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Escolas Jurídicas: Glosadores e Comentaristas

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IDADE MÉDIA (séc. V – XV) – Continuação
1 – Escola dos Glosadores: 
A escola dos glosadores foi fundada em 1088, em Bolonha, perdurando até, aproximadamente, 1250.
Irnério, monge e professor de gramática da Universidade de Bolonha, com o auxílio de seus discípulos, foi o responsável pelos estudos do Digesto. E em decorrência desse fato surgiu um movimento que deu origem a chamada Escola dos Glosadores.
Os glosadores são a primeira corrente de juristas modernos, posteriores aos romanos. Também são glosadores Acúrsio, autor da Magna Glosa, que reuniu noventa e seis mil glosas. Azo, Azzone Soldanus ou Azzone dei Porci (nome impreciso), autor da Summa Codicis. Deu-se o nome de Summae às obras que continham a reunião dessas glosas.
O nome de glosadores vem do método de ensino utilizado, vez que após uma leitura dos textos em questão, interpretava-os por meio de uma frase que era chamada glosa. 
Os glosadores examinavam o texto legal sob o ponto de vista gramatical, analisando as palavras e as frases de forma isolada do seu contexto e indiferente as modificações históricas.
Não havia sistematicidade da análise jurídica, da referida matéria entre os glosadores.
Os glosadores adotaram os brocardos, regras doutrinárias dotadas de sabedoria jurídica, como os provérbios de conteúdo moral. Os glosadores caracterizam-se pela sua fidelidade aos textos justinianeus: reconhecendo-lhe uma autoridade absoluta, reputavam inaceitável qualquer forma do seu estudo diferente de uma sua cuidadosa interpretação destinada a esclarecer a acepção dos vocábulos e a compreender o sentido dos textos.
2 - A Escola dos Pós-Glosadores ou Comentaristas.
Início na Itália, Cino da Pistoia, seu discípulo Bartolo de Sassoferrato, que seria mais tarde seu maior representante, e por Baldo Ubaldi discípulo deste último. Seus estudos não partiram da análise das leis de Justiniano, mas do exame dos casos práticos, criando uma nova Ciência Jurídica, que foi formada pela “communis opinion”, constituída pelas opiniões comuns dos doutores da época.
Sentença ou “juicio” esgotava a atividade do juiz e não poderia ser dada contra a natureza das coisas, contra as leis escritas e os bons costumes.
Impuseram o desafio de superar o modo tradicional de análise fragmentária dos textos e passaram a construir um conhecimento jurídico mais sistematizado, os juristas passavam da simples descrição das fontes históricas do direito romano, para um estudo do então denominado usus modernus pandectarum, ou seja, prática atualizada do direito romano, que implicava uma leitura renovada das fontes romanas adaptando-o às novas necessidades sociais e relacionando-o com o direito legislado e consuetudinário.
Os comentadores têm tarefas mais práticas e mais livres. Mais práticas porque começam a responder a indagações ou consultas. Mais livres porque tratam os temas sem necessariamente seguir a ordem do próprio texto romano.
IDADE MODERNA
A hermenêutica contemporânea tem base essencialmente filosófica, cujo expoente primeiro foi o teólogo protestante Friedrich Schleiermacher (1768-1834), seguido por outros importantes filósofos, como Wilhelm Dilthey (1833 - 1911), Martin Heidegger (1889 - 1976) e, principalmente, Hans-Georg Gadamer (1900 - 2002), cuja obra Verdade e Método (1960) é referência no entendimento da hermenêutica como filosofia.
Antes do século XIX não se pode indicar a existência da interpretação do direito como hermenêutica, o direito romano conheceu apenas a análise gramatical da norma. 
Schleiermacher (Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher) foi pregador em Berlim na Igreja da Trindade e professor de Filosofia e Teologia. Traduziu as obras de Platão para o alemão. Surge o protestantismo liberal, através de a hermenêutica ingressou no ramo filosófico e nas ciências culturais, passou-se a interpretar as escrituras (bíblia) pelo método histórico-crítico, para ele a bíblia era uma fonte histórico-literária e que tinha de ser separada a interpretação gramatical da técnica.
Schleiermacher e Dilthey fizeram da hermenêutica uma teoria científica da interpretação e o método das ciências do espírito ou culturais.
Dilthey (Wilhelm Dilthey ) levou a hermenêutica para o campo das atividades filosóficas, segundo ele o texto deveria ser estudado pelo contexto, e que o autor era o instrumento do "espírito da sua época". Graças a Dilthey e Schleiermacher a hermenêutica cria uma teoria normativa de interpretação, surgindo uma hermenêutica jurídica Clássica. Seus principais conceitos procuram fundamentar as "ciências do espírito" como forma de conhecimento humano, em oposição às ciências da razão.
Dilthey propõe uma filosofia histórica e relativa que analise os comportamentos humanos e esclareça as estruturas do mundo no qual vive o homem contrapondo-se a uma metafísica que se pretende colocar como imagem compreensiva da realidade e a reduzir todos os aspetos da realidade a um único princípio absoluto.
Heidegger e Gadamer criticava Dilthey e Schleiermacher. 
Heidegger descrevia a hermenêutica como uma filosofia e não uma ciência, deveria ser entendida de modo existencial e não metodológico. Este brilhante filósofo que apresentou pela primeira vez a ideia do círculo hermenêutico. São suas as palavras: "Devemos partir de uma pré compreensão para chegarmos a uma compreensão mais elaborada (interpretação), pois se partíssemos do ´vazio´ não chegaríamos a nada".
Heidegger, principal representante alemão da filosofia existencial, é o problema do sentido do ser. Heidegger aborda a questão tomando como exemplo o ser humano, que se caracteriza precisamente por se interrogar a esse respeito. O homem está especialmente mediado por seu passado: o ser do homem é um "ser que caminha para a morte" e sua relação com o mundo concretiza-se a partir dos conceitos de preocupação, angústia, conhecimento e complexo de culpa. O homem deve tentar "saltar", fugindo de sua condição cotidiana para atingir seu verdadeiro "eu".
Gadamer, segue Heidegger, defendeu a hermenêutica existencial, que deveria ser o próprio objeto da filosofia. Com esta visão, o intérprete não chegaria, através de nenhum método, a verdade, pois o próprio método já estabeleceria, o ponto que se queria alcançar. Em sua visão, o método escolhido definiria o ponto final da interpretação. Ele via a interpretação como um diálogo entre o intérprete e o texto.
Gadamer acreditava na teoria do círculo hermenêutico, com perguntas e respostas condicionadas a pré conceitos e pré juízos, sem o sentido pejorativo destas palavras em nossa atualidade. Hans-Georg Gadamer, em sua obra Verdade e Método, assegura que a hermenêutica não é um método para se chegar à verdade e que o problema hermenêutico não é, por sua vez, um problema de método. Segundo Gadamer a hermenêutica não seria uma metodologia das ciências humanas, mas uma tentativa de compreender as ciências humanas. "O jurista toma o sentido da lei a partir de e em virtude de um determinado caso dado. O historiador jurídico, pelo contrário, não tem nenhum caso de que partir, mas procura determinar o sentido da lei na medida em que coloca construtivamente a totalidade do âmbito de aplicação da lei diante dos olhos. Somente no conjunto dessas aplicações torna-se concreto o sentido de uma lei."
Para Heidegger, hermenêutica significa: "compreender o significado do mundo". Já Maximiliano fala que "é a teoria científica da arte de interpretar".
Foi Savigny que introduziu a hermenêutica como técnica no Direito, de modo a elevá-lo à categoria de ciência cultural, é o início da hermenêutica jurídica clássica, metodológica e científica, voltada para o Direito privado e para as normas com estrutura de regra. Deu origem à escola histórica. 
Putcha (Georg Friedrich Puchta), discípulo de Savigny (Friedrich Carl von Savigny), teve méritos em conduzir a Escola Histórica a uma visão extremamente formalista do direito, dando origem a Jurisprudência dos Conceitos, criando-se assim uma pirâmide de conceitos, servindo depois de instrumental para integração das lacunasda lei.
Ihering (Rudolf von Ihering), contrapondo-se a Savigny, classificou o direito como ciência cultural. Para Ihering "a sociedade é palco de uma luta de interesses e as normas jurídicas protegem aqueles interesses que conseguirem se impor socialmente". Ele também foi importante no desenvolvimento da interpretação teleológica, a partir da ênfase na sociedade.

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