Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Internacional / Prof. Airton Berger Filho / UCS 1 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 1 “A expressão direito internacional (international law) surge com Jeremias Bentham, em 1780, que a utilizou em oposição ao national law e ao municipal law. Traduzida para o francês e demais línguas latinas como direito internacional, a expressão tem sido criticada, visto que para elas a palavra nação não tem o mesmo significado de Estado, como em inglês. Para alguns juristas, o mais correto seria falar em direito interestatal, mas atualmente a expressão se acha consagrada, e modificá-la já não se justifica. A palavra público pode ser acrescentada a fim de distinguir a matéria do direito internacional privado (conflic of laws dos países de língua inglesa), embora o qualificativo seja dispensável”2 . Conceito: Direito Internacional Público ou Direito das Gentes na perspectiva tradicional: Sistema de regras e princípios que regula as relações entre os Estados. Direito Internacional Público na perspectiva atual: Silva e Accioly definem o Direito Internacional como: “o conjunto de normas jurídicas que rege a comunidade internacional, determina direitos e obrigações dos sujeitos, especialmente nas relações mútuas dos estados e, subsidiariamente, das demais pessoas internacionais, como determinadas organizações, bem como dos indivíduos. 3 Segundo Varella: “O Direito internacional público é o conjunto de regras e princípios que regula a sociedade internacional. A sociedade internacional é composta por Estados, Organizações Internacionais e, mais recentemente, aceita-se em diferentes níveis a participação de entes com algumas características estatais, a exemplo de movimentos de libertação, sistemas regionais de integração, além de outros atores, como indivíduos, empresas, organizações não- governamentais, No entanto, ainda hoje o elemento central da sociedade internacional são os Estados. 4 Objetivos Direito Internacional Público 1. Solução de Controvérsias entre Estados 2. Manutenção da Paz 5 3. Respeito aos Direitos Fundamentais 4. Estabelecimento de regras para a cooperação internacional (Estados e Organizações Internacionais) Direito Internacional Público (objeto de estudo) Estado: Soberania, limites do território e jurisdição, reconhecimento, responsabilidade internacional... Direito das Organizações Internacionais Direito das Relações diplomáticas e consulares Direito da Guerra e da Paz (Solução pacífica de litígios e Meios coercitivos de solução de litígios) 1 Países de língua inglesa: “international law”. 2 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 14 3 SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 12 4 VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional público. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p.1. 5 De acordo com Morgenthau: “[...] em um mundo em que a força motriz resulta da aspiração das nações soberanas pelo poder, a paz só poderá ser mantida por meio de dois instrumentos. O primeiro é o mecanismo autoregulador das forças sociais, que se manifesta sob a forma de luta em busca pelo poder na cena internacional, isto é, o equilíbrio de poder. O outro consiste nas limitações normativas dessa luta, sob roupagem do direito internacional, da moralidade internacional e da opinião publica mundial.” MORGENTHAU, Hans. Política entre as nações. Tradução de Kenneth W. Thompson. IPRI, 2003. (Coleção Clássicos) p. 25. Direito Internacional / Prof. Airton Berger Filho / UCS 2 Direito de Integração e Direito Comunitário Direito Marítimo Internacional Direito Internacional do Meio Ambiente Direito Internacional Econômico Direito Internacional dos Direitos Humanos (...) Características do Direito Internacional 6 O direto internacional tem características similares às dos demais ramos do direito, sendo um conjunto normativo, com obrigatoriedade e poderes de sanção. Alguns autores criticam o direito internacional por considerá-lo como um conjunto de regras não-obrigatórias e sem qualquer efetividade. Seria um direito “sem dentes”, ou seja, “sem a capacidade de morder suas vítimas”. Não é verdade. Possui regras obrigatórias e não-obrigatórias, assim como os diferentes ramos do direito interno. No entanto, as normas de direito internacional, muitas vezes, têm por objeto grandes interesses que atingem milhões, por vezes bilhões de pessoas em todo o mundo. Naturalmente, o choque com a falta de efetividade de algumas normas é maior do que no direito interno. Como o processo de internacionalização econômica, política e cultural, o direito internacional também passa por mudanças importantes, aumentando seu poder de sanção, em caso de violação. A construção de regras internacionais mais rígidas está presente em diversos temas: direito internacional econômico e humanitário são exemplos constantes. O direito internacional humanitário já justificou a ingerência militar em diversos Estados, acusados de violá-lo, com a prisão dos governantes, a exemplo do Iraque, de Ruanda, do Congo, entre muitos outros. No conflito da Ex-Iugoslávia, por exemplo, houve a dissolução do Estado, com a separação das regiões em conflito, criando-se Estados novos. Até mesmo a Constituição da Bósnia-Herzegovina foi proposta pela sociedade internacional. No direito internacional econômico, a Organização Mundial do Comércio tem força política suficiente para ordenar a mudança nas normas internas de um Estado ou mesmo da própria Constituição sob pena de autorizar retaliações econômicas importantes. Que ramo tem como sanção a disposição de um governo, a dissolução de um Estado ou a mudança da Constituição? A crítica da falta de efetividade do direito é, portanto, infundada. No entanto, o direito internacional possui alguns traços distintivos importantes, como: a) Inexistência de subordinação dos sujeitos de direito a um Estado; b) Inexistência de uma norma constitucional acima das demais normas; c) Inexistência de atos jurídicos unilaterais obrigatórios, oponíveis a toda a sociedade internacional. Não existe um poder soberano acima dos Estados. Não existe um Estado acima dos demais. As Organizações Internacionais estão no mesmo nível dos Estados e têm inclusive competências mais restritas para atuar em suas áreas específicas. Mesmo as Organizações Internacionais universais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), ou aquelas oriundas dos processos de integração regional, a exemplo das Comunidades Européias, tem competências limitadas. O direito internacional evoluiu por um processo de cooperação interestatal, na maioria dos temas se, em alguns assuntos específicos, por coordenação de alguma Organização Internacional ou Estado mais influente naquele tema. Da mesma forma, não existe uma norma fundamental internacional equivalente à Constituição que existe em cada Estado. O direito internacional guiado por milhares de tratados, com diferentes graus de normatividade, conforme atribuição pelos Estados. Alguns tratados têm caráter mais obrigatório (jus cogens), outros menos (soft norms), mas não há uma norma comum, que direcione a evolução do direito internacional como um todo. Nesse sentido, o direito internacional evolui em geral pela concordância dos Estados. Estes aceitam submeter-se a determinadas regras gerais, com o objetivo de atingir seus interesses comuns em relação aos demais membros da sociedade internacional. (...)O Direito Internacional contemporâneo: aumento da complexidade e internacionalização dos direitos. O Direito Internacional contemporâneo passa por um processo de transição, que acompanha o processo de globalização (ou mundialização, como preferem os autores franceses). Esse processo é influenciado pela ampliação da complexidade dos direitos nacionais dos Estados e do direito internacional, e tem como resultado a alteração da lógica normativa do direito internacional clássico. Nesse sentido, parece-nos claro que vivemos em um período de transição. Já é 6 Trecho retirado do livro: VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional público. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 4-5 e 7. Direito Internacional / Prof. Airton Berger Filho / UCS 3 possível dizer que a lógica tradicional do direito internacional não é mais aplicável nos dias de hoje. No entanto, também é possível verificar que ainda não há uma nova lógica consolidada. (...) As principais características do processo de internacionalização do direito são: a) integração freqüente entre direitos nacionais, o direito de sistemas regionais de integração e o direito internacional; b) multiplicação de fontes normativas, além do Estado nação; c) multiplicação de instâncias de solução de conflitos fora do Estado; d) inexistência de hierarquia formal entre as normas jurídicas ou entre as instâncias de solução de conflitos; e) acumulo de lógicas distintas no direito nacional e internacional, cuja interação é impossível com os métodos tradicionais de solução de conflitos de normas ou de jurisdição. O que é o Direito Internacional Público? Veja no site: http://www.youtube.com/watch?v=32WY-DR5fY4&feature=related Direito Internacional / Prof. Airton Berger Filho / UCS 4 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO (DIPR): Conceito: Segundo Ferre Correa: “O Direito Internacional Privado é o ramo da ciência jurídica onde se definem os princípios, se formulam os critérios, se estabelecem as normas a que deve obedecer a pesquisa de soluções adequadas para os problemas emergentes das relações privadas de caráter internacional. São essas relações (ou situações) aquelas que entram em contato, através dos seus elementos, com diferentes sistemas de direito. Não pertencem a um só domínio ou espaço legislativo: são relações „plurilocalizadas‟.”7 Pressupostos do Direito Internacional Privado: Pluralidade de ordenamentos jurídicos nacionais. (Estados diferentes = sistemas jurídicos distintos). Conflito de leis no espaço – as relações internacionais de ordem privada geram fatos jurídicos e conflitos passíveis de serem regulados por mais de um direito nacional. Extraterritorialidade das leis - na maioria dos ordenamentos nacionais existe previsão legal para a aplicação da lei estrangeira e o reconhecimento de direito adquirido em outro país. Para a Escola Francesa o Direito Internacional Privado (“Droit International Prive”) possui cinco objetos: a) conflito de leis; b) conflito de jurisdição; c) os direitos adquiridos; d) a nacionalidade e e) condição jurídica do estrangeiro. Na América Latina os estudos sobre Direito Internacional Privado, os currículos e os manuais são fortemente influenciados pela escola francesa. Já para a escola anglo-saxônica o estudo do que conhecemos como Direito Interncional Privado, (Private International Law) está mais voltado para resolver “Conflit of Laws”. A matéria segundo essa corrente, nas palavras de Nádia Araújo procura responder três perguntas: 1) em que local acionar? 2) qual a lei aplicável? e 3) como executar atos e decisões estrangeiras? 8 Questão Objeto do Direito Internacional Privado a) qual a lei aplicável? A definição do direito adequado a relações de Direito Privado passíveis de ser enquadrados em mais de um ordenamento jurídico nacional. “A utilização do método conflitual e suas regras.” b) em que local acionar? A resolução de “questões de direito de direito processual civil internacional, especialmente as relativas à competência internacional, também chamada de conflito de jurisdição.” c) como executar atos e decisões estrangeiras? “A cooperação interjurisdicional entre poderes judiciários de Estados diferentes especialmente nas questões relativas ao reconhecimento das decisões proferidas pelo justiça estrangeira.” 7 CORREA, A. Ferrer. Lições de Direito Internacional Privado, Vol I, Coimbra, Almedina, 2000, p. 11. 8 ARAÚJO, Nádia de. Direito Internacional Privado Teoria e Prática Brasileira . Rio de Janeiro: Renovar, 2007.p. 32. Direito Internacional / Prof. Airton Berger Filho / UCS 5 Direito Internacional Privado, Direito Internacional Uniformizado, Nova Lex mercatória e Direito Comparado: Com a ampliação das relações privadas entre pessoas (físicas ou jurídicas) de Estados distintos, a partir, principalmente, da expansão do comércio internacional, dos meios de transporte e do avanço das telecomunicações surge à necessidade de uniformizar práticas jurídicas globais e de conhecer distintos sistemas jurídicos nacionais. O caminho da uniformização pode ser resultado do consenso entre os Estados (tratados internacionais) ou da convergência de interesses privados frente a práticas consolidadas pelo costume, seja na forma de regras ou princípios. Nesse sentido o Direito Internacional privado, da forma com que foi estabelecido seu objeto acima, contempla normas internas (nacionais) bem como normas de Direito Internacional Uniformizado, bem como em diversas situações pode se valer da aplicação da “Nova Lex mercatória” e do Direito Comparado. Direito Internacional Privado Normas de um sistema jurídico que cuidam de um conflito de leis no espaço e reconhecimento do direito adquirido no exterior. Direito Internacional Uniformizado Tratados internacionais que uniformizam as normas de Direito Internacional Privado entre dois ou mais sistemas jurídicos. “Nova Lex Mercatória” Direito autônomo, independente das legislações nacionais, nascido dos usos e costumes internacionais do comércio, na jurisprudência arbitral e na prática contratual internacionalmente uniforme. Direito Comparado Estudo de dois ou mais sistemas jurídicos, analisando as suas normas, suas fontes e sua história. Advocacia em direito internacional privado e negócios internacionais (Veja nos sites): http://www.youtube.com/watch?v=SQCCuYDX-yw http://www.youtube.com/watch?v=WYHd66pA89w&feature=channel http://www.youtube.com/watch?v=11txH9-gfC8&feature=channel Relação entre o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado 9 O direito internacional público tem sido tradicionalmente entendido como o conjunto das regras escritas e não escritas que regula o comportamento dos Estados. Esta concepção surge com a Paz de Westfalia 10 que consolidou o 9 Conteúdo retirado da publicação: AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Manual do Candidato: Noções de Direito e Direito Internacional. 3ª ed. ampliada e atualizada – Brasília: Funag – 2008. O texto referido é material de consulta disponibilizado pela Fundação Alexandre de Gusmão para candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata, do Instituto Rio Branco (IRBr) do Ministério das Relações Exteriores. 10 Entre osdias de 15 de maio a 24 de outubro de 1648, os principais plenipotenciários europeus assinaram nas cidades alemãs de Münster e Osnabrück um grande tratado de paz que fez história: a Paz de Westfália. Com ela puseram fim a desastrosa Guerra dos Trinta anos, tida como a primeira guerra civil generalizada da Europa, como igualmente lançaram as bases de um novo sistema de relações internacionais. Acordo este baseado no respeito ao equilíbrio dos poderes entre os estados europeus que passou a imperar no mundo desde então. A Guerra dos Trinta Anos envolveu praticamente todos os reinos europeus (com exceção da Rússia), a Guerra dos Trinta Anos foi uma catástrofe humana de dimensões até então desconhecidas no Velho Mundo. Estima-se que estivessem presentes nas duas cidades da Westfália onde o congresso de paz se reuniu, Münster e Osnabrück, mais de 300 legatários, representando eles quase todas as forças políticas importantes da Europa (exceto o Papado e o Reino da Rússia). O primeiro ponto em que os diplomatas acordaram era de que as três confissões religiosas dominantes no Sacro Império, o catolicismo, o luteranismo e o calvinismo, seriam consideradas iguais. Revogava-se, assim, a disposição anterior neste assunto, firmado pela Paz de Augesburgo, em 1555, que dizia que o povo tinha que seguir a religião do seu principe (cuius regios, eios religio). Isto não só uma brecha no despotismo dos chefes como abriu caminho para a concepção de tolerância religiosa que, no século seguinte, tornou-se bandeira dos iluministas, como John Locke e Voltaire. O segundo ponto do grande tratado procurou resolver os conflitos entre o Imperador do Sacro Império e seus súditos, dando a estes maior autonomia frente aos princípios do Absolutismo, ao tempo em que reconheciam a independência definitiva da Holanda e da Suíça. Desde então, o Sacro Império Romano das nações Germânicas manteve apenas uma fachada de unidade, até que Napoleão Bonaparte o dissolvesse definitivamente em 1806. Por último e mais importante, sob o ponto de vista do direito internacional, a Paz de Westfália assegurou um novo ordenamento jurídico entre os reinos europeus. Além disso, formou uma nova ideologia do estado soberano: a chamada Razão de Estado. Esta nova doutrina extraída das experiências provocadas pela Guerra dos Trinta Anos, exposta e defendida pelo Cardeal Richelieu, primeiro-ministro de Luís XIII, da França, dizia que um reino tem interesses permanentes que o colocam acima das motivações religiosas. Segundo tal doutrina, se for preciso, um soberano católico devia aliar-se com um protestante, como a coroa da França fizera com o rei sueco Gustavo Adolfo, um luterano, se isso for melhor para os seus objetivos estratégicos gerais. O antigo sistema medieval, por sua vez, que depositava a autoridade suprema no Império e no Direito Internacional / Prof. Airton Berger Filho / UCS 6 sistema moderno de Estados. Ela considera os Estados como os únicos sujeitos das relações internacionais; os seus princípios são a igualdade soberana, a integridade territorial, a autodeterminação e a não intervenção. (...) A doutrina tem procurado apontar as diferenças entre o direito internacional e o direito interno. Enquanto o segundo é um direito de subordinação – as regras legais são elaboradas por órgãos previamente indicados, impondo-se aos particulares – o primeiro caracteriza-se pela coordenação, no sentido de que as normas jurídicas somente obrigam se contarem com o assentimento dos sujeitos que deverão a elas obedecer. No plano doméstico verifica-se a centralização da produção normativa: a criação das normas é feita preferencialmente pelo Legislativo, mas essa tarefa pode ser exercida também pelo Executivo e pelo Judiciário. À administração cabe executar as leis, ao passo que os juízes e tribunais são incumbidos de julgar os conflitos, valendo-se inclusive do uso da força para assegurar o cumprimento das decisões judiciais. Na vida internacional, ao contrário, não há centralização do poder; as normas são produzidas de modo descentralizado por intermédio dos tratados e do costume, inexistindo um governo mundial encarregado de aplicar as regras existentes. Da mesma maneira, a ausência de um sistema jurisdicional compulsório capaz de obrigar os destinatários a ele recorrer subordina o respeito às decisões dos tribunais ao grau de boa vontade dos Estados. Nem por isso o direito internacional se converte em moral internacional, destituída de força obrigatória. As represálias e as guerras são sanções previstas pelo direito internacional. A represália consiste na agressão consentida pela ordem jurídica à esfera de interesses de outro Estado realizada sem a vontade e mesmo contra a vontade deste. O emprego da força física não é requisito necessário para a sua configuração. Para Kelsen, a diferença entre a represália e a guerra é meramente quantitativa. A represália é uma agressão limitada a determinados interesses, a guerra é uma agressão ilimitada à esfera de interesses de outro Estado. As ofensas de interesses que as condicionam têm o caráter de violação do direito internacional, isto é, de delitos internacionais. Diversamente, o direito internacional privado, concebido de forma ampla, ocupa-se da nacionalidade, da condição jurídica do estrangeiro, do conflito de leis e de jurisdição. “Todos os dias homens de nacionalidades e domicílios diferentes transpõem fronteiras, entabulam negócios, constituem lares e firmam contratos longe da pátria de origem ou do seu domicílio, sob a égide das leis estrangeiras, que se aplicam por determinação da própria soberania local”. Tudo isso sugere a importância de garantir certeza e previsibilidade do comércio internacional, protegendo-se igualmente o domicílio, os bens e a segurança do estrangeiro no exterior. O direito internacional privado desenvolveu-se a partir da necessidade de se forjarem critérios para determinar o direito a ser aplicado a relações jurídicas estabelecidas entre sujeitos que pertencem a sistemas jurídicos distintos. Tornou-se indispensável também precisar a competência do Judiciário de cada país em relação aos conflitos que envolvam pessoas, coisas e interesses que transcendem os limites de dada soberania. Por influência da escola francesa foram acrescentados o estudo da nacionalidade em suas várias dimensões e as questões relativas aos direitos e deveres dos estrangeiros. Na Grã-Bretanha e nos EUA, porém, o seu objeto continuou a ser exclusivamente o conflito das leis. Seja como for, não se pode deixar de reconhecer que a finalidade do Direito Internacional Privado reside na criação de regras que orientem os juízes e tribunais na escolha da lei aplicável. Embora o conflito não desapareça, o juiz tem que decidir em face do caso concreto qual lei servirá para solucionar o litígio. Na verdade, a colidência entre as legislações é inevitável, já que o ordenamento jurídico pretende oferecer resposta unicamente para os problemas que surgem em seu âmbito de atuação. O direito internacional público e o direito internacional privado teriam assim objetos próprios e fontes diversas. O primeiro abrange as relações interestatais e os conflitos entre soberanias, tendo como fonte principal o costume e os tratados internacionais. O segundo funda-se na legislação interna dos Estados; as matérias que lhe dizem respeito versam as relações entre os sujeitos privados, das quais o Estado não participa na qualidade de ente soberano. No direito internacional público a verificação da observância dos tratados compete aos órgãos internacionais que recebem esta função, ao passo que o controle da legalidade no direito internacional privado é atribuído ao Judiciário de cada país. DireitoTransnacional: A autoria do termo Direito Transnacional é atribuída a Philip Jessup, que a partir da percepção das mudanças decorrentes da crescente complexidade das relações jurídicas no cenário mundial, entendeu ser necessária a superação do hiato (distância no estudo, na estrutura, interpretação e aplicação) existente entre o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado. A expressão Direito Transnacional foi utilizada por Philip Jessup “para incluir todas as normas que regulam atos ou fatos que transcendem as fronteiras nacionais. Tanto o direito público quanto o direito privado estão compreendidos, como estão outras normas que não se enquadram nessas categorias clássicas.”11 Papado, dando-lhes direito de intervenção nos assuntos internos dos reinos e principados, foi substituído pelo conceito de soberania de estado, com direitos iguais baseados numa ordem inter-governamental constituída por tratados e sujeitos à lei internacional. 11 JESSUP, Philip. Direito Transnacional. Trad. Carlos Ramires Pinheiro da Silva. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1965, p. 12.
Compartilhar