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NN TT PP -- AAAA 
 NÚCLEO DE TRABALHOS PERMANENTES DE AGRICULTURA 
ALTERNATIVA 
FEDERAÇÃO DE ESTUDANTES DE AGRONOMIA DO BRASIL 
BR 465 Km 7 Caixa Postal 74593 - CEP 23890-000 - Seropédica, RJ 
e-mail: ntpaarural@starmedia.com 
 
 
 
 
TEXTO DE SUBSÍDIO PARA A DISCUSSÃO DE 
AGRICULTURA ALTERNATIVA NA PLENÁRIA NACIONAL DE ENTIDADES 
DE BASES (PNEB DA PÁSCOA) 
 
 
EXTRAÍDO DO LIVRO AGROECOLOGIA: AS BASES CIENTÍFICAS DA 
AGRICULTURA ALTERNATIVA. 
AUTOR: MIGUEL ALTIERI – PTA/FASE 1989 
 
 
 
“ O objetivo último da agricultura não é cultivar as plantas mas sim cultivar os 
seres humanos.” (M. Fukuoka) 
 
A Evolução do Pensamento Agroecológico 
Susanna B. Jíecht 
 
 
Portanto, na ciência natural, é o objeto composto, o objeto como um todo 
que primeiramente nos interessa, não somente a matéria que o compõe, a 
qual não é encontrada independentemente do próprio objeto. 
 
Aristóteles 
 
ALICERCE HISTÓRICO 
 
O uso contemporâneo do termo agroecologia data dos anos 70, mas a 
ciência e a prática da agroecologia tem a idade da própria agricultura. Os 
pesquisadores, ao explorarem as culturas indígenas, as quais são relíquias 
modificadas das primeiras formas de agricultura, mostram ser cada vez mais 
evidente que muitos sistemas agrícolas desenvolvidos localmente incorporaram 
em suas rotinas mecanismos para acomodação das culturas às variações do 
ambiente natural e proteção das mesmas contra predadores e competidores. 
Estes mecanismos lançam mão de recursos renováveis e disponíveis na região 
e de características ecológicas e estruturais do campo agrícola, de terras de 
pousio e da vegetação circundante . 
A agricultura nestas situações, envolve outros recursos a serem 
manejados que não apenas uma determinada cultura “alvo”. Estes sistemas de 
produção foram desenvolvidos para que se equilibrem os riscos ambientais e 
os econômicos e que se mantenha a base produtiva da agricultura através dos 
FEAB/UN
E 
tempos. Enquanto que os agroecossistemas podem incluir infra-estruturas 
descentralizadas como terraços, valas e trabalhos de irrigação, o conhecimento 
agronômico localmente desenvolvido centraliza-se na realização contínua 
destes sistemas de produção. 
O fato desta herança agrícola ser relativamente sem importância nas 
ciências agronômicas formais reflete um preconceito que alguns pesquisadores 
contemporâneos estão tentando ultrapassar. Três processos históricos muito 
fizeram para obscurecer e denegrir os conhecimentos agronômicos que eram 
desenvolvidos por povos e suas culturas locais e sociedades não-ocidentais: (1) a destruição dos meios populares de codificação, desregulando a 
transformação das práticas agrícolas; (2) as transformações dramáticas de 
muitas sociedades nativas não-ocidentais e dos sistemas de produção nos 
quais eram baseados, como um resultado de um colapso demográfico, 
escravidão e processos coloniais e de mercado; (3) a ascensão da ciência 
positivista. Conseqüentemente, houve poucas oportunidades para que as 
idéias percebidas e desenvolvidas numa agricultura mais holística pudessem 
se infiltrar na comunidade científica formal. Esta dificuldade é ainda acirrada 
por preconceitos não reconhecidos de pesquisadores da área da agronomia 
com relação a fatores sociais, tais como classes, etnicidade, cultura e gênero. 
Historicamente, o manejo agrícola incluía rica simbologia e sistemas rituais 
que freqüentemente serviam para regular as práticas de uso da terra e para 
codificar os conhecimentos agrários dos povos que não conheciam a escrita (Ellen 1982; Conklin 1972). A existência de cultos e rituais agrícolas é 
documentado em muitas sociedades, incluindo as da Europa Ocidental. 
Certamente, estes cultos eram focos essenciais da Inquisição Católica. 
Historiadores sociais do período medieval, como Ginzburg (1983), mostraram 
como as cerimônias rurais foram queimadas como feitiçaria e como tais 
atividades transformaram-se em focos de perseguição intensa. Não 
surpreendentemente, ao lançarem-se ao mar os exploradores espanhóis e 
portugueses pós-inquisição e os europeus espalharem suas conquistas pelo 
mundo todo por “Deus, Ouro e Glória”, parte de seus maiores projetos incluíam 
atividades evangélicas que freqüentemente alteravam as bases rituais e 
simbólicas da agricultura das sociedades não-ocidentais. Estas modificações 
transformaram e freqüentemente interferiram na propagação geral e 
especificas dos conhecimentos agrícolas locais. Este processo, além de 
doenças, escravidão e da freqüente reestruturação das bases agrícolas das 
comunidades rurais com propósitos colonialistas e mercantis, freqüentemente 
contribuíram para a destruição ou abandono de tecnologias “de ponta” tais 
como sistemas de irrigações. E contribuíram especialmente para o 
empobrecimento de tecnologias “brandas” (cultivares, consórcios de culturas, 
técnicas de controle biológico e de manejo desolo) dos agricultores locais, as 
quais eram muito mais dependentes de formas culturais de transmissão 
A literatura histórica documenta como as doenças trazidas pelos 
exploradores afetaram as populações nativas. Especialmente no Novo 
Mundo, colapsos rápidos e inimagináveis de devastação populacional 
ocorreram. Em algumas áreas, aproximadamente 90% da população 
morreram em menos de 100 anos (Denevan 1976). Com eles, morreram 
sistemas culturais e de conhecimento. Os efeitos terríveis das epidemias 
caracterizaram as primeiras fases de contato, mas outras atividades, 
especialmente a escravidão nas plantações do Novo Mundo também tiveram 
impactos drásticos nas populações e, conseqüentemente, no conhecimento 
agrícola até o século XIX, inclusive. 
 Inicialmente, as populações locais eram os focos para a captura de escravos, 
mas estes grupos geralmente eram capazes de escapar. Os problemas de 
doenças para os índios do Novo Mundo também os fizeram uma força de 
trabalho longe da ideal. As populações africanas, por outro lado, estavam 
acostumadas às condições tropicais e eram relativamente resistentes às 
doenças européias. Eles puderam, então, satisfazer a necessidade crescente 
de força de trabalho para as plantações de cana e de algodão. Por mais de 
dois séculos, mais de 20 milhões de escravos foram transportados da África 
para várias plantações do Novo Mundo (Wolf 1982). 
A escravidão era tida como a melhor força de trabalho (homens e mulheres jovens) e isto resultou na perda da importante força de trabalho para a agricul-
tura local e no abandono do trabalho agrícola, uma vez que as pessoas 
procuravam evitar a escravidão mudando-se para longe das áreas onde 
predominava o trabalho escravo. A desintegração destes sistemas de 
conhecimento através da exportação de mão-de-obra para o trabalho, da 
erosão das bases culturais da agricultura local e da mortalidade associada às 
lutas estimuladas pela captura de escravos foi, mais tarde, completada pela 
integração destes sistemas residuais nas estruturas coloniais e mercantilistas. 
O contato europeu com o mundo não-ocidental não foi benigno e, geralmente, 
envolveu transformações de sistemas produtivos para satisfazer necessidades 
dos centros burocráticos locais, enclaves ligados à mineração ou a recursos 
naturais, e ao comércio internacional. Isto foi alcançado através, em alguns 
casos da coerção direta, e em outros, através da reorientação ou manipulação 
econômica através da conspiração das elites locais e de líderes e através da 
troca. Esses processos mudaram, fundamentalmente, as bases da economia 
agrícola. Com a emergência de culturas de retomo imediato e a crescente 
pressão em itens particulares para exportação, as estratégias de uso da terra 
que foram desenvolvidas em milênios para reduzir os riscos na agricultura e 
manter a base de recursos foram desestabilizadas. Muitos estudos 
documentaram estes efeitos (Watts1983, Wolf 1982, Palmer e Parsons 1977, 
Wasserstrom 1982, Browkenshaw et ai. 1979, Geertz 1962). 
Finalmente, quando cronistas e exploradores mencionaram positivamente 
as práticas nativas do uso da terra, era difícil a tradução destas observações de 
formas não-folclóricas, socialmente aceitáveis e coerentes. A ascensão do 
método positivista na ciência e a tendência do pensamento ocidental à 
atomística e às perspectivas mecanicistas (vide Capítulo 2) associados ao 
ilumínismo do século XVIII alteraram dramaticamente o discurso acerca do 
naturalismo (Mcrchant 1980). 
Esta transição epistemológica substituiu uma visão orgânica e viva da 
natureza para uma visto mais mecânica. Cada vez mais, esta tendência 
enfatizava uma linguagem científica, uma maneira de se referir ao naturalismo 
que rejeitavam outras formas de conhecimento científico como superstição. Na 
verdade, na época de Condorcet e Comte, a ascensão da ciência estava ligada 
ao triunfo da razão sobre a superstição. Esta posição, ao lado de uma visão 
depreciativa das habilidades do homem rural e da população colonizada, em 
particular, obscureceram ainda mais a riqueza de muitos sistemas de 
conhecimentos rurais cujo conteúdo era expresso de forma discursiva e 
simbólica. Por não compreenderem o contexto ecológico, a complexidade 
espacial da forma de cultivo da agricultura não-formalizada era freqüentemente 
rechaçada como desordem. 
Dado este histórico, pode-se perguntar como a agroecologia ressurgiu. A 
“redescoberta” da agroecologia é um exemplo não usual do impacto de 
tecnologias preexistentes na ciência, onde avanços importantes no 
entendimento da natureza resultaram da decisão de cientistas em estudar o 
que os produtores haviam aprendido a fázer (Kuhn 1979). Kuhn aponta que, 
em muitos casos, os cientistas obtiveram sucesso em “meramente validar e 
explicar, não em melhorar, as técnicas desenvolvidas anteriormente”. 
O modo de como a idéia da agroecologia reemergiu também requer a 
análise da influência de algumas correntes intelectuais que tinham 
relativamente pouco a fazer com a agricultura formal. O estudo de sistemas de 
classificação indígenas, de teorias do desenvolvimento rural, ciclos de 
nutrientes e sucessões ecológicas tiveram pouca relação direta com a ciência 
agrícola, ciência do solo, fitopatologia e manejo de pragas como são 
normalmente praticados. (...) 
 
 
O QUE É AGROECOLOGIA? 
 
O termo agroecologia pode significar muitas coisas. Superficialmente defi-
nida, a agroecologia geralmente incorpora idéias mais ambíentais e de 
sentimento social acerca da agricultura, focando não somente a produção, mas 
também a sustentabilidade ecológica dos sistemas de produção. Este pode ser 
chamado o uso “normativo” ou “prescrito” do termo agroecologia, porque 
implica um número de fatores sobre sociedade e produção que estão além dos 
limites do campo da agricultura. Mais estreitamente, agroecologia se refere ao 
estudo de fenômenos puramente ecológicos que ocorrem nos campos das 
culturas, tais como relações predador/predado, ou competição 
cultura/invasoras. 
 
A Visão Ecológica 
 
No coração da agroecologia, há a idéia de que os campos de culturas aio 
ecossistemas nos quais os processos ecológicos encontrados nas outras 
formações de vegetações — como ciclos de nutrientes, interações 
predador/presa, competição, comensalismo e sucessões ecológicas — também 
ocorrem. A agroecologia enfoca as relações ecológicas no campo e o seu 
objetivo é iluminar a forma, a dinâmica e a função destas relações. Em alguns 
trabalhos agroecológicos está implícita a idéia que através da compreensão 
destes processos e relações, os agroecossistemas podem ser manipulados 
para produzir melhor, com menos impactos negativos ambientais e sociais, 
mais sustentabilidade e menos insumos externos. Conseqüentemente, um 
certo número de pesquisadores das ciências agrícolas e campos afins 
começaram a ver o campo de culturas como um tipo particular de ecossistema 
— um agroecossistema — e a formalizar a análise do conjunto de processos e 
interações dos sistemas das culturas. A estrutura analítica fundamental 
depende muito da teoria dos sistemas e das tentativas teóricas e práticas em 
integrar os numerosos fatores que afetam a agricultura (Spedding 1975, 
Conway, 1981, Gliessman 1982, Conway 1985, chambers 1983, Ellen 
1982, Altieri 1983, Lowrance et ai. 1984). 
 
A Perspectiva Social 
 
 Os agroecossistemas têm vários graus de resistência e estabilidade, mas 
saio aio estritamente determinados por fatores ambientais ou bióticos. fatores 
sociais como colapsos dos preços de mercado ou mudanças na posse da terra 
podem romper com os sistemas agrícolas tio decisivamente como secas, 
explosão de pestes ou declínio da fertilidade do solo. Por outro lado, decisões 
de alocação de energia e de insumos materiais podem aumentar a resistência 
e a recuperação de ecossistemas danificados. Apesar da manipulação humana 
dos sistemas para produção agrícola geralmente alterar de maneira dramática 
a estrutura, a diversidade, o modelo energético, o fluxo de nutrientes e os 
mecanismos reguladores da população nos campos agrícolas; estes processos 
ainda funcionam e podem ser explorados experimentalmente. A magnitude das 
diferenças nas funções ecológicas entre ecossistemas naturais e agrícolas 
depende tremendamente da intensidade e freqüência das perturbações 
naturais e humanas que se impingem no ecossistema. Os resultados da inter-
relação entre características endógenas biológicas e ambientais dos campos 
agrícolas e dos fatores exógenos sociais e econômicos geram a estrutura 
particular dos agroecossistemas. Por razão, geralmente necessita-se de uma 
perspectiva mais ampla para se explicar e observar sistemas de produção. 
 Um sistema agrícola difere fundamentalmente em vários aspectos de 
estrutura e função dos sistemas ecológicos “naturais”. Os agroecossistemas 
são ecossistemas semidomesticados que encaixam-se num gradíente entre 
ecossistemas que experimentaram um mínimo de impacto humano e aqueles 
sob um máximo controle humano, como as cidades. Odum (1984) descreve 
quatro características cipais dos agroecossistemas: 
 
 1. Os agroecossistemas incluem fontes auxiliares de energia como a 
humana, animal e energia de combustíveis a fim de aumentar a produtividade 
de organismos em particular. 
 2. A diversidade pode ser bastante reduzida ao se comparar com 
ecossitemas naturais. 
 3. Os animais e as plantas dominantes estão mais sob seleção artificial do 
que natural. 
 4. Os controles dos sistemas são na maioria das vezes externos, e não 
internos via subsistemas de “feedback”. 
 
 O modelo de Odum é baseado, principalmente, na agricultura modernizada 
como é encontrada nos Estados Unidos. Existem, entretanto, muitos tipos de 
sistemas agrícolas, particularmente nos trópicos, que não se enquadram nesta 
definição. Particularmente suspeitas são as questões da diversidade e da 
natureza da seleção em agriculturas complexas, onde vários animais e plantas 
silvestres semidomesticados figuram nos sistemas de produção. Por exemplo, 
Conklin, 1956) descreveu agroecossistemas nas Filipinas que incluíam mais de 
600 plantas cultivadas e manejadas. Apesar desta agricultura não ser tão 
diversa quanto algumas florestas tropicais, era certamente mais diversa que 
muitos outros ecossistemas locais. 
 Os sistemas agrícolas aio interações complexas entre processos externos e 
internos sociais, biológicos e ambientais. Isto pode ser entendido 
espacialmente a nível de campo agrícola, mas freqüentemente também inclui 
uma dimensão temporal. O grau de controle externo vs. controle interno pode 
refletir a intensidade do manejo através dos anos, o que pode ser bem mais 
variável do que Odum sugere. Em sistemas itinerantes, por exemplo, os 
controles externos tendem a desaparecer nos períodos de descansoda terra 
mais tardios. O modelo 
de agroecossistemas de Odum é um ponto de partida interessante para o 
entendimento da agricultura sob a perspectiva de um sistema ecológico, mas 
não consegue captar a diversidade e a complexidade de muitos 
agroecossistemas que se desenvolveram em sociedades não-ocidentais, 
particularmente nos trópicos úmidos. Além disso, a falta de atenção deste 
modelo aos determinantes sociais na agricultura deixa-o com capacidade 
explanatória limitada. 
Os sistemas agrícolas são artefatos humanos e os fatores determinantes 
da agricultura não se limitam às fronteiras do campo. As estratégias agrícolas 
respondem não somente a forças ambientais, bióticas e das culturas, mas 
também refletem as estratégias de subsistência humana e condições 
econômicas (Ellen 1982). Fatores como a disponibilidade de mão-de-obra, 
acessos e condições de crédito, subsídios, riscos previstos, informação de 
preços, obrigações familiares, tamanho da família e acesso a outras formas de 
subsistência são, geralmente, críticos para o entendimento da lógica dos 
sistemas de produção. Particularmente, ao se analisarem situações de 
pequenos produtores fora dos EUA e Europa, a simples maximização da 
produção em sistemas de monoculturas são menos úteis para se entender o 
comportamento dos produtores e suas escolhas agronômicas (Scott 1978 e 
1986, Bartlett 1984, Chambers 1984). 
 
 
O Desafio da Agroecologia 
 
Os cientistas da agricultura convencional têm se preocupado, 
principalmente, com as práticas de manejo do solo, dos animais e das plantas 
na produtividade de uma dada cultura, usando a perspectiva de enfatizar um 
problema específico como os nutrientes do solo ou a epidemia de pestes. Este 
encaminhamento de sistemas agrícolas tem sido determinado, em parte, pelo 
diálogo limitado entre as linhas disciplinares, pela estrutura de investigação 
científica que tende a atomizar as questões de pesquisa e pela comodidade do 
enfoque agrícola. Não há dúvida que as pesquisas agrícolas baseadas nesta 
visão obtiveram sucesso em aumentar a produção em situações favoráveis. 
No entanto, os cientistas reconhecem, cada vez mais, que esta visão 
estreita pode limitar as opções agrícolas para o homem do campo e que esta 
visão especifica geralmente traz consigo conseqüências secundárias não 
planejadas e que, freqüentemente, causam danos ecológicos e custos sociais. 
A pesquisa na agroecologia concentra-se em temas centrais do campo 
agronômico, porém, dentro de um contexto mais amplo que inclui 
variáveis ecológicas e sociais. Em muitos casos, as premissas sobre os 
propósitos de um sistema agrícola podem variar unicamente com o enfoque 
producionista de alguns cientistas. 
A agroecologia pode ser mais bem descrita como uma tendência que 
integra as idéias e métodos de vários subcampos em vez de uma disciplina 
especifica. A agroecologia pode ser um desafio normativo aos temas 
relacionados à agricultura que existem nas diversas disciplinas. Ela tem raízes 
nas ciências agrícolas, no movimento ambiental, na ecologia (particularmente 
na explosão da pesquisa de ecossistemas tropicais), nas análises de 
agroecossistemas indígenas e em estudos de desenvolvimento rural. Cada 
uma destas áreas em questão têm diferentes objetivos e metodologias, ainda 
que tomadas juntamente, todas têm influência legítima e importante no 
pensamento agroecológico. 
 
INFLUÉNCIAS NO PENSAMENTO AGROECOLÕGICO 
 
Ciências Agrícolas 
Como Altieri (1983) apontou, o crédito de grande parte do desenvolvimento 
inicial da ecologia agrícola pertence a Klages (1928). Klages sugeriu que, para 
entender as relações complexas entre a cultura e seu ambiente, deve-se levar 
em conta os fatores fisiológicos e agronômicos que influenciam a distribuição e 
adaptação de culturas de espécies determinadas. Mais tarde, Klages (1942) 
ampliou sua definição, incluindo fatores históricos, tecnológicos e sócio-
econômicos como determinante sobre qual cultura poderia produzir numa 
determinada região e quanto produziria. Papadakis (1938) enfatizou que o 
cultivo deveria ser baseado nas respostas das culturas ao ambiente. A ecologia 
agrícola foi elaborada posteriormente nos anos 60 por Tiscbler (1965) e 
integrada nos currículos agrícolas, cujos cursos eram orientados a desenvolver 
a base para um ponto de vista ecológico na adaptação das culturas. A 
agronomia e a ecologia de culturas estio se aproximando cada vez mais, mas a 
integração da agronomia com outras ciências (incluindo as ciências sociais) 
necessárias ao trabalho agroecológico está apenas começando. 
Os trabalhos de Azzi (1956), Wilsie (1962), Tischler (1965), Chang (1968), 
e Loucks (1977) representam uma mudança gradual em direção a uma visão 
de ecossistemas na agricultura. Azzi (1956), em particular, enfatizou que 
apesar de meteorologia, ciências do solo e entomologia serem disciplinas 
distintas, o estudo destas em relação às respostas em potencial das culturas 
converge numa ciência agroecológica que pode esclarecer as relações entre as 
culturas e o ambiente. Wilsie analisou os princípios da adaptação e distribuição 
das culturas em relação aos fatores de seus habitats e fez uma tentativa de 
formalizar o corpo das relações implícitas nos sistemas de culturas. Chang (1968), mais tarde, seguiu as linhas sugeridas por Wilsie, enfocando, em maior 
grau, os aspectos ccofisiológicos. 
No começo da década de 70, houve uma expansão enorme da literatura 
agronômica com perspectiva agroecológica, incluindo trabalhos como os de 
Dalton 1975, Netting 1974, van Dyne 1969, Spedding 1975, Loomis et ai. 1971, 
Cox e Atkins 1979, Richards, P. 1974, Vandermeer 1981, Edens e Koenig 
1980, 
Edens e Haynes 1982, Altieri e Letourneau 1982, Gliessman et ai. 1981, e 
Bayliss-Smith 1982. 
 No fim da década de 70 e começo da de 80, um componente social cada vez 
maior apareceu na literatura agrícola, mais como uni resultado dos estudos de 
desenvolvimento rural e de críticas às estruturas de desenvolvimento agrícola 
dos EUA (Buttel 1986). A contextualização social acompanhada de análises 
agronômicas gerou avaliações complexas da agricultura, particularmente em 
relação ao desenvolvimento regional (Altieri e Anderson 1986, Brush 1977, 
Richards, P. 1984 e 1986, Kurin 1983, Bartlett 1984, Hecht 1985, Blaikie 1984). 
Aqueles que trabalham com pragas, especialmente os entomologistas, 
fizeram Importantes contribuições ao desenvolvimento de uma perspectiva 
ecológica na proteção de plantas. A teoria e a prática do controle biológico de 
pragas estão baseadas em princípios ecológicos (Huffaker e Messenger 1976). 
O manejo ecológico de pragas enfoca, principalmente, o contraste das 
estruturas e funções dos sistemas agrícolas com aqueles sistemas 
relativamente não perturbados ou sistemas agrícolas mais complexos (Southwood e Way 1970, Prince e Waldbauer 1975, Levins e Wilson 1979, 
Risch 1981 e Risch et al. 1983). Browning (1975) colocou que o manejo de 
pragas deveria enfatizar o desenvolvimento de agroecossistemas que 
simulassem os últimos estágios da sucessão ecológica, tanto quanto possível, 
uma vez que estes tipos de sistemas são mais estáveis que aqueles de 
estrutura simples monocultural. 
 
Métodos de Análises. Uma grande parte das análises agroecológicas das 
ciências agrícolas está progredindo atualmente em todo o mundo. Nesta 
conjuntura, quatro métodos principais são, rotineiramente, usados: 
1. Descrição analítica. Muitos estudos estão em andamento, os quais 
medem cuidadosamente, descrevem os sistemas agrícolas e avaliam 
características particulares tais como diversidade de plantas, acúmulo de 
biomassa, retenção de nutrientes e produção. Por exemplo, o Centro 
Internacional de Agrossilvicultura (International Center on Agroforestry — 
ICRAF) vem desenvolvendo dados internacionais com base nos vários tipos de 
sistemas de agrossilviculturae os correlaciona com uma variedade de 
parâmetros ambientais a fim de desenvolver modelos regionais sistemáticos e 
de culturas (Nair 1984, Huxley 1983). Este tipo de informação é válido para 
ampliar nossa compreensao dos tipos de sistemas existentes, cujos 
componentes são normalmente encontrados juntos e em qual contexto 
ambiental se inserem. Este é, necessariamente, o primeiro passo. Os estudos 
representativos dentro desta linha são numerosos e incluem os de Ewel et ai. 
1984, Alcorn 1984, Marten 1986, Turner e Brush 1986, Deneven et ai,1984 e 
Posey 1985. 
2. Análise comparativa. A pesquisa comparativa usualmente envolve a 
comparação de uma monocultura ou outro Sistema de cultura com um 
agroecossistema tradicional mais complexo. Estudos comparativos como estes 
envolvem análises da produtividade de determinadas culturas, dinâmica de 
pragas, ou nível de nutrientes e suas correlações com fatores como 
diversidade de espécies, frequência de invasoras, população de insetos e 
modelos de ciclos de nutrientes. Alguns estados deste tipo têm sido feitos na 
América Latina, África e Ásia (Glover e Beer 1986, UM e Murphy 1981, Irvine 
1987, Marten 1986 e Woodmansee 1984). Tais projetos usam padrões de 
metodologia científica para determinar a dinâmica de sistemas de culturas 
mistas particulares e locais comparados com monoculturas. Estes dados suo, 
geralmente, úteis, mas a heterogeneidade dos sistemas locais pode obscurecer 
como eles funcionam. 
 
3. Comparações experimentais. A fim de clarear a dinâmica e reduzir o 
número de variáveis, muitos pesquísadores desenvolvem uma versão 
simplificada de sistemas indígenas nos quais as varíáveis podem ser mais 
facilmente controladas. Por exemplo, a produção de um consórcio de milho, 
feijão e abóbora pode ser comparado com modelos da cultura simples de cada 
espécie. 
4. Sistemas agrícolas normativos. Estes são geralmente imaginados como 
modelos teóricos particulares. Um ecossistema natural pode ser imitado ou um 
sistema agrícola indígena pode ser cuidadosamente reconstituído. Este método 
tem sido avaliado experimentalmente por alguns pesquisadores da Costa Rica. 
Eles estio desenvolvendo sistemas de plantio que simulam as seqüências das 
sucessões ecológicas, usando cultivares botânica ou morfologicamente 
similares a plantas de várias seqüências de sucessões (Hart 1979, Ewel 1986). 
Embora a agronomia seja, certamente, a disciplina-mãe da 
agroecologia, esta foi fortemente influenciada pela emergência do 
ambientalismo e pela expansão dos estudos ecológicos. O ambientalismo foi 
necessário para fornecer a estrutura filosófica que suporta os valores da 
tecnologia alternativa e dos projetos normativos em agroecologia. Os estudos 
ecológicos foram essenciais para expandir os paradigmas através dos quais as 
questões agrícolas puderam se desenvolver, assim como as técnicas para 
analisá-las. 
 
Ambientalismo 
 
Importância do movimento. O maior contribuinte intelectual à agroecologia 
foi o movimento em prol do meio ambiente nas décadas de 60 e 70. Assim 
como o ambientalismo foi absorvido pela agroecologia, algumas partes do 
discurso agroecolôgíco com posições críticas sobre produção orientada passou 
à agronomia, aumentando a sensibilidade às altas taxas de exportação de 
recursos. 
A versão do movimento ambiental da década de 60 iniciou sem muita 
preocupação com as descargas de poluentes. Estas eram analisadas como em 
função de falhas tecnológicas e das pressões populacionais. A perspectiva 
malthusiana ganhou força em meados da década de 60 com trabalhos como o 
de Paul Ehrlicli, ‘The Population Bomb (1966) e de Garret Hardin, Tragedy of 
the Commons (1968). Estes autores ligaram a degradação ambiental e a 
depredação dos recursos aos aumentos populacionais. Este ponto de vista 
expandiu-se tecnicamente com a publicação do Clube de Roma, The Limits to 
Growth, o qual usou simulações computadorizadas da tendência global da 
população, do uso de recursos e da poluição para traçar cenários para o futuro, 
os quais eram, geralmente, desastrosos. Estas posições foram criticadas por 
perspectivas metodológicas e epistemológicas (Simon e Kahn 1985). 
Enquanto o The Limits to Growth desenvolveu um modelo generalizado de 
“crise ambiental”, dois volumes posteriores, um fase embrionária, tiveram 
particular relevância no pensamento agroecológico porque delinearam visões 
de uma sociedade alternativa. Estes eram o Blueprint for Survival (The 
Ecologist, 1972) e o de Schumacher Small is Beautíful (1973). Os trabalhos 
incorporaram idéias sobre organização social, estrutura econômica e valores 
culturais numa visto compreensiva e mais ou menos utópica. Blueprint for 
Survival defendeu a descentralização, diminuição de escalas e a ênfase em 
atividades humanas que envolvesse o mínimo de quebras ecológicas e o 
máximo de conservação de energia e de materiais. As palavras-chaves eram 
auto-suficiência e sustentabilidade. O livro de Schumacher enfatizou uma 
avaliação radical da racionalidade econômica (“economia budista”), um modelo 
descentralizado de sociedade (“dois milhões de vilas”) e tecnologia apropriada. 
Particularmente significativo em Small is Beautiful era a extensão destas idéias 
ao Terceiro Mundo. 
Questões agrícolas. As questões ambientais pertinentes à agricultura 
foram claramente assinaladas por Silent Spring, de Carson (1964), o qual 
levantou questões sobre os impactos secundários e substâncias tóxicas no 
ambiente, especialmente inseticidas. Parte da resposta a estes problemas foi o 
desenvolvimento do manejo de pragas para proteção das culturas que foi 
baseado, na teoria e na prática, inteiramente em princípios ecológicos (Huffaker e Messenger 1976). A toxicidade dos agroquímicos foi apenas uma 
das questões ambientais, uma vez que o uso dos recursos energéticos 
transformou-se num tópico cada vez mais importante. Os custos da energia em 
particulares sistemas de produção exigiram novas avaliações, especialmente 
no começo dos anos 70, quando o preço dos combustíveis disparou. O estudo 
clássico de Pimentel em 1973 mostrou que na agricultura americana, cada 
quilocaloria de milho foi “conseguida” com um enorme custo energético de uma 
energia externa. Subseqüentemente, os sistemas de produção dos EUA foram 
comparados com várias outras formas de agricultura as quais eram menos 
produtivas por unidade de área (em termos de quilocalorías por hectare), 
porém, muito mais eficientes em termos de retornos por unidade de energia 
despendida. As altas produções da agricultura moderna são alcançadas pelo 
preço de numerosos insumos, incluindo os não-renováveis, como os combus-
tíveis fósseis e o fósforo. 
No Terceiro Mundo estes insumos são geralmente importados e forçam 
seu balanço de pagamentos e sua situação de débito. Além disto, devido às 
culturas de alimentos não receberem muitos destes insumos, os ganhos de 
produção não se traduziram em melhor suprimento de comida (Crouch e de 
Janvry 1980, Graham 1984 e Dewey 1981). 
Finalmente, as conseqüências sociais deste modelo produziram 
impactos em geral extremamente negativos e complexos nas populações 
locais, especialmente aquelas com acesso limitado a terras e a crédito. (...) 
As questões de toxicidade e de recursos na agricultura embutiram-se em 
questões mais amplas de transferência de tecnologia no contexto do Terceiro 
Mundo. The Careless Technology (editado por Milton e Farver em 1968) foi 
uma das primeiras grandes tentativas de documentar os efeitos dos projetos de 
desenvolvimento e da transferência de tecnologias de zonas temperadas para 
a ecologia e sociedades de países em desenvolvimento. Cada vez mais, os 
pesquisadores de diversas áreas começaram a comentar a pobreza da 
adequação entre as técnicas de uso da terra do Primeiro Mundo e a realidade 
do Terceiro Mundo. O artigo de Jansen em 1973 foi o primeiro largamentelido 
que avaliou a razão pela qual os sistemas agrícolas tropicais funcionam 
diferentemente daqueles em zonas temperadas. Este capítulo e o de Levins (1973) foram um desafio aos pesquisadores da área agrícola a repensarem a 
ecologia da agricultura tropical. 
Ao mesmo tempo, as maiores questões filosóficas levantadas pelo movi-
mento ambiental ressoaram com a reavaliação dos propósitos do 
desenvolvimento agrícola dos EUA e do Terceiro Mundo e das bases 
tecnológicas sobre as quais este desenvolvimento seria realizado. Nos países 
desenvolvidos, estas idéias tiveram impacto moderado na estrutura da 
agricultura porque a segurança e a eficácia dos agroquímicos e dos insumos 
energéticos na agricultura resultaram em transformações insignificantes no 
padrão de uso de recursos na agricultura. Nas situações em que os produtores 
e as nações estão limitados em recursos, onde estruturas distribuidoras 
regressivas prevalecem e onde as técnicas para zonas temperadas são 
impróprias para as condições locais de ambiente, a agroecologia parece 
particularmente relevante. 
A integração da agronomia e do ambientalismo embutiram-se na 
agroecologia, mas os fundamentos intelectuais para tal mistura acadêmica 
foram relativamente fracos. Era necessária maior clareza nas aproximações 
teóricas e técnicas, particularmente com respeito a sistemas tropicais. Os 
desenvolvimentos na teoria ecológica teriam relevância particular na evolução 
do pensamento agroecológico. 
 
Ecologia 
 
Os ecologistas foram singularmente importantes na evolução do 
pensamento agroecológico por diversas razões. Primeiramente, a estrutura 
conceitual da agroecologia e sua linguagem são essencialmente ecológicas. 
Em segundo lugar, os sistemas agrícolas são, por si só, conjuntos 
interessantes de pesquisa, nos quais os cientistas têm grande habilidade em 
controlar, testar e manipular os componentes do sistema comparados com 
ecossistemas naturais. Tal fato pode oferecer condições de testes para uma 
grande lista de hipóteses ecológicas e realmente já contribuiu substancialmente 
para o corpo do conhecimento ecológico (Levins 1973, Risch et aI. 1983, Altieri 
et ai. 1983, Uhl et ai. 1987). 
Em terceiro lugar, a explosão de pesquisas em ecossistemas tropicais 
direcionou as atenções aos impactos ecológicos da expansão dos sistemas de 
monoculturas em zonas caracterizadas por extraordinária diversidade e 
complexidade (Janzen 1973, UM 1983 ou UM e Jordan 1984, Hecht 1985). Em 
quarto lugar, um certo número de ecologistas começaram a prestar atenção às 
dinâmicas ecológicas dos sistemas agrícolas tradicionais (Gliessman 1982a,b, 
Altieri e Farrell 1984, Anderson et al. 1987, Marten 1986, Richards, P. 1984 e 
1986). 
Três áreas foram particularmente críticas no desenvolvimento das análises 
agroecológicas: ciclos de nutrientes, interações pestes/plantas e sucessões 
ecológicas. (...) 
No início dos anos 60, as análises dos ciclos de nutrientes transformaram-
se num foco de interesse nos trópicos e como um processo vital em um 
ecossistema, dada a pobreza generalizada de muitos solos tropicais. Alguns 
estudos como os de Odum—Puerto Rico Study (1967), pesquisas de Nye e 
Greenland (1961) e uma posterior série de artigos e monografias derivados de 
trabalhos em San Carlos, Venezuela; Catie, Costa Rica e outros locais da Ásia 
e África foram produtivos em clarear os mecanismos dos ciclos de nutrientes 
tanto em áreas de florestas nativas como em áreas limpas (Jordan 1985, UM e 
Jordan 1984, Buschbacker et ai. 1987, UM et ai. 1987). 
Os achados ecológicos da pesquisa de ciclos de nutrientes que tiveram 
maiores impactos na análise da agricultura foram: 
• A relação entre a diversidade e as estratégias interespecíficas de 
nutrientes. 
• A importância de características estruturais para a melhoria da absorção 
de nutrientes sob e sobre o solo. 
• A dinâmica dos mecanismos fisiológicos para retenção de nutrientes. 
• A importância das relações associativas de plantas superiores com 
microorganismos como micorrizas e fixadores simbióticos de nitrogênio. 
• A importância da biomassa como uma reserva de nutrientes. 
Estas descobertas sugeriram que os modelos ecológicos da agricultura 
tropical deveriam incluir uma diversidade de espécies (ou pelo menos de 
cultivares) a tini de tirar vantagem da variabilidade de absorção de nutrientes, 
tanto em termos de diferentes nutrientes como na captura de nutrientes em 
diferentes profundidades do solo. A informação generalizada dos estudos 
ecológicos de ciclos de nutrientes também sugeriram o uso de plantas que 
formavam, prontamente, associações simbióticas como as leguminosas e 
maior uso de plantas perenes nos sistemas de produção, como um meio de 
bombear os nutrientes de diferentes profundidades do solo e de aumentar a 
capacidade total do sistema em estocar nutrientes. Não surpreendentemente, 
muitos destes princípios já eram postos em prática em numerosos sistemas 
agrícolas desenvolvidos pelos povos nativos, nos trópicos. 
Em grande parte de literatura ecológica, as comparações de ecossistemas 
naturais com agroecossistemas têm sido baseadas em agroecossistemas 
desenvolvidos por ecologistas após algumas observações de ecossistemas 
locais ao invés dos verdadeiramente, localmente desenvolvidos. Além disto, as 
questões de pesquisa enfocaram parâmetros como diversidade de sementes, 
acúmulo de biomassa e reserva de nutrientes na sucessão. Estas pesquisas 
nos forneceram o entendimento de algumas das dinâmicas dos sistemas 
agrícolas como entidades biológicas, mas a maneira com que o manejo (exceto 
aqueles realizados por estudantes graduados relativamente inexperientes) 
influencia estes processos permanece uma enorme área inexplorada. (Como 
uma boa exceção neste aspecto, veja UM et aI. 1987.) 
As limitações de uma visto puramente ecológica estão sendo cada vez 
mais ultrapassadas uma vez que os pesquisadores começam a examinar 
sistemas indígenas e de camponeses em temas multidisciplinares e numa 
perspectiva mais holística (Anderson e Anderson 1983, Hecht et ai. 1987, 
Anderson et ai. 1987, Marten 1986, Denevan et ai. 1984). Esses esforços 
tentam colocar a agricultura num contexto social; eles usam modelos indígenas 
locais (e explicações indígenas do porquê eles fazem as determinadas 
atividades) para desenvolver hipóteses que podem ser, então, testadas 
usando-se métodos agronômicos e científicos. Esta é uma área da pesquisa 
que floresce com implicações principalmente teóricas e aplicadas e uma 
grande inspiração para a prática e teoria agroecológicas. 
 
Sistemas Indígenas de Produção 
 
Outra grande influência no pensamento agroecológico veio dos esforços 
das pesquisas de antropólogos e geógrafos preocupados cm descrever e 
analisar as práticas agrícolas e a lógica de povos indígenas e camponeses. 
Estes estudos preocupam-se, tipicamente, com uso de recursos e o manejo de 
toda uma base de subsistência, não apenas com a parcela agrícola, e tem 
enfocado como esta base de subsistência é explicada pelas pessoas do local e 
como as mudanças sociais e econômicas afetam os sistemas de produção. A 
análise científica do conhecimento local tem sido uma força importante na 
reavaliação da arrogância do modelo de desenvolvimento colonial e agrícola. O 
trabalho pioneiro deste tipo foi o de Audrey Richards (1939) nas práticas 
citamene dos Bembas africanos. O sistema citamene envolve restos vegetais 
como composto na agricultura das savanas da África Central. Este estudo, 
com sua ênfase nos êxitos das tecnologias agrícolas e nas explicações 
ecológicas dos povos nativos estabeleceu um forte contraste com a visão 
depreciativa das percepções da agricultura nativa, cujas práticas locais 
são vistas como confusas e inferiores. 
Outra grande contribuição no cultivo indígena foi o trabalho pioneiro de 
Conklin (1956), o qual deitou o alicercepara a reavaliação do cultivo itinerante, 
baseado em dados agronômicos e etnográficos dos Hanunoo, nas Filípinas. 
Este trabalho apontou a complexidade ecológica dos padrões de cultivos itine-
rantes, assim como a diversidade de tipos destes cultivos, a importância dos 
cultivos múltiplos, da rotação de culturas e dos sistemas agroflorestais em toda 
a estrutura de produção de cultivos itinerantes. Está entre os primeiros e mais 
largamente conhecidos estudos da estrutura e complexidade do cultivo 
alternado e incorpora várias percepções ecológicas. 
De particular importância foi a ênfase de Conklin no conhecimento ecoló-
gico nativo e a importância em tocar nesta rica fonte de conhecimento cientí-
fico. Ele enfatizou, entretanto, que o acesso a estas informações iria requerer 
habilidades etnográficas tanto quanto científicas. 
Pesquisadores como Richards, P. 1984, Bremen e de Wit 1983, Watts 
1983, Posey 1984, Deneven et ai. 1984, Hecht e Posey 1987, Browkenshaw et 
ai. 1979, Conklin 1986 entre muitos outros exploraram os sistemas indígenas 
de produção e categorias de conhecimento sobre condições ambientais e 
práticas agrícolas. Este grupo de pesquisas enfoca a visão nativa dos sistemas 
de produção e os analisa com métodos da ciência ocidental. Todos estes 
autores enfatizaram que a organização social e as relações sociais de 
produção deveriam ser consideradas com a mesma intensidade que o 
ambiente e cultivares. Esta ênfase nas dimensões sociais de produção é uma 
base importante para o entendimento da lógica de produção dos sistemas 
agrícolas. 
Outro resultado importante de muitos destes trabalhos em sistemas indíge-
nas de produção é a idéia de que requerem-se noções diferentes de eficiência 
e racionalidade para que se entendam os sistemas indígenas e campesinos. 
Por exemplo, a eficiência na produção por unidade de trabalho investido ao 
invés da simples taxa de produção por área é não básica para a lógica de 
produção em muitos cultivos do Terceiro Mundo. Práticas que dirigidas a evitar 
os riscos podem não trazer altas produções a curto prazo, mas podem ser 
opções preferíveis em terras altamente produtivas, porém de risco. A 
disponibilidade de mão-de-obra, particularmente em ocasiões de demanda 
como as colheitas. também pode influenciar o tipo de sistema agrícola que é 
favorecido. 
 Este tipo de pesquisa tem influenciado no desenvolvimento de contra 
argumentos àqueles que atribuem as falhas da transferência de tecnologia 
agrícola à ignorância e à indolência. Esta tendência, com sua ênfase nos 
fatores humanos dos sistemas agrícolas, também dirigiu suas atenções às 
estratégias de camponeses de diferentes níveis de classe, no papel da mulher 
na agricultura e no manejo dos recursos (Deere 1982, Beneria 1984, Moock 
1986). 
As análises etnoagrícolas muito têm feito para expandir as ferramentas 
conceituais e práticas da agroecologia. O enfoque nas estruturas “endógenas” (baseadas em determinadas explicações culturais) sugeriram relações que as 
estruturas “exógenas” (que são estruturas externas, geralmente referindo-se a 
modelos ocidentais de explicações) não captam facilmente, mas que podem 
ser testadas com os métodos da ciência ocidental. Além do mais, esta 
pesquisa expandiu o conceito do que pode ser considerado como agricultura, 
assim como muitos grupos estão engajados na manipulação de ecossistemas 
florestais através do manejo de sucessões ecológicas e um verdadeiro 
reflorestamento (Posey 1985, Anderson et ai. 1987, Alcorn 1984). Ademais, a 
agricultura nativa incorpora um grande número de cultivares cujos 
germoplasmas são essenciais para o desenvolvimento de programas de 
melhoramento genético como os de mandioca e de feijões, e também incluem 
numerosas plantas com ‘potencial para maior dispersão em ambientes mais 
inóspitos. Finalmente, tais trabalhos valorizam as descobertas científicas de 
centenas de anos no melhoramento de plantas e no trabalho agronômico das 
populações nativas. 
O estudo dos sistemas agrícolas indígenas forneceu grande parte de 
matéria-prima para o desenvolvimento de hipóteses e de sistemas alternativos 
de produção na agroecologia. A agricultura nativa é agora cada vez mais 
estudada de maneira multidisciplinar para documentar práticas assim como 
estão sendo desenvolvidas categorias de classificação para analisar os 
processos biológicos dos sistemas agrícolas e para avaliar aspectos das forças 
sociais que influenciam a agricultura. O estudo dos sistemas indígenas tem 
sido influente no desenvolvimento do pensamento agroecológico. 
 
Estudos do Desenvolvimento 
 
O estudo do desenvolvimento rural do Terceiro Mundo também contribuiu 
bastante para a evolução do pensamento agroecológico. As análises da área 
rural ajudaram a clarear a lógica das estratégias locais de produção nas 
comunidades sob intensa transformação, assim como as áreas rurais cada vez 
mais integradas na economia regional, nacional e global. Os estudos do 
desenvolvimento rural documentaram as relações entre os fatores sócio-
econômicos e a estrutura e a organização social da agricultura. Vários temas 
da pesquisa do desenvolvimento têm sido particularmente importantes 
para a agroecologia, incluindo os impactos das tecnologias induzidas 
externamente e das mudanças na forma de cultivo, os efeitos da 
expansão do mercado, as implicações das mudanças nas relações 
sociais e as transformações nas estruturas de posse da terra e do acesso 
a recursos costumeiros. Todos estes processos são profundamente 
entrelaçados. A maneira como são afetados os agroecossistemas 
regionais é um resultado de complexos processos históricos e políticos. 
As pesquisas sobre a Revolução Verde foram importantes para a evolução 
do pensamento agroecológico porque o estudo dos impactos destas 
tecnologias foi um instrumento para mostrar os tipos de preconceitos que 
predominavam nas idéias de desenvolvimento e agricultura. Esta pesquisa 
também resultou na primeira análise realmente multidisciplinar dos resultados 
ecológicos, sociais e econômicos e das mudanças técnicas da agricultura por 
um amplo espectro de analistas. A extraordinária aceleração da 
estratificação social campesina associada à Revolução Verde indicou, 
imediatamente, que esta tecnologia não era socialmente neutra, mas sim 
capaz de transformar dramaticamente as bases da vida rural de um 
grande número de pessoas. 
Como foi notificado em Perelman 1977, os maiores beneficiados com tais 
tecnologias foram os consumidores urbanos. As estratégias da Revolução 
Verde desenvolveram-se na época em que os problemas da pobreza e da fome 
eram vistos principalmente como um problema de produção. Este diagnóstico 
implicou em várias estratégias direcionadas às áreas onde os ganhos de 
produção poderiam se realizar rapidamente: solos de melhor qualidade e terras 
irrigadas entre fazendeiros com substanciais recursos. Em termos de aumento 
de produção, houve sucesso; no fundo, era parte de uma política de aposta 
consciente no mais forte. (Chambers e Ghildyal 1985, Pearse 1980.) Hoje é 
generalizadamente reconhecido que aumentos unificados na produção de 
alimentos, somente, não irão vencer a fome e a pobreza no campo, apesar de 
poder reduzir o custo de alguns alimentos urbanos (Sen 1981, Watts 1983). 
A Revolução Verde teve conseqüências nas áreas rurais que 
geralmente serviram para marginalizar grande parte da população rural. 
Primeiramente, seus benefícios foram direcionados aos produtores já 
ricos em recursos, acelerando as diferenças entre estes e outros 
habitantes rurais, de maneira que a desigualdade rural sempre 
aumentava. Em segundo lugar, foram minadas muitas formas de acesso à 
terra e a recursos, tais como um cultivo compartilhado, arrendamento do 
trabalho, acesso a suprimento de água e a pastos. Isto reduziu a 
diversidade de estratégias de subsistência viáveis às famfliasrurais e, 
conseqüentemente, aumentou sua dependência da parte agrícola. Com o 
estreitamento das bases genéticas da agricultura, aumentaram-se os riscos 
porque as culturas ficaram mais vulneráveis a epidemias de pragas ou de 
doenças e às variações climáticas. No arroz irrigado, a poluição secundária 
gerada pelo uso crescente de pesticidas e herbicídas freqüentemente minou 
uma importante fonte local de proteína: o peixe. 
As análises da Revolução Verde, de acordo com várias disciplinas, consti-
tuíram a primeira análise holística das estratégias de desenvolvimento 
agrícolas! rurais. Foram as primeiras avaliações largamente publicadas que 
incorporaram críticas ecológicas, tecnológicas e sociais. Este tipo de 
tendências e análises tem sido o protótipo de vários estudos subseqüentes na 
agroecologia e o progenitor das pesquisas de sistemas agrícolas. 
Hoje é reconhecido que as tecnologias da Revolução Verde só podem ser 
aplicadas em áreas limitadas e houve chamadas de diversos analistas do 
desenvolvimento rural para redirecionar as pesquisas aos produtores pobres 
em recursos. Em todo o mundo, existem mais de um bilhão de produtores com 
grandes limitações de recursos financeiros, de renda e de fluxo de produção, 
que trabalham num contexto agrícola de extrema marginalidade. As tendências 
agrícolas que enfatizam pacotes tecnológicos, geralmente, requçrem recursos 
aos quais a maioria dos produtores de todo o mundo não têm acesso. (Tabela 
1.1). 
 
Tabela 1.1 Contraste nas condições físicas e sócio-econômicas de 
produtores ricos em recursos vs. pobres em recursos (modificado de 
Chambers e Ghildyal 1985) 
 
 Estação 
experimental 
Produtores ricos em 
recursos (PRR) 
Produtores pobres 
em recursos (PPR) 
Topografia Plana ou terraços Plana ou terraços Ondulada ou 
declivosa 
Solos Profundos, poucos 
dificuldades 
Profundos, poucos 
dificuldades 
Superficial, infértil, 
muitas dificuldades 
Deficiência de 
nutrientes 
Rara, remediável Ocasional Bastante comum 
Prejuízos (fogo, 
desmoronament
o) 
Poucos Poucos e 
controláveis 
comuns 
Irrigação Frequente, bastante 
controlada 
Geralmente 
disponível 
Rara, não confiável 
Tamanho da 
unidade 
Grande, contígua Grande ou 
medianamente 
contígua 
Pequena, irregular, 
geralmente não 
contígua 
Doenças, 
pragas, 
invasoras 
Controlada com 
química, trabalho 
Controlada com 
química, trabalho 
Culturas vulneráveis 
à infestação 
Acesso a 
fertilizantes, 
Ilimitado, confiável Bom, confiável Ruim, não confiável 
sementes 
melhoradas, 
etc. 
Sementes Alta qualidade Alta qualidade Sementes próprias 
Crédito Ilimitado Bom acesso Acesso ruim, sujeito 
a sazonalidades 
Mão de obra Sem restrições Controlado pelo 
produtor, 
empregados 
Familiar, restrita em 
piques sazonais 
Preços Irrelevante Mais baixos p/ 
insumos, mais altos 
p/ produtos relativo 
ao PPR 
Mais altos p/ 
insumos, mais baixos 
p/ produtos relativo 
ao PPR 
Prioridade p/ 
produção de 
alimentos 
 Baixa Alta 
Muitos analistas do desenvolvimento rural reconheceram as limitações da 
“larga escala” e das tendências orientadas pela Revolução Verde para o 
desenvolvimento rural, mas estes modelos de agricultura dominaram de 
maneira preponderante os projetos de desenvolvimento agrícola em grande 
parte do Terceiro Mundo. Enquanto os resultados das pesquisas nas estações 
experimentais parecem extremamente promissores, a baixa repetibilidade 
destes resultados no campo tem causado sérias dificuldades em muitos 
projetos. A transferência de tecnologia tendeu a acelerar as diferenciações, 
exacerbando muitas situações políticas difíceis, ou as tecnologias eram 
parcialmente adotadas, ou, em muitos casos, não eram adotadas de maneira 
alguma (Scott 1978 e 1986). 
Várias explanações consideraram pobre a transferência de tecnologia, 
incluindo a idéia de que os produtores eram ignorantes e necessitavam ser 
ensinados a produzir. Outra linha de explanações responsabilizou o baixo nível 
rural, tal como a falta de crédito, pela limitação da viabilidade dos produtores 
em adotar as tecnologias. No primeiro caso, o produtor é visto basicamente 
como um equivocado. No segundo, questões infra-estruturais de vários tipos 
são consideradas as culpadas. Nunca a tecnologia, por si mesma, foi 
criticada. 
Muitos pesquisadores de campo e profissionais em desenvolvimento fica-
ram frustrados com estas explicações e colocaram, cada vez mais, que as 
tecnologias requeriam reavaliações substanciais. Eles argumentaram que a 
decisào do produtor em adotar a tecnologia é o verdadeiro teste de sua 
qualidade. Esta tendência tem sido freqüentemente chamada “o produtor em 
primeiro e último lugar” ou “do produtor ao produtor” ou “revolução agrícola 
nativa”. Como Rhodes e Booth (1982) colocaram, “A filosofia básica na qual o 
modelo está alicerçado é que a pesquisa agrícola e o desenvolvimento devem 
começar e finalizar no produtor. A pesquisa agrícola aplicada não pode 
começar no isolamento das estações experimentais ou com um comitê dc 
planejamento sem o contato com as condições de produção. Na prática, isto 
significa a obtcnção de informações e a compreensão da forma do produtor de 
perceber o problema e aceitar sua avaliação da solução”. Esta tendência 
reclama uma participação muito mais ampla do produtor no projeto e na 
implemcntação de programas de desenvolvimento rural (Chambers .1984, 
Richards, P. 1984, Gow o Van Sant 1983, Mídgley 1986). 
Uma consequência desta posição tem sido o reconhecimento do extenso 
conhecimento dos produtores em entomologia, botânica, solos e agronomia, o 
qual pode servir como ponto de partida para pesquisas. Novamente, a 
agroecologia foi identificada como uma ferramenta analítica estimável, assim 
como uma corrente de idéias a ser pesquisada. 
A agroecologia adapta-se bem às produções tecnológicas, demandando 
práticas agrícolas mais sensíveis ao meio ambiente e, geralmente, encontra 
harmonia com o desenvolvimento ambiental e participativo nas perspectivas 
filosóficas. A diversidade de pontos de interesse e de linhas de pensamento 
que influenciaram o desenvolvimento da agroecologia é realmente grande. 
Entretanto, esta série de idéias encontra-se com a agricultura. Por esta razão, 
vemos, agora, o agroecologista com uma bagagem muito mais rica do que a 
usual dos estudantes de ciências agrícolas e com uma visão multidisciplinar 
mais apropriada para lidar com as questões no campo. Apesar de ser uma 
disciplina em sua infância e ter levantado mais questões que soluções, a 
agroecologia ampliou o discurso da agricultura.

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