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PARECER TÉCNICO-JURÍDICO (SUGESTÃO) 
 
 
 
 
1. EMENTA 
 
SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ÁGUA 
- Exposição do usuário ao ridículo - Autoridade 
coatora - Obrigação no fornecimento de serviços 
adequados - Corte ilegal no fornecimento de água 
- Serviço essencial à dignidade do cidadão - Parecer 
favorável à religação da água. 
 
 
 
2. RELATÓRIO 
 
O pescador Ademar Manoel Pereira morava com a família, em julho 2004, em um barraco de 
madeira que incendiou e todos os móveis foram destruídos, não podendo nada ser recuperado. E, 
por isso, devido às dificuldades financeiras, atrasou o pagamento das contas de água à CASAN 
(Companhia Catarinense de Águas e Saneamento). 
Conforme afirmou Marlene Teixeira Pereira, esposa do pescador, ela foi ao escritório da 
companhia para pedir o parcelamento da dívida, pois não teria condições de pagar a quantia à 
vista, porque o marido estava reconstruindo a casa com a ajuda da comunidade local, e não 
poderia a sua família ficar sem água. 
Entretanto, o representante da CASAN negou o pedido de Marlene Pereira e a companhia 
cortou o fornecimento de água devido ao atraso de pagamento por parte do usuário, em dezembro 
de 2004. 
O pescador, que hoje trabalha na Prefeitura de Piçarras (SC), onde recebe salário mínimo, 
entrou com mandado de segurança em face da empresa. 
A primeira instância acolheu o pedido de Ademar Manoel. 
A CASAN, então, apelou ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina, alegando que o 
fornecimento de água constitui serviço remunerado por tarifa, e que deve ser permitida sua 
interrupção no caso de não pagamento das contas. 
 
 É o relatório. 
 
3. FUNDAMENTAÇÃO 
 
O fornecimento da água não pode ser interrompido por inadimplência porque se trata de 
serviço público fundamental essencial e vital ao ser humano, e também não pode ser suspenso pelo 
atraso no pagamento das respectivas tarifas; além disso, o Poder Público dispõe dos meios 
cabíveis para a cobrança dos débitos dos usuários. 
Embora a CASAN alegue que o fornecimento de água constitui serviço remunerado por 
tarifa, e que deve ser permitida sua interrupção no caso de não pagamento das contas, ela deve 
usar os meios legais próprios, não podendo fazer justiça privada porque hoje se vive no império da 
lei, e os litígios são compostos pelo Poder Judiciário, e não pelo particular. 
É fato que o Art. 42 do CDC não permite, na cobrança de débitos, que o devedor seja 
exposto ao ridículo, nem que seja submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. 
A Companhia Catarinense de Águas cometeu, grosso modo, um ato reprovável, desumano 
e ilegal. É ela obrigada a fornecer água à população de maneira adequada, eficiente, segura e 
contínua e, em caso de atraso por parte do usuário, não poderia ter cortado o seu fornecimento, 
expondo o consumidor a uma situação embaraçosa e constrangedora. 
A água é bem essencial e indispensável à saúde e higiene da população. Seu fornecimento 
é serviço público indispensável, subordinado aos princípios da continuidade, sendo impossível, 
pois, a sua interrupção e muito menos por atraso no seu pagamento. 
Vale ressaltar que o fornecimento de serviços de água encanada, em áreas urbanas, é 
considerado serviço público essencial, assim definido pela Lei 7.783 de 28.6.89. Como todo e 
qualquer serviço público, o fornecimento de água está sujeito a cinco requisitos básicos: a) 
eficiência; b) generalidade; c) cortesia; d) modicidade e finalmente e) permanência. 
A permanência, principalmente no que tange aos serviços públicos essenciais, está ainda 
sedimentada no Art. 22 do Código de Defesa do Consumidor. 
Assim, deve-se destacar que o serviço de fornecimento de água, por ser essencial, não pode 
ser interrompido sobre qualquer pretexto. Evidentemente, que a empresa concessionária pode 
utilizar-se de todos os meios juridicamente permitidos para fazer valer seu direto de receber pelos 
serviços prestados. 
A requerida, como concessionária dos serviços de fornecimento de água encanada à 
população, explora na verdade um serviço público essencial à dignidade humana, posto que 
concorre diretamente para a preservação da saúde e à garantia do lazer. 
Aliás, a dignidade da pessoa humana, encontra-se entre os princípios fundamentais de 
nossa Nação, como se encontra insculpida no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal. E mais, 
o artigo 6º da Carta Magna, reconhece que a saúde e o lazer são direitos sociais assegurados a 
todos os cidadãos e que incumbem ao Estado conforme se vê do artigo 196 da Constituição 
Federal: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e 
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação". A matéria novamente 
foi referendada pelo CDC na primeira parte do inciso I do artigo 6º: “São Direitos básicos do 
consumidor: I - a proteção à vida, à saúde...” 
 Não pode, desta forma, a requerida - como concessionária de serviços públicos de 
fornecimento de água encanada - proceder a cortes, a fim de coagir o requerente ao pagamento, já 
que se trata, o seu fornecimento, de um dos direitos integrantes da cidadania. 
 Se não houve o pagamento, incumbe à empresa concessionária do serviço adotar 
providências que a lei lhe assegura para efetuar a cobrança do que lhe é devido. O que não se pode 
admitir - nem permitir - é a absurda exceção concedida a estas empresas para que procedam à 
margem da lei e do judiciário, realizando sua própria justiça. 
 Portanto, o inadimplemento quanto ao pagamento da taxa de água não dá à concessionária o 
direito de suspender o fornecimento, como forma de compelir o usuário a pagar a dívida. Tal 
conduta extrapola os limites da legalidade, existindo, como já se sabe, outros meios para buscar o 
adimplemento do débito. 
 
 
4. CONCLUSÃO 
 
 Em face do exposto, sugiro a religação da água na residência do consumidor, o que 
configura o não acolhimento do pedido da Companhia Catarinense de Águas. 
 
É o Parecer. 
 
 Piçarras, 17 de agosto de 2004. 
 
 Assinatura do parecerista 
 
Titulação do parecerista (OAB nº. 000000000)

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