvabilidade da empresa, como a necessidade ou possibilidade de acrescer ou diminuir a quantidade de ações, estabelecer diretrizes de gestão, comprovar o pagamento das obrigações tributárias, trabalhistas, judiciárias, etc. O exercício social não necessariamente precisa seguir o ano calendário. Em que pese, por praticidade seja usual delimitá- lo de 1° de janeiro a 31 de dezembro, o período de 12 meses pode ser livremente estabelecido nos estatutos. (art. 175, LSA). As demonstrações financeiras devem ser publicadas para posterior exame da Assembleia-geral Ordinária em conjunto com os relatórios administrativos dos gestores. (inciso I, art. 132, LSA). Já a escrituração mercantil, ou seja, as contas e livros a serem apresentados pela diretoria ao fim de cada exercício social eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 202eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 202 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 203 são: o balanço patrimonial, os lucros e prejuízos acumulados, o resultado do exercício social, o fluxo de caixa e, se a companhia for aberta, também o valor adicionado. (art. 176, LSA). Devem ser apresentados: a. Balanço patrimonial: é a demonstração financeira do ativo, do passivo e do patrimônio líquido. b. Lucros e prejuízos acumulados: são os valores superiores ou inferiores à receita, não distribuídos aos acionistas; c. Resultado de exercício social: demonstra o desempenho da sociedade empresária no exercício apurado e tem por finalidade apurar o retorno do investimento dos acionistas e o grau de eficiência da administração. É apurado pelo confronto das receitas bruta e líquida e as despesas operacionais e não operacionais. d. Fluxo de caixa: demonstra a disponibilidade líquida da sociedade anônima, ou seja, os ingressos e despesas do caixa. O fluxo de caixa não é obrigatório para sociedades anônimas fechadas com patrimônio líquido inferior a dois milhões de reais. e. Valor adicionado: é uma demonstração contábil exigida apenas das sociedades anônimas de capital aberto destinada a medir financeiramente a riqueza gerada pela empresa. Do resultado final do exercício e antes da partilha do lucro ou destinação para novos investimentos, devem ser deduzidos os prejuízos acumulados e feita provisão para o pagamento do Imposto de Renda. (art. 189, LSA). Eventuais prejuízos devem ser absorvidos “pelos lucros acumulados, pelas reservas de lucros e pela reserva legal, nessa ordem”. (parágrafo único, art. 189, LSA). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 203eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 203 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial204 Em seguida são pagas, sucessivamente, as participações estatutárias de empregados, administradores e partes beneficiárias. (art. 190, LSA). Cumpridas todas essas obrigações, apura-se o lucro líquido da empresa referente ao exercício social que deve ser dividido da seguinte forma: a. no mínimo 5% para a reserva legal, não podendo exceder 20% do valor do capital social, exceto se o saldo já existente for superior a 30% do capital social; (art. 193, LSA). b. no percentual previsto no estatuto para a reserva estatutária; (art. 194, LSA). c. parte pode ser destinada à reserva de contingências, a critério da Assembleia-geral, por proposta dos órgãos administrativos, com a finalidade de compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado. Pode integrar esse valor um percentual decorrente de doações e subvenções governamentais para investimentos, passíveis de serem excluídos da base de cálculo dos dividendos obrigatórios; (art. 195-A c/c 202, LSA). d. parte, também a critério da Assembleia-geral, por proposta dos órgãos administrativos, pode ser destinada a reinvestimentos futuros por até 05 anos, ou prazo mais amplo se previsto no projeto aprovado; (art. 196, LSA). e. eventual sobra do lucro, após a quitação dos dividendos aos acionistas pode ser destinado a uma reserva de lucros a realizar; (art. 197, LSA). f. parte pode ser destinada a reserva de capital, para cobrir eventual ágio na subscrição de novas ações, o produto da venda de partes beneficiárias e os bônus de subscrição; (parágrafo 1°, art. 182, LSA). eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 204eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 204 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 205 g. quitação dos dividendos obrigatórios, que é o retorno do investimento feito pelos sócios, no percentual mínimo de 50% do lucro líquido ajustado, na falta de previsão mais benéfica no estatuto. (art. 202, LSA). Excepciona a obrigatoriedade da distribuição dos dividendos a situação financeira precária da sociedade empresária ou a deliberação da Assembleia Geral nas sociedades anônimas de capital fechado, na falta de oposição de qualquer dos acionistas. Neste caso, o lucro não distribuído constituirá reserva especial que será dividido entre os acionistas tão logo permita a saúde financeira da empresa. Dissolução da sociedade anônima Por ter natureza institucional, a sociedade anônima sujeita- se ao regime de dissolução previsto nos arts, 206 a 218, da Lei 6.404/1976, sem prejuízo das normas contidas no Código Civil e na Lei de Falências, aplicadas subsidiariamente. Estas são as possibilidades de dissolução, in verbis, previstas na Lei Especial: Art. 206. Dissolve-se a companhia: I - de pleno direito: a. pelo término do prazo de duração; b. nos casos previstos no estatuto; c. por deliberação da assembleia-geral (art. 136, X); d. pela existência de 1 (um) único acionista, verificada em assembleia-geral ordinária, se o mínimo de 2 (dois) não for reconstituído até à do ano seguinte, ressalvado o disposto no artigo 251; e. pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 205eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd205 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial206 II - por decisão judicial: a. quando anulada a sua constituição, em ação proposta por qualquer acionista; b. quando provado que não pode preencher o seu fim, em ação proposta por acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do capital social; c. em caso de falência, na forma prevista na respectiva lei; III - por decisão de autoridade administrativa competente, nos casos e na forma previstos em lei especial. A dissolução parcial pode ser evitada mediante reembolso ao acionista dissidente com dinheiro do lucro ou reservas, excetuada a reserva legal e desde que não comprometa a solvência da empresa, ou seja, o próprio capital social. A morte também não traduz, por si, a dissolução da sociedade empresarial, já que os herdeiros ou legatários sub- rogam-se na titularidade dos direitos do sócio morto. Outras possibilidades de dissolução são a incorporação, a fusão e a cisão, com a absorção de todo o patrimônio por outras sociedades empresariais. (art. 219, LSA, 1.113 a 1.122 CC) A incorporação e fusão de sociedades anônimas devem ser submetidas à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade, órgão judicante administrativo com jurisdição em todo o território nacional, sempre que atingirem os valores previstos no art. 88, da Lei 12.529/2011: Art. 88. Serão submetidos ao Cade pelas partes envolvidas na operação os atos de concentração econômica em que, cumulativamente: I - pelo menos um dos grupos envolvidos na operação tenha registrado, no último balanço, eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 206eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 206 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 207 faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação, equivalente ou superior a R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais); e II - pelo menos um outro grupo envolvido na operação tenha registrado, no último balanço, faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação, equivalente ou superior a R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais). A lei permite três possibilidades de associação de sociedades empresariais para a execução de empreendimentos comuns: a. grupos de fato: resultam da união entre sociedades coligadas, quando uma empresa em influência significativa sobre outra sem controlá-la, e entre controladora e controlada, quando a primeira tem poder de controle sobre a segunda. Regra geral, é vedada a participação recíproca entre a companhia e suas coligadas ou controladas, exceto se a sociedade anônima puder adquirir legalmente suas próprias ações. (art. 244 c/c art. 30, § 1º, b, LSA). As demonstrações financeiras entre coligadas e controladas seguem regras próprias, previstas nos arts. 247 a 250 da Lei 6.404/1976. b. Subsidiária integral: as ações, em sua totalidade, ficam nas mãos de uma outra pessoa jurídica; (letra d, inciso I, art. 206, LSA). c. Grupo de direito: é uma reunião interempresarial de sociedades sob o controle de uma sociedade brasileira, denominada holding, para participação em empreendimentos comuns. Devem ter a designação de “grupo” ou “grupo de sociedades”, podem contar com estrutura e órgãos de direção próprios, e precisam eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 207eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 207 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial208 ser registradas na Junta Comercial, em que pese configurem uma reunião contratual de negócios e não tenham personalidade jurídica própria e nem respondam subsidiariamente pelas dívidas uma das outras. (art. 267, LSA). Os grupos somente têm responsabilidade perante as autoridades antitruste (Lei 12.529/2011), trabalhistas. (parágrafo 2°, art. 2°, CLT) e previdenciárias (inciso IX, art. 30, Lei 8.212/1991). A responsabilidade subsidiária das empresas que compõem a holding se limita às advindas de relação de consumo. (parágrafo 2°, art. 28, Lei 8.078/1990). d. Consórcio: o consórcio não tem personalidade jurídica própria. Resulta da combinação de esforços e recursos para a execução de empreendimento comum, sujeito à aprovação do CADE se os valores atingirem o montante previsto no art. 88 da Lei 12.529/2011, e não têm responsabilidade solidária, exceto com relação aos direitos consumeristas (parágrafo 3°, art. 28, Lei 8.078/1990) e licitatórios (inciso V, art. 33, Lei n. 8.666/93). As sociedades de economia mista só podem ser constituídas por lei, para atender a interesse público, e com capital majoritariamente público. Estão sujeiras às regras contidas na lei de criação, às normas para administração societária contida nos arts 235 ao 240 da Lei 6.404/1976, sem prejuízo da aplicação subsidiária das normas gerais contidas no Código Civil e na Lei de Falências, bem como às normas e fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários – CVM, se forem abertas. Sociedade em comandita por ações A sociedade em comandita por ações se sujeita à regulamentação da Lei das Sociedades Anônimas, arts. 280 a eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 208eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 208 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial 209 284, com as alterações contidas nos 1.090 a 1.092 do Código Civil. Na sociedade em comandita por ações, somente os acionistas podem integrar a diretoria. O acionista diretor, também denominado gerente, é nomeado no estatuto para exercer essa atribuição por prazo indeterminado ou até que os acionistas que detiverem no mínimo 2/3 do capital pleiteiem a sua destituição, e sua responsabilidade sobre as obrigações societárias é ilimitada. (art. 1.091, CC). Em razão da responsabilidade ilimitada do diretor, a assembleia-geral não pode mudar, sem o acorde do diretor, o objeto essencial da sociedade, prorrogar o prazo de duração da empresa, aumentar nem diminuir o capital social, emitir debêntures ou partes beneficiárias (art. 1.092, CC) A sociedade pode adotar firma, com o nome civil de acionista que não exerça cargo de direção, ou denominação, mas em ambos casos o nome deve conter a expressão indicativa do tipo societário. (art. 1.161, CC) Afora essas diferenças contidas no Código Civil, aplicam- se às sociedades em comandita por ações todas as regras da Lei 6.404/1976. E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido o que significa as sociedades anônimas. RESUMINDO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 209eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 209 29/07/2020 18:34:0329/07/2020 18:34:03 Direito Empresarial210 Sociedades cooperativas Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona as sociedades cooperativas. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO O nascimento do cooperativismo O Cooperativismo nasceu na Inglaterra, em 1844, quando um grupo de trabalhadores reuniu esforços para montar um armazém, comprar alimentos em quantidade a menores custos e vendê-los também a menores preços. As sociedades cooperativas estão ligadas ao conceito de cooperação mútua, reunião de esforços em prol de um objetivo comum, com divisão dos resultados entre os cooperativados. São sociedades de pessoas e podem ter por objetivo social qualquer gênero de serviço, operação ou atividade econômica, social, ambiental ou cultural, sendo obrigatório o termo “cooperativa” na sua denominação. As cooperativas mais comuns são a agropecuária, de trabalho, de consumo, de crédito, de prestaçãode serviços e infraestrutura, de saúde e especiais, que em geral reúnem grupos vulneráveis como catadores de papel, deficientes físicos, etc. Está regulamentada na Lei 5.764/1971 e é conceituada no art. 4°, nos seguintes termos: eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 210eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 210 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 211 Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo- se das demais sociedades pelas seguintes características: I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços; II - variabilidade do capital social representado por quotas-partes; III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais; IV - incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade; V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade; VI - quorum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral baseado no número de associados e não no capital; VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral; VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social; eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 211eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 211 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial212 IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social; X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa; XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços. São constituídas a partir de um estatuto que regulamenta a denominação, sede, prazo de duração da sociedade, área de atuação, objeto, início e fim do exercício social e a data de levantamento do balanço geral, além dos direitos e deveres dos associados, responsabilidades, admissão e desligamento dos cooperados, capital e modo de integralização, devolução de sobras e rateios, regras administrativas, de fiscalização e de representação em juízo e fora dele, poderes e responsabilidade dos administradores e conselheiros fiscais, convocação dos cooperados para as assembleias-gerais, debates e direito de voto. O ato constitutivo das cooperativas deve declarar, sob pena de nulidade: a denominação da sociedade, o seu objeto e o endereço da sede, a qualificação completa dos fundadores, o valor e o número da quota-parte de cada um, a aprovação do estatuto e a qualificação completa dos associados escolhidos para os órgãos de administração, fiscalização e outros. (art. 15, Lei 5.764/1971). O capital social inicial, necessário para a instalação e primeiras atividades sociais, é levantado através de estudos de viabilidade econômica e dividido em quotas-parte com valor máximo limitado a um salário mínimo do país. (art. 24, Lei 5.764/1971). O ato de constituição e o estatuto devem ser levados a registro na Junta Comercial. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 212eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 212 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 213 A mesma norma delimita a responsabilidade das cooperativas e dos cooperados nos seguintes termos: Art. 11. As sociedades cooperativas serão de responsabilidade limitada, quando a responsabilidade do associado pelos compromissos da sociedade se limitar ao valor do capital por ele subscrito. Art. 12. As sociedades cooperativas serão de responsabilidade ilimitada, quando a responsabilidade do associado pelos compromissos da sociedade for pessoal, solidária e não tiver limite. Art. 13. A responsabilidade do associado para com terceiros, como membro da sociedade, somente poderá ser invocada depois de judicialmente exigida da cooperativa. Finalmente, a estrutura organizacional das cooperativas é composta pelos seguintes órgãos sociais: assembleia geral, ordinária e extraordinária, conselho de administração ou diretoria e conselho fi scal. Figura 3 Fonte: Freepik eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 213eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 213 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial214 E então? Gostou do conteúdo? Aprendeu tudo sobre as espécies de sociedades empresárias? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você certamente aprendeu como se deu a transformação da sociedade comercial para a sociedade empresária, o que são e quais são as sociedades personificadas, como se constituem as sociedades simples, limitada, em nome coletivo, em comandita por ações, anônima e, finalmente, as cooperativas. Aprendeu também sobre a constituição e a importância do capital social, como são organizadas administrativamente qual a responsabilidade dos sócios. E, finalmente, aprendeu sobre a distribuição de lucros e dividendos. Agora você está preparado para seguir adiante e prender um pouco mais sobre o Direito Empresarial. RESUMINDO eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 214eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 214 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 215 REFERÊNCIAS UNIDADE 01 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______. Lei Complementar 48, de 10 de dezembro de 1984. Estabelece normas integrantes do Estatuto da Microempresa, relativas a isenção do imposto sobre Circulação de Mercadorias - ICM e do Imposto sobre Serviços - ISS Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp48.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L5172Compilado.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6015compilada. htm>. Acesso em: 29 ago 2019. ______. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em <http://www. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 215eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 215 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial216 planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 27 ago 2019. ______. Lei 8.906, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Lei 8.934, de 18 de novembro de 1994, Dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e AtividadesAfins e dá outras providências. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8934compilado.htm>. Acesso em: 26 set 2019. ______. Lei 10.406, de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______. Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Lei 11.107, de 06 de abril de 2005. Dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11107.htm>. Acesso em: 25 set 2019. ______. Lei 11.598, de 03 de dezembro de 2007. Estabelece diretrizes e procedimentos para a simplificação e integração do processo de registro e legalização de empresários e de pessoas jurídicas, cria a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios - REDESIM. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 216eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 216 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 217 Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2007/lei/l11598.htm>. Consulta em 27.07.2019. ______. Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Lei 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 25 set 2019. ______. Decreto-Lei 486, de 03 de março de 1969. Dispõe sôbre escrituração e livros mercantis e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto- Lei/Del0486.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______ BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Decreto 21.981, de 19 de outubro de 1932. Regula a profissão de Leiloeiro ao território da República. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/ D21981.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Decreto 3.474, de 19 de março de 2000. Regulamenta a Lei 9.841, de 5 de outubro de 1999, que institui o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/decreto/D3474.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 217eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 217 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial218 ______. Decreto 9.580, de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a tributação, a fiscalização, a arrecadação e a administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Disponível em <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/decreto/D3474.htm>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Conselho da Justiça Federal. Enunciados. Disponível em <https://www.cjf.jus.br/enunciados/>. Acesso em: 27 jul 2019. ______. Supremo Tribunal Federal. Súmulas. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto. asp?servico=jurisprudenciaSumula>. Acesso em: 27 jul 2019. FORGIONI, Paula A. Contratos empresariais: teoria geral e aplicação. 4ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código civil. 8. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 13ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2019. MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 18ª ed. Rio de Janeiro Atlas 2018. RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único. 9ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Método, 2019. TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. São Paulo: Saraiva Jur, 2018. 3 v. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 218eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 218 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 219 UNIDADE 02 ______ BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei Complementar 35, de 14 de março de 1979. Dispõe sobre a Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/ lcp35.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6001.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 6.434, de 15 de julho de 1977. Acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, que “dispõe sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6434.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 6.880, de 09 de dezembro de 1980. Dispõe sobre o Estatuto dos Militares. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6880.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 8.112, de 11 de novembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 219eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 219 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial220 da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L8112compilado.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Institui a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, dispõe sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados e dá outras providências.. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 10.406, de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/ L11101.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 12.441, de 11 de julho de 2011. Altera a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para permitir a constituição de empresa individual de responsabilidade limitada. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12441.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Decreto 20.931, de 11 de janeiro de 1932. Regula e fiscaliza o exercício da medicina, da odontologia, da eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 220eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 220 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 221 medicina veterinária e das profissões de farmacêutico, parteira e enfermeira, no Brasil, e estabelecepenas. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D20931. htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Decreto 21.981, de 19 de outubro de 1932. Regula a profissão de Leiloeiro ao território da República. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/1930-1949/D21981.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Decreto 5.051, de 19 de abril de 2004. Promulga a Convenção n 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT sobre Povos Indígenas e Tribais. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/ decreto/d5051.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 108728/SP. Rel. Min. Néri da Silveira, Publ. DJ 03.02.1989. Disponível em <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador. jsp?docTP=AC&docID=200032>. Acesso em: 26 ago 2019. CHAGAS, Edison Enedino das. Direito empresarial esquematizado. 4ª ed. São Pauto: Saraiva, 2017. Coleção Esquematizado, Coordenador Pedro Lenza. FORGIONI, Paula A. Contratos empresariais: teoria geral e aplicação. 4ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código civil. 8. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 221eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 221 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial222 MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 13ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2019. MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 18ª ed. Rio de Janeiro Atlas 2018. RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único. 9ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Método, 2019. TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. São Paulo: Saraiva Jur, 2018. 3 v. UNIDADE 03 ______ BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei Complementar 23, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/lcp/lcp123.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L5172Compilado.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 222eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 222 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 223 Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l5764.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 6.024 de 24 de março de 1974. Dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de instituições financeiras, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6024.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 8.245, de 18 de outubro de 1991. Dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os procedimentos a elas pertinentes. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8245compilado.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 9.656, de 03 de junho de 1998. Dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/L9656compilado.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 10.406, de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/ L11101.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 12.441, de 11 de julho de 2011. Altera a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 223eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 223 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial224 Civil), para permitir a constituição de empresa individual de responsabilidade limitada. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12441.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Lei 13.874, de 20 de setembro de 2019. Institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Decreto-Lei 1.608, de 18 de setembro de 1939. Código de Processo Civil. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del1608. htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Decreto-Lei 73, de 21 de novembro de 1966. Dispõe sôbre o Sistema Nacional de Seguros Privados, regula as operações de seguros e resseguros e dá outras providências. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Decreto-Lei/Del0073compilado.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Decreto-Lei 5.342, de 1° de maio de 1942. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ Del5452compilado.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Decreto 2.321, de 25 de fevereiro de 1987. Institui, em defesa das finanças públicas, regime de administração especial temporária, nas instituições financeiras eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 224eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 224 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 225 privadas e públicas não federais, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto- Lei/Del2321.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Decreto 3.078, de 10 de janeiro de 1919. Regula a constituição de sociedades por quotas, de responsabilidade limitada. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d3708.htm>. Acesso em: 26 ago 2019. ______ BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. REsp 1202225/SP. Recurso Especial 2010/0123145- 6. Relator Ministro Mauro Campbell Marques. Órgão Julgador: Segunda Turma. Data do Julgamento: 14/09/2010. Data da Publicação/Fonte: DJe 06/10/2010. Disponível em <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/ mediado/?componente=ITA&sequencial=1003239&num_ registro=201001231456&data=20101006&formato=PDF>. Acesso em: 26 ago 2019. _________Superior Tribunal de Justiça – STJ. Súmula 435. Primeira Seção. Julgado em 14/04/2010, DJe 13/05/2010. Disponível em <https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/ enunciados.jsp>. Acesso em: 26 ago 2019. _________Superior Tribunal de Justiça – STJ. Súmula 480. Segunda Seção. Julgado em 27/06/2012, DJe 01/08/2012. Disponível em <https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/ enunciados.jsp>. Acesso em: 26 ago 2019. _________Superior Tribunal de Justiça – STJ. TJ, Quarta Turma, Informativo 0510, 18 de dezembro de 2012. Disponível em <https://ww2.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/ informativo/>. Acesso em: 26 ago 2019.eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 225eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 225 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial226 CHAGAS, Edison Enedino das. Direito empresarial esquematizado. 4ª ed. São Pauto: Saraiva, 2017. Coleção Esquematizado, Coordenador Pedro Lenza. FORGIONI, Paula A. Contratos empresariais: teoria geral e aplicação. 4ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código civil. 8. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 13ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2019. MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 18ª ed. Rio de Janeiro Atlas 2018. RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único. 9ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Método, 2019. TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. São Paulo: Saraiva Jur, 2018. 3 v. UNIDADE 04 ______ BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 226eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 226 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 227 ______ BRASIL. Lei 556, de 25 de junho de 1850. Código Comercial. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l0556-1850.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 3.071, de 1° de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3071.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Dispõe sobre a Política e as Instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias, Cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/LEIS/L4595compilado.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 5.250, de 09 de fevereiro de 1967. Regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/LEIS/L5250compilado.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l5764.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 6.385 de 07 de dezembro de 1976. Dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/LEIS/L6385compilada.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 227eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 227 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial228 ______ BRASIL. Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 7.913, de 07 de dezembro de 1989. Dispõe sobre a ação civil pública de responsabilidade por danos causados aos investidores no mercado de valores mobiliários. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L7913.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 8.009, de 29 de março de 1990. Dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8009.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 8.021, de 12 de abril de 1990. Dispõe sobre a identificação dos contribuintes para fins fiscais, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L8021.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L8078compilado.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212compilado.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 228eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 228 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 229 Pública e dá outras providências. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666compilado.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L9279.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 9.447, de 14 de março de 1997. Dispõe sobre a responsabilidade solidária de controladores de instituições submetidas aos regimes de que tratam a Lei nº 6.024, de 13 de março de 1974, e o Decreto-lei nº 2.321, de 25 de fevereiro de 1987. Disponível em <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/L9447.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 10.190, de 13 de fevereiro de 2001. Altera dispositivos do Decreto-Lei n 73, de 21 de novembro de 1966, da Lei n 6.435, de 15 de julho de 1977, da Lei n 5.627, de 1 de dezembro de 1970, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/ L10190.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 10.406, de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/ L11101.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 11.638, de 25 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei n 6.404, de 15 de dezembro eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 229eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 229 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial230 de 1976, e da Lei n 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/ l11638.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 12.441, de 11 de julho de 2011. Altera a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para permitir a constituição de empresa individual de responsabilidade limitada. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12441.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2011/lei/l12529.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Decreto-Lei 1.608, de 18 de setembro de 1939. Códigode Processo Civil. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del1608. htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Decreto 737, de 25 de novembro de 1850. Determina a ordem do Juizo no Processo Commercial. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/ historicos/dim/DIM0737.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Decreto 2.321, de 25 de fevereiro de 1987. Institui, em defesa das finanças públicas, regime de eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 230eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 230 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial 231 administração especial temporária, nas instituições financeiras privadas e públicas não federais, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto- Lei/Del2321.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Decreto-Lei 5.342, de 1° de maio de 1942. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ Del5452compilado.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Decreto 575, de 10 de janeiro de 1849. Estabelece regras para a incorporação de quaesquer Sociedades anonymas. Disponível em <https://www2.camara.leg.br/legin/ fed/decret/1824-1899/decreto-575-10-janeiro-1849-559714- publicacaooriginal-82062-pe.html>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Decreto 3.708, de 10 de janeiro de 1919. Regula a constituição de sociedades por quotas, de responsabilidade limitada. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/antigos/d3708.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Decreto 8.660, de 29 de janeiro de 2016. Promulga a Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros, firmada pela República Federativa do Brasil, em Haia, em 5 de outubro de 1961. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/antigos/d3708.htm>. Acesso em: 10 fev 2020. Acesso em: 10 fev 2020. ______ BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários - CVM. Instrução Normativa 566, de 03 de agosto de 2015. Dispõe sobre a oferta pública de distribuição de nota promissória. Disponível em <http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst566. html>. Acesso em: 10 fev 2020. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 231eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 231 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Direito Empresarial232 CHAGAS, Edison Enedino das. Direito empresarial esquematizado. 4ª ed. São Pauto: Saraiva, 2017. Coleção Esquematizado, Coordenador Pedro Lenza. FERGUSON, Adam. Ensayo sobre la historia de la sociedad civil. Introd., trad. e notas de María Isabel Wences Simon. Madrid: Ediciones Akal S.A, 2010. FORGIONI, Paula A. Contratos empresariais: teoria geral e aplicação. 4ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código civil. 8. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. LOUREIRO, Antonio José da Silva. Código Mercantil da França, traduzido do francez, e offerecido ao Muito Alto e Muito Poderoso Senhor D. Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Imperio do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1825. Disponível em: <http://www2. senado.leg.br/bdsf/handle/id/242784>. Consulta em 02.11.2019. MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 13ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2019. MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 18ª ed. Rio de Janeiro Atlas 2018. RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único. 9ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Método, 2019. TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. São Paulo: Saraiva Jur, 2018. 3 v. eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 232eBook Completo para Impressao - Direito Empresarial - Aberto.indd 232 29/07/2020 18:34:0429/07/2020 18:34:04 Capa de eBook_Direito Empresarial_TELESAPIENS E-Book Completo_Direito Empresarial_TELESAPIENS