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DIREITO CIVIL I (módulo 02) 1. A PESSOA NATURAL Todo ser humano nascido com vida é tratado como pessoa. a. Todo ser humano é pessoa pelo simples fato de existir (art. 1° CC) Art. 1° CC. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. b. Todos tem a mesma personalidade, pois todos tem a mesma aptidão para ser titular de relações jurídicas (art. 5° CF). Art. 5° CC. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...). (princípio da isonomia) c. A condição humana é irrenunciável. Vale salientar, que as expressões pessoa física e pessoa natural são sinônimas, apenas com a ressalva que esta (pessoa natural) foi a locução adotada pelo Código Civil, enquanto que aquela (pessoa física) foi adotada pelas legislações tributárias. 1.1. Pessoas reconhecidas pela ordem jurídica: naturais e jurídicas. O conceito de que personalidade civil ou personalidade jurídica é a capacidade que as pessoas têm de serem titulares de direitos e obrigações. Personalidade não é um atributo natural, isto é, não está necessariamente vinculado ao ser humano. Se assim fosse, a pessoa jurídica não teria personalidade (item 3). Por isso se diz que a personalidade é um atributo jurídico. 1.2. A personalidade jurídica: modos de aquisição. Há duas teorias que buscam estabelecer qual o momento em que se inicia a personalidade jurídica: a concepcionista e a natalista. 1.2.1. Para a teoria concepcionista, a personalidade jurídica se iniciaria no momento da concepção, ou seja, quando o espermatozoide se funde ao óvulo (há quem defenda que a aquisição da personalidade ocorra algum tempo depois, contudo). Concepção Personalidade jurídica definitiva. 1.2.2. Para a teoria natalista, a personalidade começa com o nascimento com vida. A maior parte dos civilistas entende ser essa a teoria adotada pelo Código Civil. Assim, o início da personalidade civil ocorre a partir do momento em que a pessoa nasce com vida, encerrando-se na sua morte (art. 2º CC). Art. 2° CC. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Concepção Nascimento com vida Nascituro Personalidade jurídica 1.2.3. Para a teoria condicional, a personalidade jurídica encontra-se sob condição suspensiva, até a ocorrência do nascimento com vida. Concepção Nascimento com vida (condição) Personalidade jurídica Confirmação da personalidade. 1.3. Natureza jurídica do nascituro. O já mencionado art. 2º CC, em sua parte final, salienta que a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro - aquele já concebido, cujo nascimento já se espera como fato futuro. O objetivo do Código Civil é, apenas, resguardar preventivamente os eventuais direitos que possam ser adquiridos, caso o nascituro nasça com vida. Entretanto, se não ocorrer o nascimento com vida, torna-se inoperante a ressalva contida no Código Civil. Portanto, o nascituro não é pessoa natural, tem apenas uma proteção jurídica. (expectativa de direito) 1.3.1. Teorias sobre a natureza jurídica do embrião. Embrião é o feto até nove semanas de gestação O ordenamento jurídico brasileiro não trata da questão envolvendo o embrião excedentário, isto é, aquele não implantado no útero materno, proveniente de fertilização em laboratório. Não há consenso na doutrina nacional e internacional no que tange à natureza jurídica do embrião humano excedentário. A Lei de Biossegurança traça parâmetros de viabilidade do embrião excedentários. De acordo com esses parâmetros, o embrião excedentário inviável nunca será capaz de gerar vida, portanto, desprovido dessa potencialidade, obtém o status de coisa, objeto, podendo ser utilizado nas pesquisas com células- tronco embrionárias. A seu turno, o embrião excedentário viável é um ser que, a princípio, por si só, não tem expectativa de vida, e, portanto, de direito, tendo somente potencialidade de vida, já que somente após sua implantação no meio adequado, qual seja, o útero materno passa ao status de nascituro sendo tutelado pelo direito pátrio. 1.4. A extinção da personalidade jurídica da pessoa natural (art. 6° a 8° CC). Não se admite no ordenamento jurídico a hipótese de morte civil ou qualquer outro modo de perda de personalidade jurídica sem a perda da vida. Art. 6° CC. A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva (vide art. 22 CC). Art. 7° CC. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. Art. 22 CC. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. Art. 26 CC. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. Art. 37 CC. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas. Art. 8° CC. Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. (comoriência) 1.2.3. Efeitos da morte: ∆ Transmissão da herança; ∆ Extinção da personalidade; ∆ Término das relações de parentesco; ∆ Dissolução do vínculo matrimonial ou da união estável. 1.2.4. Docimasia pulmonar hidrostática de Galeno Trata-se de medida pericial, de caráter médico-legal, para verificar se uma criança nasceu viva ou morta e, portanto, se chega a respirar. Após a respiração o feto tem os pulmões cheios de ar e quando colocados numa vasilhame com água, flutuam; não acontecendo o mesmo com os pulmões que não respiram. Se afundarem, é porque não houve respiração; se não afundarem é porque houve respiração e, consequentemente, vida. Só com o nascimento com vida que surge a personalidade jurídica, assim, se a criança nasceu com vida adquiriu direitos, como por exemplo, a herança. 2. CAPACIDADE CIVIL 2.1. Conceito e distinções. A capacidade jurídica é uma medida limitadora ou delineadora da possibilidade de adquirir direitos e de contrair obrigações. Capacidade significa a aptidão que a pessoa tem de adquirir e exercer direitos. A capacidade é a regra, ou seja, pelo Código Civil toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil; a incapacidade é a exceção, ou seja, são incapazes aqueles discriminados pela legislação (menores de 16 anos, deficientes mentais, etc.). 2.2. Capacidade de direito ou gozo e capacidade de fato ou de exercício da pessoa física. A capacidade divide-se em dois tipos: a) capacidade de direito ou de gozo: em que a pessoa adquire direitos, podendo ou não exercê-los. É a própria aptidão genérica reconhecida universalmente, para alguém ser titular de direitos e obrigações. Toda pessoa natural a tem, pela simples condição de pessoa. Deflui do próprionascimento com vida. b) capacidade de fato ou de exercício: em que a pessoa exerce seu próprio direito. É a aptidão para praticar pessoalmente os atos da vida civil, ou seja, é a possibilidade de praticar atos com efeito jurídico, adquirindo, modificando ou extinguindo relações jurídicas. A capacidade de fato ou de exercício admite gradações: b.1) capacidade plena; b.2) incapacidade relativa e b.3) incapacidade absoluta. AlexandreBlanco Realce Discernimento pleno � Capacidade plena. Discernimento reduzido � Incapacidade relativa. Discernimento ausente � Incapacidade absoluta. Com isso, podemos concluir que todas as pessoas possuem capacidade de direito ou de gozo, mas nem todas possuem a capacidade de fato ou de exercício do direito. Por exemplo: os interditados (item 2.4.), as pessoas jurídicas (item 3), etc. 2.3. Hipóteses legais incapacidade civil: absoluta (art. 3° CC) e relativa (art. 4° CC). Art. 3° CC. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de dezesseis anos. Art. 4° CC. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de exercê-los: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Depois de fixados os conceitos sobre capacidade absoluta e relativa, vamos apresentar as seguintes distinções: 2.3.1. A incapacidade absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, do direito, portanto gera nulidade do ato jurídico (art. 166, I CC) praticado pelo absolutamente incapaz. A incapacidade absoluta é suprida pela representação, em que o incapaz não participa do ato, que é praticado somente por seu representante legal (item 2.4). Art. 166 CC. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; 2.3.2. A incapacidade relativa permite que o relativamente incapaz pratique atos da vida civil desde que assistido por seu representante legal, A incapacidade relativa gera a anulabilidade do ato jurídico (art. 171, I CC), que pode, entretanto, ser convalidado (art. 172 CC). Art. 171 CC. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; Art. 172 CC. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro. ∆ ATO NULO – é inválido e não surte efeito. ex tunc (retroage até o nascimento do ato) ∆ ATO ANULÁVEL – o ato é válido surte efeito até a sua anulação. ex nunc (não retroage, é da sentença em diante) AlexandreBlanco Realce AlexandreBlanco Realce OBSERVAÇÕES obs 1: O falido não é incapaz, apenas lhe são impostas restrições à atividade mercantil. obs 2: A condenação criminal não implica na capacidade civil. Como pena acessória, o condenado pode sofrer a perda de função pública ou do direito à investidura em função pública; a perda do pátrio poder, da tutela ou da curatela. obs 3: O pródigo pode praticar, validamente e por si só, os atos da vida civil que não envolvam o seu patrimônio e não se enquadrem nas restrições mencionadas. Pode, assim, casar, dar autorização para casamento dos filhos menores, etc. obs 4: A capacidade dos índios é regulada, em nosso país, pela Lei 6.001/1973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio, proclamando que ficarão sujeitos à tutela da União, até se adaptarem à civilização. a) índio integrado: é regulamentado pelo CC. É aquele que estuda, assiste TV, tem acesso à internet, como qualquer pessoa. b) índio não integrado: é tratado como incapaz, mas sua incapacidade é especial e possui regras distintas das presentes no CC. Deve ser assistido nos atos da vida civil, sob pena de nulidade absoluta. 2.4. Interdição A interdição é um ato judicial que declara a incapacidade real e efetiva de determinada pessoa maior, para a prática de certos atos da vida civil, na regência de si mesma e de seus bens. Logo, a interdição é a privação legal que determinada pessoa sofre no que diz respeito ao gozo e exercício de seus direitos, estando impossibilitada de gerir, por si só, sua vida e seus negócios e responder pelos atos que pratica em razão de suas limitações, ficando dependente dos cuidados de pessoa legalmente habilitada e encarregada destes atos (gerir e responder) por meio de nomeação em processo judicial. Vale ressaltar que o art. 1.072 NCPC revogou expressamente os artigos 1.768 a 1.773 CC, que tratavam da interdição, passando a regular o tema nos arts. 747 a 757 NCPC Art. 1.072 NCPC. Revogam-se: II - os arts. 227, caput; 229; 230; 456; 1.482; 1.483 e 1.768 a 1.773 CC; Art. 747 NCPC. A interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II - pelos parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando; IV - pelo Ministério Público. Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial. 2.5. Emancipação Emancipação é a antecipação da capacidade civil a um menor de idade, logo não existe emancipação de maior. Com a emancipação o menor pode praticar todos os atos da vida civil. Em regra os efeitos da emancipação estão restritos ao direito civil, logo o menor emancipado não tem responsabilidade criminal e não pode tirar carteira de habilitação. Há três espécies de emancipação 2.5.1. Emancipação por ato voluntário dos pais (art. 5°, inciso I, primeira parte CC): Os pais ou de um deles na falta do outro, de um menor de 18 anos, completado dezesseis anos, que decidem pela emancipação do menor. Os pais que tem esse controle de emancipar seu filho. A emancipação tem que ser concedida por ambos. Se os pais discordarem, nesta hipótese a emancipação não é feita. Se o pai que quer emancipar insistir na emancipação ele tem que entrar com uma ação judicial contra o outro, para que o juiz analise o caso concreto e decida. Só pode a autorização de um deles na falta do outro (morte). O filho tem que concordar com a emancipação. Se o filho se opuser a emancipação também não se realiza. A emancipação é irrevogável (os pais não podem voltar atrás), irretratável. A emancipação o torna capaz no direito civil, porém não há mudança no para o direito penal. Art. 5° CC A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; Forma: feita através de instrumento publico, ela é uma escritura publica é feita por um tabelião de notas. Depois é levada ao registro de pessoas naturais e assim é averbada na certidão, RG com a nota da emancipação. Essa espécie de emancipação independe de homologação judicial. Efeito: Visa beneficiar o menor. A emancipação não gera direito para os menores de 18 anos. Ex. impossibilidade de portar CNH. O pai que emancipa o filho para não pagar pensão, age de maneira ineficaz, pois a emancipação é feita em pro do menor e o pai continua tendo a obrigação de pagar pensão. 2.5.2. Emancipação Judicial (art. 5°, inciso I, segunda parte CC): Há necessidade de processo judicial. Ocorre quando o menor não tem pais, portanto é auxiliado por um tutor. O tutor pode pedir emancipação, porém não por ato voluntário. Na emancipação por ato voluntario dos pais, não é preciso homologação judicial, mas quando se tem um tutor, é. Por quê? Na emancipação caso parte do pressuposto de afetividade entre os pais e o filho, de maneira que os pais autorizem a emancipação conscientemente,para o bem do filho. No segundo caso, pode não haver afetividade entre o tutor e o menor e dessa forma, o tutor pode querer se livrar da responsabilidade. Sendo a emancipação somente feita se for a favor do menor, é necessária a decisão do juiz nos casos de emancipação judicial. Art. 5° CC. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; 2.5.3. Emancipação legal (art. 5 CC, incisos II a V CC): decorre do fato descrito pela lei e é considerada automática, pois basta que o fato, descrito nos incisos, tenha ocorrido. Art. 5° CC. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. ∆ Casamento: pessoas com 18 anos não têm necessidade de autorização dos pais, mesmo assim é possível que menores a partir de 16 anos possam casar, desde que haja autorização paterna. A autorização para casar permite o casamento e após o casamento tem a emancipação automática. A nulidade absoluta do casamento, como no caso do casamento bígamo, deixa a emancipação inválida. ∆ Exercício de emprego público efetivo: embora dificilmente a lei admita o provimento efetivo em cargo ou emprego público antes dos 18 anos. ∆ Colação de grau em curso de ensino superior: Situação também de difícil ocorrência, para os menores de 18 anos. ∆ Estabelecimento civil ou comercial ou existência de relação de emprego, desde que, em função deles (estabelecimento ou emprego), o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Ainda que venha a ser dispensado ou peça demissão, o menor não retorna à situação de incapacidade, em respeito ao princípio da segurança jurídica. EMANCIPAÇÃO (espécies) VOLUNTÁRIA Estabelecer por conta própria Colação de grau superior Concedida pelos pais Matrimônio Emprego público efetivo JUDICIAL LEGAL Concedida por sentença e ouvido o tutor Prevista em lei 2.4. Suprimento e cessação da incapacidade civil. 2.4.1. Tutela A tutela é um instituto suplementar ao poder familiar, por impossibilidade de exercício do poder familiar ou ausência, por suspensão ou destituição, ou, ainda, por abandono ou exposição social do filho (art. 1.728 CC). Art. 1.728 CC. Os filhos menores são postos em tutela: I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes; II - em caso de os pais decaírem do poder familiar. ∆ A tutela tem três finalidades: a) cuidado com a pessoa do menor; b) administração dos bens do menor; e c) representação para atos e negócios da vida civil. ∆ A tutela tem como características principais: i) gratuidade (reembolsos); ii) obrigatoriedade; iii) indivisibilidade; e iv) pessoalidade (intuito personae) ∆ A tutela tem três modalidades: 1) tutela testamentária (art. 1.729 CC); 2) tutela legítima (art. 1.731 CC); e 3) tutela dativa (art. 1.732 CC). Art. 1.729 CC. O direito de nomear tutor compete aos pais, em conjunto. Parágrafo único. A nomeação deve constar de testamento ou de qualquer outro documento autêntico. Art. 1.730 CC. É nula a nomeação de tutor pelo pai ou pela mãe que, ao tempo de sua morte, não tinha o poder familiar. Art. 1.731 CC. Em falta de tutor nomeado pelos pais incumbe a tutela aos parentes consanguíneos do menor, por esta ordem: I - aos ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais remoto; II - aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços; em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela em benefício do menor. Art. 1.732 CC. O juiz nomeará tutor idôneo e residente no domicílio do menor: I - na falta de tutor testamentário ou legítimo; II - quando estes forem excluídos ou escusados da tutela; III - quando removidos por não idôneos o tutor legítimo e o testamentário. 2.4.2. Curatela Inicialmente relembremos que o NCPC revogou parte do CC (arts. 1.768 a 1.773), no que trata da interdição e curatela. AlexandreBlanco Nota Magistrado (JUIZ) AlexandreBlanco Nota Parentes consanguíneos. AlexandreBlanco Nota Por testamento dos pais, em caso de falecimento de ambos. A curatela é um instituto cuja finalidade é cuidar dos interesses das pessoas arroladas no art. 1767 CC, em que o magistrado nomeia uma pessoa, denominada curador, com a finalidade de administrar os interesses de outrem que se encontra incapaz de fazê-lo. Art. 1.767 CC. Estão sujeitos a curatela: I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; V - os pródigos. Art. 755 NCPC. Na sentença que decretar a interdição, o juiz: I - nomeará curador, que poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da curatela, segundo o estado e o desenvolvimento mental do interdito; II - considerará as características pessoais do interdito, observando suas potencialidades, habilidades, vontades e preferências. § 1° A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado. § 2° Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a responsabilidade do interdito, o juiz atribuirá a curatela a quem melhor puder atender aos interesses do interdito e do incapaz. Art. 757 NCPC. A autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens do incapaz que se encontrar sob a guarda e a responsabilidade do curatelado ao tempo da interdição, salvo se o juiz considerar outra solução como mais conveniente aos interesses do incapaz. Art. 758 NCPC. O curador deverá buscar tratamento e apoio apropriados à conquista da autonomia pelo interdito. ∆ Temos uma situação especial que é a curatela do nascituro (art. 1.779 CC), que vimos é um ser humano concebido, mas ainda não nascido. Art. 1.779 CC. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar. Parágrafo único. Se a mulher estiver interdita, seu curador será o do nascituro. 2.5. Capacidade negocial e Capacidade especial Além das capacidades de direito e capacidade de fato há ainda: ∆ A capacidade negocial é aquela exigida como plus, além da genérica, para a realização de atos jurídicos específicos. Exemplo: exige-se que o outorgante da procuração particular a advogado, seja alfabetizado. ∆ A capacidade especial é a exigida para a realização de determinados atos, normalmente fora da esfera do Direito Privado. Exemplo: para votar exige- se que a pessoa tenha 16 anos completos 2.6.1. Assistência A assistência é instituto ligado ao relativamente incapaz. a) os pais ou tutor: assistem os maiores de 16 e menores de 18 anos. b) o curador: assiste aos pródigos e os que possuem o discernimento reduzido, se maiores de 18 anos. 2.6.2. Representação A representação é instituto ligado ao absolutamenteincapaz. a) pais: no caso dos menores de 16 anos. Nesse caso dá-se automaticamente, o representante não necessita de qualquer ato de investidura ou designação. b) tutor: no caso dos menores de 16 anos, se os pais não forem vivos ou forem ou tornarem-se incapazes, ou perderem o poder familiar (poder parental). É nomeado pelo juiz ou pelos próprios pais. Pode ser parente ou qualquer pessoa que goze da confiança do juiz ou dos pais. Não se dá de forma automática, ocorrendo por designação judiciária, de um ato judicial, e só em função dele é que se legitima a representação. c) curador: no caso em que o incapaz possui uma enfermidade ou deficiência mental e for maior de 18 anos. 2.7. A incapacidade e o impedimento. A incapacidade não se confunde com o impedimento. No impedimento ocorre a vedação à realização de certos negócios jurídicos, como por exemplo, fazer contratos, adquirir bens etc. Ex. a lei veda que o leiloeiro e seus prepostos adquiram, ainda que em hasta pública, os bens cuja venda estejam encarregados. Caso Concreto 01: Maria deu à luz a João em 10 de maio de 2013. No entanto, uma fatalidade aconteceu. Emocionado o pai da criança (José) acaba enfartando e morrendo em 11 de maio de 2013. No momento do parto, houve dúvida se a criança nasceu com vida ou morta. Explique em no máximo cinco linhas porque é fundamental determinar se esta criança nasceu com vida ou não e como esta prova poderia ser produzida. É necessária a prova da vida da criança para: a) determinar se adquiriu personalidade material ou não; b) determinar se será considerada herdeira do pai ou não; c) determinar se deve ser realizada a certidão de natimorto (se nasceu morta) ou certidão de nascimento e de óbito (se nasceu viva e morreu em seguida). A prova poderá ser produzida utilizando-se o exame denominado Docimasia hidrostática de Galeno. Questão objetiva 01: Assinale com (V) Verdadeiro e F (Falso): (V) O termo personalidade corresponde à aptidão genérica da pessoa natural para adquirir direitos e contrair obrigações. (F) O nascituro tem capacidade para exercer direitos, devendo ser representado por sua mãe até o momento do nascimento. (F) A pessoa jurídica não tem personalidade uma vez que esta é uma exclusividade das pessoas naturais. (V) A concepção determina o início da existência do ser humano, mas não a sua personalidade à luz do ordenamento brasileiro. (F) A lei brasileira permite a declaração de morte apenas das pessoas em que haja um corpo a ser examinado. Questão objetiva 02: Quanto à personalidade da pessoa natural, assinale a alternativa correta: a) Conforme o Código Civil o nascituro não possui personalidade. No entanto, a doutrina e a jurisprudência vêm admitindo a possibilidade de lhe conferir personalidade material. b) Toda pessoa nascida com vida tem personalidade e capacidade de direito (ou de gozo). c) A capacidade de direito é limitada pelas regras de incapacidade. Assim, por exemplo, o maior de 16 e maior de 18 anos não possui personalidade. d) O Código Civil ao afirmar que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil está afirmando que toda pessoa é dotada de capacidade de exercício (ou de fato). e) A personalidade é a aptidão específica para ser titular de direitos e de deveres na ordem civil. É o pressuposto para a inserção da pessoa na ordem jurídica. Caso Concreto 02: As irmãs Rosa, Violeta e Margarida, respectivamente, com 18, 16 e 14 anos de idade, moram na encantadora cidade de Aracaju, capital do estado de Sergipe e estudam bem pertinho de casa, no Colegio Estadual Prof Hamilton Alves Rocha, que fica na Av. Marginal Alves Rocha, no Centro. Vendo aproximar-se o mês de maio e pretendendo recursos para o presente de sua mãe, dona Dália, aceitam a sugestão da irmã mais velha e todas vendem para a Oficina do Alciclei sua bicicletas. Como podem ser classificados os negócios jurídicos por cada uma das irmãs, tendo por base a capacidade jurídica de cada uma delas? Justifique. As três irmãs têm capacidade de direito conforme art. 1º CC; mas somente Rosa possui a capacidade de fato ou de exercício do direito, por ser maior de 18 anos. A menor de 16 por ser relativamente capaz e necessitam de um tutor, sendo o ato anulável. E a de 14 por se absolutamente incapaz tem o ato considerado nulo. Rosa tem capacidade negocial. As outras irmãs capacidade especial. Caso Concreto 03: José e Maria, durante sua relação, afetiva tiveram um filho, Davi, hoje com seis anos de idade. Com o recente fim do relacionamento, Maria procura um advogado para que este ajuíze ação de alimentos em face de José com o escopo de obter pensão alimentícia somente para seu filho David, já que ela possui meios próprios de subsistência. O advogado, então, inicia sua petição da seguinte forma: “Davi da Silva, relativamente incapaz, assistido por sua mãe Maria da Silva, domiciliado na Rua da Paz, s/n°, vem, por seu advogado ao final subscrito, propor a presente ação de alimentos em face de José da Silva, domiciliado na Rua da Paz, s/n° pelos fatos e fundamentos que a seguir expõe (...)”. Após a distribuição (ato de dar entrada) da referida petição inicial, para começar o processo judicial, determina o juiz da vara de família que seja emendada (corrigida) essa petição inicial. Responda às questões seguintes, justificando-as. a) Davi da Silva é incapaz? Em caso positivo, qual a espécie de incapacidade o atinge? Sim, incapacidade absoluta. b) O juiz determinou que a petição inicial do advogado fosse emendada, ou seja, corrigida. Que erro cometeu o advogado? Faça a correção necessária. “Davi da Silva, absolutamente incapaz, representado por sua mãe Maria da Silva, domiciliado na Rua da Paz, s/n°, vem, por seu advogado ao final subscrito, propor a presente ação de alimentos em face de José da Silva, domiciliado na Rua da Paz, s/n° pelos fatos e fundamentos que a seguir expõe (...)” c) O instituto da incapacidade tem por finalidade punir o incapaz por sua falta de discernimento e pelos prejuízos que pode causar à sociedade em razão dela? Em caso negativo, qual seria então o escopo do instituto? Não. Característica da incapacidade visa proteger ao próprio incapaz. Ao contrário tem o intuito de protegê-lo da sociedade pusilame, ameaçadora, inclusive dos pais do menor. Questão objetiva 03: Analise as duas afirmações e marque a opção correta. I- Ao nascer com vida, adquire-se capacidade de fato PORQUE II- A capacidade de direito somente se adquire com a ocorrência das hipóteses do art. 5º CC, ou seja, quando se pode exercer plenamente o direito. a) se as duas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. b) se as duas são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira. c) se a primeira é falsa e a segunda é verdadeira. d) se a primeira é verdadeira e a segunda é falsa e) se as duas são falsas. Caso Concreto 04: Jovenal, prestador de serviços em Curitiba, após troca de e-mails com informações sobre o serviço (via Internet) com Maria (residente em Colombo, região metropolitana de Curitiba) apresenta-lhe on-line (também via Internet/Messenger) proposta para realizar pintura de sua residência, indicando o preço que cobraria pela empreitada e o material necessário. Responda as questões abaixo: a) Pode-se afirmar que houve negociação preliminar? Se afirmativa a resposta, de que forma? Sim, houve negociação preliminar. A forma usada foi a virtual, através de e-mails. b) A proposta feita on-line por Jovenal vincula? Justifique sua resposta e destaque, em caso afirmativo, o que significaria a obrigatoriedade da oferta. Sim, a proposta feita on-line vincula, com base no art. 428 CC, pois trata-se de uma proposta entre presentes.c) Qual o prazo de validade da oferta feita por Jovenal? Não há prazo. Se não houve proposta imediatamente após a proposta, acabou o vínculo e está liberado da proposta. d) Em que momento poderia ser considerada aceita a proposta e formado finalmente o contrato? No momento da aceitação. e) Identifique o lugar da celebração do contrato. No local onde foi feito a proposta. Art. 435 CC. Questão objetiva 04: (TJSC - Juiz Substituto - 2010) Assinale a alternativa correta: I. A liberdade de contratar é exercida em razão e nos limites da função social do contrato. No sistema do Código Civil, quando há no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, nem sempre adota-se a interpretação mais favorável ao aderente. Contudo, nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. II. É nulo o negócio jurídico quando: celebrado por pessoa absolutamente incapaz; for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; tiver por objetivo fraudar lei imperativa; derivar de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso de tempo. III É lícito aos interessados prevenir ou terminar o litígio mediante concessões mútuas. A transação, se recair sobre direitos contestados em juízo, será feita por escritura pública ou por temo nos autos, assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz. IV O texto do Código Civil contempla, sempre que necessário, cláusulas gerais. As cláusulas gerai conferem ao sistema jurídico flexibilidade e capacidade de adaptação à evolução do pensamento e do comportamento social e importam em avançada técnica legislativa de enunciar, através de expressões semânticas relativamente vagas, princípios e máximas que compreendem e recepcionam a mais variada sorte de hipóteses concretas de condutas tipificáveis, já ocorrentes no presente ou ainda por realizarem no futuro. a) Somente as proposições I e II estão incorretas. b) Somente as proposições III e IV estão incorretas. c) Somente as proposições I e III estão incorretas. d) Somente as proposições I , II e IV estão incorretas. e) Todas as proposições estão incorretas. Questão objetiva 05: (MPE-PR - 2009 - adaptada) Sobre a formação e interpretação dos contratos, podemos afirmar: a) A função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva não constituem limitadores da liberdade de contratar, quando presentes na relação jurídica, como partes, pessoas capazes agindo no exercício de sua atividade profissional. b) Pode-se revogar a oferta ao público, pela mesma via da sua divulgação, desde que ressalvada essa faculdade no instrumento que contemple a oferta realizada. c) Somente quando evidenciada uma relação de consumo, é possível sustentar o princípio da interpretação mais favorável ao aderente, em sede de contrato de adesão. d) No caso de contrato de adesão firmando tendo como partes duas pessoas capazes, agindo no exercício de sua atividade profissional, é válida a cláusula de renúncia antecipada do aderente, mesmo quando se trate de direito resultante da natureza do negócio. Caso concreto 05: Famosa atriz vai a uma praia badalada na localidade de Búzios, no fim de semana e resolve retirar a parte de cima do biquíni, fazendo topless. No local encontrava-se um fotógrafo da revista Famosos que tirou uma foto daquela, publicando- a na referida revista semanal. Ingressa a atriz com um pedido de indenização por dano moral, argumentando ter havido dano à sua imagem com lesão ao direito da personalidade. Responda as seguintes questões: a) Qual o conceito de direito da personalidade? b) Quando os direitos da personalidade colidem com direitos patrimoniais qual a solução jurídica para o conflito? c) Para serem reconhecidos pelo ordenamento necessitam de expressa previsão legal? d) Poderíamos afirmar que na hipótese do caso concreto houve violação do direito da personalidade em razão da divulgação da foto da atriz na revista? Em caso de positivo, qual teria sido? e) A proteção ao direito à privacidade é compatível com a prática pelo titular da imagem de indevida exposição pública? TEXTO BASE: Vinicius Sampaio se submeteu à cirurgia para mudança de sexo, como forma eficaz de tratamento da síndrome transexual, adequando seu sexo biológico ao psicológico. Após a realização da cirurgia formula pedido de retificação de assentamento no Registro Civil, pretendendo a alteração de seu prenome para Valéria da Silva e da referência ao sexo para a forma "feminino". Pergunta-se: Questão objetiva 06: Os nomes da pessoa humana e da pessoa jurídica gozam de proteção legal? a) O Direito brasileiro não previu a proteção ao nome. b) Gozam de proteção legal, estando a mesma prevista em lei. c) Apenas o nome da pessoa humana goza de proteção legal. d) Apenas o nome da pessoa jurídica goza de proteção legal. Questão objetiva 07: No Direito brasileiro há previsão legal para a troca do nome? a) Apenas para a hipótese de nome que exponha ao ridículo. b) Somente para a hipótese de erro de grafia. c) Exclusivamente em razão da vontade do titular até um ano depois em que completar a maioridade. d) Para diversas hipóteses previstas na Lei 6.015/73. Questão objetiva 08: Poderá ser realizada a troca do nome e do sexo junto ao Registro Civil no caso relatado? a) A jurisprudência é controvertida nesta hipótese. Alguns entendem ser possível com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana, e outros não acham possível em razão da ausência de previsão legal. b) A posição da jurisprudência é unânime no sentido de denegar o pedido. c) A posição da jurisprudência é unânime no sentido de autorizar o pedido. d) A alteração só poderá ser realizada se o pedido for feito pelo médico que realizou a cirurgia. Caso concreto 06. Quando voltava de sua escola, Pedro,com quatorze anos de idade, foi abordado por um rapaz que lhe oferecia a oportunidade de fazer um curso gratuito de inglês, apenas pagando o material didático. Pedro assinou o contrato e, quinze dias depois, chegou em sua casa o primeiro boleto para pagamento deste material. Na qualidade de advogado dos pais de Pedro, qual sua orientação? Fundamente. Caso concreto 07. Ana, com 16 anos de idade, aproveitou que seus pais estavam fora da cidade e, juntamente com duas amigas, comprou passagens de ida e volta de ônibus para Argentina. Quando os pais de Ana retornaram, contrataram advogado que ajuizou ação para reaver os valores que a Ana gastou com a passagem. Na qualidade de juiz, como você decidiria o caso? Fundamente SIMÃO, José Fernando, Responsabilidade civil do incapaz, São Paulo, Atlas, p. 9-48. Efeitos da representação O representado assumirá integral e exclusivamente os ônus e obrigações advindas do negócio. Pouco importa quem constituamos como nossos delegados, se queremos comprar uma casa, e constituímos Chicó ou João Grilo como nossos procuradores. Suponham uma negociação de Direito Civil 24/03/09 http://notasdeaula.org/dir3/direito_civil2_24-03-09.html 1 de 6 23/12/2010 12:48 compra e venda: o comprador não paga; pode o sujeito que vendeu pode entrar contra Chicó ou João Grilo, que são seus procuradores? Negativo, pois o negócio foi feito por representação, o que significa que o representado assume todos os riscos e ônus produzidos pela relação. A palavra-chave para evitar confusão é que o representante só poderá agir dentro de seus poderesconferidos no dispositivo. Outra situação: Seu Vicentão passa uma procuração para Eurico, expressa e clara, para alugar sua casa. Eurico, o representante de Seu Vicentão, se engana e vende o imóvel. Vicentão é obrigado a honrar esse compromisso? Não, pois o compromisso, expresso, só delegava a Eurico, o delegado, poderes para alugar, não para vender. Daí a importância de se elaborar documentos claros de procuração. É bom que percamos um tempo extra para detalhar, ao máximo possível, quais são os poderes dados ao representante. No negócio de compra e venda acima, se a procuração não fosse clara a expressa, no sentido de prever os poderes de Eurico em relação a Seu Vicentão, este estaria obrigado a honrar o compromisso pois o comprador estaria, a princípio, agindo de boa-fé. Vimos também algumas questões práticas sobre a representação e a dor de cabeça de quem não tem cuidado em relação a quem passar uma procuração, ou mesmo se esquecer que um dia o fez. Seguindo, também vimos que há a possibilidade de haver a delegação de poderes. Ela, a rigor, é permitida na representação voluntária apenas. Chamamos isso de substabelecimento de procuração. Isso fica muito patente quando analisamos os contratos de gaveta. São comuns em negócios de financiamento habitacional. Representação em causa própria É possível a representação em causa própria? Sim. Em que condições? Se houver poderes expressos em procuração. Vimos isso tanto na parte de representação quanto no art. 685 do Código Civil. Apesar de curioso e peculiar, não é ilícito nem impossível juridicamente que tenhamos uma pessoa agindo como representante de uma parte e figurar, ao mesmo tempo, como a parte interessada num negócio realizado pelo seu próprio representado, como um contrato de compra e venda. Como um artista que não tem habilidade para manusear dinheiro e fazer negócios que constitui um representante para vender suas obras. E se o próprio representante se interessar pelas obras? Ele aparecerá, no contrato de compra e venda, como vendedor (assinando em nome de seu representado) e como comprador (assinando em seu próprio nome). Se houver conflito e o negociante fizer negócio consigo mesmo, o negócio pode ser discutido e sua anulabilidade pode ser buscada e, numa eventualidade de êxito, esse negócio seria desfeito. Agora veja: havendo conflito de interesses entre representante e representado, o negócio será necessariamente anulado? Não. ¹ O que tem que ser olhado? A boa-fé do agente com o qual se está contratando. Art. 119: Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo. Direito Civil 24/03/09 http://notasdeaula.org/dir3/direito_civil2_24-03-09.html 2 de 6 23/12/2010 12:48 O prazo para a anulação dos negócios está no parágrafo único: 180 dias a contar da conclusão do negócio. Depois veremos como se conta esse prazo decadencial, que não pode ser interrompido. Observação: a procuração vem antes do substabelecimento. Este é uma circunstância acessória. Modalidades de negócios jurídicos, elementos acessórios ou elementos acidentais Agora vamos à última matéria de nossa primeira prova. Quando falamos em negócios jurídicos, estávamos falando nos negócios puros e simples. São os que devem respeitar puramente o plano de sua existência e o de sua validade. O que eles requerem mesmo? Vontade livre, espontânea, declarada de boa-fé, agente capaz, objeto e forma (essa última se for o caso). O negócio que é eficaz apenas com esses requisitos é chamado negócio puro e simples. Entretanto, o ser humano é criativo, e não se contenta com pouco. Logo, cedo ou tarde, pode haver um desejo, uma inquietação de vontade das partes de tal forma que elas possam criar circunstâncias diferenciadas. Elas colocam, portanto, uma condição, um termo ou um encargo. Quando formos advogados, alguém poderá chegar em nosso escritório e dizer: “doutor(a)”, meu pai tem 58 anos, tem um patrimônio de R$ 4 milhões, somos 3 filhas e o que aconteceu foi que ele se apaixonou pela secretária do dentista. A jovem tem apenas 19 anos, posou na Playboy, e agora ele está encantado, quer se casar com ela, e estamos com medo! Ela não concorda com a separação de bens. Ele, por outro lado, acha que vai ser uma prova de amor casar pela comunhão parcial de bens. Doutor, é possível criar alguns elementos para esse negócio jurídico chamado casamento? Podemos, por exemplo, estipular que se ela o trair, ela não terá direito a nada da meação? Como faremos isso por escrito? Onde fica registrado o pacto antenupcial?” O pacto antenupcial é um negócio jurídico que existirá se houver vontade nupcial; será um negócio válido do ponto de vista fático, já que ambos são maiores, sem impedimentos de ordem mental, portanto não pode haver incapazes na jogada; o objeto é lícito, possível e determinado. Tem uma forma que é exigida em lei? Sim, ele tem que ser feito em cartório, a portas abertas, com a presença de testemunhas. “É possível, então, que de alguma maneira coloquemos isso?“ – perguntam as apreensivas filhas. Sim. “Mais que isso:” – continuam – “poderíamos, se meu pai assim desejar, colocar uma condição para ela que, quando eles casarem, ela terá de fazer prestação sexual a ele três vezes por semana?” Sim, também é um objeto lícito, possível e determinado. Então, notando a complicada situação da família, o advogado ainda propõe um artifício para a segurança: estabelecer que o pai deverá depositar, ao final de cada ano, R$ 100 mil na conta da esposa desde que ela não o tenha traído naquele ano. Isso aí vem da criatividade do ser humano? Quantos e quantos casamentos não têm nada e condição e encargo? A condição aqui foi a ocorrência de traição, que é um evento futuro e incerto, e o encargo, que envolve uma obrigação, é de pagar R$ 100 mil anuais. Algo que gostaríamos de frisar: apesar de acessório e “supérfluo”, que não precisaria estar presente para que o negócio existisse ou fosse válido, uma vez estipulado pelas partes o elemento acidental tem observância obrigatória. Esse pacto antenupcial não vincula o casamento; o casamento não precisa do pacto antenupcial para existir; mas, uma vez expressadas as vontades das partes, elas passam a ser obrigatórias. Portanto, cuidado: por mais que seja uma circunstância acessória, ela será obrigatória. Quais são as modalidades de negócio jurídico? Direito Civil 24/03/09 http://notasdeaula.org/dir3/direito_civil2_24-03-09.html 3 de 6 23/12/2010 12:48 1. Condição 2. Termo ou prazo 3. Encargo. Vamos ver o encargo na quinta-feira. Concentremo-nos na... Condição Ela é conhecida por nós e pelo próprio senso comum já que usamos muito a partícula "se". Ao usarmos o “se”, concordam que estamos falando de uma possibilidade? E mais logicamente: não é que ela pode ou não acontecer? Se acontecer, quando acontecerá? Num futuro, não no passado ou no presente. Então as características de toda condição é se que trate de um evento futuro e incerto. Algo que pode ou não acontecer. Muitas das vezes, portanto, estamos diante de um negócio jurídico que joga com a sorte. Os eventos podem estar associados à mera possibilidade, à verossimilhança ou probabilidades. Vejam uma situação verossimilhante ¹: um sujeito é proprietário de um apartamento desocupado em Camboriú – SC. Na época em que estava na moda passar o verão lá, ele poderia alugar seu apartamento por um valor acima da média do mercado. Como atrativo, ele coloca no anúncio: “aluga-seapartamento em Camboriú por temporada de 15 dias; se chover por 12 ou mais dias em que você estiver morando, o preço do aluguel é reduzido em 90%!” Notem que estamos falando em evento futuro e incerto, que é a chuva. A chuva é uma desagradável possibilidade para quem faz esse investimento. Então, nesse negócio, a chuva seria a condição: “se chover por 12 ou mais dias enquanto o locatário estiver morando no apartamento, o aluguel será reduzido em 90%." O inquilino e o proprietário acertaram que o valor do arrendamento seria de R$ 4.000,00. Entretanto, se a condição se verificar, ele cairá para apenas R$ 400,00; em outras palavras, dizemos que a obrigação, que era de pagar 4 mil reais, foi reduzida para o valor de 400 reais. Essa condição é suspensiva ou resolutiva? Para saber, veja sempre: o direito já foi adquirido? "Pera lá, de que direito você está falando?" Na perspectiva do inquilino, ele deve aguardar para ver se de fato choverá no período em que ele estiver ocupando o apartamento; nesse caso, ele adquirirá o direito de pagar menos, ou então dizemos que ele conquistará o direito ao desconto. Como o direito não foi conquistado ainda, temos uma condição que suspende o direito, portanto, suspensiva. Outro exemplo: um homem esperançoso chega para uma linda mulher e diz: “vou te pagar uma grana, por dia, até você se você casar. Cem reais, tá?” Portanto, ele não quer que ela se case e está maquinando algo para influenciar a vontade da moça. Pode o sujeito fazer isso? No dia em que ela casar, o direito que ela tinha de diariamente receber R$ 100,00 se extingue. É, portanto, uma condição extintiva ou resolutiva, que vem de resolver, acabar. Quando ocorre, ela cessa um direito. Causas de invalidade do negócio jurídico Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; III - as condições incompreensíveis ou contraditórias. Direito Civil 24/03/09 http://notasdeaula.org/dir3/direito_civil2_24-03-09.html 4 de 6 23/12/2010 12:48 O objeto lícito não é somente aquele que está conforme a lei, mas também não atente contra a moral e os bons costumes. Não se pode, portanto, propor a alguém: "vou lhe dar R$ 5,96 por dia para se manter fora da escola, porque quero que você não estude nunca." É um objeto possível, determinado, celebrado entre capazes a não ser que haja um menor envolvido, e não tem forma exigida por lei. Esse negócio, entretanto, esbarra no critério da licitude por ser imoral. A condição não pode ser contraditória, impossível ou incompreensível. Pode-se propor a um homem que gere um filho em troco de um dinheiro, mas não se pode exigir, por exemplo: "se o filho for gerado em seu ventre, você ganha um adicional de R$ 3,24." Ora, homem não pode ficar gestante. É uma condição impossível e, se não fosse, seria ainda contraditória: isso é jogar com elementos que atentam contra a lógica e a racionalidade. As condições, portanto, são elementos acidentais que vinculam o nascimento ou extinção de direitos. O professor gosta de cobrar condição em problemas. É bom que treinemos bem a identificação de condições, diferenciar de termos e encargos, e identificar os dois tipos de condição em situações concretas. Condição suspensiva, portanto, é aquela que suspende a aquisição do direito até a ocorrência do evento previsto, que pode ou não acontecer. Como o acordo para Sitonho tomar dinheiro emprestado do Tenente para apostar na corrida de cavalos. Até ocorrer o sorteio, o dono do dinheiro, que cedeu a quantia, não tem o direito de receber. Está no art.125. Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. E há também a condição resolutiva, por outro lado, que está no art.127: Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido. Veja que estamos usando o mesmo prisma do objeto negocial. A mesma regra vale para a condição: deve ser lícita, possível, determinada ou determinável. Também, não poderá ser puramente potestativa nem incompreensível ou contraditória. Potestativa: potestas quer dizer "poder", em latim. Essa potestividade, ou capacidade potestativa, é de concentrarmos em nossas mãos toda a decisão em torno do negócio. Então voltamos à regra proibida evidente no exemplo: "lhe darei R$ 490,00 para pintar esta parede, e te darei um adicional de R$ 128,63 se eu quiser." Quando impomos uma condição do tipo “se eu quiser” ou “quando eu quiser”, removemos a característica de futuro incerto. Não são, portanto, admitidas condições com essa característica, as chamadas cláusulas "puramente potestativas". Cuidado também com as simplesmente ou meramente potestativas, que são admitidas. "Bicho" de futebol: salário extra, ou compensação dada aos jogadores para fazer o que já devem: gols. "Se tu marcares três ou mais gols na partida contra o Brasiliense, ganharás R$ 300.000,00." A puramente potestativa, que é a proibida, é quando se coloca nas mãos de apenas uma das partes o poder de decisão. Art.122: Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. Aprendemos que a lei não retroage “salvo para beneficiar o réu”. Cuidado com essa afirmativa. Primeiramente, ficamos acostumados com a idéia de que lei alguma retroagirá salvo neste caso, Direito Civil 24/03/09 http://notasdeaula.org/dir3/direito_civil2_24-03-09.html 5 de 6 23/12/2010 12:48 mas esquecemos da palavra “penal” escrita no inciso XL do art. 5º da Constituição: XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; Então temos, aqui, mais uma hipótese em que a lei retroage. Note que nada aqui é da esfera penal. É possível a lei retroagir quando for para a ratificação de contrato celebrado por relativamente incapaz. Exemplo: um jovem assinou um contrato quando ainda tinha 17 anos, portanto quando era relativamente incapaz, e, ao completar 18 anos, para dar validade ao negócio, ele ratifica o instrumento, convalidando-o. Até então, o negócio era anulável. Ao se ratificar com assinatura após os 18 anos, os eventuais efeitos gerados pelo negócio até tal momento, que tenham sido objeto de questionamento judicial por algum interessado, são convalidados retroativamente à data da assinatura do contrato quando o sujeito tinha 17 anos. Já que a condição trata de um evento incerto, o Código tomou o cuidado com a seguinte situação: e se esse evento incerto, como a sorte ou a Natureza contar com uma “ajudinha” da parte interessada? Vejamos: Padre João importa medicamentos da Holanda usando um navio. Se a embarcação chegar mais cedo do que o pactuado, ficou acertado com o comprador que este lhe pagará mais. Depois que o navio já está em viagem, o comprador percebe que Pe. João está indo bem, com tripulação trabalhando em três turnos, e também dando sorte de pegar boas condições climáticas pela rota. Severino, o sujeito com quem João fez negócio, resolve sabotar o navio. Numa situação como essa, em que o agente influencia a ocorrência, o Código prevê: Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento. Logo, a negociação surtirá efeito apesarda sabotagem, desde que Padre João prove que a interceptação de piratas foi obra de Severino. Observando a parte final do artigo, também pode-se considerar não-ocorrida caso o velho que se casara com a jovem resolva sabotar o pacto de R$ 100.000,00 anuais contratando alguém para dar em cima dela, tentando- a à traição. Art.130 e atos de conservação Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo. Apesar de se tratar de direito pendente de condição (direito eventual), o Código Civil resguarda a possibilidade do interessado agir antes de adquirir o direito. Se alguém notar que estão ocorrendo coisas que podem pôr em risco o direito futuro, o Código autoriza que aquele titular de direito eventual possa tomar determinadas atitudes. Claro que ele não pode vender o que não é seu, mas pode contar com um direito eventual. Portanto, somente para conservá-lo, mantê-lo afastado de quaisquer riscos. Direito eventual = expectativa de direito.
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