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Material de apoio aos alunos da disciplina Direito Processual Civil II Anotações sobre o novo CPC

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*Material de apoio (não substitui leitura do inteiro teor do conteúdo 
através de livros específicos) aos alunos da disciplina Direito 
Processual Civil II, integrante da ementa curricular do 5º período do 
curso de Direito da Universidade Federal de Alagoas. 
**Elaborado por Ceres Louise de Mendonça Barbosa (Monitora de 
DPC II ano letivo de 2015 – cereslouise@gmail.com). 
***Atualização das informações apontadas no livro NEVES, Daniel 
Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – 6. ed. rev., 
atual. E ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014. 
****As anotações sobre as principais mudanças instituídas pelo texto 
do NCPC (atualizado até 10/04/2015) estão em destaque na cor 
vermelha. 
Teoria Geral dos Recursos 
Segundo José Carlos Barbosa Moreira, o recurso é um remédio voluntário, idôneo a 
ensejar, dentro do mesmo processo a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a 
integração da decisão judicial impugnada. 
O conceito de recurso deve ser construído partindo-se de cinco características 
essenciais a esse meio de impugnação: 
(a) Voluntariedade (princípio recursal derivado do princípio dispositivo); 
(b) Expressa previsão em lei federal (taxatividade); 
(c) Desenvolvimento no próprio processo no qual a decisão impugnada foi 
proferida; 
(d) Manejável pelas partes, terceiros prejudicados e Ministério Público 
(legitimidade recursal); e 
(e) Com o objetivo de reformar, anular, integrar ou esclarecer decisão judicial 
(objetivo do recorrente). 
Na hipótese de criação de um novo processo para instrumentalizar a impugnação de 
decisão judicial, estar-se-á diante de uma espécie de sucedâneo recursal, mais 
especificadamente de ação autônoma de impugnação. Exemplos: Ação Rescisória, Habeas 
Corpus, Querela Nullitatis. 
Ocorre, outrossim, a possibilidade dos sucedâneos recursais, que não são nem 
recurso, nem ação autônoma. Exemplo: Pedido de Reconsideração (não previsto em lei); 
Classificação 
(a) Quanto à extensão: pode ser total ou parcial. Não diz respeito ao que foi 
impugnado em sua totalidade ou não, mas sim ao quanto (abrangência) que pode ser 
impugnável. Deste modo, o capítulo não impugnado preclui, e sendo de mérito fica 
imutável pela coisa julgada material. Se o recorrente não especificar a parte em que 
impugnar a decisão, entender-se-á total o recurso. 
(b) Quanto à fundamentação: livre – a causa de pedir recursal não está 
delimitada pela lei, podendo o recorrente impugnar a decisão alegando qualquer vício; 
vinculada – taxativa (limitada) por lei. 
(c) Quanto à matéria: objeto de impugnação; comum (ordinário) – fomenta 
direito subjetivo; excepcionais – não objetiva o direito subjetivo de uma parte, mas sim a 
tutela de um direito objetivo. Exemplo: Recurso Extraordinário – assegura a autoridade da 
Constituição Federal; Recurso Especial – assegura a autoridade da Lei Federal. 
Princípios 
(a) Duplo grau de jurisdição; 
(b) Taxatividade (legalidade); 
(c) Singularidade (unirrecorribilidade ou unicidade); 
(d) Fungibilidade; 
O NCPC adotou a técnica do CPC/73 de não prever como regra ou princípio a 
fungibilidade recursal, ainda que contenha duas previsões específicas neste sentido: 
embargos de declaração e agravo interno e recurso especial e extraordinário. Tal princípio, 
entretanto, continua em plena vigência. 
O art. 1.024, §3º do NCPC trata de tradicional aplicação de fungibilidade recursal, o 
recebimento de embargos de declaração contra decisão monocrática em tribunal como 
agravo interno, exigindo do juízo a intimação prévia do recorrente para que, no prazo de 
cinco dias, complemente as razões recursais. 
Segundo o art. 1.033, se o STF considerar como reflexa a ofensa à Constituição 
afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação da lei federal 
ou de tratado, remetê-lo-á ao Supremo Tribunal de Justiça para julgamento como recurso 
especial. 
Nos termos do art. 1.032, se o relator do STJ entender que o recurso especial versa 
sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de quinze dias para que o recorrente 
demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional. 
(e) Voluntariedade; 
O NCPC traz importante novidade quanto ao princípio da voluntariedade em razão 
da exigência de protesto contra decisão interlocutória não recorrível por agravo de 
instrumento como forma de permitir a impugnação de tal decisão na apelação ou 
contrarrazões. Essa exigência modifica o princípio da voluntariedade porque nesse caso a 
vontade de recorrer não será demonstrada pelo mero ato de interpor o recurso, sendo 
necessária uma exposição prévia da vontade de recorrer em momento posterior. 
(f) Dialeticidade; 
(g) Consumação; 
(h) Complementaridade 
O princípio vem expressamente consagrado no art. 1.024, §4º, do NCPC ao prever 
que, caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão 
embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária 
tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no 
prazo de quinze dias, contados da intimação da decisão dos embargos de declaração. 
Efeito dos recursos 
(a) Efeito obstativo (impeditivo do trânsito em julgado); 
(b) Efeito devolutivo (extensão – dimensão horizontal – delimita o que se pode 
decidir, isto é, relaciona-se ao objeto litigioso do recurso, a questão principal; profundidade 
– dimensão vertical – determina as questões que devem ser examinadas pelo órgão ‘ad 
quem’ para decidir o objeto litigioso do recurso); A dimensão horizontal limita a vertical, 
de modo que o tribunal poderá apreciar todas as questões que se relacionem àquilo que foi 
impugnado. Todavia, o recorrente não pode estabelecer a profundidade do conhecimento do 
tribunal, assim este poderá (re)apreciar todas as questões, examinadas ou não pelo juízo ‘a 
quo’, desde que não modifique o pedido e a causa de pedir. 
As previsões do art. 515, caput e §§1º e 2º, do CPC/73 são substancialmente 
mantidas pelo art. 1.013, caput e §§1º e 2º, do NCPC. Apenas especifica-se no §1º que a 
profundidade da devolução quanto a todas as questões suscitadas e discutidas, ainda que 
estas não tenham sido solucionadas, está limitada ao capítulo impugnado, ou seja, à 
extensão da devolução. 
No §4º do mesmo dispositivo há a previsão de que o tribunal passa a analisar as 
demais questões quando afastada prescrição ou decadência que fundamentou a sentença 
recorrida, sendo consequência da profundidade do efeito devolutivo. 
Atualmente, mesmo sem qualquer norma expressa nesse sentido, os tribunais já vêm 
atuando dessa maneira com fundamento nos §§ 1º e 2º do art. 515 do CPC/73. 
Enquanto o §1º do art.1.013 do NCPC trata de questões vinculadas ao capítulo 
impugnado e o §2º, dos fundamentos do pedido ou de defesa, não há menção expressa 
quanto à devolução, pela profundidade. Deste modo, o juízo pode deixar de enfrentar 
pedido que tenha restado prejudicado em razão do acolhimento ou rejeição e de outro 
pedido. 
Deste modo, não resta dúvida que a ratio da profundidade da devolução leva à 
conclusão de que esse pedido deve ser decidido originalmente pelo tribunal, desde que 
maduro para imediato julgamento. 
Especificadamente quanto aos recursos extraordinário e especial, vale a menção do 
art. 1.034 do NCPC. O caput do dispositivo prevê que, sendo admitidos tais recursos, o 
tribunal julgará a causa, aplicando o direito, enquanto o parágrafo único dispõe que, tendo 
sido admitido o recurso extraordinário ou especial por um fundamento, devolve-se ao 
tribunal superior o conhecimento dos demais e de todas as questões relevantes para a 
solução do capítuloimpugnado. 
Apesar de o dispositivo não fazer menção expressa à necessidade de tais questões 
relevantes terem sido objeto de decisão prévia, ainda que não expressamente impugnadas 
pelo recurso, é possível concluir o dispositivo consagra expressamente a profundidade do 
efeito devolutivo ao recurso extraordinário e especial, excepcionando-se a exigência de pré-
questionamento. 
(c) Regressivo (retratação); 
O NCPC traz significativa inovação quanto à possibilidade de retratação de sentença 
diante de interposição de apelação. No CPC/73, essa possibilidade só existe nas sentenças 
liminares, ou seja, nas sentenças proferidas antes da citação do réu, enquanto, enquant o art. 
485, §7º do NCPC prevê que basta a sentença apelada ser terminativa para que o juiz tenha 
o prazo de cinco dias para retratação. 
(d) Expansivo subjetivo; 
(e) Suspensivo; 
A distinção entre feito suspensivo próprio e impróprio, sendo uma construção 
doutrinária, é perene, de forma que qualquer alteração legislativa no tocante ao efeito 
suspensivo dos recursos não a afetará. O comentário vem a calhar diante do art. 995 do 
NCPC. 
Segundo o caput do dispositivo legal, salvo quando houve disposição legal ou 
decisão judicial em sentido contrário, o recurso não impede a geração de efeitos da decisão 
impugnada, ou seja, no primeiro caso tem-se o efeito suspensivo próprio e no segundo, o 
impróprio. 
O parágrafo único prevê os requisitos para a concessão do efeito suspensivo pelo 
relator no caso concreto: (i) risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, gerado 
pela geração imediata de efeitos da decisão; e (ii) ficar demonstrada a probabilidade de 
provimento do recurso. 
São os mesmos requisitos previstos no art. 558, caput, do CPC/73, tradicionalmente 
exigidos para a concessão de feito suspensivo impróprio a recursos. 
Ainda que o dispositivo não preveja expressamente, o pedido expresso do recorrente 
continua sendo requisito para a concessão de efeito suspensivo pelo relator. 
Como o parágrafo único atribui ao relator poder de conceder efeito suspensivo ao 
recurso, não surgem maiores complicações para recursos que, interpostos no tribunal, já 
têm sua distribuição feita in continenti, com a determinação do relator. 
Prevendo dificuldades na aplicação da regra aos recursos que tem procedimento 
binário, com interposição perante o órgão julgador (a quo) e o julgamento perante o órgão 
competente para tanto (ad quem), o legislador estabelece regras expressas para a 
instrumentalização do pedido de efeito suspensivo perante o juízo ad quem mesmo que os 
autos ainda estejam no juízo a quo. 
Para a apelação, o art. 1.012, §3º, caput, do NCPC prevê que o pedido de efeito 
suspensivo deve ser formulado por simples requerimento dirigido ao tribunal, no período 
compreendido entre a interposição e a distribuição do recurso, hipótese em que será o 
requerimento livremente distribuído, ficando o relator que o receber prevendo para o exame 
e julgamento da apelação (I) e ao relator, quando a apelação já tiver sido distribuída (II). 
Quanto aos recursos extraordinário e especial, o art. 1.029, §5º, também prevê 
que o pedido de efeito suspensivo seja formulado por meio de simples requerimento, 
dependendo do estágio procedimental do destinatário de tal peça: (I) Tribunal Superior 
respectivo, no período compreendido entre a interposição do recurso e sua distribuição, 
ficando o relator designado para o seu exame prevento para julgá-lo; (II) relator, se já 
distribuído o recurso; (III) ao presidente ou vice-presidente do tribunal local, no caso de o 
recurso ter sido sobrestado. 
A previsão expressa de que não é necessário ingressar com mais uma ação, mas 
incidentalmente com um mero requerimento, descomplica o processo. No CPC/73 havia 
uma exigência tácita de ingresso de uma ação cautelar inominada para se pedir qualquer 
tutela de urgência nessas circunstâncias. 
Registre-se que em nosso ordenamento jurídico, são dois os critérios de atribuição 
do efeito suspensivo aos recursos. O primeiro deles, o efeito suspensivo “ope legis”, 
decorre automaticamente da previsão legislativa, há previsão legal para tanto. Não há, neste 
caso, qualquer discricionariedade por parte do julgador ou pressuposto para a sua 
concessão, salvo nas hipóteses excepcionais previstas nos incisos do art. 520, do atual CPC. 
O grande exemplo é a própria apelação. 
Já o efeito suspensivo “ope judicis” é aquele que depende de análise e concessão 
judicial. Não é automático. Diante desse critério, a parte, preenchidos pressupostos que 
paralisem a eficácia da sentença, requererá ao órgão judicante o seu deferimento. O grande 
exemplo é o agravo de Instrumento, onde o des. relator, após minuciosa análise, concede ou 
não a suspensividade. 
Assim, com a novel modificação carreada pelo novo CPC, a suspensividade 
automática pelo critério “ope legis” deixaria de ser a regra. Desse modo, a apelação 
passaria a ter efeito suspensivo amparada pelo critério “ope judicis”, legitimando a 
exequibilidade súbita das decisões, cabendo a outra parte, no tocante a atribuição de efeito 
suspensivo a Apelação, o ônus de demonstrar a alta probabilidade de provimento do recurso 
ou haver risco de dano grave ou difícil reparação. 
O §1º do art. 1.012 do NCPC prevê que além de outras hipóteses previstas em lei, as 
situações em que a sentença começa a produzir efeitos imediatamente após a sua 
publicação. 
Os incisos I, II e IV do §1º do art. 1.012 do NCPC são repetição dos incisos I, II e 
VI do art. 520 do CPC/73. 
O inciso III do §1º do art. 1.012 do NCPC melhora a redação do inciso V do art. 520 
do CPC/73 ao prever que a apelação não terá efeito suspensivo quando a sentença recorrida 
extinguir sem resolução de mérito ou julgar improcedentes os embargos do executado. 
O inciso I do §1º do art. 1.012 do NCPC amplia a redação do inciso VII do art. 520 
do CPC/73 ao prever sem efeito suspensivo a apelação interposta contra sentença que 
confirma, concede ou revoga tutela antecipada. 
O inciso VI do §1º do art. 1.012 do NCPC traz para o tal a sentença que decreta 
interdição, incluindo hipótese estranha ao art. 520 do CPC/73, mas não ao CPC/73 em sua 
totalidade, que prevê tal exceção no art. 1.184. 
Especificadamente quanto aos embargos de declaração, é preciso muito cuidado 
na interpretação do art. 1.026, caput, do NCPC, que prevê que tal recurso não tem efeito 
suspensivo. Uma interpretação simplista levaria à conclusão de que qualquer decisão, 
mesmo impugnada por embargos de declaração, geraria efeitos imediatos, mas tal 
conclusão é equivocada. Explico. 
A decisão só pode gerar efeitos na pendência de embargos de declaração se já era 
capaz de fazê-lo antes de sua interposição, até porque não ter efeito suspensivo é diferente 
de ter efeito ativo, na falta de melhor nome. 
Significa dizer que, se a decisão impugnada pelos embargos de declaração é 
ineficaz, assim continuará até o julgamento do recurso. Conforme já analisado, é o que 
ocorre com decisões impugnáveis por recurso com efeito suspensivo próprio. 
Sendo a decisão eficaz, porque impugnável por recurso sem efeito suspensivo 
próprio, a interposição dos embargos de declaração não interrompe sua eficácia, o que, 
entretanto, poderá ocorrer excepcionalmente nos termos do art. 1.026, §1º. Para tanto, o 
recorrente deve demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou, sendo relevante a 
fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. 
(f) Translativo; 
Partindo-se da premissa de que o chamado efeito translativo pode ser explicado pela 
profundidade do efeito devolutivo, a conclusão de que haveria uma limitação do 
conhecimento de matérias de ordem públicae outras cogniscíveis de ofício por expressa 
previsão legal, é consagrada pelo art. 1.013,§1º do NCPC. 
Por outro lado, o art. 1.034, §único do NCPC, passaria a permitir o conhecimento de 
ofício de matérias da mesma natureza pelos órgãos de superposição no julgamento do 
recurso extraordinário e especial. 
Juízo de admissibilidade 
 O art. 996, caput, do NCPC mantem os três legitimados recursais previstos no art. 
466 do CPC/73, apenas passando a tratar o Ministério Público como fiscal da ordem 
jurídica, e não mais como fiscal da lei. 
 No parágrafo único melhora-se a definição do interesse a ser demonstrado pelo 
terceiro que pretenda recorrer como terceiro prejudicado. Segundo o dispositivo legal, 
cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica 
submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir 
em juízo como substituto processual. 
Recurso adesivo 
É forma de se interpor recurso e não uma espécie de recurso, previsto no art. 500 do 
CPC/73. Aplica-se exclusivamente aos casos de sucumbência recíproca (situação em que 
ambas as partes têm interesse para interpor o recurso independente, pois são em parte 
vencedores e vencidos). Todavia, apenas uma parte recorre, assim o recurso da outra parte 
será adesivo ao recurso principal. 
Deste modo, o interessado parcialmente vencido que não tenha recorrido 
imediatamente, o faça de forma adesiva, sem que isso velha a lhe causar prejuízo. 
Pressupostos: (a) sucumbência recíproca; (b) somente uma das partes tenha 
recorrido de forma autônoma. 
Procedimento: Subordinação – o seu conhecimento fica subordinado ao 
conhecimento do recurso principal. Outrossim, só será admissível na apelação, nos 
embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial (art. 500, II, do 
CPC/73). 
Cabe frisar, ademais, que não cabe recurso adesivo em reexame necessário. 
Coube ao art. 997 do NCPC regular o recurso adesivo. 
A mudança instituída quase ratificou o disposto no texto anterior, mantendo-se a 
previsão de que o recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe 
aplicáveis às mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no 
tribunal, salvo disposição legal diversa. 
Anteriormente era interposto perante a autoridade competente para admitir o recurso 
principal, a nova redação instituiu que será dirigido ao órgão perante o qual o recurso 
independente fora interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder (§2º, I). 
Nas hipóteses de cabimento, foi excluída a figura dos embargos infringentes, sendo 
admissível, apenas, na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial (§2º, II). 
O novo CPC admite, ainda, que a Fazenda Pública tem prazo em dobro para 
qualquer manifestação processual, de forma que seu prazo para contra-arrazoar também 
passa a ser contato em dobro, inclusive quando o recorrente adesivo for a Fazenda Pública. 
O art. 998 do NCPC manteve a possibilidade de o recorrente, a qualquer tempo, sem 
a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso principal. Entretanto, 
resguardou a possibilidade de a desistência do recurso não impedir a análise de questão cuja 
repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquele objeto de julgamento de recursos 
extraordinários ou especiais repetitivos, hipótese sem correspondência no CPC/73. 
Reexame necessário 
Consoante previsão do art. 475 do CPC/73, a sentença proferida contra União, 
Estado, o Distrito Federal, o Município e as respectivas autarquias e fundações de direito 
público, bem como a que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução 
de dívida ativa da Fazenda Pública, somente produzirá efeitos após sua confirmação pelo 
Tribunal, salvo exceções previstas no próprio artigo. 
É pacífico na doutrina o entendimento de que o reexame necessário não tem 
natureza recursal. São várias razões, dentre elas: 
(a) Ausência de voluntariedade: o recurso é um ônus processual, sendo que a 
sua existência depende de expressa manifestação de vontade da parte, por meio de sua 
interposição, ao tempo que o reexame necessário, nada tem de voluntário; 
(b) O reexame necessário não é dialético, porque não existem razões nem 
contrarrazões, nem tampouco contraditório; 
(c) Ausência de prazo de interposição, visto que o reexame necessário deverá 
existir sempre que as condições assim exigirem; 
(d) O reexame necessário, apesar de estar previsto em lei federal (CPC), não se 
encontra previsto como recurso (princípio da taxatividade); 
(e) A legitimação recursal regulada pelo art. 499 do CPC (partes, terceiro 
prejudicado e Ministério Público Federal) não se aplica ao reexame necessário, instituto 
cuja “legitimidade” é do juízo, que determina a remessa do processo ao Tribunal. 
Registre-se, por oportuno, que apesar de não poder ser considerado uma espécie de 
recurso, aplica-se ao reexame necessário um instituto tipicamente recursal: a proibição da 
reformatio in pejus. 
Além disso, aplica-se ao reexame necessário a regra do art. 557 do CPC/73, 
admitindo-se seu julgamento monocrático pelo relator. 
A jurisprudência do STJ admite o cabimento de recurso especial em face de acórdão 
proferido em sede de reexame necessário, independentemente de recurso voluntário da 
Fazenda Pública, pois a ofensa à legislação infraconstitucional pode ter surgido no próprio 
acórdão recorrido, o que afasta a tese de preclusão e de falta de voluntariedade anterior da 
Fazenda Pública. 
O reexame necessário está disposto no art. 496 do NCPC. Em seu caput é mantida a 
previsão de que o duplo grau de jurisdição obrigatório é condição impeditiva dos efeitos da 
sentença. 
As sentenças que estão sujeitas ao reexame necessário não tiveram alteração, apenas 
modificando-se “a execução de dívida ativa da Fazenda Pública (art. 475, II, CPC/73) por 
“execução fiscal” (art. 496, II, NCPC). 
O §1º do art. 496 do NCPC alterou o §1º do art. 475 do CPC/73. Segundo o texto 
vigente, havendo ou não apelação, o juiz remeterá os autos do processo ao tribunal em 
segundo grau, enquanto no texto final do novo código essa remessa ocorrerá se for 
ultrapassado o prazo de apelação sem sua interposição. 
Segundo o §3º do art. 496 do NCPC, não haverá duplo grau obrigatório quando a 
condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a 
mil salários mínimos para União e as respectivas autarquias e fundações de direito público; 
quinhentos salários mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e 
fundações de direito público, e os Municípios que constituam capitais dos Estados; cem 
salários mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de 
direito público. 
Como se pode notar, o valor mínimo de sucumbência da Fazenda Pública para que a 
sentença esteja sujeita ao reexame necessário foi alterado substancialmente, passando dos 
sessenta salários mínimos previstos no art. 475, §2º do CPC/73 para até mil salários 
mínimos a depender do caso concreto. 
O §4º do art. 496 do também amplia a dispensa do reexame necessário em razão de 
sentença fundamentada em jurisprudência consolidada dos tribunais superiores. Segundo o 
dispositivo, não há reexame necessário se a sentença estiver fundada em súmula de tribunal 
superior (I); acórdão proferido pelo STF ou STJ em julgamento de recursos repetitivos (II), 
entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção 
de competência (III). 
Outra significativa novidade do §4º é a inclusão, como causa de afastamento do 
duplo grau obrigatório, de entendimento coincidente com orientação vincunlante firmadano âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou 
súmula administrativa (IV). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia consultada: 
FARIA, Guilherme Nunes de. Do efeito suspensivo “ope legis” na apelação, segundo a 
sistemática do novo CPC. Migalhas: Ribeirão Preto, 2014. Disponível em: 
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI213308,61044-
Do+efeito+suspensivo+ope+legis+na+apelacao+segundo+a+sistematica+do>. Acesso em: 
13 de abril de 2015. 
 
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – 6. ed. rev., 
atual. E ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014.

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