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1 DIREITO CONSTITUCIONAL II O estudo do direito constitucional transita pela compreensão do sistema jurídico- político, bem como o papel que a Constituição, como a Lei Fundamental de um País, desempenha nesse sistema. Tradicionalmente, partindo-se da construção do constitucionalismo moderno, tem-se que a Constituição surge como um elemento concretizante do pacto social, firmado por cidadãos livres e racionais, que, autonomamente, buscavam a afirmação dos seus interesses e da sua vontade, onde estava em causa, sobretudo, o reconhecimento de direitos naturais individuais. 1 A Constituição se afirmara como um instrumento que consolidava o vínculo entre os indivíduos, bem como o vínculo entre os indivíduos e a associação política (Estado), que tinha como obrigação – e, por que não, fundamento – 2 proteger e garantir diante dos outros indivíduos e diante do próprio Estado os direitos e as liberdades individuais. Consolidavam-se os denominados direitos fundamentais de primeira geração (dimensão), cujo objeto central repousava sobre uma ampla esfera de atuação individual livre das atuações da força e do poder estatal. Decerto que tal situação se coadunava com o nascimento do Estado Liberal, cuja idéia central gira em torno da não-intervenção do Estado na vida socioeconômica, devendo o Estado assumir funções mínimas. Afirmou-se, nesse sentido, por exemplo, a separação dos Poderes, o princípio da legalidade, o império da lei (considerada esta, conforme a expressão de Jean-Jacques Rousseau, a expressão da vontade geral) e a igualdade formal. O quadro estabelecido a partir do Estado Liberal descoloriu-se diante das alterações sociais experimentadas. A sociedade se industrializa, massifica-se, evidenciando que o mero assegurar dos direitos individuais, assim como a igualdade formal, são insuficientes 1 Sobre o constitucionalismo moderno, com a percuciência habitual, Agassiz Almeida Filho leciona, ancorado nas lições de Pietro Barcelona: Era fundamental superar o voluntarismo político do monarca absoluto. Ao problema do conflito permanente, as modernas Constituições escritas vêm opor a segurança jurídica, momento em que o racionalismo passa a fazer parte do discurso e da prática constitucionais. Introdução ao direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 19. 2 Na clássica obra de Jean-Jacques Rousseau, O Contrato Social, escrita em 1762, percebe-se um dos objetivos relevantes buscado pelo contrato social, que forja as bases do Estado moderno: Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado, e pela qual, cada um, unindo-se a todos, não obedeça, portanto, senão a si mesmo, e permaneça tão livre como anteriormente. O Contrato Social e Outros Escritos. trad. Rolando Roque da Silva. 14ª ed. São Paulo: Cultrix, 1995, p. 30. 2 para fornecer condições satisfatórias de vida para as pessoas. Afirmam-se, pois, anseios de ordem material, ampliando-se o alcance da Constituição. A Constituição acolhe as exigências de ordem material, inscrevendo em seu texto os direitos fundamentais de natureza social, como por exemplo, o direito à assistência social, à educação, ao trabalho, à greve. Observe-se que, de fato, há uma alteração nas relações entre os cidadãos e o Estado, que, de ora em diante, assume-se como igualmente responsável pelo alcançar da justiça material. Os indivíduos passam a ser “credores” da ação estatal diante das necessidades sociais. Contemporaneamente, assiste-se a uma nova ampliação do rol dos direitos fundamentais, afirmando-se os direitos de natureza difusa, coletiva, como, por exemplo, o direito do consumidor, o direito ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. De outra parte, o Estado não se afirma mais como apenas um ente vinculado à força da lei, mas uma associação política orientada e extremada por princípios estruturantes da nossa vida em sociedade. Ora bem, com essa ampliação da densidade constitucional, percebe-se a Constituição não mais apenas como um importante documento de proteção do indivíduo, mas uma verdadeira “ordem jurídica fundamental de uma comunidade ou o plano estrutural para a conformação jurídica de uma comunidade, segundo certos princípios fundamentais” Então: Fixa os princípios diretores segundo os quais se deve formar a unidade política e desenvolver as tarefas estatais; define os procedimentos para a solução dos conflitos no interior da comunidade; disciplina a organização e o processo de formação da unidade política e da atuação estatal; cria as bases e determina os princípios da ordem jurídica global. 3 3 Conforme Konrad Hesse, apud Gilmar Ferreira Mendes et al, Curso de Direito Constitucional, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 11. 3 DA FEDERAÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: O Brasil adota, como forma de Estado, a Federação, que consiste em uma união entre Estados (Estados-membros), que garantem a sua autonomia, para a criação de um Estado único, dotado de soberania. Etimologicamente, federação, do latim foedus, foederis, expressa a idéia de vínculo, aliança, tratado entre entes que constituem o todo. Nos dizeres de Jellinek, trata-se de Estado soberano, formado por uma pluralidade de Estados, no qual o poder do Estado emana dos estados-membros, ligados numa unidade estatal. 4 Estabelece-se, por essa via, uma pluralidade de esferas políticas e jurídicas, com atribuições constitucionalmente fixadas, dentro de um só Estado. Tem-se a formação de um vínculo indissolúvel entre diversas entidades, que, assim, incorporam-se à federação. Há uma distinção, possivelmente a mais antiga de ser feita, quanto à origem histórica da união federativa. Assim, encontra-se: a) o denominado federalismo por desagregação, onde o Estado federado nasce de um originário Estado unitário que se descentraliza, reconhecendo outras esferas políticas e administrativas. Tal situação se deu com o Brasil, pois a nossa federação nasceu a partir de um Estado unitário (Império) que se descentraliza, reconhecendo os entes federados autônomos. b) o denominado federalismo por agregação, onde o processo de formação ocorre a partir da (re)união de Estados autônomos e independentes que se associam, constituindo o Estado Federal. Historicamente, este foi o processo que se deu nos Estados Unidos da América, onde entes independentes renunciam às suas soberanias e criam a federação. Com a federação, então, tem-se diversos estados em um Estado. Uma pluralidade dentro de uma unidade. A unidade é a federação, e a pluralidade é dada pelos diversos entes, com características próprias, formam o Estado federal. Nada obstante qualquer circunstância histórica anterior que permita identificar alguns vestígios similares com a forma federativa, 5 é nos EUA que se encontra 4 Apud Paulo Bonavides. Ciência Política. 193.13ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 193.. 5 Como nota de ilustração, recolhe-se a lição de Reinhold Zippelius, que sublinha que, 1661, pelas mãos de Ludoph Hugo, em razão da paz de Vestefália, designou-se o Santo Império Romano-Germânico, como um Estado comum em cujos diversos territórios se encontraria respectivamente um Estado particular, subordinado a esse Estado superior. Teoria Geral do Estado. 3ªed. trad. Karin Praefke-Aires. Coutinho. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1997, p. 510. 4 originariamente uma forma modelar, paradigmática. Esse modelo, inclusive, conta com certidão de nascimento, datada de 1787, com a Convençãode Filadélfia, onde o Estado adotou a forma federativa. No Brasil, seguindo-se o paradigma estadunidense, preferiu-se a federação a partir de 1889, ano da Proclamação da República, com o Decreto nº 1 de 15 de novembro. 6 Posteriormente, a Constituição de 1891, 7 em seu primeiro artigo, estabelecera: A Nação Brasileira adota como forma de governo, sob regime representativo, a República Federativa proclamada a 15 de novembro de 1889, e constitui-se por união perpétua e indissolúvel de suas antigas províncias, em Estados Unidos do Brasil. Esse decreto originou-se de um ato do Governo Provisório, que se estabelecia pelo mando das forças militarizadas. Nos termos da lição de Raul Machado Horta, entre nós, a Federação não surgiu de um pacto entre os Estados ou entre o Governo Provisório e os Estados. Impôs-se do alto, para acatamento e obediência de ato fundado na titularidade do poder armado. 8 Após esse período, sem descontinuidade, as Constituições que sobrevieram optaram por manter a federação, consolidando essa forma de Estado em nossa cultura política. 9 A atual Constituição brasileira estabelece três níveis no interior da estrutura federativa: 10 um nível central: a União; um nível regional: os Estados e o Distrito Federal, e um nível local: os Municípios. CARACTERÍSTICAS DO ESTADO FEDERAL: Considerando a estrutura de um Estado federal, as seguintes características podem ser estabelecidas. 11 6 Veja-se o artigo 1º do referido decreto: Fica proclamada provisoriamente e decretada como a forma de governo da Nação brasileira - a República Federativa. A íntegra do decreto pode ser acessada, dentre outros endereços eletrônicos, em: http://recantodasletras.uol.com.br/resenhas/845170 . 7 A íntegra da Constituição de 1891, a primeira republicana, pode ser acessada em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao91.htm . 8 Constituições federais e pacto federativo, in Quinze anos Constituição – história e vicissitudes. Coordenador: João Adércio Leite Sampaio. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 165. 9 Independente do afirmado, releva salientar que, sobretudo nos momentos de arbítrio, em algumas das nossas cartas Constitucionais a centralização era tamanha, que, em termos práticos, a federação era reduzida a um nível mínimo – quase que, apenas, nominalmente, mantinha-se a forma federada. Nesse diapasão, as constituições de 1937 e a de 1967 e a posterior Emenda no. 1, de 1969. 10 Assim em Manoel Gonçalves Ferreira Filho. Curso de Direito Constitucional, 35 ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 60. 11 Essas características, de uma forma ou de outra, estão definidas em ampla doutrina, como, por exemplo: Uadi Lammêgo Bulos, Curso de Direito Constitucional, 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009 e Gilmar Ferreira Lima et al, Curso de Direito Constitucional, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 5 1. Reconhecimento da soberania e da autonomia: Por soberania se designa a autoridade máxima, o poder supremo, pleno, independente e superior a qualquer outra esfera de poder. Em sentido amplo, em uma associação política a soberania indica o poder de comando em última instância. 12 A soberania se constitui em dois planos: a) interno: expressa o poder do Estado dentro do seu território e sobre a sua população, assim como assinala a predominância do Estado e de seu poder político diante dos demais poderes sociais; b) Externo: vem a ser a presença e atuação do Estado de modo independente diante dos demais atores da ordem internacional. Nos quadros do federalismo, essa qualidade é típica do Estado Federal. Por autonomia se entende a aptidão para se autogerir, para se autodeterminar, observando-se o rol das competências constitucionais. A autonomia reconhecida em um Estado federal estabelece a noção de descentralização do poder. Pelo exercício da autonomia, manifesta-se com toda a clareza o caráter estatal das unidades federadas. Podem estas livremente estatuir uma ordem constitucional própria, estabelecer a competência dos três Poderes, que habitualmente integram o Estado e exercer desembaraçadamente todos aqueles poderes que decorrem da natureza mesma do sistema federativo. 13 2. Presença de uma Constituição: De fato, uma federação está radicada em uma constituição, que materializa a aliança entre os Estados-membros que, autonomamente, pertencem ao Estado federal. A constituição se afirma como a base jurídica da federação. 14 A constituição materializa o pacto entre os entes federados. Conforme o magistério de Raul Machado Horta, 15 em geral, no preâmbulo das constituições reside a declaração do pacto federativo, onde são afirmadas as razões fundantes do acordo de onde nasce a federação. 16 Bem, e o 12 Nicola Matteucci, Lo stato moderno. Bologna: Mulino, 2002, p. 81. 13 Conforme Paulo Bonavides. Ciência Política. 13ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 195. 14 Essa é uma das diferenças em relação a uma confederação, cujo fundamento é um tratado, que pode ser desfeito a qualquer tempo. 15 Constituições federais e pacto federativo, in Quinze anos de constituição – história e vicissitudes. coordenador: José Adércio Leite Sampaio. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 155 a 170. 16 Conforme a definição de Raul Machado Horta, pacto federativo é a decisão constituinte, obrigando as pessoas jurídicas de direito público interno, que compõe a Federação a acatá-lo. Idem, ibidem. Há de ser observado que a própria constituição estabelece mecanismos de defesa desse pacto, conforme posteriormente será percebido com a leitura do tema da intervenção federal. 6 preâmbulo da nossa constituição, segue a doutrina aqui esposada?Isto é, encontra- se no preâmbulo da constituição brasileira o pacto federativo da nossa nação? O próprio professor Raul Machado Horta responde que não. 17 Então, onde residiria a materialização do nosso pacto federativo? Ora bem, o próprio corpo do texto constitucional de 1988 é o local onde se estabelece o compromisso federativo. Afinal, em diversos artigos da Constituição são encontrados os elementos formadores e instituintes de uma federação. 18 Vista importância de uma Constituição em uma federação, há de se ressaltar que essa constituição deve: 2.1 - garantir a nacionalidade única a todos os nascidos nos vários Estados- membros que formam a federação; 19 2.2 - repartir as competências entre os diversos entes federados (no caso brasileiro, os Estados-membros, Municípios e o DF; 2.3 - garantir a cada ente federativo uma esfera de competência tributária que permita o auferir de uma renda própria; 2.4 - assegurar a autonomia constitucional dos entes federados; 2.5 - fixar taxativa e excepcionalmente os casos de intervenção federal, no caso brasileiro a regulamentação encontra-se no artigo 34 da Constituição Federal; 2.6 - permitir a criação de novos Estados, dependendo da concordância do Estado afetado; 2.7 - Existência de um órgão jurisdicional que defenda, interprete e concretize a CF. 3. Participação dos Estados-membros na vontade federal: Tal característica é fundamental no reconhecimento de uma federação, pois, assim, os Estados-membros participam do processo de constituição da voluntas política da própria federação, com alcance em todo o território integrante do Estado federal. No Brasil, isso se dá por meio 17 Obra citada, página 167. Aliás, destaca o ilustre professor, que o preâmbulo de nossa Carta Maior denota a opção precisa por um pactoem torno de um Estado democrático, mas que, serviria, inclusive, a um Estado unitário, porque silente quanto à forma do Estado. 18 A título de exemplo, leia-se o artigo 1º. da Constituição Federal pátria que dispõe sobre a união indissolúvel entre os entes federado. As normas que tratam do tema da repartição de competências, bem como aquelas asseguradoras da autonomia dos Estados , do Distrito Federal e dos Municípios são igualmente exemplos do compromisso federativo. 19 Ver artigo 19, inc. III da CF. 7 da atuação do Senado Federal, que, diferentemente da Câmara dos Deputados, não representa o povo, 20 mas, sim, os seus respectivos Estados e o Distrito Federal, nos termos do artigo 46 da CF. 21 4. Inexistência de direito de secessão: Uma vez que a soberania repousa sobre a União, não é possibilitado aos Estados-membros romperem os vínculos com a união, veja- se, nesse caso, o artigo 1º da CF. Portanto, é inadmissível qualquer pretensão de separação de um Estado-membro ou Município da Federação. Caso haja alguma tentativa nesse sentido, aplica-se o artigo 34, inc. I, que prevê uma das hipóteses de intervenção federal. 5. Existência de um Tribunal que solucione os eventuais conflitos entre Estados- membros entre si ou com a União: dado que no sistema federativo é negado o direito à secessão, havendo um conflito de natureza jurídica, deverá existir uma Corte que julgue e solucione o conflito. Conforme lição de Paulo Bonavides 22 , dois aspectos são essenciais em uma federação: 1. a lei da participação: os Estados-membros participam de modo ativo na elaboração da vontade política que será aplicada em todo o território nacional. 2. a lei da autonomia: os entes que formam a federação tem liberdade (autonomia) para estabelecerem suas próprias constituições (as constituições estaduais), assim como os Estados-membros podem autonomamente exercer as atividades dentro do rol de sua competência. Em uma federação, a constituição garante ao Estado federal a sua superioridade em relação aos Estados-membros. No caso brasileiro, a Constituição Federal, em seu artigo 34, estabelece restrições aos Estados-membros, que devem observar: 1. A forma republicana, sistema representativo e regime democrático; 2. os direitos da pessoa humana; 3. a autonomia municipal; 4. e a prestação de contas da Administração Pública. 20 Artigo 45 da CF: A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada território e no Distrito Federal. 21 Artigo 46 da CF: O Senado federal compõe-se de representantes dos estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. 22 Ciência política. 13a ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p.193 e seguintes. 8 Por fim, com a forma federada, pretende-se um equilíbrio entre os diversos entes que formam a própria federação, por meio de uma descentralização do poder político. DA DIVISÃO DE COMPETÊNCIAS: Um dos principais temas a envolver uma federação é a divisão das competências entre o governo central e os Estados-membros. A medida da centralização política de uma federação se estabelece a partir das atribuições dadas ao governo central e o grau de autonomia conferido aos outros entes que constituem a federação. Assim, as funções dos órgãos federais e as dos órgãos dos demais entes federados mutuamente se complementam. CONCEITO DE COMPETÊNCIA: Competência é assim conceituada por José Afonso da Silva: “É a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade ou a um órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões.”23 Então, competência vincula-se à aptidão, conferida pelo ordenamento jurídico, para o exercício da tomada de decisões próprias de cada ente, agente ou órgão do Poder Público. Note-se que o desrespeito às regras que definem a competência implica a invalidade do ato praticado, isto é, o ato não terá aptidão para produzir os efeitos desejados. PRINCÍPIO GERAL DA DIVISÃO DE COMPETÊNCIAS: No sistema constitucional brasileiro, há um princípio regulador que trata do tema da repartição de competências. O princípio adotado, que estrutura e fundamenta a divisão de competências, é o da predominância de interesses. A repartição de competências segue uma idéia nuclear: estabelece um vínculo entre as atribuições dos entes federados e o interesse preponderante. Assim, assuntos que denotem, de modo predominante, um interesse nacional, geral, são de competência da União. Serão de competência dos Estados-membros aquelas matérias onde há o predomínio de interesse regional. Aos municípios, seguindo o princípio do predomínio de interesses, cabem os assuntos que versem sobre temas locais. 23 Curso de direito constitucional positivo. 30ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 479. 9 Por conseguinte, com base no princípio da predominância de interesses, delineia-se o este quadro: ENTE DA FEDERAÇÃO PREDOMÍNIO DE INTERESSE UNIÃO GERAL ESTADOS REGIONAL MUNICÍPIOS LOCAL DISTRITO FEDERAL REGIONAL E LOCAL Decerto que a definição do que seja matéria de interesse predominantemente geral, regional ou local 24 não é clara e precisa. Não raras vezes, caracterizar se um determinado assunto se refere a interesse predominantemente local ou regional dependerá consideravelmente da análise do caso concreto. De outra parte, em um primeiro momento, pode-se pensar que uma norma se refere a certa matéria que seria de interesse local quando, de fato, regulamenta outro tema. A título de exemplo, apresenta- se o seguinte caso: em um determinado município, diante de furtos e roubos a veículos em estacionamentos de centros comerciais, aprova-se uma lei que obriga, no âmbito do respectivo município, as empresas que exploram áreas de estacionamento acima de um número determinado de vagas a efetuar a cobertura de seguro contra furto e roubo de automóveis. Acaso essa lei seria inconstitucional? O município estaria extrapolando a sua esfera de competências? Ou, ao contrário, a respectiva lei cuidaria de assunto de natureza local, sendo, por via de conseqüência, de competência municipal instituí-la? Bem, veja-se, a partir da ementa, o entendimento do Supremo Tribunal Federal: 25 RE 313060 / SP - SÃO PAULO. Relator(a): Min. ELLEN GRACIE. Julgamento: 29/11/2005 LEIS 10.927/91 E 11.262 DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. SEGURO OBRIGATÓRIO CONTRA FURTO E ROUBO DE AUTOMÓVEIS. SHOPPING CENTERS, LOJAS DE DEPARTAMENTO, SUPERMERCADOS E EMPRESAS COM ESTACIONAMENTO PARA 24 Exemplo inequívoco de matéria de interesse predominantemente local tem-se na Súmula 645, do STF, de 24/09/2003: É competente o município pra fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial. 25 Há de ser ressaltado que, embora de forma não unânime, essa mesma lei foi julgada constitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, pois considerou que estava em causa matéria de interesse local. 10 MAIS DE CINQÜENTA VEÍCULOS. INCONSTITUCIONALIDADE. 1. O Município de São Paulo, ao editar as Leis l0.927/91 e 11.362/93, que instituíram a obrigatoriedade, no âmbito daquele Município, de cobertura de seguro contra furto e roubo de automóveis, para as empresas que operam área ou local destinados a estacionamentos, com número de vagas superior a cinqüenta veículos, ou que deles disponham, invadiu a competência para legislar sobre seguros, que é privativa da União, como dispõe o artigo 22, VII, da Constituição Federal. 2. A competência constitucional dos Municípiosde legislar sobre interesse local não tem o alcance de estabelecer normas que a própria Constituição, na repartição das competências, atribui à União ou aos Estados. O legislador constituinte, em matéria de legislação sobre seguros, sequer conferiu competência comum ou concorrente aos Estados ou aos Municípios. 3. Recurso provido. Após a consideração acerca do princípio geral da repartição de competências, veja- se como a competência, conforme o critério estabelecido, pode se classificadas: 1. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À NATUREZA: Quanto à sua natureza, a competência pode ser: Material / Administrativa: Diz respeito à prática de atos de gestão. A competência da União está prevista no artigo 21, enquanto a dos Municípios, no artigo 30, inc. III a IX. A competência dos Estados regula-se pela previsão do parágrafo 1º do artigo 25. Assim, por exclusão, o que não for de competência da União ou dos municípios, será de competência dos Estados. Já a competência do Distrito Federal está fixada no parágrafo 1º do artigo 32. Legislativa: Diz respeito a faculdade de estabelecer leis sobre determinados assuntos. À União foi atribuída uma ampla competência legislativa (arts. 22 e 24) Aos Municípios; legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar a legislação federal e estadual. Aos Estados, conforme o artigo 25, § 1º, foi conferido uma competência legislativa que abarca as matérias que não lhe sejam proibidas pelo próprio texto constitucional. 2. COMPETÊNCIA QUANTO À FORMA: Por essa classificação, define-se a competência quanto ao modo de sua distribuição. COMPETÊNCIA ENUMERADA OU EXPRESSA: É aquela competência específica feita pela CF para cada entidade federativa. Tem-se, de um modo direto, 11 especificada a atribuição para um determinado ente da federação. Exemplifica-se com os artigos 21, 22 e 24 da CF que explicitam, enumeram as competências da União. Igual exemplo encontra-se no artigo 30 da CF, que elenca de modo direto a competência dos municípios. RESERVADA OU REMANESCENTE: São as demais competências, aquelas que remanescem, visto não terem sido atribuídas especificamente a nenhuma entidade federativa. Então, tratando-se de competência administrativa ou legislativa, a que não for atribuída à União, nem aos Municípios é de responsabilidade dos Estados, conforme, de modo residual, estabelece o parágrafo 1º do artigo 25 da CF. IMPLÍCITAS / DECORRENTES / INERENTES: É aquela competência própria do ente federativo, decorrente da sua própria natureza, ainda que não previstas na CF. A situação referida pelo eminente autor José Afonso da Silva é elucidativa: a Constituição de 1891 não definira a quem competia a expulsão de estrangeiros. Então, o STF entendeu que tal atribuição correspondia à União. 26 A CF enumera as competências materiais e legislativas da União e Municípios e reserva o restante aos Estados. 3. CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS QUANTO À EXTENSÃO: tem-se essa classificação observando-se a amplitude do exercício de uma atribuição. Surge, então, a possibilidade de mais de um ente federativo atuar em uma determinada área. a) Privativas: É a competência pertencente à União, que pode delegá-la por inteiro ou em pontos específicos ao outro ente. É a competência atribuída a uma única entidade federativa. Entretanto, há a possibilidade de delegação, em questões específicas, conforme o artigo 22, § único, e por meio de competência suplementar, conforme o artigo 24 e seus parágrafos. Nos termos do artigo 22, § único, observa-se que essa delegação apresenta os seguintes pressupostos: a delegação é dada por meio de uma lei complementar; a delegação abrange as matérias próprias do artigo 22 e seus incisos. b) Exclusiva: Trata-se da competência indelegável, ou seja, é competência atribuída a uma única entidade federativa sem a possibilidade de delegação e competência suplementar, nos termos dos artigos 21 e 30, inciso I. Nesse ponto, uma observação há de ser feita: a 26 Curso de direito constitucional positivo. 30ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p.480. 12 diferença entre a competência privativa e a exclusiva relaciona-se com a possibilidade de delegação. Enquanto esta é indelegável, aquela é delegável. Em termos dogmáticos, a Constituição não é propriamente rigorosa quanto a essa distinção, pois utiliza em um maior número de vezes a expressão competência privativa. Mas, em uma circunstância, a prevista no artigo 49, vale-se do termo competência exclusiva – e, nesse caso, há a impossibilidade de delegação. No artigo 22, assim como no artigo 84,, a Constituição alude à competência privativa, admitindo aí a possibilidade de sua delegação. Contudo, há autores que negam essa distinção, sustentando que as expressões são sinônimas, havendo a possibilidade de delegação quando há previsão do texto constitucional. 27 c) Concorrente: Além de estabelecer competências privativas, próprias de cada ente federativo, exercidas independente da participação dos demais, delimita-se, no quadro das competências, uma esfera de atuação conjunta, desempenhadas em parceria pelas entidades que formam a Federação. Trata-se da denominada competência concorrente, em que, frente a uma única matéria, concorre a competência de mais de um ente federativo. A competência legislativa concorrente trata de estabelecer que mais de um ente federado possa legislar sobre determinados temas. 28 Há uma divisão quanto ao objeto de regulamentação. Atribui-se à União competência para estabelecer normas gerais sobre determinados assuntos, 29 conforme o artigo 24, § 1º, 30 cabendo, todavia, aos Estados e ao DF desenvolver esses princípios gerais. Portanto, a União fixa normas gerais, isto é, estabelece princípios ou diretrizes de ação e se aplica indiscriminadamente a todo território nacional, 31 restando aos Estados e ao Distrito Federal levar a prática regras específicas em conformidade com as suas peculiaridades. Sublinhe-se que o artigo 30, inc. 27 Nesse sentido, ver a importante obra de Fernanda Dias Menezes de Almeida, Competências na Constituição de 1988. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 62. 28 Ilustre-se com a jurisprudência: (...) Cumpre observar, no entanto, que, nas hipóteses de competência concorrente (CF, artigo 24), estabeleceu verdadeira situação de condomínio legislativo entre a União Federal, os Estados-membros e o Distrito Federal (Raul Machado Horta, Estudos de Direito Constitucional, Del Rey, p. 366, item nº 2, 1995, Del Rey), daí resultando clara repartição vertical de competências normativas entre essas pessoas estatais, cabendo à União estabelecer normas gerais (CF, artigo 24, § 1º), e, aos Estados-membros e Distrito Federal exercer competência suplementar (CF, artigo24,§ 2º). ADIn 2667/DF, rel. Min. Celso de Mello, publicado no Informativo do STF nº 273. 29 Diante de uma eventual dificuldade em precisar o que se entende por norma geral, recolhe-se o entendimento jurisprudencial: Norma geral, tal como posta na Constituição, tem o sentido de diretriz, de princípio geral. A norma geral federal, melhor será dizer nacional, seria a moldura do quadro a ser pintado pelos Estados e Municípios no âmbito de suas competências. ADI-MC 927/RS. Rel. Carlos Velloso. 30 Artigo 24: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. 31 Cfme Hely Lopes Meireles. Direito de construir. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985, p. 107. 13 II, da CF, estende aosmunicípios a possibilidade de também suplementar a legislação federal e estadual. 32 d) Comum / cumulativa / paralela: São competências atribuídas a todas as entidades federativas sobre determinados assuntos, como se expressa no artigo 23 da CF. 33 Trata-se de uma competência de colaboração, onde qualquer ente pode dispor sobre certas matérias. Significa que a União, os Estados e os Municípios e o DF devem cooperar no cumprimento de tarefas e objetivos que são convergentes. Com isso alcança-se uma descentralização de atividades em matérias relevantes para a Federação. Em caso de conflito entre as regulações estabelecidas entre os diversos entes, deve prevalecer aquela medida que siga o critério de preponderância do interesse. Como exemplo da competência comum, pode-se pensar nas seguintes situações: proteção o meio ambiente, melhorias no sistema de saneamento básico, proteção a obras de arte, melhorias nas condições habitacionais. e) Residual: No sistema constitucional brasileiro, é a competência dos Estados. Aquilo que não for expresso na CF, como sendo competência da União ou dos Municípios, pertence aos Estados (artigo 25, §1º). f) Supletiva ou Suplementar: Trata-se da competência que gravita em torno da competência concorrente. É a competência atribuída aos Estados para desdobrarem as normas gerais estabelecidas pela União, dentro da competência legislativa concorrente. Note-se o disposto no artigo 24 da CF, 34 que estabelece ser concorrente, entre a União, os Estados e o Distrito Federal, a competência para legislar sobre diversas matérias. O §1º. do artigo 24 define que, tratando-se da legislação concorrente, a competência da União restringe-se à criação de normas gerais. Por seu turno, o §2º. 35 prevê a competência suplementar dos Estados, afirmando que a determinação para a criação de normas gerais pela União não elimina a atribuição dos Estados de complementar a própria legislação produzida pela União. Para os Municípios, a previsão para legislarem supletivamente encontra-se disposta no artigo 30, inc. II, da CF. Por sua vez, entende-se que o previsto no § 1º. do artigo 32 da CF alcança ao Distrito Federal a competência legislativa suplementar. 32 Artigo 30: Compete aos Municípios: (...), inciso II suplementar a legislação federal e a estadual no que couber. 33 Art. 23, caput: É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: 34 Artigo 24, caput: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorentemente sobre: 35 §2º., artigo 24: A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. 14 Quanto à repartição de competências, é possível a seguinte consideração: caso haja uma concentração de competência no ente central, estamos diante de um modelo centrípeto, isto é, centralizador; do contrário, com uma distribuição maior de competências aos Estados-membros, modelo estabelecido é denominado de centrífugo, ou seja descentralizado. Outra classificação adotada divide a repartição das competências em: 1. REPARTIÇÃO HORIZONTAL: Nesse modelo, não se admite concorrência de competências entre os entes federados. Nos termos do magistério de Manoel Gonçalves Ferreira Filho, 36 na repartição horizontal, separa-se radicalmente a competência dos entes federativos, por meio da atribuição a cada um deles de uma área própria(...). Então, a Constituição deve: a) enumerar exaustivamente a competência de cada esfera da Federação; b) definir a competência da União deixando aos Estados-membros os poderes não enumerados, ou c) definir a competência dos Estados-membros deixando o que restar para a União. 2. REPARTIÇÃO VERTICAL: realiza-se a distribuição da mesma matéria entre a União e os Estados-membros. No âmbito da competência legislativa, permite o estabelecer de legislações concorrentes, permitindo aos Estados-membros adaptar a legislação às peculiaridades locais. Em uma tentativa de síntese, estabelece-se o seguinte quadro: EM MATÉRIA ADMINISTRATIVA, TEM-SE: 1 - EXCLUSIVA: PODERES ENUMERADOS (UNIÃO – ARTIGO21 ; MUN. ARTIGO 30) PODERES RESERVADOS / REMANESCENTES (ESTADOS ART 25, PAR. 1º) 2 – COMUM: UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS, DF. ARTIGO 23 EM MATÉRIA LEGISLATIVA, TEM-SE: 36 Comentários à Constituição Brasileira de 1988. São Paulo: Saraiva, 1990, v. 1, p. 155. 15 1. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO – ARTIGO 22. ESSE ARTIGO NÃO ESGOTA O TEMA: EX: ART 48 2. POSSIBILIDADE DE DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA OS ESTADOS (ARTIGO 22, PAR. ÚNICO) 3. COMPETÊNCIA CONCORRENTE: ARTIGO 24. Estabelece-se um condomínio legislativo entre União, que edita normas gerais, e Estados- membros, que edita normas específicas. 4. COMPETÊNCIA REMANESCENTE / RESERVADA DO ESTADO – ARTIGO 25, § 1º 5. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO MUNICÍPIO – ARTIGO 30, INC. I 6. COMPETÊNCIA SUPLEMENTAR DO MUNICÍPIO – ARTIGO 30, INC.II 7. COMPETÊNCIA RESERVADA DO DF – ARTIGO 32, § 1º COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA A disciplina é diversa, pois a CF discriminou os tributos que cada ente federativo pode estabelecer – artigo 145. 3. Impostos de competência da União – artigo 153; 4. Impostos de competência dos Estados e DF – artigo 155; 5. Impostos de competência dos Municípios – artigo 156 Assim, tem-se que a União ficou a competência tributária residual (artigo 154), podendo criar outros impostos desde que não cumulativos ou com o mesmo fato gerador dos demais impostos previstos na CF. Pode ainda criar impostos extraordinários: iminência ou caso de guerra. (artigo154, I e II) DA REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS: PREVISÃO DE PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS E DF NA ARRECADAÇÃO DE IMPOSTOS FEDERAIS – ARTIGO 157 e 159, II. PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS NA ARRECADAÇÃO DOS IMPOSTOS FEDERAIS E ESTADUAIS: ARTIGO 158 e 159, § 3º DA UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS E DISTRITO FEDERAL 16 O Estado Federal Brasileiro, nos moldes do artigo 18 da CF, é formado pelos seguintes entes: União, Estados, Municípios e Distrito Federal, que se caracterizam por serem entidades estatais dotadas de autonomia política, administrativa e financeira. Note- se que há, no § 2º. do referido artigo, alusão aos territórios federais. Contudo, não há de se pensá-los como entes federados, porque neles não há autonomia. DA UNIÃO: Decorre da aliança indissolúvel entre os Estados, sendo que é ela, União, responsável por atuar em nome da Federação. A União forma-se pela reunião dos entes que compõem a Federação. É a entidade federal que cuida dos assuntos de interesse de todo o Estado brasileiro, portanto, de matérias onde haja a preponderância de interesse geral. É possível se estabelecer dois pólos que situam a União dentro da ordem político- administrativa do Estado brasileiro: Entidade federativa dotada de autonomia política; Órgão de representação da República Federativa do Brasil. Dessa forma: No plano interno, a União atua como uma pessoa jurídica de direito público interno, cumprindo com a sua parcela de competência estabelecida na CF. Internamente, à União é reconhecida a sua autonomia, materializada por meio de sua auto- organização, por meio de seu autogoverno, de sua produção legislativa própria e, igualmente, por sua auto-administração; No plano externo, representa o Estado brasileiro (a República Federativa do Brasil) de forma soberana, como se depreende da leitura dos incisos I e II, do artigo 21 da CF. Com isso, diz-se que a as relações internacionais efetuam-sepor meio de órgãos próprios da União, considerando-se a abrangência do seu leque constitucional de competências. Importante salientar: soberana é a República Federativa do Brasil – a União a representa. 17 A União pode ser titular de direitos e obrigações. Dentre os direitos, destaca-se o de ser titular de direitos reais. 37 Assim, o artigo 20 da CF elenca a relação dos bens da União. O inciso I desse artigo indica que esse rol é meramente exemplificativo, i. é. não esgota os bens que podem pertencer a União. Cabe à União exercer a importante tarefa de preservar a unidade da federação. Para tanto, pode-se valer do mecanismo da intervenção federal, 38 nos termos do artigo 34 da CF. Com a intervenção federal, busca-se: manter o vínculo federativo e preservar a unidade da Federação, repelindo, por exemplo, invasões alienígenas; respeitar a integridade territorial das unidades federadas, resguardando o princípio federativo, como nas hipóteses do artigo 34, II, III e IV; resguardar as finanças estaduais, conforme a possibilidade prevista no artigo 34, inciso V; 39 preservar os princípios fundamentais da CF, bem como a própria ordem constitucional, nos termos do artigo 34, incisos VI e VII, letra “a” até “e” . Os 37 Tradicionalmente, e por agora nos é suficiente tal entendimento, direitos reais são aqueles direitos que se expressam por um poder do titular sobre a coisa. Segundo Luis Díez-Picazo, relembrando lição de Pugliese, la expresión derechos reales indica aquella categoria de derechos patrimoniales que se caracteriza, según opinión común, por consistir em um poder inmediato del titular sobre la cosa. Fundamentos del derecho civil patrimonial. T. I. 6ª ed. Madri: Civitas, 2007, p75. 38 Acerca do instituto da intervenção, veja-se a seguinte ementa: O instituto da intervenção federal consagrado por todas as Constituições republicanas, representa um elemento fundamental na própria formulação da doutrina do federalismo, que dele não pode prescindir — inobstante a excepcionalidade de sua aplicação —, para efeito de preservação da intangibilidade do vínculo federativo, da unidade do Estado Federal e da integridade territorial das unidades federadas. A invasão territorial de um Estado por outro constitui um dos pressupostos de admissibilidade da intervenção federal. O Presidente da República, nesse particular contexto, ao lançar mão da extraordinária prerrogativa que lhe defere a ordem constitucional, age mediante estrita avaliação discricionária da situação que se lhe apresenta, que se submete ao seu exclusivo juízo político, e que se revela, por isso mesmo, insuscetível de subordinação à vontade do Poder Judiciário, ou de qualquer outra instituição estatal. Inexistindo, desse modo, direito do Estado impetrante à decretação, pelo chefe do Poder Executivo da União, de intervenção federal, não se pode inferir, da abstenção presidencial quanto à concretização dessa medida, qualquer situação de lesão jurídica passível de correção pela via do mandado de segurança.” (MS 21.041, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 12-6-91, DJ de 13-3-92) 39 Como nota ilustrativa, explica-se a expressão dívida fundada, prevista no artigo 34, inciso V, alínea “a”, da CF. Por dívida fundada, igualmente denominada dívida consolidada, entende-se a dívida contraída pelo Tesouro do Estado, diante da emissão de títulos ou, ainda, pela contratação com instituições financeiras, com a finalidade de atender compromissos com exigibilidade superior a doze meses. Portanto, a dívida fundada vincula-se a compromissos de exigibilidade superior a doze meses, contraídos em razão do desequilíbrio orçamentário ou do financiamento de obras e serviços públicos. 18 princípios aludidos no inciso VII do artigo 34 são denominados sensíveis, que, segundo magistério de José Afonso da Silva, 40 podem ser compreendidos como: a) aqueles clara e indubitavelmente mostrados pela Constituição, os apontados, enumerados (...) ou b) princípios dotados de sensibilidade, pois, se contrariados, ofendidos, apresentam uma reação, que, no caso, é a própria intervenção. (cfme. Celso de Mello, Intervenção Federal 608-9-RS). Ao fim e ao cabo, em linhas gerais, com a possibilidade de intervenção, concluí-se, com André Ramos Tavares, quer-se a mantença do pacto federativo ou o respeito à manutenção de certa ordem e permanência das instituições. 41 Sem deixar de lembrar que se trata, a intervenção, de medida esporádica e excepcional, pois o princípio de um Estado federal é o da preservação da autonomia de seus entes, aliás como previsto no artigo 34 da CF. PROCEDIMENTO: A intervenção ocorre sempre da pessoa política maior na menor, em entes subsequentes (a União pode intervir nos Estados-membros e Distrito Federal e os Estados-membros podem intervir em seus Municípios). 42 Trata-se, a intervenção federal, de um ato político, caracterizado pelo ingresso excepcional – porque atinge a autonomia do ente federado – daquele que intervém no âmbito de atuação do órgão ou entidade que sofre a intervenção, onde só uma autoridade pode decretá-lo: Presidente da República, mediante decreto federal (decreto interventivo). O decreto interventivo deve conter, nos moldes do artigo 36, § 1º: A amplitude da medida; o prazo de duração; as condições da execução e o nome do interventor, se for o caso. Observe-se que, em decorrência de sua própria natureza política, a intervenção não é obrigatória, constituindo-se como ato próprio do Presidente da República, através do qual 40 Curso de direito constitucional positivo, 30ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 612. 41 Curso de direito constitucional. 6ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 1045. 42 Observe-se a seguinte exceção: somente a União é legítima para intervir em municípios localizados em Território Federal, conforme artigo 35 da CF. 19 se levanta temporariamente a autonomia da entidade federativa que sofre a respectiva intervenção. É, pois, por razões justificadas, uma flexibilização do princípio da autonomia dos entes que formam uma federação. Há um controle político do Congresso Nacional, estabelecido a partir do disposto no artigo 49, inc. IV, sobre a própria intervenção federal. Assim, o decreto de intervenção, no prazo de 24 horas, será objeto de análise por parte do Congresso Nacional, que estabelecerá um juízo, aprovando ou suspendendo a respectiva intervenção. Portanto, caberá ao Congresso Nacional, no exercício de sua competência exclusiva, aprovar ou suspender a intervenção. Caso delibere por suspendê-la, finda, de imediato, a intervenção. O procedimento da intervenção, dependendo da sua espécie, pode ser: DE OFÍCIO (ex officio) / ESPONTÂNEA: Nos casos previstos a) pelo artigo 34, incisos I, II (Defesa da unidade nacional); b) artigo 34, incisos III (defesa da ordem política) e c) artigo 34, inc. V (defesa das finanças públicas). A intervenção federal, sempre praticada pelo Presidente da República, ocorre de modo espontâneo, sem que haja qualquer provocação. Basta a verificação de uma das hipóteses previstas para que, a juízo do Chefe do Poder Executivo, ouvido o Conselho da República 43 e o de Defesa Nacional, 44 decrete-se a intervenção federal. Saliente-se que o Presidente da República não é obrigado a seguir as opiniões dadas pelo Conselho da República e o de Defesa Nacional. Trata-se, pois, de mera consulta que não o vincula. PROVOCADO. Nessa situação, está em causa o previsto no artigo 34, IV. Então, quer seja pelo Poder Legislativo Estadual (ou do DistritoFederal), quer seja pelo Chefe do Poder Executivo do Estado-membro (ou do Distrito Federal) pode haver a 43 O Conselho da República, conforme disciplina o artigo 89 da CF, é um órgão de consulta do Presidente da República, cuja competência é, nos termos do artigo 90 da CF, pronunciar-se sobre intervenção federal, estado de defesa, estado de sítio e sobre temas relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. Historicamente, o constituinte pátrio buscou inspiração na Constituição Portuguesa, que prevê o denominado Conselho de Estado. Contudo, há de se lembrar que Portugal não adota o sistema de governo presidencialista. O Presidente da República, em Portugal, no que tange as atribuições de governo e de diretrizes políticas, é titular de poderes relativamente modestos, conforme escrevem J.J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Fundamentos da constituição. Coimbra: Coimbra, 1991, p. 209. Em Portugal, atos importantes do Presidente da República, como a dissolução da Assembleia da República, são submetidos previamente ao parecer do Conselho de Estado. Assume, pois, em um país parlamentarista, o Conselho de Estado um papel de destaque. Entre nós, o Conselho da República é meramente opinativo e, em um sistema que consolida demasiadamente os poderes do Presidente, como o nosso, reduz-se quase a um órgão simbólico. A propósito, a própria convocação desse órgão é facultada ao arbítrio do Chefe do Executivo. 44 Ver artigo 91, § 1ª, inc. II. 20 solicitação para que se efetive a intervenção. Caso esses Poderes se sintam coagidos, solicitam a intervenção, que, ainda assim, será decidida pelo Presidente da República. Caso haja o atendimento dessa solicitação, o decreto interventivo deverá ser analisado pelo Congresso Nacional, tal qual a intervenção de ofício. Portanto, na hipótese do artigo 34, inciso IV (defesa do Poder Executivo ou Legislativo local) pode-se falar em intervenção federal provocada mediante solicitação. REQUISITADA PELO Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça(STJ), Tribunal Superior Eleitoral(TSE): Tem-se essa forma de intervenção nos casos de descumprimento de ordem ou de decisão judicial, conforme previsão do artigo 34, inc. VI, 45 em combinação com o artigo 36, II. Nesses casos, o STF e o STJ decidem pelo pedido de intervenção federal, destacando-se que o Presidente está vinculado a essa decisão. 46 Então, o STF, o STJ e o TSE requisitam diretamente ao Presidente da República que seja decretada a intervenção federal diante do descumprimento de uma ordem ou decisão judicial suas. Ao STF compete ainda requisitar a IF para garantir a execução de decisões da Justiça Federal, Estadual, do Trabalho ou da Justiça Militar. Importa observar a legitimidade para encaminhar o pedido de intervenção federal ao STF: o Tribunal de Justiça do Estado é a parte legítima nos casos de descumprimento de suas próprias decisões. Será reconhecida a 45 Veja-se o exemplo dado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ): INTERVENÇÃO FEDERAL Nº 103 - PR (2007⁄0143540-5) Publicação: DJe: 21/08/2008 INTERVENÇÃO FEDERAL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. REFORÇO POLICIAL. DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL CARACTERIZADO. PERDA DE OBJETO. INEXISTÊNCIA. 1. Na linha da jurisprudência desta Corte, impõe-se a procedência do pedido de intervenção federal nas hipóteses em que o Poder Executivo não fornece o reforço policial necessário para o fim de efetivar o cumprimento de decisão judicial, transitada em julgado, de reintegração de posse de imóvel rural invadido por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. 2. O fato de existir proposta de venda do imóvel não torna sem efeito a decisão judicial que julgou procedente o pedido de reintegração de posse, nem tampouco retira o direito da requisitante de reaver seu bem, não se mostrando razoável reconhecer que houve perda de objeto do pedido de intervenção federal. 3. Pedido de intervenção federal julgado procedente. 46 Ilustra-se a hipótese com a seguinte jurisprudência; “A exigência de respeito incondicional às decisões judiciais transitadas em julgado traduz imposição constitucional, justificada pelo princípio da separação de poderes e fundada nos postulados que informam, em nosso sistema jurídico, a própria concepção de Estado Democrático de Direito. O dever de cumprir as decisões emanadas do Poder Judiciário, notadamente nos casos em que a condenação judicial tem por destinatário o próprio poder público, muito mais do que simples incumbência de ordem processual, representa uma incontornável obrigação institucional a que não se pode subtrair o aparelho de Estado, sob pena de grave comprometimento dos princípios consagrados no texto da Constituição da República. A desobediência a ordem ou a decisão judicial pode gerar, em nosso sistema jurídico, gravíssimas conseqüências, quer no plano penal, quer no âmbito político-administrativo (possibilidade de impeachment), quer, ainda, na esfera institucional (decretabilidade de <intervenção federal> nos Estados-membros ou em Municípios situados em Território Federal, ou de intervenção estadual nos Municípios).” (IF 590-QO, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 17-9-98, DJ de 9-10-98) 21 parte interessada na questão legitimidade para dirigir-se ao STF apenas nos casos em que o descumprimento se der diante de decisões do próprio STF. Em igual sentido, ocorre a intervenção federal oriunda de coação que recaia sobre o Poder Judiciário, nos termos do artigo 34, IV, conjugado com o artigo 36, I, visto que a medida será requerida pelo Supremo Tribunal Federal. 47 PROVOCADO, MEDIANTE PROVIMENTO DE REPRESENTAÇÃO: Destaca-se a previsão do artigo 34, inc. VII, em combinação com o artigo 36, III. Cuida-se de preservar os denominados princípios constitucionais sensíveis. São aqueles princípios estabelecidos na CF como sendo de cumprimento obrigatório pelos Estados-membros, sob pena de se implementar a intervenção diante de sua inobservância. Essa intervenção decorrerá de representação por inconstitucionalidade para fins interventivos, proposta pelo Procurador Geral da República perante o STF. O objetivo desse procedimento é exigir, por parte dos Estados, a observância dos denominados princípios sensíveis. Há de ser observado ainda que a intervenção pode decorrer de uma ação de executoriedade de lei federal, observado o disposto no artigo 34, VI em combinação com o artigo 36, III. Tal ação é proposta pelo Procurador Geral da República, perante o STF. Caso seja julgada procedente, ter-se-á a intervenção – note-se que o Presidente da República está obrigado a acatar esse julgamento. Em relação à INTERVENÇÃO FEDERAL, estabelece-se o seguinte quadro: 47 Gilmar Ferreira Mendes. Curso de direito constitucional..., p. 807. 22 INTERVENÇÃO FEDERAL (IF) ESPÉCIE HIPÓTESE INICIATIVA PROCEDIMENTO CONTROLE POLÍTICO Espontânea Artigo 34, I, II, III e V. Presidente da República Ato discricionário do Presidente da República. Sim Provocada por Solicitação Artigo 34, IV. solicitação dos Poderes locais Poder Legislativo ou Executivo dos Estados ou Distrito Federal solicita ao Presidente da República, que poderá atender à solicitação. Sim REQUISITADA PELO STF, STJ, TSE *Artigo 34, IV e artigo 36, I; e *Artigo 34, VI e artigo 36, II. STF, STJ e TSE requisitam a IF Há o julgamento pelo Poder Judiciário, que, se procedente, requisitaráa IF ao Presidente da República, que deverá decretar IF. Não PROVOCADA DIANTE DE PROVIMENTO DE REPRESENTAÇÃO *Artigo 34, VI e artigo 36, III; *Artigo 34, VII e artigo 36, III. ações propostas pelo Procurador- Geral da República Se procedentes: 1) Representação por Inconstitucionalidade para Fins Interventivos; ou 2) Ação de Executoriedade de Lei Federal, o Presidente da República deverá decretar a IF Não 23 Ao fim e ao cabo, o procedimento que envolve a intervenção federal segue quatro etapas. Contudo, conforme destacado por Alexandre Moraes, 48 nenhuma das situações passíveis de intervenção federal cumpre, ao mesmo tempo, mais de três das seguintes etapas. iniciativa; fase judicial; Decreto interventivo, e Controle político. A intervenção sempre se formaliza através de decreto presidencial, nos termos do artigo 84, X, que deve especificar a amplitude, o prazo e as condições da execução da intervenção federal, nos termos do artigo 36, §1º.. Se necessário for, deve afastar as autoridades locais, nomeando um interventor, sendo a escolha desse interventor um ato do Presidente da República. Esse decreto, conforme a modalidade da intervenção, submete-se à apreciação do Congresso Nacional, que realizará, em 24 horas, o controle político sobre o ato interventivo. Caso o Congresso Nacional se encontrar em seu período de recesso, haverá a convocação de uma sessão extraordinária. A partir desse controle político, o Congresso Nacional poderá rejeitar a intervenção federal ou aprová-la. Em caso de rejeição, a intervenção deve ser encerrada imediatamente. Além da intervenção federal, há outra modalidade de intervenção reconhecida por nossa Carta Magna: a INTERVENÇÃO ESTADUAL. Vem a ser aquela realizada pelos Estados, e que incide sobre os municípios. Trata-se, então, da intervenção que fica a cargo de ser realizada pelos Estados, 49 nos termos taxativos do artigo 35 da CF. Em uma analogia 48 Direito constitucional. 27ª. ed. S. Paulo: Atlas, 2011, p. 335. 49 Acerca da legitimidade para a intervenção em um Município, veja-se a jurisprudência: Impossibilidade de decretação de intervenção federal em Município localizado em Estado-Membro. Os Municípios situados no âmbito dos Estados-membros não se expõem à possibilidade constitucional de sofrerem intervenção decretada pela União Federal, eis que, relativamente a esses entes municipais, a única pessoa política ativamente legitimada a neles intervir é o Estado-membro. Magistério da doutrina. Por isso mesmo, no sistema constitucional brasileiro, falece legitimidade ativa à União Federal para intervir em quaisquer Municípios, ressalvados, unicamente, os Municípios ‘localizados em Território Federal...’ (CF, artigo 35, caput).” (IF 590- QO, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 17-9-98, DJ de 9-10-98) “Ação direta de inconstitucionalidade. Medida cautelar. Deferimento em relação aos dispositivos da Constituição do Estado de Sergipe que a) estipulam hipótese de intervenção do Estado nos Municípios (...).” (ADI 336-MC, Rel. Min. Célio Borja, julgamento em 24-9-90, DJ de 1º-11-91) 24 com a intervenção federal, a decretação da intervenção estadual é de competência do Governador do Estado (Chefe do Poder Executivo Estadual), materializada por um decreto de intervenção. O controle político, observando-se a similitude constitucional, é de competência do Poder Legislativo Estadual, isto é, a Assembléia Legislativa. Observa-se que não há esse controle na hipótese prevista no § 3º do artigo 36 da CF, que alude à hipótese do artigo 35, IV, onde o Tribunal de Justiça julga procedente a representação que vise garantir o cumprimento de princípios estabelecidos na respectiva Constituição do Estado ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. DOS ESTADOS- MEMBROS Os Estados têm Governos próprios, que desempenham as funções dos 3 poderes estatais. O governo dos Estados obedece à estrutura organizativa genérica da Constituição Federal, estabelecida no artigo artigo 34, VII, “a”, ou seja: segue a forma republicana, o sistema representativo e o regime democrático. A Constituição Federal igualmente estabelece os bens que lhes são próprios: (artigo 26). Os Estados podem intervir nos municípios, nos termos do artigo 35 da CF. Um dos principais traços dos Estados-membros é a AUTONOMIA: Trata-se do poder jurídico de agir em conformidade com as regras preestabelecidas, dentro dos limites estabelecidos pela CF. Tal autonomia reflete-se, pois, na possibilidade de os Estados autonomamente se organizarem, governarem, legislarem e administrarem. AUTOGOVERNO: VER ARTS 27, 28 E 125. AUTO-ADMINISTRAÇÃO E AUTOLEGISLAÇÃO: arts. 18; 25-28. AUTO-ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS-MEMBROS: Cabe a cada Estado-membro, fazer a sua própria Constituição Estadual (artigo 25 da CF e artigo 11 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias), assim se expressa o poder constituinte decorrente, derivado. Tal poder é inferior ao poder constituinte originário, portanto, não pode ir de encontro aos princípios estabelecidos pela CF, bem como desrespeitar os limites fixados pela CF. Nesse sentido, afirma-se a superioridade do 25 Estado federal em relação aos entes federados. 50 A Constituição Federal é o epicentro dessa superioridade ao determinar barreiras que limitam a organização político-jurídica dos Estados-membros. De um modo exemplificativo, e considerando o sistema brasileiro, como barreira limitativa à autonomia dos Estados, tem-se o inciso VII do artigo 34, que, de modo inarredável, fixa a observância, o cumprimento: 1. da forma republicana, do sistema representativo e do regime democrático; 2. dos direitos da pessoa humana; 3. da autonomia municipal; 4. da prestação de contas da administração pública direta e indireta. Nesses termos, estabelece-se o princípio da simetria: os Estados devem observar em suas Constituições as normas básicas estabelecidas pela CF quanto à forma de disciplinar o seu modelo de organização. Nesse sentido, destaca-se a seguinte jurisprudência: ADI 858 / RJ - RIO DE JANEIRO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI. Julgamento: 13/02/2008.Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação DJE-055. DIVULG 27-03-2008 PUBLIC 28-03-2008. REQTE.: GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. ADV.: RICARDO AZIZ CRETTON. REQDO.: ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA CONSTITUCIONAL 2/1991 DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, QUE DISPÔS SOBRE REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES MILITARES. PROJETO DE INICIATIVA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO À RESERVA DE INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. 1. À luz do princípio da simetria, a jurisprudência desta Suprema Corte é pacífica ao afirmar que, no tocante ao regime jurídico dos servidores militares estaduais, a iniciativa de lei é reservada ao Chefe do Poder Executivo local, por força do artigo 61, § 1º, II, f, da Constituição. 2. Ação direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade da Emenda Constitucional 2/91 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro. FORMAÇÃO E MUDANÇA DOS ESTADOS: 50 Essa superioridade também é verificada pelo estabelecimento de uma Corte Suprema, que tem a função precípua de zelar pela Constituição. 26 A própria dimensão dos Estados-membros não obedece a uma forma rígida, no sentido de ser modificável.A regra geral para o processo de modificação dos Estados-membros encontra seu lineamento no artigo 18, § 3º, combinado com o artigo 48, VI da CF. 51 Assim, tem-se: FUSÃO: Dá-se quando há a incorporação entre Estados-membros. Ocorre na hipótese de dois ou mais Estados-membros unirem-se geograficamente, criando um outro Estado distinto dos originários. Desaparecem os anteriores e surge um novo. Artigo 18, § 3º. CISÃO: Dá-se quando o Estado já existente se subdivide, formando um ou mais Estados ou territórios. Nessa modalidade, o Estado originário desaparece. Trata-se, pois, de uma subdivisão, com a criação de nova(s) unidade(s). DESMEMBRAMENTO: um ou mais Estados cedem parte de seu território para a formação de um novo, sem que desapareça o Estado originário. O Estado originário perde uma parcela do seu território, assim como a população que se encontra radicada nessa parcela. Veja-se o exemplo do Estado de Tocantins, conforme os termos do artigo 13 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT): É criado o Estado de Tocantins, pelo desmembramento da área descrita neste artigo, dando-se sua instalação no quadragésimo sexto dia após a eleição prevista no § 3º, mas não antes de 1º de janeiro de 1989. Os Estados-membros têm bens próprios, conforme estabelece o artigo 26 da CF. Outrossim, conforme anteriormente referido, admite-se a possibilidade de intervenção nos municípios, nos termos do artigo 35 da CF. O Poder Executivo Estadual é exercido pelo Governador e pelo Vice-Governador (artigo 28). O Poder Legislativo Estadual, por seu turno, é exercido de forma unicameral pela Assembléia Legislativa, composta por Deputados Estaduais, sendo o mandato de 4 anos. (artigo 27). O Poder Judiciário é composto pelo Tribunal de Justiça e por Juízes. Observe-se que ao Estado-membro, 52 conforme a respectiva legislação estadual, é dado dispor sobre sua Justiça Militar. 53 51 Nesse processo, há de ser observadas as seguintes etapas: 1)PLEBISCITO, onde a população interessada deverá consentir a formação do novo Estado. Essa fase é absolutamente necessária para a etapa seguinte. 2) oitiva das Assembléias Legislativas dos Estados interessados (artigo 48, VI) e 3) apresentação de projeto de lei complementar diante de qualquer casa compõe o Congresso Nacional e a conseqüente aprovação pelo Congresso Nacional do projeto de lei complementar. 52 Ver artigo 125, § 3º da CF. 53 Para um esclarecimento geral sobre a justiça militar, sugere-se o seguinte endereço eletrônico: http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=justicamilitar 27 DOS MUNICÍPIOS São entidades federativas voltadas para assuntos de interesse local (artigo 30, I), dotados de competências comuns (artigo 23) e exclusivas (artigo 30). Ademais, são dotados de autonomia política e administrativa, exercida, sempre, nos limites estabelecidos pela CF. Os Municípios não participam na denominada “formação da vontade federal”, que se materializa pela atuação do Senado Federal. Daí a possibilidade de se questionar se, de fato, constituem-se em um ente estatal pertencente à federação. Sobressai, nesse campo, a doutrina de José Afonso da Silva acerca do entendimento de que o município integraria o sistema federativo: “Data vênia, essa é uma tese equivocada (...). Não é porque uma entidade territorial tenha autonomia político-constitucional que necessariamente integre o conceito de entidade federativa. (...). Não existe Federação de Municípios. Existe Federação de Estados. 54 Todavia, dogmaticamente, diante da previsão dos artigos 1º e 18 da CF, tal discussão encontra uma resposta definitiva. Outrossim, caracteriza que a federação pátria desdobra-se em três níveis de governança. Os Municípios podem ser criados, fundidos ou desmembrados, conforme o par. 4º, artigo 18 da CF. Para tanto, exige-se: lei estadual, plebiscito e estudo de viabilidade. São cumpridas, pois, as seguintes fases: 1. lei complementar federal fixará o período para a respectiva criação, fusão, incorporação ou desmembramento de Município; 2. estudo de viabilidade municipal, que deverá demonstrar as necessárias condições sociais, econômicas, financeiras, políticas que possibilitem a instalação e a manutenção da criação, fusão, incorporação ou desmembramento de Municípios; 55 3. plebiscito, considerando-se afirmativo o estudo de viabilidade municipal, cumpre- se ouvir, mediante uma consulta (plebiscito), 56 a população envolvida no processo 54 Comentário Contextual à Constituição. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 249. A esse propósito, o doutrinador Hely Lopes Meirelles comenta: Essa outorga constitucional de autonomia política aos Municípios é uma peculiaridade da Federação brasileira. Direito Administrativo Brasileiro. 23ª. ed. 2ª. tiragem. S. Paulo: Malheiros, 1998, p. 63 55 Acerca da importância do estudo de viabilidade, observe-se o seguinte entendimento:"Da regra do artigo 18, par. 4., da Constituição Federal, resulta por inferência lógica, que, no processo de criação de municípios, a verificação dos requisitos objetivos de admissibilidade da emancipação há de preceder a realização do plebiscito." (ADI 222, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 24-5-90, DJ de 6-9-91). No mesmo sentido: ADI 1.373-MC, Rel. Min. Francisco Rezek, julgamento em 30-11-95, DJ de 31-5-96. 28 de criação, fusão, incorporação ou desmembramento de Municípios, 57 que aprovará ou não o respectivo ato, 4. lei estadual, nos termos da lei complementar federal, após o cumprimento das etapas anteriores, o Poder Legislativo Estadual aprovará ou não projeto de lei que criará o novo Município. 58 Se aprovado, submete-se o projeto a apreciação do Governador, que pode sancioná-lo ou vetá-lo. AUTO-ORGANIZAÇÃO MUNICIPAL Os Municípios são regidos por leis orgânicas (artigo 29), que, hierarquicamente, são superiores as demais leis municipais. A lei orgânica – que seria a constituição dos municípios – 59 dispõe sobre as matérias de competência exclusiva do município, bem como as de competência comum (artigo23) e de competência concorrente (artigo30, II). Note-se que, dada a sua relevância, a elaboração da Lei Orgânica cumpre um procedimento especial, nos moldes do estabelecido pelo artigo 29 da CF. Para além desse procedimento próprio – aspecto formal –, a Constituição Federal estabelece, de modo obrigatório, regras atinentes ao conteúdo – aspecto material – das Leis Orgânicas (artigos 29 a 31 da CF). AUTOGOVERNO Tal qual ocorre com os demais entes da federação, é reconhecido aos Municípios o direito de constituírem governo próprio, eleito pelos cidadãos do próprio município, alheio a ingerências de outras unidades federadas. 56 Veja-se a importância do plebiscito, observando-se a seguinte ementa: “A alteração dos limites territoriais de municípios não prescinde da consulta plebiscitária prevista no artigo 18 da Constituição Federal, pouco importando a extensão observada.” (ADI 1.034, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 24-3-97, DJ de 25- 2-00) 57 Cumpre destacar o artigo 7º da Lei nº. 9.709/98: Nas consultas plebiscitárias previstas nos arts. 4o e 5o entende-se por população diretamente interessada tanto a do território que se pretende desmembrar, quanto a do que sofrerá desmembramento; em caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer anexar quanto a da que receberá o acréscimo; e a vontade popular se aferirá pelo percentualque se manifestar em relação ao total da população consultada. 58 Em relação à exigência de lei estadual, ressalte-se a seguinte jurisprudência: "A criação de Município por lei constitucional estadual é inconstitucional, uma vez que, tendo a Constituição Federal determinado que ela se faria por lei ordinária, impõe aos Estados-membros a participação, em sua feitura, do Chefe do Poder Executivo estadual, que pode, inclusive, vetá-la. No caso, quer se admita, quer não, a estadualização da Lei Complementar Federal n. 1/67 sob a vigência da Constituição de 1988, a criação do município em causa é inconstitucional, ou por não atender a exigência da mencionada Lei, ou por não haver Lei Complementar estadual que estabeleça os requisitos para a criação de município. A consulta plebiscitária tem de ser feita previamente à lei que cria o município. Plebiscito realizado anteriormente e que não bastou para a criação do município por ter sido vetado o projeto de lei de sua criação, com o veto mantido, não pode ser utilizado para a criação do município por lei posterior." (ADI 192, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 4-12- 01, DJ de 6-9-01). 59 Conforme José Afonso da Silva, Curso de direito constitucional positivo..., p.642. 29 O Poder Executivo dos Municípios é exercido pelo prefeito (artigo 29 da CF), com mandato de 4 anos. Observe-se a previsão de segundo turno nas eleições para prefeito nos casos de o município apresentar mais de 200 mil eleitores (artigo 29, inc. II). Destaca-se, ainda, o inc. X, artigo 29, que estabelece o “foro privilegiado” para os prefeitos, no sentido de que, se julgados, esse julgamento deve ser realizado pelo Tribunal de Justiça. Não há de se confundir essa hipótese com a possibilidade de perda do mandato de autoridades municipais pelo cometimento de crime de responsabilidade. Nos casos de infrações político-administrativas, legitima-se para processar e julgar o Legislativo Municipal. 60 O Poder Legislativo dos Municípios é exercido pela Câmara Municipal, integrada por vereadores. São eleitos pelos cidadãos do Município, para cumprirem mandato de 4 anos. O número de vereadores é fixado pela Constituição Estadual, considerando a população de cada Município, nos termos do artigo 29, inc. IV da CF. Em relação à União e aos Estados-membros, como nota distintiva do autogoverno dos Municípios, não se reconhece a divisão tripartite dos Poderes, visto que inexiste Poder Judiciário nos Municípios. DO DISTRITO FEDERAL Para abrigar a sede da União, o constituinte criou o Distrito Federal (DF), com isso, pretende-se evitar influências demasiadas de algum Estado-membro. O DF apresenta características próprias, sui generis visto não se confundir nem com um Estado, nem com um Município. Goza de autonomia, organizando-se por lei própria (lei orgânica). O seu Poder Legislativo materializa-se na Câmara Legislativa do DF, composta por Deputados Distritais. O Poder Executivo é exercido pelo Governado do DF. A competência judiciária, o Poder Judiciário do DF é organizado e mantido pela União (artigo 21, XIII e XIV). A caracterização do DF pode ser bem compreendida a partir da seguinte ementa: 60 Nesse sentido, recorta-se parte da seguinte ementa: (...). Compete, exclusivamente, à Câmara de Vereadores, processar e julgar o Prefeito Municipal nas infrações político- -administrativas, assim definidas em legislação emanada da União Federal, podendo impor, ao Chefe do Executivo local, observada a garantia constitucional do "due process of law", a sanção de cassação de seu mandato eletivo. ADI 687 / PA.Relator(a):Min.Celso de Mello. Julgamento: 02/02/1995 30 ADI 3756 / DF - DISTRITO FEDERAL. Relator:Min.CARLOS BRITTO. Julgamento: 21/06/2007 O Distrito Federal é uma unidade federativa de compostura singular, dado que: a) desfruta de competências que são próprias dos Estados e dos Municípios, cumulativamente (artigo 32, § 1°, CF); b) algumas de suas instituições elementares são organizadas e mantidas pela União (artigo 21, XIII e XIV, CF); c) os serviços públicos a cuja prestação está jungido são financiados, em parte, pela mesma pessoa federada central, que é a União (artigo 21, XIV, parte final, CF). 3. Conquanto submetido a regime constitucional diferenciado, o Distrito Federal está bem mais próximo da estruturação dos Estados- membros do que da arquitetura constitucional dos Municípios. Isto porque: a) ao tratar da competência concorrente, a Lei Maior colocou o Distrito Federal em pé de igualdade com os Estados e a União (artigo 24); b) ao versar o tema da intervenção, a Constituição dispôs que a "União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal" (artigo 34), reservando para os Municípios um artigo em apartado (artigo 35); c) o Distrito Federal tem, em plenitude, os três orgânicos Poderes estatais, ao passo que os Municípios somente dois (inciso I do artigo 29); d) a Constituição tratou de maneira uniforme os Estados- membros e o Distrito Federal quanto ao número de deputados distritais, à duração dos respectivos mandatos, aos subsídios dos parlamentares, etc. (§ 3º do artigo 32). PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS LIMITATIVOS DA AUTONOMIA DOS ENTES FEDERADOS: Em uma federação, é reconhecida a autonomia dos entes que a compõem. Há de ser observado, entretanto, que esse poder de agir assegurado aos entes federados não é absoluto. Assim, a própria normatividade constitucional estabelece limites à autonomia dos entes federados, como se pode observar a partir dos seguintes princípios: PRINCÍPIOS SENSÍVEIS: são aqueles que, se ofendidos, podem trazer como conseqüência a intervenção federal. PRINCÍPIOS ESTABELECIDOS: Dizem respeito às normas centrais de organização comuns a todos os entes federados, logo sua observância é obrigatória. Portanto, limitadores da forma de organização dos Estados-membros. 31 São princípios estabelecidos: 61 Regras constitucionais que estabelecem aspectos materiais de organização dos Estados Vedações constitucionais; Princípios de organização política, social e econômica. Ex. arts. 94, 37. O artigo 19 estabelece uma linha geral de vedações aos entes que integram a federação. Em seu inciso I, afirma a laicidade do Estado brasileiro, 62 vedando qualquer espécie de aliança oficial entre o Estado e alguma religião. Em seu inciso II, quer-se afirmar o valor e o efeito dos documentos publicados oficialmente, por pessoas jurídicas de direito público interno. Em seu inciso III, afirma-se o princípio da igualdade, vedando-se qualquer tipo de discriminação. 63 DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES: O artigo 2º da CF estabelece o princípio da divisão funcional do poder. Tal princípio consiste em repartir as funções administrativas, legislativas e jurisdicionais, conferindo a órgãos próprios e diversos a responsabilidade de preponderantemente exercer tais funções. O poder é a razão essencial do Estado, considerando-o um fenômeno político. A sua institucionalização racional se afirma pela ocorrência dos movimentos sociopolíticos nascidos a partir dos séculos XV e XVI. Conforme Max Weber : por Estado se há de entender uma empresa institucional de caráter político onde o aparelho administrativo leva avante, em certa medida e com êxito, a pretensão do monopólio da legítima coerção física com vistas ao cumprimento das leis. 64 61 Conforme a doutrina de André Ramos Tavares, Curso de Direito Constitucional. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 1014. 62 Acerca da laicidade do Estado, indica-se a leitura dos artigos de Daniel Sarmento e de Ives Gandra
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