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PRISCILLA FARIA 1 ANEMIAS CARENCIAS Hemoglobina: o principal constituinte da hemácia o Tem 1 radical Heme e 4 cadeias de globina (pareadas de 2 a 2) o Função: capta o oxigênio, transporta e libera nos tecidos Anemia é a redução da massa eritrocitária, comprometendo a capacidade de oxigênio tecidual hipóxia Mecanismo de produção de anemia: 1. diminuição da produção de hemácias 2. destruição aumentada das hemácias –anemias hemolíticas 3. perda de sangue – trauma ANEMIA FERROPRIVA o Deficiência de ferro prejuízo da síntese de hemoglobina o Frequência alta na população subnutrida ou desnutrida no nosso país Ferro Constituinte essencial da hemoglobina (radical heme) Ingerida na alimentação (Fe +3 - menos absorvido) - No estômago, o Fe +3 é reduzido à Fe +2 pelo HCl – forma ferrosa – e será mais bem absorvido Absorvido no intestino delgado alto (duodeno e jejuno proximal) Cai na corrente circulatória e se liga à transferrina (transporta melhor o ferro para tecidos) Ferro direcionado para tecidos que mais precisam medula óssea (Hb), músculos (mioglobina). No SRE (fígado, baço e medula óssea) há reserva de ferro na forma de ferritina e hemossiderina Há baixa eliminação de ferro na urina, nas fezes e no suor Mulheres em idade fértil tem uma reserva menor de ferro já que elas perdem na menstruação PRISCILLA FARIA 2 Causas da deficiência de ferro: o Ingestão insuficiente de ferro – comum em lactantes e crianças pequenas. Leite pós desmame é pobre em ferro. o Deficiência na absorção alteração na mucosa do intestino delgado o Perda sanguínea aguda ou crônica – principalmente por menometrorragia no sexo feminino e sangramento digestivo no sexo masculino Quadro clínico pobre o Adnamia o Sonolência o Cansaço aos esforços progressivamente o Instalação lenta o Palidez cutâneo e mucosa o Precórdio hiperdinâmico – taquicardia, sopro sistólico de ejeção Diagnóstico laboratorial o Hemograma * o dosagem de ferro sérico * o dosagem de ferritina sérica Hemograma Hemoglobina baixa Hematócrito baixo Hematimetria normal ou baixa – hemácia/mm3. Quando está baixo subentende que é antigo Índices hematimétricos: o HCM baixa e VCM baixo (anemia microcítica hipocrômica o Hemácia torna-se hipocrômica (1ª alteração morfológica) volume menor (microcíticas) até aqui hematimetria está normal prejuízo no número de células já observando hematimetria mais baixa Reticulócitos normais ou baixos (precursor da hemácia) – célula anucleada, mas ainda não é madura. Leucócitos e plaquetas normais (porque não afeta células brancas) Hematoscopia: anisocitose com microcitose. Saturação de Hb baixa Anisocitose – hemácias de tamanho diferentes Coinocitose - Formas diferentes Outros exames: o Ferro sérico diminuído (Normal de 75 a 150 micrograma/dl) o Ferritina sérica diminuída PRISCILLA FARIA 3 o Capacidade de combinação da transferrina (CCT) aumentada – observo muita transferrina livre sem ferro para ligar o Aspirado de MO: redução dos estoques de ferro Tratamento: Identificar e corrigir a causa Reposição do ferro Dieta – não consegue absorver ferro suficiente para repor o que já perdeu e elevar seu estoque. Sendo necessário repor com medicamento Ferro medicamentoso – oral ou parenteral o Acompanhamento com exames periódicos o Tratamento longo para reposição de estoque – no mínimo 3 meses. Após o aumento sérico tenho que manter o uso de medicamento para fazer a reposição de estoque ANEMIA MEGALOBLÁSTICA Deficiência do ácido fólico Deficiência de vitamina b12 A falta dos dois prejudica a síntese de ácido nucleico diminui a divisão celular diminui produção de hemoglobina Afeta todas as linhagens hematopoiéticas Compromete outros tecidos além do hematopoiético principalmente a mucosa do tubo digestivo Ácido fólico o Ingestão na alimentação – vegetais verdes crus, sementes, vísceras o Não sofre alteração no estômago o Absorvido no intestino delgado alto o Cai no sangue e não é transportado por nenhuma proteína transportadora o Distribuído para todos tecidos o Estoque limitado o Deficiência em situação de aumento de demanda: gravidez, anemia hemolítica, alcoólatras. o Álcool impede a metabolização do ácido fólico para a síntese de ácido nucleico o Recomendado que mulheres grávidas façam a reposição por medicamento de ácido fólico PRISCILLA FARIA 4 Vitamina B12 o Ingerida na alimentação – principalmente de origem animal. Raro ter anemia por ausência de dieta o Sofre alteração no estômago: liga-se ao fator intrínseco essencial para sua absorção no íleo já que as enzimas só reconhecem o fator intrínseco. Na ausência deste, não há absorção o Absorvida no íleo o Transportada pela transcobalaminas no sangue o Distribuídas para todos os tecidos o Estoques amplos – músculos principalmente o Deficiência em situações que prejudicam a absorção: deficiência do fator intrínseco ou alteração na mucosa do íleo terminal o Mais frequente em idosos – por adquirir atrofia gástrica ou tem alteração intestinal Quadro clínico o Adnamia, o Sonolência o Cansaço aos esforços o Palidez cutâneo e mucosa o Precórdio hiperdinâmico o Atrofia da mucosa digestiva o Língua lisa (dificuldade de replicação da mucosa – ocorre tb em toda a mucosa o diarreia intermitente Quadro neurológico – degeneração combinada subaguda) apenas na Deficiência de vitamina b12 . Não ocorre na deficiência de ácido fólico parestesia nas extremidades (em luva ou em bota) simétrica. Pode ter hiperreflexia profunda, alteração de equilíbrio, perda da orientação no espaço, alterações de memória, alterações de linguagem. Diagnóstico diferencial em demências na 3ª idade. Quadro laboratorial Hemograma o Hematimetria baixa o Hematócrito baixo o Hemoglobina variável o VCM elevado (anemia macrocítica) porque não conseguem dividir o Reticulócitos baixos o Leucopenia moderada (precursores também grandes) o Plaquetopenia moderada (megacariócitos grandes) Dosagem sérica baixa de ácido fólico ou vitamina B12 PRISCILLA FARIA 5 Aspirado de medula óssea com precursores megaloblásticos em todas as linhagens e divisões celulares aberrantes Tratamento o Dieta o Reposição de ácido fólico (oral) ou ácido folínico (parenteral) o Reposição de vitamina B12 (parenteral) o Tratamento longo ou permanente o Acompanhamento com exames periódicos Anemia perniciosa o Doença autoimune o Produz anticorpos que destroem células parenterais do estômago ou destroem o fator intrínseco consequentemente há uma anemia megaloblástica Anemia hemolítica Normalmente 90-120 dias a meia vida das hemácias. Elas são destruídas pelas células do sistema retículo endotelial (baço, fígado e medula óssea). A hemoglobina metabolizada em bilirrubina indireta. Esta é conjugada no fígado sendo posteriormente eliminada nas fezes na forma de urobilinogênio e na urina. A medula óssea constantemente repõe as células. Anemia hemolítica Destruição precoce das hemácias Velocidade de destruição aumentada e meia vida encurtada Hiperplasia eritroide medular compensatória Medula tenta compensar aumentando a velocidade de produção de hemácias por um tempo organismo posteriormente se torna anêmico Classificação: Quanto ao local se hemólise – o Intravascular– denota um processo grave o Extra-vascular (no retículo endotelial – fígado, baço e medula óssea) – maior parte. Quanto à causa: PRISCILLA FARIA 6 o intrínseca (defeito na estrutura da hemácia por isso são destruídas precocemente) o extrínsecas (hemácias normais destruídas por um fator externo) Quadro clinico: (parecido em todas as anemias) o palidez o icterícia – pelo aumento da bilirrubina indireta pela destruição aumentada de hemoglobina o hepatoesplenomegalia – na extravascular. o hemoglobinúria (hemoglobina livre na urina. Quando houver hemólise intravascular) Quadro laboratorial: Hemograma o Hematimetria, hematócrito e hemoglobina baixos o Reticulocitose (aumenta a quantidade de precursores no sangue periférico). Normal:0,5 a 1%. Medula óssea libera maior quantidade de precursores pra compensar a velocidade de destruição das hemácias aumentada o Eritroblastos no sangue periférico (hemácia ainda mais imatura que reticulócitos. Ainda contem núcleo. Estritamente medular normalmente. o Índices hematimétricos variáveis o Anisopoiquilocitose – hemácias de vários tamanhos diferentes o Leucócitos e plaquetas normais. Obs: no hiperesplenismo – pode haver sequestro de plaquetas Bilirrubina indireta aumentada Hemoglobina livre no plasma e Hemoglobinúria se hemólise intravascular Anemia hemolítica intrínseca – genéticas. Anemia crônica. São produzidas com algum defeito estrutural. Indivíduo já nascem com ela. o Por alteração na membrana – esferocitose hereditária o Por alteração metabólica – deficiência de G6PD. Raro o Por alteração na hemoglobulina – síndromes falcêmicas e talassêmicas Anemia hemolítica extrínseca – tem fator externo o Por anticorpos – principal causa o Por toxinas - bacterianas o Por parasitos - malária o Mecânicas – choque PRISCILLA FARIA 7 Intrínseca por alteração de membrana: Esferocitose hereditária o Caracteriza por alteração na estrutura proteica da membrana plasmática o Perda de fragmentos de membrana tem tamanho reduzido o Alteração da forma: esferócitos (normal é discoide/bicôncavo maleável e deformável ) com tamanho e volume menor que a normal o Redução de flexibilidade se torna mais rígida menos deformável lentificação do fluxo (normalmente ela é flexível para passar melhor nos vasos) o Aumento da permeabilidade ao sódio e à água (se torna mais porosa) e excede a capacidade de saída de água e sais pela bomba hemólise osmótica (ocorre dentro dos vasos sanguíneos) o Ao passar pelo SRE são vistas como diferentes devido à sua morfologia Destruição pelo SRE principalmente no baço (hemólise extravascular) pode apresentar esplenomegalia o Ela continua com a função de transporte de oxigênio Quadro: palidez, icterícia, esplenomegalia o VCM diminuído, esferócitos o Exacerbação de hemólise em períodos de doenças (viroses) Tratamento permanente: Reposição de ácido fólico – medula óssea sempre trabalhando para fazer mais hemácias, acaba com o estoque de ácido fólico podendo causar um processo de anemia carencial pela deficiência de ácido fólico (gastou todo o ácido fólico) Terapia transfusional (em períodos de agudização) Esplenectomia (com esplenomegalia volumosa) – melhora da anemia e dos desconfortos de dor e respiração. Perde o principal local de hemólise. Não fazer antes da fase adulta – é um órgão de defesa importante principalmente na infância que tornaria o paciente mais suscetível a hemófilos e estreptococo Sobrevida razoável. Pode ter períodos de agravamento da doença Na esplenomegalia muito volumosa: Distensão da cápsula esplênica causa dor e compressão do diafragma – dificuldade de respiração. Hiperesplenismo –pode acarretar sequestro também de plaquetas Suplementar sempre ácido fólico nas anemias hemolíticas Raramente tem-se deficiência de vitamina B12. Deficiência de glicose 6P desidrogenase PRISCILLA FARIA 8 o Rara o Deficiência de enzima atua no metabolismo normal da hemácia o Redução da produção de glutationa (protege a hemoglobina de substâncias oxidativas) o Hemoglobina fica exposta à degeneração oxidativa o Hemácia não serve mais para transporte de oxigênio o Hemoglobina precipita e formação de corpúsculos de Heinz reconhecidas como alteradas hemólise pelo SER o Hemólise crônica com períodos de exacerbação por exposição à substâncias oxidantes em quadros infecciosos o Tratamento contínuo de: ácido fólico, hemotransfusão em fases agudas, evitar substâncias oxidativas o Causa icterícia severa no recém-nascido (Diagnóstico diferencial de icterícia neonatal) o Aparecimento precoce dos sintomas o Costuma não haver esplenomegalia Deficiência de piruvato cinase também importante* Anemia hemolítica extrínseca por anticorpos Doença adquirida Pode aparecer em qualquer faixa etária Anticorpo se liga à receptores na superfície da hemácia (antígenos) normal e é reconhecida como “anormal” Isoanticorpos: o Transfusão ou transferência placentária Doença hemolítica do RN o Transfusão de sangue incompatível – de outra pessoa o Hemólise grave o Com componente intravascular e também componente extravascular. Quanto mais hemólise intravascular, mais grave o Processo autolimitado – agudas no primeiro momento. Depois que o anticorpo é todo consumido, a anemia desaparece Auto anticorpo o Desarranjo do sistema imunológico – produção de anticorpos contra seus próprios antígenos que destroem suas hemácias o Anemia hemolítica autoimune primária – anticorpo especifico contra suas hemácias o Anemia hemolítica autoimune secundária – não é especifica das hemácias. Sistêmico. Secundária à outra doença autoimune. Ex: LUPUS, outras colagenoses, doenças linfoproliferativas como LLC e linfomas o Diagnóstico: Teste de Coombs direto – (identifica o anticorpo ligado à hemácia) e/ou indireto (anticorpos livres no plasma) positivos PRISCILLA FARIA 9 o Fazer pesquisa de anticorpos identificáveis e procurar saber sua especificidade o Dificuldade para encontrar sangue compatível para transfusão – reage com as hemácias que tento transfundir. Fazer transfusão somente em último caso (risco de óbito) o Tratamento com imunossupressores – em altas doses para suprimir rapidamente o autoanticorpo. Tratamento prolongado dependendo da resposta do paciente. o Pode ser tratado com imunoglobulinas e esplenectomia o Paciente pode ser corticorresistente ou corticodependente – retirada do corticoide acarreta ressurgimento dos anticorpos) o Normalmente não tem esplenomegalia Extrínseca de outras causas: o Por toxinas: toxinas bacterianas (hemolisinas), venenos de cobras – Estafilococo aureus, Clostridium sp. Hemólise cessa com o fim da hemolisina o Por parasitos intra-hemáticos malária o Por causas mecânicas choque da hemácia nos depósitos de fibrina na parede vascular devido à síndrome de hipercoagulabilidade (Síndrome hemolítica urêmica – SHU e Purpura trombocitopênica trombótica - PTT) e nas próteses valvulares Síndromes falcêmicas Defeito estrutural na molécula de hemoglobina – alteração nas globinas Genético Normal: • HbA1: α2β2 (98% dos casos) • HbA2: α2δ2 (2%) - delta Na síndrome falcêmica: • HbS – hemoglobina anormal • Cadeia α normal • Cadeia βS: troca de ac glutâmico pela valina na posição 6 da cadeia β. O restante da cadeia é normal. Síndrome falcêmica – associação de um gene S com genes de outras hemoglobinas alteradas PRISCILLA FARIA 10Anemia falciforme: o ocorre quando o indivíduo herda o gene S de ambos os pais produzindo assim todas as hemoglobinas HbS. o Homozigoto. o HbS (98%) o HbA2 (2%) o Não produz nenhuma HbA1 Hb para transportar oxigênio deve estar solúvel no citoplasma. Na HbS tem facilidade grande de polimerizar no citoplasma HbS: • quando há a oferta normal de oxigênio, a hemácia é normal (formato, solúvel no citoplasma e transporte de oxigênio - não se vê alteração nas hemácias). • Falcização da hemácia: ocorre na falta de O2 (hipóxia). a hemoglobina tende a sofrer polimerização no citoplasma da hemácia. Ela forma, então, TACTÓIDES que geram alteração da forma das hemácias: forma alongada em foice. É REVERSÍVEL. Quando o fornecimento de O2 retorna, ela assume a forma normal (desfalcização). Esse ciclo só consegue ser mantido por 4 vezes. Depois disso, a hemácia não consegue retomar a forma original ficando falcêmica. • A forma de foice traz problemas para o indivíduo: é reconhecida pelo sistema reticuloendotelial como alterada, sendo removidas cedo do organismo anemia hemolítica • Hemácias rígidas – quando atravessam os vasos de pequeno calibre não conseguem se deformar tendem a formar um aglomerado de hemácias impactando os vasos causando microtrombos áreas isquêmicas que posteriormente fazem microfibroses Doença sistêmica – afeta o corpo inteiro com presença de microtrombos perda da função do órgão à longo prazo Quadro clínico: • Anemia hemolítica crônica • Palidez, • Icterícia • Hepatoesplenomegalia Existem vários graus de doença • Comprometimento crônico: devido aos microinfartos PRISCILLA FARIA 11 - A longo prazo, as microfibroses vão provocar a perda funcional do órgão - Coração: forma microinfartos que levam à miocardiopatia dilatada (diminui a capacidade de contração das células miocárdicas) - Pulmões: microinfartos pulmonares levam ao comprometimento da função pulmonar e capacidade de oxigenação diminui. Há então hipóxia e uma maior falcização. Permite a instalação de bactérias (infecção bacteriana secundária) PNEUMONIAS DE REPETIÇÃO (Geralmente por Pneumococos ou H. influenzae (bactérias encapsuladas)) - Rins: a falcização afeta a medula renal então o mecanismo de concentrar a urina pelo rim está deficitário gerando HIPOSTENÚRIA, em que o pcte elimina uma urina muito diluída e, consequentemente, perde muito líquido. Ocorre DESIDRATAÇÃO. - Baço: microinfartos múltiplos nos sinusóides esplênicos microcicatrizes fibrosas fibrose esplênica (perda da função) atrofia/diminui autoesplenectomia. Predispondo a infecções por germes encapsulados. Observo baço grande na primeira década de vida seguida de autoesplenomegalia. - Fígado: microinfartos dos sinusóides hepáticos. Ocorre hepatomegalia. Substituição por tecido fibroso, porém com menor comprometimento que o baço. Assume a função de hemólise do baço, por isso aumenta de tamanho. - Pele: úlceras na perna de difícil cicatrização (pois é uma área com vascularização deficiente). Principalmente na região perimaleolar. Pode haver infecção secundária de repetição. - Sistema endócrino: ocorre comprometimento da produção hormonal – hipotálamo, hipófise, tireoide, sexual. Puberdade tardia. Deficiência de crescimento. - Vesícula biliar: cálculos de bilirrubinato de Ca++. Isso ocorre em QUALQUER anemia hemolítica crônica (ex: talassemia). Hb liberada na hemólise é convertida em bilirrubina indireta e o seu excesso pode levar a formação de cálculos na vesícula. • Comprometimento agudo (crises agudas de vasooclusão e de hiperhemólise): ocorre exacerbação desse fenômeno em alguns momentos da vida do indivíduo. Geralmente existe algum desequilíbrio agudo que leva a essa falcização. - Sistema osteoarticular: dores ósseas e/ou articulares, edema, calor, limitação funcional. Ocorre devido a vasooclusão que acomete os vasos que irrigam o periósteo e a cápsula articular causando a dor. Pode ter acometimento secundário infeccioso, mas é raro. - SNC: AVC devido a vasooclusão no SNC. Pode ter crise convulsiva, déficit motor importante, etc. Trombos falcêmicos ocluindo regiões focais no cérebro. Existe susceptibilidade de alguns pacientes para desenvolverem AVCs de repetição e pode deixar sequela PRISCILLA FARIA 12 - Sistema genital (masculino): priaprismo. Não ocorre em qualquer paciente em alguns pacientes há priaprismo de repetição e pode deixar sequela - Crises de dor abdominal: devido a microinfartos mesentéricos. Simula apendicite, abdome agudo, etc. - vasos da retina também são acometidos: exame de fundo de olho Fatores desencadeantes para crise de falcização: • HIPÓXIA – principal fator • Desidratação • Acidose • Febre • Estresse (dor, psicológico) • INFECÇÕES: muitas vezes pode levar o indivíduo a vários desses fatores desencadeantes (hipóxia, febre, acidose, ...). infecções podem exacerbar a crise falcêmica. • EXERCÍCIO FÍSICO INTENSO: Leva à acidose láctica e desidratação Quadro laboratorial: • Htm, Hto, Hb baixos • Reticulocitose (devido à medula óssea tentando compensar) • Eritroblastos no sangue periférico • Índices Hematimétricos normais • normocítica e normocrômica • Anisopoiquilocitose intensa com numerosas hemácias em foice • Leucócitos normais - Se tiver uma infecção – tenho leucocitose • Plaquetas normais • Exclusiva das células vermelhas. • Eletroforese de Hb fecha o diagnóstico HbS 98% HbA2 2% Pcte com anemia falciforme NÃO tem HbA1. A não ser que tenha recebido, recentemente, menos de 90 dias, transfusão sanguínea PRISCILLA FARIA 13 • Bilirrubina indireta aumentada – devido a hemólise causado icterícia Tratamento: 1) Durante as crises: • Hidratação: Os trombos da anemia falciforme é MECÂNICO provocado pelo "bolo" de hemácias que faz vasooclusão. Hidratação para desfazer esses trombos • Alcalinização: para tratar a acidose • Oxigênio: para tentar reverter a falcização • Analgesia: aliviar o estresse da dor. Ex: dipirona, morfina (mais potente). Dor perpetua a falcização • Transfusão de concentrado de hemácias: oferece vantagem de dar um aporte de hemácias normais e que não vão sofrer falcização levando fluxo sanguíneo e oxigênio aos tecidos. CUIDADO: essa transfusão pode aumentar mais ainda a viscosidade de sangue de forma aguda (paciente com crise vasooclusiva tem alta viscosidade sanguínea). Isso, portanto, pode favorecer ainda mais a falcização se tiver hematócrito mais que 20. O que fazer? Faz uma sangria antes e repõe com uma bolsa de concentrados normais. Isso não aumenta o hematócrito Transfusão de Troca (exsangineotransfusão parcial). Muito usado para AVC e crise de priaprismo • Tratamento de infecções: antibioticoterapia para tratamento objetivando remover a infecção e retirar o paciente da crise. 2) Período intercrítico: • Evitar fatores desencadeantes • suplementação permanente para Ac fólico: usado para qualquer anemia hemolítica crônica para repor as hemácias perdidas. • Vacinação para Pneumococos e Haemophilus • Hidroxiureia: tem a capacidade de fazer o indivíduo voltar a produzir HbFetal (ela desaparece quando o indivíduo nasce sendo substituída pela HbA1). Vantagem: o indivíduo poderá passar a ter uma Hb apta para levar O2 aos tecidos. Desvantagem: não tão boa/ideal para oxigenar um indivíduo nas condições de respiração aérea pelo fato de ter alta afinidade pelo O2. Ainda não se sabe muito sobre essa droga nem sobre seus efeitos colaterais. Não pode, portanto, ser usada indiscriminadamente.• Hemotransfusões PRISCILLA FARIA 14 Traço Falcêmico o o indivíduo produz tanto cadeias normais como cadeias S. o HETEROZIGÓTICA. o HbA1 (55%) – sempre predomina HbA1 em relação à HbS o HbS (43%) o HbA2 (2%) o Por definição, esse indivíduo é ASSINTOMÁTICO - a presença da HbA1 PROTEGE esse paciente contra a falcização o É descoberto pelo TESTE DO PEZINHO! o Toda a sintomatologia depende da falcização das hemácias o É importante que o anestesista saiba que o pcte tem traço falcêmico para monitorar a oxigenação do pcte. o Hemograma: é sempre normal! o Tratamento: não requer tratamento! o Eletroforese aparece HbA1 e HbS Microdrepanocitose o Tem uma clínica muito parecida com a da Anemia Falciforme porém, é mais branda. o metade de suas Hb são HbS. o Diagnóstico: feito pela eletroforese. o Tratamento: o mesmo da anemia falciforme. Doença da HbS-C o O indivíduo possui HbC e HbS. o Clinicamente é muito parecida com a anemia falciforme, porém, é mais branda. o Como o indivíduo tem menos HbS ele falciza menos. A falcização só se manifesta em indivíduos homozigotos. o Diagnóstico: eletroforese. o Tratamento: o mesmo da anemia falciforme, quando é necessário. Síndromes talassêmicas Redução numérica na síntese de uma das cadeias de globina, resultando em desproporção entre as cadeias. Genes talassêmicos são originados principalmente do mediterrâneo. No Brasil, vêm do Sul. Causa genética: Indivíduo herda gene que causa desproporção. Ex: indivíduo herda complexo alfa, acarretando diminuição na produção de cadeia alfa. PRISCILLA FARIA 15 • Alfa-talassemia: produção diminuída de cadeias alfa. • Beta-talassemia: produção diminuída de cadeias beta. Para compreender essa desproporção, é preciso analisar a vida intrauterina. • 6ª semana de vida intrauterina: começa produção de cadeias alfa + começa produção de cadeias gama (produção de HbF = alfa2gama2; sua avidez pelo oxigênio é maior). • 6º mês de vida intrauterina: começa produção de cadeia beta (produção de HbA1 = alfa1beta2) e produção de cadeia gama se reduz. • Ao nascimento: substituição de cadeia gama por beta aumenta; 20% de hemoglobina q • 6º mês de vida extrauterina: síntese de gama cessa, permanecendo apenas beta e alfa. Bebê assume padrão de 97% de HbA1. Permanência de hemoglobina fetal prejudica a oxigenação dos tecidos porque sua avidez por O2 é maior. (Anexar gráfico de produção). Alfa-talassemias o Gene determina diminuição de produção da cadeia alfa. Como é essencial para produção de hemoglobina fetal, afeta oxigenação do feto desde vida intrauterina. o Na vida intrauterina: leva ao excesso relativo de cadeias gama, que se ligam acarretando formação de tetrâmeros de cadeias gama e consequentemente produção de Hb Bart (alta afinidade pelo O2). Essa hemoglobina tem avidez exagerada pelo O2, sendo má oxigenadora dos tecidos. Caso o feto tenha porcentagem grande de Hb Bart (ex: homozigose para o gene), terá hipóxia incompatível com a vida. o Na vida extrauterina: leva ao excesso relativo de cadeias beta, com formação de tetrâmeros de cadeias beta e formação de HbH. o Há três tipos: o Alfa-talassemia major (homozigose): produção muito diminuída de cadeias alfa; grande quantidade de Hb Bart com HIPÓXIA TECIDUAL SEVERA. É incompatível com a vida, acarretando aborto. o Alfa-talassemia intermédia (heterozigose): diminuição moderada das cadeias alfa; desenvolve-se Doença de HbH. o Alfa-talassemia minor (heterozigose): leve redução das cadeias alfa; traço talassêmico. Beta-talassemia o Produção diminuída de cadeias beta. PRISCILLA FARIA 16 o Na vida intrauterina: como na vida intrauterina a cadeia beta não é importante, as betatalassemias não têm expressão na vida intrauterina. o Na vida extrauterina: não ocorre substituição gradativa das cadeias gama pelas cadeias beta, ocorrendo excesso relativo de cadeias alfa (tetrâmeros de alfa) e persistência hereditária de HbF. Há três tipos: o Beta-talassemia major: diminuição de Hb A1, elevação de HbF e tetrâmeros de alfa; o Beta-talassemia intermédia: produção mais significativa de HbA1; o Beta-talassemia minor: pequena produção de HbF, tetrâmeros de alfa; proporção de HbA1 é quase normal. Nas talassemias, a sintomatologia das doenças é contrária à quantidade de produção de cadeias, diferentemente da anemia falciforme. Ex: nas talassemias alfa, quanto mais cadeias alfa indivíduo consegue produzir, melhor a sintomatologia. Lembrando que na anemia falciforme ocorrem crises de falcemização, que determinam sintomatologia também. Sintomatologia das síndromes talassêmicas Anemia o Ocorre por dois motivos principais: o Anemia por déficit: microcítica e hipocrômica: déficit de produção de hemoglobina: MO produz menos moléculas por causa da desproporção, similarmente à anemia ferropriva, ocorrendo anemia microcítica e hipocrômica. o Anemia por hemólise crônica (hemácias formam corpúsculos de Heinz por precipitação no citoplasma), já que as hemoglobinas anormais (tetrâmeros de cadeias alfa, beta e HbF) são instáveis. Quadro clínico A intensidade dos seguintes sintomas compõem o quadro clínico: • Palidez, icterícia, precórdio hiperdinâmico: por produção menor de homoglobina e hemólise. • Hepatoesplenomegalia volumosa: principalmente nas formas major e intermédia. • Déficit de crescimento: ocorre por conta da síndrome anêmica muito grave, com hipoxemia. • Deformidades ósseas: ocorre por hiperplasia de MO compensatória de anemia PRISCILLA FARIA 17 hemolítica crônica. As formas mais graves apresentam necessidade constante de transfusões e correm risco de desenvolvimento de IC grave, além das comorbidades da sintomatologia, tendo expectativa de vida muito reduzida. Exames laboratoriais Hemograma • Htm, hto, hb baixos: pela baixa produção e lise. • Reticulocitose: pela tentativa de compensação medular. • HCM e VCM baixos. • Corpúsculos de Heinz. • Hemácias em alvo: hemácias microcíticas hipocrômicas com área de palidez central grande, e corpúsculos de Heinz podem formar conglomerados no meio, parecendo um alvo à hematoscopia. • Leucócitos e plaquetas normais, exceto no hiperesplenismo (hepatoesplenomegalia muito volumosa - principalmente na major - tende a levar sequestro de células sanguíneas na circulação esplênica). Hemograma em si não leva ao diagnóstico, mas a eletroforese de Hb sim. Eletroforese de Hb Alfa-talassemias: o Vida IU: HbF, Hb Bart (eletrofrorese na vida IU não é feita); o Vida EU: HbA1 (maior na minor, menor na major), HbH (maior na major, menor na minor), o HbA2; Beta-talassemias o Vida IU: HbF; o Vida EU: HbA1 (menor na major, maior na minor), HbF (maior na major, menor da minor), tetrâmeros de cadeias alfa (maior na major, menor na minor), HbA2. Tratamento o Formas MINOR não requerem TRATAMENTO. o O tratamento das formas major e intermédia é feito utilizando: • Ácido fólico; PRISCILLA FARIA 18 • Transfusão de concentrado de hemácias frequentes(politransfusão): depende da gravidade. Uma complicação crônica é a concentração elevada de ferro, com hemossiderose secundária. • Quelantes de ferro: droga que facilita eliminação de ferro pelo organismo; melhor via é a subcutânea; remove ferro e acarreta secreção renal. Quanto maior o tempo de exposição, melhor (uso de bomba infusora é indicado; já há quelantes de ferro VO, porém são caros). • Transplante de MO; os candidatos principaissão os mais graves (major). • Esplenectomia: para casos major e intermédio, sobretudo quando há hiperesplenismo (por causa das hemólises extravasculares, que com isso diminuem); não altera curso da doença mas melhora sintomas. Hemossiderose primária: organismo absorve mais ferro do que deveria; distúrbio metabólico. Hemossiderose secundária: ferro em excesso acumula-se no tecido; pele se torna acinzentada. Caso o acúmulo ocorra no coração, pode levar à morte em alguns anos de transfusão de sangue. Hemostasia Hemostasia é um conjunto de vias do organismo que visa à manutenção da fluidez do sangue e sua circulação, bem como suas funções. Quando o equilíbrio dessas vias não é mantido, vemos distúrbios da hemostasia, que acarreta (1)estados hemorrágicos (2)estados de hipercoagulabilidade. Hemostasia primária Ocorre da seguinte forma: 1) Lesão vascular com exposição do tecido subendotelial, que contém colágeno (principal substância ativadora de plaquetas), dentre outras moléculas. 2) 1ª fase da função plaquetária : adesão ao colágeno; 3) Liberação de substâncias do citoplasma plaquetário; 4) 2ª fase da função plaquetária: agregação das plaquetas entre si. 5) Forma-se tampão hemostático primário ou tampão branco. É instável, de forma que as ligações entre as plaquetas se afrouxam com a tendência de se romperem. Por isso é necessário que ocorra a hemostasia secundária. 6) As plaquetas são as grandes responsáveis pela hemostasia primária. Precursores das plaquetas são os megacariócitos, que se fragmentam, formando-as. Para que a hemostasia primária ocorra é preciso: - Plaquetas em número adequado; - Plaquetas funcionantes. PRISCILLA FARIA 19 Hemostasia secundária Os fatores de coagulação o são proteínas o produzidas pelo fígado o liberadas na circulação em sua forma inativa, sendo ativados apenas sob necessidade/processo hemorrágico. Isso significa que coagulação e a fibrinólise (quebra de fibrina) devem manter-se em equilíbrio. Por isso, sua função requer: - Funcionalidade do fígado para produção de fatores de coagulação; - Funcionalidade do fígado para produção de plasminogênio. A hemostasia secundária é dividida didaticamente em duas vias diferentes, que ocorrem concomitantemente. O objetivo de ambas é a formação da fibrina. Via intrínseca: 1) Lesão vascular com exposição do colágeno; 2) Ativação de XII em XIIa; 3) XIIa ativa XI em XIa; 4) XIa ativa fator IX, transformando-o em IXa; 5) IXa se liga ao fator VII; 6) Via comum* se segue. 7)*IXa + VIIIa se liga ao X, tornando-o Xa. Xa se liga ao V. Protrombina (II) se torna trombina. Fibrinogênio (I) se torna fibrina. Fator XIII é ativado em XIIa pelo colágeno e se liga à fibrina, estabilizando-a. 8) Coágulo estável. Via extrínseca: mais curta, utiliza menos fator de coagulação. 1)Lesão vascular; 2)Além do colágeno, é liberada tromboplastina tecidual; 3)Tromboplastina tecidual + VII; 4)Via comum se segue (ver acima). A via intrínseca e a via extrínseca são interdependentes: para que ocorra coagulação estável, é preciso que ambas estejam funcionando. É preciso que haja um mecanismo para regular a produção da fibrina a fim de que essa coagulação não se tornasse excessiva. Esse mecanismo é a fibrinólise. Fibrinólise Fibrinólise é o mecanismo fisiológico que se contrapõe à coagulação. Ocorre da seguinte forma: 1) Ativadores (células endoteliais, lisossomos) ativam plasminogênio quando há excesso da fibrina, produzido por fígado. 2) Plasminogênio se torna plasmina, que quebra ligações estáveis feitas pelo fator XIII. 3)Fibrina é degradada em produtos da fibrinólise (inertes), que sofrem depuração hepática. Distúrbios da hemostasia primária Podem decorrer de: - Baixa quantidade de plaquetas (deve estar acima de 50.000/mm3) - trombocitopenia PRISCILLA FARIA 20 - Baixa funcionalidade de plaquetas - trombocitopatia 1)Trombocitopenias: distúrbios quantitativos das plaquetas. Trombocitopenias podem ser a) por insuficiência de produção b) por destruição aumentada. Por insuficiência na produção: A)Diminuição da produção na medula óssea; B)Hereditárias: púrpura amebacariocitocitária, Síndromes de Wiskott-Aldrich; C)Adquiridas: depressão medular por drogas, agentes químicos e físicos, agentes infecciosos, infiltração leucêmica ou tumoral, mielofibrose, mielodisplasias (diminuição de todas as linhagens hematológicas). Trombocitopenias por destruição aumentada: D1) Por mecanismo imunológico - púrpura trombocitopênica imunológica aguda (comum em crianças, desencadeada por agentes infecciosos; é benigna e autolimitada, podendo ser tratada com corticóides) ou crônica (mais comum em adultos; contagem plaquetária diminui ao longo do tempo; não há resolução espontânea*, é tratada com imunossupressores), púrpura trombocitopênica secundária a doenças auto-imunes ou a doenças linfoproliferativas. D2)Sem mecanismo imunológico - coagulopatias de consumo que acarretam trombocitopenia secundária ao consumo de plaquetas, tais como CID, PTT (púrpura trombocitopênica trombótica: pode ser acompanhada por acometimento encefálico e renal; há fase de hipercoagulabilidade e fase hemorrágica). O hiperesplenismo pode acarretar também pelo maior sequestro de plaquetas e células sanguíneas na circulação esplênica. Sempre que o paciente tiver sangramento por trombocitopenia, é indicada transfusão de plaquetas. Nessas situações com mecanismo imunológico, no entanto, é contraindicada a transfusão - A PRINCÍPIO - já que o anticorpo circulante do próprio paciente destrói as plaquetas transfundidas, além de que introdução enorme de antígenos estranhos acarreta estimulação antigênica adicional enorme, com tendência à elevação da produção de anticorpos. A única exceção a essa contraindicação são pacientes com hemorragia severa apesar do mecanismo imunológico, pois a plaqueta é rapidamente consumida no foco hemorrágico, sem que possa estimular mais o SI. 2)Trombocitopatias: distúrbios funcionais das plaquetas (adesão + agregação) com contagem plaquetária normal. São raras. A) Hereditárias - Doença de Bernard-Soulier, trombastenia de Glanzman. B) Adquiridas - provocadas por medicamentos, principalmente por antiagregantes plaquetários (uso de anti-inflamatórios como AAS: é auto-limitada). Distúrbios da hemostasia secundária 1) Coagulopatias hereditárias: herança gênica que impede produção de algum fator de coagulação. A) Hemofilias A (fator VIII - 85%), B (fator IX - 14%), C (fator XI - 1%) - deficiência de fatores da via intrínseca acarreta produção de fibrina por essa via reduzida. A hemofilia é uma herança ligada ao sexo. Quando hemorrágico caracteriza, dependendo do nível de atividade dos fatores. Pode ser leve, moderado ou grave. Acarreta hemorragias espontâneas (desde os primeiros meses de vida), hematomas musculares, hemartroses (sangramento para dentro da articulação: altamente dolorosas, podem deixar sequelas para cartilagem). Sintomas aparecem principalmente quando bebês começam a engatinhar. Atualmente não se vê tantos casos clássicos porque já há terapia de reposição dos fatores. B) Doença de vonWillebrand: fator de vonWillebrand é considerado fator adjuvante, PRISCILLA FARIA 21 auxiliando agregação plaquetária e formação de complexo com fator VIII. A função deficiente deste fator pode levar a deficiência na agregação plaquetária ou na função do fator VII. Esse fator também pode ser reposto atualmente. 2) Coagulopatias adquiridas: em geral são sistêmicas e acarretam consumo de diversos fatores. A) Consumo rápido de fatores; B) CIVD: acarretada por infecções, patologias obstétricas, neoplasias,traumatismos extensos, cirurgias. Todo tecido tem substâncias em seu interior capazes de ativar a cascata, por isso a exposição extensa desses tecidos por comprometimentos sistêmicos ou até mesmo pela exposição de tecidos placentários, ou então por focos de necrose neoplásicos pode acarretar CIVD. Ocorre da seguinte forma: 1) Liberação de grande quantidade de substâncias tromboplásticas na circulação (fase de hipercoagulabilidade); 2) Ativação dos fatores (fase de hipercoagulabilidade); 3) Formação de fibrina (fase de hipercoagulabilidade); 4) Consumo de plaquetas e fatores (contagem de plaquetas e de fatores baixa) (fase hemorrágica); 5) Fenômenos hemorrágicos e tromboembólicos simultâneos (fase hemorrágica). Deve-se utilizar anticoagulantes, transfusão e, sobretudo, afastamento do fator desencadeador. C) Doenças do parênquima hepático: hepatopatias, geralmente crônicas, comprometem produção de fatores de coagulação. D) Deficiência de vitaminas K (fatores vitamina K-dependentes dependem da absorção adequada de vitamina K para serem produzidos pelo fígado: II, VII, IX, X): quadros de diarreia crônica (eliminação de gordura com vitamina K, que é lipossolúvel). É preciso repor vitamina K. Avaliação laboratorial da hemostasia: coagulograma. Para um paciente sob suspeita de distúrbio de hemostasia ou para paciente cirúrgico, deve-se pedir: - Hemograma normal: vê-se contagem de plaquetas normal: acima de 150.000; plaquetopenia: entre 50.000 e 150.000 =. manifestações hemorrágicas brandas: entre 20.000 e 50.000 Manifestações hemorrágicas severas: menor que 20.000 - Tempo de sangramento: avalia-se função das plaquetas; faz-se dois cortes de espessura e profundidade pré-determinados com avaliação do tempo de sangramento. - PT (tempo de protrombina: normal é 75% para cima): avalia hemostasia secundária (via extrínseca) por meio da administração de substância que bloqueie via intrínseca, observando quanto tempo o sangue leva para coagular. Se levar mais tempo do que padrão, via extrínseca está levando muito tempo pra formar fibrina. - PTT (tempo parcial de tromboplastina: relação normal próxima de 1): avalia hemostasia secundária (via intrínseca). Segue o mesmo princípio do anterior. Caso ambos estejam alterados, indica-se que o problema é na via comum. - Dosagem de fatores de coagulação: não é feito em qualquer laboratório. Ex1: Paciente com anticoagulante: tudo normal, exceto por tempo de sangramento. Ex2: Paciente com CIVD na fase hemorrágica: tudo estará anormal. PRISCILLA FARIA 22 Terapia transfusional Consiste na transfusão de componentes sanguíneos para repor componentes em déficit no paciente. Transfusão do sangue total Inicialmente era feita transfusão do sangue retirado inalterado do paciente, apenas com substância anticoagulante e nutrientes que preservassem as células. • Conservação e validade: tem que ser conservado em geladeira. • Volume de cada unidade: 500 mL. • Hto: 38-50% (mantém hematócrito do doador). • Eficácia: 1U = 500 mL = elevação de 3-5% no hto ou 1-1,5g% na Hb em 48-72h. • Indicações relativas: perda aguda de sangue (superior a 1 volemia em menos de 24h), exsanguíneotransfrusão (troca total do sangue) em RN Com o tempo, passou-se a separar os componentes do sangue e transfundir apenas o necessário para o paciente, tanto devido aos efeitos adversos (decorrentes de transfusão heteróloga) evitados quanto pela necessidade restrita de certos componentes. Atualmente, todo sangue doado é fracionado em componentes. OBS: hemorragia maciça ocorre na perda de mais de uma volemia do paciente em menos de 24h. Sangue sofre centrifugação que permite separação de plasma, plaquetas e hemácias, produzindo-se concentrados de cada um desses componentes. O plasma pode sofrer mais uma separação, que será vista posteriormente. Concentrado de hemácias • Conservação e validade: Tem que ser conservado em geladeira, e a validade é de 35 dias. • Volume de cada unidade: 300mL • Hto: 65-75% • Eficácia: 1U = 300 mL = elevação de 3-5% no hto ou 1-1,5%g na hb imediatamente após transfusão. • Indicações: anemia sintomática, seja por (1)produção diminuída (aplasia, leucemia), por (2)destruição aumentada (anemias hemolíticas) ou por (3)perda sanguínea (hemorragias). • Parâmetros para indicação: depende da causa da anemia*, da velocidade de instalação da anemia**, da volemia*** e das condições clinicas do paciente****. *Anemias carenciais raramente necessitam de transfusão de concentrado de hemácias. **Anemia crônica geralmente não requer transfusão porque já ocorreram mecanismos adaptativos. ***A coexistência de hipovolemia e anemia geralmente indica transfusão. ****Condições clínicas, além da anemia, que dificultem oxigenação indicam transfusão. Concentração de plaquetas (randômica) É um componente mais difícil de conservar. Não pode der colocado na geladeira, mas conservada em temperatura ambiente controlada entre 20-24º C, na câmara de conservação de plaquetas, aonde ela fica em agitação permanente. • Conservação e validade: 5 dias após coleta, devido à chance de contaminação bacteriana pela temperatura e às propriedades das plaquetas que se perdem. • Volume de cada unidade: 50-70 mL (5,5x1010) • Dose: 1U/10kg • Eficácia: 1U = elevação de 5.000 a 10.000/mm3 PRISCILLA FARIA 23 • Plaquetas de aférese: doador é conectado em uma máquina que filtra o sangue e retém apenas as plaquetas. Volume de unidade coletada é de 300 mL (3,0 x1011), que equivale a um pool de 6 ou 7 unidades de plaqueta randômica. • Indicações: sangramento por trombocitopenia ou trombocitopatia, seja por (1) produção diminuída (leucemia, aplasia), ou por (2)destruição aumentada (hiperesplenismo, CID, destruição por anticorpos). OBS: transfusão de plaquetas para pessoas com plaquetopenia causada por anticorpos é evitada ao máximo, usada apenas em casos de sangramento, já que nesses elas serão consumidas rapidamente no foco de hemorragia, sem ativar o sistema imune para produção de anticorpos contra elas mesmas. A transfusão de plaquetas é classificada em duas modalidades: • Transfusão curativa: quanto há hemorragia independente do número de plaquetas. Visa correção do sangramento. • Transfusão profilática: quando há trombocitopenia sem sangramento. Visa profilaxia de sangramento. Antigamente era muito utilizada, mas atualmente avalia-se níveis* ou faz-se apenas anteriormente a procedimentos cirúrgicos (pré-operatório de trombocitopênicos**). Essa mudança decorreu da observação da refratariedade à plaqueta (irreversível) decorrente da transfusão de plaquetas que estimulava a produção de anticorpos, e estes destruíam a longo prazo. *Níveis críticos: <10000-2000/mm3. OBS: plaquetopenia em RN - toda vez que um RN tem contagem de plaquetas abaixo de 50000, recomenda-se transfusão de plaquetas. **Pacientes adultos trombocitopênicos com plaquetas acima de 50000 podem ser submetidos a procedimento invasivo, exceto pacientes que serão submetidos à cirurgias oftalmológicas ou neurológicas, que tem que ter plaquetas acima de 100000. Pacientes sem trombocitopenia mas com trombocitopatia por medicamentos, por ex., devem ter medicamento suspenso. Caso isso não seja possível, deve-se fazer transfusão como se fosse paciente trombocitopênico. Concentrado de leucócitos • Volume da unidade: 200 mL • 1U>1,0 x 1010 PMN (obtidos por aférese). • Indicações: pacientes neutropênicos sépticos que não respondem à terapia antimicrobiana isolada (NT<500/mm3). Atualmente quase não se faz mais essa transfusão porque leucócitos produzem muitos efeitos adversos. Plasma fresco congelado O que interessa no plasma são (1) fatores de coagulação, (2)albumina, (3)imunoglobulinas, mas atualmente a transfusãoé feita basicamente para reposição de múltiplos fatores de coagulação deficientes. Deficiência de fatores isolados é sanada por meio da reposição farmacológica pelo fator específico produzido pela indústria. • Conservação e validade: é congelado em uma temperatura de -10 ou -30ºC, durando cerca de um ano e sendo descongelado para transfusão imediata. Congelamento permite preservação da atividade dos componentes de coagulação. • Volume da unidade: 200 mL. • Indicações: reconstituição do ST para EST (exossanguíneotransfusão) e reposições volêmicas maciças, reposição de albumina, distúrbios da coagulação causados pela deficiência de múltiplos fatores, enumerados abaixo. 1)Hepatopatias; 2)CID: coagulação intravascular disseminada; 3)Uso de cumarínicos (anticoagulante); 4)Deficiência de vitamina K. Crioprecipitado ou crioconcentrado de fator VIII Plasma congelado é descongelado, centrifugado e assim o fator VIII, fator de vonWillebrand e o fator XIII encontram-se precipitados no fundo. Retira-se o sobrenadante e se fica apenas com o precipitado. Atualmente não se utiliza muito, fazendo-se reposição específica de fatores, a não ser pela reposição em casos de deficiência de fibrinogênio, que é muito mais comum do que a deficiência de fator VIII. PRISCILLA FARIA 24 • Conservação e validade: conservado como plasma, congelado; após o uso deve ser congelado novamente. • Volume da unidade: 30 mL. • Indicações: deficiências de fator VIII (hemofilia A), de fator de vonWillebrand, de fibrinogênio e de fator XIII. Hemoderivados Obtidos a partir do plasma. • Principais: concentrados de fator VIII, IX, albumina humana, complexo protrombínico. • Outros: imunoglobulinas poliespecíficas e especificas
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