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Faculdades Santo Agostinho - Campus Jardim Europa
Disciplina : Comunicação e Expressão
1°Periodo Direito – Sala 09
Professor: Thales Campos
Variações
Linguísticas
Huly Hemanuele Mainarte de Paula
Sete Lagoas – MG
2016
Variações Linguísticas
Desde a década de 1970 inúmeros grupos de pesquisa surgiram no Brasil na área da Sociolinguística, buscando investigar a linguagem relacionando-a a fatores sociais que distinguem diferentes comunidades de fala para a desconstrução da ideia de homogeneidade linguística.  Muitos dos trabalhos desenvolvidos têm suas bases na sociolinguística variacionista (LABOV, 2008[1972]), para a qual a variação e a mudança são inerentes às línguas, como um fenômeno cultural motivado por fatores linguísticos e extralinguísticos. 
O relativismo cultural desenvolvido pela antropologia do início do século XX passou a analisar cada civilização por si mesma, sem estabelecer comparação entre os diferentes tipos de cultura; apesar disso, o preconceito de que há línguas e variedades superiores desafortunadamente se mantém e é mais grave ainda, quando, em nome dele, atribui-se a crianças socialmente desfavorecidas a incapacidade de manifestar raciocínio lógico em virtude do “português capenga” que empregam. 
No entanto, nenhuma forma de expressão é em si mesma deficiente, mas tão somente diferente, e todas as línguas e variedades dialetais fornecem a seus usuários meios adequados para a expressão de conceitos e proposições lógicas; assim, nenhuma língua ou variedade dialetal impõe limitações cognitivas tanto na percepção quanto na produção de enunciados.
Em todas as línguas temos,pois, o esquema linguístico (amplo, abstrato) e as normas (particulares, concretas) do seu uso atual. Sem o esquema, base invariante, as adaptações provocariam o caos na comunicação. Com ele de suporte, podem as línguas evoluir - e sempre evoluem – sem se autodestruírem: atrás do eventual ou do novo há um seguro esquema de referências. “Toda língua é unidade (esquema) na variedade (normas).” No entanto, nenhuma forma de expressão é em si mesma deficiente, mas tão somente diferente, e todas as línguas e variedades dialetais fornecem a seus usuários meios adequados para a expressão de conceitos e proposições lógicas; assim, nenhuma língua ou variedade dialetal impõe limitações cognitivas tanto na percepção quanto na produção de enunciados.
Como é verdadeiro que o domínio de uma língua deriva do grau de contato do falante com outros membros de uma comunidade, também é verdadeiro que quanto maior o contato entre os falantes de uma comunidade, tanto maior a semelhança entre seus atos verbais.
Dessa tendência para a maior semelhança entre os atos verbais dos membros de uma mesma comunidade resulta a variação geográficas (ou diatópica), a variação sociocultural (ou diastrática)a variação estilística (ou diafásica) e variação histórica (ou diacrônica) 
Variações Geográficas
As variedades geográficas são o resultado direto da distância física entre os falantes; assim, pessoas que residem em lugares diferentes tendem a falar de modo diferente. É fácil detectar a variação motivada por diferenças na origem geográfica. Basta percorrermos o país para percebermos, por exemplo, que os falantes da região nordestina se caracterizam pela abertura sistemática da vogal pretônica de dezembro e colina, pronunciadas dézembro e cólina, sistematicamente fechada em outras regiões, em que é pronunciada como dêzembro e côlina. 
Em certas regiões do sul do país, pronunciam-se como e as vogais em posição átona final, como no SN leite quente, que, em outras regiões, aparecem como i como leiti quenti. Neste último caso, observa-se ainda que a pronúncia da vogal i, em certas regiões de São Paulo, acarreta a palatalização da consoante t, que passa a soar como leitchi quentchi, um som que os linguistas chamam de “africado” (CAMACHO, 2001).
Variações Socioculturais
Se o grau de semelhança entre as formas de expressão dos membros de uma comunidade linguística é proporcional ao grau de intercâmbio social que mantêm entre si, podemos afirmar que a variação sociocultural deriva da tendência para a maior semelhança entre os atos verbais dos indivíduos participantes de um mesmo setor socioeconômico e cultural. As variedades linguísticas são motivadas por diferenças de ordem socioeconômica, como nível de renda familiar, grau de escolaridade, ocupação profissional, de ordem sócio-biológica, como idade e gênero, entre outros, sejam eles isolados ou combinados entre si.
Variações Estilísticas 
As variedades estilísticas resultam da adequação da expressão às finalidades específicas do processo de interação verbal com base no grau de reflexão sobre as formas que constituem a competência comunicativa do sujeito falante. O grau de reflexão é proporcional ao grau de formalidade da situação interacional: quanto menos coloquiais as circunstâncias, tanto maior a preocupação formal. Se a competência do falante inclui duas formas de expressão, como Por favor, poderia me passar o açúcar, em contraste com O meu chapa, vai ficar alugando o açucareiro até quando? Dá pra passar ou não?,	
 	O óbvio é que o primeiro enunciado seja selecionado em um jantar com pessoas desconhecidas, e o segundo, em uma mesa de bar que se compartilha com pessoas do círculo íntimo.
Variações Tecnica
Os jargões científicos, as gírias são subcategorias compreendidas no âmbito das linguagens técnicas. Observemos abaixo um exemplo de linguagem técnica: 
Durante o procedimento, acidentalmente produziu-se pneumotórax. Instalou-se, em seguida, drenagem pleural contínua com boa expansão pulmonar. O líquido drenado inicialmente era hemorrágico, passando progressivamente para amarelo-citrino e amarelo-ouro. Posteriormente, no sexto dia e coincidindo com a introdução de dieta, houve turbidez do mesmo. (Relato de caso. Jornal de Pediatria, v. 62, n. 1/2, 1987).
 	As diversas modalidades de gírias distinguem-se de outros tipos de linguagens técnicas em função das motivações sociais que acionam seu surgimento, a mais importante das quais é a necessidade de sigilo, principalmente no caso do desenvolvimento de variedades linguísticas próprias de grupos fechados, como o de marginais.
Há outras motivações que acionam o surgimento da gíria. Além da necessidade de criação de neologismos por força de necessidades expressivas, há uma demanda especial, em certos grupos, por forte coesão social, cuja consequência é a exclusão, via linguagem, dos que não fazem parte do grupo. Esse tipo de motivação para a criação de gíria caracteriza especialmente a linguagem do adolescente.
Variações Históricas
Intãoce fui in casa, peguei o meu laço de côro de veado pardo, que tem guentado tôro marruá... fui no ferrero, mandei fazê um anzolão de dois parmo, incastoei bem incastoado, matei ua leitôa, sapequei cum tripa e tudo, ponhei no anzó, feito isca; marrei o laço nua arve e pinchei o anzó no fundão... (PIRES, Cornélio. Musa Caipira. As estrambóticas aventuras do Joaquim Bentinho (o queima-campo). Tietê: Prefeitura Municipal de Tietê, 1985, p. 111). 
Embora esse texto represente a variedade rural, alguns traços dela são comuns a outros tipos de variedades, como as urbanas, faladas por pessoas geralmente de baixo grau de escolaridade. Observe-se o uso de anzó no lugar de anzol, com apagamento do fonema /u/ representado na escrita pela letra l; a pronúncia mais ou menos generalizada dos processos fonológicos de redução de fonemas no início de palavra (tradicionalmente chamada de afé- rese), como em guentado e marrei, como formas populares de aguentado e amarrei. Outro traço é o apagamento regular da marca de pluralidade, já comentado acima, como em dois parmo, em vez de dois palmos, que, nesse caso, afeta também uma regra de concordância nominal.
 	Formas como intãoce, variante regional de então, é certamente resíduo histórico, geralmente chamado de arcaísmo, próprio de áreas conservadoras, como a zona rural do início do século XX, e constitui a preservação da formaarcaica entonce, provinda ao que parece das formas hipotéticas *in + tuncce < estonce (arc) < *ex tuncce (COUTINHO, 1970, p. 266). Ela atesta um tipo de variação, chamada histórica ou diacrônica, que é extremamente notável em textos escritos do passado:
[...] quamdo a rollda vehesse acerca daquella porta, que elles braadariam altas vozes apupamdo: “Ex a rraposa vai! Eyla rraposa vai!” e que estomçe (grifo nosso) estevessem quedos e nom movessem nada [...] (A cronica d’El Rey D. João I. In: VASCONCELLOS, J. L. Textos arcaicos. Lisboa: Clássica, 1922, p. 78).
Esse fenômeno de variação e, ao mesmo tempo, de persistência de formas do passado na língua mostra que nenhuma é imutável, ou seja, que as línguas se alteram com o passar do tempo. Como o português tem origem em uma variedade falada e popular do latim, comumente denominada de Latim Vulgar (como se vê, já havia preconceito no passado), que lições poderíamos tirar da variação diacrônica para o ensino da língua portuguesa atual? Pelo exposto, podemos obter a seguinte lição: o que é considerado normativo para a variedade-padrão de uma época, pode perfeitamente ser considerado ultrapassado em proveito de formas mais usadas.
Conclusão
Como lhe foram vedadas as possibilidades de adaptar seu estilo às circunstâncias de interação, a variedade que usam acaba representando uma poderosa barreira para toda possibilidade de ascensão social que depender de capacidade verbal. Cabe ao sistema escolar cuidar para que as formas da variedade-padrão sejam desde cedo ensinadas à criança, para que, quando adulto, ela incorpore em seu acervo o máximo possível de formas padrão, tornando-se, assim, capaz de adequar a expressão verbal às circunstâncias de interação. A pedagogia da língua materna deve valorizar o princípio de que todos os falantes são capazes de adaptar seu estilo de fala à diversidade das circunstâncias sociais da interação verbal, e de discernir que formas alternativas são as mais apropriadas.
Referências bibliográficas
Revista de Estudos da Linguagem
e - ISSN 2237-2083 
Livro: Moderna Gramática Brasileira ( Celso Pedro Luft) ISBN 85-250-3621-8
Revista Variação e mudança linguística: panorama e perspectivas da Sociolinguística Variacionista no Brasil Fórum Linguístico, ISSNe 1984-8412
COUTINHO, I. L. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1970.
CAMACHO, R. G. Sociolinguística (Parte II). In: MUSSALIM, F., BENTES, A. C. Introdução à linguística. Domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001, p. 49-76.
FONSECA, M. S. V.; NEVES, M. (Org.). Sociolinguística. Rio de Janeiro: Eldorado, 1974. p.119-130.

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