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1 O QUE É DRENAGEM 1 Podemos entender como DRENAGEM o ato de eliminar o líquido indesejável de um local. Na medicina, a drenagem é a inserção de dispositivos dentro do organismo humano para a retirada de líquidos que se acumulam na barriga ou algum órgão da pessoa. No futebol, a drenagem é a instalação de tubos e caixas por debaixo do campo para que em dias de chuva a água seja rapidamente eliminada do gramado não chegando a formar poças que venham a atrapalhar a realização de uma partida. Na cidade, drenagem é a instalação de caixas e tubos por debaixo de uma rua para que em dias de chuva as águas sejam rapidamente escoadas e eliminadas da superfície da rua de modo a impedir a formação de enxurradas que venham a inundar as casas ou dificultar o trânsito de pedestres ou até derrubar e arrastar pessoas. Veja, no desenho seguinte, que parte da água da chuva corre pela superfície e parte corre por baixo. 2 Via Pública SEM Drenagem Urbana: Não havendo Drenagem Urbana, as águas (superficiais e subterrâneas) produzem danos como: Deslizamento de Encostas: Enxurradas: Inundações: Abertura de Crateras: Estudar a drenagem de um local é analisar a adequação, em tamanho e em quantidade, dos diversos componentes da drenagem, como boca de lobo, cortina drenante, caixa de coleta, ramal coletor e galeria de drenagem, que possam efetuar de modo eficiente a eliminação das águas que podem causar transtornos e prejuízos à população. Via Pública COM Drenagem Urbana: 3 Rede de Drenagem é o conjunto formado pelos dispositivos - caixas, tubos, galerias, etc. - que promovem a drenagem das águas de um local ou de uma região. Projeto de Drenagem é o estudo da projeção de uma situação simulada e o correto dimensionamento dos dispositivos que irão compor a Rede de Drenagem. No Estudo se leva em consideração o Período de Recorrência (também conhecido como Período de Retorno) que é o tempo em que se admite ocorrer uma enchente. Assim, se o Período de Recorrência for de 10 anos, estamos admitindo que a cada 10 anos podemos aceitar que ocorra uma enchente. No caso de estábulos e chiqueiros localizados na proximidade de rios é perfeitamente aceitável ocorrer essa inundação a cada 10 anos. No caso de uma Hidrelétrica importante como a de Itaipú, o Período de Recorrência é de 10.000 anos (tecnicamente denominada Enchente Decamilenar). Assim, se garante que por maior que seja a chuva nos próximos 10.000 anos, não irá ocorrer qualquer danos à usina. Deste modo, a engenharia precisa fixar o Período de Retorno e isso é feito em função da "importância" do local. Este site não tem a pretenção de ensinar, mas não custa nada, você cidadão, conhecer um pouco sobre a Drenagem Urbana para saber que em muitos casos, as providências necessárias para se evitar as inundações são simples. Saiba a diferença entre bueiro e boca de lobo, veja quantas bocas de lobo deveriam ter na sua rua. Critérios de Projeto é o conjunto medidas e limites previamente estabelecidos para o desenvolvimento do Projeto de Drenagem. Dependendo da importância econômica do local pode-se estabelecer critérios mais ou menos rígidos para a drenagem. No caso das chuvas, um determinado Projeto de Drenagem pode levar em consideração o período de retorno na chuva em função da importância do local. Por exemplo, em um estábulo construído próximo de um rio podemos admitir que o mesmo seja inundado de vez em quando. Por que isso? Por que as obras necessárias para que o estábulo não seja nunca inundado envolveria um investimento financeiro alto que não valeria dispender num estábulo velho. Os Critérios de Projeto definem quais serão as chuvas que a drenagem devem atender e quais serão as chuvas que não serão atendidas pela drenagem. Há também leis (federais, estaduais e municipais) obrigando os governos a realizarem obras de drenagem para dar aos moradores a segurança e a tranquilidade que merecem. Ninguém quer ser acordado na meio da madrugada por que o local está sofrendo uma inundação. Você conhece estas leis? Estas leis estão sendo obedecidas? Por fim, entenda que não existe "cidadão de primeira" e nem "cidadão de segunda" todos são iguais e todos deveriam ser tratados da mesma forma. Se todos os habitantes de uma cidade devem ser tratados da mesma forma, então por que 4 existem bairros com uma boa Rede de Drenagem e por que existem bairros sem nenhuma Drenagem Urbana? Procure, na sua rua, a Boca de Lobo que é a peça principal da Rede de Drenagem Superficial. Boca de Lobo, cadê você? DEFINIÇÃO DE ALGUNS TERMOS TÉCNICOS 2 ENXURRADA - Torrente de água da chuva. Água da chuva que corre pela superfície das ruas causando insegurança nas pessoas e ameaçando bens. Pessoas e carros podem ser arrastados pela enxurrada. GUIA - È o alinhamento da pista. Também chamada de meio-fio. SARJETA - É o local por onde corre a água. A sarjeta deve ser dimensionada (inclinação e largura) de tal forma que toda água consiga escoar por ela sem invadir o leito carroçável. LEITO CARROÇÁVEL - Local por onde transita os veículos. 5 PLUVIOLOGIA - Ciência que estuda o comportamento das chuvas. PLUVIÔMETRO - Aparelho que mede a quantidade de água de uma chuva. FLUVIOLOGIA - Ciência que estuda o comportamento dos rios. FLUVIÔMETRO - Aparelho que mede a vazão de um rio. ENCHENTE - Fenômeno fluvial em que um rio, não conseguindo dar vazão à água que aflui num determinado ponto, eleva o nível das águas. Diz-se que o rio encheu. TRANSBORDAMENTO - Passar pela borda. Dizemos que o "rio transbordou", isto é, as águas do rio passaram por cima da borda do rio, inundando as avenidas e ruas. INUNDAÇÃO - Invasão de um local pelas águas que pode ser da chuva, de um rio que transbordou ou de um cano que estourou. As águas da enxurrada invadiram, isto é, inundou a minha loja. 6 ALAGAMENTO - Existência de água empoçada em determinado local e que não consegue sair ou tem dificuldades para escoar. A minha cozinha está alagada, isto é, cheia de água. O alagamento pode ser provocado por uma inundação (invasão que vem de fora) ou pelo entupimento do ralo. BOCA DE LOBO - Dispositivo que promove a drenagem (eliminação) das águas de uma via pública. Papéis, embalagens e lixo jogado na rua podem entupir a boca de lobo aumentando a enxurrada. BUEIRO - Abertura por onde escoa (sumidouro) a água. 7 POÇO DE INSPEÇÃO - Abertura para inspeção e manutenção de uma rede hidráulica. É um poço por onde uma pessoa pode entrar para fazer a manutenção de uma rede. É conhecida também como Poço de Visita. Como fica enterrada não é visível. O que se vê é a tampa do poço de inspeção. Abaixo tampas de poços de inspeção, uma de águas pluviais (de responsabilidade da prefeitura) e ao lado uma tampa do poço de inspeção de esgoto sanitário (de responsabilidade do estado). Observe que a tampa do poço de esgoto tem dois furos que não transpassam para não deixar passar o cheiro e nem doenças. Quando acontece um entupimento na rede, a água pode tentar sair pelo poço de inspeção, empurrando a tampa. Trata-se de prova irrefutável da incompetência do poder público em realizar a manutenção da rede. DRENAGEM - Ato de escoar, sugar, eliminar, fazer sumir o líquido por meio de dispositivos drenantes como tubos, válvulas, sondas, caixas, furos e poços. DRENO - Dispositivo que promove a drenagem de um local. GALERIA - Abertura por onde é feita a remoção materiais sólidos carreados pela enxurrada ou na lavagem semanal da via pública, como garrafas, latas de refrigerante, embalagens, etc. A galeria possui entrada própria, não só para o acesso de pessoas como também de veículos, e a remoção de materiaissólidos não afeta o tráfego das vias. 8 Em Paris, a remoção de materiais sólidos é feita por meio de barcaças que navegam na própria água da drenagem. 9 Nas cidades modernas como Nova Iorque, Londres, Los Angeles e Tókio, o tamanho das Galerias de Águas Pluviais é compatível com o tamanho da chuva que cai: 10 A preocupação com os efeitos danosos (estragos, erosão, inundação) produzidos pelo escoamento das águas da chuva é muito antiga. Veja canais de drenagem em Machu Pichu: 11 A Drenagem Urbana feita pelos incas foi tão bem feita que após milhares de anos de completo abandono, as chuvas não promoveram desbarrancamentos, deslizamentos e nem escorregamentos de taludes na cidade de Machu Pichu, localizada em regão montanhosa e com taludes super íngremes. 12 ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO 5 Entende-se como Área de Contribuição a superfície do terreno que contribui com o escoamento de água em determinado ponto. Na Hidrologia a Área de Contribuição, também conhecida como Bacia de Contribuição ou simplesmente Bacia, é determinada em função da topografia, separando-se as diversas bacias por meio de uma linha imaginária, Divisor das Águas, traçada ao longo das partes mais altas. Veja uma exemplo da Bacia do Rio Taquari com as inúmeras sub-bacias formadas por seus afluentes: 13 A Grande Muralha da China foi construída na antiguidade acompanhando os pontos altos das montanhas (os Divisores de Água) e separava, não apenas as águas da chuva como também, e principalmente, o povo que vivia de um dos lados (no lado de dentro viviam os chineses "civilizados") do povo que vivia do outro lado (no lado de fora viviam os povos "bárbaros"). 14 Na Drenagem Urbana, devemos considerar o limite onde a água da chuva é levada, pelas ruas, praças, telhados, quintais e outros componentes urbanos para o ponto que está sendo estudado. Vejamos um exemplo prático. Vamos supor que desejamos estudar a drenagem de um trecho de rua com intenção de instalar uma Boca de Loco no ponto que chamamos de Ponto de Interesse, na figura seguinte: 15 Figura 2: Como estamos estudando a drenagem "urbana", alguém poderia imaginar que a área de contribuição seria apenas a área compreendida na área pública: 16 Figura 3: Está certo? Claro que não. A água que flui no Ponto de Interesse provém também das casas. Então devemos considerar como Área de Contribuição todos os imóveis lindeiros à rua? 17 Figura 4: Agora está certo? Ainda não. Verificamos que cada imóvel apresenta, fluxos distintos para as águas, apresentando partes que escoam para a via em estudo e partes que escoam para a rua de baixo. Figura 5: 18 Agora sim. Delimitamos todas as águas que fluem para o Ponto de Interesse, respeitando os telhados, os quintais e as calçadas. SARJETA 6 Sarjeta é aquela parte entre a guia e o leito carroçável por onde corre a água até chegar a uma boca de lobo. 19 Por ser o local destinado a conduzir as águas, a sarjeta deve ser confeccionada com material resistente e seu acabamento deve ser bem liso para facilitar o escoamento das águas. É um erro grave, e isso costuma acontecer nas vias com pavimentação de blocos ou paralelepípedos não confeccionar a sarjeta. Os blocos de concreto ou pedras com suas arestas e outras irregularidades dificultam muito o escoamento das águas. Então a sarjeta deve ser construída, de preferência, com concreto, ser bem liso e ter a forma adequada para conduzir as águas, principalmente das chuvas. Existem muitas maneiras de se construir a sarjeta, o mais comum é empregar concreto fresco. Veja os detalhes construtivos: A sarjeta deve ter uma inclinação transversal para acomodar a água da chuva. Quanto maior a inclinação e a largura da sarjeta maior será a capacidade de transportar água. A inclinação mais usada é de 20%. A inclinação não deve passar dos 25% pois resultará numa sarjeta muito inclinada podendo oferecer risco aos transeuntes. Não há limites para a largura da sarjeta mas a largura mais utilizada é a de 40 centímetros. Larguras maiores oferecem uma capacidade maior de condução das águas, porém devemos lembrar que crianças e pessoas idosas têm dificuldade de 20 passar por cima da sarjeta em dias de chuva. Se, em dias de chuva, a água que escoa vier a transbordar para fora da sarjeta invadindo parte do leito carroçável, é sinal de que a sarjeta foi mal calculada ou mal construída e então deve ser refeita. A espessura da sarjeta deve suportar com tranquilidade o peso de um caminhão carregado, visto que ao estacionar os veículos saem do leito carroçável e colocam as rodas sobre a sarjeta. As dimensões habituais de um conjunto de guia e sarjeta são as seguintes: Com essas dimensões, podemos calcular a capacidade máxima de escoamento sem transbordamento. Vamos calcular a vazão em duas situações: Primeiro em uma rua com pouca declividade, isto é, uma rua com declividade mínima e em segundo uma rua com grande declividade, isto é, 10%. A fórmula que permite calcular a vazão numa sarjeta é a seguinte: Q = 0,375 x I 1/2 x Z / n x Y8/3 onde: I é a declividade longitudinal da rua; Z é a tangente do ângulo que a sarjeta faz com a guia; n é o Coeficiente de Manning para a rugosidade que no caso de sarjeta de concreto alisado à mão é 0,016; Y é a altura da lâmina d’água. 21 1 - Declividade mínima. Uma rua não pode ser totalmente horizontal, pois não vai permitir o escoamento da água em dias de chuva. Além de permitir o escoamento, a declividade deve ser tal que a velocidade da água seja suficiente para carregar papéis, pequenos pedaços de madeira como palitos de sorvete e até grãos de terra e areia trazidos pelo vento. A declividade que faz tudo isso é de 2%. Entrando na fórmula com I = 0,02; Z = 0,3/0,075 = 4; n = 0,016 e Y = 0,075 teremos Q =13,2 litros/s 2 - Declividade de 10% Entrando na fórmula com I = 0,1; Z = 4; n = 0,016 e Y = 0,075, teremos Q = 29,6 litros/segundo O Centro Tecnológico de Hidráulica da Universidade de São Paulo ensaiou Bocas de Lobo de diversas aberturas em situações diversas de declividade e inclinação da rua e chegou à seguintes conclusões: A vazão por uma Boca de Lobo qualquer, pode ser calculada pela Fórmula de Bernoulli: Q = C L y (g y)1/2 onde C é o coeficiente de descarga, L a largura da boca, g a aceleração da gravidade e y a altura da lâmina d'água junto à guia. Por meio de experiências práticas em modelo reduzido, chegaram à conclusão que para a chuva na cidade de São Paulo, teremos a fórmula simplificada: Q = 0,75 y3/2 para sarjeta sem depressão e Q = 1,02 y3/2 para sarjeta com depressão. estas fórmulas valem para inclinação da rua entre 0,5% e 14%, declividade transversal da sarjeta de 20%, largura da sarjeta de 40 centímetros que são o padrão adotado por muitas prefeituras. Q = 17 litros por segundo, para sarjetas sem depressão e Q = 23 litros por segundo, para sarjetas com depressão. Veja as perspectivas para os casos de sarjeta sem e com depressão: 22 23 GUIA REBAIXADA PARA ENTRADA DE VEÍCULOS: BOCA DE LOBO 7 1 - TIPOS Entende-se por Boca de Lobo o dispositivo instalado na via pública para promover a drenagem da águas da via. Veja uma foto de uma boca de lobo típica: A foto da esquerda mostra uma boca de lobo de guia enquanto que a outra mostra uma boca de lobo de sarjeta. A bocade lobo de guia é feita com um pré-moldado especial conhecido como Guia Chapéu: 24 A boca de lobo de sarjeta é feita com um pré-fundido de aço ou de concreto, podendo ser de simples encaixe ou com dobradiça: As bocas de lobo devem propiciar segurança e bem estar dos veículos e transeuntes. Em dias de chuva, a água da chuva correndo pela superfície da rua forma uma enxurrada. Quando a enxurrada toma certo volume, pode acarretar riscos e inseguranças como a inundação de lojas, derrubar e arrastar uma pessoa e até dificuldades de atravessar uma rua. Não confundir Boca de Lobo com Bueiro pois Bueiro é a passagem que é construída por tubos ou galerias para a passagem da água (da chuva, de rios e de esgoto) por baixo de rodovias e ferrovias. 25 Não confundir também Boca de Lobo com Poço de Visita ou Poço de Inspeção que são poços (verticais e geralmente redondos) dotados de tampas que servem para a entrada de pessoas para fazer a manutenção da rede: Operário entrando no Poço de Visita da Rede Elétrica Subterrânea: Tampa de um Poço de Visita de Rede de Drenagem - Tem furos: Tampa de um Poço de Visita de Rede de Esgoto - Não tem furos por causa dos gases do esgoto: A água da chuva deve escoar dentro da sarjeta para evitar situações de insegurança como as seguintes: Bocas de Lobo estrategicamente instaladas irão promover a rápida drenagem da água da chuva para dentro da galeria de águas pluviais. 26 2 - DIMENSIONAMENTO: Qual é a distância máxima entre uma boca de lobo e outra? Posso ter uma boca de lobo aqui e a outra somente daqui a 100 metros? Depende da quantidade de água recolhida pela sarjeta. A sarjeta é inclinada para conter a água escoando sem transbordar. Veja como é calculada a inclinação e a largura da sarjeta, clicando na figura: Ruas estreitas e loteamento com padrão pequeno de lotes irá exigir poucas bocas de lobo, isto é, as bocas de lobo poderão ficar longe uma das outras. Ruas largas e loteamento com padrão grande de lotes irá exigir muitas bocas de lobo e até agrupamento de bocas de lobo no formato duplo, triplo e até mais. Em ruas muito íngremes que causam enxurradas de alta velocidade pode acontecer da água passar direto pela boca de lobo. Então nesses casos é possível se fazer um rebaixo na sarjeta para facilitar o desvio do fluxo hidráulico para dentro da boca de lobo. Em zonas urbanas devemos evitar esse tipo de rebaixo pois além da sarjeta já ter uma inclinação que oferece certo risco às pessoas, a confecção desse rebaixo irá criar um risco adicional aos transeuntes. Veja uma caso de conjugação de uma boca de lobo de guia com uma boca de lobo de sarjeta: 27 3 - DIMENSÕES MÁXIMAS E MÍNIMA DAS ABERTURAS: As aberturas das bocas de lobo e das grelhas não devem ultrapassar um certo limite pois cria riscos às pessoas. Imaginem uma situação em que uma criança seja, acidentalmente, arrastada pela enxurrada. Se a abertura da boca de lobo for maior que 20 centímetros irá permitir a passagem de uma criança. Ao contrário, se a abertura for muito pequena, irá entupir com facilidade pois a rua tem todo tipo de detritos como pedaços de papel, embalagens, palito de sorvete e latas de refrigerantes. A rede de águas pluviais deve ser dimensionada para permitir o transporte desses materiais pela água da chuva. A chuva lava e limpa a rua. Detritos comuns como excrementos de animais, pequenas embalagens, latas de refrigerante devem ser transportados pela água da chuva (ou pela água da lavagem da rua) para dentro das Galerias de Drenagem. Uma lata de refrigerante tem um diâmetro de 7 cm, uma garrafa de vinho ou cerveja de 8 cm. Então a abertura mínima para uma boca de lobo deverá ser de 8,5 centímetros. 8,5 < H < 15 cm 28 Adotaremos então uma medida média de H = 10 centímetros para a boca de lobo de guia. No caso das grelhas, as restrições deverão ser maiores e uma boa medida é de 5 centímetros para evitar que uma criança enfie o pé e de no mínimo 3 centímetros para evitar que a grelha entupa à toa. Adotaremos então uma medida média de B = 4 centímetros. As Bocas de Lobos podem ser confeccionadas no local ou podem ser adquiridas no comércio na forma de premoldados de concreto. Neste caso, os padrões de medidas praticadas no comércio são as seguintes: 29 30 4 - VAZÃO (quantidade de água que deve passar): Vazão da boca de lobo pode ser determinada por fórmulas (mais complicado) ou por meio de nomogramas. No caso utilizamos o nomograma do DNIT contido no Manual de Drenagem de Rodovias: A relação entre a lâmina d´água e a abertura da boca é de 7,5/10 = 0,75 e a abertura que adotamos é de 10 centímetros. Entrando no nomograma encontramos a vazão Q = 35 litros por segundo para a boca de lobo de guia. Para as grelhas, devido à grande variedade de modelos existentes no comércio, recomendamos realizar um ensaio para determinar a vazão. Além do ensaio, não esquecer de aplicar um coeficiente de redução prevendo entupimento parcial de algumas aberturas. De qualquer forma, adotaremos a vazão de Q = 15 litros por segundo para efeito de ilustração neste site. 31 O Centro Tecnológico de Hidráulica da Universidade de São Paulo ensaiou Bocas de Lobo de diversas aberturas em situações diversas de declividade e inclinação da rua e chegou à seguintes conclusões: A vazão por uma Boca de Lobo qualquer, pode ser calculada pela Fórmula de Bernoulli: Q = C L y (g y)1/2 onde C é o coeficiente de descarga, L a largura da boca, g a aceleração da gravidade e y a altura da lâmina d'água junto à guia. Por meio de experi~encias práticas em modelo reduzido, chegaram à conclusão que para a chuva na cidade de São Paulo, teremos a fórmula simplificada: Q = 0,75 y3/2 para sarjeta sem depressão e Q = 1,02 y3/2 para sarjeta com depressão. estas fórmulas valem para inclinação da rua entre 0,5% e 14%, declividade transversal da sargeta de 20%, largura da sarjeta de 40 centímetros que são o padrão adotado por muitas prefeituras. Q = 17 litros por segundo, para sarjetas sem depressão e Q = 23 litros por segundo, para sargetas com depressão. Veja as perspectivas para os casos de sarjeta sem e com depressão: 32 5 - ONDE DEVEMOS COLOCAR AS BOCAS DE LOBO: Veja algumas regras práticas para a localização das bocas de lobo. 1 - Ao final de um trecho de rua antes do cruzamento. As águas pluviais não devem cruzar a via transversal. 2 - Antes da faixa de travessia de pedestres. O pedestre ao atravessar a faixa de segurança não deve enfrentar enxurrada na sarjeta. 3 - Na parte mais baixa do quarteirão. 4 - Não permitir que a sarjeta receba mais água que sua capacidade. Veja como fica um cruzamento a seco, sem valeta e sem enxurrada: 33 Veja o que acontece se a Boca de Lobo estiver mal posicionada, se entupir ou se não existir: 34 Imagine, então o caos que se forma em dias de chuva se o cruzamento não tiver nenhuma Boca de Lobo: 35 36 Para evitar que a vazão de água ultrapasse a capacidade da sarjeta, devemos levar em consideração a área de contribuição da chuva. Em ruas do tipo Caso-A: Somente a rua e os imóveis da própria rua. CASO TIPO DE BOCA DISTÂNCIA MÁXIMA 1 Boca de Guia Simples Uma boca a cada 18,1 metros 2 Boca de Guia Dupla Um conjunto de Boca Dupla a cada 36,3 metros 3 Boca Conjugada Um conjunto de Boca Conjugaa a cada 25,9 metros 4 Duas Bocas Conjugadas Um conjunto de Bocas Conjugadas a cada 51,8 metros Em ruas do tipo Caso-B: A rua e os imóveisda vizinhança à montante. CASO TIPO DE BOCA DISTÂNCIA MÁXIMA 1 Boca de Guia Simples Uma boca a cada 10,2 metros 2 Boca de Guia Dupla Um conjunto de Boca Dupla a cada 20,4 metros 2 Boca de Guia Tripla Um conjunto de Boca Dupla a cada 30,6 metros 3 Boca Conjugada Um conjunto de Boca Conjugaa a cada 14,6 metros 4 Duas Bocas Conjugadas Um conjunto de Bocas Conjugadas a cada 29,2 metros 4 Três Bocas Conjugadas Um conjunto de Bocas Conjugadas a cada 43,8 metros Boca de Guia Simples Boca de Guia Dupla Boca Conjugada Dubas Bocas Conjugadas NOTA IMPORTANTE: 37 Não se assuste com os números apresentados. Ao verificar a distância existente entre as bocas de lobo de sua rua, você verá que os números aqui apresentados são bem menores do que os que você poderá constatar na rua onde você mora ou daquele limite de 60 metros fixado nas Diretrizes Básicas para Projetos de Drenagem Urbana no Município de São Paulo. É que o projeto da rede de drenagem da sua rua e as Diretrizes foram feitos numa época em que não havia a grande contribuição dos gases de efeito estufa como na atualidade. Lembre-se que acrescentamos 20% à vazão de projeto por conta do aquecimento global. Se você vai projetar uma rede de drenagem nova, não se esqueça de majorar a vazão de projeto com um percentual bem maior que o 20% que adotamos aqui, pois a COPE-15 resultou em grande fracasso nas negociações e não houve acordo com relação a um número mínimo de redução de emissão de gases que contribuem com o efeito estufa de modo que aquele limite de no máximo 2% de aumento da temperatura média da terra não será, com certeza, atendido. Existe também uma pesquisa em desenvolvimento na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo de criar um asfalto permeável. Com ele não haveria necessidade de bocas de lobo pois toda água da chuva seria rapidamente transferida pelo pavimento para a rede de drenagem como se fosse uma peneira. 6 - BOCA DE LOBO EM VIADUTOS, PONTES E ESTRADAS Por incrível que pareça, o local menos provável de ocorrer uma enchente seria em cima de um viaduto, mas isso costuma acontecer. 38 CAIXA COLETORA 8 As bocas de lobo devem estar acopladas a Caixas Coletoras confeccionadas em alvenaria, tijolo maciço ou blocos de concreto, revestidas com argamassa imperbealizante tanto na face externa como na interna. Todo o conjunto deverá estar assentado sobre uma laje de fundo que será a fundação que dará estabilidade a todo conjunto. As dimensões mínimas devem ser de 60 centímetros de tal forma a permitir a entrada de uma pessoa para fazer a manutenção. O fundo deverá ser preenchido com concreto magro na forma de rampas de tal forma a conduzir, não só a água, como também os materiais sólidos para dentro do Tubo Coletor. A Caixa Coletora não é Caixa de Retenção de objetos. A profundidade mínima deve ser de 1 metro. Nas bocas de lobo de guia, dotar com uma tampa de concreto ou de aço capazes de suportar a roda de um veículo. Nas bocas de lobo de sarjeta, a própria grelha poderá ser a tampa para acesso à caixa coletora. 39 O diâmetro mínimo do tubo coletor deverá ser de 40 centímetros, mas deve ser dimensionado em função da vazão de coleta. Uma caixa poderá receber a água de diversas bocas de lobo. Para conduzir toda a água e não deixar a água empossar, preencher o fundo com concreto magro e com declividade mínima de 3%. O Tubo Coletor deverá ser ligado a uma Galeria e a declividade do fundo deverá ser de no mínimo 3% para que a água consiga arrastar latas de refrigerantes e garrafas até a Galeria. Veja, um desenho esquemático da Caixa de Coleta: É um grande erro considerar a Caixa Coletora como local para Retenção de Materiais. A Caixa de Coleta não é item de manutenção tanto é que a sua tampa é de concreto. 40 GALERIA 9 Galeria de Drenagem é um sistema voltado para a coleta e condução dos dejetos liquidos e sólidos da drenagem urbana. O espaço urbano recebe toda sorte de materiais que são lançados nos telhados, calçados e vias. Pó, areia, terra, folha de árvore, galhos de árvore, papel de bala, embalagem de papel, casca de banana, sacos plásticos, palito de sorvete, goma de mascar, cuspe, resto de sanduiche, latas de refrigerante, garrafas vazias, xixi de cachorro, coco de passarinho, passarinho morto, pomba, lixo, chuva, etc. Todo esse material, acumulado nas calçadas e sarjetas propicia a proliferção de ratos, baratas e outros parasitas que trazem muitas doenças. A Prefeitura tem a obrigação de lavar as ruas semanalmente para evitar a propagação de doenças como a leptospirose, toxoplasmose, samonelose, ornitose, caddidiase, etc. A chuva é outro elemento que faz a limpeza das ruas. Toda vez que chove forte, as águas da chuva "lavam" os espaços públicos. Por isso, calçadas, leito carroçável e todo piso piso deve ter um caimento mínimo de 3% para que a enxurrada consiga carregar, arrastar e transportar pequenos materiais sólidos. Para permitir a lavagem das ruas, pela Prefeitura ou pela Chuva, as ruas precisam ser dotadas de componentes de drenagem como as Bocas de Lobo. As bocas de lobo possuem aberturas que permitem a passagem de objetos como latas de refrigerante, garrafas de cerveja, e outros objetos pequenos. Uma boa Boca de Lobo possui abertura entre 8,5 centímetros e 15 centímetros. 41 Uma galeria de condução de águas pluviais requer uma manutenção intensa. Depois de uma chuva torrencial e depois da lavagem semanal das ruas. A rede de Esgoto Sanitário transporta apenas líquidos - Para garantir isso, toda ligação deve ser provida de Sifão com Reservatório, Caixa de Gordura, Caixa de Areia e Fossa Séptica. Tudo isso para assegurar que só água líquida será introduzida na rede. Já a rede coletora de águas pluviais tem a função de recolher todo o lixo miudo lançado na rua como papel de bala, lata de refrigerante, garrafas de bebidas, folhas das árvores, pequenos galhos de árvores, além de muita terra e muita areia depositada nas ruas trazidas pelo vento e pela enxurrada que vem de terrenos baldios e de ruas sem pavimentação. Como a manutenção é frequente, a entrada de pessoas e equipamentos de manutenção e a remoção do entulho não deve perturbar o tráfego de pessoas e de veículos, tendo, para isso, uma entrada independente onde entram não só pessoas como também veículos. 42 Porisso, toda a manutenção (limpeza e remoção) é feita por baixo, as galerias possuem calçadas e locais apropriados para o tráfego de operários e equipamentos. Veja fotos de algumas Galeria de Drenagem pelo mundo: Na Austrália: Em Boston: No Colorado: Nas grandes cidades como Nova York, Londres, Paris, Tókio, as Galerias de Drenagem adquirem proporções gigantescas e chegam a constituir enormes redes interligadas que não só removem todo o lixo pequeno jogado nas ruas como também coletam toda a chuva (mesmo que muito intensas) evitando a formação de enxurradas ou mesmo enchentes nas ruas. Veja algumas fotos: 43 A preocupação com a Drenagem Urbana é antiga e encontramos Galerias na Roma Antiga: 44 e até em civilizações extintas como os Incas em Machu Pichu: só não encontramos Drenagem nas civilizações modernas: 45 É preciso estar prevenido contra pessoas mal intencionadas que chamam de "galeria" simples tubos enterrados no chão. O nome "galeria" é por que ela deve permitir a entrada e o trabalho de operários para a remoção dos resíduos sólidos transportados pela enxurrada. Bibliografia WATANABE, R. O que é Drenagem. Disponível em http://www.ebanataw.com.br/drenagem/drenagem.php Acesso em 06/08/2013
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