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Quine_e_a_Ontologia

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Notas de Aula de Ontologia 
2002.2 
QUINE E O COMPROMISSO ONTOLÓGICO 
N. Nicholas 
Existem unicórnios? Eu não penso que sim, mas meu amigo, que acredita na existência de 
unicórnios, diz que minha negativa leva a uma contradição. De acordo com ele, dizer que 
unicórnios não existem é dizer que x é um unicórnio e que x não existe. Deste modo, eu sou 
acusado de dizer tanto que unicórnios existem como que não existem. Meu amigo pensa 
que eu devo reconhecer a existência de unicórnios a fim de negá-la. Assim, unicórnios 
devem existir, uma vez que a negativa de sua existência seria incoerente. Uma vez que 
podemos nomear unicórnios (por exemplo dizendo ‘unicórnio’), e uma vez que este nome é 
significativo (estamos falando de cavalos brancos com um único chifre na testa, e não de 
um outro animal, como um tigre), então unicórnios devem existir. Obviamente, meu amigo 
conclui, unicórnios existem, ou nem mesmo poderíamos ter elaborado este argumento! 
Podemos esclarecer este debate com a ajuda da teoria das descrições de Quine e Russell. 
Usando a teoria de Russell, posso transformar a sentença “O Presidente dos Estados Unidos 
é um fraco” em “Algo é o Presidente dos Estados Unidos e este algo é um fraco e nada 
mais é o Presidente dos Estados Unidos e é um fraco”. Aquilo que aparece como um nome 
na primeira sentença (o Presidente dos Estados Unidos) torna-se uma descrição na segunda 
sentença, no mesmo sentido que ‘fraco’ é uma descrição. Note que o significado da 
primeira sentença é mantida na segunda; entretanto, a frase que demanda referência 
objetiva na primeira é “O Presidente dos Estados Unidos”, enquanto que a palavra que 
demanda referência objetiva na segunda é “algo”. “Algo” é um exemplo do que é 
conhecido como uma variável ligada; “nada” e “tudo” são outros exemplos. Variáveis 
ligadas “não tencionam ser nomes; referem-se a entidades de modo geral, com uma espécie 
de ambigüidade que lhes é peculiar” (Quine, em “Sobre o que há”; as demais citações 
também se referem a este artigo). Variáveis ligadas são significativas, mas não se segue que 
se refiram a algum objeto existente. 
Assim, armado da teoria das descrições de Russell, coloco o seguinte argumento: “Algo é 
um unicórnio e é um cavalo branco e tem um único chifre na testa”. Posso então dizer que 
esta declaração é falsa sem medo de que meu amigo faça alguma objeção. Meu amigo está 
simplesmente confundindo nomear e significar; “unicórnio” tem um significado, mas não é 
um nome, porque não tem referência objetiva. 
Agora meu amigo está furioso: eu interferi na sua crença. Ele ainda acredita que unicórnios 
existem, mas ele não me pode fazer acreditar nisso. As coisas começam a ficar piores. 
“Tudo bem, Sr. Esperto”, ele diz. “O azul existe?” Ele sabe muito bem que o azul é minha 
cor favorita. “Meus olhos são azuis, o céu é azul e sua camiseta é azul”, eu digo, “mas se 
você está me perguntando se ‘azul’ existe, eu devo dizer que não. ‘Azul’ não existe tanto 
quanto unicórnios não existem. Dizer que meus olhos, o céu ou sua camiseta são azuis não 
me compromete com a existência de qualquer coisa além dos meus olhos, do céu e de sua 
camiseta e não implica a existência de qualquer entidade, mesmo de uma entidade abstrata; 
afirmar que esses itens têm alguma coisa em comum é um modo de falar usual e 
equivocado”. 
Meu amigo lembra nossa discussão acerca de unicórnios, assim ele sabe que eu não aceito 
me comprometer com a existência do azul simplesmente por usar este termo. “Você negaria 
que a palavra ‘azul’ tem significado?”, ele pergunta com desdém. “De fato, meu bom 
amigo Quine e eu negamos totalmente a existência de significados”, eu respondo. Quine 
distingue entre uma declaração ter significado (having meaning) e ser significativa (being 
meaningful). De acordo com Quine, o significação (meaningfulness) pode ser explicada 
comportamentalmente (behaviorally) quando, por exemplo, meu amigo e eu concordamos 
em identificar objetos azuis; Quine refere-se a este aspecto da significação como 
significância (significance). Sinonímia, o outro aspecto da significância, envolve 
substituição ou intercâmbio. Quine diz que a sinonímia é o que ocorre quando tencionamos 
dar significado a um termo. Como com a significância, a sinonímia é evidenciada pelo 
comportamento, i.e., por como os termos são usados. Quine prefere que “falemos 
diretamente de declarações como significantes ou não significantes, e sinônimas ou 
heterônimas umas com as outras (...) Mas o valor explanatório de entidades intermediárias 
especiais ou irredutíveis chamadas significados é seguramente ilusória”. 
Meu amigo está desesperado. Eu sustentei não somente que unicórnios não existem, mas 
também que universais e significados não existem. Ele pega algumas moedas de sua 
carteira. “Olhe aqui”, diz. “Algumas moedas brilham mais do que as outras, ou você 
negaria isso?” Eu disse a ele que preferiria dizer que “Algumas de nossas sensações visuais 
de moedas parecem mais claras e ofuscantes do que outras sensações”. Sendo algo 
empirista, eu desejo reduzir minhas declarações a relatos sobre experiência sensórias 
específicas tanto quanto possível; minha reformulação é uma declaração muito mais 
precisa. A declaração de meu amigo compromete-o com uma ontologia que inclui moedas e 
brilho; a minha compromete-me com uma ontologia de sensações. A declaração de meu 
amigo implica a existência de uma entidade ‘brilho’, uma entidade que eu enfaticamente 
nego (mesmo que eu fale dela); além do mais, o uso de um termo relativo (brilhante) requer 
comparação de duas entidades não existentes. A declaração de meu amigo toma uma forma 
categórica, e eu não vejo evidência suficiente para suportar uma declaração tão forte. A 
minha versão provê condições mais concretas para testar e confirmar ou não a declaração. 
A minha declaração envolve “o mais simples esquema conceitual no qual os fragmentos 
desordenados da experiência bruta pode ser olhada e trabalhada”. 
O meu amigo não pode mais agüentar. Ele sai-se com essa: “Eu lhe mostrarei. Vou 
encontrar um unicórnio e provar que você está repleto de sem-sentidos”. Eu falo depois 
dele: “Traga também alguns universais ou significados que encontrar pelo caminho”. Sou 
então deixado só para refletir sobre a questão do compromisso ontológico. Na visão de 
Quine, nada que digamos nos compromete com assumir universais ou outras entidades; 
somente a invocação de variáveis ligadas compromete-nos com a existência de uma 
entidade. Podemos dizer que há algo em comum com meus olhos, o céu e a camiseta de 
meu amigo, e que portanto coloca a existência de uma entidade. Mas eu posso recusar a 
fazer uma tal declaração. Quine diz que “Ser assumida como uma entidade é, pura e 
simplesmente, ser contada como o valor de uma variável”. Por exemplo, dizer que alguns 
de meus amigos são estúpidos não me compromete com a existência de amizade ou de 
estupidez; a declaração simplesmente diz que algumas coisas que são meus amigos são 
estúpidas. Para tornar a declaração verdadeira, devo unicamente apresentar um amigo 
estúpido, que então representa o valor de uma variável ligada. 
Elaborar declarações com variáveis ligadas não determina o que há, mas unicamente o que 
eu estou disposto a dizer que há; desde que os debates ontológicos tomam lugar em níveis 
lingüísticos e semânticos, a identificação dos comprometimentos ontológicos é crucial para 
o entendimento dos esquemas conceituais subjacentes ao debate. Quine aponta dois 
esquemas conceituais úteis no desenvolvimento de uma ontologia: o fisicalista e o 
fenomenalista. Um esquema fisicalista é útil para organizar a experiência sensória, e Quine 
reconhece a prioridade epistemológica para com o esquema fenomenalista. Como ele diz, 
“a questão de qual ontologia adotar está ainda em aberto, e o óbvio conselho é a tolerância 
e o espírito experimental”. Quinenão acredita que os esquemas fisicalista e fenomenalista 
sejam incompatíveis, apesar de que cada um pode ser útil para propósitos particulares; os 
esquemas se fertilizam um ao outro. O objetivo é desenvolver estratégias para lidar com 
uma ampla variedade possível de situações. Quine é, em uma análise final, um pragmático. 
(Texto Original em http://home.pacbell.net/nicnic/quine.html) 
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