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No início da segunda década do século XXI, faz falta – para uma Rede do tamanho da nossa - uma revista que se estabeleça como fonte contínua de comunicação e de debate sobre os temas relevantes da Educação, integrando os Educadores, nas Unidades Escolares, e a SME, em início de gestão. Ideias e diretrizes, debates e recomendações, reflexões e críticas terão nesta Revista um espaço aberto. A DOT desenvolverá, por meio dela, seu caráter orientador, cuidando de Currículo, Avaliação e Formação, expandindo o diálogo sobre nosso maior interesse e compromisso: o ALUNO, em sua formação para a cidadania, por meio do Ensino – Aprendizagem. Esta Revista retrata os grandes eixos da DOT: o Currículo, que norteia as nossas práticas; a Avaliação, que proporciona o aprofundamento do senso crítico sobre nosso trabalho; e a Formação, que permite nossa aproximação do Ensino. Aprendizagem de forma competente. Desconstruída nas últimas décadas, a aula tem sido apontada, tan- to pela "esquerda" como pela "direita" (entre aspas mesmo) como a grande vilã das mazelas do nosso sistema educacional. Para muitos, ela é pasteurizadora (não considera os diferentes tempos de aprendizagem dos alunos), autoritária (o conhecimento é transmitido de cima para baixo), elitista (nivela por cima, segregan- do os alunos que não conseguem acompanhá-la) e, nas visões mais "moderninhas", aborrecida, desestimuladora, pouco participativa. O resultado das dúvidas e incertezas quanto ao papel da aula e, por consequência, do professor, é que muitas vezes os cursos acabam sendo um conglomerado de atividades que, vistas isoladamente, po- dem até ser atraentes e de bom conteúdo, mas que, no seu conjunto não garantem a formação do aluno dentro das expectativas curricu- lares e das competências desejadas para ele. Resgatar o sentido original da aula, sua estrutura essencial e função no processo pedagógico é, mais do que uma contribuição, uma obrigação de todos os educadores empenhados no processo de melhoria contínua do ensino público. PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA DA SME PARA OS PROFESSORES DA REDE DE ENSINO DA CIDADE DE SÃO PAULO aonde aonde anda a aula? anda a aula? 1 anda a aula? Questionada, debatida, maltratada e malquerida, a aula ainda é instrumento fundamental para a construção do conhecimento magismagistériotériomagistériomagismagistériomagistériotériomagistériomagis http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/revistamagisterio CAPA E ORELHA FINAL.indd 1 03/12/13 18:40 2014. No início da segunda década do século XXI, faz falta – para uma Rede do tamanho da nossa - uma revista que se estabeleça como fonte contínua de comunicação e de debate sobre os temas relevantes da Educação, integrando os Educadores, nas Unidades Escolares, e a SME, em início de gestão. Ideias e diretrizes, debates e recomendações, reflexões e críticas terão nesta Revista um espaço aberto. A DOT desenvolverá, por meio dela, seu caráter orientador, cuidando de Currículo, Avaliação e Formação, expandindo o diálogo sobre nosso maior interesse e compromisso: o ALUNO, em sua formação para a cidadania, por meio do Ensino – Aprendizagem. Esta Revista retrata os grandes eixos da DOT: o Currículo, que norteia as nossas práticas; a Avaliação, que proporciona o aprofundamento do senso crítico sobre nosso trabalho; e a Formação, que permite nossa aproximação do Ensino. Aprendizagem de forma competente. PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA DA SME PARA OS PROFESSORES DA REDE DE ENSINO DA CIDADE DE SÃO PAULO 1 Questionada, debatida, maltratada e malquerida, a aula ainda é instrumento fundamental para a construção do conhecimento magis http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/revistamagisterio CAPA E ORELHA FINAL.indd 1 03/12/13 18:40 2014. 3 A propósito de Magistério. É bom sempre começar pela origem, no caso D�HWLPROyJLFD��$�SDODYUD�PDJLVWpULR�TXHU�GL]HU�R�OXJDU�RQGH�ÀFDP�RV�´PDLVµ��2V�PDLV�ViELRV��PDLV� JUDGXDGRV��PDLV�LPSRUWDQWHV��HP�RSRVLomR�D�PLQLVWpULR��OXJDU�GRV�VHFXQGiULRV�H�VXEDOWHUQRV��,VWR�� evidentemente, na sua origem greco-latina, porque, ao longo da nossa história, os papéis foram se invertendo: hoje, na nossa cultura, a percepção é a de que ministros têm maior importância que os magistros, ainda que, em civilizações singulares, como a japonesa, o professor é o único súdito que QmR�QHFHVVLWD�VH�FXUYDU�GLDQWH�GR�,PSHUDGRU�� (PERUD�LVVR�SDUHoD�XP�VLPSOHV�MRJR�GH�SDODYUDV��GH�SUHÀ[RV�RX�GH�VXÀ[RV��TXHUHPRV�UHVJDWDU� DTXL�R�VHQWLGR�GD�SDODYUD�H�GD�IXQomR���0$*,67e5,2�� 2�PDJLVWUR�²�PDHVWUR���UHJH��Gi�R�WRP��ID]�D�RUTXHVWUD�H[HFXWDU�KDUPRQLRVDPHQWH�XPD�P~VLFD�� registrada em uma partitura, que ele interpreta e incentiva que os músicos compreendam. Ele não é, em geral, o compositor da peça musical, mas consegue tirar de um emaranhado de pautas, notas, QRWDo}HV�JUiÀFDV�H�DFRUGHV�HVFULWRV��KDUPRQLD��EHOH]D��HPRomR�H�YLGD��(OH�QmR�DSHQDV�Or�DV�SDUWL- WXUDV��PDV�DV�LQWHUSUHWD���'Dt�D�UD]mR�GH�VHX�QRPH�´PDJLVµ��&RPHQLXV��R�SDL�GD�GLGiWLFD�PRGHUQD�� Mi�QR�VpFXOR�;9,,��GL]LD�HP�VXD�Didática Magna, que: “...assim como qualquer organista executa qualquer sinfonia, olhando para a partitura, a qual talvez ele não fosse capaz de compor, nem de executar de cor só com a voz ou com o órgão, assim também porque é que não há de o professor ensinar na escola todas as coisas, se tudo aquilo que deverá ensinar e, bem assim, os modos como o há de ensinar, o tem escrito como que em partituras?” ,QGHSHQGHQWHPHQWH�GD�RULJHP�GD�SDODYUD�H�GD�HYROXomR�GH�VHX�VLJQLÀFDGR�KLVWyULFR��D�PDHVWULD�� o magistério ou o magistrado é função fundamental nas sociedades humanas, quaisquer que sejam HODV�H�TXDOTXHU�TXH�VHMD�R�HVWiJLR�HP�TXH�HVWLYHUHP��2�VHU�KXPDQR�QmR�QDVFH�SURQWR�H�D�IDPtOLD�QmR� é a única agência socializadora. Aquele que ensina, que carrega e transmite os valores sociais que GmR�VLJQLÀFDGR�j�YLGD�QmR�SRGH�WHU�RXWUR�UHFRQKHFLPHQWR�TXH�QmR�R�GH�´PDJLVµ��1RVVD�UHYLVWD�QmR� é apenas um instrumento de formação do professor mas, em seu nome, quer levar uma homenagem a ele e a todos que são fundamentais em sua tarefa de ensinar e de construir novos conhecimentos. 1HVVH�VHQWLGR��D�UHYLVWD�0DJLVWpULR�p�SDUD�WRGRV�RV�TXH�FRQWULEXHP�SDUD�D�GLItFLO��LPSRUWDQWH�H�H[L- gentíssima tarefa de Educar, por meio da docência. � (48,3(�'27� ',5(725,$�'(�25,(17$d®2�7e&1,&$�² &855Ì&8/2���$9$/,$d®2�(�)250$d®2� 6mR�3DXOR��IHYHUHLUR�GH������ 4 PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA DA SME PARA OS PROFESSORES DA REDE DE ENSINO DA CIDADE DE SÃO PAULO CRIAÇÃO E EDIÇÃO ALFREDO NASTARI REPORTAGEM DANIEL AMADEI ICONOGRAFIA TEMPO COMPOSTO ARTE LEDA TROTA IMPRESSÃO E ACABAMENTO IM magistério Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Código da Memória Técnica: SME05/2014 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Magistério / Secretaria Municipal de Educação. – São Paulo: SME / DOT, 2014 52p.:il. �ŝďůŝŽŐƌĂĮĂ Publicacão periódica da Diretoria de Orientação Técnica–Currículo, Avaliação e Formação ISBN 978-85-60686-88-9 ϭ͘��ĚƵĐĂĕĆŽ�Ϯ͘^ŽĐŝŽůŽŐŝĂ�ĞĚƵĐĂĐŝŽŶĂů�ϯ͘��ƵůĂʹDŽƟǀĂĕĆŽ�/͘�dşƚƵůŽ CDD 370.193 PREFEITO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO FERNANDO HADDAD SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO CESAR CALLEGARI SECRETÁRIA ADJUNTA DE EDUCAÇÃO JOANE VILELA PINTO CHEFE DE GABINETE ATAÍDE ALVES DIRETOR DE DOT CURRÍCULO, AVALIAÇÃO E FORMAÇÃO FERNANDO JOSÉ DE ALMEIDA ASSESSORIA DANIELA DA COSTA NEVES APOIO COORDENADORA DO CENTRO DE MULTIMEIOS MAGALY IVANOV BIBLIOTECA PEDAGÓGICA EDNA MAFALDA CRUZ LILIAN LOTUFO PEREIRA P. RODRIGUES PATRÍCIA MARTINS DA SILVA REDE ROBERTA CRISTINA TORRES DA SILVA ROSANA LEILA GARCIA MEMORIAL DOENSINO MUNICIPAL ELIETE CARMINHOTTO VALQUÍRIA MARTINS PEREIRA VÍDEO EDUCAÇÃO ADRIANA LÚCIA M. DE MEDEIROS CAMINITTI REVISÃO LEILA DE CÁSSIA JOSÉ MENDES DA SILVA MARCELA CRISTINA EVARISTO MÁRCIA MARTINS CASTALDO PRENSA OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO 5 A estrutura da revista Magistério. Magistério é uma publicação de IRUPDomR�H�GLiORJR�HP�GXDV�YHUV}HV��XPD�HP�SDSHO��TXH�VHUi�GLVWULEXtGD�WULPHVWUDOPHQWH�HP� WRGDV�DV�HVFRODV�H�SDUD�WRGRV�RV�HGXFDGRUHV�GD�5HGH�0XQLFLSDO�GH�(QVLQR�H�RXWUD��HP�YHUVmR�GL- JLWDO�� QR� HQGHUHoR� KWWS���SRUWDOVPH�SUHIHLWXUD�VS�JRY�EU�3URMHWRV�UHYLVWDPDJLVWHULR�� GLVSRQtYHO� SHUPDQHQWHPHQWH�SDUD�OHLWXUD�H��SULQFLSDOPHQWH��GHEDWH�VREUH�WHPDV�DERUGDGRV���1HVVD�SiJLQD� da web,�D�'27���'LUHWRULD�GH�&XUUtFXOR��$YDOLDomR�H�)RUPDomR�SURFXUDUi�UHVSRQGHU�D�WRGDV�DV� questões, dúvidas e pedidos de esclarecimentos sobre esses temas. 1D�VXD�YHUVmR� LPSUHVVD�� FDGD�HGLomR�VHUi�GHGLFDGD�H[FOXVLYDPHQWH�D�XP�JUDQGH� WHPD�GD� (GXFDomR� ��3HGDJRJLD��FRPR�EHP�H[HPSOLÀFD�HVWH�Q~PHUR�TXH�R� OHLWRU�RUD� WHP�HP�PmRV��D� $8/$��R� LQVWUXPHQWR�PDLV� UDGLFDO�GH�QRVVR� WUDEDOKR�GH�HGXFDGRUHV��(YHQWXDOPHQWH�� DOJXQV� GRV�QRVVRV�WHPDV�SHUFRUUHUmR�PDLV�GH�XP�Q~PHUR�GD�5HYLVWD��SRU�VHUHP�FRQWURYHUVRV�RX�SRU� H[LJLUHP�PDLRU�QtYHO�GH�SURIXQGLGDGH�� $R�ORQJR�GH�VXDV�SiJLQDV��0DJLVWpULR�HVWi�HVWUXWXUDGD�HP�TXDWUR�JUDQGHV�EORFRV� 2�DUWLJR��GD�SiJLQD�DQWHULRU��HODERUDGR�SHOD�HTXLSH�GD�'27��DEUH�D�5HYLVWD�H�VLWXD�R�WHPD�QR� LQWHULRU�GD�5HGH�H�GD�VXD�KLVWyULD��6HJXH�VH�D�HOH�XP�DUWLJR�GH�IXQGR�´2�UHVJDWH�GD�DXOD�HVVHQ- FLDO··��HODERUDGR�SHOR�'LUHWRU�GD�'27��TXH�PDUFDUi�R�WRP�GD�5HYLVWD��DQFRUDQGR�WHRULFDPHQWH� o tema e discutindo seus aspectos candentes. $�WHUFHLUD�SDUWH�GD�5HYLVWD�WUDUi�D�FRQWULEXLomR�GH�DOJXP�WHyULFR��TXH�DSUHVHQWH�VHX�ROKDU� VREUH�R�WHPD��2�TXDUWR�EORFR��TXH�IHFKD�D�5HYLVWD��VHUi�R�PRPHQWR�GH�FRQYHUVDU�FRP�D�5HGH� sobre as questões e contribuições postas na web�HP�QRVVR�3RUWDO��6HUmR�UHSURGX]LGDV�DV�PDLV� representativas intervenções, dúvidas, questionamentos e propostas. 1mR�GHL[H�GH�SDUWLFLSDU��'HVHMDPRV�D�YRFr�XPD�ERD�OHLWXUD�H�ERDV�LQVSLUDo}HV�SDUD�QRVVDV� SUiWLFDV�QD�FRQVWUXomR�GH�XPD�(GXFDomR�GH�4XDOLGDGH�6RFLDO�� * ([FHSFLRQDOPHQWH���SRU�VHU�HVWD�D�HGLomR�Q~PHUR���GH�0DJLVWpULR��R�TXDUWR�EORFR�GH�GHEDWHV�H� FRQWULEXLo}HV�GD�5HGH�DRV�WHPDV�SURSRVWRV�IRL�VXEVWLWXtGR�SHOD�SXEOLFDomR�GR�GRFXPHQWR�´3ROtWL- FDV�3HGDJyJLFDV�&XUULFXODUHVµ��TXH�WUDoD�DV�JUDQGHV�GLUHWUL]HV�GD�QRYD�JHVWmR�GD�60(��(VWH�WH[WR� WDPEpP�HVWi�DEHUWR�j�UHÁH[mR�H�PDQLIHVWDo}HV�GRV�HGXFDGRUHV�GD�5HGH�� aonde Um resgate da aula como elemento 6 fundamental do processo pedagógico e do papel do professor anda a aula? 7 Pequim, China Um mundo em transformação. Esta sala de aula, inimaginável para os padrões ocidentais, está produzindo na China um dos maiores saltos de qualidade educacional já vistos. Favorecido por um senso de disciplina e esforço profundamente arrai- gado na sua cultura, motivado pela ascensão social decorrente do cres- cimento econômico acelerado do país e sustentado por políticas edu- cacionais públicas comprometidas com resultados, o ensino na China está superando seu atraso histórico e assumindo a liderança mundial em qualidade: no ano passado, a região de Xangai obteve o primeiro lugar na avaliação da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o clube dos países desenvolvidos. Foram avaliadas as áreas de Matemática, Ciências e Leitura em 32 países. 8 FO TO : X IN H U A / E YE V IN E / G LO W IM A G ES Stanford, EUA Líder mundial em tecnologia digital, é natural que os tablets tenham invadido as escolas nos Estados Unidos, como prenúncio de uma nova era para a aula. Afinal, o tablet pode integrar perfeitamente o mundo dentro e fora da escola. A qualquer momento, o aluno pode pesquisar, aprender, produzir, editar e compartilhar conteúdos. E tem o atra- tivo adicional da portabilidade. Mas, mesmo nos Estados Unidos, a adoção precipitada do tablet, fruto do fascínio provocado pelo novo equipamento, está cobrando seu preço. Sem um projeto político-pe- dagógico definido e conteúdos e objetivos claros para a ferramenta, o risco dele se tornar inútil é grande. De certa maneira, o desafio não é novo: ele retoma e amplifica as questões surgidas com a introdução do computador na sala de aula. 9 Uma sociedade de extrema desigualdade. Em um estado de bem-estar social, como aquele verificado na Suécia, a edu- cação adquire grau de excelência. País que mais investe em educação no mun- do, todo o ensino - seja público ou privado - é gratuito. Quem opta por uma escola particular recebe um voucher do governo para pagamento do curso. Isto permite que haja uma uma enorme diversidade de escolas, adequadas para as expectativas de cada aluno - existem escolas de ensino fundamental para estran- geiros, escolas com ênfase em música, em idiomas, politécnicas, em pedagogias específicas etc. Apesar da grande autonomia que municípios e escolas possuem, todas oferecem período integral, das 8 às 15h e turmas com até 20 alunos. To- dos passam por processos rígidos e contínuos de avaliação de desempenho. Estocolmo, Suécia 10 No outro extremo, depois de um longo período de guerra anticolonialista, se- guido de vinte e cinco anos de Guerra Civil, a educação em Angola ainda luta por se reerguer. Durante o conflito, mais da metade das escolas foram saqueadas e destruídas, professores desapareceram, o sistema todo se desestruturou. Coisas mínimas, como documentos de identidade, deixaram de existir. Ainda hoje, os recursos para a educação em Angola são exíguos: os professores são mal formados e mal remunerados, a escola não consegue oferecer alimentação e material didático, e o perigo das minas terrestres continua presente. Por questões culturais, ainda é grande a evasão escolar entre as meninas. Mas a aula está lá, como nesta foto. Com uma lousa sustentada por dois galhos e uma professora que prende a atenção da sua classe, na busca incessante e obstinada de um futuro melhor para todos. Uamba, norte de Angola 11 São Paulo, Brasil 12 São Paulo é Pequim, Stanford, Estocolmo e Angola. A cena vista nesta foto, de uma sala de aula de São Paulo, repete-se 25 mil vezes por dia, em nossa Rede Minicipal, envolvendo cerca de 500 mil alunos, só no Ensino Fundamental. Isso sem contar as Unidades de Educação Infantil...É nesse contexto, com estas dimensões espaciais e humanas, que se mul- tiplica a educação na cidade de São Paulo. Para entender o fascínio de aprender, é preciso observar os olhares destas crianças e jovens em uma aula. Parecem retratar um desejado nascimento... Reparando bem, a aula em São Paulo – uma cidade com população maior que a da Suécia, – é esse espaço de nascimento. Não é ape- nas o lugar onde os indivíduos aprendem e nascem para o novo. Mas presencia-se 13 nesses olhares o nascimento de uma sociedade. Os instrumentos são importantes, mas não determinam a essência do aprender. A arquitetura marca, as tecnologias agilizam informações e estabelecem novas linguagens, a organização do espaço e clima externos favorecem, mas a magia do ensinar e do aprender se faz na sabe- doria e vontade com que professor, aluno, escola e família se dedicam a prepa- rar, acompanhar, estimular, valorizar o fenômeno chamado AULA. Imaginem quantos pais, quantos pedagogos, quantos arquitetos, quantos funcionários de limpeza, quantos produtores e autores de conteúdos estão ao fundo da preparação de apenas uma aula de um só professor! É um esforço coletivo gigantesco, que não podemos malbaratar. É o maior resouro que devemos conservar. 14 o resgate da aula essencial Fernando José de Almeida Filósofo e Pedagogo, é doutor em )LORVRÀD�GD�(GXFDomR�SHOD� PUC-SP, onde leciona nocurso de 3yV�JUDGXDomR�HP�&XUUtFXOR� É consultor e pesquisador da 81(6&2���79�(VFROD�� e�DWXDO�'LUHWRU�GD�'27�60(� um desafio urgente 15 AULA Dic: corte, palácio, átrio dos castelos, mora- da, gaiola, estábulo. A partir da origem etimológica, buscaremos saber como ela chegou aos nossos dias e que VLJQLÀFDGRV�PDQWpP��1DVFLGD�QRV�SDOiFLRV��QRV� iWULRV�GRV�FDVWHORV��QRV�FODXVWURV�GRV�FRQYHQWRV�� FRPR�SRGH�D�DXOD�VHU�XP�HVSDoR�GHPRFUiWLFR" O QUE SE PRETENDE AQUI? 2�REMHWLYR�GHVWH� WH[WR�p�FKHJDU�DR�FRQ- ceito de aula essencial, resgatando seu sentido original, que foi se perdendo com R� WHPSR� H� KRMH� p� REMHWR� GH� SURIXQGDV� GL- YHUJrQFLDV�H�FRQWUDGLo}HV��2�TXH�p�HOD"�2� TXH�GHOD�VH�SHUGHX�QR�FDPLQKR"�2�TXH�GHOD� SRGH� VHU� UHVVLJQLILFDGR�SDUD�QRVVDV�SUiWL- FDV�QD�(GXFDomR�GD�(VFROD�3~EOLFD" AULA ESSENCIAL OU A ESSÊNCIA DO QUE É A AULA 3RU�PDLV� TXH� SDUHoD� yEYLD�� D� QRomR� SUL- meira de aula se perdeu em meio a tantas YHUV}HV�� WDQWDV�FUtWLFDV�H�WDQWDV�SUiWLFDV�� WR- GDV�FKDPDGDV�DXOD�� Sua força original afundou num pântano de YHUV}HV��FRQWUDYHUV}HV�H�FUtWLFDV�H�QyV��SURIHV- VRUHV��DFDEDPRV�UHIpQV�GHVVDV�WDQWDV�SRVLo}HV�� TXDQGR�WHPRV�TXH�SUHSDUDU�QRVVDV�DXODV�� 3DUD� HQIUHQWDU� HVVD� SHUSOH[LGDGH� FDXVDGD� SRU�WDQWDV�FRQWUDGLo}HV��YDPRV�EXVFDU�UHVJD- WDU�D�VXD�HVVrQFLD�� A aula essencial aqui tratada encontra-se em meio a interesses antagônicos que orbi- WDP� HP� WRUQR� GH� VXD� SULQFLSDO� XVXiULD� H� ID- YRUHFLGD��D�HVFROD��3DUD�HQWHQGHU�VH�PHOKRU�R� conceito de aula essencial, trataremos, neste DUWLJR��GH�TXHVW}HV�FRPR� 2�TXH�p�HVVD�LQYHQomR�KXPDQD��HP�VXD�Fp- OXOD�PDLV�SULPLWLYD"� Qual sua origem antropológica e como foi con- VROLGDGD��QD�VRFLHGDGH�RFLGHQWDO��QR�VpFXOR�;9,," O que resta dela que pode ser retomado, em meio a tantas mudanças tecnológicas, WDQWD�PDVVLÀFDomR�H�WDQWDV�H[LJrQFLDV�GH�GH- PRFUDWL]DomR"� &RPR�GLVWLQJXLU�VXDV�RULJLQDLV�GLUHo}HV�GRV� GLIHUHQWHV� LQWHUHVVHV�TXH�PDUFDP�DV� WHQV}HV� GD�VRFLHGDGH��TXH�HPHUJHP�QDV�SUiWLFDV�HVFR- ODUHV��QRV�FXUUtFXORV��QRV�PDWHULDLV�GLGiWLFRV�� FRUSRULÀFDGRV�QDV�DXODV" Como as aulas se ampliam em forma de projetos, de estudos do meio, de pesquisas di- ULJLGDV��H�R�TXH�GHOD�VH�HVYDL��HP�PHLR�D�WDQWD� GLYHUVLGDGH�GH�DERUGDJHQV" O uso do computador – com aulas a distân- cia, com aulas compartilhadas com alunos e SURIHVVRUHV�GH�GLIHUHQWHV�SDtVHV�²�UHGHÀQH�R� FRQFHLWR�GH�DXOD" INTRODUÇÃO Como se na desordem do armário embutido Meu paletó enlaça o teu vestido E o meu sapato ainda pisa no seu -2%,0��7RP� �%8$548(��&KLFR��“Eu te amo”. Assim, de maneira sublime, Chico Bu- DUTXH�H�7RP�-RELP�UHWUDWDUDP�RV�GHVHQFRQ- WURV� GD� YLGD� GH� XP� FDVDO��$V� GLÀFXOGDGHV� aqui são metaforicamente representadas pela desorganização do guarda-roupa, re- SUHVDQGR� WDQWDV� TXHVW}HV� DFXPXODGDV� �� PiJRDV�� GHVFRQVLGHUDo}HV�� FRQIXV}HV� QmR� intencionais (mas nem por isso menos sig- QLÀFDWLYDV���TXH�PDUFDP�DV�WDQWDV�YLYrQFLDV� GH�XPD�GXSOD�DPRURVD�� +i�XP�SDUDOHOR�HQWUH�HVVD�DÀUPDomR�SR- pWLFD�H�D�UHODomR�HQWUH�HVFROD�H�DXOD��$�DXOD� SDUHFH�SHUGLGD�QD�GHVRUGHP�GH�WDQWDV�YDUL- iYHLV� TXH�PDUFDP� D� HVFROD�� HP� VXD� WDUHID� GH� HQVLQDU�� DYDOLDU�� SUHVWDU� FRQWDV� VRFLDLV�� FRQVWUXLU� VHX� FXUUtFXOR�� FRQWURODU� D� GLVFL- plina, manter dezenas e dezenas de alunos LQWHUHVVDGRV�H�PRELOL]DGRV��(�R�SURIHVVRU�p� 16 o malabarista que busca dar conta de admi- QLVWUDU�� GD�PHOKRU�PDQHLUD�� WDQWDV� YDULiYHLV�� tendo como centro a aula. Em outras palavras, é hora de arrumar o DUPiULR�� HP� TXH� PXLWDV� YDULiYHLV� H� PXLWRV� valores se misturam com a dinâmica e o con- ceito de aula. Essa é uma tarefa quase impossível mas co- EUDGD�GH�XPD�GDV�PDLV�H[SRVWDV�LQVWLWXLo}HV� sociais atualmente, de sul a norte, em países ULFRV�RX�QRV�TXDLV�D�HFRQRPLD�p�PDLV�IUiJLO�� 'HQWUR� GR� DUPiULR� PHWDIyULFR� GD� HVFROD�� podemos nos perguntar: Quantos sapatos pi- VDP�VREUH�R�RXWUR"�4XDQWD�LQGHOLFDGH]D�QmR� SUHYLVWD�DFRQWHFH"�4XDQWD�GLÀFXOGDGH�Ki�HP� se demonstrar o que se sente de afeto, de de- OLFDGH]D�� GH� LQWHUHVVH� SHOR� IXWXUR� FRPXP"� 4XDQWD� GLÀFXOGDGH� H[LVWH� SDUD� VH� GDU� FRQWD� das promessas e das esperanças nela deposita- GDV�SRU�WRGD�D�VRFLHGDGH"�4XDQWD�QHFHVVLGDGH� de recursos e de condições de trabalho! 3DUD� VH� UHVSRQGHU� D� HVVDV� TXHVW}HV�� p� QH- FHVViULR�GLVFXWLUPRV�FRQFHLWXDOPHQWH�R�WHPD�� YROWDQGR�jV�TXHVW}HV�EiVLFDV��(QWmR��DÀQDO��R� TXH�p�XPD�DXOD"�&RPR�HOD�VH�DUWLFXOD�FRP�R� FXUUtFXOR"� &RPR� VH� DYDOLDP� RV� UHVXOWDGRV"� &RPR�VH�IRUPDP�RV�SURIHVVRUHV"�&RPR�VmR� FDOFXODGRV�VHXV�FXVWRV"�7RGDV�HVVDV�VmR�TXHV- W}HV�DFXPXODGDV�QR�DUPiULR�GD�HVFROD�H�QR�GD� aula e, consequentemente, em seu grande ca- talizador: o professor. DE VOLTA ÀS ORIGENS 6H� D� SDODYUD� ´DXOD··� VLJQLÀFD�� HP� JUH- JR�� RULJLQDOPHQWH�� SDOiFLR�� FRUWH�� FHQWUR� GD� FRQVWUXomR��FRXU��HP�IUDQFrV���FRPR�R�VHQWL- do se ampliou para aula, como conferência, SDOHVWUD��HQVLQR�VLVWHPiWLFR�GH�DOJR" 5HXQLU�SHVVRDV�HP�XP�SDOiFLR�SDUD�HVFX- tarem, durante algum tempo, alguém que co- nhecia um assunto era seguramente uma for- ma de manter e desenvolver o poder da corte. Era uma ação para organizar grupos sociais em torno de valores e de conhecimentos ne- FHVViULRV� j� FRQWLQXLGDGH� �RX� PHOKRULD�� GR� JUXSR��2XYLD�VH�FRQFHQWUDGDPHQWH�XPD�H[- posição de ideias que se organizava em torno GH�HL[RV��FRPR�XPD�DSUHVHQWDomR��R�GHVHQ- volvimento do tema, a solução argumentati- va e uma síntese conclusiva-propositiva. $VVLP�WDPEpP�ID]LDP�RV�ÀOyVRIRV�JUHJRV� �QD�,GDGH�&OiVVLFD��H�RV�HVFROiVWLFRV��QD�,GD- GH�0pGLD���2�HQVLQR�SHULSDWpWLFR��SURSDODGR� por Aristóteles, era uma forma de dar aulas caminhando pelos espaços de Atenas. Assim VH�GHVHQYROYHUDP�RV�JUDQGHV�´'LiORJRVµ�GH� 3ODWmR� A aula, como a conhecemos hoje, é datada. 9HP� GR� VpFXOR�;9,,,� VXD� FRQVWLWXLomR� FRP� DOXQRV� GH� LGDGHV� SUy[LPDV�� HQÀOHLUDGRV� �RX� QmR��� FRP�XP�SURIHVVRU� GH� GLVFLSOLQDV� GLIH- rentes, seguindo um programa de ensino de- terminado por um currículo, tudo sendo feito para um Estado ou para uma organização po- lítica. Embora se apresentem diferentes datas para o início de tais organizações escolares, é certo que ela é contemporânea ao processo de IRUPDomR�GRV�(VWDGRV�1DFLRQDLV��TXH�SUROLIH- UDUDP�QD�(XURSD�GR�VpFXOR�;9,,,1. Mas não se trata aqui apenas de situar a aula como algo desta ou daquela sociedade ou de um modo de produção econômica. Ela foi sempre uma forma antropológica de pas- sar entre gerações os valores, conhecimen- WRV��WUDGLo}HV��IRUPDV�GH�VREUHYLYrQFLD��9H- remos adiante como tais formas evoluíram, GHVGH�RV�WHPSRV�GDV��FDYHUQDV�j�QRVVD�SyV� modernidade, perpassando períodos tão dis- WLQWRV�FRPR��D�$QWLJXLGDGH��D�,GDGH�0pGLD�H� D�5HYROXomR�,QGXVWULDO����� 1e�DTXL�TXH�QDVFH�WDPEpP�D�¿JXUD�GR�SURIHVVRU��FRPR�KRMH�VH�R�HQWHQGH��XP�DPSOL¿- FDGRU�GH�XP�SURMHWR�HGXFDWLYR�SDUD�D�VRFLHGDGH��FXMRV�REMHWLYRV�GH�VHU�H[SDQGLGD�SHOR� PHUFDQWLOLVPR�H[LJLUDP�QmR�DSHQDV�FRPHUFLDQWHV��PDV�SURIHVVRUHV�TXH�GLIXQGLVVHP�RV� YDORUHV�GDV�QDo}HV�H[SDQVLRQLVWDV��SRU�PHLR�GH�VXDV�OtQJXDV��FXOWXUDV��1mR�Ki�H[SDQ- VLRQLVPR�TXH�QmR�VH�FRQVROLGH�HP�FXOWXUD� �ƵƐĐĂ�ĐŽŶơŶƵĂ. Até os 18 anos, o mundo, para mim, era muito nebuloso. 6HP�VLJQLÀFDomR��0DV��GXUDQWH�R�SHUtRGR�HP�TXH�HX�HVWDYD�QR�JUXSR�HVFRODU��DOJXQV� eventos me marcaram porque ajudavam a “clarear a mente” para as coisas ao meu redor. Por exemplo, quando estava na quinta série do ginásio, havia uma professora GH�*HRJUDÀD�TXH�VH�FKDPDYD�6DPLUD��8P�GLD��HOD�UHWLURX�D�WXUPD�GD�VDOD�H�QRV�OHYRX� DWp�R�SiWLR�LQWHUQR�GD�HVFROD��/i�QyV�À]HPRV�XPD�DWLYLGDGH�GH�FRQVWUXomR�GH�PDSDV�� Percebi, naquele momento, que o aprendizado podia acontecer fora do ambiente da sala de aula. Isso me deixou muito contente... poder sair daquele modo de sentar, daquele modo rigoroso de aprender. 3RU�RXWUR�ODGR��OHPEUR�WDPEpP�GDV�DXODV�GH�0DWHPiWLFD��8ViYDPRV�XP�OLYUR�FRPSOHWDPHQWH�FRQIXVR��(X� WLQKD�TXH� ID]HU�DTXHODV�FRLVDV��DTXHODV� IUDo}HV�H� H[SUHVV}HV�TXH�QmR�PH�GDYDP�XPD�FODUH]D�GR�PXQGR��1R�JHUDO��QmR�ID]LD�PXLWR� VHQWLGR�D�PDQHLUD� FRPR�´DSUHQGtDPRVµ�DV�PDWpULDV��$FDEHL� DEDQGRQDQGR�D� escola na sexta série. 9HMR��KRMH��TXH�DV�PLQKDV�GLÀFXOGDGHV�FRPR�DOXQR�WDPEpP�PDUFDUDP�D�PL- QKD�UHWyULFD�FRPR�SURIHVVRU��0H�À]HUDP�TXHUHU�IDODU�PDLV�GLUHWDPHQWH�SDUD�R� aluno nas aulas, lembrando sempre que pode haver, na turma, alguém com aque- la visão nebulosa sobre as coisas e sobre o mundo como a que eu tinha na minha adolescência. Partindo da necessidade de contextualizar os assuntos para os alunos, perce- EL�TXH�WLQKD�TXH�EXVFDU�PDLV�VXEVtGLRV��DÀQDO��Vy�FRQWH[WXDOL]D�TXHP�FRQKHFH�� Foi assim que conheci o Prof. Fuad: uma referência fundamental para mim, já GHSRLV�TXH�UHWRPHL�RV�HVWXGRV�H�FRQVHJXL�LQJUHVVDU�QD�XQLYHUVLGDGH��(OH�FULRX� XP�HVSDoR�QD�iUHD�H[WHUQD�GR�,QVWLWXWR�GH�)tVLFD��FREHUWR�SRU�XPD�ORQD��(UD�R� Centro Interdisciplinar de Ciência, onde ele coordenava um curso chamado Ba- VHV�SDUD�D�(ODERUDomR�&XUULFXODU�HP�)tVLFD�([SHULPHQWDO�� $SUHQGL��QD�SUiWLFD��TXH�QmR�Gi�SUD�IDODU�GH�FRQKHFLPHQWR�FLHQWtÀFR�VHP�WR- FDU�QDV�FRLVDV�VHQVtYHLV��2X�VHMD��SDUWLU�SULPHLUR�GR�PXQGR�FRQFUHWR�H�GHSRLV� LU�SDUD�R�DEVWUDWR��0XLWDV�YH]HV��Vy�R�OLYUR�QmR�UHVROYH�H�Dt�SUHFLVDPRV�HVFUHYHU� XP�WH[WR�PDLV�DGHTXDGR��6H�SRVVtYHO��DR�DERUGDU�R�DVVXQWR��R�SUySULR�SURIHVVRU� GHYHULD�SHUVRQDOL]DU�R�WH[WR�ROKDQGR�SDUD�DTXHOD�VLWXDomR�GHQWUR�GDTXHOD�FRPX- QLGDGH�HVSHFtÀFD�� +RMH�HX� OXWR�SDUD�TXH�D�PLQKD�DXOD� WHQKD�VLJQLÀFDGR��EXVFDQGR� WUD]HU�RV� DVVXQWRV�SDUD�D�UHDOLGDGH�GHOHV��7HQWR�PH�DSUR[LPDU�GDV�VLWXDo}HV�UHDLV��GRV� elementos do mundo deles. Quando o aluno fala: - Ããhhn... é porque eu cheguei nele! É quando eu consegui fazer com que ele GHVSHUWDVVH�SDUD�R�FRQKHFLPHQWR����p�R�(XUHND�� Isso é o que me faz querer continuar buscando. Ismerindo Lauke de Oliveira, assistente de direção O momento do elogio. “Eu tive duas professoras que me marcaram muito. Acho até que elas me estruturaram para ser professora: uma era de Matemá- tica e a outra, de Literatura. A de Matemática, eu conheci durante o Ensino Fundamental. Na dinâmica da aula, dava para perceber que, mais que uma pessoa com grande conhecimento ma- temático, estava sempre preocupada se estávamos aprendendo. Ela tinha um carinho muito grande por nós, e sabia do que a gente gostava, do que a gente não gostava... como estávamos nos envolvendo com a matéria. &HUWD�YH]��Mi�QR�ÀQDO�GR�VHPHVWUH��HOD�IH]�XPD�FKDPDGD�RUDO�YDOHQGR�QRWD�H�SHU- guntou para a turma quem gostaria de tentar. Como eu havia tirado uma nota “não muito boa” no começo do ano, eu nem esperei. Levantei na hora porque gostava da aula dela e queria mostrar que tinha aprendido. Eu tinha essa preocupação! Foi tão legal porque fui muito bem na chamada oral. Fiz tudo o que tinha a fazer, e acabei alvo da zombaria dos meus colegas, dizendo que eu tinha virado “puxa VDFRµ�GD�SURIHVVRUD��TXH�HVWDYD�TXHUHQGR�JDQKDU�QRWD����HQÀP��FRPHQWiULRV�GHVVH� tipo. Nesse momento, ela me defendeu com um elogio que me emocionou bastante: - A Maria Dolores é esforçada! Ela não falta, se preocupa em aprender... (QÀP��HX�ÀTXHL�VXUSUHVD�SRUTXH�UHDOPHQWH�QmR�HVSHUDYD�TXH�HOD�IRVVH�YDORUL]DU� tanto a minha tentativa. Isso tudo me fez acordar para querer realmente ser uma boa aluna ao longo da minha vida. Eu me lembro que, no ano seguinte, logo no primeiro dia de aula, ela tocou no meu ombro e me apresentou para a sala dizendo: - Esta aluna aqui não vai se apresentar porque eu é que vou apresentá-la! Ela fazia essas coisas que demonstravam o quanto conhecia a gente, e como nos queria bem... Depois, quando me tornei professora, isso me levou a querer ser assim também com os meus alunos; acompanhar como eles estão, se interessar por eles. A outra professora que foi muito especial para mim foi a de Literatura, já no En- sino Médio. Como ela era tão apaixonada por aquilo que fazia, pelas aulas que dava, R�DVVXQWR�ÀFDYD�PXLWR�HQYROYHQWH��$FKR�DWp�TXH�DFDEHL�ID]HQGR�R�FXUVR�GH�/HWUDV� por causa dessas aulas. Quando explicava as escolas literárias, ela descrevia cada detalhe, o clima da época... Eu podia até ver tudo aquilo que estava relacionado ao Trovadorismo, às cantigas de escárnio, cantigas de mal-dizer, cantigas de amor... quando ela contava parecia que eu estava vendo toda aquela cena! Graças a essas aulas, eu comecei a entender Literatura e a me interessar mais por História. Mesmo depois, quando fui fazer Letras, o conteúdo que via na faculda- de me remetia às aulas que tive no Ensino Médio, naquela época. Ficou, para mim, como uma referência, o amor dessas duas professoras, além da maneira tão apaixonada com a qual elas davam suas aulas. Maria Dolores Moral Perez, professora PAAI 19 CHEGANDO RAPIDAMENTE AOS DIAS DE HOJE O que se alterou para que tal concentração em torno de palestras não mais se realize? Será a estrutura da aula algo intrinsecamen- te perverso? O tempo de aprendizagem será outro? Terá mudado o processo “digesti- vo-intelectivo” pela invenção da “Escola McDonald’s’’? Será o tempo assimilativo do ato de se alimentar diverso do ato de aprender? Pode e deve ser ele encurtado, como se pretende fazer com os esquemas fast-food? O ouvir concentradamente um conjunto de argumentos, de histórias, de explica- ções, de fantasias, de propostas exige com- petências inexistentes na cultura do consu- mo rápido, personalizado e em pílulas de fácil digestão? Estaremos aguardando que a farmacopeia atual permita com pílulas di- gestivas o entendimento do que os jovens ouvem ou leem? Ou nem será mais neces- sário o empenho em leituras? Ou chips com tecnologias pervasivas2 disponibilizarão os conteúdos e habilidades desejadas (ou im- postas)? A APRENDIZAGEM COMO MERCADORIA A aprendizagem vem se reduzindo, na sua mais difundida – e equivocada – versão, a uma mercadoria que se encontra disponí- vel nas gôndolas e prateleiras: um livro, um curso de inglês, uma peça didática de teatro, XP�FXUVR�GH�UHVSLUDomR�FRP�XP�FHUWLÀFDGR� em poucos dias. As provas já vêm prontas, os resultados são copiados e o reconheci- mento de sua sabedoria é atestado por um administrador objetivo e instantâneo. A APRENDIZAGEM COMO PROCESSO VITAL O processo de aprendizagem, no en- tanto, é orgânico: não se dá por consu- mo, mas por assimilação. É um trabalho de assimilação interna e individual. Passa não apenas pela vontade de aprender, mas também pela de empenhar energias para a elaboração do que aprendeu. Há momen- tos coletivos, há treinamento para uso de instrumentos, há montagem própria de tá- ticas de assimilação, feitas com criativi- dade e disciplina. O processo de aprendizagem sofre mu- danças com os ritmos da vida urbana e pla- netária, mas o metabolismo da assimilação dos conhecimentos permanece o mesmo de sempre. O conceito de tempo mudou. É verda- de. O ritmo de participação da vida mu- dou, não sendo mais determinado pelas estações do ano nem pelas colheitas ou pelas festas dos santos, em quermesses ou novenas. 2� VHQWLGR� GR� DIHWR�PXGRX��1mR� VH� GHÀ- nem mais os amores e casamentos pelos interesses familiares. A multiplicidade de exposições das pessoas às muitas escolhas é cada vez maior. As opções à liberdade são cada vez mais possíveis, amplas e estimuladas. Mas, insisto, os processos assimilativos digestivos e cognitivos mantêm a exigên- cia de tempos próprios e frequentemente não são imediatos. Mas, em tudo isso, o que é permanente? A intenção da discussão, neste artigo, é buscar o que não mudou nestas tantas vari- áveis dos tempos pós-modernos. Cabe aos psicólogos analisarem se os sentidos novos do afeto, da partilha afe- tiva, do amor são adaptáveis à velocidade 2 Tecnologias pervasivassão aquelas que, introduzidas em sistemas complexos, oferecem informações a centrais de decisões, que assim podem interferer no ambiente, progra- mando-o e dirigindo-lhe as ações. Um exemplo típico são os chips inseridos e pacientes com patologias que exigem acompanhamento de juntas médicas. 20 H�j�OLTXLGH]�GD�VRFLHGDGH�FRQWHPSRUkQHD3. (VVH�p�XP�ORQJR�GHEDWH�TXH�Mi�WUDYDPRV�HP� nossas consciências, assim como as psico- ORJLDV� VRFLDLV�� D�SVLFDQiOLVH�H�D�DQWURSROR- JLD�VRFLDO� Mi�GLVFXWHP��SURGX]LQGR�HQVDLRV� sobre o destino do novo e velho afeto que une as pessoas. 0DV�QRVVR�IRFR�p�D�DSUHQGL]DJHP��9DPRV�D�HOH�� 6H� DOJXpP�RX� DOJXQV� JUXSRV� Mi� WrP�FOD- ro que é o momento de dispensar todas as ações de aula como um momento perverso de imposição, não estarão defendendo nem entendendo o sentido essencial da aula. Ela nem é momento perverso nem precisa ser uma imposição. É desmotivador ir ao cine- PD�SRU�TXH�Oi�HVWmR�PXLWDV�SHVVRDV�MXQWDV��H� WRGRV�YmR�DVVLVWLU�DR�PHVPR�ÀOPH�QR�PHV- PR� KRUiULR"� �+i�PRPHQWRV� SDUD� VH� DVVLV- WLU� D� ÀOPHV� HP� FDVD�� LQWHUURPSHQGR�VH� QD� KRUD� HP� TXH� VH� TXHU�� H� Ki� R�PRPHQWR� GH� VRFLDOL]DomR� GR� HVSHWiFXOR�� FRP� GLUHLWR� D� FRPHQWiULRV��D�ULVRV�VLPXOWkQHRV�H�HPRo}HV� partilhadas, e depois da sessão, a ir a uma ODQFKRQHWH� SDUD� RV� FRPHQWiULRV� TXHQWHV� H� coletivos. 9DPRV� WHQWDU� HQWHQGHU� TXDLV� YDULiYHLV� SRGHP� VHU� DQDOLVDGDV� SDUD� VH� GDU� j� DXOD� XPD� ´QRYD�WUDGLFLRQDOµ� GLUHomR�� QD� EXVFD� GH�VHX�VLJQLÀFDGR�SULPHLUR��TXH�LQDXJXURX� XP�PXQGR�DSUR[LPDQGR�PDLV�RV�VHUHV�KX- manos. A versão atual da aula é uma invenção PDLV�FODUD�GR�VpFXOR�;9,,,��FRQVROLGDGD�QR� VpFXOR�;,;�H�TXH�VH�PDQWpP�DWp�KRMH��0DV� ela se mantém num mundo de tantas mu- GDQoDV�JUDoDV�D�TXr"��WHLPRVLD�GRV�UHDFLR- QiULRV�TXH�QmR�DEULUDP�PmR�GH�VXD� LQYHQ- omR"�2X�j�GRVH�GH�VDEHGRULD�TXH�HOD�WHYH��H� PDQWpP��DR�GDU�FRQWD�GH�H[SOLFDU�XPD�IyU- mula de ensinar que vem desde a fogueira, como centro do ensino dentro da caverna, DWp�R�HQVLQR�QDV�FRUSRUDo}HV�GD�,GDGH�0p- GLD�²�RX�GRV�QREUHV��HP�VHXV�SDOiFLRV" 9DPRV�FRQWHPSODU�HVVDV�TXHVW}HV�H�HQFD- minhar um esboço sobre o que resta essen- FLDOPHQWH�GHVWD�HÀFD]�LQYHQomR��D�DXOD� /LPSDQGR�R�WHUUHQR��D�DXOD�QmR�p�D�YLOm�� 9DPRV� FRPHoDU� SHOD� GHUUDGHLUD� YLVmR� GDV� GLÀFXOGDGHV�GD�RUJDQL]DomR�GR�VLVWHPD�HV- FRODU�H[LVWHQWH�HQWUH�PXLWRV�HGXFDGRUHV�EUD- VLOHLURV��GRV�DQRV����DWp�D�GpFDGD�GH������� A aula vem sendo considerada, nos úl- WLPRV���� DQRV�� FRPR�D�YLOm� UHVSRQViYHO�� j� GLUHLWD� H� j� HVTXHUGD�� SRU� WXGR� GH�PDO� TXH� acontece na escola, na formação dos alunos e nas tarefas dos professores. Ela seria res- SRQViYHO� SHOD� GHPROLomR� GD� DSUHQGL]DJHP� do aluno. Ela é considerada perversa, ou porque reproduz a sociedade dividida em classes, H[SXOVDQGR� GD� HVFROD� �SRU� VXD� H[LJrQFLD� VHPSUH�GHVFDELGD��RV�DOXQRV�SREUHV�RX�SRU- TXH�QmR�DWHQGH�DR�TXH�Ki�GH�PDLV�PRGHUQR� para os alunos que querem aprender e nela não veem a importância da vida motivada e livre da aprendizagem dita contemporânea. A aula como reprodução do sistema in- MXVWR�GH�H[FOXVmR�VRFLDO�p�DVVLP�FRQVLGHUD- GD� SRU� VXDV� H[LJrQFLDV� GHVFDELGDV� SDUD� RV� jovens alunos de classes desprovidas eco- nomicamente e feitas sob medida para aten- GHU�jV�FODVVHV�VRFLDLV�VXSHULRUHV��$V�FODVVHV� carentes da sociedade não conseguem ter PRWLYDo}HV�FRP�HVVHV�WLSRV�GH�H[LJrQFLDV�H� DEDQGRQDP�D�HVFROD��3DUWLQGR�GHVVH�SRQWR� de vista, isso gera um dissimulado processo GH�H[FOXVmR�VRFLDO��TXH�WHP�QD�DXOD�XPD�ID- migerada aliada. 3 e�LPSRUWDQWH�SDUD�TXHP�TXHU�VH�DSURIXQGDU�QR�WHPD�GD�OLTXLGH]�GD�VRFLHGDGH�FRQWHP- SRUkQHD�OHU�D�REUD�GH�=\JPXQW�%DXPDQ���HVSHFLDOPHQWH�Tempos Líquidos��1D�GLUHomR� GR�TXH�IDODPRV�DFLPD��HOH�GL]��³R�FRODSVR�GR�SHQVDPHQWR��GR�SODQHMDPHQWR�H�GD�DomR�D� ORQJR�SUD]R��H�R�GHVDSDUHFLPHQWR�GDV�HVWUXWXUDV�VRFLDLV�QDV�TXDLV�HVWHV�SRGHULDP�VHU� WUDoDGRV�FRP�DQWHFHGrQFLD���OHYD�D�XP�GHVPHPEUDPHQWR�GD�KLVWyULD�SROtWLFD�H�GDV�YLGDV� LQGLYLGXDLV�QXPD�VpULH�GH�SURMHWRV�H�HSLVyGLRV�GH�FXUWR�SUD]R�TXH�VmR��HP�SULQFtSLR��LQ¿QL- WRV�H�QmR�FRPELQDP�FRP�RV�WLSRV�GH�VHTXrQFLDV�DRV�TXDLV�FRQFHLWRV�FRPR�³GHVHQYROYL- PHQWR´��³PDWXUDomR´��³FDUUHLUD´�RX�³SURJUHVVR´��WRGRV�VXJHULQGR�XPD�RUGHP�GH�VXFHVVmR� SUp�RUGHQDGD��SRGHULDP�VHU�VLJQL¿FDWLYDPHQWH�DSOLFDGRV´���op. cit��S����� Uma aula Guarani Mbya. Para a cultura Guarani, a vida pode seguir por três caminhos (representados no altar): o da direita e o da esquerda são as escolhas que fazemos. São coisas que fazemos na vida, para um lado ou para o outro, mas que um dia acabam. Já a outra escolha que é essa maior aqui no meio dos dois, representa o caminho da sabedoria. A sabedoria é o resultado do que fazemos na direção desse conhecimento TXH�YHP�GLUHWDPHQWH�GH�7XSm��3RU�LVVR�p�XP�FRQKHFLPHQWR�TXH�p�LQÀQLWR��GLIH- rente dos outros caminhos. Ele chega através do nosso coração. Aqui na casa de reza (opy) é também onde nos reunimos, cantamos, conver- samos e somos orientados pelo Xeramõi, o nosso líder espiritual. O que aprendi com o Xeramõi, o José Fernandes, é que, para estar nesse caminho da sabedoria, precisa ser muito forte, fortalecer o espírito e o corpo (...) cuidar para manter o coração limpo estando alegre, viver de bem com a vida e com as outras pessoas, sempre com respeito. Nesse caminho, busca- mos e compartilhamos as experiências que fazem a gente aprender na nossa vida, e também aprendemos com as tradições e com os mais velhos sobre o que é ser Guarani Mbya. Por isso, cada palavra que sai da minha boca quan- do eu estou com os mais novos deve vir primeiro do meu coração... se eu não sinto que vem do coração, eu não falo só por falar. O coração precisa estar limpo pra eles sentirem essa força que vem de Tupã, porque, senão, nada acontece... eles não vão se interessar! Hoje, eu luto nesse caminho: o de me fortalecer para que o meu povo tam- bém seja forte. Trabalho para que todos entendam o que é ser Guarani através dessa sabedoria que os mais velhos ensinaram, aprendendo também com os nossos antepassados que estão todos aqui na casa de reza. Não dá pra ver por- que é invisível, mas dá para sentir que aqui estão todos os Guarani. Pedro Luis Macena, educador indígena Relação de respeito. (VWXGHL�FRP�PXLWRV�SURIHVVRUHV�H[FHOHQWHV���2� 'pFLR�GH�$OPHLGD�3UDGR��R�'LPDV�3LPHQWD��R�-RmR�$OH[DQGUH�%DUERVD��D�0DULD� 7KHUH]D�)UDJD�5RFFR��7HQKR�YiULDV�DXODV�GHOHV�JUDYDGDV�QDV�PLQKDV�OHPEUDQoDV� de estudante. Como eu sempre gostava de ler e não tinha muito dinheiro para com- SUDU�OLYURV��LD�VHPSUH�j�ELEOLRWHFD�FLUFXODQWH�GD�XQLYHUVLGDGH��/LD�EDVWDQWH�SDUD� SRGHU�DFRPSDQKDU�DV�DXODV�GHVVHV�SURIHVVRUHV��8PD�GLIHUHQoD�LQWHUHVVDQWH�HQWUH� aquela época na USP e hoje em dia é que as aulas eram totalmente expositivas. 'XUDYDP�FHUFD�GH�TXDWUR�KRUDV��FRP�XP�SHTXHQR�LQWHUYDOR�QR�PHLR��2�'pFLR�GH� Almeida Prado, por exemplo, era um intelectual, um gentleman. Dava aula sem- SUH�PXLWR�EHP�DUUXPDGR��WHUQR�H�JUDYDWD�LPSHFiYHLV��FRP�XPD�ÁHXPD�TXH�Vy�HOH� tinha. Não lia nada na sala, nem usava nenhum tipo de “esquema” ou grandes UHFXUVRV�QD�PmR��9LQKD�WXGR�GD�FDEHoD�GHOH�PHVPR��)D]LD�FLWDo}HV��IDODYD�VREUH�R� teatro e as atrizes da época, e a gente anotava para poder ir atrás depois. 7LQKD�WRWDO�GRPtQLR�GR�DVVXQWR��IDODYD�GXUDQWH�KRUDV�SDUD�XP�S~EOLFR�GH�PDLV�GH� 40 alunos sem recorrer a nada. Jamais alterava o tom da voz em sala de aula. Nunca GHVWUDWRX�QHQKXP�DOXQR��PHVPR�TXDQGR�SUHFLVDYD�FKDPDU�D�DWHQomR�GH�DOJXpP��HUD� sempre muito educado... Nós anotávamos quase tudo o que ele falava porque havia DOL�XP�YRFDEXOiULR�PXLWR�ULFR��6H�QmR�FRQKHFtDPRV�DOJXP�WH[WR�TXH�HOH�PHQFLRQD- YD��WtQKDPRV�TXH�SURFXUDU�SRU�QyV�PHVPRV��(OH�QmR�GDYD�QDGD�PDVWLJDGR��(X�PH� OHPEUR��FRPR�VH�IRVVH�KRMH��GHOH�HQWUDQGR�QD�VDOD��SHGLQGR�OLFHQoD��FKHJDYD�FRP� ÀUPH]D��GL]LD�ERP�GLD��6XD��SUHVHQoD��Mi�LPSXQKD�XP�FHUWR�UHVSHLWR��,VVR�p�XPD�FRLVD�que os meus professores passaram para mim, de alguma maneira: a respeitabilidade. 2X�VHMD��WHU�XPD�FHUWD�SRVWXUD�HP�DXOD��PDQWHU�R�VLOrQFLR��UHVSHLWDU�DTXHOD�SHV- soa que está lá pelo que ela representa. Isso é uma coisa que acho que falta hoje HP�GLD��$ÀQDO��R�SURIHVVRU�QmR�p�LJXDO�DR�DOXQR��(OH�VDEH�PDLV�GR�TXH�D�JHQWH��p� PDLV�H[SHULHQWH��2V�PHXV�SURIHVVRUHV�GH�3RUWXJXrV��SRU�H[HPSOR��TXDQGR�OLDP�RV� QRVVRV�WH[WRV��FRUULJLDP�DV�SDODYUDV�TXH�HVWDYDP�HUUDGDV��(VFUHYLDP�DVVLP�HP� YHUPHOKR��FRUUHomR��+RMH�HP�GLD��RV�HVWXGRV�PXGDUDP��$V�WHRULDV�VmR�RXWUDV��PDV� DFKR�TXH�HVVDV�SUiWLFDV�HP�VDOD�GH�DXOD�IRUDP�~WHLV�QD�PLQKD�IRUPDomR��XVDU�R� GLFLRQiULR��H[SORUDU�RV�VLJQLÀFDGRV�H�DSUHQGHU�D�JUDÀD�FRUUHWD�GDV�SDODYUDV�� 'HSRLV�TXH�PH�IRUPHL��WLYH�XP�SURIHVVRU��R�5HQDWR�%UXOH]]H��TXH�WDPEpP�IRL�GHFL- VLYR�QD�PLQKD�YLGD��(OH�GDYD�XP�FXUVR�JUDWXLWR�GH�DUWH�SDUD�SURIHVVRUHV��QR�0$63�� (UD�IRUPDO��PDV�EHP�KXPRUDGR��'XUDQWH�DV�DXODV��IDODYD�XP�SRXFR�GD�YLGD� do pintor e depois analisava o quadro para um auditório sempre lotado. Não WLQKD�OLYUR��WH[WR��QHQKXP�FRPSURPLVVR�GH�GDU�XPD�GHYROXWLYD��ID]HU�UHGDomR�RX� TXDOTXHU�RXWUD�FRLVD��9RFr�SRGLD�LU�DSHQDV�SDUD�GHVIUXWDU�R�TXDGUR�H�FRQKHFHU� um pouco da história do pintor. Fui durante três anos, uma vez por mês. Puro GHOHLWH��PDV�TXH�WDPEpP�IRL�DOJR�PXLWR�LPSRUWDQWH�SDUD�D�PLQKD�IRUPDomR�� Silvia Ruiz coordenadora pedagógica 23 A aula também pode ser considerada como inadequada em relação às tecnologias PDLV�VRÀVWLFDGDV�D�TXH�RV�DOXQRV�WrP�DFHV- so, gerando falta de motivação. A aula pre- MXGLFDULD�RV�TXH�Mi�WrP�FRPSXWDGRUHV�H�RX- tros meios tecnológicos em casa, pois, nos meios digitais encontram-se informações múltiplas que não exigem o empenho para DSUHQGHU��D�ÀJXUD�GR�SURIHVVRU�RX�R�HVIRUoR� mnemônico. De todos os lados, a aula aparece como a YLOm�GDV�GLÀFXOGDGHV�TXH�D�HVFROD�H�RV�DOX- nos passam atualmente. No entanto, as direitas e as esquerdas >WHUPRV�H[FHVVLYDPHQWH�VLPSOLÀFDGRUHV�GD� questão política hoje posta] precisam da FRPSHWrQFLD�GD�DXOD�SDUD�GDU�FRQWD�GH�VHXV� projetos e programas civilizatórios, para seus programas de formação de valores, FRPSHWrQFLDV�H�GH�SDUWLFLSDomR�VRFLDO�� ���Z�d�ͳ^��K�&/D���^��h>�^� �KDK��d/s/������/��d/�� 3HOR�SHQVDPHQWR�RSRVWR�²�GR�ÀP�GDV�DXODV� como resolução de problemas da educação e da escola –, se acabarmos com a aula, tudo será resolvido. Os alunos aprenderão livre- PHQWH��D�ÀJXUD�LPSHUWLQHQWH��DXWRULWiULD�H�YH- tusta do professor desaparecerá e terá brilho o animador, o colaborador, o facilitador, como um verdadeiro “generalizador’’ que sabe tudo e não se pronuncia (não professa) sobre nada, mas que ocupará o lugar do antigo mestre (substituído pela memória de computadores, sistemas animados em 3D ou dos conteúdos das multimídias de “livre acesso”, nas nuvens digitais). A vontade e a capacidade espontâ- neas de crianças e jovens para aprender se- riam as grandes aliadas da escola. Basta o am- biente. Basta o respeito inocente à liberdade, à espontaneidade, à criança ou ao jovem, para que os estudantes se desenvolvam num com- plexo processo de aprendizagem das culturas, das investigações, das histórias, das nomen- claturas, dos algoritmos criados em séculos de trabalho de milhões de seres humanos. 0DV�p�R�FRQWUiULR�R�TXH�VH�Yr��3RU�H[HPSOR�� a descoberta do zero. Quanto tempo de es- forços foi necessário para ele ser incorporado ao saber humano? Diríamos que começar do zero o aprendizado sobre o zero seria um des- perdício e uma temeridade. 3DUD�FODULÀFDU�PHOKRU�D�GHÀQLomR�GH�DXOD�� é importante que se esclareçam os equívocos sobre ela. K�Yh��E�K����h>� 1. A aula não é uma atividade de mesma densi- dade para toda e qualquer tarefa e para toda e qualquer idade. Uma aula para crianças de 6 ou 7 anos deve ter uma estrutura, uma temática, uma metodo- logia, um tempo exigido de concentração, uma preparação, uma avaliação, um uso de exemplos, uma atividade diferente de uma aula dada para um grupo de alunos de um curso de mestrado. Parece óbvia tal distinção, mas não o é, na prática e nos discursos sobre defesa ou ataque da aula. Costuma-se dizer que ela é inadequada por- que é muito teórica ou que é ruim porque não tem atividades... ora para uma turma de pós- graduação pode ser teórica (pois seus ouvin- tes, mesmo ouvindo uma aula teórica fazem relações contínuas às suas práticas e tornam as aulas vivas e dinâmicas). Não há aula teó- rica, nesse nível de ensino, há sim ouvintes ou alunos teóricos – se não conseguirem relacio- nar as teorias às práticas. Em aulas para crianças o nível de praticida- de, de exemplos, de cantos de movimentação, de teatralização, de atividades deve ser outro diferente e adequado à faixa etária. A distinção de tipos de aulas para as diversas faixas etárias é fundamental para entendermos o que é aula. 24 2. A aula não é a arquitetura nem sua deco- ração interior (distribuição das carteiras, janelas, cores etc.). 3DUD�LUPRV�GHFDQWDQGR�D�LGHLD�GD�DXOD�HVVHQ- cial, podemos simplesmente começar limpando as equivocadas formas atuais de conceber a aula. a) Ela não se reduz ao equipamento escolar (embora as diferentes linhas pedagógicas e SROtWLFDV�WHQWHP�LGHQWLÀFi�OR�H�DGHTXi�OR�D� VHXV�PRGHORV���DV�VDODV��DV�FDGHLUDV��D� IRU- PD�GH�VHUHP�À[DGDV�DR�FKmR��HP�8��WRGDV� HQÀOHLUDGDV�� HP� IRUPD� GH� DQÀWHDWURV�� QmR� podem ser consideradas sua essência. b)�0HQRV�DLQGD�j�DUTXLWHWXUD�GRV�SUpGLRV� que abrigam as aulas, as chamadas salas de DXOD��8PD�H[FHOHQWH�DXOD�SRGH�VHU�GDGD�QXP� prédio de arquitetura seiscentista, feito para a HGXFDomR�GD�QREUH]D�LQJOHVD�RX�DOHPm��2�ÀO- me Sociedade dos poetas mortos simula tais aulas, mostrando o modo ideológico como se SRGH�YHU�D�HVFROD��´p�LPSRVVtYHO�WUDQVIRUPi� ODµ��$R�ÀQDO��PRUUH�R�DOXQR�TXH�TXHU�VHU�DUWLV- WD��H�R�SURIHVVRU�p�GHPLWLGR��9L�YiULDV�YH]HV�� em um país da África, as aulas serem dadas HPEDL[R�GH�XPD�iUYRUH��FXMR�FKmR�R�SURIHV- VRU�YDUULD�FXLGDGRVDPHQWH�GXUDQWH�XQV���PLQ� DQWHV�GH�RV�DOXQRV�FKHJDUHP��&RORFDYD�QHVVD� sala o quadro negro, em um lugar central, so- bre um tripé e, ao lado dele, os poucos tocos GH�JL]�GH�TXH�GLVSXQKD��'HL[RX�GH�VHU�DXOD"� 'HL[RX�GH�VHU�ERD"�$�HVVrQFLD�QmR�p�D�DUTXL- tetura, embora se possa entender que ela pode se adequar mais ou menos a um modelo de entendimento de como é a relação professor- DOXQR��8PD� VDOD� HP� IRUPD� GH� DQÀWHDWUR� presta-se a um tipo de aula magna e com EDL[D� LQWHUDomR�FRP�RV� DOXQRV��PDV�QmR� impossibilita que a relação entre profes- sor e aluno aconteça - nem mesmo dos alunos entre si. A diretriz pedagógica e a dimensão política de compreensão do que seja o papel da educa- omR�H�GD�HVFROD�VmR�R�TXH�D�GHÀQHP��7DPEpP�D� GHÀQH�R�JUDX�GH�GHVHQYROYLPHQWR�GR�DOXQR�SRU� VXD�IDL[D�HWiULD�RX�SRU�VHXV�HVWXGRV�SUpYLRV� 3. A aula não se confunde com sua dinâmica. (OD� QmR� p� UHVSRQViYHO� SHOD� GLQkPLFD� GH� silêncio, em que apenas o professor sabe; nem é a culpada pela passividade, em que WRGRV�RV�DOXQRV�GHYHP�ÀFDU�TXLHWRV� WRGR�R� tempo; nem pelo fato de que só o professor decide o que os alunos aprenderão; ou se sua VHTXrQFLD�QmR�SRGH� VHU� LQWHUURPSLGD��7XGR� LVVR�QmR�GHÀQH�TXH�D�DXOD�GHYD�VHU�H[HFUD- da e que nada dela se aproveite. É comum DWULEXLU�VH�j�DXOD�HP�VL�D�SHUYHUVLGDGH�JHUDGD� SRU�HOD�DRV�DOXQRV��OHYDQGR�RV�j�SDVVLYLGDGH� e impedindo-os de elaborar níveis mais com- SOH[RV� GH� DSUHQGL]DJHP�� FRPR� HVWDEHOHFHU� UHODo}HV��UHDOL]DU�MXOJDPHQWRV��ID]HU�DQiOLVHV� ou sínteses dos temas e problemas tratados. 1mR�p�GHVVD�DXOD�TXH�IDODPRV�DTXL��(VVD�GHV- FULomR�HTXLYRFDGD�GR�TXH�p�D�DXOD�QmR�GHÀQH� a aula em seu sentido essencial, mas refere- se a alguns modelos pedagógicos que fazem uso dela equivocadamente. 1HVVH�FRQWH[WR��DSDUHFH�D�SHFKD�GH�HGXFDomR� EDQFiULD�j�DXOD��3DXOR�)UHLUH�D�HOD�VH�UHIHULD� paradenunciar o fenômeno conceitual e pe- dagógico que parte do princípio que o aluno tem a cabeça vazia e que deve ser preenchi- da com conteúdos. Dizem que é nela, a aula, que se depositam com conteúdos impostos e indigestos nas cabeças dos alunos. E, por LVVR��Ki�D�GHVPRWLYDomR�GH�WRGRV��$OpP�GLV- VR��VmR����D����DOXQRV�VXEPHWLGRV�D�FXVSH�H� a giz, sempre dentro de uma disciplina auto- ULWiULD��TXH�QmR�UHVSHLWD�RV�GLIHUHQWHV�ULWPRV� da aprendizagem de cada um, nem a dúvida, nem a discordância etc. $�FUtWLFD�QmR�VH�UHIHUH�j�DXOD��PDV�� LQVLVWR�� ao modelo ideológico-político sobre o qual a organização curricular e escolar se assenta. Situar-se no mundo. $VVLP�FRPR�D�PDLRULD�GDV�FULDQoDV�GD�PLQKD� pSRFD��HX�WLQKD�PXLWD�GLÀFXOGDGH�HP�0DWHPiWLFD��4XDQGR�WHQWDYDP�PH�HQVLQDU�DOJR� na escola, já partiam de algum ponto importante, mas nunca me perguntavam: ��9RFr�Mi�VDEH�FKHJDU�DWp�DTXL"� )RL�HQWmR�TXH�HX�WLYH�XP�SURIHVVRU�GH�0DWHPiWLFD�TXH�HUD�IUDQFrV�H�KDYLD�VLGR�SD- GUH��(OH�XVDYD�D�PDWHPiWLFD�PDUDYLOKRVDPHQWH��GH�XPD�IRUPD�IiFLO��WURFDYD�WXGR�HP� PL~GRV��3ULPHLUR��FRQWRX�SDUD�D�FODVVH�TXH�QmR�H[LVWLD�PLVWpULR�H�TXH�WXGR�FRQWLQKD� DOJXP�FRPSRQHQWH�PDWHPiWLFR��XP�HQYROYLPHQWR�FRP�Q~PHURV��2X�VHMD��DTXLOR�LULD� fazer parte da nossa vida para sempre. Portanto, não adiantava ignorar ou achar LPSRVVtYHO�GH�DSUHQGHU��'Dt�TXH�HX�GHVFREUL�VHU�XPD�FDUDFWHUtVWLFD�LPSRUWDQWH�HVVD� GH�VDEHU�VLWXDU�R�JUXSR��DSUHQGHU�D�YHU�MXQWRV��GHVGH�RQGH�p�QHFHVViULR�FRPHoDU�� 4XDQGR�HVVH�SURIHVVRU�FRPHoRX�D�QRV�VLWXDU�H�D�FRQWDU�D�KLVWyULD�GRV�DOJDULVPRV�� dos sinais matemáticos, quem havia usado pela primeira vez, como pensou aquilo... D�PDWpULD�ÀFRX�PXLWR�PDLV�HQWXVLDVPDQWH��(VVH�IRL�R�PHOKRU�SHUtRGR�GH�DXOD�SDUD� mim, quando eu tinha 11 anos! ´8PD�ERD�DXOD�FRPHoD�SHOD�HPSDWLD�HQWUH�SURIHVVRUHV�H�DOXQRV��,VVR��SUD�PLP�� sempre foi muito forte, mas sem nenhuma pieguice do tipo “tem que ser amiguinho” ou que “tudo é sentimento”... nunca achei nada disso! 2XWUD�FRLVD�p�D�HVFROD�VHU�DWHQWD�DR�IDWR�GR�PXQGR�VHU�IRUD�GR�PXUR��2X�VHMD��D� escola precisa contar as coisas desse mundo e não apenas o que acontece no nosso SHTXHQR�TXDGULOiWHUR��SRUTXH�HODV�QmR�WrP�VLJQLÀFDGR�Oi�IRUD����SULQFLSDOPHQWH��VH� FRQVLGHUDUPRV�R�SHUÀO�GRV�DOXQRV�GH�(-$��(OHV�FKHJDP�VHP�QHQKXPD�DXWRHVWLPD�� 6mR�GHVSUH]DGRV�VRFLDOPHQWH�H��jV�YH]HV�DWp�SHOD�SUySULD�IDPtOLD��,VVR�p�XP�JUDQGH� empecilho para que o jovem ou adulto se apaixone pelo que ele foi fazer na escola. $t�HX�Mi�FRPHoR�VLWXDQGR�R�DOXQR��PH�DSUHVHQWDQGR��H[SOLFDQGR�VREUH�R�TXH�VHUi� D�DXOD����HQWmR�SHUJXQWR����(�YRFr"�2�TXH�YHLR�EXVFDU�DTXL"�2�TXH�YRFr�SUHWHQGH� HQFRQWUDU�DTXL"�2�TXH�PRELOL]RX�YRFr�TXH�WH�GHX�YRQWDGH�GH�YROWDU�D�HVWXGDU�RX�WH� IH]�SHUFHEHU�TXH�HUD�LPSRUWDQWH�FRPHoDU�D�HVWXGDU"� $t�D�IDOD�GHOHV�UHÁHWH�D�SHUFHSomR�GH�TXH�QmR�VmR�YDORUL]DGRV�QD�VRFLHGDGH�SRU� FDXVD�GR�WLSR�GH�WUDEDOKR�TXH�FRVWXPD�DSDUHFHU��YDUUHU�UXD�HWF��7UDEDOKRV�TXH�QmR� VmR�´UHFRQKHFLGRVµ�QD�VRFLHGDGH��(X�FRPHoR�HQWmR�D�TXHVWLRQDU�HVVDV�LGHLDV�� - Como assim, não vale nada? Às vezes, tarde da noite, quando estou deitada na cama e escuto o barulho do caminhão do lixo, me pergunto: Puxa... quem será que está WUDEDOKDQGR�D�HVVD�KRUD�OLPSDQGR�QRVVDV�UXDV"��9RFrV�QmR�DFKDP�TXH�p�LPSRUWDQWH"� Dessa forma, eu vou chegando neles... a aula vai se estruturando por meio de um resgate das histórias de vida, tentando aproveitar cada momento para valorizar o TXH�Mi�À]HUDP�DWp�HQWmR��$t�HX�GLJR����WXGR�LVVR�YRFrV�À]HUDP�VHP�VDEHU�OHU��,PDJLQH� quando vocês puderem ler?! Falta muito menos do que vocês imaginam! Stella Meixner, professora da EJA 26 4. A aula não se confunde com os seus atores. A aula não é um espaço do professor, mas WDPEpP�QmR�p�R�PRPHQWR�H[FOXVLYR�GRV�DOXQRV�� e�XP�HVSDoR�GH�FRQYHUVD��GH�GLiORJR��SRUpP�� QmR�GH�XP�GLiORJR�HQWUH�LJXDLV��e�R�PRPHQWR�GH� apresentação e vivência de diferentes graus de FRQKHFLPHQWR��3DXOR�)UHLUH�GL]�TXH�R�UHVSHLWR� TXH�R�SURIHVVRU�Gi�DR�DOXQR�H�VXD�YDORUL]DomR�GR� saber do outro não o reduz a ser o mesmo que R�RXWUR�� HP� WHUPRV�GH� VDEHU��6mR� VDEHUHV�TXH� trazem elementos complementares e diversos e TXH�Vy�WrP�VHQWLGR�VH�HVWLYHUHP�HP�GLiORJR��(Q- WUHWDQWR��R�SURIHVVRU�WHP�R�TXH�GL]HU��7XGR�DFRQ- tece a partir do que sabe, do que ouve, do que considera, do saber local, do saber dos alunos, GD�FODVVH��PDV�HP�GLiORJR�FRP�R� VHX�SUySULR� saber e com o currículo. 2�TXH�HVWi�QR�IXQGR�GD�GLVFXVVmR�p�TXH�D� escola é, sim, um aparelho reprodutor de to- dos os modelos de sociedade. É um aparato para a importante, quase imprescindível, im- SODQWDomR�GH�TXDLVTXHU�H��GH�WRGRV�RV��VLVWH- mas econômicos. É um braço cooptador dos PRGHORV�LGHROyJLFRV�RX�UHOLJLRVRV��1R�HQWDQ- WR��LGHQWLÀFDU�D�HVFROD�FRP�XP�GDGR�PRGHOR� ou uma proposta da sociedade, desconside- UDQGR�VHX�FDUiWHU�FRQWUDGLWyULR��p�HQWUHJi�OD�D� um dos lados da contenda social que luta pela hegemonia da sociedade. A escola é um espaço de conquista, de luta, as- sim como a aula, elemento essencial em seu inte- rior. Ela é um espaço de disputa política. O QUE É A AULA? 'HÀQLQGR�D� �SURYLVyULD� H� VLPSOLÀFDGD- PHQWH���SRGH�VH�GL]HU�TXH�D�DXOD�p�XP�DP- biente envolvendo alunos e mestres que or- ganizam uma sequência de conhecimentos com uma estrutura que contém as seguintes SRVVLELOLGDGHV�H[SRVLWLYDV�H�DUJXPHQWDWLYDV� a)�2�FRQWH[WR�H�D�SUREOHPDWL]DomR� b)�([SOLFDomR��DV�SUiWLFDV�H�D�KLVWyULD� c)�$�UHÁH[mR��RV�DUJXPHQWRV��DV�VROXo}HV� d)�&RQFOXV}HV��VtQWHVHV�H�QRYRV�GHVDÀRV��XWRSLDV� Diversos e ricos nomes podem ser da- dos a esses quatro tópicos. Mas, indepen- dentemente de sua nomenclatura, serão DSUHVHQWDGDV� DOJXPDV� H[SOLFLWDo}HV� GH� seus significados. 1D�SUy[LPD�HGLomR�GH�0DJLVWpULR�� DSUR- fundaremos esses conceitos que constituem o núcleo duro e essencial de uma aula e, SULQFLSDOPHQWH�� WUDWDUHPRV� GD� DXOD�H[SDQ- GLGD��LVWR�p��GDV�DOWHUQDWLYDV�GLGiWLFDV�H�SH- dagógicas que podem ser construídas em WRUQR� GHVWH� Q~FOHR��$Wp� Oi�� FRQWDPRV� FRP� VHXV�FRPHQWiULRV�H�FRQWULEXLo}HV�D� UHVSHL- to, no website�GD�'27�²�KWWS���IRUXP�VPH� prefeitura.sp.gov.br BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALMEIDA, Fernando J. Paulo Freire- “Folha Explica’’. São Paulo: Publifolha, 2009. ALMEIDA, Fernando J. Computador, escola e vida. São Paulo: Cubzac, 2007. �>D�/��͕�D͘��ůŝnjĂďĞƚŚ��͘�͖�WZ��K͕�DĂƌŝĂ��ůŝnjĂďĞƩĞ��͘��͘�;KƌŐ͘Ϳ�O ĐŽŵƉƵƚĂĚŽƌ�ƉŽƌƚĄƟů�ŶĂ�ĞƐĐŽůĂ ͘São Paulo: Avercamp, 2011. ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofando. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993. BAUMAN, Z. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. DEWEY, John. Democracia e Educação. 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(X�VHPSUH� IXL�PXLWR�FXULRVD��PDV� WDPEpP�EDVWDQWH�WtPLGD��3HOR�IDWR�GH�QmR�WHU�LQFHQWLYR�HP�FDVD��HX�WDPEpP� WLQKD�PXLWD�GLÀFXOGDGH�SDUD�DSUHQGHU�� 0H�PDUFRX�XP�PRPHQWR�QD�TXDUWD�VpULH��FRP�D�SURIHVVRUD�GH�&LrQFLDV��TXDQGR� WLYHPRV�XPD�DXOD�GH�GDQoD��0H�LGHQWLÀTXHL�FRP�HOD��XPD�PRoD�H[LJHQWH��TXH�VDELD� separar muito bem quando era o momento de conversar e quando precisávamos es- WDU�HP�VLOrQFLR�SDUD�HVWXGDU�RX�OHU��1HVVDV�KRUDV��HOD�QmR�QHJRFLDYD����QyV�WtQKDPRV� TXH�ID]HU�D�QRVVD�SDUWH��0DV�DV�DXODV�YDOLDP�PXLWR�D�SHQD�SRUTXH�HOD�WLQKD�R�GRP�GH� PXGDU�D�URWLQD�SURSRQGR�FRLVDV�GLIHUHQWHV��GHVDÀDGRUDV��H�VHPSUH�WUD]LD�DOJR�QRYR�� uma leitura, um recorte de jornal, a que a gente da periferia não tinha acesso. 3DUD�PLP�HUD�DOJXpP�PXLWR�JUDQGH��SRUTXH�IDODYD�WDPEpP�GH�0DWHPiWLFD��IDOD- va de História ia viajar nas férias e contava sobre como havia sido a viagem. Com- SDUWLOKDYD�FRP�D�JHQWH�R�VHX�FRQKHFLPHQWR�GD�YLGD��H�DFKR�TXH�HGXFDomR�p�LVVR��QmR� p�Vy�ÀFDU�QD�HVFROD��$�HGXFDomR�p�R�PXQGR�� 5HFHQWHPHQWH��À]�XPD�YLDJHP�H�PH�OHPEUHL��QD�KRUD��GDV�DXODV�GH�&LrQFLDV��8P� lugar que ela tinha ido, tinha mostrado as fotos da sua viagem há décadas, e eu JXDUGHL�LVVR�QD�PLQKD�PHPyULD��JXDUGHL�HVVD�OHPEUDQoD��'H�DOJXPD�PDQHLUD��HOD� me contagiou com o seu entusiasmo por ter conhecido um lugar diferente, onde se IDODYD�XPD�RXWUD�OtQJXD�� 5HWRPDQGR�R�PRPHQWR�HP�TXH�HVVD�SURIHVVRUD�RUJDQL]RX�D�DSUHVHQWDomR�GH�GDQ- oD��SHUFHER�FRPR�DTXLOR�IRL�LPSRUWDQWH��6HQGR�FXULRVD��SHUFHEL�TXH�DOL�HVWDYD�XPD� chance de deixar a minha timidez de lado para me abrir a um outro jeito de aprender TXH�HUD�H[WUDRUGLQiULR��$�P~VLFD�DWp�KRMH�HX�PH�OHPEUR����HUD�LQVWUXPHQWDO��$�URXSD� TXH�D�JHQWH�XVRX�WDPEpP�ÀFRX�QD�PHPyULD��XPD�VDLD�YHUPHOKD�VREUH�XPD�URXSD� DJDUUDGLQKD�SUHWD��(VVD�H[SHULrQFLD�FRP�RV�PRYLPHQWRV�GR�FRUSR�PH�PDUFRX�DWp� hoje. Quando visito as escolas que supervisiono, não concordo ao ver os alunos ali VHQWDGRV�GHQWUR�GD�VDOD�GXUDQWH�TXDWUR�RX�VHLV�KRUDV��(OHV�SUHFLVDP�VH�PRYLPHQWDU� Como supervisora, eu gosto de percorrer a escola e conhecer as atividades GDV�FULDQoDV�QDV�YLVLWDV��4XDQGR�YRFr�REVHUYD�FRPR�D�FULDQoD�HVWi�SURGX]LQ- GR��GH�DFRUGR�FRP�RV�UHJLVWURV��ÀFD�PXLWR�FODUR�QRV�WUDEDOKRV�GHOD�TXDQGR�HVWi� RFRUUHQGR�R�GHVHQYROYLPHQWR�TXH�D�JHQWH�WDQWR�HVSHUD��0H�LQWHUHVVD�DFRPSD- nhar como as pessoas estão aprendendo lá. Quero ver como o projeto pedagó- JLFR�FKHJD�GH�YHUGDGH�QD�YLGD�GD�FULDQoD��DWUDYpV�GR�TXH�HODV�UHDOL]DP��PHVPR� que seja no momento de brincar. Às vezes nem precisa ver o caderno! Só de con- versar com o aluno já dá para perceber se ele gosta ou não de lá, se está inserido nas aulas de verdade. A gente também sente como está a escola, conversando FRP�DV�SURIHVVRUDV��(ODV�VHPSUH�GmR�DOJXP�MHLWR�GH�UHFODPDU�VREUH�DOJR�TXH�QmR� está bem, ou elogiam o que acham bom. �ƌŝƐƟŶĂ Aguiar, supervisora de ensino Escolar aulas-cenas Luis Carlos de Menezes Professor e orientador na Pós *UDGXDomR�QD�863��'RXWRU�HP� )tVLFD�FRQVXOWRU�GD�81(6&2�SDUD� UHIRUPXODomR�FXUULFXODU�GD�HVFROD�EiVLFD� PHPEUR�GR�&RQVHOKR�7pFQLFR� &LHQWtÀFR�SDUD�(GXFDomR�%iVLFD�GD &$3(6�0(&��DXWRU�GH�OLYURV�VREUH� IRUPDomR�GH�SURIHVVRUHV��VREUH�ItVLFD e sobre a universidade brasileira. 28 29 Não as penso isoladas dadas 0DV�WUHFKRV�GH�SHUFXUVRV cursos Não frases de poemas temas 0DV�REUDV�FROHWLYDV vivas Professores Produtores &RQWLGDV� HP� XP� WHPSR� OLPLWDGR�� DXODV� VmR�WUHFKRV�GH�XP�SHUFXUVR�TXH�OKHV�Gi�VLJ- QLÀFDGR� H�� DLQGD� TXH� FRQFHELGDV� SRU� TXHP� YDL�FRQGX]L�ODV��HODV� VmR�H[SHULrQFLDV�FROH- WLYDV�� QmR� DQWHFLSiYHLV�� 0DV� FRPR� QmR� Ki� jornada sem projeto, cada aula deve ser pla- nejada como se os professores fossem pro- GXWRUHV� GH� XP� ÀOPH�� SURJUDPDGR� DQWHV� GH� se conhecerem os atores, seus novos alunos, esses imprevisíveis seres singulares. As aulas são as cenas, as etapas são os HSLVyGLRV�H�R�ÀOPH�p�D�UHDOL]DomR�GH�WRGRV�� 2V� DOXQRV� VmR� D� XP� Vy� WHPSR� RV� LQWpUSUH- tes, os iluminadores, os câmeras, partícipes ativos da obra coletiva de aprender. As pri- meiras aulas servirão para a preparação do elenco, as seguintes são como ensaios, até TXH�WRGRV�SRVVDP�SDUWLFLSDU�SUD�YDOHU�GD�ÀO- magem do que foi previsto no roteiro. 1D�SURSRVLomR�GDV�DWLYLGDGHV�TXH�FRQVWUR- em o aprendizado, a professora ou o professor tem, sobretudo, a função do produtor, mas, em cada aula, eles dirigirão as cenas e seus alu- nos serão seus protagonistas e coadjuvantes, R�HVSHWiFXOR�IRUPDWLYR�VHQGR�DLQGD�PHOKRU�VH� WRGRV�À]HUHP�FRQVFLHQWHPHQWH�VHXV�SDSpLV�� A partir da compreensão de que apren- de quem faz, todos serão estimulados a fa- zer o que promova seu aprendizado. Assim, organiza-se a ação para que, conversando e lendo, aprenda-se a falar e ler; contando e avaliando, aprenda-se a calcular, usando mapas, aprenda-se a se localizar e deslocar; trabalhando junto, aprenda-se a cooperar. É DVVLP�� QR� FRQWH[WR� H� D� VHUYLoR� GH� XPD� VH- quência mais ampla, que cada aula-cena é concebida. Recepção e Apresentação do Roteiro As primeiras aulas são momentos de co- nhecimento recíproco. Especialmente se a turma é nova, os alunos começam a se co- QKHFHU�HP�GLiORJRV��DGHTXDGRV�D�FDGD�IDVH�� tratando temas de interesse comum. E en- IUHQWDQGR�GHVDÀRV�O~GLFRV��HOHV�UHYHODP��QR� início de cada período, conhecimentos pré- vios, habilidades e traços de personalidade. 1HVVD�HWDSD��DYDOLD�VH�D�FRQGLomR�GH�FKHJDGD� e também os professores se fazem conhecer, JDQKDQGR�D�FRQÀDQoD�GD�WXUPD��VH�VRXEHUHP� revelar liderança e compreensão. Essa fase de recepção vai gradualmente sendo sucedida pelos primeiros ensaios e, em VHJXLGD�� SHOR� GHVHQYROYLPHQWR� GR� URWHLUR�� j� PHGLGD� TXH� VH� Yi� FRQKHFHQGR� R� HOHQFR�� RX� seja, as características e diferentes condições GH�HQWUDGD�GRV�HVWXGDQWHV��$�SDUWLU�GLVVR��VHUi� possível propor uma variedade de atividades para que todos encontrem as que os motivem H�GLDQWH�GDV�TXDLV�HVWHMDP�j�YRQWDGH�� 3RU�H[HPSOR��QXPD�WXUPD�HP�TXH�D�PDLR- ULD� Mi� HVWHMD� HVFUHYHQGR�� XPD� FULDQoD� FRP� LQVXÀFLHQWH� FRQGLomR� GH� DOIDEHWL]DomR� SRGH� VHU� HVWLPXODGD� D� GHVHQKDU� H� D� VH� H[SUHVVDU� RUDOPHQWH�j�PHGLGD�HP�TXH�YDL�DFHUWDQGR�R� passo. Da mesma forma, um jovem carecendo de conhecimentos prévios para uma atividade coletiva pode ser encorajado a apoiar seu gru- po mobilizando outra habilidade, como orga- nizar e distribuir tarefas ou fazer buscas em ambientes virtuais. 5HFRQKHFHU� H� UHJLVWUDU� D� FRQGLomR� GH� entrada e propor a diversidade de possibi- OLGDGHV� GH� HQJDMDPHQWR� HP� SUiWLFDV� FROHWL- vas evita que alguns se sintam incapazes de 30 acompanhar os primeiros movimentos de seu grupo e, por conta disso, se autossegreguem ou sejam segregados. Uma mera diferença de ritmo pode resultar em defasagem perma- nente, por isso é preciso adequar atividades a cada aluno para que a turma possa avançar VHP�GHL[DU�QLQJXpP�SDUD�WUiV� 1R� PRPHQWR� DGHTXDGR�� RV� SURIHVVRUHV� devem sinalizar o trajeto a ser percorrido, até mesmo por escrito. Mesmo crianças pequenas podem compreender o sentido de cada cena, se toda aula for sempre percebida como um FRQYLWH�SDUD�SDUWLFLSDomR�YROXQWiULD��7DPEpP� suas famílias podem acompanhar o previsto e o realizado. Em turmas mais avançadas, é SRVVtYHO� H[SOLFLWDU� GLUHWDPHQWH� DRV� DOXQRV� R� roteiro e sua mensagem, contando o que se vai aprender em cada etapa ao realizar quais DWLYLGDGHV��6H�RV�REMHWLYRV�GR�DSUHQGL]DGR�IR- rem compartilhados, pode-se ganhar cumpli- cidade e corresponsabilidade para cumpri-los. Primeiros Episódios para Construir o Elenco As primeiras etapas de um curso são sem- pre as mais importantes, porque nelas os es- WXGDQWHV� GHVHQYROYHP� FRQÀDQoD� RX� WHPRU�� HVSHUDQoD�RX�GHVFRQÀDQoD��UHFHSWLYLGDGH�RX� preconceito. A atitude de quem ensina é tão importante quanto suas ações, como nas pri- PHLUDV� FHQDV� GH� XP�ÀOPH� HP�TXH�� FRP�XP� VLPSOHV� ROKDU�� R� SHUVRQDJHP� FHQWUDO� Mi� SUH- QXQFLD� VHX� FDUiWHU�� 3URIHVVRUHV� QmR� SRGHP� subestimar a importância de sua centralidade, que faz, de cada gesto, algo simbólico; espe- cialmente, uma impressão inicial que pode se mostrar irreversível. �3RGHPRV��HQWmR��GLVFXWLU�R�TXH�p�GLUL- gir a cena. Antes de tudo, é ter clareza de que os protagonistas e coadjuvantes são os alunos, e de que quem dirige atento ao script escolhe as linguagens a serem empregadas e os conceitos a serem apren- didos. E cumprir o roteiro, que é função do professor, é preparar a ação de quem LQWHUSUHWD��2�DWR�GH�HQVLQDU� Vy� VH� UHDOL]D� QR�DWR�GH�DSUHQGHU��R�TXH�HVWi�ORQJH�GH�VHU� óbvio, mesmo que pareça. &RP�HVVD�FRPSUHHQVmR��TXHP�GLULJH�QmR� VH�SHUJXQWD�R�TXH�GHYHUi�ID]HU�HP�FHQD��PDV� VLP�R�TXH�OHYDUi�RV�DWRUHV�D�ID]HUHP�VHX�SDSHO� e, se estes erguerem a voz em hora imprópria RX�VH�PRVWUDUHP�DSiWLFRV��GLULJLU�QmR�p�UHDJLU� D� JULWRV� FRP�JULWRV�� RX� j� DSDWLD� FRP�DSDWLD�� mas orientar a interpretação correta com deli- FDGH]D��ÀUPH]D�H�FRPSUHHQVmR�� Estabelecida essa relação de trabalho, po- GH�VH�GL]HU�TXH�R�HOHQFR�HVWi�SUHSDUDGR��QmR� porque daí para frente seja mera rotina, mas SRUTXH�DV�DWLWXGHV�EiVLFDV�WHUmR�VLGR�DSUHQ- didas, as regras de convívio estabelecidas H� WRGRV� Mi� WHUmR� VH� SHUFHELGR� UHVSRQViYHLV� pelos resultados. Essa etapa formativa pode levar algum tempo, mas vale cada instante empregado, pois os professores poderão, então, prosseguir seu trabalho com a turma SUHSDUDGD�� 3DUD� R� VXFHVVR� RX� LQVXFHVVR� GR� DSUHQGL]DGR� GH� WRGRV�� R� HVIRUoR� GH� ´FRQV- WUXLU�D�WXUPDµ�ID]�WRGD�D�GLIHUHQoD� Realizar e Avaliar ao Mesmo Tempo 1D�SURGXomR�GH�XPD�REUD�FROHWLYD��FRPR� o conduzir do aprendizado de uma turma de DOXQRV��p�LQVHQVDWR�GHL[DU�D�DYDOLDomR�GR�WUD- balho para depois da conclusão ou, por assim GL]HU��GHOHJDU�LVVR�´Vy�SDUD�D�FUtWLFDµ��*DUDQ- WH�VH� r[LWR� TXDQGR� VH� DYDOLD� FRQWLQXDPHQWH� R� TXH� VH� ID]�� FRP� XP� HQWHQGLPHQWR� EiVLFR� de que conduzir aulas, como dirigir cenas, é H[HUFHU�FRQWtQXD�DYDOLDomR� 6H�XPD�DWLYLGDGH� ItVLFD� HQYROYH� FRUUHU� H� VDOWDU��HOD�SUySULD�Gi�HOHPHQWRV�SDUD�VHU�DYD- liada e basta um registro regular do alcança- GR�� VHP� TXH� VHMD� QHFHVViULD� XPD� ´SURYD� GH� Muito além do discurso. “As aulas mais legais acontecem quando a gente pode fazer coisas diferentes, além de escrever como, por exemplo, montar coisas. 1R�DQR�SDVVDGR�À]HPRV�XP�PRGHOR�GH�SXOPmR����HVWXGDPRV�FRPR�IXQFLRQD�R�GLDIUDJPD� H�R�SXOPmR��9LPRV�FRPR�XP�p�HVVHQFLDO�SDUD�R�RXWUR��0RQWDPRV�FRP�JDUUDID�SHW��EH[LJD� e uma caneta. Foram utilizadas duas aulas pra fazer. Saímos da sala para testar o experi- PHQWR�QD�iJXD��9LPRV�FRPR�IXQFLRQDYD�R�QRVVR�SXOPmR�TXDQGR�D�JHQWH�SUHFLVD�SUHQGHU� D�UHVSLUDomR��3RU�H[HPSOR��TXDQGR�HVWDPRV�QDGDQGR��$�JHQWH�ÀFDYD�FRQWDQGR�RV�PLQXWRV� SUD�FKHJDU�HVVD�DXOD��SRUTXH�HUD�PXLWR�OHJDO��2XWUD�DWLYLGDGH�TXH�À]HPRV�QR�DQR�SDVVDGR� IRL�GXUDQWH�DV�DXODV�GH�*HRJUDÀD��)L]HPRV�XP�GLiULR�GH�ERUGR�FRPR�VH�D�JHQWH�WLYHVVH� YLDMDGR��SHOD�(XURSD��(VFROKHPRV����SDtVHV�GH�UHJL}HV�GLIHUHQWHV�H�SHVTXLVDPRV��WXGR�VREUH� FDGD�XP�GHOHV��KDELLWDQWHV��FRPLGDV��GDQoDV��WXGR��7LQKD�TXH�SHVTXLVDU�FRPR�VH�D�JHQWH� WLYHVVH�YLDMDGR�SRU�Oi���DWp�XP�QRPH�GH�XP�KRWHO�SUD�ÀFDU���$�JHQWH�WHUPLQRX�XP�SRXTXLQKR� DQWHV�GDV�IpULDV��0RQWDPRV�SDLQpLV�FRP�WXGR�LVVR��3DUHFLD�TXH�WtQKDPRV�HVWDGR�Oi�µ Hanna Monteiro, aluna da 8a. Série João Otávio Correia, aluno da 6a. Série Vitória Alencar dos Santos aluna da 8a. Série ´(X�JRVWR�PDLV�GDV�DXODV�GH�0DWHPiWLFD�SRUTXH�R�SURIHVVRU�H[SOLFD�DWp�D�JHQWH� entender, quantas vezes precisar. Até aqueles que iam mal antes agora conseguem aprender. Existe uma turma especial à tarde só para quem quer se preparar para HQWUDU�QDV�HVFRODV�WpFQLFDV��TXDQGR�IRUPRV�SDUD�R�(QVLQR�0pGLR���HX�TXHUR�ID]HU� 5REyWLFD��1HVVDV�DXODV�HOH�SDVVD�H[HUFtFLRV�TXH�FDHP�QR�YHVWLEXODU��$�FDGD�VHPDQD� WHP�XP�GLIHUHQWH�SDUD�UHVROYHU�DWp�D�SUy[LPD�DXOD��6mR�PXLWR�GLItFHLV��0DV��HX�JRVWR� GR�GHVDÀR�GH�WHQWDU�UHVROYHU����D�JHQWH�SUHFLVD�TXHEUDU�D�FDEHoD�� 7HYH�XP�GLD�TXH�HOH�SDVVRX�XP�SUREOHPD�QHVVD�DXOD�HVSHFLDO�TXH�HUD�WmR�FRP- SOLFDGR�TXH�QLQJXpP�VDELD�FRPR�ID]HU��7LQKD�TXH�GHVFREULU�XPD�IRUPD�GH�FRORFDU� algumas linhas dentro de um quadrado sem que nenhuma delas se cruzasse com as RXWUDV��(X�IXL�SDUD�FDVD�H�ÀTXHL�SHQVDQGR�DWp�GHVFREULU�D�UHVSRVWD��1R�GLD�VHJXLQWH� contei na sala como resolvia. Achei legal porque fui a única da turma que conseguiu UHVROYHU��'HSRLV�TXH�HX�FRQWHL�FRPR�À]�WRGR�PXQGR�DFKRX�IiFLO��0DV��WLQKD�TXH�SHQ- VDU�EDVWDQWH�SDUD�FRQVHJXLU�FKHJDU�QR�UHVXOWDGR�µ “Nós tivemos uma aula muito legal de Ciências. Cada um tinha que levar a folha de alguma árvore para a escola. O professor pegava cada folha e mostrava no livro qual era a árvore. Cada folha tinha uma página no livro. Aí ele explicou uma forma de desidratar a folha. A gente colocou um contact por cima para colar a folha na cartolina, com as ex- plicações que estavam no livro: qual era o tipo daquela folha, de que tipo de planta era. $SUHQGL�XP�PRQWH�GH�FRLVD�OHJDO�FRP�HVVH�WUDEDOKR�µ�� Eu só ensinei se alguém aprendeu. “A aula está na raiz do processo pedagógico formal. Ela é, por excelência, a forma de trans- missão da nossa bagagem cultural de uma geração para outra. Sua origem remonta aos primórdios da civilização, quando, em algum momento, aban- donamos um sistema informal de aprendizagem, baseado apenas na obser- vação, para um sistema formal no qual o detentor do conhecimento compar- tilhava seu saber com os demais. Desde então a aula nos acompanha, de diferentes maneiras, em diferentes níveis, mas o fundamental é entender que ensinar não é um ato unilateral. É como vender. Eu só vendi alguma coisa se alguém a comprou, da mesma forma que eu só ensinei algo se alguém aprendeu. Pessoalmente, nunca deixei de dar aula, apesar da minha especialização em administração escolar e dos cargos que ocupei ao longo da minha carreira: inspetor escolar, diretor de grupo escolar, diretor regional de educação, Secre- tário da Educação e agora presidente do Conselho Municipal de Educação. Ficaram para trás os meus anos de professor primário, marcadamente na zona rural. Depois de ter saído de Santos, minha cidade natal, minha famí- lia mudou-se para Franca, onde cursei a escola normal, em uma escola de aplicação, onde, desde cedo, os alunos começavam a ensinar. Na época, esse HUD�XP�FXUVR�PDUFDGDPHQWH�IHPLQLQR��DV�FDUWHLUDV�HUDP�GXSODV�H�À[DGDV�QR� chão, o professor se postava na frente e o quadro negro era um espaço de comunicação entre ele e os alunos. Assim que me formei, prestei concurso para professor primário. Sempre dei aula em escolas da zona rural. Era uma época em que as regiões do estado eram conhecidas pelas ferrovias - Sorocabana, Mogiana, Araraquarense etc - e a escola típica rural tinha programas de horta, pomar e criação. Nas áreas rurais, o professor tinha uma relação de proximidade maior com a comunida- de, do fazendeiro aos empregados. Era comum uma relação de compadrio: SHUGL�D�FRQWD�GR�Q~PHUR�GH�DÀOKDGRV�TXH�WHQKR��(UD�WDPEpP�XPD�pSRFD�GH� êxodo rural em direção às cidades. Dei aula no interior do Estado e também na Vila Ema, em São Paulo, região não menos rural à época. Cursei pedagogia na USP e me especializar em Administra- ção Escolar, quando iniciei minha carreira de professor universitário na USP. Para mim, a escola cntinua sendo a principal agência social para transmissão do conhecimento, e a aula ainda é sua ferramenta mais importante de comuni- cação. É claro que aquela aula mais tradicional, expositiva, não é a única nem mesmo a mais relevante. A aula deve incorporar a tecnologia que, de certa forma,PRGLÀFD�R�SDSHO�GR�SURIHVVRU��TXH�SRGH�XWLOL]DU�QRYRV�UHFXUVRV�FRP�VXFHVVR�µ João Gualberto de Carvalho Meneses é presidente do Conselho Municipal de Educação e professor há 60 anos. 33 VDOWR� H� FRUULGDµ� IHLWD� j� SDUWH��9DOH� R�PHVPR� para coisas como redigir, calcular, elaborar ta- EHOD�H�D�WUDQVSRU�HP�JUiÀFR��RX�H[SRU�HP�YR]� alta uma argumentação. Em turmas grandes, no entanto, mestres le- YDP�SURYDV�SDUD�FRUULJLU�HP�FDVD�SHOD�GLÀFXOGD- GH�GH�DQDOLVi�ODV�HP�FODVVH��6HPSUH�TXH�SRVVt- vel, vale a pena buscar alternativas a essa velha SUiWLFD��3RU�H[HPSOR��HP�FHUWDV�HWDSDV��D�IDPtOLD� SRGH�VHU�FRQYLGDGD�SDUD�HVVD�DYDOLDomR��YHULÀ- FDQGR�VH�DV�FULDQoDV�Mi�VDEHP�DMXGDU�D�RUJDQL]DU� a lista de compras ou a dimensionar ingredientes para se produzir múltiplo ou submúltiplo de uma receita. Em etapas mais avançadas, podem ser SURSRVWRV�H[HUFtFLRV�GH�DXWRDYDOLDomR�RX�GH�DYD- liação recíproca entre colegas, com a vantagem H[WUD�GH��HP�DOJXP�WHPSR��RV�HVWXGDQWHV�SHUFH- berem que, sendo os principais interessados em DSUHQGHU��GHYHP�DQXQFLDU�VXDV�GLÀFXOGDGHV�SDUD� serem superadas, não escondê-las. +i�LPSRUWDQWHV�REMHWLYRV�IRUPDWLYRV��FRPR� criatividade, iniciativa, coragem, perseverança ou companheirismo, que raramente são avalia- GRV�� DWp� SRUTXH� UDUDPHQWH� HVWmR� H[SOLFLWDGRV� no roteiro. Assim como para outras competên- cias e conhecimentos, promover e avaliar estas qualidades não se faz com ações necessaria- mente separadas. Uma sugestão possível se- ria, em cada componente curricular, conceber episódios envolvendo missões que demandem concentração individual, aventuras pautadas SRU�GHVDÀRV�FROHWLYRV��RX�RXWUDV�DWLYLGDGHV�TXH� SURPRYDP�H�SHUPLWDP�YHULÀFDU�YDORUHV�H�TXD- OLÀFDo}HV�VRFLDLV�H�DIHWLYDV� 3URIHVVRUHV� SRGHP� DYDOLDU� HP� SURFHV- so sua capacidade de dirigir, pelo clima de WUDEDOKR�TXH�FRQVHJXHP�HVWDEHOHFHU��3RGHP� HVWLPDU� VXD� HÀFiFLD� IRUPDWLYD� FRPSDUDQ- do cada episódio do roteiro que idealizaram FRP�R�TXH�GH�IDWR�UHDOL]DUDP��1RXWUDV�SDOD- vras, a ação do professor se vê nos resultados conseguidos pelos estudantes em cada etapa, em comparação com sua condição inicial, eis PDLV�XPD�UD]mR�SDUD�UHJLVWUi�OD� Quando Mudar Roteiros e Cenas &RPR�TXDOTXHU�PHWiIRUD��D�TXH�IRL�DGRWDGD� DTXL�SUHFLVD�VHU�UHODWLYL]DGD��(P�PXLWRV�ÀOPHV�� produtores, diretores e atores trabalham para JDQKDU�D�DWHQomR�GRV�HVSHFWDGRUHV��+i�WDPEpP� escolas em que os alunos são meros espectado- res. Essa condição é a que se deseja combater, pois as crianças e os jovens devem ser autores, mais do que atores, de sua peça pessoal e social. (QÀP��HP�XP�ERP�FXUVR�R�REMHWLYR�SULQFLSDO�p� a formação de protagonistas. 2XWUD�TXHVWmR�GH�QRVVD�PHWiIRUD�p�TXH��JH- ralmente, os produtores trabalham em função de roteiro preestabelecido, de cenas imagina- GDV���3HQVDQGR�URWHLUR�FRPR�FXUUtFXOR��RV�SUR- fessores devem adequar seu projeto em função dos estudantes que recebem, que não podem ser mudados nem ser idealizados, e mudar seus SODQRV��TXDQGR�QHFHVViULR�� 9ROWDQGR�j�LGHLD�FRP�TXH�IRL�LQLFLDGR�HVWH� WH[WR��GH�TXH�R�SHUFXUVR�D�VHU�SODQHMDGR�HQYRO- ve seres singulares e imprevisíveis, o trabalho HGXFDWLYR�H[LJH�DWHQomR�SHUPDQHQWH�j�FRPSOH- [D� GLQkPLFD� GD� WXUPD� H� D� FLUFXQVWkQFLDV� QmR� DQWHFLSiYHLV�� $R� ORQJR� GR� WUDEDOKR�� SRGHP� VHU�H[LJLGDV�PRGLÀFDo}HV�QR�URWHLUR�FRPR�XP� todo, ou em uma aula-cena em particular, devi- do a um incidente escolar, um assunto trazido SRU�XP�DOXQR��RX�j�SHUFHSomR�GH�TXH�DOJXP�RE- jetivo não foi cumprido como previsto. Então, uma derradeira lição, para quem pla- nejou um curso ou uma simples aula e se depa- ra com algo novo, é a de se receber o imponde- UiYHO�FRPR�FRLVD�QDWXUDO�QD�DYHQWXUD�GH�HGXFDU�� sem apego radical ao originalmente planejado. 3RVVLYHOPHQWH��ERQV�SURGXWRUHV�H�GLUHWRUHV�GH� cinema saibam fazer uso do acaso na condução de seu trabalho, o que constitui sabedoria das mais essenciais na arte de educar. 34 políticas 35 “CONSIDERAÇÕES SOBRE O CURRÍCULO E OS DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS NA REDE MUNICIPAL DE SÃO PAULO: CONTEXTO E PERSPECTIVAS” pedagógicas curriculares 36 37 Nota introdutória. Esse texto tem o propósito de subsidiar as reflexões e debates a serem realizados pelos colegas educadores no esforço de construção coletiva das políticas educacionais para a Cidade de São Paulo. Propositalmente, como logo se perceberá, não se trata de documento acabado que pretende abarcar todas as dimensões sobre essa temática tão complexa quanto essencial. Contudo, cuida-se de refletir sobre temas centrais como a formação dos educadores, a centralidade da AULA para os alunos, os profes- sores e a escola, a qualidade da educação e a avaliação da qualidade, educação e as novas tecnologias, bem como a necessária articulação das políticas e pro- gramas municipais com as do Estado e do Governo Federal. As análises e contribuições que puderem ser formuladas a partir desse texto representarão uma participação importante para a Educação de Qualidade como Direito de Todos, objetivo maior de todos nós. Secretaria Municipal de Educação 38 POLÍTICAS PEDAGÓGICAS CURRICULARES PARTE I O CONTEXTO DO PAÍS E DA CIDADE E OS AVANÇOS DA EDUCAÇÃO Apresentação A proposição dos pilares de uma Política Peda- gógica Curricular para o Município de São Paulo, na gestão do Prefeito Fernando Haddad, demanda contextualização do processo histórico que a pre- cede, assim como não pode deixar de referenciar o contexto social, político e econômico no qual está inserida hoje. A composição desses fatores, soma- da a um projeto político fundado nos valores da democracia, da equânime distribuição da cultura e das riquezas e da justiça social, resulta no pre- sente documento, que ora se apresenta como uma afirmação dos pontos prioritários para a política educacional do município nos próximos 4 anos. Em 2013, o Brasil completa 28 anos de regime democrático. O mais longo período da História Nacional, cuja referência principal é a construção do Estado de direito, de justiça, equidade social que absorvem atualmente 23% do PIB em prol da proteção e promoção social. O Brasil vem vi- venciando na última década um círculo virtuoso de conquistas sociais e econômicas, aliando demo- cracia e crescimento. Com a retomada do planeja- mento, o crescimento da economia foi estruturado em um conjunto de inovadoras políticas públicas de redistribuição de renda e fortalecimento do tecido social, como o Bolsa Família que evoluiu positivamente para o programa Brasil sem Miséria e Brasil Carinhoso. Simultaneamente, a interven- ção pública organizada e sistêmica se constituiu no pilar de irradiação dos investimentos em diversos setores produtivos, como por meio dos Planos de Aceleração do Crescimento (PAC I e II), entre outras iniciativas desenvolvimentistas. Por conta disso, o Brasil encontra-se atualmente entre as sete principais economias globais e entre as maiores democracias de massa do mundo. A educação pública, no âmbito nacional, atra- vessa na última década período de enfrentamento de questões históricas, principalmente no que se relaciona ao acesso. Houve avanços significativos no número de escolas construídas, na contrata- ção de professores, na inclusão de crianças e jo- vens com deficiências, na melhoria das condições da carreira dos professores e demais profissionais da Educação, na renovação do ensino médio no acesso das camadas mais pobres à Universidade, na expansão das redes de educação superior e da educação profissional e tecnológica, na ampliação de bolsas de mestrado e doutorado, programas de formação no exterior e com o programa Ciências Sem Fronteiras. Podem ser mencionados, ainda, a ampliação do valor da merenda escolar,
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