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3 Sinapses

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1 
 
Capítulo 3 – Sinapses 
Correntes que geram vida 
 
 
Augusto Valadão Junqueira 
 
Introdução 
 
 Antes de mais nada, entenda o seguinte: uma "sinapse" é um local, uma 
região, um espaço físico. É o ponto de contato entre dois neurônios. 
Dependendo de onde for esse ponto em cada neurônio, poderemos ter 
diferentes tipos de sinapse: axodendrítica (ou seja, entre o axônio de um 
neurônio e o dendrito de outro – o tipo mais comum), axossomática (entre um 
axônio e um corpo neuronal, também chamado de soma) e ainda outros tipos 
menos comuns, como axoaxônicas, dendrodendríticas e somatossomáticas. 
 Existem basicamente dois tipos de sinapse: as sinapses elétricas e as 
sinapses químicas. As químicas são as únicas que permitem modulação de 
informações, sendo as predominantes no ser humano. Quase tudo que 
estudaremos sobre sinapses será referente às sinapses químicas, bem mais 
sofisticadas e complexas. As sinapses elétricas servem como um mecanismo de 
sincronização celular, como veremos a seguir. 
 
 
Sinapses elétricas 
 
 O termo-chave das sinapses elétricas é junção comunicante. As 
sinapses elétricas são representadas por junções comunicantes (GAP junctions) 
que tornam as células nervosas acopladas entre si, permitindo assim uma 
comunicação rápida e eficaz entre elas. A junção comunicante liga o citoplasma 
de cada célula, permitindo alto nível de interação intercelular. 
 Forma-se, em geral, uma cadeia de células nervosas unidas pelas 
junções comunicantes, e portanto um potencial de ação gerado em uma delas 
irá se propagar imediatamente para as células vizinhas, indiferente a qualquer 
sentido de passagem da informação. Existem junções comunicantes 
unidirecionais (chamadas junções retificadoras), mas o mais comum são 
aquelas em que um sinal gerado se difunde em todas as direções. 
 Nas células acopladas pelas sinapses elétricas não há processamento de 
informações, e portanto os potenciais gerados inicialmente se mantêm 
inalterados até o fim da cadeia. Há uma clara desvantagem nisso, já que dessa 
forma não há como modular sinais recebidos, condição sine qua non para todas 
Capítulo 3 – Sinapses 
 
2 
 
as avançadas funções neurais vistas no ser humano. Mas há também uma 
vantagem: a rapidez de transmissão permite a sincronização de numerosas 
populações de células acopladas, algo de grande importância, por exemplo, 
para a visão. 
 
 
Sinapses químicas 
 
 Nas sinapses químicas há um espaço entre um neurônio e outro, a fenda 
sináptica. Isso gera dois "lados" na sinapse: uma membrana pré-sináptica, do 
neurônio por onde vem o impulso, e uma membrana pós-sináptica, do neurônio 
para onde o impulso seguirá. Não bastasse isso para diferenciá-las das sinapses 
elétricas, há ainda diversas especializações específicas nas membranas pré- e 
pós-sinápticas de cada sinapse química. As propriedades específicas das 
sinapses químicas permitem que elas sejam processadoras de sinais, 
enquanto as elétricas são apenas sincronizadores celulares. 
 Enquanto na sinapse elétrica o agente transmissor é uma corrente 
iônica, na sinapse química a função de transmitir a mensagem entre um e outro 
neurônio será feita por um transmissor químico, o chamado neurotransmissor. 
As especializações das membranas sinápticas servirão para possibilitar a 
produção, liberação, captação e remoção desses neurotransmissores. 
 No terminal pré-sináptico (onde se encontra a membrana pré-sináptica) 
há vesículas sinápticas, zonas ativas e grânulos de secreção. As vesículas 
sinápticas são estruturas de armazenamento para os neurotransmissores, que 
são pequenas moléculas produzidas no próprio terminal sináptico. As zonas 
ativas possuem duas funções principais: liberam cálcio no interior do terminal 
(como será visto adiante) e servem como ancoradouros para as vesículas 
sinápticas, durante o processo de transmissão sináptica que será descrito no 
próximo parágrafo. Nos grânulos de secreção ficam armazenados os 
neuromoduladores, que são produzidos no soma neuronal e então 
transportados ao terminal sináptico. As diferenças entre neurotransmissores e 
neuromoduladores serão discutidas mais adiante. 
 A transmissão sináptica na sinapse química é um processo dígito-
análogo-digital, isto é, começa de forma digital (impulso elétrico que vem pelo 
neurônio pré-sináptico), torna-se analógico (neurotransmissores transmitindo a 
mensagem na fenda sináptica) e volta a ser digital (um novo impulso elétrico é 
gerado pelo potencial de ação criado na membrana pós-sináptica). Analisemos 
esse fenômeno passo a passo. A corrente iônica (ou potencial de ação – PA) 
que chega na membrana pré-sináptica faz com que canais de 𝐶𝑎2+ voltagem-
dependentes localizados nas zonas ativas sejam abertos, causando influxo de 
cálcio para o interior do terminal pré-sináptico. O aumento na concentração do 
Capítulo 3 – Sinapses 
 
3 
 
𝐶𝑎2+ intracelular faz com que as vesículas sinápticas se fundam com a 
membrana pré-sináptica, ancorando-se nas zonas ativas (por onde o cálcio 
entrou) para liberar seu neurotransmissor na fenda sináptica. Essa liberação 
pode ser feita de duas maneiras: a) por formação de um poro transitório 
quando a vesícula se une à membrana axoplasmática (membrana plasmática do 
terminal do neurônio); b) por exocitose completa da vesícula, que se fragmenta 
na fenda sináptica, com posterior endocitose que a faz voltar para o neurônio 
pré-sináptico. 
 Uma vez liberados na fenda sináptica, os neurotransmissores se ligam a 
receptores moleculares presentes na membrana pós-sináptica. Os 
receptores (que podem ser ionotrópicos ou metabotrópicos) irão então iniciar 
diferentes processos que afetarão a membrana do neurônio pós-sináptico, 
gerando um novo potencial de ação que enviará a mensagem adiante, 
novamente na forma elétrica. As sinapses químicas, seguindo todo esse 
processo descrito, são estritamente unidirecionais. 
 O neurotransmissor presente na fenda sináptica precisa também ser 
removido, ou passará a exercer uma ação tóxica. A remoção é feita por um 
dentre três processos, dependendo do neurotransmissor em questão: a) difusão 
lateral, em que o neurotransmissor naturalmente "escorrega" para os lados, até 
que saia da fenda; b) recaptação, em que o neurotransmissor volta ao neurônio 
pré-sináptico por ação de proteínas transportadoras específicas (principal meio 
de término das ações das catecolaminas); c) degradação, um processo 
enzimático que quebra o neurotransmissor em seus substratos (principal meio 
usado para terminar as ações da acetilcolina, que é degradada pela enzima 
acetilcolinesterase). 
 Como se pode ver, na sinapse química ocorre um processo bem mais 
sofisticado que na sinapse elétrica. Isso permite que ela module as informações 
que passam por ela. É de fundamental importância que um fato nunca seja 
esquecido: a variação de efeitos que as sinapses químicas podem ter não 
depende tanto da variedade de neurotransmissores quanto depende da 
diferença entre os receptores. Ou seja, o que define a ação de uma sinapse não 
é o neurotransmissor liberado nela, mas sim o receptor que se encontra na 
membrana pós-sináptica. A acetilcolina, por exemplo, exerce função excitatória 
na placa motora (onde há receptores nicotínicos musculares), mas é inibitória 
quando liberada pelo sistema parassimpático no coração (onde prevalecem os 
receptores muscarínicos 𝑀2). Outro fator que também interfere no efeito de 
uma transmissão sináptica é a presença de neuromoduladores, que serão 
estudados ainda neste capítulo. Tendo em vista a importância dos receptores 
moleculares, veremos em mais detalhes os dois tipos existentes.Capítulo 3 – Sinapses 
 
4 
 
Receptores ionotrópicos x metabotrópicos 
 
 O receptor molecular de uma transmissão sináptica serve não só para 
receber um neurotransmissor e gerar um novo potencial de ação no neurônio 
pós-sináptico (ação imediata), como também para modular a excitabilidade da 
própria sinapse, preparando-a para as próximas transmissões (ação 
antecipatória). Uma sinapse, assim, pode ser excitatória (em que há um 
potencial pós-sináptico despolarizante, aproximando do limiar o potencial de 
repouso da zona de disparo do neurônio) ou inibitória (em que há um 
potencial pós-sináptico hiperpolarizante, que afasta do limiar de disparo o 
potencial de repouso da membrana pós-sináptica). A forma como isso é feito, 
entretanto, difere os receptores em duas classes: os ionotrópicos e os 
metabotrópicos. 
 Os receptores ionotrópicos são representados pelos receptores de 
canais iônicos. Eles têm uma ação mais rápida, pois são eles próprios os 
canais por onde a troca de íons (como o influxo de 𝑁𝑎+ e a saída de 𝐾+) se 
realizará no neurônio pós-sináptico. A ligação do neurotransmissor em um 
receptor ionotrópico causa neste uma mudança de conformação tridimensional 
(alosteria), abrindo assim o canal (isto é, o próprio receptor) e permitindo a 
passagem iônica através da membrana. Se o receptor fizer com que predomine 
o influxo de 𝑁𝑎+ para dentro da célula nervosa (o neurônio pós-sináptico), 
provocará a despolarização da membrana pós-sináptica e/ou irá gerar um 
potencial pós-sináptico excitatório (PPSE, já citado como despolarizante). 
Se, ao contrário, o receptor facilitar a entrada de 𝐶𝑙− ou a saída de 𝐾+, causará 
um estado de hiperpolarização: é o potencial pós-sináptico inibitório (PPSI, 
referido acima como hiperpolarizante). A transmissão sináptica rápida desses 
receptores é vista na maioria das ações motoras e dos processamentos 
perceptivos no sistema nervoso. 
 Os receptores metabotrópicos são representados por três classes 
principais (receptores acoplados à proteína G, receptores ligados a 
quinase e receptores nucleares), que comandam os canais iônicos 
indiretamente. Neste caso, a função de receber e a função de executar são 
feitas por estruturas diferentes. O receptor irá apenas reconhecer o 
neurotransmissor e ativar uma molécula acoplada ao interior da membrana 
(como por exemplo a proteína G), que será então responsável pelas alterações 
pós-sinápticas que culminarão com a formação de um potencial de ação. A 
molécula intermediária do receptor metabotrópico pode fazer isso de duas 
maneiras: alterando diretamente a atividade de canais iônicos (utilizando-se 
para isso de proteínas efetoras que completam o efeito da transmissão 
sináptica, como acontece no caso dos receptores acoplados a uma proteína G 
efetora) ou ativando uma cascata de segundos mensageiros que acabarão por 
Capítulo 3 – Sinapses 
 
5 
 
fazer o mesmo (como acontece com os receptores acoplados a uma proteína G 
transdutora). A ação dos receptores metabotrópicos é mais lenta, relacionando-
se a estados emocionais, humor, vigília e algumas formas simples de 
aprendizagem e memória. 
 
 
Neurotransmissores x neuromoduladores 
 
 Revendo tudo o que já foi dito, podemos ter uma boa noção da diferença 
entre neurotransmissores e neuromoduladores: os neurotransmissores agem de 
forma imediata, passando adiante uma mensagem no momento em que são 
liberados na fenda sináptica. Eles podem criar potenciais excitatórios e 
inibitórios na sinapse, sim, mas neste caso mais por efeito dos receptores 
moleculares que do neurotransmissor; os neuromoduladores, por outro lado, 
como o nome sugere, focam-se na modulação do estado de excitabilidade 
sináptica, facilitando ou dificultando a ação dos neurotransmissores que serão 
eventualmente liberados. 
 Os neurotransmissores, em sua maioria, são pequenas moléculas 
transmissoras sintetizadas no citoplasma do terminal sináptico e então 
capturadas e concentradas em vesículas (as vesículas sinápticas), onde ficam 
protegidas das enzimas de degradação presentes no citosol da célula nervosa. 
Exemplos consagrados são a acetilcolina (usada nas sinapses 
neuromusculares, nas sinapses pré-ganglionares do sistema nervoso vegetativo 
e nas pós-ganglionares da divisão parassimpática, além de diversas sinapses 
em todo o encéfalo, sendo produzida no núcleo basal de Meynert e liberada 
então para todo o córtex cerebral), as aminas biogênicas (representadas pelas 
catecolaminas – dopamina, noradrenalina e adrenalina –, a serotonina e 
a histamina), os aminoácidos transmissores (glutamato, GABA e glicina) e 
as purinas (o ATP – famoso por sua função de gerar energia ao ser quebrado 
nas mitocôndrias das células, o que, como estamos vendo agora, não é sua 
única função – e um de seus substratos, a adenosina). Em negrito neste 
parágrafo estão alguns dos neurotransmissores mais conhecidos e estudados. 
 Os neuromoduladores não servem para criar um potencial de ação 
imediato. Eles apenas alteram o estado da sinapse: modulam a liberação de 
transmissores, a sensibilidade dos receptores ou a excitabilidade elétrica da 
célula pós-sináptica. Não são "pequenas moléculas", como dito para os 
neurotransmissores, mas sim neuropeptídeos (grandes moléculas que só 
podem ser produzidas no corpo neuronal, sendo então levadas ao terminal 
sináptico, onde ficarão nos grânulos de secreção) ou gases (como o NO, 
produzidos apenas no momento de sua liberação, por não ser possível retê-los 
em nenhuma estrutura). Os neuromoduladores se ligam a receptores 
Capítulo 3 – Sinapses 
 
6 
 
metabotrópicos e, através da molécula intermediária (proteína G ou uma 
tirosina quinase, por exemplo), acabam por ativar segundos mensageiros 
(como o AMPc) que afetarão a célula nervosa pós-sináptica após uma cascata 
de reações. 
 
 
Placa motora: acetilcolina 
 
 A sinapse neuromuscular é um dos locais mais bem elucidados acerca 
da transmissão sináptica. Como é um contato nervo-músculo, trata-se de uma 
sinapse do SNP. Sendo assim, há uma importante peculiaridade a ser notada: a 
sinapse não será entre dois neurônios, como descrito até aqui, mas sim entre 
um neurônio e uma fibra muscular. A região da fibra muscular especializada 
para sediar uma sinapse é análoga à "membrana pós-sináptica", por ser 
também o lado final da sinapse. Essa região é chamada de placa motora. É 
simples de ser estudada e entendida, pois nela há basicamente um 
neurotransmissor (a acetilcolina) e um tipo de receptor (o receptor 
nicotínico muscular, que é um exemplo de receptor ionotrópico), ao 
contrário das sinapses no SNC (que envolvem diversos neurotransmissores e 
diferentes receptores simultaneamente). 
 Um neurotransmissor, um receptor, um efeito. É assim que funciona a 
junção neuromuscular: ativação direta. O clássico liga/desliga, como se fosse 
uma espécie de interruptor. A fibra muscular está ou contraída ou relaxada; é 
verdade que um músculo pode possuir diferentes graus de contração, mas isso 
acontece porque em um músculo existem diversas fibras: a quantidade de 
fibras contraídas é o que define o estado de contração do músculo como um 
todo. Vista como unidade isolada, a fibra muscular permanece toda contraída 
ou toda relaxada. 
 Quando um potencial de ação (PA) chega ao terminal nervoso de um 
neurônio motor pré-sináptico, causa a liberação de acetilcolina (ACh) na fenda 
sináptica pelos processos já explicados. Atingindo então a placa motora do 
outro lado da fenda sináptica, a ACh é captada pelos receptores nicotínicos 
(ionotrópicos) e faz com que eles se abram, liberando o fluxo de íons através 
da fibra muscular pós-sináptica. O influxoresultante de íons 𝑁𝑎+ produz o 
potencial sináptico despolarizante chamado potencial da placa motora, que é o 
que gera a corrente elétrica para causar a contração do músculo. Terminada a 
transmissão, a ACh é rapidamente degradada pela enzima acetilcolinesterase 
liberada na fenda sináptica. A placa motora volta ao seu potencial de 
membrana (potencial de repouso) e a contração termina. 
 Importante notar que os receptores nicotínicos da placa motora são 
canais dependentes de ligantes, e por isso bem diferentes dos canais 
Capítulo 3 – Sinapses 
 
7 
 
voltagem-dependentes, porque: a) os canais voltagem-dependentes 
costumam ser seletivos para um tipo específico de íon (passagem de 𝑁𝑎+ ou 
𝐾+), precisando ser ativados conjuntamente em sequência para gerar o 
potencial de ação corretamente, enquanto o canal dependente de ligante gera 
sozinho os potenciais da membrana pós-sináptica (a placa motora, no caso) ao 
permitir passagem tanto de 𝑁𝑎+ como de 𝐾+), com permeabilidade 
praticamente igual; b) o influxo de 𝑁𝑎+ nos canais voltagem-dependentes é um 
processo chamado de regenerativo, pois quanto mais canais se abrem, mais 
canais se abrem: uma vez iniciado o potencial de ação, ele é propagado até 
que todos os canais estejam abertos, seguindo o princípio do tudo-ou-nada. Os 
canais dependentes de ligantes, por outro lado, abrem-se em relação direta 
com a quantidade de ACh disponível. A despolarização produzida nesse caso 
não leva à abertura de mais canais ativados pelo transmissor. Para se ter uma 
ideia, se os canais nicotínicos musculares fossem voltagem-dependentes, toda a 
musculatura de uma dada região iria se contrair involuntariamente quando 
tentássemos contrair apenas um músculo – o que obviamente não acontece. 
 A sinapse neuromuscular descrita até aqui foi aquela referente à 
musculatura estriada esquelética (voluntária). Quando se diz placa motora 
refere-se apenas aos músculos esqueléticos, mas como sabemos existem 
também dois outros tipos de musculatura – e em ambos a ACh é também 
utilizada. A acetilcolina, quando usada no coração pelo sistema parassimpático, 
encontra outro tipo de receptor nas células musculares cardíacas: o receptor 
muscarínico 𝑀2, um receptor metabotrópico hiperpolarizante (ou seja, de 
ação indireta e inibitória: completamente oposto ao nicotínico) responsável pelo 
efeito de bradicardia da ação parassimpática. A ACh é também usada pelo 
sistema parassimpático na musculatura lisa, onde há uma associação entre os 
dois tipos de receptores colinérgicos. 
 
 
Sinapses no sistema nervoso central 
 
 A sinapse neuromuscular difere das sinapses centrais basicamente por 
três motivos: 1) uma fibra muscular é geralmente inervada por um único 
neurônio motor, ao passo que uma célula nervosa central conecta-se com 
centenas de outros neurônios; 2) as aferências recebidas pelas células 
musculares são sempre excitatórias, enquanto as células nervosas centrais 
recebem também impulsos inibitórios; 3) na placa motora é usado apenas um 
tipo de neurotransmissor, a acetilcolina, que ativa um único tipo de receptor, o 
nicotínico. No SNC diversos transmissores agem ao mesmo tempo em uma 
única célula, mediando sua atividade por diferentes canais iônicos. Os 
Capítulo 3 – Sinapses 
 
8 
 
neurônios centrais, portanto, diferentemente das fibras musculares, precisam 
integrar diversas aferências em uma única resposta coordenada. 
 O neurotransmissor excitatório mais comum no SNC é o glutamato, 
enquanto o inibitório mais usado é o GABA. Veremos como funcionam os 
receptores de cada um. 
 
 
Glutamato e seus receptores: NMDA e não-NMDA 
 
 Existem receptores glutametérgicos (que reconhecem o glutamato) tanto 
ionotrópicos (nos quais ele age de forma excitatória) quanto metabotrópicos 
(onde pode agir produzindo tanto excitação quanto inibição). Os receptores 
ionotrópicos são os que nos interessam agora. São divididos em três tipos: o 
NMDA (assim chamado por responder ao agonista glutamatérgico N-metil-D-
aspartato), o AMPA e o cainato. Esses últimos dois são geralmente agrupados, 
por serem muito semelhantes, sendo chamados em conjunto de não-NMDA. 
 O receptor glutamatérgico não-NMDA é o responsável por tirar a 
membrana de seu potencial de repouso, sendo permeável tanto ao 𝑁𝑎+ como 
ao 𝐾+ e funcionando de maneira muito parecida com a vista na placa motora 
(que é o padrão encontrado na maioria dos receptores ionotrópicos). 
 O receptor NMDA possui peculiaridades marcantes que merecem ser 
analisadas, diferenciando-o não só do não-NMDA como dos demais receptores 
ionotrópicos vistos no SN. Primeiro, ele é um canal catiônico de alta 
condutância, sendo permeável também ao 𝐶𝑎2+, ao passo que pelo não-NMDA 
passam apenas o 𝑁𝑎+ e o 𝐾+. Segundo, ele é ao mesmo tempo um canal 
dependente de ligante e um canal voltagem-dependente. O ligante para que ele 
funcione precisa ser uma combinação: não basta ser glutamato, é preciso 
também que haja a presença da glicina, um outro neurotransmissor, formando 
um processo de cotransmissão (como será visto adiante). A voltagem 
necessária para que ele se ative é também por um motivo diferente do 
habitual: normalmente, um canal voltagem-dependente precisa da corrente 
elétrica porque assim ele sofre alterações conformacionais por um sensor de 
voltagem intrínseco à membrana; nos canais de NMDA, há uma partícula 
bloqueadora extrínseca (o 𝑀𝑔2+), que se liga a um sítio na região de abertura 
do canal e o fecha como uma rolha, bloqueando o fluxo de corrente. Quando a 
membrana é despolarizada, o 𝑀𝑔2+ é expelido do canal por repulsão 
eletrostática, permitindo que o canal se abra. Essa despolarização inicial 
necessária é geralmente causada pelos receptores não-NMDA, de 
funcionamento mais simples e ativação mais rápida. Os receptores não-NMDA, 
portanto, são responsáveis pelo "começo" da transmissão glutamatérgica (a 
excitação propriamente dita), enquanto os NMDA, mais lentos e de ação 
Capítulo 3 – Sinapses 
 
9 
 
prolongada (principalmente pela presença dos canais de 𝐶𝑎2+), assumem a 
função de manter os potenciais de excitação por mais tempo. Esse processo é 
importante, por exemplo, em alguns mecanismos da aprendizagem. 
 
 
GABA e seus receptores: GABAA e GABAB 
 
 Enquanto a transmissão glutamatérica é o mais importante exemplo da 
ação de receptores despolarizantes (excitatórios), a transmissão GABAérgica é o 
principal exemplo do funcionamento visto nos receptores hiperpolarizantes 
(inibitórios). 
 O GABA age em dois receptores: o GABAA e o GABAB. O primeiro é 
ionotrópico e o segundo metabotrópico. Ambos são inibitórios, mas por motivos 
diferentes. O GABAA é um receptor que serve como canal para a passagem de 
cloreto. O influxo de 𝐶𝑙− é o que causa a hiperpolarização da célula pós-
sináptica. O GABAB, por sua vez, ativa uma cascata de segundos mensageiros 
(através de uma molécula intermediária como a proteína G, como vimos sobre 
os receptores metabotrópicos) que ativam canais de 𝐾+. A saída de 𝐾+ da 
célula, nesse caso, é o que causa a negatividade intracelular (isto é, o estado 
de hiperpolarização). 
 
 
Integração sináptica 
 
 Tendo em mente todas as informações dadas sobre as sinapses 
químicas, há ainda um fator a ser considerado: "os potenciais sinápticos 
produzidos por um único neurônio pré-sináptico são caracteristicamente 
pequenos e não são capazes de excitar uma célula pós-sináptica 
suficientemente para que esta alcance o limiar para um potencial de ação" 
(Kandel et al., 2003). Tem-se assim uma questão que não pode ser resolvida 
simplesmente pela cotransmissão (uso de dois ou mais neurotransmissoresna 
mesma sinapse, como glutamato e glicina) nem pela coativação (funcionamento 
conjunto de dois ou mais receptores, como o não-NMDA e o NMDA). 
 Esse problema, visto principalmente no SNC, é resolvido por dois fatores: 
o espaço e o tempo. A somação espacial (vários neurônios pré-sinápticos 
agindo para estimular um mesmo neurônio pós-sináptico ao mesmo tempo) e a 
somação temporal (um ou mais neurônios pré-sinápticos estimulando um 
neurônio pós-sináptico na mesma região várias vezes, até que ele se ative) são 
os dois mecanismos responsáveis pela produção do potencial de ação na 
transmissão sináptica do SNC. 
Capítulo 3 – Sinapses 
 
10 
 
 Há, entretanto, um outro problema: nem todas essas somações são 
qualitativamente iguais. Alguns neurônios excitam, outros inibem, outros 
modulam cada hora de uma forma. Essas aferências competidoras que um 
mesmo neurônio recebe são nele integradas por um processo chamado 
integração neuronal ou sináptica. Essa integração reflete a tarefa com a 
qual o sistema nervoso é constantemente confrontado: a tomada de decisão. 
"Uma célula nervosa, em qualquer dado momento, tem duas opções: disparar 
ou não disparar um potencial de ação" (Kandel et al., 2003). Ou seja, a 
implicação final de tudo que vimos neste capítulo foi já colocada por 
Shakespeare através de seu personagem Hamlet há 400 anos atrás: ser ou não 
ser, eis a questão. 
 
 
"Quem não souber povoar sua solidão, 
também não conseguirá isolar-se entre a gente." 
— Charles Baudelaire, poeta francês do século XIX. 
 
 
 
Referências 
 
1. Bear MF, Connors BW, Paradiso MA. Neurociências: Desvendando o Sistema 
Nervoso. 3rd ed. Porto Alegre: Artmed; 2008. 
 
2. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica. 11th ed. Rio de Janeiro: 
Elsevier; 2006. 
 
3. Haines DE. Neurociência Fundamental. 3rd ed. São Paulo: Elsevier; 2006. 
 
4. Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM. Princípios da Neurociência. 4th ed. 
Barueri: Manole; 2003. 
 
5. Lent R. Cem Bilhões de Neurônios. 1st ed. São Paulo: Atheneu; 2005.

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