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Prévia do material em texto

No início da segunda década do 
século XXI, faz falta – para uma Rede 
do tamanho da nossa - uma revista 
que se estabeleça como fonte contínua 
de comunicação e de debate sobre 
os temas relevantes da Educação, 
integrando os Educadores, nas 
Unidades Escolares, e a SME, em 
início de gestão. 
Ideias e diretrizes, debates e 
recomendações, reflexões e críticas 
terão nesta Revista um espaço aberto. 
A DOT desenvolverá, por meio dela, 
seu caráter orientador, cuidando de 
Currículo, Avaliação e Formação, 
expandindo o diálogo sobre nosso 
maior interesse e compromisso: o 
ALUNO, em sua formação para a 
cidadania, por meio do Ensino – 
Aprendizagem.
Esta Revista retrata os grandes eixos 
da DOT: o Currículo, que norteia 
as nossas práticas; a Avaliação, 
que proporciona o aprofundamento 
do senso crítico sobre nosso 
trabalho; e a Formação, que permite 
nossa aproximação do Ensino. 
Aprendizagem de forma competente.
 Desconstruída nas últimas décadas, a aula tem sido apontada, tan-
to pela "esquerda" como pela "direita" (entre aspas mesmo) como a 
grande vilã das mazelas do nosso sistema educacional. 
 Para muitos, ela é pasteurizadora (não considera os diferentes 
tempos de aprendizagem dos alunos), autoritária (o conhecimento é 
transmitido de cima para baixo), elitista (nivela por cima, segregan-
do os alunos que não conseguem acompanhá-la) e, nas visões mais 
"moderninhas", aborrecida, desestimuladora, pouco participativa. 
 O resultado das dúvidas e incertezas quanto ao papel da aula e, 
por consequência, do professor, é que muitas vezes os cursos acabam 
sendo um conglomerado de atividades que, vistas isoladamente, po-
dem até ser atraentes e de bom conteúdo, mas que, no seu conjunto 
não garantem a formação do aluno dentro das expectativas curricu-
lares e das competências desejadas para ele. 
 Resgatar o sentido original da aula, sua estrutura essencial e 
função no processo pedagógico é, mais do que uma contribuição, 
uma obrigação de todos os educadores empenhados no processo de 
melhoria contínua do ensino público. 
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA DA SME PARA OS PROFESSORES DA REDE DE ENSINO DA CIDADE DE SÃO PAULO 
aonde aonde 
anda a aula? anda a aula? 
1
anda a aula? 
Questionada, debatida, 
maltratada e malquerida,
a aula ainda é instrumento
fundamental para a 
construção do conhecimento 
magismagistériotériomagistériomagismagistériomagistériotériomagistériomagis
http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/revistamagisterio
CAPA E ORELHA FINAL.indd 1 03/12/13 18:40
2014. 
No início da segunda década do 
século XXI, faz falta – para uma Rede 
do tamanho da nossa - uma revista 
que se estabeleça como fonte contínua 
de comunicação e de debate sobre 
os temas relevantes da Educação, 
integrando os Educadores, nas 
Unidades Escolares, e a SME, em 
início de gestão. 
Ideias e diretrizes, debates e 
recomendações, reflexões e críticas 
terão nesta Revista um espaço aberto. 
A DOT desenvolverá, por meio dela, 
seu caráter orientador, cuidando de 
Currículo, Avaliação e Formação, 
expandindo o diálogo sobre nosso 
maior interesse e compromisso: o 
ALUNO, em sua formação para a 
cidadania, por meio do Ensino – 
Aprendizagem.
Esta Revista retrata os grandes eixos 
da DOT: o Currículo, que norteia 
as nossas práticas; a Avaliação, 
que proporciona o aprofundamento 
do senso crítico sobre nosso 
trabalho; e a Formação, que permite 
nossa aproximação do Ensino. 
Aprendizagem de forma competente.
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA DA SME PARA OS PROFESSORES DA REDE DE ENSINO DA CIDADE DE SÃO PAULO 
1
Questionada, debatida, 
maltratada e malquerida,
a aula ainda é instrumento
fundamental para a 
construção do conhecimento 
magis
http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/revistamagisterio
CAPA E ORELHA FINAL.indd 1 03/12/13 18:40
2014. 
3
A propósito de Magistério. É bom sempre começar pela origem, no caso 
D�HWLPROyJLFD��$�SDODYUD�PDJLVWpULR�TXHU�GL]HU�R�OXJDU�RQGH�ÀFDP�RV�´PDLVµ��2V�PDLV�ViELRV��PDLV�
JUDGXDGRV��PDLV�LPSRUWDQWHV��HP�RSRVLomR�D�PLQLVWpULR��OXJDU�GRV�VHFXQGiULRV�H�VXEDOWHUQRV��,VWR��
evidentemente, na sua origem greco-latina, porque, ao longo da nossa história, os papéis foram se 
invertendo: hoje, na nossa cultura, a percepção é a de que ministros têm maior importância que os 
magistros, ainda que, em civilizações singulares, como a japonesa, o professor é o único súdito que 
QmR�QHFHVVLWD�VH�FXUYDU�GLDQWH�GR�,PSHUDGRU��
(PERUD�LVVR�SDUHoD�XP�VLPSOHV�MRJR�GH�SDODYUDV��GH�SUHÀ[RV�RX�GH�VXÀ[RV��TXHUHPRV�UHVJDWDU�
DTXL�R�VHQWLGR�GD�SDODYUD�H�GD�IXQomR���0$*,67e5,2��
2�PDJLVWUR�²�PDHVWUR���UHJH��Gi�R�WRP��ID]�D�RUTXHVWUD�H[HFXWDU�KDUPRQLRVDPHQWH�XPD�P~VLFD��
registrada em uma partitura, que ele interpreta e incentiva que os músicos compreendam. Ele não 
é, em geral, o compositor da peça musical, mas consegue tirar de um emaranhado de pautas, notas, 
QRWDo}HV�JUiÀFDV�H�DFRUGHV�HVFULWRV��KDUPRQLD��EHOH]D��HPRomR�H�YLGD��(OH�QmR�DSHQDV�Or�DV�SDUWL-
WXUDV��PDV�DV�LQWHUSUHWD���'Dt�D�UD]mR�GH�VHX�QRPH�´PDJLVµ��&RPHQLXV��R�SDL�GD�GLGiWLFD�PRGHUQD��
Mi�QR�VpFXOR�;9,,��GL]LD�HP�VXD�Didática Magna, que: “...assim como qualquer organista executa 
qualquer sinfonia, olhando para a partitura, a qual talvez ele não fosse capaz de compor, nem de 
executar de cor só com a voz ou com o órgão, assim também porque é que não há de o professor 
ensinar na escola todas as coisas, se tudo aquilo que deverá ensinar e, bem assim, os modos como 
o há de ensinar, o tem escrito como que em partituras?”
,QGHSHQGHQWHPHQWH�GD�RULJHP�GD�SDODYUD�H�GD�HYROXomR�GH�VHX�VLJQLÀFDGR�KLVWyULFR��D�PDHVWULD��
o magistério ou o magistrado é função fundamental nas sociedades humanas, quaisquer que sejam 
HODV�H�TXDOTXHU�TXH�VHMD�R�HVWiJLR�HP�TXH�HVWLYHUHP��2�VHU�KXPDQR�QmR�QDVFH�SURQWR�H�D�IDPtOLD�QmR�
é a única agência socializadora. Aquele que ensina, que carrega e transmite os valores sociais que 
GmR�VLJQLÀFDGR�j�YLGD�QmR�SRGH�WHU�RXWUR�UHFRQKHFLPHQWR�TXH�QmR�R�GH�´PDJLVµ��1RVVD�UHYLVWD�QmR�
é apenas um instrumento de formação do professor mas, em seu nome, quer levar uma homenagem 
a ele e a todos que são fundamentais em sua tarefa de ensinar e de construir novos conhecimentos. 
1HVVH�VHQWLGR��D�UHYLVWD�0DJLVWpULR�p�SDUD�WRGRV�RV�TXH�FRQWULEXHP�SDUD�D�GLItFLO��LPSRUWDQWH�H�H[L-
gentíssima tarefa de Educar, por meio da docência. 
� (48,3(�'27�
',5(725,$�'(�25,(17$d®2�7e&1,&$�²
&855Ì&8/2���$9$/,$d®2�(�)250$d®2�
6mR�3DXOR��IHYHUHLUR�GH������
4
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA DA SME 
PARA OS PROFESSORES DA REDE DE ENSINO DA CIDADE DE SÃO PAULO 
CRIAÇÃO E EDIÇÃO 
ALFREDO NASTARI 
REPORTAGEM 
DANIEL AMADEI 
ICONOGRAFIA 
TEMPO COMPOSTO 
ARTE
LEDA TROTA 
IMPRESSÃO E ACABAMENTO 
IM 
magistério Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Código da Memória Técnica: SME05/2014
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. 
Diretoria de Orientação Técnica.
Magistério / Secretaria Municipal de Educação. – São Paulo: SME / DOT, 2014
52p.:il.
�ŝďůŝŽŐƌĂĮĂ
Publicacão periódica da Diretoria de Orientação 
Técnica–Currículo, Avaliação e Formação
ISBN 978-85-60686-88-9
ϭ͘��ĚƵĐĂĕĆŽ�Ϯ͘^ŽĐŝŽůŽŐŝĂ�ĞĚƵĐĂĐŝŽŶĂů�ϯ͘��ƵůĂʹDŽƟǀĂĕĆŽ�/͘�dşƚƵůŽ
CDD 370.193
PREFEITO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
FERNANDO HADDAD 
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO
CESAR CALLEGARI
SECRETÁRIA ADJUNTA DE EDUCAÇÃO
JOANE VILELA PINTO 
CHEFE DE GABINETE
ATAÍDE ALVES 
DIRETOR DE DOT CURRÍCULO, AVALIAÇÃO E FORMAÇÃO
FERNANDO JOSÉ DE ALMEIDA
ASSESSORIA 
DANIELA DA COSTA NEVES
APOIO
COORDENADORA DO CENTRO DE MULTIMEIOS
MAGALY IVANOV
BIBLIOTECA PEDAGÓGICA
EDNA MAFALDA CRUZ
LILIAN LOTUFO PEREIRA P. RODRIGUES
PATRÍCIA MARTINS DA SILVA REDE
ROBERTA CRISTINA TORRES DA SILVA
ROSANA LEILA GARCIA
MEMORIAL DOENSINO MUNICIPAL
ELIETE CARMINHOTTO
VALQUÍRIA MARTINS PEREIRA
VÍDEO EDUCAÇÃO
ADRIANA LÚCIA M. DE MEDEIROS CAMINITTI
REVISÃO 
LEILA DE CÁSSIA JOSÉ MENDES DA SILVA
MARCELA CRISTINA EVARISTO
MÁRCIA MARTINS CASTALDO
PRENSA OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
5
A estrutura da revista Magistério. Magistério é uma publicação de 
IRUPDomR�H�GLiORJR�HP�GXDV�YHUV}HV��XPD�HP�SDSHO��TXH�VHUi�GLVWULEXtGD�WULPHVWUDOPHQWH�HP�
WRGDV�DV�HVFRODV�H�SDUD�WRGRV�RV�HGXFDGRUHV�GD�5HGH�0XQLFLSDO�GH�(QVLQR�H�RXWUD��HP�YHUVmR�GL-
JLWDO�� QR� HQGHUHoR� KWWS���SRUWDOVPH�SUHIHLWXUD�VS�JRY�EU�3URMHWRV�UHYLVWDPDJLVWHULR�� GLVSRQtYHO�
SHUPDQHQWHPHQWH�SDUD�OHLWXUD�H��SULQFLSDOPHQWH��GHEDWH�VREUH�WHPDV�DERUGDGRV���1HVVD�SiJLQD�
da web,�D�'27���'LUHWRULD�GH�&XUUtFXOR��$YDOLDomR�H�)RUPDomR�SURFXUDUi�UHVSRQGHU�D�WRGDV�DV�
questões, dúvidas e pedidos de esclarecimentos sobre esses temas. 
1D�VXD�YHUVmR� LPSUHVVD�� FDGD�HGLomR�VHUi�GHGLFDGD�H[FOXVLYDPHQWH�D�XP�JUDQGH� WHPD�GD�
(GXFDomR� ��3HGDJRJLD��FRPR�EHP�H[HPSOLÀFD�HVWH�Q~PHUR�TXH�R� OHLWRU�RUD� WHP�HP�PmRV��D�
$8/$��R� LQVWUXPHQWR�PDLV� UDGLFDO�GH�QRVVR� WUDEDOKR�GH�HGXFDGRUHV��(YHQWXDOPHQWH�� DOJXQV�
GRV�QRVVRV�WHPDV�SHUFRUUHUmR�PDLV�GH�XP�Q~PHUR�GD�5HYLVWD��SRU�VHUHP�FRQWURYHUVRV�RX�SRU�
H[LJLUHP�PDLRU�QtYHO�GH�SURIXQGLGDGH��
$R�ORQJR�GH�VXDV�SiJLQDV��0DJLVWpULR�HVWi�HVWUXWXUDGD�HP�TXDWUR�JUDQGHV�EORFRV�
2�DUWLJR��GD�SiJLQD�DQWHULRU��HODERUDGR�SHOD�HTXLSH�GD�'27��DEUH�D�5HYLVWD�H�VLWXD�R�WHPD�QR�
LQWHULRU�GD�5HGH�H�GD�VXD�KLVWyULD��6HJXH�VH�D�HOH�XP�DUWLJR�GH�IXQGR�´2�UHVJDWH�GD�DXOD�HVVHQ-
FLDO··��HODERUDGR�SHOR�'LUHWRU�GD�'27��TXH�PDUFDUi�R�WRP�GD�5HYLVWD��DQFRUDQGR�WHRULFDPHQWH�
o tema e discutindo seus aspectos candentes. 
$�WHUFHLUD�SDUWH�GD�5HYLVWD�WUDUi�D�FRQWULEXLomR�GH�DOJXP�WHyULFR��TXH�DSUHVHQWH�VHX�ROKDU�
VREUH�R�WHPD��2�TXDUWR�EORFR��TXH�IHFKD�D�5HYLVWD��VHUi�R�PRPHQWR�GH�FRQYHUVDU�FRP�D�5HGH�
sobre as questões e contribuições postas na web�HP�QRVVR�3RUWDO��6HUmR�UHSURGX]LGDV�DV�PDLV�
representativas intervenções, dúvidas, questionamentos e propostas. 
1mR�GHL[H�GH�SDUWLFLSDU��'HVHMDPRV�D�YRFr�XPD�ERD�OHLWXUD�H�ERDV�LQVSLUDo}HV�SDUD�QRVVDV�
SUiWLFDV�QD�FRQVWUXomR�GH�XPD�(GXFDomR�GH�4XDOLGDGH�6RFLDO��
*
([FHSFLRQDOPHQWH���SRU�VHU�HVWD�D�HGLomR�Q~PHUR���GH�0DJLVWpULR��R�TXDUWR�EORFR�GH�GHEDWHV�H�
FRQWULEXLo}HV�GD�5HGH�DRV�WHPDV�SURSRVWRV�IRL�VXEVWLWXtGR�SHOD�SXEOLFDomR�GR�GRFXPHQWR�´3ROtWL-
FDV�3HGDJyJLFDV�&XUULFXODUHVµ��TXH�WUDoD�DV�JUDQGHV�GLUHWUL]HV�GD�QRYD�JHVWmR�GD�60(��(VWH�WH[WR�
WDPEpP�HVWi�DEHUWR�j�UHÁH[mR�H�PDQLIHVWDo}HV�GRV�HGXFDGRUHV�GD�5HGH��
 
aonde 
 Um resgate da aula como elemento 
6
 fundamental do processo pedagógico e do papel do professor 
anda a aula?
7
Pequim, China
Um mundo em transformação. Esta sala 
de aula, inimaginável para os padrões ocidentais, está produzindo 
na China um dos maiores saltos de qualidade educacional já vistos. 
Favorecido por um senso de disciplina e esforço profundamente arrai-
gado na sua cultura, motivado pela ascensão social decorrente do cres-
cimento econômico acelerado do país e sustentado por políticas edu-
cacionais públicas comprometidas com resultados, o ensino na China 
está superando seu atraso histórico e assumindo a liderança mundial 
em qualidade: no ano passado, a região de Xangai obteve o primeiro 
lugar na avaliação da OCDE - Organização para a Cooperação e 
Desenvolvimento Econômico, o clube dos países desenvolvidos. Foram 
avaliadas as áreas de Matemática, Ciências e Leitura em 32 países. 
8
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G
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A
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ES
Stanford, EUA 
Líder mundial em tecnologia digital, é natural que os tablets tenham 
invadido as escolas nos Estados Unidos, como prenúncio de uma nova 
era para a aula. Afinal, o tablet pode integrar perfeitamente o mundo 
dentro e fora da escola. A qualquer momento, o aluno pode pesquisar, 
aprender, produzir, editar e compartilhar conteúdos. E tem o atra-
tivo adicional da portabilidade. Mas, mesmo nos Estados Unidos, a 
adoção precipitada do tablet, fruto do fascínio provocado pelo novo 
equipamento, está cobrando seu preço. Sem um projeto político-pe-
dagógico definido e conteúdos e objetivos claros para a ferramenta, o 
risco dele se tornar inútil é grande. De certa maneira, o desafio não 
é novo: ele retoma e amplifica as questões surgidas com a introdução 
do computador na sala de aula.
9
Uma sociedade de extrema desigualdade. 
Em um estado de bem-estar social, como aquele verificado na Suécia, a edu-
cação adquire grau de excelência. País que mais investe em educação no mun-
do, todo o ensino - seja público ou privado - é gratuito. Quem opta por uma 
escola particular recebe um voucher do governo para pagamento do curso. Isto 
permite que haja uma uma enorme diversidade de escolas, adequadas para as 
expectativas de cada aluno - existem escolas de ensino fundamental para estran-
geiros, escolas com ênfase em música, em idiomas, politécnicas, em pedagogias 
específicas etc. Apesar da grande autonomia que municípios e escolas possuem, 
todas oferecem período integral, das 8 às 15h e turmas com até 20 alunos. To-
dos passam por processos rígidos e contínuos de avaliação de desempenho. 
Estocolmo, Suécia
10
No outro extremo, depois de um longo período de guerra anticolonialista, se-
guido de vinte e cinco anos de Guerra Civil, a educação em Angola ainda luta 
por se reerguer. Durante o conflito, mais da metade das escolas foram saqueadas 
e destruídas, professores desapareceram, o sistema todo se desestruturou. Coisas 
mínimas, como documentos de identidade, deixaram de existir. Ainda hoje, os 
recursos para a educação em Angola são exíguos: os professores são mal formados e 
mal remunerados, a escola não consegue oferecer alimentação e material didático, 
e o perigo das minas terrestres continua presente. Por questões culturais, ainda 
é grande a evasão escolar entre as meninas. Mas a aula está lá, como nesta foto. 
Com uma lousa sustentada por dois galhos e uma professora que prende a atenção 
da sua classe, na busca incessante e obstinada de um futuro melhor para todos. 
Uamba, norte de Angola 
11
São Paulo, Brasil 
12
São Paulo é Pequim, Stanford, Estocolmo 
e Angola. A cena vista nesta foto, de uma sala de aula de São Paulo, 
repete-se 25 mil vezes por dia, em nossa Rede Minicipal, envolvendo cerca de 500 
mil alunos, só no Ensino Fundamental. Isso sem contar as Unidades de Educação 
Infantil...É nesse contexto, com estas dimensões espaciais e humanas, que se mul-
tiplica a educação na cidade de São Paulo. Para entender o fascínio de aprender, é 
preciso observar os olhares destas crianças e jovens em uma aula. Parecem retratar 
um desejado nascimento... Reparando bem, a aula em São Paulo – uma cidade 
com população maior que a da Suécia, – é esse espaço de nascimento. Não é ape-
nas o lugar onde os indivíduos aprendem e nascem para o novo. Mas presencia-se 
13
nesses olhares o nascimento de uma sociedade. Os instrumentos são importantes, 
mas não determinam a essência do aprender. A arquitetura marca, as tecnologias 
agilizam informações e estabelecem novas linguagens, a organização do espaço e 
clima externos favorecem, mas a magia do ensinar e do aprender se faz na sabe-
doria e vontade com que professor, aluno, escola e família se dedicam a prepa-
rar, acompanhar, estimular, valorizar o fenômeno chamado AULA. Imaginem 
quantos pais, quantos pedagogos, quantos arquitetos, quantos funcionários de 
limpeza, quantos produtores e autores de conteúdos estão ao fundo da preparação 
de apenas uma aula de um só professor! É um esforço coletivo gigantesco, que não 
podemos malbaratar. É o maior resouro que devemos conservar.
14
o resgate 
da aula 
essencial
Fernando José de Almeida 
Filósofo e Pedagogo, é doutor em 
)LORVRÀD�GD�(GXFDomR�SHOD�
PUC-SP, onde leciona nocurso de 
3yV�JUDGXDomR�HP�&XUUtFXOR�
É consultor e pesquisador da 
81(6&2���79�(VFROD��
e�DWXDO�'LUHWRU�GD�'27�60(�
um desafio urgente 
15
 AULA
Dic: corte, palácio, átrio dos castelos, mora-
da, gaiola, estábulo.
A partir da origem etimológica, buscaremos 
saber como ela chegou aos nossos dias e que 
VLJQLÀFDGRV�PDQWpP��1DVFLGD�QRV�SDOiFLRV��QRV�
iWULRV�GRV�FDVWHORV��QRV�FODXVWURV�GRV�FRQYHQWRV��
FRPR�SRGH�D�DXOD�VHU�XP�HVSDoR�GHPRFUiWLFR"
O QUE SE PRETENDE AQUI?
2�REMHWLYR�GHVWH� WH[WR�p�FKHJDU�DR�FRQ-
ceito de aula essencial, resgatando seu 
sentido original, que foi se perdendo com 
R� WHPSR� H� KRMH� p� REMHWR� GH� SURIXQGDV� GL-
YHUJrQFLDV�H�FRQWUDGLo}HV��2�TXH�p�HOD"�2�
TXH�GHOD�VH�SHUGHX�QR�FDPLQKR"�2�TXH�GHOD�
SRGH� VHU� UHVVLJQLILFDGR�SDUD�QRVVDV�SUiWL-
FDV�QD�(GXFDomR�GD�(VFROD�3~EOLFD"
AULA ESSENCIAL OU A 
ESSÊNCIA DO QUE É A AULA 
3RU�PDLV� TXH� SDUHoD� yEYLD�� D� QRomR� SUL-
meira de aula se perdeu em meio a tantas 
YHUV}HV�� WDQWDV�FUtWLFDV�H�WDQWDV�SUiWLFDV�� WR-
GDV�FKDPDGDV�DXOD��
Sua força original afundou num pântano de 
YHUV}HV��FRQWUDYHUV}HV�H�FUtWLFDV�H�QyV��SURIHV-
VRUHV��DFDEDPRV�UHIpQV�GHVVDV�WDQWDV�SRVLo}HV��
TXDQGR�WHPRV�TXH�SUHSDUDU�QRVVDV�DXODV��
3DUD� HQIUHQWDU� HVVD� SHUSOH[LGDGH� FDXVDGD�
SRU�WDQWDV�FRQWUDGLo}HV��YDPRV�EXVFDU�UHVJD-
WDU�D�VXD�HVVrQFLD��
 A aula essencial aqui tratada encontra-se 
em meio a interesses antagônicos que orbi-
WDP� HP� WRUQR� GH� VXD� SULQFLSDO� XVXiULD� H� ID-
YRUHFLGD��D�HVFROD��3DUD�HQWHQGHU�VH�PHOKRU�R�
conceito de aula essencial, trataremos, neste 
DUWLJR��GH�TXHVW}HV�FRPR�
2�TXH�p�HVVD�LQYHQomR�KXPDQD��HP�VXD�Fp-
OXOD�PDLV�SULPLWLYD"�
Qual sua origem antropológica e como foi con-
VROLGDGD��QD�VRFLHGDGH�RFLGHQWDO��QR�VpFXOR�;9,,"
O que resta dela que pode ser retomado, 
em meio a tantas mudanças tecnológicas, 
WDQWD�PDVVLÀFDomR�H�WDQWDV�H[LJrQFLDV�GH�GH-
PRFUDWL]DomR"�
&RPR�GLVWLQJXLU�VXDV�RULJLQDLV�GLUHo}HV�GRV�
GLIHUHQWHV� LQWHUHVVHV�TXH�PDUFDP�DV� WHQV}HV�
GD�VRFLHGDGH��TXH�HPHUJHP�QDV�SUiWLFDV�HVFR-
ODUHV��QRV�FXUUtFXORV��QRV�PDWHULDLV�GLGiWLFRV��
FRUSRULÀFDGRV�QDV�DXODV"
Como as aulas se ampliam em forma de 
projetos, de estudos do meio, de pesquisas di-
ULJLGDV��H�R�TXH�GHOD�VH�HVYDL��HP�PHLR�D�WDQWD�
GLYHUVLGDGH�GH�DERUGDJHQV"
O uso do computador – com aulas a distân-
cia, com aulas compartilhadas com alunos e 
SURIHVVRUHV�GH�GLIHUHQWHV�SDtVHV�²�UHGHÀQH�R�
FRQFHLWR�GH�DXOD"
 
INTRODUÇÃO
Como se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato ainda pisa no seu
-2%,0��7RP�	�%8$548(��&KLFR��“Eu te 
amo”. 
Assim, de maneira sublime, Chico Bu-
DUTXH�H�7RP�-RELP�UHWUDWDUDP�RV�GHVHQFRQ-
WURV� GD� YLGD� GH� XP� FDVDO��$V� GLÀFXOGDGHV�
aqui são metaforicamente representadas 
pela desorganização do guarda-roupa, re-
SUHVDQGR� WDQWDV� TXHVW}HV� DFXPXODGDV� ��
PiJRDV�� GHVFRQVLGHUDo}HV�� FRQIXV}HV� QmR�
intencionais (mas nem por isso menos sig-
QLÀFDWLYDV���TXH�PDUFDP�DV�WDQWDV�YLYrQFLDV�
GH�XPD�GXSOD�DPRURVD��
+i�XP�SDUDOHOR�HQWUH�HVVD�DÀUPDomR�SR-
pWLFD�H�D�UHODomR�HQWUH�HVFROD�H�DXOD��$�DXOD�
SDUHFH�SHUGLGD�QD�GHVRUGHP�GH�WDQWDV�YDUL-
iYHLV� TXH�PDUFDP� D� HVFROD�� HP� VXD� WDUHID�
GH� HQVLQDU�� DYDOLDU�� SUHVWDU� FRQWDV� VRFLDLV��
FRQVWUXLU� VHX� FXUUtFXOR�� FRQWURODU� D� GLVFL-
plina, manter dezenas e dezenas de alunos 
LQWHUHVVDGRV�H�PRELOL]DGRV��(�R�SURIHVVRU�p�
16
o malabarista que busca dar conta de admi-
QLVWUDU�� GD�PHOKRU�PDQHLUD�� WDQWDV� YDULiYHLV��
tendo como centro a aula.
Em outras palavras, é hora de arrumar o 
DUPiULR�� HP� TXH� PXLWDV� YDULiYHLV� H� PXLWRV�
valores se misturam com a dinâmica e o con-
ceito de aula.
Essa é uma tarefa quase impossível mas co-
EUDGD�GH�XPD�GDV�PDLV�H[SRVWDV�LQVWLWXLo}HV�
sociais atualmente, de sul a norte, em países 
ULFRV�RX�QRV�TXDLV�D�HFRQRPLD�p�PDLV�IUiJLO��
'HQWUR� GR� DUPiULR� PHWDIyULFR� GD� HVFROD��
podemos nos perguntar: Quantos sapatos pi-
VDP�VREUH�R�RXWUR"�4XDQWD�LQGHOLFDGH]D�QmR�
SUHYLVWD�DFRQWHFH"�4XDQWD�GLÀFXOGDGH�Ki�HP�
se demonstrar o que se sente de afeto, de de-
OLFDGH]D�� GH� LQWHUHVVH� SHOR� IXWXUR� FRPXP"�
4XDQWD� GLÀFXOGDGH� H[LVWH� SDUD� VH� GDU� FRQWD�
das promessas e das esperanças nela deposita-
GDV�SRU�WRGD�D�VRFLHGDGH"�4XDQWD�QHFHVVLGDGH�
de recursos e de condições de trabalho!
3DUD� VH� UHVSRQGHU� D� HVVDV� TXHVW}HV�� p� QH-
FHVViULR�GLVFXWLUPRV�FRQFHLWXDOPHQWH�R�WHPD��
YROWDQGR�jV�TXHVW}HV�EiVLFDV��(QWmR��DÀQDO��R�
TXH�p�XPD�DXOD"�&RPR�HOD�VH�DUWLFXOD�FRP�R�
FXUUtFXOR"� &RPR� VH� DYDOLDP� RV� UHVXOWDGRV"�
&RPR�VH�IRUPDP�RV�SURIHVVRUHV"�&RPR�VmR�
FDOFXODGRV�VHXV�FXVWRV"�7RGDV�HVVDV�VmR�TXHV-
W}HV�DFXPXODGDV�QR�DUPiULR�GD�HVFROD�H�QR�GD�
aula e, consequentemente, em seu grande ca-
talizador: o professor.
DE VOLTA ÀS ORIGENS 
6H� D� SDODYUD� ´DXOD··� VLJQLÀFD�� HP� JUH-
JR�� RULJLQDOPHQWH�� SDOiFLR�� FRUWH�� FHQWUR� GD�
FRQVWUXomR��FRXU��HP�IUDQFrV���FRPR�R�VHQWL-
do se ampliou para aula, como conferência, 
SDOHVWUD��HQVLQR�VLVWHPiWLFR�GH�DOJR"
5HXQLU�SHVVRDV�HP�XP�SDOiFLR�SDUD�HVFX-
tarem, durante algum tempo, alguém que co-
nhecia um assunto era seguramente uma for-
ma de manter e desenvolver o poder da corte. 
Era uma ação para organizar grupos sociais 
em torno de valores e de conhecimentos ne-
FHVViULRV� j� FRQWLQXLGDGH� �RX� PHOKRULD�� GR�
JUXSR��2XYLD�VH�FRQFHQWUDGDPHQWH�XPD�H[-
posição de ideias que se organizava em torno 
GH�HL[RV��FRPR�XPD�DSUHVHQWDomR��R�GHVHQ-
volvimento do tema, a solução argumentati-
va e uma síntese conclusiva-propositiva.
$VVLP�WDPEpP�ID]LDP�RV�ÀOyVRIRV�JUHJRV�
�QD�,GDGH�&OiVVLFD��H�RV�HVFROiVWLFRV��QD�,GD-
GH�0pGLD���2�HQVLQR�SHULSDWpWLFR��SURSDODGR�
por Aristóteles, era uma forma de dar aulas 
caminhando pelos espaços de Atenas. Assim 
VH�GHVHQYROYHUDP�RV�JUDQGHV�´'LiORJRVµ�GH�
3ODWmR�
A aula, como a conhecemos hoje, é datada. 
9HP� GR� VpFXOR�;9,,,� VXD� FRQVWLWXLomR� FRP�
DOXQRV� GH� LGDGHV� SUy[LPDV�� HQÀOHLUDGRV� �RX�
QmR��� FRP�XP�SURIHVVRU� GH� GLVFLSOLQDV� GLIH-
rentes, seguindo um programa de ensino de-
terminado por um currículo, tudo sendo feito 
para um Estado ou para uma organização po-
lítica. Embora se apresentem diferentes datas 
para o início de tais organizações escolares, é 
certo que ela é contemporânea ao processo de 
IRUPDomR�GRV�(VWDGRV�1DFLRQDLV��TXH�SUROLIH-
UDUDP�QD�(XURSD�GR�VpFXOR�;9,,,1.
Mas não se trata aqui apenas de situar a 
aula como algo desta ou daquela sociedade 
ou de um modo de produção econômica. Ela 
foi sempre uma forma antropológica de pas-
sar entre gerações os valores, conhecimen-
WRV��WUDGLo}HV��IRUPDV�GH�VREUHYLYrQFLD��9H-
remos adiante como tais formas evoluíram, 
GHVGH�RV�WHPSRV�GDV��FDYHUQDV�j�QRVVD�SyV�
modernidade, perpassando períodos tão dis-
WLQWRV�FRPR��D�$QWLJXLGDGH��D�,GDGH�0pGLD�H�
D�5HYROXomR�,QGXVWULDO�����
1e�DTXL�TXH�QDVFH�WDPEpP�D�¿JXUD�GR�SURIHVVRU��FRPR�KRMH�VH�R�HQWHQGH��XP�DPSOL¿-
FDGRU�GH�XP�SURMHWR�HGXFDWLYR�SDUD�D�VRFLHGDGH��FXMRV�REMHWLYRV�GH�VHU�H[SDQGLGD�SHOR�
PHUFDQWLOLVPR�H[LJLUDP�QmR�DSHQDV�FRPHUFLDQWHV��PDV�SURIHVVRUHV�TXH�GLIXQGLVVHP�RV�
YDORUHV�GDV�QDo}HV�H[SDQVLRQLVWDV��SRU�PHLR�GH�VXDV�OtQJXDV��FXOWXUDV��1mR�Ki�H[SDQ-
VLRQLVPR�TXH�QmR�VH�FRQVROLGH�HP�FXOWXUD�
�ƵƐĐĂ�ĐŽŶơŶƵĂ. Até os 18 anos, o mundo, para mim, era muito nebuloso. 
6HP�VLJQLÀFDomR��0DV��GXUDQWH�R�SHUtRGR�HP�TXH�HX�HVWDYD�QR�JUXSR�HVFRODU��DOJXQV�
eventos me marcaram porque ajudavam a “clarear a mente” para as coisas ao meu 
redor. Por exemplo, quando estava na quinta série do ginásio, havia uma professora 
GH�*HRJUDÀD�TXH�VH�FKDPDYD�6DPLUD��8P�GLD��HOD�UHWLURX�D�WXUPD�GD�VDOD�H�QRV�OHYRX�
DWp�R�SiWLR�LQWHUQR�GD�HVFROD��/i�QyV�À]HPRV�XPD�DWLYLGDGH�GH�FRQVWUXomR�GH�PDSDV��
Percebi, naquele momento, que o aprendizado podia acontecer fora do ambiente da 
sala de aula. Isso me deixou muito contente... poder sair daquele modo de sentar, 
daquele modo rigoroso de aprender. 
3RU�RXWUR�ODGR��OHPEUR�WDPEpP�GDV�DXODV�GH�0DWHPiWLFD��8ViYDPRV�XP�OLYUR�FRPSOHWDPHQWH�FRQIXVR��(X� WLQKD�TXH� ID]HU�DTXHODV�FRLVDV��DTXHODV� IUDo}HV�H�
H[SUHVV}HV�TXH�QmR�PH�GDYDP�XPD�FODUH]D�GR�PXQGR��1R�JHUDO��QmR�ID]LD�PXLWR�
VHQWLGR�D�PDQHLUD� FRPR�´DSUHQGtDPRVµ�DV�PDWpULDV��$FDEHL� DEDQGRQDQGR�D�
escola na sexta série. 
9HMR��KRMH��TXH�DV�PLQKDV�GLÀFXOGDGHV�FRPR�DOXQR�WDPEpP�PDUFDUDP�D�PL-
QKD�UHWyULFD�FRPR�SURIHVVRU��0H�À]HUDP�TXHUHU�IDODU�PDLV�GLUHWDPHQWH�SDUD�R�
aluno nas aulas, lembrando sempre que pode haver, na turma, alguém com aque-
la visão nebulosa sobre as coisas e sobre o mundo como a que eu tinha na minha 
adolescência. 
Partindo da necessidade de contextualizar os assuntos para os alunos, perce-
EL�TXH�WLQKD�TXH�EXVFDU�PDLV�VXEVtGLRV��DÀQDO��Vy�FRQWH[WXDOL]D�TXHP�FRQKHFH��
Foi assim que conheci o Prof. Fuad: uma referência fundamental para mim, já 
GHSRLV�TXH�UHWRPHL�RV�HVWXGRV�H�FRQVHJXL�LQJUHVVDU�QD�XQLYHUVLGDGH��(OH�FULRX�
XP�HVSDoR�QD�iUHD�H[WHUQD�GR�,QVWLWXWR�GH�)tVLFD��FREHUWR�SRU�XPD�ORQD��(UD�R�
Centro Interdisciplinar de Ciência, onde ele coordenava um curso chamado Ba-
VHV�SDUD�D�(ODERUDomR�&XUULFXODU�HP�)tVLFD�([SHULPHQWDO��
$SUHQGL��QD�SUiWLFD��TXH�QmR�Gi�SUD�IDODU�GH�FRQKHFLPHQWR�FLHQWtÀFR�VHP�WR-
FDU�QDV�FRLVDV�VHQVtYHLV��2X�VHMD��SDUWLU�SULPHLUR�GR�PXQGR�FRQFUHWR�H�GHSRLV�
LU�SDUD�R�DEVWUDWR��0XLWDV�YH]HV��Vy�R�OLYUR�QmR�UHVROYH�H�Dt�SUHFLVDPRV�HVFUHYHU�
XP�WH[WR�PDLV�DGHTXDGR��6H�SRVVtYHO��DR�DERUGDU�R�DVVXQWR��R�SUySULR�SURIHVVRU�
GHYHULD�SHUVRQDOL]DU�R�WH[WR�ROKDQGR�SDUD�DTXHOD�VLWXDomR�GHQWUR�GDTXHOD�FRPX-
QLGDGH�HVSHFtÀFD��
+RMH�HX� OXWR�SDUD�TXH�D�PLQKD�DXOD� WHQKD�VLJQLÀFDGR��EXVFDQGR� WUD]HU�RV�
DVVXQWRV�SDUD�D�UHDOLGDGH�GHOHV��7HQWR�PH�DSUR[LPDU�GDV�VLWXDo}HV�UHDLV��GRV�
elementos do mundo deles. Quando o aluno fala: 
- Ããhhn... é porque eu cheguei nele! É quando eu consegui fazer com que ele 
GHVSHUWDVVH�SDUD�R�FRQKHFLPHQWR����p�R�(XUHND��
Isso é o que me faz querer continuar buscando. 
Ismerindo 
Lauke de
Oliveira,
assistente de 
direção 
O momento do elogio. “Eu tive duas professoras que me marcaram 
muito. Acho até que elas me estruturaram para ser professora: uma era de Matemá-
tica e a outra, de Literatura. 
A de Matemática, eu conheci durante o Ensino Fundamental. Na dinâmica da 
aula, dava para perceber que, mais que uma pessoa com grande conhecimento ma-
temático, estava sempre preocupada se estávamos aprendendo. Ela tinha um carinho 
muito grande por nós, e sabia do que a gente gostava, do que a gente não gostava... 
como estávamos nos envolvendo com a matéria. 
&HUWD�YH]��Mi�QR�ÀQDO�GR�VHPHVWUH��HOD�IH]�XPD�FKDPDGD�RUDO�YDOHQGR�QRWD�H�SHU-
guntou para a turma quem gostaria de tentar. Como eu havia tirado uma nota “não 
muito boa” no começo do ano, eu nem esperei. Levantei na hora porque gostava da 
aula dela e queria mostrar que tinha aprendido. Eu tinha essa preocupação! 
Foi tão legal porque fui muito bem na chamada oral. Fiz tudo o que tinha a fazer, 
e acabei alvo da zombaria dos meus colegas, dizendo que eu tinha virado “puxa 
VDFRµ�GD�SURIHVVRUD��TXH�HVWDYD�TXHUHQGR�JDQKDU�QRWD����HQÀP��FRPHQWiULRV�GHVVH�
tipo. Nesse momento, ela me defendeu com um elogio que me emocionou bastante: 
- A Maria Dolores é esforçada! Ela não falta, se preocupa em aprender... 
(QÀP��HX�ÀTXHL�VXUSUHVD�SRUTXH�UHDOPHQWH�QmR�HVSHUDYD�TXH�HOD�IRVVH�YDORUL]DU�
tanto a minha tentativa. Isso tudo me fez acordar para querer realmente ser uma boa 
aluna ao longo da minha vida. 
Eu me lembro que, no ano seguinte, logo no primeiro dia de aula, ela tocou no 
meu ombro e me apresentou para a sala dizendo: 
- Esta aluna aqui não vai se apresentar porque eu é que vou apresentá-la!
Ela fazia essas coisas que demonstravam o quanto conhecia a gente, e como nos 
queria bem... Depois, quando me tornei professora, isso me levou a querer ser assim 
também com os meus alunos; acompanhar como eles estão, se interessar por eles. 
A outra professora que foi muito especial para mim foi a de Literatura, já no En-
sino Médio. Como ela era tão apaixonada por aquilo que fazia, pelas aulas que dava, 
R�DVVXQWR�ÀFDYD�PXLWR�HQYROYHQWH��$FKR�DWp�TXH�DFDEHL�ID]HQGR�R�FXUVR�GH�/HWUDV�
por causa dessas aulas. Quando explicava as escolas literárias, ela descrevia cada 
detalhe, o clima da época... Eu podia até ver tudo aquilo que estava relacionado ao 
Trovadorismo, às cantigas de escárnio, cantigas de mal-dizer, cantigas de amor... 
quando ela contava parecia que eu estava vendo toda aquela cena! 
Graças a essas aulas, eu comecei a entender Literatura e a me interessar mais 
por História. Mesmo depois, quando fui fazer Letras, o conteúdo que via na faculda-
de me remetia às aulas que tive no Ensino Médio, naquela época. 
Ficou, para mim, como uma referência, o amor dessas duas professoras, além da 
maneira tão apaixonada com a qual elas davam suas aulas.
Maria Dolores
Moral Perez, 
professora PAAI 
19
CHEGANDO RAPIDAMENTE 
AOS DIAS DE HOJE
O que se alterou para que tal concentração 
em torno de palestras não mais se realize? 
Será a estrutura da aula algo intrinsecamen-
te perverso? O tempo de aprendizagem será 
outro? Terá mudado o processo “digesti-
vo-intelectivo” pela invenção da “Escola 
McDonald’s’’? Será o tempo assimilativo 
do ato de se alimentar diverso do ato de 
aprender? Pode e deve ser ele encurtado, 
como se pretende fazer com os esquemas 
fast-food?
O ouvir concentradamente um conjunto 
de argumentos, de histórias, de explica-
ções, de fantasias, de propostas exige com-
petências inexistentes na cultura do consu-
mo rápido, personalizado e em pílulas de 
fácil digestão? Estaremos aguardando que 
a farmacopeia atual permita com pílulas di-
gestivas o entendimento do que os jovens 
ouvem ou leem? Ou nem será mais neces-
sário o empenho em leituras? Ou chips com 
tecnologias pervasivas2 disponibilizarão os 
conteúdos e habilidades desejadas (ou im-
postas)? 
A APRENDIZAGEM 
COMO MERCADORIA
A aprendizagem vem se reduzindo, na 
sua mais difundida – e equivocada – versão, 
a uma mercadoria que se encontra disponí-
vel nas gôndolas e prateleiras: um livro, um 
curso de inglês, uma peça didática de teatro, 
XP�FXUVR�GH�UHVSLUDomR�FRP�XP�FHUWLÀFDGR�
em poucos dias. As provas já vêm prontas, 
os resultados são copiados e o reconheci-
mento de sua sabedoria é atestado por um 
administrador objetivo e instantâneo. 
A APRENDIZAGEM COMO 
PROCESSO VITAL
O processo de aprendizagem, no en-
tanto, é orgânico: não se dá por consu-
mo, mas por assimilação. É um trabalho 
de assimilação interna e individual. Passa 
não apenas pela vontade de aprender, mas 
também pela de empenhar energias para a 
elaboração do que aprendeu. Há momen-
tos coletivos, há treinamento para uso de 
instrumentos, há montagem própria de tá-
ticas de assimilação, feitas com criativi-
dade e disciplina.
O processo de aprendizagem sofre mu-
danças com os ritmos da vida urbana e pla-
netária, mas o metabolismo da assimilação 
dos conhecimentos permanece o mesmo de 
sempre. 
O conceito de tempo mudou. É verda-
de. O ritmo de participação da vida mu-
dou, não sendo mais determinado pelas 
estações do ano nem pelas colheitas ou 
pelas festas dos santos, em quermesses 
ou novenas. 
2� VHQWLGR� GR� DIHWR�PXGRX��1mR� VH� GHÀ-
nem mais os amores e casamentos pelos 
interesses familiares. A multiplicidade de 
exposições das pessoas às muitas escolhas 
é cada vez maior. 
As opções à liberdade são cada vez mais 
possíveis, amplas e estimuladas.
Mas, insisto, os processos assimilativos 
digestivos e cognitivos mantêm a exigên-
cia de tempos próprios e frequentemente 
não são imediatos. 
Mas, em tudo isso, o que é permanente?
A intenção da discussão, neste artigo, é 
buscar o que não mudou nestas tantas vari-
áveis dos tempos pós-modernos. 
Cabe aos psicólogos analisarem se os 
sentidos novos do afeto, da partilha afe-
tiva, do amor são adaptáveis à velocidade 
2 Tecnologias pervasivassão aquelas que, introduzidas em sistemas complexos, oferecem 
informações a centrais de decisões, que assim podem interferer no ambiente, progra-
mando-o e dirigindo-lhe as ações. Um exemplo típico são os chips inseridos e pacientes 
com patologias que exigem acompanhamento de juntas médicas.
20
H�j�OLTXLGH]�GD�VRFLHGDGH�FRQWHPSRUkQHD3. 
(VVH�p�XP�ORQJR�GHEDWH�TXH�Mi�WUDYDPRV�HP�
nossas consciências, assim como as psico-
ORJLDV� VRFLDLV�� D�SVLFDQiOLVH�H�D�DQWURSROR-
JLD�VRFLDO� Mi�GLVFXWHP��SURGX]LQGR�HQVDLRV�
sobre o destino do novo e velho afeto que 
une as pessoas.
0DV�QRVVR�IRFR�p�D�DSUHQGL]DJHP��9DPRV�D�HOH��
6H� DOJXpP�RX� DOJXQV� JUXSRV� Mi� WrP�FOD-
ro que é o momento de dispensar todas as 
ações de aula como um momento perverso 
de imposição, não estarão defendendo nem 
entendendo o sentido essencial da aula. Ela 
nem é momento perverso nem precisa ser 
uma imposição. É desmotivador ir ao cine-
PD�SRU�TXH�Oi�HVWmR�PXLWDV�SHVVRDV�MXQWDV��H�
WRGRV�YmR�DVVLVWLU�DR�PHVPR�ÀOPH�QR�PHV-
PR� KRUiULR"� �+i�PRPHQWRV� SDUD� VH� DVVLV-
WLU� D� ÀOPHV� HP� FDVD�� LQWHUURPSHQGR�VH� QD�
KRUD� HP� TXH� VH� TXHU�� H� Ki� R�PRPHQWR� GH�
VRFLDOL]DomR� GR� HVSHWiFXOR�� FRP� GLUHLWR� D�
FRPHQWiULRV��D�ULVRV�VLPXOWkQHRV�H�HPRo}HV�
partilhadas, e depois da sessão, a ir a uma 
ODQFKRQHWH� SDUD� RV� FRPHQWiULRV� TXHQWHV� H�
coletivos.
9DPRV� WHQWDU� HQWHQGHU� TXDLV� YDULiYHLV�
SRGHP� VHU� DQDOLVDGDV� SDUD� VH� GDU� j� DXOD�
XPD� ´QRYD�WUDGLFLRQDOµ� GLUHomR�� QD� EXVFD�
GH�VHX�VLJQLÀFDGR�SULPHLUR��TXH�LQDXJXURX�
XP�PXQGR�DSUR[LPDQGR�PDLV�RV�VHUHV�KX-
manos. 
A versão atual da aula é uma invenção 
PDLV�FODUD�GR�VpFXOR�;9,,,��FRQVROLGDGD�QR�
VpFXOR�;,;�H�TXH�VH�PDQWpP�DWp�KRMH��0DV�
ela se mantém num mundo de tantas mu-
GDQoDV�JUDoDV�D�TXr"�­�WHLPRVLD�GRV�UHDFLR-
QiULRV�TXH�QmR�DEULUDP�PmR�GH�VXD� LQYHQ-
omR"�2X�j�GRVH�GH�VDEHGRULD�TXH�HOD�WHYH��H�
PDQWpP��DR�GDU�FRQWD�GH�H[SOLFDU�XPD�IyU-
mula de ensinar que vem desde a fogueira, 
como centro do ensino dentro da caverna, 
DWp�R�HQVLQR�QDV�FRUSRUDo}HV�GD�,GDGH�0p-
GLD�²�RX�GRV�QREUHV��HP�VHXV�SDOiFLRV"
9DPRV�FRQWHPSODU�HVVDV�TXHVW}HV�H�HQFD-
minhar um esboço sobre o que resta essen-
FLDOPHQWH�GHVWD�HÀFD]�LQYHQomR��D�DXOD�
/LPSDQGR�R�WHUUHQR��D�DXOD�QmR�p�D�YLOm��
9DPRV� FRPHoDU� SHOD� GHUUDGHLUD� YLVmR� GDV�
GLÀFXOGDGHV�GD�RUJDQL]DomR�GR�VLVWHPD�HV-
FRODU�H[LVWHQWH�HQWUH�PXLWRV�HGXFDGRUHV�EUD-
VLOHLURV��GRV�DQRV����DWp�D�GpFDGD�GH�������
A aula vem sendo considerada, nos úl-
WLPRV���� DQRV�� FRPR�D�YLOm� UHVSRQViYHO�� j�
GLUHLWD� H� j� HVTXHUGD�� SRU� WXGR� GH�PDO� TXH�
acontece na escola, na formação dos alunos 
e nas tarefas dos professores. Ela seria res-
SRQViYHO� SHOD� GHPROLomR� GD� DSUHQGL]DJHP�
do aluno. 
Ela é considerada perversa, ou porque 
reproduz a sociedade dividida em classes, 
H[SXOVDQGR� GD� HVFROD� �SRU� VXD� H[LJrQFLD�
VHPSUH�GHVFDELGD��RV�DOXQRV�SREUHV�RX�SRU-
TXH�QmR�DWHQGH�DR�TXH�Ki�GH�PDLV�PRGHUQR�
para os alunos que querem aprender e nela 
não veem a importância da vida motivada e 
livre da aprendizagem dita contemporânea.
A aula como reprodução do sistema in-
MXVWR�GH�H[FOXVmR�VRFLDO�p�DVVLP�FRQVLGHUD-
GD� SRU� VXDV� H[LJrQFLDV� GHVFDELGDV� SDUD� RV�
jovens alunos de classes desprovidas eco-
nomicamente e feitas sob medida para aten-
GHU�jV�FODVVHV�VRFLDLV�VXSHULRUHV��$V�FODVVHV�
carentes da sociedade não conseguem ter 
PRWLYDo}HV�FRP�HVVHV�WLSRV�GH�H[LJrQFLDV�H�
DEDQGRQDP�D�HVFROD��3DUWLQGR�GHVVH�SRQWR�
de vista, isso gera um dissimulado processo 
GH�H[FOXVmR�VRFLDO��TXH�WHP�QD�DXOD�XPD�ID-
migerada aliada. 
3 e�LPSRUWDQWH�SDUD�TXHP�TXHU�VH�DSURIXQGDU�QR�WHPD�GD�OLTXLGH]�GD�VRFLHGDGH�FRQWHP-
SRUkQHD�OHU�D�REUD�GH�=\JPXQW�%DXPDQ���HVSHFLDOPHQWH�Tempos Líquidos��1D�GLUHomR�
GR�TXH�IDODPRV�DFLPD��HOH�GL]��³R�FRODSVR�GR�SHQVDPHQWR��GR�SODQHMDPHQWR�H�GD�DomR�D�
ORQJR�SUD]R��H�R�GHVDSDUHFLPHQWR�GDV�HVWUXWXUDV�VRFLDLV�QDV�TXDLV�HVWHV�SRGHULDP�VHU�
WUDoDGRV�FRP�DQWHFHGrQFLD���OHYD�D�XP�GHVPHPEUDPHQWR�GD�KLVWyULD�SROtWLFD�H�GDV�YLGDV�
LQGLYLGXDLV�QXPD�VpULH�GH�SURMHWRV�H�HSLVyGLRV�GH�FXUWR�SUD]R�TXH�VmR��HP�SULQFtSLR��LQ¿QL-
WRV�H�QmR�FRPELQDP�FRP�RV�WLSRV�GH�VHTXrQFLDV�DRV�TXDLV�FRQFHLWRV�FRPR�³GHVHQYROYL-
PHQWR´��³PDWXUDomR´��³FDUUHLUD´�RX�³SURJUHVVR´��WRGRV�VXJHULQGR�XPD�RUGHP�GH�VXFHVVmR�
SUp�RUGHQDGD��SRGHULDP�VHU�VLJQL¿FDWLYDPHQWH�DSOLFDGRV´���op. cit��S�����
Uma aula Guarani Mbya. Para a cultura Guarani, a vida pode 
seguir por três caminhos (representados no altar): o da direita e o da esquerda 
são as escolhas que fazemos. São coisas que fazemos na vida, para um lado 
ou para o outro, mas que um dia acabam. Já a outra escolha que é essa maior 
aqui no meio dos dois, representa o caminho da sabedoria. 
A sabedoria é o resultado do que fazemos na direção desse conhecimento 
TXH�YHP�GLUHWDPHQWH�GH�7XSm��3RU�LVVR�p�XP�FRQKHFLPHQWR�TXH�p�LQÀQLWR��GLIH-
rente dos outros caminhos. Ele chega através do nosso coração.
Aqui na casa de reza (opy) é também onde nos reunimos, cantamos, conver-
samos e somos orientados pelo Xeramõi, o nosso líder espiritual. 
O que aprendi com o Xeramõi, o José Fernandes, é que, para estar nesse 
caminho da sabedoria, precisa ser muito forte, fortalecer o espírito e o corpo 
(...) cuidar para manter o coração limpo estando alegre, viver de bem com a 
vida e com as outras pessoas, sempre com respeito. Nesse caminho, busca-
mos e compartilhamos as experiências que fazem a gente aprender na nossa 
vida, e também aprendemos com as tradições e com os mais velhos sobre o 
que é ser Guarani Mbya. Por isso, cada palavra que sai da minha boca quan-
do eu estou com os mais novos deve vir primeiro do meu coração... se eu não 
sinto que vem do coração, eu não falo só por falar. O coração precisa estar 
limpo pra eles sentirem essa força que vem de Tupã, porque, senão, nada 
acontece... eles não vão se interessar!
Hoje, eu luto nesse caminho: o de me fortalecer para que o meu povo tam-
bém seja forte. Trabalho para que todos entendam o que é ser Guarani através 
dessa sabedoria que os mais velhos ensinaram, aprendendo também com os 
nossos antepassados que estão todos aqui na casa de reza. Não dá pra ver por-
que é invisível, mas dá para sentir que aqui estão todos os Guarani.
Pedro Luis
Macena, 
educador 
indígena 
Relação de respeito. (VWXGHL�FRP�PXLWRV�SURIHVVRUHV�H[FHOHQWHV���2�
'pFLR�GH�$OPHLGD�3UDGR��R�'LPDV�3LPHQWD��R�-RmR�$OH[DQGUH�%DUERVD��D�0DULD�
7KHUH]D�)UDJD�5RFFR��7HQKR�YiULDV�DXODV�GHOHV�JUDYDGDV�QDV�PLQKDV�OHPEUDQoDV�
de estudante. Como eu sempre gostava de ler e não tinha muito dinheiro para com-
SUDU�OLYURV��LD�VHPSUH�j�ELEOLRWHFD�FLUFXODQWH�GD�XQLYHUVLGDGH��/LD�EDVWDQWH�SDUD�
SRGHU�DFRPSDQKDU�DV�DXODV�GHVVHV�SURIHVVRUHV��8PD�GLIHUHQoD�LQWHUHVVDQWH�HQWUH�
aquela época na USP e hoje em dia é que as aulas eram totalmente expositivas. 
'XUDYDP�FHUFD�GH�TXDWUR�KRUDV��FRP�XP�SHTXHQR�LQWHUYDOR�QR�PHLR��2�'pFLR�GH�
Almeida Prado, por exemplo, era um intelectual, um gentleman. Dava aula sem-
SUH�PXLWR�EHP�DUUXPDGR��WHUQR�H�JUDYDWD�LPSHFiYHLV��FRP�XPD�ÁHXPD�TXH�Vy�HOH�
tinha. Não lia nada na sala, nem usava nenhum tipo de “esquema” ou grandes 
UHFXUVRV�QD�PmR��9LQKD�WXGR�GD�FDEHoD�GHOH�PHVPR��)D]LD�FLWDo}HV��IDODYD�VREUH�R�
teatro e as atrizes da época, e a gente anotava para poder ir atrás depois. 
7LQKD�WRWDO�GRPtQLR�GR�DVVXQWR��IDODYD�GXUDQWH�KRUDV�SDUD�XP�S~EOLFR�GH�PDLV�GH�
40 alunos sem recorrer a nada. Jamais alterava o tom da voz em sala de aula. Nunca 
GHVWUDWRX�QHQKXP�DOXQR��PHVPR�TXDQGR�SUHFLVDYD�FKDPDU�D�DWHQomR�GH�DOJXpP��HUD�
sempre muito educado... Nós anotávamos quase tudo o que ele falava porque havia 
DOL�XP�YRFDEXOiULR�PXLWR�ULFR��6H�QmR�FRQKHFtDPRV�DOJXP�WH[WR�TXH�HOH�PHQFLRQD-
YD��WtQKDPRV�TXH�SURFXUDU�SRU�QyV�PHVPRV��(OH�QmR�GDYD�QDGD�PDVWLJDGR��(X�PH�
OHPEUR��FRPR�VH�IRVVH�KRMH��GHOH�HQWUDQGR�QD�VDOD��SHGLQGR�OLFHQoD��FKHJDYD�FRP�
ÀUPH]D��GL]LD�ERP�GLD��6XD��SUHVHQoD��Mi�LPSXQKD�XP�FHUWR�UHVSHLWR��,VVR�p�XPD�FRLVD�que os meus professores passaram para mim, de alguma maneira: a respeitabilidade. 
2X�VHMD��WHU�XPD�FHUWD�SRVWXUD�HP�DXOD��PDQWHU�R�VLOrQFLR��UHVSHLWDU�DTXHOD�SHV-
soa que está lá pelo que ela representa. Isso é uma coisa que acho que falta hoje 
HP�GLD��$ÀQDO��R�SURIHVVRU�QmR�p�LJXDO�DR�DOXQR��(OH�VDEH�PDLV�GR�TXH�D�JHQWH��p�
PDLV�H[SHULHQWH��2V�PHXV�SURIHVVRUHV�GH�3RUWXJXrV��SRU�H[HPSOR��TXDQGR�OLDP�RV�
QRVVRV�WH[WRV��FRUULJLDP�DV�SDODYUDV�TXH�HVWDYDP�HUUDGDV��(VFUHYLDP�DVVLP�HP�
YHUPHOKR��FRUUHomR��+RMH�HP�GLD��RV�HVWXGRV�PXGDUDP��$V�WHRULDV�VmR�RXWUDV��PDV�
DFKR�TXH�HVVDV�SUiWLFDV�HP�VDOD�GH�DXOD�IRUDP�~WHLV�QD�PLQKD�IRUPDomR��XVDU�R�
GLFLRQiULR��H[SORUDU�RV�VLJQLÀFDGRV�H�DSUHQGHU�D�JUDÀD�FRUUHWD�GDV�SDODYUDV��
'HSRLV�TXH�PH�IRUPHL��WLYH�XP�SURIHVVRU��R�5HQDWR�%UXOH]]H��TXH�WDPEpP�IRL�GHFL-
VLYR�QD�PLQKD�YLGD��(OH�GDYD�XP�FXUVR�JUDWXLWR�GH�DUWH�SDUD�SURIHVVRUHV��QR�0$63��
(UD�IRUPDO��PDV�EHP�KXPRUDGR��'XUDQWH�DV�DXODV��IDODYD�XP�SRXFR�GD�YLGD�
do pintor e depois analisava o quadro para um auditório sempre lotado. Não 
WLQKD�OLYUR��WH[WR��QHQKXP�FRPSURPLVVR�GH�GDU�XPD�GHYROXWLYD��ID]HU�UHGDomR�RX�
TXDOTXHU�RXWUD�FRLVD��9RFr�SRGLD�LU�DSHQDV�SDUD�GHVIUXWDU�R�TXDGUR�H�FRQKHFHU�
um pouco da história do pintor. Fui durante três anos, uma vez por mês. Puro 
GHOHLWH��PDV�TXH�WDPEpP�IRL�DOJR�PXLWR�LPSRUWDQWH�SDUD�D�PLQKD�IRUPDomR��
Silvia Ruiz 
coordenadora
pedagógica
23
A aula também pode ser considerada 
como inadequada em relação às tecnologias 
PDLV�VRÀVWLFDGDV�D�TXH�RV�DOXQRV�WrP�DFHV-
so, gerando falta de motivação. A aula pre-
MXGLFDULD�RV�TXH�Mi�WrP�FRPSXWDGRUHV�H�RX-
tros meios tecnológicos em casa, pois, nos 
meios digitais encontram-se informações 
múltiplas que não exigem o empenho para 
DSUHQGHU��D�ÀJXUD�GR�SURIHVVRU�RX�R�HVIRUoR�
mnemônico.
De todos os lados, a aula aparece como a 
YLOm�GDV�GLÀFXOGDGHV�TXH�D�HVFROD�H�RV�DOX-
nos passam atualmente.
No entanto, as direitas e as esquerdas 
>WHUPRV�H[FHVVLYDPHQWH�VLPSOLÀFDGRUHV�GD�
questão política hoje posta] precisam da 
FRPSHWrQFLD�GD�DXOD�SDUD�GDU�FRQWD�GH�VHXV�
projetos e programas civilizatórios, para 
seus programas de formação de valores, 
FRPSHWrQFLDV�H�GH�SDUWLFLSDomR�VRFLDO��
���Z�d�ͳ^��K�&/D���^��h>�^�
�KDK��d/s/������/��d/��
3HOR�SHQVDPHQWR�RSRVWR�²�GR�ÀP�GDV�DXODV�
como resolução de problemas da educação e 
da escola –, se acabarmos com a aula, tudo 
será resolvido. Os alunos aprenderão livre-
PHQWH��D�ÀJXUD�LPSHUWLQHQWH��DXWRULWiULD�H�YH-
tusta do professor desaparecerá e terá brilho o 
animador, o colaborador, o facilitador, como 
um verdadeiro “generalizador’’ que sabe tudo 
e não se pronuncia (não professa) sobre nada, 
mas que ocupará o lugar do antigo mestre 
(substituído pela memória de computadores, 
sistemas animados em 3D ou dos conteúdos 
das multimídias de “livre acesso”, nas nuvens 
digitais). A vontade e a capacidade espontâ-
neas de crianças e jovens para aprender se-
riam as grandes aliadas da escola. Basta o am-
biente. Basta o respeito inocente à liberdade, 
à espontaneidade, à criança ou ao jovem, para 
que os estudantes se desenvolvam num com-
plexo processo de aprendizagem das culturas, 
das investigações, das histórias, das nomen-
claturas, dos algoritmos criados em séculos 
de trabalho de milhões de seres humanos.
0DV�p�R�FRQWUiULR�R�TXH�VH�Yr��3RU�H[HPSOR��
a descoberta do zero. Quanto tempo de es-
forços foi necessário para ele ser incorporado 
ao saber humano? Diríamos que começar do 
zero o aprendizado sobre o zero seria um des-
perdício e uma temeridade. 
3DUD�FODULÀFDU�PHOKRU�D�GHÀQLomR�GH�DXOD��
é importante que se esclareçam os equívocos 
sobre ela.
K�Yh��E�K����h>�
1. A aula não é uma atividade de mesma densi-
dade para toda e qualquer tarefa e para toda e 
qualquer idade.
Uma aula para crianças de 6 ou 7 anos deve 
ter uma estrutura, uma temática, uma metodo-
logia, um tempo exigido de concentração, uma 
preparação, uma avaliação, um uso de exemplos, 
uma atividade diferente de uma aula dada para 
um grupo de alunos de um curso de mestrado. 
Parece óbvia tal distinção, mas não o é, na prática 
e nos discursos sobre defesa ou ataque da aula. 
Costuma-se dizer que ela é inadequada por-
que é muito teórica ou que é ruim porque não 
tem atividades... ora para uma turma de pós-
graduação pode ser teórica (pois seus ouvin-
tes, mesmo ouvindo uma aula teórica fazem 
relações contínuas às suas práticas e tornam 
as aulas vivas e dinâmicas). Não há aula teó-
rica, nesse nível de ensino, há sim ouvintes ou 
alunos teóricos – se não conseguirem relacio-
nar as teorias às práticas.
Em aulas para crianças o nível de praticida-
de, de exemplos, de cantos de movimentação, 
de teatralização, de atividades deve ser outro 
diferente e adequado à faixa etária. A distinção 
de tipos de aulas para as diversas faixas etárias 
é fundamental para entendermos o que é aula.
24
2. A aula não é a arquitetura nem sua deco-
ração interior (distribuição das carteiras, 
janelas, cores etc.). 
3DUD�LUPRV�GHFDQWDQGR�D�LGHLD�GD�DXOD�HVVHQ-
cial, podemos simplesmente começar limpando 
as equivocadas formas atuais de conceber a aula.
a) Ela não se reduz ao equipamento escolar 
(embora as diferentes linhas pedagógicas e 
SROtWLFDV�WHQWHP�LGHQWLÀFi�OR�H�DGHTXi�OR�D�
VHXV�PRGHORV���DV�VDODV��DV�FDGHLUDV��D� IRU-
PD�GH�VHUHP�À[DGDV�DR�FKmR��HP�8��WRGDV�
HQÀOHLUDGDV�� HP� IRUPD� GH� DQÀWHDWURV�� QmR�
podem ser consideradas sua essência. 
b)�0HQRV�DLQGD�j�DUTXLWHWXUD�GRV�SUpGLRV�
que abrigam as aulas, as chamadas salas de 
DXOD��8PD�H[FHOHQWH�DXOD�SRGH�VHU�GDGD�QXP�
prédio de arquitetura seiscentista, feito para a 
HGXFDomR�GD�QREUH]D�LQJOHVD�RX�DOHPm��2�ÀO-
me Sociedade dos poetas mortos simula tais 
aulas, mostrando o modo ideológico como se 
SRGH�YHU�D�HVFROD��´p�LPSRVVtYHO�WUDQVIRUPi�
ODµ��$R�ÀQDO��PRUUH�R�DOXQR�TXH�TXHU�VHU�DUWLV-
WD��H�R�SURIHVVRU�p�GHPLWLGR��9L�YiULDV�YH]HV��
em um país da África, as aulas serem dadas 
HPEDL[R�GH�XPD�iUYRUH��FXMR�FKmR�R�SURIHV-
VRU�YDUULD�FXLGDGRVDPHQWH�GXUDQWH�XQV���PLQ�
DQWHV�GH�RV�DOXQRV�FKHJDUHP��&RORFDYD�QHVVD�
sala o quadro negro, em um lugar central, so-
bre um tripé e, ao lado dele, os poucos tocos 
GH�JL]�GH�TXH�GLVSXQKD��'HL[RX�GH�VHU�DXOD"�
'HL[RX�GH�VHU�ERD"�$�HVVrQFLD�QmR�p�D�DUTXL-
tetura, embora se possa entender que ela pode 
se adequar mais ou menos a um modelo de 
entendimento de como é a relação professor-
DOXQR��8PD� VDOD� HP� IRUPD� GH� DQÀWHDWUR�
presta-se a um tipo de aula magna e com 
EDL[D� LQWHUDomR�FRP�RV� DOXQRV��PDV�QmR�
impossibilita que a relação entre profes-
sor e aluno aconteça - nem mesmo dos 
alunos entre si.
A diretriz pedagógica e a dimensão política 
de compreensão do que seja o papel da educa-
omR�H�GD�HVFROD�VmR�R�TXH�D�GHÀQHP��7DPEpP�D�
GHÀQH�R�JUDX�GH�GHVHQYROYLPHQWR�GR�DOXQR�SRU�
VXD�IDL[D�HWiULD�RX�SRU�VHXV�HVWXGRV�SUpYLRV�
3. A aula não se confunde com sua dinâmica.
(OD� QmR� p� UHVSRQViYHO� SHOD� GLQkPLFD� GH�
silêncio, em que apenas o professor sabe; 
nem é a culpada pela passividade, em que 
WRGRV�RV�DOXQRV�GHYHP�ÀFDU�TXLHWRV� WRGR�R�
tempo; nem pelo fato de que só o professor 
decide o que os alunos aprenderão; ou se sua 
VHTXrQFLD�QmR�SRGH� VHU� LQWHUURPSLGD��7XGR�
LVVR�QmR�GHÀQH�TXH�D�DXOD�GHYD�VHU�H[HFUD-
da e que nada dela se aproveite. É comum 
DWULEXLU�VH�j�DXOD�HP�VL�D�SHUYHUVLGDGH�JHUDGD�
SRU�HOD�DRV�DOXQRV��OHYDQGR�RV�j�SDVVLYLGDGH�
e impedindo-os de elaborar níveis mais com-
SOH[RV� GH� DSUHQGL]DJHP�� FRPR� HVWDEHOHFHU�
UHODo}HV��UHDOL]DU�MXOJDPHQWRV��ID]HU�DQiOLVHV�
ou sínteses dos temas e problemas tratados. 
1mR�p�GHVVD�DXOD�TXH�IDODPRV�DTXL��(VVD�GHV-
FULomR�HTXLYRFDGD�GR�TXH�p�D�DXOD�QmR�GHÀQH�
a aula em seu sentido essencial, mas refere-
se a alguns modelos pedagógicos que fazem 
uso dela equivocadamente. 
1HVVH�FRQWH[WR��DSDUHFH�D�SHFKD�GH�HGXFDomR�
EDQFiULD�j�DXOD��3DXOR�)UHLUH�D�HOD�VH�UHIHULD�
paradenunciar o fenômeno conceitual e pe-
dagógico que parte do princípio que o aluno 
tem a cabeça vazia e que deve ser preenchi-
da com conteúdos. Dizem que é nela, a aula, 
que se depositam com conteúdos impostos 
e indigestos nas cabeças dos alunos. E, por 
LVVR��Ki�D�GHVPRWLYDomR�GH�WRGRV��$OpP�GLV-
VR��VmR����D����DOXQRV�VXEPHWLGRV�D�FXVSH�H�
a giz, sempre dentro de uma disciplina auto-
ULWiULD��TXH�QmR�UHVSHLWD�RV�GLIHUHQWHV�ULWPRV�
da aprendizagem de cada um, nem a dúvida, 
nem a discordância etc. 
$�FUtWLFD�QmR�VH�UHIHUH�j�DXOD��PDV�� LQVLVWR��
ao modelo ideológico-político sobre o qual a 
organização curricular e escolar se assenta.
Situar-se no mundo. $VVLP�FRPR�D�PDLRULD�GDV�FULDQoDV�GD�PLQKD�
pSRFD��HX�WLQKD�PXLWD�GLÀFXOGDGH�HP�0DWHPiWLFD��4XDQGR�WHQWDYDP�PH�HQVLQDU�DOJR�
na escola, já partiam de algum ponto importante, mas nunca me perguntavam: 
��9RFr�Mi�VDEH�FKHJDU�DWp�DTXL"�
)RL�HQWmR�TXH�HX�WLYH�XP�SURIHVVRU�GH�0DWHPiWLFD�TXH�HUD�IUDQFrV�H�KDYLD�VLGR�SD-
GUH��(OH�XVDYD�D�PDWHPiWLFD�PDUDYLOKRVDPHQWH��GH�XPD�IRUPD�IiFLO��WURFDYD�WXGR�HP�
PL~GRV��3ULPHLUR��FRQWRX�SDUD�D�FODVVH�TXH�QmR�H[LVWLD�PLVWpULR�H�TXH�WXGR�FRQWLQKD�
DOJXP�FRPSRQHQWH�PDWHPiWLFR��XP�HQYROYLPHQWR�FRP�Q~PHURV��2X�VHMD��DTXLOR�LULD�
fazer parte da nossa vida para sempre. Portanto, não adiantava ignorar ou achar 
LPSRVVtYHO�GH�DSUHQGHU��'Dt�TXH�HX�GHVFREUL�VHU�XPD�FDUDFWHUtVWLFD�LPSRUWDQWH�HVVD�
GH�VDEHU�VLWXDU�R�JUXSR��DSUHQGHU�D�YHU�MXQWRV��GHVGH�RQGH�p�QHFHVViULR�FRPHoDU��
4XDQGR�HVVH�SURIHVVRU�FRPHoRX�D�QRV�VLWXDU�H�D�FRQWDU�D�KLVWyULD�GRV�DOJDULVPRV��
dos sinais matemáticos, quem havia usado pela primeira vez, como pensou aquilo... 
D�PDWpULD�ÀFRX�PXLWR�PDLV�HQWXVLDVPDQWH��(VVH�IRL�R�PHOKRU�SHUtRGR�GH�DXOD�SDUD�
mim, quando eu tinha 11 anos! 
´8PD�ERD�DXOD�FRPHoD�SHOD�HPSDWLD�HQWUH�SURIHVVRUHV�H�DOXQRV��,VVR��SUD�PLP��
sempre foi muito forte, mas sem nenhuma pieguice do tipo “tem que ser amiguinho” 
ou que “tudo é sentimento”... nunca achei nada disso!
2XWUD�FRLVD�p�D�HVFROD�VHU�DWHQWD�DR�IDWR�GR�PXQGR�VHU�IRUD�GR�PXUR��2X�VHMD��D�
escola precisa contar as coisas desse mundo e não apenas o que acontece no nosso 
SHTXHQR�TXDGULOiWHUR��SRUTXH�HODV�QmR�WrP�VLJQLÀFDGR�Oi�IRUD����SULQFLSDOPHQWH��VH�
FRQVLGHUDUPRV�R�SHUÀO�GRV�DOXQRV�GH�(-$��(OHV�FKHJDP�VHP�QHQKXPD�DXWRHVWLPD��
6mR�GHVSUH]DGRV�VRFLDOPHQWH�H��jV�YH]HV�DWp�SHOD�SUySULD�IDPtOLD��,VVR�p�XP�JUDQGH�
empecilho para que o jovem ou adulto se apaixone pelo que ele foi fazer na escola. 
$t�HX�Mi�FRPHoR�VLWXDQGR�R�DOXQR��PH�DSUHVHQWDQGR��H[SOLFDQGR�VREUH�R�TXH�VHUi�
D�DXOD����HQWmR�SHUJXQWR����(�YRFr"�2�TXH�YHLR�EXVFDU�DTXL"�2�TXH�YRFr�SUHWHQGH�
HQFRQWUDU�DTXL"�2�TXH�PRELOL]RX�YRFr�TXH�WH�GHX�YRQWDGH�GH�YROWDU�D�HVWXGDU�RX�WH�
IH]�SHUFHEHU�TXH�HUD�LPSRUWDQWH�FRPHoDU�D�HVWXGDU"�
$t�D�IDOD�GHOHV�UHÁHWH�D�SHUFHSomR�GH�TXH�QmR�VmR�YDORUL]DGRV�QD�VRFLHGDGH�SRU�
FDXVD�GR�WLSR�GH�WUDEDOKR�TXH�FRVWXPD�DSDUHFHU��YDUUHU�UXD�HWF��7UDEDOKRV�TXH�QmR�
VmR�´UHFRQKHFLGRVµ�QD�VRFLHGDGH��(X�FRPHoR�HQWmR�D�TXHVWLRQDU�HVVDV�LGHLDV��
- Como assim, não vale nada? Às vezes, tarde da noite, quando estou deitada na 
cama e escuto o barulho do caminhão do lixo, me pergunto: Puxa... quem será que está 
WUDEDOKDQGR�D�HVVD�KRUD�OLPSDQGR�QRVVDV�UXDV"��9RFrV�QmR�DFKDP�TXH�p�LPSRUWDQWH"�
Dessa forma, eu vou chegando neles... a aula vai se estruturando por meio de um 
resgate das histórias de vida, tentando aproveitar cada momento para valorizar o 
TXH�Mi�À]HUDP�DWp�HQWmR��$t�HX�GLJR����WXGR�LVVR�YRFrV�À]HUDP�VHP�VDEHU�OHU��,PDJLQH�
quando vocês puderem ler?! Falta muito menos do que vocês imaginam! 
Stella 
Meixner, 
professora da
EJA 
26
4. A aula não se confunde com os seus atores.
A aula não é um espaço do professor, mas 
WDPEpP�QmR�p�R�PRPHQWR�H[FOXVLYR�GRV�DOXQRV��
e�XP�HVSDoR�GH�FRQYHUVD��GH�GLiORJR��SRUpP��
QmR�GH�XP�GLiORJR�HQWUH�LJXDLV��e�R�PRPHQWR�GH�
apresentação e vivência de diferentes graus de 
FRQKHFLPHQWR��3DXOR�)UHLUH�GL]�TXH�R�UHVSHLWR�
TXH�R�SURIHVVRU�Gi�DR�DOXQR�H�VXD�YDORUL]DomR�GR�
saber do outro não o reduz a ser o mesmo que 
R�RXWUR�� HP� WHUPRV�GH� VDEHU��6mR� VDEHUHV�TXH�
trazem elementos complementares e diversos e 
TXH�Vy�WrP�VHQWLGR�VH�HVWLYHUHP�HP�GLiORJR��(Q-
WUHWDQWR��R�SURIHVVRU�WHP�R�TXH�GL]HU��7XGR�DFRQ-
tece a partir do que sabe, do que ouve, do que 
considera, do saber local, do saber dos alunos, 
GD�FODVVH��PDV�HP�GLiORJR�FRP�R� VHX�SUySULR�
saber e com o currículo.
2�TXH�HVWi�QR�IXQGR�GD�GLVFXVVmR�p�TXH�D�
escola é, sim, um aparelho reprodutor de to-
dos os modelos de sociedade. É um aparato 
para a importante, quase imprescindível, im-
SODQWDomR�GH�TXDLVTXHU�H��GH�WRGRV�RV��VLVWH-
mas econômicos. É um braço cooptador dos 
PRGHORV�LGHROyJLFRV�RX�UHOLJLRVRV��1R�HQWDQ-
WR��LGHQWLÀFDU�D�HVFROD�FRP�XP�GDGR�PRGHOR�
ou uma proposta da sociedade, desconside-
UDQGR�VHX�FDUiWHU�FRQWUDGLWyULR��p�HQWUHJi�OD�D�
um dos lados da contenda social que luta pela 
hegemonia da sociedade. 
A escola é um espaço de conquista, de luta, as-
sim como a aula, elemento essencial em seu inte-
rior. Ela é um espaço de disputa política. 
O QUE É A AULA?
'HÀQLQGR�D� �SURYLVyULD� H� VLPSOLÀFDGD-
PHQWH���SRGH�VH�GL]HU�TXH�D�DXOD�p�XP�DP-
biente envolvendo alunos e mestres que or-
ganizam uma sequência de conhecimentos 
com uma estrutura que contém as seguintes 
SRVVLELOLGDGHV�H[SRVLWLYDV�H�DUJXPHQWDWLYDV�
a)�2�FRQWH[WR�H�D�SUREOHPDWL]DomR�
b)�([SOLFDomR��DV�SUiWLFDV�H�D�KLVWyULD�
c)�$�UHÁH[mR��RV�DUJXPHQWRV��DV�VROXo}HV�
d)�&RQFOXV}HV��VtQWHVHV�H�QRYRV�GHVDÀRV��XWRSLDV�
Diversos e ricos nomes podem ser da-
dos a esses quatro tópicos. Mas, indepen-
dentemente de sua nomenclatura, serão 
DSUHVHQWDGDV� DOJXPDV� H[SOLFLWDo}HV� GH�
seus significados.
1D�SUy[LPD�HGLomR�GH�0DJLVWpULR�� DSUR-
fundaremos esses conceitos que constituem 
o núcleo duro e essencial de uma aula e, 
SULQFLSDOPHQWH�� WUDWDUHPRV� GD� DXOD�H[SDQ-
GLGD��LVWR�p��GDV�DOWHUQDWLYDV�GLGiWLFDV�H�SH-
dagógicas que podem ser construídas em 
WRUQR� GHVWH� Q~FOHR��$Wp� Oi�� FRQWDPRV� FRP�
VHXV�FRPHQWiULRV�H�FRQWULEXLo}HV�D� UHVSHL-
to, no website�GD�'27�²�KWWS���IRUXP�VPH�
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WŽŶƟİĐŝĂ�hŶŝǀĞƌƐŝĚĂĚĞ��ĂƚſůŝĐĂ�ĚĞ�^ĆŽ�WĂƵůŽ͗�^ĆŽ�WĂƵůŽ͕�ϭϵϴϵ͘
RAMOS, Graciliano. Infância. 37. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
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Z�s/^ d���ƌĂƐŝůͲ�ƵƌŽƉĂ�ʹ ��ŽƌƌĞƐƉŽŶĚġŶĐŝĂ��ƵƌŽͲ�ƌĂƐŝůĞŝƌĂ �͕ϭϰϭ�;ϮϬϭϯ͗ϭͿ͘�Disponível em: <www.revista.brasil-europa.eu>. Acesso em: 17 fev. de 2013.
 
Aprender com o corpo. (X�VHPSUH� IXL�PXLWR�FXULRVD��PDV�
WDPEpP�EDVWDQWH�WtPLGD��3HOR�IDWR�GH�QmR�WHU�LQFHQWLYR�HP�FDVD��HX�WDPEpP�
WLQKD�PXLWD�GLÀFXOGDGH�SDUD�DSUHQGHU��
0H�PDUFRX�XP�PRPHQWR�QD�TXDUWD�VpULH��FRP�D�SURIHVVRUD�GH�&LrQFLDV��TXDQGR�
WLYHPRV�XPD�DXOD�GH�GDQoD��0H�LGHQWLÀTXHL�FRP�HOD��XPD�PRoD�H[LJHQWH��TXH�VDELD�
separar muito bem quando era o momento de conversar e quando precisávamos es-
WDU�HP�VLOrQFLR�SDUD�HVWXGDU�RX�OHU��1HVVDV�KRUDV��HOD�QmR�QHJRFLDYD����QyV�WtQKDPRV�
TXH�ID]HU�D�QRVVD�SDUWH��0DV�DV�DXODV�YDOLDP�PXLWR�D�SHQD�SRUTXH�HOD�WLQKD�R�GRP�GH�
PXGDU�D�URWLQD�SURSRQGR�FRLVDV�GLIHUHQWHV��GHVDÀDGRUDV��H�VHPSUH�WUD]LD�DOJR�QRYR��
uma leitura, um recorte de jornal, a que a gente da periferia não tinha acesso. 
3DUD�PLP�HUD�DOJXpP�PXLWR�JUDQGH��SRUTXH�IDODYD�WDPEpP�GH�0DWHPiWLFD��IDOD-
va de História ia viajar nas férias e contava sobre como havia sido a viagem. Com-
SDUWLOKDYD�FRP�D�JHQWH�R�VHX�FRQKHFLPHQWR�GD�YLGD��H�DFKR�TXH�HGXFDomR�p�LVVR��QmR�
p�Vy�ÀFDU�QD�HVFROD��$�HGXFDomR�p�R�PXQGR��
5HFHQWHPHQWH��À]�XPD�YLDJHP�H�PH�OHPEUHL��QD�KRUD��GDV�DXODV�GH�&LrQFLDV��8P�
lugar que ela tinha ido, tinha mostrado as fotos da sua viagem há décadas, e eu 
JXDUGHL�LVVR�QD�PLQKD�PHPyULD��JXDUGHL�HVVD�OHPEUDQoD��'H�DOJXPD�PDQHLUD��HOD�
me contagiou com o seu entusiasmo por ter conhecido um lugar diferente, onde se 
IDODYD�XPD�RXWUD�OtQJXD��
5HWRPDQGR�R�PRPHQWR�HP�TXH�HVVD�SURIHVVRUD�RUJDQL]RX�D�DSUHVHQWDomR�GH�GDQ-
oD��SHUFHER�FRPR�DTXLOR�IRL�LPSRUWDQWH��6HQGR�FXULRVD��SHUFHEL�TXH�DOL�HVWDYD�XPD�
chance de deixar a minha timidez de lado para me abrir a um outro jeito de aprender 
TXH�HUD�H[WUDRUGLQiULR��$�P~VLFD�DWp�KRMH�HX�PH�OHPEUR����HUD�LQVWUXPHQWDO��$�URXSD�
TXH�D�JHQWH�XVRX�WDPEpP�ÀFRX�QD�PHPyULD��XPD�VDLD�YHUPHOKD�VREUH�XPD�URXSD�
DJDUUDGLQKD�SUHWD��(VVD�H[SHULrQFLD�FRP�RV�PRYLPHQWRV�GR�FRUSR�PH�PDUFRX�DWp�
hoje. Quando visito as escolas que supervisiono, não concordo ao ver os alunos ali 
VHQWDGRV�GHQWUR�GD�VDOD�GXUDQWH�TXDWUR�RX�VHLV�KRUDV��(OHV�SUHFLVDP�VH�PRYLPHQWDU�
Como supervisora, eu gosto de percorrer a escola e conhecer as atividades 
GDV�FULDQoDV�QDV�YLVLWDV��4XDQGR�YRFr�REVHUYD�FRPR�D�FULDQoD�HVWi�SURGX]LQ-
GR��GH�DFRUGR�FRP�RV�UHJLVWURV��ÀFD�PXLWR�FODUR�QRV�WUDEDOKRV�GHOD�TXDQGR�HVWi�
RFRUUHQGR�R�GHVHQYROYLPHQWR�TXH�D�JHQWH�WDQWR�HVSHUD��0H�LQWHUHVVD�DFRPSD-
nhar como as pessoas estão aprendendo lá. Quero ver como o projeto pedagó-
JLFR�FKHJD�GH�YHUGDGH�QD�YLGD�GD�FULDQoD��DWUDYpV�GR�TXH�HODV�UHDOL]DP��PHVPR�
que seja no momento de brincar. Às vezes nem precisa ver o caderno! Só de con-
versar com o aluno já dá para perceber se ele gosta ou não de lá, se está inserido 
nas aulas de verdade. A gente também sente como está a escola, conversando 
FRP�DV�SURIHVVRUDV��(ODV�VHPSUH�GmR�DOJXP�MHLWR�GH�UHFODPDU�VREUH�DOJR�TXH�QmR�
está bem, ou elogiam o que acham bom.
�ƌŝƐƟŶĂ
Aguiar, 
supervisora de
ensino Escolar
aulas-cenas
Luis Carlos de Menezes 
Professor e orientador na Pós 
*UDGXDomR�QD�863��'RXWRU�HP�
)tVLFD�FRQVXOWRU�GD�81(6&2�SDUD�
UHIRUPXODomR�FXUULFXODU�GD�HVFROD�EiVLFD�
PHPEUR�GR�&RQVHOKR�7pFQLFR�
&LHQWtÀFR�SDUD�(GXFDomR�%iVLFD�GD
&$3(6�0(&��DXWRU�GH�OLYURV�VREUH�
IRUPDomR�GH�SURIHVVRUHV��VREUH�ItVLFD
e sobre a universidade brasileira.
28
29
Não as penso isoladas
dadas
0DV�WUHFKRV�GH�SHUFXUVRV
cursos
Não frases de poemas
temas
0DV�REUDV�FROHWLYDV
vivas
Professores Produtores 
&RQWLGDV� HP� XP� WHPSR� OLPLWDGR�� DXODV�
VmR�WUHFKRV�GH�XP�SHUFXUVR�TXH�OKHV�Gi�VLJ-
QLÀFDGR� H�� DLQGD� TXH� FRQFHELGDV� SRU� TXHP�
YDL�FRQGX]L�ODV��HODV� VmR�H[SHULrQFLDV�FROH-
WLYDV�� QmR� DQWHFLSiYHLV�� 0DV� FRPR� QmR� Ki�
jornada sem projeto, cada aula deve ser pla-
nejada como se os professores fossem pro-
GXWRUHV� GH� XP� ÀOPH�� SURJUDPDGR� DQWHV� GH�
se conhecerem os atores, seus novos alunos, 
esses imprevisíveis seres singulares.
As aulas são as cenas, as etapas são os 
HSLVyGLRV�H�R�ÀOPH�p�D�UHDOL]DomR�GH�WRGRV��
2V� DOXQRV� VmR� D� XP� Vy� WHPSR� RV� LQWpUSUH-
tes, os iluminadores, os câmeras, partícipes 
ativos da obra coletiva de aprender. As pri-
meiras aulas servirão para a preparação do 
elenco, as seguintes são como ensaios, até 
TXH�WRGRV�SRVVDP�SDUWLFLSDU�SUD�YDOHU�GD�ÀO-
magem do que foi previsto no roteiro. 
1D�SURSRVLomR�GDV�DWLYLGDGHV�TXH�FRQVWUR-
em o aprendizado, a professora ou o professor 
tem, sobretudo, a função do produtor, mas, em 
cada aula, eles dirigirão as cenas e seus alu-
nos serão seus protagonistas e coadjuvantes, 
R�HVSHWiFXOR�IRUPDWLYR�VHQGR�DLQGD�PHOKRU�VH�
WRGRV�À]HUHP�FRQVFLHQWHPHQWH�VHXV�SDSpLV��
A partir da compreensão de que apren-
de quem faz, todos serão estimulados a fa-
zer o que promova seu aprendizado. Assim, 
organiza-se a ação para que, conversando 
e lendo, aprenda-se a falar e ler; contando 
e avaliando, aprenda-se a calcular, usando 
mapas, aprenda-se a se localizar e deslocar; 
trabalhando junto, aprenda-se a cooperar. É 
DVVLP�� QR� FRQWH[WR� H� D� VHUYLoR� GH� XPD� VH-
quência mais ampla, que cada aula-cena é 
concebida.
Recepção e Apresentação do Roteiro 
As primeiras aulas são momentos de co-
nhecimento recíproco. Especialmente se a 
turma é nova, os alunos começam a se co-
QKHFHU�HP�GLiORJRV��DGHTXDGRV�D�FDGD�IDVH��
tratando temas de interesse comum. E en-
IUHQWDQGR�GHVDÀRV�O~GLFRV��HOHV�UHYHODP��QR�
início de cada período, conhecimentos pré-
vios, habilidades e traços de personalidade. 
1HVVD�HWDSD��DYDOLD�VH�D�FRQGLomR�GH�FKHJDGD�
e também os professores se fazem conhecer, 
JDQKDQGR�D�FRQÀDQoD�GD�WXUPD��VH�VRXEHUHP�
revelar liderança e compreensão.
Essa fase de recepção vai gradualmente 
sendo sucedida pelos primeiros ensaios e, em 
VHJXLGD�� SHOR� GHVHQYROYLPHQWR� GR� URWHLUR�� j�
PHGLGD� TXH� VH� Yi� FRQKHFHQGR� R� HOHQFR�� RX�
seja, as características e diferentes condições 
GH�HQWUDGD�GRV�HVWXGDQWHV��$�SDUWLU�GLVVR��VHUi�
possível propor uma variedade de atividades 
para que todos encontrem as que os motivem 
H�GLDQWH�GDV�TXDLV�HVWHMDP�j�YRQWDGH��
3RU�H[HPSOR��QXPD�WXUPD�HP�TXH�D�PDLR-
ULD� Mi� HVWHMD� HVFUHYHQGR�� XPD� FULDQoD� FRP�
LQVXÀFLHQWH� FRQGLomR� GH� DOIDEHWL]DomR� SRGH�
VHU� HVWLPXODGD� D� GHVHQKDU� H� D� VH� H[SUHVVDU�
RUDOPHQWH�j�PHGLGD�HP�TXH�YDL�DFHUWDQGR�R�
passo. Da mesma forma, um jovem carecendo 
de conhecimentos prévios para uma atividade 
coletiva pode ser encorajado a apoiar seu gru-
po mobilizando outra habilidade, como orga-
nizar e distribuir tarefas ou fazer buscas em 
ambientes virtuais. 
5HFRQKHFHU� H� UHJLVWUDU� D� FRQGLomR� GH�
entrada e propor a diversidade de possibi-
OLGDGHV� GH� HQJDMDPHQWR� HP� SUiWLFDV� FROHWL-
vas evita que alguns se sintam incapazes de 
30
acompanhar os primeiros movimentos de seu 
grupo e, por conta disso, se autossegreguem 
ou sejam segregados. Uma mera diferença 
de ritmo pode resultar em defasagem perma-
nente, por isso é preciso adequar atividades 
a cada aluno para que a turma possa avançar 
VHP�GHL[DU�QLQJXpP�SDUD�WUiV�
1R� PRPHQWR� DGHTXDGR�� RV� SURIHVVRUHV�
devem sinalizar o trajeto a ser percorrido, até 
mesmo por escrito. Mesmo crianças pequenas 
podem compreender o sentido de cada cena, 
se toda aula for sempre percebida como um 
FRQYLWH�SDUD�SDUWLFLSDomR�YROXQWiULD��7DPEpP�
suas famílias podem acompanhar o previsto 
e o realizado. Em turmas mais avançadas, é 
SRVVtYHO� H[SOLFLWDU� GLUHWDPHQWH� DRV� DOXQRV� R�
roteiro e sua mensagem, contando o que se 
vai aprender em cada etapa ao realizar quais 
DWLYLGDGHV��6H�RV�REMHWLYRV�GR�DSUHQGL]DGR�IR-
rem compartilhados, pode-se ganhar cumpli-
cidade e corresponsabilidade para cumpri-los.
Primeiros Episódios para 
Construir o Elenco
As primeiras etapas de um curso são sem-
pre as mais importantes, porque nelas os es-
WXGDQWHV� GHVHQYROYHP� FRQÀDQoD� RX� WHPRU��
HVSHUDQoD�RX�GHVFRQÀDQoD��UHFHSWLYLGDGH�RX�
preconceito. A atitude de quem ensina é tão 
importante quanto suas ações, como nas pri-
PHLUDV� FHQDV� GH� XP�ÀOPH� HP�TXH�� FRP�XP�
VLPSOHV� ROKDU�� R� SHUVRQDJHP� FHQWUDO� Mi� SUH-
QXQFLD� VHX� FDUiWHU�� 3URIHVVRUHV� QmR� SRGHP�
subestimar a importância de sua centralidade, 
que faz, de cada gesto, algo simbólico; espe-
cialmente, uma impressão inicial que pode se 
mostrar irreversível.
�3RGHPRV��HQWmR��GLVFXWLU�R�TXH�p�GLUL-
gir a cena. Antes de tudo, é ter clareza de 
que os protagonistas e coadjuvantes são 
os alunos, e de que quem dirige atento 
ao script escolhe as linguagens a serem 
empregadas e os conceitos a serem apren-
didos. E cumprir o roteiro, que é função 
do professor, é preparar a ação de quem 
LQWHUSUHWD��2�DWR�GH�HQVLQDU� Vy� VH� UHDOL]D�
QR�DWR�GH�DSUHQGHU��R�TXH�HVWi�ORQJH�GH�VHU�
óbvio, mesmo que pareça. 
&RP�HVVD�FRPSUHHQVmR��TXHP�GLULJH�QmR�
VH�SHUJXQWD�R�TXH�GHYHUi�ID]HU�HP�FHQD��PDV�
VLP�R�TXH�OHYDUi�RV�DWRUHV�D�ID]HUHP�VHX�SDSHO�
e, se estes erguerem a voz em hora imprópria 
RX�VH�PRVWUDUHP�DSiWLFRV��GLULJLU�QmR�p�UHDJLU�
D� JULWRV� FRP�JULWRV�� RX� j� DSDWLD� FRP�DSDWLD��
mas orientar a interpretação correta com deli-
FDGH]D��ÀUPH]D�H�FRPSUHHQVmR��
Estabelecida essa relação de trabalho, po-
GH�VH�GL]HU�TXH�R�HOHQFR�HVWi�SUHSDUDGR��QmR�
porque daí para frente seja mera rotina, mas 
SRUTXH�DV�DWLWXGHV�EiVLFDV�WHUmR�VLGR�DSUHQ-
didas, as regras de convívio estabelecidas 
H� WRGRV� Mi� WHUmR� VH� SHUFHELGR� UHVSRQViYHLV�
pelos resultados. Essa etapa formativa pode 
levar algum tempo, mas vale cada instante 
empregado, pois os professores poderão, 
então, prosseguir seu trabalho com a turma 
SUHSDUDGD�� 3DUD� R� VXFHVVR� RX� LQVXFHVVR� GR�
DSUHQGL]DGR� GH� WRGRV�� R� HVIRUoR� GH� ´FRQV-
WUXLU�D�WXUPDµ�ID]�WRGD�D�GLIHUHQoD�
Realizar e Avaliar ao Mesmo Tempo
1D�SURGXomR�GH�XPD�REUD�FROHWLYD��FRPR�
o conduzir do aprendizado de uma turma de 
DOXQRV��p�LQVHQVDWR�GHL[DU�D�DYDOLDomR�GR�WUD-
balho para depois da conclusão ou, por assim 
GL]HU��GHOHJDU�LVVR�´Vy�SDUD�D�FUtWLFDµ��*DUDQ-
WH�VH� r[LWR� TXDQGR� VH� DYDOLD� FRQWLQXDPHQWH�
R� TXH� VH� ID]�� FRP� XP� HQWHQGLPHQWR� EiVLFR�
de que conduzir aulas, como dirigir cenas, é 
H[HUFHU�FRQWtQXD�DYDOLDomR�
6H�XPD�DWLYLGDGH� ItVLFD� HQYROYH� FRUUHU� H�
VDOWDU��HOD�SUySULD�Gi�HOHPHQWRV�SDUD�VHU�DYD-
liada e basta um registro regular do alcança-
GR�� VHP� TXH� VHMD� QHFHVViULD� XPD� ´SURYD� GH�
Muito além do discurso. “As aulas mais legais acontecem quando 
a gente pode fazer coisas diferentes, além de escrever como, por exemplo, montar coisas. 
1R�DQR�SDVVDGR�À]HPRV�XP�PRGHOR�GH�SXOPmR����HVWXGDPRV�FRPR�IXQFLRQD�R�GLDIUDJPD�
H�R�SXOPmR��9LPRV�FRPR�XP�p�HVVHQFLDO�SDUD�R�RXWUR��0RQWDPRV�FRP�JDUUDID�SHW��EH[LJD�
e uma caneta. Foram utilizadas duas aulas pra fazer. Saímos da sala para testar o experi-
PHQWR�QD�iJXD��9LPRV�FRPR�IXQFLRQDYD�R�QRVVR�SXOPmR�TXDQGR�D�JHQWH�SUHFLVD�SUHQGHU�
D�UHVSLUDomR��3RU�H[HPSOR��TXDQGR�HVWDPRV�QDGDQGR��$�JHQWH�ÀFDYD�FRQWDQGR�RV�PLQXWRV�
SUD�FKHJDU�HVVD�DXOD��SRUTXH�HUD�PXLWR�OHJDO��2XWUD�DWLYLGDGH�TXH�À]HPRV�QR�DQR�SDVVDGR�
IRL�GXUDQWH�DV�DXODV�GH�*HRJUDÀD��)L]HPRV�XP�GLiULR�GH�ERUGR�FRPR�VH�D�JHQWH�WLYHVVH�
YLDMDGR��SHOD�(XURSD��(VFROKHPRV����SDtVHV�GH�UHJL}HV�GLIHUHQWHV�H�SHVTXLVDPRV��WXGR�VREUH�
FDGD�XP�GHOHV��KDELLWDQWHV��FRPLGDV��GDQoDV��WXGR��7LQKD�TXH�SHVTXLVDU�FRPR�VH�D�JHQWH�
WLYHVVH�YLDMDGR�SRU�Oi���DWp�XP�QRPH�GH�XP�KRWHO�SUD�ÀFDU���$�JHQWH�WHUPLQRX�XP�SRXTXLQKR�
DQWHV�GDV�IpULDV��0RQWDPRV�SDLQpLV�FRP�WXGR�LVVR��3DUHFLD�TXH�WtQKDPRV�HVWDGR�Oi�µ
Hanna Monteiro, 
aluna da 8a. Série 
João Otávio Correia, 
aluno da 6a. Série 
Vitória 
Alencar dos 
Santos
aluna da 
8a. Série 
´(X�JRVWR�PDLV�GDV�DXODV�GH�0DWHPiWLFD�SRUTXH�R�SURIHVVRU�H[SOLFD�DWp�D�JHQWH�
entender, quantas vezes precisar. Até aqueles que iam mal antes agora conseguem 
aprender. Existe uma turma especial à tarde só para quem quer se preparar para 
HQWUDU�QDV�HVFRODV�WpFQLFDV��TXDQGR�IRUPRV�SDUD�R�(QVLQR�0pGLR���HX�TXHUR�ID]HU�
5REyWLFD��1HVVDV�DXODV�HOH�SDVVD�H[HUFtFLRV�TXH�FDHP�QR�YHVWLEXODU��$�FDGD�VHPDQD�
WHP�XP�GLIHUHQWH�SDUD�UHVROYHU�DWp�D�SUy[LPD�DXOD��6mR�PXLWR�GLItFHLV��0DV��HX�JRVWR�
GR�GHVDÀR�GH�WHQWDU�UHVROYHU����D�JHQWH�SUHFLVD�TXHEUDU�D�FDEHoD��
7HYH�XP�GLD�TXH�HOH�SDVVRX�XP�SUREOHPD�QHVVD�DXOD�HVSHFLDO�TXH�HUD�WmR�FRP-
SOLFDGR�TXH�QLQJXpP�VDELD�FRPR�ID]HU��7LQKD�TXH�GHVFREULU�XPD�IRUPD�GH�FRORFDU�
algumas linhas dentro de um quadrado sem que nenhuma delas se cruzasse com as 
RXWUDV��(X�IXL�SDUD�FDVD�H�ÀTXHL�SHQVDQGR�DWp�GHVFREULU�D�UHVSRVWD��1R�GLD�VHJXLQWH�
contei na sala como resolvia. Achei legal porque fui a única da turma que conseguiu 
UHVROYHU��'HSRLV�TXH�HX�FRQWHL�FRPR�À]�WRGR�PXQGR�DFKRX�IiFLO��0DV��WLQKD�TXH�SHQ-
VDU�EDVWDQWH�SDUD�FRQVHJXLU�FKHJDU�QR�UHVXOWDGR�µ
“Nós tivemos uma aula muito legal de Ciências. Cada um tinha que levar a folha de 
alguma árvore para a escola. O professor pegava cada folha e mostrava no livro qual era 
a árvore. Cada folha tinha uma página no livro. Aí ele explicou uma forma de desidratar 
a folha. A gente colocou um contact por cima para colar a folha na cartolina, com as ex-
plicações que estavam no livro: qual era o tipo daquela folha, de que tipo de planta era. 
$SUHQGL�XP�PRQWH�GH�FRLVD�OHJDO�FRP�HVVH�WUDEDOKR�µ��
Eu só ensinei se alguém aprendeu. “A aula está na raiz 
do processo pedagógico formal. Ela é, por excelência, a forma de trans-
missão da nossa bagagem cultural de uma geração para outra. Sua origem 
remonta aos primórdios da civilização, quando, em algum momento, aban-
donamos um sistema informal de aprendizagem, baseado apenas na obser-
vação, para um sistema formal no qual o detentor do conhecimento compar-
tilhava seu saber com os demais. 
Desde então a aula nos acompanha, de diferentes maneiras, em diferentes 
níveis, mas o fundamental é entender que ensinar não é um ato unilateral. É 
como vender. Eu só vendi alguma coisa se alguém a comprou, da mesma forma 
que eu só ensinei algo se alguém aprendeu. 
Pessoalmente, nunca deixei de dar aula, apesar da minha especialização em 
administração escolar e dos cargos que ocupei ao longo da minha carreira: 
inspetor escolar, diretor de grupo escolar, diretor regional de educação, Secre-
tário da Educação e agora presidente do Conselho Municipal de Educação. 
Ficaram para trás os meus anos de professor primário, marcadamente na 
zona rural. Depois de ter saído de Santos, minha cidade natal, minha famí-
lia mudou-se para Franca, onde cursei a escola normal, em uma escola de 
aplicação, onde, desde cedo, os alunos começavam a ensinar. Na época, esse 
HUD�XP�FXUVR�PDUFDGDPHQWH�IHPLQLQR��DV�FDUWHLUDV�HUDP�GXSODV�H�À[DGDV�QR�
chão, o professor se postava na frente e o quadro negro era um espaço de 
comunicação entre ele e os alunos. 
Assim que me formei, prestei concurso para professor primário. Sempre dei 
aula em escolas da zona rural. Era uma época em que as regiões do estado 
eram conhecidas pelas ferrovias - Sorocabana, Mogiana, Araraquarense etc 
- e a escola típica rural tinha programas de horta, pomar e criação. Nas áreas 
rurais, o professor tinha uma relação de proximidade maior com a comunida-
de, do fazendeiro aos empregados. Era comum uma relação de compadrio: 
SHUGL�D�FRQWD�GR�Q~PHUR�GH�DÀOKDGRV�TXH�WHQKR��(UD�WDPEpP�XPD�pSRFD�GH�
êxodo rural em direção às cidades. 
Dei aula no interior do Estado e também na Vila Ema, em São Paulo, região não 
menos rural à época. Cursei pedagogia na USP e me especializar em Administra-
ção Escolar, quando iniciei minha carreira de professor universitário na USP.
Para mim, a escola cntinua sendo a principal agência social para transmissão 
do conhecimento, e a aula ainda é sua ferramenta mais importante de comuni-
cação. É claro que aquela aula mais tradicional, expositiva, não é a única nem 
mesmo a mais relevante. A aula deve incorporar a tecnologia que, de certa forma,PRGLÀFD�R�SDSHO�GR�SURIHVVRU��TXH�SRGH�XWLOL]DU�QRYRV�UHFXUVRV�FRP�VXFHVVR�µ
João Gualberto 
de Carvalho 
Meneses é 
presidente do 
Conselho 
Municipal de 
Educação e 
professor há 
60 anos. 
33
VDOWR� H� FRUULGDµ� IHLWD� j� SDUWH��9DOH� R�PHVPR�
para coisas como redigir, calcular, elaborar ta-
EHOD�H�D�WUDQVSRU�HP�JUiÀFR��RX�H[SRU�HP�YR]�
alta uma argumentação. 
Em turmas grandes, no entanto, mestres le-
YDP�SURYDV�SDUD�FRUULJLU�HP�FDVD�SHOD�GLÀFXOGD-
GH�GH�DQDOLVi�ODV�HP�FODVVH��6HPSUH�TXH�SRVVt-
vel, vale a pena buscar alternativas a essa velha 
SUiWLFD��3RU�H[HPSOR��HP�FHUWDV�HWDSDV��D�IDPtOLD�
SRGH�VHU�FRQYLGDGD�SDUD�HVVD�DYDOLDomR��YHULÀ-
FDQGR�VH�DV�FULDQoDV�Mi�VDEHP�DMXGDU�D�RUJDQL]DU�
a lista de compras ou a dimensionar ingredientes 
para se produzir múltiplo ou submúltiplo de uma 
receita. Em etapas mais avançadas, podem ser 
SURSRVWRV�H[HUFtFLRV�GH�DXWRDYDOLDomR�RX�GH�DYD-
liação recíproca entre colegas, com a vantagem 
H[WUD�GH��HP�DOJXP�WHPSR��RV�HVWXGDQWHV�SHUFH-
berem que, sendo os principais interessados em 
DSUHQGHU��GHYHP�DQXQFLDU�VXDV�GLÀFXOGDGHV�SDUD�
serem superadas, não escondê-las.
+i�LPSRUWDQWHV�REMHWLYRV�IRUPDWLYRV��FRPR�
criatividade, iniciativa, coragem, perseverança 
ou companheirismo, que raramente são avalia-
GRV�� DWp� SRUTXH� UDUDPHQWH� HVWmR� H[SOLFLWDGRV�
no roteiro. Assim como para outras competên-
cias e conhecimentos, promover e avaliar estas 
qualidades não se faz com ações necessaria-
mente separadas. Uma sugestão possível se-
ria, em cada componente curricular, conceber 
episódios envolvendo missões que demandem 
concentração individual, aventuras pautadas 
SRU�GHVDÀRV�FROHWLYRV��RX�RXWUDV�DWLYLGDGHV�TXH�
SURPRYDP�H�SHUPLWDP�YHULÀFDU�YDORUHV�H�TXD-
OLÀFDo}HV�VRFLDLV�H�DIHWLYDV�
3URIHVVRUHV� SRGHP� DYDOLDU� HP� SURFHV-
so sua capacidade de dirigir, pelo clima de 
WUDEDOKR�TXH�FRQVHJXHP�HVWDEHOHFHU��3RGHP�
HVWLPDU� VXD� HÀFiFLD� IRUPDWLYD� FRPSDUDQ-
do cada episódio do roteiro que idealizaram 
FRP�R�TXH�GH�IDWR�UHDOL]DUDP��1RXWUDV�SDOD-
vras, a ação do professor se vê nos resultados 
conseguidos pelos estudantes em cada etapa, 
em comparação com sua condição inicial, eis 
PDLV�XPD�UD]mR�SDUD�UHJLVWUi�OD�
Quando Mudar Roteiros e Cenas
&RPR�TXDOTXHU�PHWiIRUD��D�TXH�IRL�DGRWDGD�
DTXL�SUHFLVD�VHU�UHODWLYL]DGD��(P�PXLWRV�ÀOPHV��
produtores, diretores e atores trabalham para 
JDQKDU�D�DWHQomR�GRV�HVSHFWDGRUHV��+i�WDPEpP�
escolas em que os alunos são meros espectado-
res. Essa condição é a que se deseja combater, 
pois as crianças e os jovens devem ser autores, 
mais do que atores, de sua peça pessoal e social. 
(QÀP��HP�XP�ERP�FXUVR�R�REMHWLYR�SULQFLSDO�p�
a formação de protagonistas.
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ralmente, os produtores trabalham em função 
de roteiro preestabelecido, de cenas imagina-
GDV���3HQVDQGR�URWHLUR�FRPR�FXUUtFXOR��RV�SUR-
fessores devem adequar seu projeto em função 
dos estudantes que recebem, que não podem 
ser mudados nem ser idealizados, e mudar seus 
SODQRV��TXDQGR�QHFHVViULR��
9ROWDQGR�j�LGHLD�FRP�TXH�IRL�LQLFLDGR�HVWH�
WH[WR��GH�TXH�R�SHUFXUVR�D�VHU�SODQHMDGR�HQYRO-
ve seres singulares e imprevisíveis, o trabalho 
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VHU�H[LJLGDV�PRGLÀFDo}HV�QR�URWHLUR�FRPR�XP�
todo, ou em uma aula-cena em particular, devi-
do a um incidente escolar, um assunto trazido 
SRU�XP�DOXQR��RX�j�SHUFHSomR�GH�TXH�DOJXP�RE-
jetivo não foi cumprido como previsto. 
Então, uma derradeira lição, para quem pla-
nejou um curso ou uma simples aula e se depa-
ra com algo novo, é a de se receber o imponde-
UiYHO�FRPR�FRLVD�QDWXUDO�QD�DYHQWXUD�GH�HGXFDU��
sem apego radical ao originalmente planejado. 
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cinema saibam fazer uso do acaso na condução 
de seu trabalho, o que constitui sabedoria das 
mais essenciais na arte de educar. 
34
políticas 
35
“CONSIDERAÇÕES SOBRE O CURRÍCULO E OS 
DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO 
DOS ALUNOS NA REDE MUNICIPAL DE SÃO PAULO: 
CONTEXTO E PERSPECTIVAS”
pedagógicas
curriculares
36
37
Nota introdutória. Esse texto tem o propósito de subsidiar as 
reflexões e debates a serem realizados pelos colegas educadores no esforço de 
construção coletiva das políticas educacionais para a Cidade de São Paulo.
Propositalmente, como logo se perceberá, não se trata de documento acabado 
que pretende abarcar todas as dimensões sobre essa temática tão complexa 
quanto essencial. Contudo, cuida-se de refletir sobre temas centrais como a 
formação dos educadores, a centralidade da AULA para os alunos, os profes-
sores e a escola, a qualidade da educação e a avaliação da qualidade, educação 
e as novas tecnologias, bem como a necessária articulação das políticas e pro-
gramas municipais com as do Estado e do Governo Federal.
As análises e contribuições que puderem ser formuladas a partir desse texto 
representarão uma participação importante para a Educação de Qualidade 
como Direito de Todos, objetivo maior de todos nós.
 
Secretaria Municipal de Educação
38
POLÍTICAS 
PEDAGÓGICAS
CURRICULARES
PARTE I
O CONTEXTO DO PAÍS E DA 
CIDADE E OS AVANÇOS 
DA EDUCAÇÃO
Apresentação
A proposição dos pilares de uma Política Peda-
gógica Curricular para o Município de São Paulo, 
na gestão do Prefeito Fernando Haddad, demanda 
contextualização do processo histórico que a pre-
cede, assim como não pode deixar de referenciar o 
contexto social, político e econômico no qual está 
inserida hoje. A composição desses fatores, soma-
da a um projeto político fundado nos valores da 
democracia, da equânime distribuição da cultura 
e das riquezas e da justiça social, resulta no pre-
sente documento, que ora se apresenta como uma 
afirmação dos pontos prioritários para a política 
educacional do município nos próximos 4 anos.
Em 2013, o Brasil completa 28 anos de regime 
democrático. O mais longo período da História 
Nacional, cuja referência principal é a construção 
do Estado de direito, de justiça, equidade social 
que absorvem atualmente 23% do PIB em prol 
da proteção e promoção social. O Brasil vem vi-
venciando na última década um círculo virtuoso 
de conquistas sociais e econômicas, aliando demo-
cracia e crescimento. Com a retomada do planeja-
mento, o crescimento da economia foi estruturado 
em um conjunto de inovadoras políticas públicas 
de redistribuição de renda e fortalecimento do 
tecido social, como o Bolsa Família que evoluiu 
positivamente para o programa Brasil sem Miséria 
e Brasil Carinhoso. Simultaneamente, a interven-
ção pública organizada e sistêmica se constituiu no 
pilar de irradiação dos investimentos em diversos 
setores produtivos, como por meio dos Planos de 
Aceleração do Crescimento (PAC I e II), entre 
outras iniciativas desenvolvimentistas. Por conta 
disso, o Brasil encontra-se atualmente entre as sete 
principais economias globais e entre as maiores 
democracias de massa do mundo.
A educação pública, no âmbito nacional, atra-
vessa na última década período de enfrentamento 
de questões históricas, principalmente no que se 
relaciona ao acesso. Houve avanços significativos 
no número de escolas construídas, na contrata-
ção de professores, na inclusão de crianças e jo-
vens com deficiências, na melhoria das condições 
da carreira dos professores e demais profissionais 
da Educação, na renovação do ensino médio no 
acesso das camadas mais pobres à Universidade, 
na expansão das redes de educação superior e da 
educação profissional e tecnológica, na ampliação 
de bolsas de mestrado e doutorado, programas de 
formação no exterior e com o programa Ciências 
Sem Fronteiras. Podem ser mencionados, ainda, 
a ampliação do valor da merenda escolar,

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