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durante as operações aéreas. Vejamos então, a seguir, como este modelo pode facilitar o entendimento destas relações. 4.3 O modelo SHELL O modelo SHELL, como instrumento de análise dos Fatores Humanos, foi desenvolvido inicialmente por EDWARDS (1972), e publicado por HAWKINS (1974), alguns anos depois, num trabalho na Comunidade Européia. http://www.anac.gov.br/formacaoaerea Junho de 2010 O modelo é internacionalmente reconhecido pela união das letras S H E L L, as quais representam as iniciais das palavras dos seus componentes: a) S (Software); b) H (Hardware); c) E (Environment), e; d) L (Liveware). Para se buscar um bom nível de interação de todos os componentes apontados pelo modelo SHELL é necessária à compreensão de algumas características do seu elemento focal, o ELEMENTO HUMANO. 4.4 Características do Elemento Humano a) Biológicas: Condições físicas (resistência do organismo humano), Condições fisiológicas (funcionamento do organismo humano) e Tolerância Ambiental (limitação e adaptação do organismo humano à temperatura, à vibração, à luminosidade, ao ruído, etc.); b) Psicológicas: Componentes cognitivos, afetivos e motivacionais do comportamento humano, os quais englobam a percepção, a atenção, a memória, a personalidade, a motivação, a atitude e a tomada de decisão; c) Sociais: A vida em comunidades, a qual presume micro-estruturas (familiares, laborais, associativas, políticas, etc.) e macro-estruturas sócio-culturais (organizações militares, empresas privadas, instituições de ensino, etc.), tem no seu bojo fontes de pressão que, se exercidas sobre os indivíduos que as constituem, podem afetar o seu desempenho profissional. 4.5 Detalhando o modelo SHELL • Interface Liveware x Liveware (Elemento Humano x Elemento Humano): Esta interface, LL, refere-se aos relacionamentos interpessoais que se estabelecem no ambiente de trabalho. No caso da atividade aérea podemos incluir, entre tantos outros, as relações entre os integrantes de uma tripulação, deles com os passageiros, com outros funcionários do sistema e com os controladores de tráfego aéreo, para citar os mais evidentes; • Interface Liveware x Hardware (Elemento Humano x Equipamento): A interface LH refere-se à adaptação das características físicas do equipamento às capacidades e limitações dos seres humanos. Ela engloba os dispositivos de informação, os controles e a relação entre os dispositivos e os controles. É mais conhecida no meio aeronáutico como a relação Homem/Máquina; • Interface Liveware x Software (Elemento Humano x Programas de Suporte Lógico): Esta interface (LS) reflete a relação entre o indivíduo e os sistemas de apoio disponíveis http://www.anac.gov.br/formacaoaerea Junho de 2010 para o desempenho do trabalho profissional. Incluem-se nesta interface requisitos normativos (qualificação, certificação e habilitação), regulamentos, materiais impressos (manuais e publicações), checklists, procedimentos operacionais (SOP), automação (Piloto Automático, EGPWS, TCAS, FMC, ACARS, etc.) e os programas de computador. • Interface Liveware x Environment (Elemento Humano x Ambiente): Esta interface foi a primeira a ser reconhecida na aviação como de importância para a Segurança Operacional. Ela reflete a relação do indivíduo tanto com o ambiente físico, interno e externo, como com o ambiente organizacional. O ambiente físico interno se constitui da área de trabalho imediata, que para os tripulantes técnicos é o cockpit (ou flight deck), local onde tudo acontece com dinamismo e complexidade, podendo afetar diretamente a rotina operacional (problemas com passageiros, com panes de sistemas da aeronave, com atrasos por falta de logística empresarial adequada, etc.). Já o ambiente físico externo é o que está fora das fronteiras do interno e muitas vezes sujeito a mudanças rápidas e alheias à vontade dos pilotos (meteorologia, modificações nas autorizações de tráfego aéreo, congestionamento do espaço aéreo, restrições de infra-estrutura, etc.). Tal qual os seres humanos, as organizações têm cérebro, corpo, personalidade, objetivos e lutam para sobreviver num meio em constante evolução. Por isto, a forma de gerenciamento dada à Cultura Organizacional das empresas aéreas tem influência direta ou latente na Segurança Operacional, considerando que ela é a personalidade da instituição. Assim, através do modelo SHELL, consegue-se analisar o nível de integração do elemento humano com as outras interfaces da atividade, permitindo um diagnóstico acurado do nível de interação no ambiente operacional. E os problemas mais observados na relação Homem/Máquina/Meio, durante a operação aérea, estão relacionados com: • O Pilot workload (Carga de trabalho do piloto): É evidente que a automação trouxe uma significativa redução da Carga física de trabalho (Physical workload) dos pilotos, com a simplificação de inúmeras tarefas que outrora demandavam uma ação mecânica da tripulação técnica. Entretanto, e em contrapartida, houve um aumento substancial da sua Carga cognitiva de trabalho (Cognitive workload), através da qual o stress, a confusão e a fadiga mentais se fazem mais presentes no cotidiano operacional; • A ausência de uma filosofia industrial padronizada de automação: Falta de uma filosofia industrial padronizada de automação que leve os fabricantes a projetar aeronaves com equipamentos, dispositivos e sistemas semelhantes o suficiente para tornar as relações do Homem com as Máquinas mais equiparadas, equilibradas e harmoniosas, independentemente dos tipos de aeronaves a serem operadas; • A Intimidação e/ou a Timidez: Falta de iniciativa dos pilotos para interferir na operação automatizada da aeronave, quando necessário; http://www.anac.gov.br/formacaoaerea Junho de 2010 • O excesso de confiança no automatismo: A remoção de certos tipos de feedback nas modernas aeronaves automatizadas tornou invisível aos olhos humanos determinados processos operacionais importantes (vide a ausência de movimento aparente das Thrust Levers – manetes de potência – dos modelos mais recentes da família de aviões da Airbus), o que em certas ocasiões impede os pilotos de identificarem e entenderem um novo cenário que esteja a caminho em momento futuro bem próximo, de processarem novas informações e de responderem rápida e apropriadamente às demandas decisórias, muitas vezes não previstas. As dificuldades acontecem pelo bloqueio momentâneo da capacidade de percepção dos pilotos. No caso dos manetes dos modelos AIRBUS mais recentes, a percepção visual periférica dos pilotos é bloqueada, fato que não permite a compreensão imediata das razões que estão levando a aeronave a atitudes não comandadas por eles. Como conseqüência disto, há, por parte dos aviadores, uma exarcebada delegação operacional ao sistema automatizado, como se ele isoladamente fosse capaz de retornar a aeronave à normalidade, o que é potencialmente inseguro para a operação aérea; • A complacência: Atitude passiva frente às situações rotineiras ou incomuns, em virtude de falhas no processo ativo de supervisão do automatismo; • A desconcentração e/ou Desatenção: Acionamento equivocado ou seleção incorreta do comando a ser cumprido pelos sistemas automatizados (altitude, velocidade, proa, rumo, interceptação de track, etc.), mas com a esperança do piloto de que o próprio automatismo se autocorrija em caso de um erro seu; • A falha na supervisão: