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1
ENSAIO
QUEM VEIO PRIMEIRO: O OVO OU A GALINHA
Janaina Barcelos
Dúnya Azevedo
Professoras do Curso de Jornalismo do UnilesteMG
RESUMO:
Este ensaio é uma reflexão crítica sobre as teorias da comunicação e a importância do campo
de comunicação enquanto ciência, por meio de um “passeio” pelas correntes teóricas que
discutiram o assunto.
Palavras-chave: teoria, comunicação, ciência
ABSTRACT:
This text is a critical reflection about communication theories and the importance of 
communication´s field as a science, through the theorical lines that have discussed this 
subject.
Keywords: theory, communication, science
INTRODUÇÃO:
O que surgiu primeiro, a teoria ou a prática? Geralmente, essa é uma das perguntas feitas
quando se discute esses conceitos. A resposta é: não interessa, porque teoria e prática são
indissociáveis, caminham lado a lado. Afinal, teoria é a reflexão sobre o agir, é o pensar sobre
a prática.
O homem teoriza o tempo todo, já que é um ser que dá sentido a tudo o que faz, logo, pensa.
Quando alguém vai pegar um ônibus, pensa no trajeto, no ponto onde vai descer, para onde
irá quando descer. Ou seja, ele está refletindo sobre sua ação de tomar o ônibus.
Todas as pessoas são capazes desse tipo de elaboração. A diferença é que algumas fazem isso
de forma mais sofisticada e profunda, fugindo do senso comum. A partir daí, pode-se começar
a falar em teoria científica - uma análise que parte de um estudo sistemático e de uma
2
metodologia definida. Esse procedimento vai ou não validar a teoria, através da objetividade
científica, isto é, da aproximação da verdade a partir da interpretação de fatos que expliquem,
de maneira sólida, o fenômeno estudado. 
Por isso, o pesquisador é um investigador que questiona sempre, estuda as teorias que já
existem até então, porém sem se distanciar do empírico, ou seja, da realidade, da experiência. 
Comunicação e ciência
A Comunicação ainda não se firmou como ciência. Faz pouco tempo que o fenômeno
comunicativo foi considerado objeto de estudos sistematizados. Para se ter uma idéia, a
primeira reflexão consistente, de peso, surgiu há cerca de 60 anos.
“A teoria da comunicação se debate ainda com a questão da sua identidade e legitimação, em
busca de construção de seu próprio olhar”(FRANÇA, 1994, p.139), como trata a professora
Vera França, do Departamento de Comunicação da UFMG e doutora em Ciências Sociais pela
Universidade de Paris V1.
Além de amplo, o objeto empírico da Teoria da Comunicação é definido, segundo a
professora Vera França2, como multiforme, porque se manifesta de várias formas;
multifacetado, pois possui práticas variadas; e dinâmico, ou seja, que não pára, que evolui o
tempo todo com a sociedade. 
Devido a tais características, o estudioso do fenômeno comunicativo se depara com uma série
de problemas, já que se torna difícil delimitar o objeto. Em primeiro lugar, ele encontra
formas distintas de conhecimento do objeto: aquela superficial, que tem como base o senso
comum, e a científica, que precisa ser aprofundada, sistemática e ter o suporte de métodos e
leis.
O pesquisador precisa ser cuidadoso o suficiente para buscar o conhecimento científico sem
abandonar o conhecimento superficial, pois a ciência não existe sem o senso comum. Além
disso, é dever do teórico levar o conhecimento científico de volta para o senso comum. Um
� FRANÇA, Vera Regina Veiga. Teoria (s) da comunicação: busca de identidade e de caminhos. R. 
Esc. Biblioteconomia UFMG, Belo Horizonte, v. 23, n. 2, p.138-152. Jul-Dez/94.
� Idem.
3
dos caminhos para isso seria, por exemplo, através da educação. 
O modelo de apreensão é outra dificuldade do pesquisador. É preciso ter um parâmetro que
irá nortear a pesquisa de campo. O problema é que ele irá encontrar situações que não se
encaixam no modelo, porque a realidade é caótica e o modelo, rígido. Apesar disso, esse
conflito pode ser positivo, pois obriga o cientista a rever seus conceitos e a investigar mais. E
a quebra de um paradigma pode apontar para um novo modelo, o que é fundamental para o
avanço da ciência.
No momento em que o cientista passa a conhecer seu objeto, este deixa de ser objeto para se
tornar uma reconstrução do sujeito, que carrega o modelo de apreensão, as ideologias e as
vivências desse sujeito, uma vez que o distanciamento científico total é impossível.
Dificuldades
Além das dificuldades para delimitar o objeto empírico, a Teoria da Comunicação enfrenta
outros problemas para se firmar como ciência. De acordo com a professora Vera França3, um
deles é que a comunicação é um corpo heterogêneo, que permite múltiplos olhares, por estar
inserido no meio social: a comunicação é “objeto complexo que apresenta recortes passíveis
de serem investigados pelas várias ciências” (1994, p.142). Assim, o pesquisador corre o risco
de se apoiar em outros olhares (da sociologia, da história, da política, da psicologia etc.) e sua
teoria se transformar em uma colcha de retalhos. Ele pode, sim, utilizar a
interdisciplinaridade, mas sem perder de vista o foco na comunicação.
Além disso, como a comunicação é dinâmica, os pesquisadores acabam se voltando para o
que está em voga no momento. É o modismo. Dessa forma, realizam-se estudos superficiais
sobre assuntos variados. E, para se firmar, uma ciência precisa de pesquisas aprofundadas e
consistentes. “Temáticas e vertentes explicativas se sucedem ao longo dos anos, sem alcançar
o necessário aprofundamento e maturação”, explica Vera França (1994, p. 142).
A diversidade do objeto - diferentes linguagens, meios, signos, códigos etc. - também
dificulta a construção de um paradigma único, que sirva para nortear o estudo do fenômeno
comunicativo. 
� Idem.
4
Outro fator que atrapalha o acúmulo de conhecimentos sobre comunicação é o pragmatismo.
Muitos cientistas deixam seus estudos acadêmicos para realizar pesquisas voltadas para o
mercado, que acrescentam muito pouco ou nada à construção da Teoria da Comunicação. 
O distanciamento é mais um ponto crítico. Ele é necessário para que o pesquisador não deixe
que suas tendências ideológicas prejudiquem os estudos e permitam a apreensão da
multiplicidade das questões abordadas. Para a professora da UFMG, “o conhecimento da
comunicação não está isento do revestimento ideológico e de condicionamentos de toda
ordem”(1994, p. 143). Ao mesmo tempo, distanciamento demais também não é bom, pois a
ciência precisa partir do senso comum e, depois, voltar-se para ele. Quando isso não ocorre,
formam-se os chamados “intelectuais de gabinete”. 
Antinomias
Como é difícil delimitar o objeto empírico da comunicação social, é claro que surgiram várias
tendências acerca do processo. São as chamadas visões antinômicas, o que significa visões
opostas do objeto.
Na ótica de alguns teóricos, a comunicação é um sistema isolado, um processo frio e
mecânico. Para estudá-lo, utiliza-se uma teoria matemática da comunicação, que considera a
precisão da transmissão das informações. O surgimento desse modelo foi fundamental porque
ele deu, pela primeira vez, “nome aos bois” (fonte, transmissor, canal, receptor e destinatário)
de forma sistematizada, científica, além de criar os conceitos de ruído e redundância, que
seriam muito importantes para estudos futuros.
Uma visão oposta define a comunicação como um processo subordinado à sociedade, que não
tem existência própria. O fenômeno comunicativo “não é apreendido em si mesmo, mas é
tratado enquanto um dos aspectos de relações sociais mais amplas”, conforme Vera França
(1994, p. 150).
Em relação à natureza da relação comunicativa, uma linha acha que ela é unilateral, começa
no emissor e termina no receptor, caracterizando o processo como mera transmissão de
5
informações. De outro lado,estão os que acreditam que a comunicação é bilateral, ou seja, só
existe quando há diálogo - o que é uma situação utópica no caso dos meios de comunicação
de massa.
Há olhares antinômicos também quando se trata da natureza do processo comunicativo e do
produto (a informação): alguns teóricos a classificam como quantitativa, considerando apenas
a quantidade de informação passada; outros acreditam que ela seja simbólica, cultural, sujeita
a interpretações e faça parte das relações sociais. Trata-se de uma visão que parte do
pressuposto de que a informação não é estática e que carrega construções simbólicas tanto do
emissor quanto do receptor.
O problema é que todas estas teorias ou tratam o fenômeno comunicativo de forma muito
ampla ou então de maneira tão interna que não considera a sua inserção na sociedade. Um dos
caminhos para a unificação pragmática poderia ser “o intercâmbio e o confronto das distintas
perspectivas” para a construção de uma “leitura específica que possa apreender a globalidade”
da comunicação.
Tecnologias
A comunicação se tornou matéria de reflexão com o impacto provocado pelo surgimento de
novas tecnologias, pois o fenômeno comunicativo passou a ser visto como um “intercâmbio
tecnologicamente mediado de mensagens na sociedade”, de acordo com Francisco Rudiger,
no texto “Fundamentos da problemática teórica da comunicação”4.
O aparecimento das novas mídias no século XX causou uma série de fenômenos novos, o que
despertou o interesse de diversas áreas do conhecimento em fazer reflexões teóricas e
pesquisas empíricas sobre a comunicação.
O autor cita a teoria de Gabriel Tarde (1843-1904)5, que foi o primeiro a tratar a comunicação,
chamando-a de “conversação”. Para ele, sem a conversação, os meios de comunicação de
massa não influenciariam profundamente o modo de ser das pessoas, pois todo mundo
comenta o que aparece na mídia. O processo “transformou, enriqueceu e nivelou a conversa
� RUDGER, Francisco. Introdução à teoria da comunicação. São Paulo: Edicon, 1998.
6
das pessoas, unificando-a no espaço e acelerando-a no tempo” (1998, p.16-17). Ele deixa
claro, no entanto, que meios de comunicação de massa são uma coisa e o processo
comunicativo, outra. A comunicação, para Rudiger6, é interação humana, troca de mensagens
entre pessoas, sejam quais forem os meios usados; enquanto os meios de comunicação de
massa são apenas a mediação tecnológica.
Segundo o autor, para estudar meios e técnicas de comunicação, é preciso saber qual a
estrutura, o sentido e a função da comunicação na sociedade. Ele defende, no entanto, que “a
comunicação não é uma ciência, mas um campo de estudo multidisciplinar, cujos métodos de
análise não têm qualquer especificidade, foram desenvolvidos pelos diversos ramos do
conhecimento filosófico, histórico e sociológico”7.
Modelo matemático
Rudiger ressalta que o paradigma dominante por várias décadas foi o modelo matemático da
informação, de Shannon e Weaver. Por ser puramente formal, essa teoria foi empregada em
vários ramos de conhecimento. O maior problema desse modelo é que ele não considera o
contexto e o conteúdo da informação. Para os autores, o importante é a precisão na
transmissão das informações do emissor para o receptor.
A teoria matemática confunde o fenômeno comunicativo com o processo de captação, envio e
recepção de mensagens, reduzindo o objeto de estudo a apenas uma de suas facetas. Ele
também propõe uma análise “seqüencial e fragmentada da comunicação”, além de se basear
unicamente em esquemas formais, que não consideram o contexto histórico e sociocultural da
comunicação.
Na verdade, a comunicação precisa ser compreendida como um “princípio de sociabilidade
dotado de fundamentos históricos e culturais determinados”, que só pode ser explicado de
maneira correta no “contexto de uma teoria da sociedade”8. 
Indústria cultural
� Idem (1998, p. 17)
� Idem (1998, p. 18)
� Idem (1998, p.34)
7
É impossível estudar Teoria da Comunicação sem abordar a questão da indústria cultural ou
cultura de massa, tratada por Theodor Adorno9. O estudo, fortemente influenciado pelo
marxismo, defende a idéia de que a indústria cultural faz produtos adaptados ao consumo das
massas, ao mesmo tempo que determina esse consumo. O consumidor, para Adorno, é objeto
da indústria, que especula sobre o estado de consciência e inconsciência das pessoas e as
dirige. Nesse contexto, a arte e a cultura produzidas no estilo da indústria cultural
transformam-se em mercadorias, são produzidas em série e tornam-se banalizadas, sempre
visando ao lucro. 
Adorno10 critica a ideologia da indústria cultural que quer fornecer aos homens, num mundo
caótico, critérios para sua orientação. Para ele, isso não tem valor porque essa ordem precisa
se fundamentar em si mesma e no confronto com os homens, que é exatamente o que a
indústria cultural rejeita.
O objetivo último da indústria cultural, segundo Adorno11, é a dependência e a servidão dos
homens. Ela tolhe a consciência das massas e, segundo ele, impede a formação de indivíduos
autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. 
Apesar de baseada em uma forte argumentação, a teoria de Adorno peca, por exemplo, por
considerar o consumidor um mero objeto, sem vontade própria, dominado pela indústria
cultural. Na verdade, as pessoas têm, sim, o poder de decidir se querem ou não determinado
produto. Quando vêem TV, por exemplo, elas podem mudar de canal ou desligar o aparelho.
Isso já é uma escolha individual. Ao acreditar que a mídia manipula a massa, Adorno
desconsidera a interação, que é um dos principais requisitos para comunicação existir.
Cultural studies
Outra corrente que marca os estudos da comunicação é o chamado cultural studies, que surgiu
nos anos 60 e 70, com base nos estudos de Frank Raymond Leavis, realizados nos anos 30,
para ajudar alunos na defesa contra a cultura comercial.
� ADORNO, Theodor W. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel. Comunicação e indústria
cultural. São Paulo: Editora Nacional, 1971.
� Idem.
� Idem.
8
Essa teoria se opõe à escola funcionalista, pois passa a associar cultura e sociedade, e está em
sintonia com filósofos da escola de Frankfurt, a partir do momento que se propõe a estudar a
relação entre a cultura e as outras práticas sociais. Essa corrente também recebe influências do
interacionismo social da escola de Chicago, que considera os valores e as experiências
vividas.
O cultural studies, segundo Armand e Michele Mattelart12, é mais um marco no estudo da
comunicação ao refutar a teoria funcionalista americana e pensar, de forma, crítica, os meios
de comunicação de massa. É uma corrente importante também por, nos anos 80, preocupar-se
com o reconhecimento do papel ativo do receptor na construção do sentido das mensagens.
Hermenêutica
A tradição da hermenêutica é a base de outra tentativa de desenvolver uma metodologia para
estudar a comunicação, tratada por. J. B. Thompson, em “Ideologia e Cultura Moderna”13.
Esse estudo segue a linha de que as formas simbólicas precisam ser compreendidas e
interpretadas. Elas não podem ser tratadas como objetos naturais - analisados apenas de
maneira formal, estatística e objetiva - , pois este é um enfoque parcial, que precisa ser
complementado por processos de compreensão e interpretação.
Para Thompson14, o objeto de pesquisa - o fenômeno comunicativo - é pré-interpretado, uma
vez que o “mundo sócio-histórico” é constituído por sujeitos que, no seu dia-a-dia, buscam
compreender a si e aos outros e interpretar o que está a seu redor. São sujeitos “capazes de
compreensão, reflexão e ação”. Além disso, os sujeitos encontram-se inseridos em tradições
históricas, sendo parte delas e não meros espectadores.
Referencial metodológicoAo mesmo tempo que se considera a interpretação das formas simbólicas construídas por
sujeitos num contexto sócio-histórico, é possível buscar nas propostas da hermenêutica um
� MATTELART, Arman e Michele. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola, 2002.
� THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social e crítica na era dos meios de 
comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995.
� Idem.
9
referencial metodológico. A chave para isso, segundo Thompson, é o que Paul Ricoeur15
chama de hermenêutica de profundidade. Isso significa que o processo de interpretação pode
ser mediado por métodos. A partir dessa base e de algumas críticas a ela, Thompson
fundamenta sua metodologia no estudo da construção significativa e da contextualização
social das formas simbólicas. 
É preciso considerar como as formas simbólicas são interpretadas pelos sujeitos, isto é, partir
da hermenêutica (interpretação, entendimento) da vida cotidiana. Logo, a análise não pode ser
feita fora do contexto em que as formas simbólicas são produzidas e recebidas, nem fora do
sentido que as pessoas dão a elas. 
Hermenêutica de profundidade
Thompson aborda três enfoques da hermenêutica de profundidade, que vão além da
interpretação do cotidiano16:
. a análise sócio-histórica, com o objetivo de “reconstruir as condições sociais e históricas de
produção, circulação e recepção das formas simbólicas”, a partir do estudo das situações
espaço-temporais, dos campos de interação, das instituições sociais, da estrutura social e dos
meios técnicos de construção e transmissão de mensagens;
. a análise formal discursiva, que observa as estruturas articuladas das construções simbólicas.
Elas precisam ser discutidas junto com o contexto e a interpretação, a partir da observação
semiótica (estudo da constituição interna das formas simbólicas, de seus elementos e de suas
inter-relações), da análise sintática, argumentativa e da conversação;
. a interpretação/reinterpretação, que trata da construção criativa do significado, da explicação
interpretativa do que está representado ou dito, da compreensão do aspecto referencial das
formas simbólicas.
Ideologia
A interpretação da ideologia é uma forma específica de hermenêutica de profundidade,
segundo o autor. Ela procura realçar como o significado é utilizado para estabelecer e
� Ver Paulo Ricoeur, Hermeneutics and the Human Sciences: Essays on Language, Action and 
interpretation, ed. E trad. De John B. Thompson (Cambridge, Cambridge University Press, 1981)
� THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social e crítica na era dos meios de 
comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995.
10
sustentar relações de dominação. 
A análise sócio-histórica deverá se preocupar com as relações de dominação; a análise formal
ou discursiva vai identificar as características estruturais das formas simbólicas, que facilitam
a mobilização do significado; e a reinterpretação busca explicitar a conexão entre o sentido
mobilizado pelas formas simbólicas e as relações de dominação que esse sentido ajuda a
estabelecer e sustentar.
Comunicação de massa
Thompson17 trata, ainda, de como a comunicação de massa institui “uma ruptura fundamental
entre a produção e a recepção das formas simbólicas”. Ele destaca que o receptor, geralmente,
não está presente no local de produção e transmissão das informações, o que limita sua
capacidade de intervir no processo comunicativo.
A partir dessa constatação, o autor divide sua análise em três aspectos, descritos como
“enfoque tríplice”. Primeiro, ele avalia o processo de produção das formas simbólicas e as
formas de transmissão, situados em um contexto social e histórico. Em seguida, está a
construção da mensagem dos meios de comunicação - construções simbólicas complexas,
estruturadas em modos diversos. Ele também considera a recepção e a apropriação das
mensagens por pessoas que fazem parte de uma sociedade e que têm seu próprio modo de
apreender as informações e incorporá-las - ou não - ao seu dia-a-dia. Mas esses três aspectos
não podem ser estudados separadamente; devem ser confrontados e relacionados entre si.
Também neste caso se aplicam os enfoques da hermenêutica de profundidade.
Paradigma clássico
De todas as teorias apresentadas, a usada com mais freqüência é uma concepção bem
simples, que se torna legitimada justamente por sua clareza e simplicidade, aplicável em
várias situações. Trata-se do modelo que considera a comunicação como transmissão da
mensagem de um emissor até o receptor. A origem desse modelo está na teoria matemática da
informação, já citada anteriormente neste ensaio. Ele é conhecido como “paradigma da
informação”.
� Idem.
11
Há várias críticas à teoria matemática. Para a professora Vera França18, esse modelo é
problemático porque trata o processo de maneira unilateral, separa as funções de emissão e de
recepção e desconsidera as várias circunstâncias envolvidas no processo, como tempo, lugar e
subjetividade.
Outro modelo que limita o estudo da comunicação é aquele desenvolvido por Lasswell, que
direciona a análise para a resposta às seguintes questões: quem - diz o quê - a quem - através
de qual canal - com que efeito. Apesar de considerar os efeitos, o modelo de Lasswell não
difere muito da teoria matemática, porque também se baseia na existência de um processo
unilateral e separa as funções, fragmentando o fenômeno comunicativo.
Juntos, esse modelos contribuíram para a formação do paradigma clássico, que originou
vários estudos desenvolvidos nos Estados Unidos e na Europa. Apesar disso, o paradigma
clássico contradiz a idéia de que o objeto da comunicação é complexo, amplo e dinâmico,
além de não abordar seus aspectos sociais, históricos e culturais e excluir a reciprocidade.
Vida em sociedade
Abandonando o caráter restritivo do paradigma clássico, a professora Vera França19 propõe
uma análise da comunicação que parta da vida social. Viver em sociedade significa interagir
com o outro, produzir e interpretar sentidos. E é a comunicação o sistema que permite essa
troca. Baseada nesses conceitos, ela chega a uma “nova configuração da comunicação:
relações particulares que se estabelecem através de uma materialidade simbólica (a palavra, as
mensagens), construída, por sua vez, no seio dessas relações, como sua condição e
expressão”(1998, p.44) . 
Dessa forma, a comunicação não é apenas uma relação entre emissor e receptor, mas uma
rede complexa de relações estabelecida pelos interlocutores entre si, com a mensagem e com
o contexto. 
Para aplicar essa concepção no estudo dos fenômenos da comunicação de massa, é necessário
considerar o número de interlocutores envolvidos no processo, tanto dos grupos produtores,
quanto o público receptor, além das suas funções e dos seus espaços, que são mais bem
� FRANÇA, Vera. Jornalismo e vida social. Belo Horizonte, Editora UFMG, 1998.
� Idem.
12
definidos, porém não excluem formas de participação diferenciadas.
Ainda bebê
Para se tornar uma ciência, os estudos da comunicação precisam avançar muito. A Teoria da
Comunicação é um bebê que ainda está engatinhando e querendo dar os primeiros passos.
Todas as tentativas de se criar um modelo de análise do fenômeno comunicativo são válidas,
pois, apesar de algumas idéias estarem ultrapassadas, é a partir delas que se originam novos
conceitos e é a partir desse movimento que os estudos se aprofundam e apontam novas
perspectivas. 
Além disso, trata-se de um fenômeno extremamente dinâmico e por mais que se construam
teorias a seu respeito, elas não conseguem acompanhar suas mutações. O que não pode
acontecer é os pesquisadores se voltarem para as novidades apenas. É preciso considerar a
globalidade do processo e as interações entre os envolvidos,dentro de determinado contexto.
13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FRANÇA, Vera Regina Veiga. Teoria (s) da comunicação: busca de identidade e de caminhos.
R. Esc. Biblioteconomia UFMG, Belo Horizonte, v. 23, n. 2, p.138-152. Jul-Dez/94.
RUDGER, Francisco. Introdução à teoria da comunicação. São Paulo: Edicon, 1998.
ADORNO, Theodor W. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel. Comunicação e indústria
cultural. São Paulo: Editora Nacional, 1971.
MATTELART, Armand e Michele. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola,
2002.
THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social e crítica na era dos meios de
comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995.
FRANÇA, Vera. Jornalismo e vida social. Belo Horizonte, Editora UFMG, 1998.

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