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1 PRIMEIRA VÍDEO-CONFERÊNCIA DE ONTOLOGIA II (O texto que segue é a transposição direta dos slides apresentados e discutidos na primeiro vídeo-conferência do semestre 2013/1) ASPECTO GERAL DO CAPÍTULO 1 DO LIVRO TEXTO: O capítulo como um todo está estruturado na forma da oposição entre sim e não em relação à questão sobre a possibilidade e legitimidade da ontologia. Isto quer dizer: diante da pergunta: "a ontologia é possível como um campo legítimo e justificado da filosofia ou da ciência?", o capítulo como um todo apresenta respostas positivas e respostas negativas (com suas respectivas justificações) que foram dadas por diversos filósofos modernos e contemporâneos. O PROBLEMA DO OBJETO 1) A ontologia clássica (que compreende a ontologia elaborada ao longo da filosofia antiga, medieval e moderna) foi caracterizada, a partir de Aristóteles, como aquele campo filosófico de debates e propostas teóricas sobre as propriedades fundamentais dos objetos (pode-se entender, inicialmente, o termo 'objeto' como sinônimo dos termos 'ser' e 'ente') em sua máxima generalidade e universalidade, ou seja, para qualquer objeto que se admita existir, quais são suas características ou propriedades intrínsecas apenas na media em que existe. Assim, neste nível de generalidade e universalidade, são desconsideradas, inicialmente, as espécies particulares de objeto, tais como os objetos físicos, biológicos, matemáticos, psicológicos etc. 2) A ontologia, assim entendida, pode ser determinada, de modo geral, por buscar conceitos e argumentos capazes de responder três perguntas intimamente aparentadas: "que objetos existem?"; "qual é o modo mais geral como tais objetos existem?"; e "qual o princípio ou quais os princípios que são causa da existência dos objetos em geral?" 3) Ao longo da história da filosofia, em especial da filosofia moderna e contemporânea que nos interessa nesta disciplina, foram apresentadas várias respostas de diversos tipos para estas perguntas e para outras a elas relacionadas. Olhando tais respostas percebemos que é um pressuposto filosófico universal de todas elas o fato de ser necessário esclarecer não apenas os sentidos dos conceitos de objeto, ser e ente, mas também os sentidos de muitos outros conceitos básicos propostos para caracterizar os objetos em geral, ou seja, é preciso esclarecer o sentido de conceitos tais como existência, necessidade, contingência, possibilidade, propriedade, identidade, diferença, realidade, para citar apenas alguns dentre os conceitos mais recorrentes nas propostas de resposta às questões típicas da ontologia. 4) Neste percurso histórico que começa na filosofia grega, diversas perspectivas filosóficas foram elaboradas e defendidas como adequadas para responder as perguntas antes citadas e, ao fazê-lo, esclarecer os sentidos dos conceitos mencionados e de outros. Estas distintas perspectivas estabeleceram várias distinções gerais sobre a finalidade e o campo de investigação da ontologia. Em especial, algumas distinções estabelecidas na história da filosofia recente nos interessam nesta disciplina. 5) A primeira distinção é aquela (proposta a partir do pensamento de Frege e Husserl) entre ontologia formal, pura ou fundamental e ontologias materiais, 2 aplicadas ou regionais. A ontologia formal tem como tarefa a análise dos conceitos de básicos da ontologia (alguns dos quais foram antes citados) em sua absoluta generalidade. A ontologia material (na realidade, as ontologias materiais, aplicadas ou regionais) se ocupa domínios os conceitos que permitem determinar o modo de ser de domínios específicos de objetos, tais como os objetos físicos, matemáticos, biológicos, psicológicos, sociais etc. É interessante notar que esta distinção indica uma ampliação do campo de estudo da ontologia, pois inicialmente vimos que a ontologia clássica se propunha a investigar apenas as características e princípios dos objetos em geral, independentemente do modo como as demais ciências particulares (física, matemática, biologia etc.) analisavam seu domínios específicos de objetos. Recentemente, porém, diversos filósofos têm se proposto a analisar quais os compromissos e pressuposições ontológicos estão presentes nas teorias científicas particulares, sem se preocupar diretamente com os sentidos dos conceitos gerais relacionados com os conceitos de ser, ente e objeto, tal como no caso da ontologia cl. 6) De modo geral, também costuma-se distinguir atualmente dois modos distintos de encarar a ontologia: o modo antigo e o modo atual. No modo antigo (realizado na filosofia grega, medieval e, até certo ponto, na filosofia moderna) consiste em tomar o tema da ontologia como a investigação direta das propriedades fundamentais dos objetos em geral. O modo atual (que inicia na filosofia do século XIX e se estende até hoje) consiste em tomar a tarefa da ontologia como uma investigação sobre os conceitos e princípios conceituais mais gerais que nos permitem pensar e dizer algo sobre os objetos, quer sobre os objetos em geral, quer sobre determinados tipos específicos de objetos (físicos, matemáticos, biológicos, culturais etc). PERÍODOS IMPORTANTES DA ONTOLOGIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA 1) O primeiro período histórico e filosófico importante na ontologia moderna foi justamente a explicitação da pretensão da ontologia clássica como um campo delimitado da filosofia e da ciência, momento que se estende desde o início do século XVII até o final do século XVIII. (Lembre-se de que a diferença clara que hoje fazemos entre filosofia e ciência só acontece durante o século XIX). O tópico 1.2 do livro texto versa sobre este momento da história da filosofia moderna. O tópico 1.5 também trata, de certo modo, da concepção de ontologia proposta na obra de Leibniz, proposta que se coloca neste momento histórico. 2) O segundo período histórico e filosófico importante da ontologia moderna foi a crítica feita por Hume e, sobretudo, Kant à pretensão da ontologia clássica como campo legítimo do saber filosófico e científico. Esta crítica acontece na segunda metade do século XVIII. O tópico 1.3 do livro texto apresenta este período, focando-se em especial na obra de Kant. 3) O terceiro período histórico e filosófico importante da ontologia moderna foi constituído pelas respostas dadas à crítica de Kant à possibilidade da ontologia, respostas em especial elaboradas por Herbart e por Bolzano na primeira metade do 3 século XIX. Os tópicos 1.4 e 1.6 do livro texto tratam deste período de reação à crítica de Kant. 4) O quarto período histórico e filosófico da ontologia moderna foi realizado basicamente pelas propostas ontológicas positivas elaboradas por Frege e Husserl na segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX. Estas propostas estão na base de boa parte das propostas de ontologia que foram desenvolvidas na filosofia recente. É a partir das propostas ontológicas de Frege e Husserl que começamos a falar, em sentido estrito, de ontologia contemporânea. Este período é tratado nos tópicos 1.7, 1.8 e 1.9 do livro texto. 5) O quinto período histórico e filosófico da ontologia moderna é constituído pelas críticas feitas por diversos pensadores recentes às pretensões da ontologia moderna, pensadores como Nietzsche, Wittgenstein, Nelson Goodman, Quine e Putnam. Este momento histórico se estende desde o final do século XIX até a atualidade. O tópico 1.10 do livro texto apresenta sucintamente as críticas deste período.
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