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Posicionamento contra a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADPF nº 153

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Posicionamento contra a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADPF nº 153:
A convenção interamericana de direitos humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica foi ratificada pelo Brasil no ano de 1992 pelo decreto nº. 678 de 6 de novembro de 1992 pelo presidente Itamar Franco, e em seu artigo 1º expressa:
        Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente como nela se contém.
A convenção internacional procura consolidar entre os países americanos um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito aos direitos humanos essenciais, independentemente do país onde a pessoa resida ou tenha nascido.
O Pacto baseia-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que compreende o ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria e sob condições que lhe permitam gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos.
Na parte I do Capítulo I da Comissão Interamericana de Direitos Humanos são dispostos os deveres dos Estados e Direitos protegidos, vejamos:
Artigo 1º - Obrigação de respeitar os direitos 1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita a sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. 
2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano. 
Artigo 2º - Dever de adotar disposições de direito interno Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo 1º ainda não estiver garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados Partes comprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e com as disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.
Interpretando concomitantemente o artigo do decreto que promulga a Convenção e os artigos do primeiro capítulo do Tratado de San José da Costa Rica, pode-se verificar que estes compelem o Estado Brasileiro a cumprir inteiramente o que fora ratificado pelo poder Executivo e profere as medidas necessárias para que haja efetividade das disposições.
Ocorre que a Lei nº 6.683 de 28 de agosto de 1979, a Lei da Anistia, concede e dá outras providências a todos para os crimes ocorridos, no período entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com este...[sic].
O parágrafo primeiro desta lei exprime:
 § 1º - Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política.
Em consonância ao relatório da Comissão Nacional da Verdade, os principais crimes de grave violação aos direitos humanos elencados em seu Capítulo 7 do Volume I são:
1) prisão (ou detenção) ilegal ou arbitrária; 2) tortura (crime lesa-humanidade, imprescritível pela jurisprudência internacional); 3) execução sumária, arbitrária ou extrajudicial e outras mortes imputadas ao Estado; e 4) desaparecimento forçado, considerando a ocultação de cadáveres, conforme o caso, como elemento dessa última modalidade de grave violação de direitos humanos ou como crime autônomo de natureza permanente.
Incontendivelmente, a lei que anistia todos os agentes no período supracitado, inclusive, aos que cometeram crimes políticos e os intitulados de forma proposital como CRIMES CONEXOS àqueles, abarcam os crimes que conflitam diretamente com os direitos humanos protegidos pelo Pacto de San Jose da Costa Rica e fere o princípio da “dignidade da pessoa humana” (Constituição Federal, art. 1º, inciso, III) que funda o ordenamento jurídico brasileiro e restringe o êxito no cumprimento do Pacto de San Jose da Costa Rica e a lei que o promulgou.
A emenda nº 45 de 2004 em seu § 3º do artigo 1º versa:
“ § 3º - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.” (Emenda nº. 45/2004 da Constituição Federal).
Com o advento desta emenda, o Pacto de San José da Costa Rica tem natureza supralegal, o que confere maior efetividade em sua aplicação no ordenamento jurídico do Estado brasileiro, visto que formalmente foi incorporado ao direito positivado interno e está acima das leis ordinárias e complementares, que, em tese deveria ser sinônimo de: pacta sunt servanda. 
Entretanto quando a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 153 impetrada pela Ordem dos Advogados do Brasil questionou a constitucionalidade da Lei da Anistia, precipuamente, no que se refere a prática de homicídio, desaparecimento forçado, abuso de autoridade, lesões corporais, estupro, entre outros crimes, praticados pelos agentes públicos, pois conforme a entidade, estes agentes teriam praticados crimes comuns e não crimes políticos ou conexos e, deste modo, seria irregular a extensão do condão da anistia a eles, e argumentou com a controvérsia constitucional sobre a lei federal anterior à Constituição que recepcionada pelo novo ordenamento jurídico deveria ser interpretada e aplicada à luz dos preceitos e princípios fundamentais consagrados na nova Constituição, porém a Corte julgou totalmente improcedente a ADPF por 5 votos a 2 revalidando a Lei nº. 6.683/79.
Em face de alguns argumentos utilizados para a improcedência da ação, como ou o “momento de transição conciliada”, a revisão do texto legal incumbida ao Poder Legislativo, entre tantos outros, a Corte Suprema, com a devida venia, eximiu-se de analisar as questões concernentes a principal função do órgão cúpula do poder judiciário, que compete a guarda da Constituição, conforme definido no art. 102 da CRFB/88, visto a afronta ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, e por consequência pacificar o conflito entre as normas vigentes no mesmo ordenamento.
Perante toda a reflexão obtida pelo exposto, tem- se que o Pacto de San José da Costa Rica e o Princípio da dignidade humana que permeia a CRFB em contraste a nº Lei 6.683/79 representam normas incompatíveis, pois são contraditórias caracterizando o conceito de ANTINOMIA:
Durante o processo hermenêutico, pode advir contradição entre normas integrantes do sistema, denominada de antinomia. Tércio Sampaio Ferraz, ao explicitar o tema, conclui que a antinomia jurídica perfaz-se quando: as normas conflitantes emanem de autoridades competentes, num mesmo âmbito normativo; contradigam-se por possuírem operadores opostos (permissão e proibição) e conteúdos refletindo negação interna um e outro (prescrição de atuação e prescrição de omissão); e, por fim, criem posição insustentável do sujeito destinatário da norma. 
Neste sentido, no exemplo de antinomia na questão da prisão do depositário infiel, precedente do STF, foi decidido:
Portanto, diante do inequívoco caráter especial dos tratados internacionais que cuidam da proteção dos direitos humanos, não é difícil entender que a sua internalização no ordenamento jurídico, por meio do procedimento de ratificação previsto na Constituição, tem o condão de paralisar a eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante. Nesse sentido, é possível concluir que, diante da supremacia da Constituição sobre os atos normativos internacionais, a previsão constitucional da prisão civil do depositário infiel (...) deixou de ter aplicabilidade diante do efeito paralisante desses tratados em relação à legislação infraconstitucional que disciplina a matéria (...). Tendo em vista o carátersupralegal desses diplomas normativos internacionais, a legislação infraconstitucional que com eles seja conflitante também tem sua eficácia paralisada. (...) Enfim, desde a adesão do Brasil, no ano de 1992, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos 'Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), não há base legal par aplicação da parte final do art.5º, inciso LXVII, da Constituição, ou seja, para a prisão civil do depositário infiel." (RE 466343, Voto do Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgamento em 3.12.2008, DJe de 5.6.2009).
Este precedente evidencia a decisão do poder judiciário em considerar a paralisia da eficácia de parte da norma CONSTITUCIONAL que conflita com a Convenção Interamericana de Direitos Humanos afirmando sua função jurisdicional de solucionar conflitos e interpretar as normas redigidas pelo Poder Legislativo. O que não ocorreu na decisão acerca da aplicabilidade da anistia em face da incompatibilidade ao tratado ratificado e promulgado democraticamente. 
Deste modo, é entendido que o Supremo Tribunal Federal com o precedente no caso da prisão ilegal decidiu acerca do tema levando em consideração o Princípio Interpretativo Pro Homine, ou seja, a norma que mais amplia o direito assegurado ao homem é a que deve preponderar, em outras palavras, a norma que assegura de maneira eficaz o exercício desse direito, neste seara as palavras do ilustre Valerio de Oliveira Mazzuoli:
Quando há conflito entre a lei ordinária e o tratado internacional de direitos humanos, desde que este seja mais favorável, vale o tratado (que conta com primazia, seja em razão da sua posição hierárquica superior, seja em razão do princípio pro homine). Pouco importa se o direito ordinário é precedente ou posterior ao tratado. Em ambas as hipóteses, desde que conflitante com o DIDH, afasta-se a sua aplicabilidade (sua validade). O tratado possui "eficácia paralisante" da norma ordinária em sentido contrário.
Finalmente entende-se que a Lei da Anistia limita o gozo do Princípio da Dignidade da Pessoa humana, impedindo a consecução dos direitos previstos na Convenção Interamericana de Direitos Humanos gerando o conflito entre normas, a antinomia. Este conflito entre normas dificulta a interpretação destas, reduzindo a segurança jurídica, dado que o Direito é uma ordem una, coerente e completa, conforme as lições do ilustre autor Hans Kelsen. 
À vista disso, esta incompatibilidade só poderá ser sanada mediante o trabalho do intérprete das normas, neste caso, a Corte do Poder Judiciário brasileiro, que já trouxe precedente para este tipo de conflito utilizando o Princípio Interpretativo Pro Homine, e a conseqüente paralisação da eficácia da norma que restringe o direito assegurado ao homem, deste modo efetivando os direitos previstos na Convenção que foram limitados em razão da Lei nº. 6.683/79.

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