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ROUBO DO PATRIMÔNIO, ROUBO DA MEMÓRIA Josimar Guedes de Negreiros Acadêmico do curso de Licenciatura em História PALAVRA-CHAVE: escavações; mercado negro; ilegal. INTRODUÇÃO Dentre todos os trabalhos de pesquisa onde se busca realmente entender/explicar a origem ou evolução cultural de uma determinada sociedade, pode-se dar ênfase à arqueologia, pois esta, muito além de escavar buracos e recuperar objetos antigos, busca elucidar através dos ecofatos e biofatos, a apropriação da natureza pelo homem. Essa apropriação da natureza é expressa através da criação de ferramentas de corte/caça e também pela demarcação de espaços por um determinado grupo de seres humanos deixando evidente uma associação dos vestígios do meio ambiente e restos de animais aos seres humanos. Assim o trabalho da arqueologia se torna fundamental para a compreensão dessas culturas sem escritas, ágrafas, conhecidas como pré-históricas. Mas a tarefa de elucidar ou mesmo de entender o modo de vida das sociedades antigas está ficando cada vez mais difícil, pois além dos inimigos naturais como o tempo e o abandono, surge outro potencialmente mais ofensivo: o crescente mercado negro das peças arqueológicas. É imprescindível citar que essa ação criminosa causa grande dano a memória cultural brasileira. DESENVOLVIMENTO No Amapá, descobertas arqueológicas recentes têm chamado a atenção de especialistas do mundo, pois foram encontradas urnas funerárias que só eram conhecidas pelos pesquisadores por meio de peças expostas em museus na Europa. Trata-se de quatro urnas funerárias, dentre elas uma com formas humanas, além de esqueletos de adultos e de uma criança, encontradas na localidade do Curiaú Mirim, datando de aproximadamente 1.000 anos A.P. É interessante citar que desde o início do século XX escavações arqueológicas acontecem na região, mas de maneira clandestina e que, infelizmente, os achados geralmente são vendidos no mercado negro, para museus europeus ou particulares, mesmo. O mercado negro pode-se dizer que é o mais danoso à memória dessas culturas, pois além de descontextualizar os achados, sejam urnas funerárias, instrumentos de pedra ou quaisquer outros, impossibilita o andamento dos trabalhos dos arqueólogos, já que geralmente, não se tem um conhecimento preciso sobre essas culturas, e que se trabalha a partir do material encontrado e contextualizado em um determinado espaço, em um tempo e em um mundo não apenas material, mas espiritual, também. Como agem os criminosos ainda é um mistério. Se as escavações acontecem na calada da noite ou à luz do dia. Se os achados são embrulhados com cuidado ou apenas jogados em mochilas ou mesmo em sacos plásticos, não se tem certeza. A única certeza que se tem é que o tamanho do prejuízo à memória cultural do Brasil é imensurável. Após adquirir as peças por preços baixíssimos, os criminosos agregam valores e as negociam em leilões no mercado negro no Brasil e no exterior a preços elevadíssimos para museus particulares ou não. E assim continua acontecendo ininterruptamente, pois ainda hoje é possível encontrar em sites de compra e venda como o brasileiro mercado livre e o americano ebay, artefatos que saíram do solo Brasileiro, vendidos a preços que não pagam a violência à memória nacional. Figura 1: anúncio de venda em um site de compra/venda. Disponível em < http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-506097218-pecacaco-arqueologico-goiania-go-_JM >. Acesso em 15/09/2013 A Constituição diz que a venda ilegal de peças arqueológicas é crime e proibida. O primeiro artigo da lei nº 3.924, de julho de 1961, garante que monumentos arqueológicos ou pré-históricos no território nacional devem ficam sob a guarda e a proteção do Poder Público. A Carta de Lausanne (1990), em seu art. 3° afirma que A proteção do patrimônio arqueológico constitui obrigação moral de todo ser humano. Constitui também responsabilidade pública coletiva. Essa responsabilidade deve traduzir-se na adoção de uma legislação adequada e na garantia de recursos suficientes para financiar, de forma eficaz, os programas de preservação do patrimônio arqueológico. Então a grande responsabilidade, realmente, é de caráter público, ou seja, todos os cidadãos são responsáveis diretos pela preservação e manutenção de todo patrimônio arqueológico. Logo: escavar, estudar ou mesmo portar artefatos arqueológicos só é permitido a arqueólogos autorizados, por meio de autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão do Ministério da Cultura. Mas a garantia de que todo patrimônio arqueológico seja preservado, mantido e respeitado depende diretamente de uma fiscalização efetiva, pois se tratando de materiais geralmente de pequeno porte, os artefatos passam despercebidos pelas pessoas sem que sequer notem a atividade ilegal. CONSIDERAÇÕES FINAIS Sendo assim é importante que se tenha em mente que só se pode valorizar algo que se conhece, por isso a necessidade de socialização do conhecimento arqueológico do Amapá. Nesse sentido entra as ações de educação patrimonial, essenciais para apresentar a população um patrimônio que é seu, mas cujo valor como bem histórico ela desconhece e, por isso, não dá o devido valor. É importante entender que a noção de preservação e conservação seja de fato estabelecida, para que se possa desenvolver políticas de manuseio e divulgação desse patrimônio tão rico, e que aos poucos vem sendo estudado e divulgado de maneira cuidadosa. Tendo as comunidades da área a devida atenção, no que se refere a vestígios de um passado não aparentemente distante, mas que foge de todos cada vez mais que tentamos resgatá-lo. BIBLIOGRAFIA PEDRO, Juliana Monteiro. Patrimônio arqueológico: a proteção jurídico-administrativa do sitio arqueológico do pacoval à luz do princípio democrático. Macapá. UNIFAP, 2009. RODRIGUES, Eduardo. Mercado negro de peças arqueológicas ainda persiste na Amazônia. Disponível em <http://www.ecodebate.com.br/2013/06/12/mercado-negro-de-pecas-arqueologicas-ainda-persiste-na-amazonia/>. Acesso em 15/09/2013. BARRA, Mário. Escavação no Amapá revela estilo de uma urna conservado apenas no exterior. Disponível em < http://gabinetedehistoria.blogspot.com.br/2011/06/descoberta-arqueologica-no-amapa.html>. Acesso em 15/09/2013. CARTA DE LAUSANNE. 1990.
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