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152709071515 FILO TEORIA NORM JURID

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OAB 1ª FASE – XVIII EXAME 
Filosofia 
Bernardo Montalvão 
1 
TEORIA DA NORMA JURÍDICA 
 
1. A NORMA JURÍDICA E SUAS 
CONCEPÇÕES; 
2.COMPLEXIDADE, CONTINGÊNCIA E 
SELETIVIDADE DA COMUNICAÇÃO (ou 
norma jurídica como norma-comunicação) ; 
3. O CARÁTER JURÍDICO DA NORMA; 
4. CONCEITO DOGMÁTICO DE NORMA 
JURÍDICA; 
5. ELEMENTOS DA NORMA JURÍDICA; 
6. TIPOS DE NORMAS JURÍDICAS. 
1. A NORMA JURÍDICA E SUAS 
CONCEPÇÕES 
 
O jurista conhece o direito, 
predominantemente, como dogmática. Como 
ensina Ferraz Jr. , isto ocorre devido à 
problemática central do direito ser a 
decidibilidade de conflitos. 
O conflito exige uma decisão, a qual seria 
viabilizada pela dogmática, que cria 
condições para que a decisão aparente 
decorrer de uma série de argumentos 
plausíveis. Nesse sentido, é possível afirmar 
que o jurista capta o direito na imputação de 
normas a situações sociais. 
 
Para Kelsen, a noção e o objeto central – 
senão exclusivo – do Direito seria a norma 
jurídica: é ela que disciplina o comportamento 
de um ser humano em relação a outro. As 
normas são estruturas doadoras de 
significado, podendo, assim, manifestar uma 
objetividade relativa: 
o que é norma para determinado grupo social 
pode não o ser para outro grupo. O certo é 
que o significado objetivo geral de todo e 
qualquer comportamento pode ser obtido por 
meio das normas jurídicas. Por isso, é que 
elas são, consoante Ferraz Jr., o objetivo e 
princípio delimitador do trabalho teórico dos 
juristas. 
 
A norma seria um conceito central para a 
identificação do direito, cuja apreensão 
correta, segundo Kelsen, seria vê-lo como um 
conjunto de normas. Mas como isolar a norma 
jurídica das intenções subjetivas que a 
acompanham? Tome-se como exemplo a 
conduta de matar alguém. A norma, em sua 
forma fria, apenas prescreve que tal conduta 
deve ser punida com uma sanção (pena de 
reclusão). 
Mas em que medida os fatores subjetivos 
devem ser levados em consideração, tais 
como a influência do meio, a educação do 
agente ou a sua condição mental? 
 
Kelsen afirma que eles só podem ser levados 
em conta se e quando a norma o fizer. A 
função do direito seria, portanto, a de 
descrever o significado objetivo que a norma 
confere ao comportamento. O critério para 
esta operação estará contido sempre em 
outra norma, da qual a primeira depende. 
Esse é o caminho do jurista: caminhar de 
norma em norma até a última – a primeira de 
todas –, a norma fundamental. É assim que o 
circuito é fechado. O direito, para Kelsen, é 
esse grandioso conjunto de normas, e cabe 
ao Direito determinar seu significado 
sistemático. 
 
De modo geral, o jurista vê a norma como 
uma proposição: como deve ser o 
comportamento. Isto é, uma proposição de 
dever-ser, independentemente de quem a 
tenha estabelecido ou a quem ela se dirija. 
Nesta acepção, a norma seria um imperativo 
condicional que disciplina condutas porque 
prevê, na hipótese de sua ocorrência, 
determinada sanção. Observe-se o esquema 
infra: 
 
 
“C” é a conduta hipotética prevista pela 
norma. “S” é a sanção prevista pela mesma 
norma, que incidirá caso a conduta hipotética 
ocorra. O dever-ser é o conectivo que une “C” 
e “S”, é a seta, ou seja, o tipo de relação 
lógica. A norma, neste caso, é um diretivo, ou 
seja, “uma qualificação para o comportamento 
que o tipifica e o direciona”: 
 
 
 
 
 
 
 
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OAB 1ª FASE – XVIII EXAME 
Filosofia 
Bernardo Montalvão 
2 
é uma proposição. Portanto, norma enquanto 
proposição é o juízo de adequação hipotético 
que se destina a orientar o comportamento 
dos indivíduos. 
 
Contudo, há entendimentos diversos sobre a 
concepção das normas jurídicas. Tércio alerta 
que os juristas também concebem a norma 
jurídica como uma prescrição. Nesta acepção, 
a norma seria um ato de vontade impositiva 
que institui uma disciplina para a conduta. A 
norma enquanto prescrição também é 
expressa pelo dever-ser, isto é, uma 
imposição de vontade. 
Para análise da norma como prescrição, é 
importante a análise da vontade que a 
prescreve, visto que ela é decisiva para fins 
de prescrição. Logo, não se trata de uma 
vontade qualquer, mas de uma vontade apta 
a prescrever comportamentos. Ou seja, uma 
vontade habilitada, legítima, com autoridade e 
força. 
 
Somente uma vontade com essas 
características tem a possibilidade de produzir 
normas. “Normas são, assim, imperativos ou 
comandos de uma vontade institucionalizada, 
isto é, apta a comandar”. Logo, a norma, 
entendida como prescrição, é o ato de 
vontade institucionalizado que tem por fim 
provocar a obediência do indivíduo a ela 
submetido. 
 
Há ainda a possibilidade de conceber as 
normas jurídicas enquanto fenômenos 
complexos que abarcam não só a vontade 
institucionalizada de seu comando, mas 
também as mais diversas situações 
estabelecidas entre as partes envolvidas na 
comunicação. Neste sentido, a norma é 
concebida como comunicação, ou seja, como 
uma troca de mensagens entre pessoas, 
cujo modo permite definir as relações entre os 
seres que se comunicam: de coordenação e 
de subordinação. Para análise da norma 
jurídica como comunicação, faz-se necessário 
analisar não só a mensagem (a proposição), 
não apenas as qualidades de quem a 
prescreveu, mas também a identificação dos 
sujeitos comunicadores, a qualificação de 
cada um deles e como eles reagem às 
prescrições normativas. 
 
Logo, enquanto comunicação, a norma se 
torna o ponto de convergência de uma série 
de problemas, a saber: o estabelecimento da 
vontade normativa (teoria das fontes do 
direito), o estabelecimento de quem são os 
sujeitos normativos (teoria dos direitos 
subjetivos, capacidade, competência, 
responsabilidade), 
a determinação das mensagens normativas 
(teoria das obrigações, das permissões, das 
faculdades, das proibições normativas), 
dentre outros problemas. 
Seja a norma entendida como norma-
proposição, como norma-prescrição ou como 
norma-comunicação, o que se há de 
reconhecer que ela é o critério fundamental 
de análise do jurista. O fenômeno jurídico 
manifesta-se para o jurista como um dever-
ser de conduta (controle de comportamento) – 
um conjunto de obrigações, de proibições, 
de permissões, através dos quais os seres 
humanos organizam seu comportamento de 
forma coletiva, criam entre si relações de 
coordenação e de subordinação, delimitam o 
exercício do poder, interpretam suas 
prescrições. É assim que é possível visualizar 
instituições sociais (família, empresa, 
administração pública) como complexos de 
condutas disciplinadas e delimitados 
normativamente. 
 
2. COMPLEXIDADE, CONTINGÊNCIA E 
SELETIVIDADE DA COMUNICAÇÃO (ou 
norma jurídica como norma-comunicação) 
 
No contexto exposto, pode-se entender a 
sociedade como um sistema de 
comportamentos referidos e dirigidos 
mutuamente uns aos outros: um sistema de 
interações mútuas que forma uma rede de 
relações. 
Por comportamento, entenda-se troca de 
mensagens, comunicação. Essa troca de 
mensagens constitui o núcleo da sociedade. 
 
Ferraz Jr. assevera que se trata de um dado 
irrecusável, posto que o homem sempre se 
comporta, sempre se comunica: “é impossível 
não se comportar, não se comunicar: [...] 
mesmo que não queiramos nos comunicar, 
estamos comunicando que não queremos nos 
comunicar” FERRAZ JR., Op. cit., 1994, p. 
104. 
 
 
 
 
 
 
 
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Filosofia 
Bernardo Montalvão 
3 
 
O autor assume que a comunicação ocorre 
em dois níveis: o de relato e o de 
cometimento. O nível relato corresponde ao 
conteúdo da própria mensagem, O nível 
cometimento corresponde à possibilidade de 
determinação das relações humanas, se de 
subordinação ou de coordenação, e ocorre 
geralmentede forma não verbal. 
Ferraz jr. exemplifica: se alguém diz “sente-
se!”, o relato é o próprio ato de se sentar 
(conteúdo da mensagem). Já o cometimento 
é a mensagem que emana da relação, e pode 
ser depreendida da expressão facial, da voz, 
das vestes. O cometimento nessa mensagem 
difere a depender do transmissor da 
mensagem: se é de um professor para um 
aluno; ou de um aluno para outro aluno etc. 
 
Quando as pessoas se comportam, na troca 
de mensagens, está presente uma 
expectativa mútua de comportamento, que 
pode ainda ser objeto de expectativas 
prévias. Quem diz “sente-se” tem uma 
expectativa de movimento do outro (sentar-
se), uma expectativa de acatamento 
(subordinação), além de uma expectativa da 
expectativa do endereçado (este espera do 
emissor uma ordem; 
ou vê o emissor como superior etc.), que 
pode ou não se confirmar. 
 
Isto permite afirmar que, dadas as situações 
complexas, que podem se confirmar ou se 
desiludir, as expectativas são sempre, em 
número de possibilidades, maiores do que as 
possibilidades realizáveis. Esta desproporção 
leva a dizer que as situações comunicativas 
são caracterizadas pela complexidade. 
 
Em face da complexidade das situações 
comportamentais, são selecionadas 
expectativas e possibilidades atualizáveis de 
interação, levando à conclusão de que a 
seletividade é outra característica do 
comportamento. Quem diz “sente-se” 
selecionou uma possibilidade, contudo, ela 
pode não se realizar; ou o endereçado pode 
até se sentar, mas sem subordinação. 
Isto quer dizer que a desilusão pertence às 
situações comportamentais. Tal possibilidade 
(desilusão) permite afirmar que a interação 
humana é contingente. A contingência é outra 
característica da situação comunicativa e 
significa possibilidade de (não) ocorrer a 
expectativa selecionada. 
 
O leitor pode se deparar com a pergunta: 
diante dessas características de 
complexidade e de contingência, é possível 
ocorrer comunicação? Tércio explica que, 
para isso, são desenvolvidos mecanismos 
que garantem, em determinado grau de 
confiança, as expectativas nesse jogo 
comunicacional em detrimento das 
possibilidades de desilusões. 
 
Esses mecanismos conferem à rede instável 
de relações humana certo grau de 
estabilidade e são compostos de uma 
estrutura e de um repertório. Tais 
mecanismos servem aos sujeitos 
comunicadores como um código ou médium, 
estruturando as relações, garantindo 
estabilidade, aliviando os agentes da carga da 
complexidade e da contingência que se 
mostram na seletividade de cada um. 
 
Conforme visto em capítulo anterior: 
repertório é o conjunto de possibilidades 
escolhidas como desejáveis entre as 
inúmeras que a complexidade do mundo 
circundante oferece; estrutura é o conjunto de 
regras que garantem o sistema contra a 
possibilidade de que venham a ocorrer outras 
alternativas senão aquelas selecionadas no 
repertório. 
 
Pense-se em seres humanos fazendo 
determinada refeição em conjunto. Se todos 
se atiram de forma voraz ao alimento, haverá 
desilusão de expectativas por todos. A 
seletividade de um (selecionar o melhor 
bocado) pode ferir a seletividade de outro. 
Essa contingência pode ser controlada, por 
exemplo, através de regras de boa educação 
à mesa. 
 
As estruturas sociais são dinâmicas, em face 
do fator tempo estar em jogo: as expectativas 
de hoje podem não ser as mesmas de 
amanhã; é dizer: o que se espera hoje pode 
não ser esperável amanhã. A possibilidade de 
desilusão por conta do fator tempo é 
controlada com a estrutura, pela qual é 
atribuída certa duração às expectativas. 
 
 
 
 
 
 
 
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Filosofia 
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4 
Essa durabilidade é obtida pelo 
desenvolvimento de dois mecanismos: 
atitudes cognitivas e normativas. 
 
As atitudes cognitivas são expectativas de 
durabilidade garantida pela generalização das 
possibilidades. Elas são adaptativas, de modo 
que a generalização ocorre por meio da 
observação de fenômenos. Um exemplo são 
as leis científicas, formuladas a partir da 
observação de comportamentos, isto é, elas 
descrevem a normalidade do comportamento, 
permitindo certo controle da contingência dos 
sistemas sociais. 
Pode-se observar, por exemplo, que uma 
atitude violenta gera uma reação também 
violenta. A generalização deste 
comportamento permitiria inferir o seguinte: 
“violência gera violência”. Seria assegurar 
certa estabilidade a expectativas, ou seja, se 
Pedro agredir Vicente com violência, saberá 
que Vicente tenderá a agir com violência 
também. 
 
Contudo, se tal generalização é desiludida por 
novas observações (uma ação violenta nem 
sempre gera reação violenta), 
a regra cognitiva é então adaptada aos fatos: 
“violência gera violência, exceto quando...”. 
Esse controle de contingência pode ser 
exemplificado com a ciência como 
instrumento de previsão. 
Já a durabilidade das atitudes normativas não 
é garantida por generalizações adaptativas. 
 
Essas expectativas normativas até admitem 
as desilusões como fatos, mas são 
consideradas irrelevantes para a expectativa 
generalizada. Diante do caso da expectativa 
de violência de um indivíduo contra a ação do 
outro, é estabelecida a proibição da violência 
privada. 
 
A violência pode até correr, mas a expectativa 
de que ela não ocorra fica garantida. As 
normas, deste modo, generalizam a 
expectativa independente da realização 
concreta da ação esperada. As normas “não 
referem regularidades do comportamento, 
mas prescrevem sua normatividade. 
Ou seja, a diferença entre uma lei científica e 
uma lei jurídica, neste caso, estaria em que a 
primeira descreve a normalidade, e a 
segunda prescreve a normalidade do 
comportamento”. FERRAZ JR., Op. cit., 1994, 
p. 106. (original com grifos). 
Para Tércio, a norma jurídica assemelha-se a 
uma estrutura comunicacional e teria, 
portanto, esses dois aspectos, de relato e de 
cometimento. Para a mensagem (relato – ou 
o conteúdo da norma jurídica) ser 
compreendida pelo receptor (sujeito 
destinatário da norma), há o cometimento, 
isto é, o tipo de relação que vincula emissor e 
receptor. Em regra, como se está a tratar de 
normas jurídicas, as relações serão de 
subordinação entre emissor e receptor. A 
norma jurídica, assim, prescreve um 
comportamento a ser observado pelo 
destinatário da norma (receptor), sob pena de 
uma consequência jurídica (sanção). 
 
O estudioso do Direito capta as estruturas 
sociais como ordem. O Direito enquanto 
teoria da norma coloca em primeiro lugar a 
compreensão do comportamento humano em 
termos normativos ao estabelecer relações de 
imputação: Se x → deve ser y. Essas 
relações de imputação permitem ao Direito 
captar a estrutura social como rede de 
expectativas normativas. 
 
Por mais que ocorram mortes, roubos, 
latrocínios etc., o jurista capta essas 
regularidades do comportamento como 
atitudes proibidas: imputa-se ao fato a 
generalização normativa, ou seja, é proibido 
matar sob pena de pena de reclusão; é 
proibido roubar sob pena de reclusão etc. 
Isto implica dizer que o objeto de 
conhecimento do jurista, segundo a teoria da 
norma, não são as pessoas em si, mas os 
papeis que elas desempenham tipificados 
pelas normas, que configuram deveres, 
faculdades, responsabilidades, poderes etc. 
 
3. O CARÁTER JURÍDICO DA NORMA 
O caráter jurídico de uma norma depende da 
institucionalização de uma relação de 
autoridade existente num terceiro 
comunicador: o juiz, o costume, o legislador. 
Lembre-se que o cometimento, em termos de 
norma jurídica, envolve quase sempre uma 
relação de subordinação. 
É por isso que o jurista reconhece o caráter 
jurídico da norma pelo seu grau de 
 
 
 
 
 
 
 
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FilosofiaBernardo Montalvão 
5 
institucionalização, ou seja, “pela garantia do 
consenso geral presumido de terceiros que a 
elas confere prevalência”. Esse caráter 
jurídico depende da inserção das normas em 
grandes sistemas disciplinares, em termos de 
Estado, de direito costumeiro etc. 
Essas instituições garantem esse consenso 
suposto e anônimo de terceiros para com as 
normas. 
Pense-se num contrato locatício firmado entre 
duas partes com cláusula de que o não 
pagamento do aluguel até dia determinado do 
mês implica multa de 20% sobre o valor da 
prestação. Essa norma, para ser jurídica, 
requer um consenso presumido da sociedade 
(de terceiros), que pode ser obtido com 
instituições como o contrato. 
Esse instrumento é uma instituição, de modo 
que as partes presumem que as expectativas 
sociais são de cumprimento do que foi 
pactuado de forma livre no contrato. 
FERRAZ JR., Op. cit., 1994, p. 111. 
 
Os processos institucionalizados (processo 
civil; processo legislativo; inquérito policial 
etc.) são extremamente importantes para 
identificação das normas como jurídicas. 
Esses procedimentos garantem às normas 
(expectativas contrafáticas – por serem 
prescritas independentemente da ação 
concreta do indivíduo) certo grau de 
institucionalização do seu cometimento 
(a mensagem que emana do próprio indivíduo 
expressada pelos gestos, pela voz etc.), 
vinculando às partes à complementaridade: a 
relação na comunicação normativa é baseada 
na diferença entre os comunicadores (um 
manda e o outro obedece). A característica da 
complementaridade reside num certo controle 
do receptor pelo emissor de ordem física 
(força), cultural (médico e paciente) ou 
antropológica (pai e filho) etc. Há uma certa 
superioridade do emissor em relação ao 
receptor. É essa relação (cometimento) que 
caracteriza a norma jurídica: a relação 
autoridade/sujeito. 
 
O cometimento (relação autoridade/sujeito), 
entretanto, não esgota o conteúdo normativo. 
Os cometimentos institucionalizados 
suportam qualquer conteúdo? Isto é, se a 
sociedade acredita numa estrutura 
organizada que produz leis e que impele os 
seres humanos a cumprirem suas normas, a 
norma jurídica pode ter qualquer relato? 
 
Para positivistas como Kelsen, o conteúdo na 
norma não é jurídico nem antijurídico, ele é 
neutro. O ato de matar alguém, se consistir no 
conteúdo de uma norma que o proíbe e o 
vincule a uma sanção, seria reprovável e 
ilícito. Contudo, o mesmo ato, se compusesse 
o conteúdo de uma norma de caráter militar 
que o disciplinasse na hipótese de eliminação 
do inimigo, seria um ato aprovável e lícito. 
Matar, portanto, seria juridicamente neutro. 
 
Já os naturalistas, aqueles que defendem que 
as normas jurídicas postas pelo Estado 
devem obedecer aos ditames naturais 
humanos, aos princípios éticos e religiosos 
etc., apontam que a identificação do caráter 
jurídico da norma apela para um elemento 
material. Não bastaria, portanto, para a 
identificação da norma como jurídica apenas 
sua institucionalização (ou o cometimento – 
relação autoridade/sujeito), 
mas se exigiria também certo tipo de 
conteúdo normativo. 
Embora se trate de um problema complexo 
este debate, a questão do conteúdo da norma 
não pode ser ignorada. 
 
Os conteúdos dessas relações 
institucionalizadas (autoridade/sujeito) 
possuem uma variação de sentido, que 
também precisa ser garantido contra a 
contingência. A mera institucionalização não 
consegue realizar tal proeza sozinha. 
 
Os sistemas sociais desenvolvem certos 
núcleos significativos, que funcionam como 
mecanismos de estabilização, integrando 
sentidos e conferindo à variedade certa 
unidade aceitável para as interações sociais. 
Esses núcleos, de acordo com Ferraz Jr., 
variam de acordo com a complexidade da 
situação. Dentro da instituição família, por 
exemplo, é possível estabilizar as 
expectativas por meio do mecanismo pessoa. 
 
Numa relação do filho com o pai, este é uma 
pessoa que agrega diversas qualidades (bom 
pai, autoritário, responsável, atencioso etc.). 
Nesta relação familiar, se o pai promete dar 
um presente pro filho, este saberá conferir à 
 
 
 
 
 
 
 
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Filosofia 
Bernardo Montalvão 
6 
sua expectativa um conteúdo esperável, isto 
é, o filho sabe que pode esperar um carrinho, 
um boneco dos X-men etc. É assim que vai 
se controlando a contingência dos conteúdos 
normativos. 
 
À medida que as situações ficam mais 
complexas, os núcleos significativos vão 
mudando. Os papeis sociais revelam-se 
importantes, por exemplo, na hipótese da 
necessidade da realização de uma cirurgia 
(escolher-se-á um médico-cirurgião e não um 
fisioterapeuta) ou de um empréstimo (o 
banqueiro confere ao conteúdo da transação 
um sentido generalizável). 
 
Já em situações mais complexas, nem 
mesmo os papeis sociais permitem esse 
controle da contingência dos conteúdos. Os 
valores funcionariam, então, como centros 
significativos que atuam como símbolos de 
preferência por certos conteúdos, fórmulas 
integradoras e sintéticas para o consenso 
social. 
 
Em apertada síntese, Ferraz Jr. aduz que não 
é qualquer conteúdo que pode fazer parte das 
normas jurídicas, mas somente os que podem 
ser “generalizados socialmente, isto é, que 
manifestam núcleos significativos vigentes 
numa sociedade”. 
 
Por exemplo, “na cultura ocidental de base 
cristã, conteúdos normativos que 
desrespeitem o valor da pessoa humana 
(direitos fundamentais) serão rechaçados, 
como seria o caso de norma que admitisse a 
tortura como forma de obtenção de confissão 
para efeitos de processo de julgamento”. 
 
4. CONCEITO DOGMÁTICO DE NORMA 
JURÍDICA 
 
A doutrina dogmática entende que a norma 
jurídica seria uma espécie de imperativo 
despsicologizado, ou seja, um comando 
genérico universal no qual não se identificaria 
o comandante ou o comandado. 
Isto significa que se privilegiam não os 
sujeitos da relação jurídica, mas os papeis 
sociais normativamente definidos, como o 
legislador, o poder público, o Estado, e, de 
outro lado, os cidadãos, os civilmente e 
penalmente capazes etc. 
A dogmática analítica (cuja função é recortar, 
reduzir e simplificar as normas jurídicas para 
domínio do jurista) aceita a norma como uma 
proposição vinculante que tem caráter 
impositivo, que serve de base para o jurista 
decidir os conflitos (dogmática da decisão). 
Essas proposições vinculantes servem de 
critério para estabelecer atos, omissões, para 
qualificar os agentes (capaz ou incapaz), 
bem como para interpretar o sentido de outras 
normas. 
5. ELEMENTOS DA NORMA JURÍDICA 
Segundo Kelsen, a sanção possui uma 
função primordial na norma jurídica, é ela que 
atribui o preceito normativo. O 
comportamento é prescrito à medida que lhe 
é atribuída uma sanção. 
Assim, “não matar” seria apenas o objetivo 
mediato do dever-ser contido na norma, 
enquanto a sanção seria o objetivo imediato, 
imputada em caso de não observância do 
dever-ser. As normas jurídicas seria, portanto, 
imperativos sancionadores. 
De acordo com Kelsen, a norma jurídica 
poderia ser representada a partir da seguinte 
fórmula: 
 
 
Essas duas opções não são excludentes, elas 
são complementares. O “se” representa uma 
condição, uma hipótese. O “F” é o fato 
jurídico. A expressão “deve ser” revela a 
lógica de imputação, que estabelece a 
relação entre “F” e “C”. “F” está relacionado 
de maneira normativa, por meio de uma 
imputação, a “C”: o preceito normativo, a 
consequência jurídica, o dispositivo, ou seja, 
a decorrência do acontecimento do fato 
jurídico. 
 
Veja-se um exemplo concreto. O Código 
Penal estabelece, no artigo 121, pena de 6 a 
20 anos de reclusão para “matar alguém” – o 
enunciado da norma. Encaixando este 
exemplo à fórmula lógicaapresentada, “matar 
 
 
 
 
 
 
 
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alguém” é o fato jurídico. A consequência é a 
pena privativa de liberdade de 6 a 20 anos. 
A norma precisa ter os três elementos bem 
delineados: fato jurídico; consequência que 
decorre do fato jurídico; e a relação que 
vincula o fato jurídico à consequência, que é 
uma espécie de funtor, que pode assumir três 
funções: permissão, obrigatoriedade ou 
proibição de comportamento, conforme se 
verá mais adiante. 
 
Muitas vezes, contudo, depara-se com 
situações em que a norma jurídica não regula 
comportamentos, mas estabelece poderes, ou 
determina sentido de outras normas, ou têm 
conteúdo meramente organizacional etc. 
Kelsen, neste caso, insere uma diferença 
entre normas autônomas e normas 
dependentes: aquelas prescrevem sanções; 
essas estabelecem um comportamento, cuja 
sanção correspondente situa-se em outra 
norma, da qual dependem. Deste modo, se 
uma norma prescreve que o “Brasil é uma 
república federativa”, esta seria de cunho 
dependente, isto é, dependeria da norma 
autônoma que imponha uma sanção aos que 
visem modificar o caráter republicano e 
federativo do Brasil. 
 
Veja-se, de outro modo, uma norma que 
estabelece a competência da Justiça Federal 
para julgar crimes cometidos contra empresa 
pública federal. Esta não é uma norma que 
regula comportamentos, mas uma norma de 
organização. 
Isto leva Hart a afirmar que as normas 
jurídicas, em sua maioria, não são 
imperativas (como quer Kelsen), mas 
fundadas em uma hierarquia, em uma relação 
institucionalizada de autoridade. A sanção, 
portanto, seria secundária. Essas normas de 
competência, segundo Hart, apenas 
determinariam a capacidade do agente para a 
realização de determinados atos. 
 
Mas, de acordo com Kelsen, essa objeção de 
Hart teria uma resposta: a de que as normas 
de competência preveem a sanção de 
nulidade na hipótese de sua inobservância. 
Isto quer dizer que se um juiz estadual julgar 
crime cometido por empresa pública federal, 
ele será objeto de norma sancionadora: a 
sentença será nula. 
Para Machado Neto e para Cossio, a norma 
jurídica é definida como alternativa, já que se 
estaria diante de duas opções. Na fórmula 
lógica ilustrada supra, o “ñ F” (ou ilícito 
jurídico) implicaria uma sanção, isto é, não 
ocorrendo o fato jurídico esperado, incidiria 
uma sanção. Num exemplo de compra e 
venda, se ocorre o pagamento de uma parte, 
mas a outra parte não entrega o bem (o “ñ 
F”), esta incide em ato ilícito, gerando uma 
sanção (reparação de danos, por exemplo). 
 
De outro lado, a consequência não será, 
necessariamente, uma sanção. De acordo 
com a lição de Norberto Bobbio, nem toda 
norma possui a pretensão de impor sanções. 
Grande parte das normas do ordenamento 
jurídico não seria de natureza punitiva 
segundo o autor, ou seja, elas não 
prescrevem uma ação na hipótese de 
desobediência ao comando jurídico. 
 
Bobbio sugere que a maior parte das normas 
jurídicas, na atualidade, regula o 
comportamento dos indivíduos não por meio 
da punição, mas induzindo o indivíduo a agir 
de determinada forma, incentivando-o a agir 
em determinada direção. (É mesmo Bobbio 
que entende assim, né? Porque esse 
entendimento está no livro de Tércio, mas ele 
ñ faz qq referência a ninguém). 
 
Observe-se o governo, quando, por meio de 
uma norma, reduz o IPI na compra de 
veículos automotores: ele não está proibindo 
condutas, mas incentivando que os 
consumidores comprem automóveis. De 
acordo com Bobbio, portanto, se houver 
alguma sanção neste caso, ela é de natureza 
premial, porque ela não pune, mas induz, 
incentiva. 
 
Depreende-se disso que, caso não se compre 
o carro agora com o IPI reduzido, a punição 
ocorrerá mais adiante, pois, ao retornar o IPI 
ao valor anteriormente estabelecido, poderá 
se encontrar dificuldades de conseguir uma 
condição de compra tal qual a oferecida 
previamente. 
 
Contemporaneamente, observa Ferraz Jr., a 
tese da essencialidade da sanção na 
estrutura da norma jurídica tornou-se 
 
 
 
 
 
 
 
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demasiado estrita. O que se observa hoje, 
cada vez mais, são esses tipos de sanções 
premiais, como a do incentivo fiscal, cuja 
função é induzir o cidadão a realizar um ato 
(sanção-prêmio) e não desencorajá-lo a 
praticar atos (sanção-castigo). 
 
A dogmática analítica contemporânea 
posiciona-se no sentido de excluir a sanção 
como elemento imprescindível da estrutura da 
norma. A sanção continua sendo elemento 
importante, mas nem sempre as normas 
jurídicas são coativas. Embora a sanção seja 
importante para distinguir os tipos de norma 
(norma jurídica de norma moral, por 
exemplo), sua exclusão da estrutura permite a 
identificação de prescrições não 
sancionadoras como normas jurídicas. 
 
Por fim, vale ressaltar que os elementos 
caracterizadores da norma são: generalidade; 
caráter abstrato e bilateralidade. A 
generalidade é um elemento vinculado ao 
destinatário da norma, já que ela se dirige a 
todos de forma indiscriminada (“ninguém será 
privado da liberdade ou de seus bens sem o 
devido processo legal”). 
A abstração está vinculada ao conteúdo, pois 
prescreve uma conduta genérica (“matar 
alguém”). A bilateralidade é entendida a partir 
do estabelecimento, pela norma, de relações 
jurídicas entre sujeitos (comprador e 
vendedor). 
 
Observe-se, contudo, que nem todas as 
normas são bilaterais ou mesmo abstratas. 
Uma norma jurídica que prescreve a 
revogação de uma norma possui conteúdo 
concreto (e não abstrato). 
A norma jurídica que prescreve que o Brasil é 
uma república federativa não determina uma 
relação jurídica entre dois sujeitos, mas tem 
validade para todos. 
Para Bobbio, não há diferença entre as 
normas proibitivas e as normas obrigacionais. 
 
6. TIPOS DE NORMAS JURÍDICAS 
 
A classificação das normas jurídicas não 
obedece a critérios rigorosos. Os critérios são 
os mais diversos e tentam resolver a 
identificação das normas como jurídicas, dada 
sua imprecisão que vem se mostrando aqui. 
Ferraz Jr. oferece um esquema didático e 
parte do ponto de vista de que as normas 
podem ser classificadas segundo critérios 
sintáticos (normas em relação a normas); 
semânticos (normas em relação ao objeto 
normado); e pragmáticos (normas em relação 
a sua função). 
 
6.1 CRITÉRIOS SINTÁTICOS 
 
Aqui, as normas podem ser classificadas 
segundo a relevância, a estrutura e 
subordinação. 
 O critério da relevância é amplamente 
utilizado na doutrina. As normas podem ser 
primárias ou secundárias se observado esse 
critério. 
 
De maneira geral, as normas podem ser de 
conduta (comportamento) ou de organização 
(como exercitar função, poder, competência). 
Para Rudolf Von Jhering, a norma primária 
seria a norma de conduta, ou seja, é a norma 
mais importante, de maior relevo, ao passo 
que a norma secundária seria a norma de 
organização, uma vez que teria menos 
relevância. Com uma nomenclatura diversa, 
Norberto Bobbio define a norma de conduta 
como “norma de primeiro grau”, enquanto as 
normas de organização seriam normas de 
“segundo grau”. 
 
Já Herbert Hart denomina as normas de 
conduta de “normas obrigacionais”, ou seja, 
normas que obrigam o indivíduo a regular seu 
comportamento, ao passo que as normas de 
organização seriam as normas secundárias. 
Alf Ross pretere a utilização dessas 
expressões e as denomina simplesmente de 
normas de conduta (as que estabelecem 
obrigações) e normas de competência (que 
estabelecem procedimentos e poderes). 
Miguel Reale as difere por normas de 
organização e normas de conduta. 
 
Hans Kelsen, conforme visto supra, entende a 
norma jurídicacomo a prescrição de uma 
sanção a um comportamento. Para ele, é a 
norma primária que prevê a sanção, já a 
norma secundária prevê o fato jurídico. A 
norma secundária, portanto, regularia a 
conduta e a norma primária regularia a 
 
 
 
 
 
 
 
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sanção – que seria essencial na estrutura da 
norma jurídica segundo Kelsen. 
Frise-se que, segundo o austríaco, o 
ordenamento jurídico vale-se 
majoritariamente de normas proibitivas 
(normas que estabelecem punições). Toda 
vez que o ordenamento jurídico silencia a 
disciplina para uma situação determinada, isto 
é, quando o ordenamento não dispensa 
norma alguma para determinada situação, 
presumir-se-á que o comportamento é 
permitido. 
Para Kelsen, portanto, o ordenamento jurídico 
não apresenta lacunas. 
 
A razão para a inexistência de lacunas no 
ordenamento jurídico ocorre por uma questão 
lógica: todo comportamento é regulamentado 
porque, caso não haja norma proibitiva ou 
norma obrigacional, já se pode antecipar a 
resposta: o comportamento é permitido. 
 As normas secundárias, segundo Hart, 
seriam ainda subclassificadas em normas de 
câmbio, de adjudicação e de reconhecimento. 
 
As normas de câmbio são as que conferem 
poderes e estabelecem procedimentos para 
que o Direito se adapte a novas situações. 
Por exemplo, as normas que regulam o 
processo legislativo ou as normas que 
regulam o processo de revogação de outras 
normas, como é o caso da antiga da Lei de 
Introdução ao Código Civil. As normas de 
adjudicação estabelecem regras judicantes e 
a competência para aplicação da norma no 
caso concreto na hipótese do conflito (quando 
há a violação de normas primárias). 
Por exemplo, as normas de direito processual 
civil, penal e militar. 
 
As normas de reconhecimento são utilizadas 
pelo ordenamento jurídico para identificar se 
determinada norma pertence ou não a ele. 
Aqui, por exemplo, temos as normas que 
regulam o controle de constitucionalidade. 
O critério da subordinação permite a distinção 
das normas jurídicas em norma-origem e 
norma-derivada. Por exemplo, a norma que 
estabelece os poderes de determinado órgão 
para legislar é norma-origem; já as normas 
editadas conforme aquela norma são normas-
derivadas. A distinção entre norma-origem e 
norma-derivada remonta à ideia de hierarquia 
e de subordinação do sistema jurídico, 
conforme visto em capítulo anterior. 
A primeira norma-origem seria a norma 
fundamental, segundo Kelsen. 
 
O critério da estrutura permite distinguir as 
normas entre autônomas e dependentes. As 
autônomas são aquelas que esgotam a 
disciplina que estatuem. Uma norma 
dependente exige outra norma para completar 
seu conteúdo. 
Assim, por exemplo, a Constituição 
estabelece a defesa do consumidor, mas esta 
norma exige a regulamentação por lei 
ordinária para discipliná-la. 
 
6.2 CRITÉRIOS SEMÂNTICOS 
De acordo com os critérios semânticos, as 
normas jurídicas podem ser classificadas 
segundo seus destinatários, segundo a 
matéria, o espaço e o tempo. 
Segundo os destinatários da norma, esta 
pode ser classificada em geral e individual. 
 
A norma geral é aquela que se destina a uma 
generalidade de pessoas, já a individual 
regula o comportamento apenas uma pessoa 
ou um grupo. A norma jurídica que estabelece 
a responsabilidade penal aos 18 anos é uma 
norma geral, já uma sentença que determina 
ao réu o pagamento de determinada quantia é 
uma norma jurídica específica. 
 
Em relação à matéria, a norma pode ser 
geral-abstrata, especial ou excepcional. A 
norma geral-abstrata descreve uma situação 
de fato genérica. Por exemplo, a norma 
constitucional que veda a prisão civil por 
dívida é geral-abstrata. Mas esta mesma 
norma admite a prisão civil na hipótese de 
obrigação alimentar: está-se diante de uma 
norma excepcional. 
 
Entre esses dois tipos, está situada a norma 
especial. Ela não é uma exceção ao tipo 
genérico, tal qual a norma excepcional, já que 
não disciplina a regra de forma contrária, ela 
apenas disciplina de forma diferente, de forma 
adaptativa. Assim, diversas normas do 
Código Civil regulam um contrato de compra 
e venda celebrado entre duas partes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Mas, de forma especial, se as partes se 
encaixarem nas definições dos artigos 2º e 3º 
da Lei 8.078/90, cada uma, a disciplina dessa 
relação de compra e venda será adaptada 
aos moldes da legislação consumerista. Isto 
é, a disciplina consumerista não é contrária 
ao Código Civil, mas apenas adaptada às 
circunstâncias e às exigências das 
negociações consumeristas. 
 
O critério semântico de espaço refere-se ao 
limite espacial de incidência da norma. No 
regime federativo brasileiro, há normas 
jurídicas que vigem sobre todo o território 
nacional. Outras são limitadas aos âmbitos de 
cada estado federado; outras limitadas ao 
âmbito de cada município etc. 
 
O critério semântico do tempo afeta a 
vigência das normas jurídicas. Algumas 
possuem vigência indefinida; outras possuem 
prazo para viger. Aquelas são normas 
permanentes, estas são normas provisórias 
(ou temporárias). 
 
Se a lei que disciplina a norma não 
estabelece por quanto tempo ela irá viger, 
está-se diante de uma norma de validade 
permanente, mesmo que exista a vacatio 
legis (tempo entre a publicação da norma e 
seu início de vigência). Já há normas que 
possuem prazo de validade determinado, 
estabelecido pelas leis que as instituem. 
 
A discussão sobre a questão do tempo revela 
uma distinção entre normas irretroativas e 
retroativas. As normas jurídicas são 
irretroativas, a princípio. Mas uma norma que 
acaba de ser promulgada/publicada pode 
retroagir para beneficiar o agente cujo fato 
praticado, pela norma antiga, seria punido: é 
a retroatividade in bonam partem, admitida no 
direito penal, por exemplo. 
 
Outra distinção a ser revelada é a que ocorre 
entre as normas de incidência imediata e de 
incidência mediata. O ponto de referência é a 
vacatio legis. As normas processuais, por 
excelência, passem a viger imediatamente 
após a publicação da respectiva lei 
geralmente. 
 
Outras normas, as de incidência mediata, 
passam a viger após tempo previsto pela 
própria lei ou mesmo após o preenchimento 
de certos requisitos, que serão definidos após 
a promulgação de outro instituto legal (outra 
lei; ou um decreto etc.). 
 
6.3 CRITÉRIOS PRAGMÁTICOS 
Segundo esses critérios, leva-se em conta o 
efeito da norma jurídica sobre o sujeito 
normativo. As normas podem ser 
classificadas aqui segundo a força de 
incidência; segundo a finalidade; ou segundo 
o funtor. 
 
A força de incidência indica o grau de 
impositividade da norma jurídica. Algumas 
normas subtraem a autonomia dos sujeitos, 
de modo que estes só podem agir (ou se 
omitir) segundo o estabelecido pela norma. 
Estas normas são chamadas de imperativas 
(ou cogentes ou injuntivas). 
 
Se o sujeito normativo agir em 
desconformidade com o disposto na norma 
geral, tal comportamento sequer produz 
efeitos jurídicos porque é nulo de pleno 
direito. Assim, se um testamento dispuser 
legação de bens a terceiros que ultrapasse a 
legítima, tal disposição é nula. 
Já as normas dispositivas só atuam na 
hipótese de omissão dos sujeitos em regular 
a situação ou quando estes as invocam. 
Assim ocorre com o artigo 490 do Código 
Civil, que estabelece, no contrato de compra 
e venda, que as despesas de escritura e 
registro ficarão a cargo do comprador, salvo 
cláusula em contrário. 
 
Pelo critério da finalidade, as normas podem 
ser de comportamento (ou de conduta), isto é, 
que regulam o comportamento dos sujeitos de 
forma vinculante,qualificando suas condições 
de exercício. E existem as normas 
programáticas, que expressam intenções, 
diretrizes, objetivos, como as normas 
constitucionais que estabelecem como dever 
do Estado a educação, a saúde etc. 
 
Ressalte-se que há certa discussão 
doutrinária a respeito dessas normas, se 
seriam jurídicas ou não, ou se seriam apenas 
expressões de intenções, pois estaria em jogo 
 
 
 
 
 
 
 
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seu caráter vinculante. Uma norma 
programática constitucional não obriga 
exatamente o Estado a fornecer saúde para 
todos no sentido de que inexiste uma sanção 
caso não o faça. 
Contudo, pode-se visualizar certo grau de 
vinculação nelas se o Estado estatuir de 
forma contrária aos objetivos previstos, já que 
há a possibilidade de se impugnar os atos 
desviantes. 
 
Por fim, o terceiro critério programático, o 
funtor, relaciona-se com o elemento que 
enlaça as asserções. A asserção “comprar” 
pode ser modalizada pelos funtores “é 
proibido”, ou “é permitido” etc. Dentre os mais 
diversos funtores existentes, a doutrina 
selecionou três que permitem distinguir as 
normas entre preceptivas, proibitivas e 
permissivas. 
 
As preceptivas são regidas pelo funtor de 
dever-ser, ou seja, “é obrigatório”. No contrato 
de compra e venda, é obrigatória a 
transferência do domínio da coisa (art. 481 do 
Código Civil). As normas proibitivas são 
regidas pelo funtor “é proibido”. Por exemplo, 
os leiloeiros são proibidos de comprar os 
bens cuja venda estejam encarregados (art. 
497, IV, do Código Civil). 
Já as normas permissivas são regidas pelo 
funtor “é permitido”. 
 
Como exemplo, têm-se as normas que 
estabelecem competências, as normas que 
conferem direitos, ou, ainda, a permissão que 
as partes têm, no contrato de compra e 
venda, de deixarem a fixação do preço ao 
arbítrio de um terceiro (art. 485 do Código 
Civil).

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